Opinião - Universidade gratuita, quem paga a conta?


07/11/2013 14:58 | Vitor Sapienza*

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Quando vemos as manifestações de estudantes, principalmente das universidades públicas, entendemos que não deixa de ser salutar a manifestação em si, sinônimo de que ainda existem pessoas que lutam pelo que julgam ser o seu direito. No entanto, quando vemos as invasões e a depredação do patrimônio público e privado, a nossa frase inicial começa a perder o sentido. Ou seria a constatação de que eles, os vândalos travestidos de estudantes, perderam a noção do que é direito, do que é dever, do que é educação?

Assim, a primeira e a segunda frase não se completam. Nós sabemos o quanto é difícil o ingresso nas universidades públicas, consideradas as melhores e teoricamente dotadas de melhores meios de ensino. No entanto, quando atingido o objetivo que é a vaga, geralmente depois de muito esforço, muitos estudantes não percebem a sua condição de privilegiados, é claro, um privilégio que eles conquistaram, mas que nem por isso lhes garante o direito de destruir o patrimônio da universidade.

Quando vemos o que acontece depois que eles concluem os cursos, e o retorno pífio que muitos dos profissionais ali formados dão à sociedade que pagou por seus estudos, somos obrigados a pensar na extinção da universidade gratuita. Sei que muitos dirão, apontando os mais necessitados, que eles precisam de apoio. Mas quantos dos tais necessitados estão matriculados nas universidades públicas? A eles sobraria a alternativa de reembolsar o governo, depois de formados, trabalhando durante algum tempo, tanto a serviço do Estado ou em instituições mantidas por ele.

Quando o governo coloca recursos em universidades públicas, onde a grande maioria teria condições de arcar com o pagamento das anuidades, certamente ele está cortando ou destinando menos recursos à escola pública, que deveria ser a base de tudo. É evidente que dotando o ensino básico e médio com recursos necessários, investindo na base, certamente teríamos mudanças no alto da pirâmide, e os efeitos seriam facilmente percebidos, com o aumento do número de pessoas mais carentes que estariam ingressando nas universidades públicas.

A situação atual é tranquila para os que estão nas universidades públicas, e uma incógnita para aqueles que sonham com uma vaga, principalmente os mais humildes, os que não conseguiram formar uma boa base para o sucesso nos concorridos vestibulares. Todos sabem que quando o cobertor é curto, nem sempre quem tem a perna mais comprida vai sentir frio nos pés.

A nossa realidade mostra que a tranquilidade dos que conquistaram esse privilégio começa a se juntar prepotência, a arrogância e a irresponsabilidade, e em nome do direito de se reivindicar o passo seguinte é o exagero travestido de vandalismo contra a escola, contra o comércio, ou contra a agência bancária instalada no caminho dos tais manifestantes.

Enquanto isso, aos que sempre pagam a conta, resta apenas a indignação ante o descaso, a irresponsabilidade, a impunidade. E esse clamor ainda não foi para as ruas, e se o fizer, será mais contundente que os movimentos esporádicos dos estudantes; será mais intenso porque trará, em seu bojo, a longa amargura dos tributos recolhidos, e que de maneira extremamente ingrata nunca mostram o retorno tão sonhado.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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