Opinião - Traje do dia: camisa de força!


20/02/2014 10:37 | Vitor Sapienza*

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Quando alguns torcedores corintianos permaneceram presos na Bolívia, confesso que estive entre aqueles que ergueram a voz, protestando contra a má vontade ou incompetência do nosso governo em resolver a situação. Não que estivéssemos defendendo este ou aquele indivíduo que tenha cometido um crime, no caso, soltando um sinalizador que resultou na morte de um adolescente torcedor do time boliviano. Somado a isso, muita gente sabe que o Corinthians nunca foi motivo de nossa preferência.

O nosso protesto era contra a arbitrariedade que estava sendo praticada contra cidadãos brasileiros, independentemente de sua paixão clubística. Não vamos, aqui, entrar no mérito da questão. Um crime foi praticado e devemos punir o seu autor. Mas, naquela ocasião, nem todos os presos tinham envolvimento com o caso, e o nosso governo simplesmente "deixou o barco navegar" por um tempo muito extenso caracterizando a falta de assistência judiciária a essas pessoas.

Passado algum tempo, alguns desses torcedores novamente se envolveram em problemas de violência nos estádios. E aí somos obrigados a aceitar e responder aos que se mostraram contrários à nossa posição. Se de fato eles tivessem sido punidos exemplarmente, os problemas teriam se repetido? Confesso que não sei, mas voltemos a um caso bem recente. Torcedores corintianos invadiram o Centro de Treinamento, agrediram atletas, funcionários, furtaram e destruíram o patrimônio do clube e de funcionários.

As consequências desse ato ainda terão repercussão. No entanto, qualquer que seja ela, parta de onde partir, será tardia. Acostumamo-nos a aceitar esse tipo de violência e muitas vezes justificá-la como paixão, misturando o fanatismo violento com um termo muito usado pelos meios de comunicação. Um termo que, de maneira desvirtuada mistura o conceito de nação com a estupidez que não mede as consequências.

E agora vamos a uma crítica que certamente não será bem aceita pelos nossos meios de comunicação. Quando ocorre a violência nas torcidas, a imagem que vai ao ar nem sempre é aquela que reflete a verdade dos fatos. Dá-se mais importância à cacetada que o policial desferiu nos vândalos, nos brigões, do que a briga, a confusão em si. E o policial será alvo de punições por parte da corporação, enquanto que os briguentos retornarão para casa, mostrando os troféus da batalha. Troféus que podem ser fraturas, lesões ou cicatrizes. Somente quando surge a vítima fatal é que ocorre uma procura pelos autores. E, semanas depois, tudo volta ao normal, como se fosse normal esse tipo de acontecimento.

Para aqueles que têm receio de que isso ocorra na Copa do Mundo, um alento: nada ocorrerá e o motivo é simples, o público é outro, algo muito diferente do aglomerado, da horda de baderneiros que vestem a camisa das torcidas organizadas e investem contra tudo e contra todos, bastando que vistam cores contrárias à sua equipe.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado

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