Opinião - Falta de educação e de respeito


10/02/2014 15:47 | Marco Aurélio*

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Para nada menos que cerca de três milhões de alunos da rede estadual de São Paulo as aulas não começaram bem. Já na primeira semana do ano letivo muitas escolas ficaram sem professor em sala de aula. E este não foi o único problema registrado na área de Educação em nosso Estado, que já deveria estar à frente de questões como essas há muito tempo.

A estimativa sobre o número de alunos prejudicados pela falta de professor é da Apeoesp " sindicato estadual dos professores. Segundo a entidade, cerca de 35 mil professores contratados temporariamente pelo governo não trabalharam na primeira semana de aulas.

Com um inquérito aberto desde 2012 para investigar a falta de professores estaduais nas salas de aulas, o Ministério Público requisitou da Secretaria Estadual de Educação um relatório sobre a falta de professores nas escolas.

O secretário de educação do governo Alckmin (PSDB), Herman Voorwald, admitiu em entrevista que o problema ocorreu no contrato de professores temporários, cujo prazo de 40 dias de descanso não havia finalizado quando a semana de volta às aulas começou. Segundo a Apeoesp, para que não haja vínculo empregatício, o governo aplica uma espécie de quarentena nos contratos dos temporários. Como as aulas foram antecipadas em razão da Copa do Mundo, muitos ainda estavam em "quarentena" no retorno às aulas. Por que isso não foi previsto? E por que não são realizados concursos públicos para suprir a demanda?

E este não foi o único problema registrado na rede estadual. Antes mesmo do período letivo, os professores temporários relataram a humilhação a que foram submetidos para a atribuição de aulas " quando escolhem as classes e escolas em que darão aula naquele ano. Colocados aos montes num mesmo ambiente, os professores contam longos atrasos e dificuldade para concluir o processo devido ao grande número de pessoas em um único local.

Pelas notícias na imprensa, há outros casos absurdos. Em uma escola estadual da zona leste da Capital, alunos fazem rodízio por falta de carteiras. A diretoria da escola Jardim Sapopemba pediu para que os estudantes fossem às aulas em dias alternados, já que não há acomodação para todos. Já um professor de 61 anos, que mora em Taubaté, teve de percorrer 1.400 quilômetros, entre ida e volta até Presidente Prudente, para se submeter a uma perícia médica pelo Estado.

Além disso, conversando com pais de criança com deficiência vejo a dificuldade que enfrentam quando o filho tem que deixar a rede municipal, ao final do primeiro ciclo do ensino fundamental, e enviá-lo ao Estado. A Lei de Diretrizes e Bases determina que não haja discriminação e alunos com deficiência fiquem na mesma sala que os chamados normais. Mas os pais relatam que as escolas estaduais não estão preparadas para atender o aluno com deficiência, que precisa de uma atenção especial para ajudar em seu desenvolvimento pedagógico.

Todos esses exemplos de incúria e desorganização numa das áreas mais importantes, que é a Educação, seriam lamentáveis sob qualquer ponto de vista, mas em se tratando do Estado mais rico da nação é ainda pior.

É importante lembrar que São Paulo tem o mesmo governo há 20 anos, e apresenta problemas como se tivesse iniciado ontem. Dá-se a impressão que cuidar das pessoas não é prioridade para o Governo do Estado, assim como parece que investir em Educação não faz parte do plano de governo.

Não há desculpa para tantos fatores negativos na rede estadual. Alunos, professores e todos os envolvidos no ambiente escolar merecem mais respeito e mais qualidade no ensino.

*Marco Aurélio é deputado estadual pelo PT

alesp