Opinião: O rolezinho diz tudo


13/02/2014 18:40 | Aldo Demarchi*

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Uma prática usual nos centros comerciais do Brasil se tornou, de uma hora para outra, um problema social que chamou a atenção de todos os meios de comunicação e mereceu as primeiras páginas dos jornais e o horário nobre das TVs e das rádios. O encontro de pessoas, não só de jovens, nos corredores, cinemas e praças de alimentação dos shopping centers não é de hoje uma forma de lazer nas grandes cidades. Estes espaços proporcionam o que há de mais chamativo na nossa sociedade de consumo: vitrines expondo de camisetas a automóveis, restaurantes fast-food, teatros, cinemas, além do que, neste clima de verão tropical, quando os termômetros mostram 40ºC de temperatura, o ar condicionado dos shoppings é uma atração a mais, muito difícil de resistir. Por tudo isso, estes espaços de comercio e lazer são tão procurados.

Este apelo natural dos shopping centers, que visa antes de tudo chamar consumidores para as compras, se juntou à capacidade das redes sociais de fazer a interação entre milhões de pessoas que marcam encontros nestes locais, o que acaba formando uma multidão e com ela vem o desconforto, a desconfiança e o medo por parte dos comerciantes e fregueses.

Os profissionais da segurança pública sabem que é difícil controlar a multidão, mesmo porque no meio dela sempre infiltram aqueles cuja intenção não é dar um role, e sim tumultuar, roubar e praticar outras atrocidades.

Interessante perceber a tremenda discussão que o evento desencadeou, dando oportunidade a que ideologias exacerbadas pegassem carona e, mesmo sem pensar ou analisar muito a questão, disparam conclusões elevando-o a algo como uma convulsão social. Teve autoridade explicando o rolezinho como um fenômeno etnico-social, no qual jovens negros estariam incomodando a sociedade elitista dos brancos. O povo paulista é fruto da miscigenação, da imigração e da migração e, portanto, é impossível definir a cor desses rolezinhos aqui em São Paulo e daí, não precisa muita análise para que essa conclusão caia por terra.

Por outro lado, parece-me um tanto descabido que comerciantes e diretores dos shoppings tentem selecionar os que podem e os que não podem entrar nos estabelecimentos comerciais, uma vez que a legislação brasileira condena, terminantemente, a discriminação.

O bom disso tudo é que mais uma vez quem deu a melhor resposta foi o povo. Na edição de 23/1, a Folha de São Paulo apresentou uma pesquisa do Datafolha mostrando que 82% dos paulistanos são contra os rolezinhos, mas também são 73% os que se posicionam contrários à intenção dos shoppings de escolher seus freqüentadores.

A resposta é clara: o povo tem plena consciência de que os espaços públicos ou abertos ao público devem ser compartilhados por todos, mas com segurança e ordem, de forma a que cada cidadão possa fazer suas compras em paz, ir ao cinema, ao restaurante e também, é lógico, dar um rolezinho.

Pelo que entendi, a pesquisa do Datafolha trouxe um recado muito claro do que espera o povo de São Paulo do poder público e da sociedade em geral: liberdade para ir e vir, mas com ordem e respeito. O direito de um termina quando começa o direito do outro. É assim que funcionam as sociedades civilizadas.

*Aldo Demarchi é deputado estadual pelo DEM.

alesp