Opinião: Rio Preto de luto


25/11/2013 18:10 | Sebastião Santos*

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O descarrilamento de um trem da concessionária América Latina Logística (ALL) em São José do Rio Preto atingiu duas residências no bairro Jardim Conceição neste domingo (24/11). As casas ficaram completamente destruídas. Em uma delas, uma família fazia uma confraternização quando foram atingidos. Até o fim da noite de domingo oito pessoas faleceram e outras oito correm risco de morte. A cidade está de luto.

Acompanhei o trabalho dos bombeiros. Foi chocante ver os corpos sendo carregados e o desespero de outros familiares. Ali não foi atingido um só grupo familiar, mas a família rio-pretense. A tragédia poderia ser ainda mais grave se os vagões que transportavam soja carregassem combustíveis. O líquido poderia ter causado explosões que atingiriam todo o bairro.

O que causa dor e indignação na população é saber que o acidente poderia ter sido evitado. Há alguns anos a prefeitura apresentou ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) o projeto para a construção de um contorno ferroviário para desviar os trens do perímetro urbano. A proposta está avaliada em R$ 200 milhões. Em 2012 se cogitou a possibilidade deixar a obra de lado por conta do alto custo do projeto. Mas pergunto: quanto vale uma vida?

Em fevereiro, Rio Preto foi vítima de outro descarrilamento na região central da cidade, que poderia ter atingido pessoas e causado nesta época a catástrofe que vimos no domingo. Enquanto fui vereador em Rio Preto (2009-2010) já cobrava as autoridades sobre o perigo. Não é de hoje que as linhas férreas estão sucateadas. Trilhos deslocados, dormentes podres e uma série de outros fatores contribuem para novos descarrilamentos no território paulista. Este foi meu alerta quando assumi meu mandato de deputado na Assembleia Legislativa em março de 2011. Várias vezes cobrei atitudes dos órgãos executores. Foi preciso uma tragédia para que uma medida efetiva seja tomada?

No primeiro ano de mandato levantei os últimos descarrilamentos que ocorreram na região. No inicio de 2011 aconteceu um acidente em Bauru, 100 mil litros de combustível vazaram no meio ambiente, houve explosões e 15 pessoas ficaram feridas. Também no início daquele ano, em Botucatu 200 litros de álcool foram derramados no próximo há um bairro residencial. Em março outro acidente em Rio Preto, 10 vagões saíram dos trilhos. Em abril descarrilamento aconteceu em Meridiano. Dias depois o acidente foi em Bálsamo com 12 vagões. Após duas semanas, cinco vagões tombaram na região central de Catanduva, uma fábrica quase foi atingida.

O sucateamento da malha ferroviária ficou mais evidente depois do encerramento do transporte de passageiros em 1999, quando o Decreto Federal 3.277 dissolveu a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) e marcou o início das privatizações. Desde então a manutenção tem acontecido de forma lenta e ineficiente, e os trilhos estão se transformando em verdadeiras armadilhas.

Nunca é demais lembrar a morte do professor rio-pretense Silvio Pereira, atropelado com seu carro por um trem da ALL em 2011, quando cruzava a ferrovia em direção ao seu trabalho. Ele, que foi o primeiro transplantado de córneas da cidade, lutou tanto para poder enxergar, e perdeu a vida pela ausência de sinalização.

É fundamental que o contorno ferroviário seja feito em Rio Preto e que em todo o território paulista seja fiscalizada a manutenção da malha ferroviária. Exigir os cuidados necessários para a segurança da população é a atitude primordial de um governo responsável. Não existe projeto caro quando se trata da preservação da vida.

*Sebastião Santos é deputado estadual pelo PRB www.deputadosebastiaosantos.com.br

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