Opinião - Ingenuidade oficial


29/11/2013 18:14 | Vitor Sapienza*

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Para quem acompanha o noticiário diário, fica fácil perceber as dificuldades encontradas pelo governo para continuar vendendo a imagem de que vivemos no país ideal, um autêntico Shangrilá, conforme o cinema nos mostrou. A utopia governamental nos faz ver que a economia vai bem, o índice desemprego está nos níveis normais, o atendimento médico na rede pública é perfeito, as nossas escolas são as ideais, entre outras coisas mais.

Empurrado por uma dose de sorte maior que o bom senso, o governo se vale de fatos e factóides para desviar a atenção do povo e continuar com a política de divulgar um quadro bem diferente do real. Quando comemora ter atingido o número de 50 milhões de pessoas atingidas pelo Bolsa Família, o governo mostra um imenso paradoxo. O ideal seria a redução no número de assistidos, ou seja, que mais pessoas estariam se libertando da dependência, e estariam obtendo o seu próprio sustento.

Fala-se a todo instante que a economia vai bem. Mas, na hora do aumento no preço dos combustíveis, toda a equipe econômica se mobiliza, tentando fazer malabarismos para contornar a situação. Voltando a um passado recente, não nos esqueçamos que na última campanha, o presidente de plantão garantiu que havíamos chegado à autossuficiência em petróleo e que a situação estava em dia. Se estava, por que tanto medo, agora?

A Petrobras precisa do aumento no preço dos combustíveis para evitar prejuízos. Os acionistas exigem, mas o governo não quer. E aí vem a pergunta: quem investiu na empresa, tem alguma coisa a ver com isso? É claro que não, mas o governo se apega a uma empresa onde tem grande participação para garantir a estabilidade econômica. Há algo estranho nessa situação.

Voltando aos noticiários, percebe-se alguma semelhança com um tempo antigo, quando a mentira virava verdade, a plebe era manipulada e as contrariedades eram massacradas pelo poder superior. Quanto ao massacre podemos até deixar de lado porque a nossa situação é diferente e não se admite esse tipo de atitude. Fiquemos apenas com a manipulação, com as meias verdades, com a mentira dissimulada. A humanidade teve muitos especialistas nisso. Citemos apenas um: Joseph Paul Goebbels, o ministro da informação do Terceiro Reich.

Não sei quem seria o Goebbels desse governo, mas podemos assegurar que é tão competente quanto o alemão, pelo menos no que se refere a impor uma imagem muito diferente da imagem real. E para os que não acreditam nisso, dêem uma voltinha pelas pequenas cidades brasileiras. Estou citando as pequenas cidades, porque as grandes já unificaram os problemas, desde a hordas de viciados nas ruas, como no número de desocupados, bêbados e crianças fora da escola, falta de saneamento, segurança, saúde pública deficitária, rede rodoviária deteriorada, etc, etc.

Goebbels se suicidou em maio, de 1945, quando o Estado alemão estava destruído por uma guerra tão estúpida como todas as guerras. A nossa batalha é diferente, e não será vencida apenas com campanhas de marketing, mentiras oficiais nem com gastos excessivos de publicidade. A postura tem que ser outra; e o governo sabe e tem gente competente para isso. Ele precisa acordar porque já passou da hora. Ficar esperando por uma Copa do Mundo para desviar novamente a atenção do povo é no mínimo muita ingenuidade e, pelo que sabemos, esse governo não tem nada de ingênuo.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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