Opinião - Rolezinhos, Black Blocs e participação popular


29/01/2014 10:46 | Carlos Neder*

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Os recentes episódios acontecidos na cidade de São Paulo dão a dimensão exata de como o governador Alckmin lida com assuntos relacionados à segurança, ao direito de ir e vir das pessoas e às formas de participação popular.

Como se já não bastasse a postura preconceituosa em relação aos rolezinhos, em que a Secretaria de Segurança Pública chegou a defender publicamente o uso da força para conter a mobilização, o ocorrido recentemente na chamada Cracolândia, zona central da cidade, demonstra o despreparo e a condução errada de quem deveria garantir paz e segurança aos cidadãos.

Não há como não questionar a posição equivocada da Polícia Civil, que usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha nas pessoas que estavam no local. Simplesmente desconsideraram o correto trabalho de abordagem em saúde pública junto aos dependentes que vem sendo feito pela prefeitura, que sequer foi avisada da desastrosa ação, que só gerou tumulto, revolta e pânico. Por mais complexo que seja lidar com os Black Blocs, e aqui não defendo nem como legítimo o modo deles agirem, as autoridades precisam ter a exata noção de como redirecionar, de maneira assertiva, a atitude desses jovens.

Evidentemente que o que vimos nas comemorações do aniversário de São Paulo foram cenas de pura violência e vandalismo dos grupos. Mas, por outro lado, nem de longe é correta a atitude de policiais militares, que balearam, à queima-roupa, um jovem de 22 anos.

Esses acontecimentos, reforço, demonstram o quanto a gestão Alckmin é adepta da pura repressão e o quão despreparadas se encontram nossas estruturas policiais. Faltam integração e ações concatenadas entre os diferentes níveis de governo. Combater a violência e a criminalidade são tarefas primordiais, mas para tanto são necessários planejamento, medidas preventivas e orientação adequada. Soma-se a tudo isso, ainda, o fato de que o governo do PSDB não se preocupa em estabelecer instâncias de interlocução com a sociedade. Dessa forma, espaços como o Conselho Estadual de Saúde e os conselhos gestores têm sua área de atuação reduzida, muitas vezes intencionalmente, inviabilizando assim a participação popular nas decisões com relação ao dia-a-dia da população. Essa posição, agravada pela atitude adotada da gestão Alckmin, só piora o grau de insatisfação dos jovens que " segregados socialmente e estimulados ao consumo de produtos caros " não encontram, nos agentes públicos ou mesmo nos partidos políticos, um canal eficaz para reivindicar seus direitos.

O resultado de criminalizar os movimentos sociais e colocar em dúvida a criação de novos fóruns de discussão política é muito ruim para a democracia. É preciso lembrar a importância de novamente ouvir as vozes vindas das manifestações de rua. Os governantes devem demonstrar mais sensibilidade para manter um diálogo face as aspirações populares, abrir novas possibilidades de inclusão dos jovens e defender firmemente os direitos à livre manifestação e de ir e vir, que não se confundem com atos de vandalismo.

*Carlos Neder é deputado pelo PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

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