Opinião - Dia da Consciência Negra


27/11/2013 12:49 | Marco Aurélio*

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O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra foi celebrado no último dia 20/11. Em alguns municípios foi feriado municipal e em outros, não. O motivo é que cada ente federativo tem direito a, no máximo, quatro feriados municipais; logo, alguns municípios que já atingiram este número não puderam contemplar em seu calendário o referido feriado. No entanto, feriado ou não, o que importa é a memória que se faz nessa data.

Um povo sem memória é um povo sem história, e a nossa história brasileira infelizmente tem muitos momentos de opressão, dominação e imposição de um grupo sobre outros, o que não é aceitável e por isso mesmo é necessária uma reparação histórica constante. Veja, por exemplo, que a muitos de nós foi ensinado que os portugueses "descobriram" o Brasil, o que não é verdade, pois quando eles aqui vieram, já existia a comunidade indígena. Portanto, não houve "descobrimento", mas sim invasão. E ato seguido à invasão foi a dominação dos brancos sobre os índios, com dizimação, trabalho escravo, exploração e tantas outras barbaridades.

Tempos se passaram e o Brasil adotou a escravidão, trazendo negros da África, como se fossem seres humanos inferiores, prontos para trabalharem de forma escrava, sob tortura, fome e medo. A única opção viável, na época, seria a tentativa de uma fuga que, se fosse descoberta, seria punida com a morte. E, afinal, fugir para onde? Daí surgiram as comunidades de negros refugiados, denominadas quilombos, e Zumbi foi o grande líder da comunidade de Palmares.

Seu nome era Francisco, mas foi chamado de Zumbi, que significa "a força do espírito presente". Palmares constituiu-se como abrigo não só de negros, mas também de brancos pobres, índios e mestiços extorquidos pelo colonizador. No quilombo de Palmares plantavam-se frutas, milho, mandioca, feijão, cana, legumes, batatas.

Em 1694, com quase cem anos de existência, uma legião de 9 mil homens, armados com canhões, levou ao fim o povoado de Palmares. O corpo de Zumbi foi perfurado por balas e punhaladas e sua cabeça foi decepada e remetida para Recife, onde foi coberta por sal fino e espetada em um poste até ser consumida pelo tempo.

Tempos se passaram e hoje o Brasil tem a discriminação racial como crime, e tem implementado políticas sociais a fim de corrigir o passado, como a política de cotas nas universidades e tantas outras iniciativas na tentativa de um dia reparar a dívida com esses povos que construíram também a história do país.

Muitos se dizem contra a política de cotas adotadas no Brasil, mas é o mínimo que se pode fazer para tentar buscar o equilíbrio de oportunidades no país. Não se pode querer que após anos de escravidão e segregação, o negro tenha condições iguais de disputar espaço no mercado de trabalho, por exemplo.

No entanto, não bastam leis, homenagens, decretos, artigos e outras tantas iniciativas para impedir o crescimento da intolerância, preconceito e exclusão social. Há necessidade imperiosa de o ser humano se conscientizar de sua natureza social e incutir na mente e no coração a igualdade com que todos são revestidos, independentemente de origem, cor de pele ou preferências afetivas.

Aproveitemos o Dia Nacional de Consciência Negra para, de fato, gerar uma nova consciência, uma nova nação, um país onde o recurso monetário não seja divisor de dignidades, onde as opções religiosas e políticas possam ser respeitadas, e em que o Estado produza políticas para fazer cumprir a Constituição Federal, para que um dia possamos, de fato, dizer: "todos são iguais perante a lei".

*Marco Aurélio é deputado estadual pelo PT.

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