Opinião - Provavelmente você sabe. E os seus semelhantes?


12/12/2013 10:50 | Dilmo dos Santos*

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"Ainda há gente que não sabe, quando se levanta, de onde virá a próxima refeição e há crianças com fome que choram." Essa frase de Nelson Mandela não é uma frase de impacto, ou de efeito, ou para comover as pessoas, ou para fazer doer a consciência de alguém. Em minha opinião, ela diz, explicitamente, acerca de uma realidade que não está circunscrita à África, continente do grande líder "rebelde", mas podemos encontrá-la aqui, bem perto de nós. Em nosso país, em nosso estado, em nossa cidade.

Não quero aqui enumerar as qualidades do ex-presidente sul-africano e toda sua marcante trajetória de "lutas" pela derrubada de um dos piores regimes impostos à humanidade, chamado de segregação racial " ou seja, separação e diferenciação das etnias que coloca os negros como inferiores e os brancos como superiores. Tudo isso, afinal, já foi dito, discutido, noticiado... Quero me ater ao pensamento do Mandela com o qual iniciei este artigo.

Li, certa vez, uma informação que dizia mais ou menos assim: "Se você tem onde morar, consegue jantar e almoçar diariamente, tem acesso a água para beber e higienizar-se... você pode considerar-se uma pessoa rica e que faz parte de uma enorme minoria de pessoas no planeta".

Ou seja, a frase de Mandela não reflete simplesmente a desigualdade social ou a má distribuição de riquezas que trazem graves consequências na vida de milhões e milhões de pessoas... Mas vai além. O pensamento do líder expõe o sofrimento causado a alguém a quem é vedado o direito de viver condignamente e até mesmo de existir! É negar a um ser humano, como eu e você, o direito de alimentar-se, de ter onde abrigar-se e, assim, ter as necessárias condições para viver.

Veja o que diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que dispõe sobre os direitos humanos básicos e que está traduzida em mais de 400 idiomas: "Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento [...] e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade". (Artigo 25º, nº 1)

Esse importante documento foi proclamado "como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios estados-membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição".

Penso que Madiba, como o líder era carinhosamente chamado pelo seu povo, tinha incutido dentro de si esse ideal. Mesmo dentro da prisão, onde permaneceu durante 27 anos de sua vida, pelo simples fato de desejar a liberdade para seu povo. Sua luta valeu a pena, pois a segregação racial foi extinta na África do Sul. Mas, infelizmente, e talvez ainda por longos anos, ainda haverá "gente que não sabe, quando se levanta, de onde virá a próxima refeição e há crianças com fome que choram."

*Dilmo dos Santos é deputado pelo PV

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