Opinião: Em defesa das mobilizações populares


25/02/2014 16:27 | Carlos Neder*

Compartilhar:


Causa preocupação a pesquisa Datafolha, que aponta o aumento da rejeição das pessoas pelas manifestações de rua. Para que não fique dúvida alguma, quero deixar claro que apoio as mobilizações, desde que realizadas de maneira pacífica.

A presença dos jovens nas discussões do dia a dia das cidades é bem-vinda e deve ser incentivada. Esse é o direito de exercer, de maneira ativa e plena, a cidadania. E serve também como um recado aos partidos, políticos e detentores de mandatos públicos de que é preciso encontrar outros mecanismos de se fazer política e agregar essas novas demandas sociais.

A participação popular na luta por melhorias na qualidade de vida sempre foi algo que defendi, desde os anos 70, quando ajudei a organizar movimentos de saúde em São Paulo. A reivindicação daquela época, por construção de unidades de saúde nas regiões periféricas da capital, ampliou-se nos dias atuais pelos direitos de cidadania e pela melhoria da qualidade dos serviços públicos.

Reforço que a mobilização das pessoas e sua organização por meio das redes sociais, movimentos e sindicatos é fundamental para criar e conquistar novos direitos. Esse é o caso, por exemplo, dos trabalhadores das Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e das Faculdades de Tecnologia (Fatecs), que paralisaram suas atividades desde o dia 17 de fevereiro por conta da falta de interlocução do governo Alckmin.

A gestão do PSDB se comprometeu a apresentar aos funcionários dessas instituições um plano de carreira, a ser encaminhado para aprovação na Assembleia Legislativa. Porém, até o momento, nada disso foi levado adiante. Dois anos depois, a paciência dos trabalhadores com a lentidão do governo estadual levou-os à greve.

O pior é que há suspeita de que essa demora seria intencional, com o objetivo de retirar direitos, como a licença-maternidade de 180 dias, assistência à saúde e vale-transporte. Sem falar que os servidores continuam com seus salários defasados, sem possibilidade de conquistarem aumento real em seus vencimentos.

O descaso do governo Alckmin com as Fatecs e Etecs fica claro quando a única decisão autoritária tomada, ao invés de dialogar com os representantes da categoria, limita-se ao corte do ponto dos funcionários, logo no segundo dia de paralisação. Espera-se que não utilize, mais uma vez, o assedio moral e a repressão policial para inibir a livre manifestação.

Essa postura demonstra o desrespeito da administração do PSDB com a sociedade civil organizada. No caso, estamos falando de 213 Etecs espalhadas por 156 cidades e de 54 Fatecs localizadas em 53 municípios, que atendem a mais de 280 mil estudantes.

Daí que não é de estranhar a maneira como o governo estadual encara as mobilizações de rua, com agressão a manifestantes e jornalistas. Aliás, essa parece ser a mesma lógica que permeia a relação com os trabalhadores estaduais e os serviços oferecidos à população. Fica-se com a impressão de que a gestão Alckmin está mais próxima da tática equivocada de parte dos manifestantes, que é partir para o confronto violento sem diálogo.

*Carlos Neder é deputado estadual pelo PT an Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

alesp