Opinião - 2013: um ano perdido


01/11/2013 17:44 | Vitor Sapienza*

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Quem viveu os anos da década de 1970 e 1980, em que o Brasil se preparava para deixar os chamados "anos de chumbo", pode fazer comentários a respeito das "revoluções" e manifestações que ocorrem no Brasil de hoje. Não se trata de preciosismo, mas de conhecimento adquirido durante o passar dos anos.

Não pretendo, e não vou, fazer juízo de valor quanto ao regime militar, também conhecido por revolução. Não é possível negar que a repressão era algo latente que assolava o nosso país e as principais lideranças políticas e sindicais, que ainda despontavam naquela época, não se acovardaram perante a pressão exercida pelo governo.

O fim do regime ditatorial era uma questão de tempo. A existência de apenas dois partidos políticos não era empecilho para que grandes manifestações fossem organizadas. A Praça da Sé, em São Paulo, e a fachada da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, foram transformadas em pontos de referência no que tange a transformação social e a consequente redemocratização de nosso país.

Milhares de pessoas se reuniram com um objetivo comum. Nenhum dano ao patrimônio público ou privado foi registrado. A ordem prevalecia. Discursos inflamados da classe política somavam-se a ação do sindicalismo ainda incipiente, que promovia greves e trabalhava com o intuito de mobilizar a população quanto aos anseios da época.

A geração de 1980, que viu todos esses fatos ocorrerem, é tida como perdida, aquela que não pode fazer nada em favor do outro. Mas, quando comparamos aqueles jovens aos de hoje, uma pergunta incômoda nos surge na memória: como classificar a geração dos jovens que hoje protestam por causas bem menores daquelas debatidas no passado e que transformam as ruas e avenidas das nossas cidades em verdadeiros campos de guerra, onde policiais e vândalos travestidos de manifestantes se enfrentam de forma contumaz?

Não cabe a mim debater a validade dos protestos que ocorrem nos dias atuais, afinal, não acredito que a mobilização da população tenha ocorrido pela simples redução no valor cobrado nas tarifas de transportes. Se esse pseudoargumento fosse verdadeiro, por que os paulistanos não foram às ruas após a aprovação, pela Câmara de Vereadores da capital, do aumento no valor do IPTU?

Falta uma pauta de reivindicações clara, objetiva e, principalmente, argumentos para os "manifestantes" de hoje. No passado, os protestos modificaram, e entraram, para a história do país justamente pela contundência de seus argumentos e, na minha maneira de ver, talvez seja por isso que a "força" da baderna e do quebra-quebra não precisou ser utilizada.

As sessões de quebra-quebra promovidas na atualidade entraram para história como o lado obscuro de uma nação que não sabe pelo que clama, por quais melhorias anseia e faz com que meia dúzia de vândalos estrague a democracia conquistada à duras penas por quem sabia o que queria e o que buscava.

Enquanto não soubermos nos posicionar, continuaremos fazendo parte de uma sociedade dividida e que não sabe buscar aquilo que pretende com argumentos.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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