Opinião: Os vazamentos da Sabesp


18/03/2014 17:46 | Geraldo Cruz*

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Os moradores de 80 municípios paulistas, incluindo parte da Grande São Paulo e da região de Campinas, podem ficar sem água. A tragédia de não ter água para beber, tomar banho, cozinhar etc. não será provocada por desequilíbrios ambientais ou fenômenos inesperados da natureza.

Trata-se pura e simplesmente de incompetência e ineficiência da Sabesp, uma empresa pública mantida a peso de ouro pelo governo para garantir abastecimento de água e saneamento básico para a população do Estado mais populoso do país. É inacreditável que, com toda a tecnologia disponível, os paulistas ainda tenham que recorrer a São Pedro para que as represas mantenham sua capacidade de abastecimento.

De acordo com a página eletrônica oficial da Sabesp, "em 2012, a receita operacional líquida totalizou R$ 10,7 bilhões, um crescimento de 8,2% em relação ao ano anterior". Mesmo ampliando anualmente seu faturamento, a empresa não investe em pesquisa para buscar fontes alternativas, tampouco identifica e fomenta iniciativas de armazenamento de água da chuva, uma ação simples, que há décadas é utilizada por comunidades e organizações da sociedade civil do Nordeste. A partir do governo Lula, o governo federal potencializou esta iniciativa, agregando a construção de cisternas aos programas de geração de trabalho e renda.

Tenho certeza de que se a Sabesp usasse uma pequena parcela do seu lucro para conhecer, aprimorar e desenvolver programas alternativos, nós não viveríamos constrangidos pelo temor do racionamento. O sistema Cantareira, por exemplo, está operando com 18,2% de sua capacidade.

Não se trata de falta de chuva, ocorre que a população aumentou, logo o consumo também, de maneira que o sistema recebe de seus afluentes 10 metros cúbicos de água por segundo, mas envia 33,9 metros cúbicos, ou seja, 3 vezes mais.

Então, além de não investir em alternativas, o atual governo estadual, administrado pelo mesmo grupo político há 20 anos, não foi capaz de fazer projeções sobre o aumento do consumo.

Conforme publicou a revista Carta Capital (26/2), com base em documentos do Tribunal de Contas e da Junta Comercial de São Paulo, entre 2008 e 2013, as empresas contratadas para identificar pontos de vazamento no sistema de abastecimento receberam R$1,1 bilhão. No período, por mais absurdo que pareça, as perdas aumentaram, variando de 30,7% a 32,2%. Este índice, em países desenvolvidos, fica em torno de 20%. Ao que tudo indica, além do vazamento de água ao longo do sistema de abastecimento, a Sabesp também é responsável pelo vazamento do dinheiro público.

Enquanto isso, a população sofre com a falta d´água e ainda é ameaçada com multas por praticar o terrível crime de querer lavar sua calçada. Na região Sudoeste, temos insistido para a regularização do abastecimento em diversos bairros de Embu das Artes, Itapecerica, Taboão, São Lourenço, Cotia, Vargem Grande, entre outros. A resposta da empresa, em geral, tem sido mostrar números sobre a abrangência de sua atuação, que nada explicam ou resolvem a situação das milhares de pessoas que, mesmo sem o racionamento oficial, ficam sem água na torneira por dias e até semanas consecutivas.

Da nossa parte, continuaremos cobrando para que a empresa ofereça serviços de qualidade, condizentes com os altíssimos valores cobrados da população. E também seguiremos exigindo que o governo estadual faça a sua parte e exerça seu poder de controle sobre a Sabesp.

*Geraldo Cruz é deputado estadual pelo PT.

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