Opinião - Sementes preocupantes


06/02/2014 15:00 | Vitor Sapienza*

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Os recentes acontecimentos nas comemorações do aniversário de São Paulo começam a provocar arrepios nas administrações públicas municipais, estaduais e federal. Em que pese a postura do Planalto, tentando regionalizar ou minimizar o problema, não deixa de ser preocupante o grito das ruas. Para quem está distante ou desconhece os fatos, vamos citar apenas que, repetindo o que ocorreu em praticamente todos os protestos na cidade, vândalos mascarados se misturaram à população e provocaram destruição, manchando as comemorações da data.

A crescente presença de vândalos durante as manifestações, sejam elas com ou sem expressão, mostra a que a repetida violência, além de ter ultrapassado os limites de São Paulo, pode significar também uma semente e combustível para fatos perigosos durante a próxima Copa do Mundo. E aí, o problema ganha proporções muito maiores do que podemos imaginar.

Não vamos, aqui, condenar o protesto, afinal, a democracia nos dá esse direito. Somado a isso, são tantas as nossas carências que qualquer pessoa de bom senso irá discordar da infeliz ideia de se promover uma Copa, principalmente com o uso de dinheiro público na construção de estádios e gastos inexplicáveis, algo imoral em uma nação que se arrasta tentando atingir o crescimento.

O grande problema é que estamos preparando uma competição que não é nossa, é da FIFA, e como tal, exige custos sem limites e que beiram a sandice; e a partir de agora, certamente eles serão eles os alvos dos protestos porque a entidade internacional vai levar os lucros, enquanto ficaremos com os custos. Assim, como em nosso país as ações ganham a proporção de bola de neve, o quadro é preocupante.

Somado a isso, a nossa bola de neve começa a receber novas conotações. O grito das ruas se faz mais forte quando ganha o brado da periferia mais distante, e o tal "rolezinho" dá nome ao que pode ser traduzido de maneira simples, porém contundente: jovens sem perspectivas, geralmente movidos por um sintoma de revolta que é resultante das inúmeras carências que circundam o seu mundo, partem para o vandalismo e desprezam o direito e a propriedade, sem o mínimo de remorsos.

É esse o mosaico que estaremos mostrando aos nossos visitantes, na próxima Copa do Mundo. E, não bastasse a violência em si, as suas consequências poderão ser sentidas até muito depois da competição, afetando ainda mais a nossa já desgastada imagem no exterior. Autoridades, vamos tomar providências enquanto ainda é tempo!

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado

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