Opinião: Mais prática, menos pirotecnia


24/04/2014 16:16 | Marco Aurélio*

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Uma das áreas que mais rendem críticas ao governo Alckmin é a segurança pública. Não sem razão, já que os índices de violência se mantêm altos em várias regiões do Estado. Para reverter a imagem negativa, como contraofensiva foram lançadas novas metodologias de estatísticas e anúncios de tevê, mantendo, assim, a política de mais teoria e menos prática.

Na tevê, o governo estadual anuncia volumosos investimentos na segurança pública, e a boa qualidade do vídeo produzido passa a impressão de que o setor vai muito bem. É válido que os Poderes constituídos usem a mídia para prestar contas de seus serviços, o que não dá é vender ilusões para a população.

A bonificação por resultados a policiais, mencionada no comercial da tevê, ainda nem foi votada pela Assembleia Legislativa. A medida foi anunciada para reduzir índices da criminalidade, o que não se confirmou até o momento. O número de roubos, por exemplo, teve alta de 41,8% em janeiro em comparação com o mesmo período de 2013.

Outro fator que chama a atenção no anúncio é o efetivo de 120 mil policiais alardeado pelo ator em cena. A impressão é que o número se refere aos policiais que estão nas ruas, mas não, estão sendo contabilizados todos os membros das corporações, inclusive de setores administrativos.

Conforme notícia da Folha de S. Paulo, somente no que tange à Polícia Militar, o governo do PSDB "aumentou" em 14 mil homens o efetivo de rua, contabilizando mecânicos, atendentes do 190, assessores de imprensa, guarda de quartel e equipes do departamento pessoal.

A fórmula é inédita, pois classifica todo o efetivo administrativo de batalhões como sendo operacional. Por essa metodologia, é como se a PM tivesse posto nas ruas em tempo integral todos os policiais que atuam dentro dos seus 140 batalhões, incluindo bombeiros. Entretanto, esse grupo só seria convocado a atuar fora do quartel em situações excepcionais. Esse "efetivo extra" equivale ao policiamento que atua na rua em toda a capital - 15 mil PMs.

Um outro levantamento do mesmo jornal mostra que nos últimos dez anos enquanto crescem os casos de roubo, cai para patamares abaixo da média mundial o efetivo policial paulista - contando o total das polícias Científica, Civil e Militar.

Em 2005, São Paulo tinha 314 policiais para cada 100 mil habitantes. Em 2013, a taxa caiu a 282, inferior à média global de 303 por 100 mil, segundo dados da ONU.

No período de 2005 a 2013, a população do Estado passou de 40,3 milhões de pessoas para 43,7 milhões, enquanto as polícias encolheram, de 123 mil homens, em 2005, para os atuais 120 mil (anunciado no comercial como grande feito, quando é uma constatação de diminuição do efetivo).

A ginástica nas estatísticas atingiu também a Região Metropolitana do Vale do Paraíba. Recentemente, o jornal O Vale apontou que a Secretaria de Segurança Pública passou a contar até áreas de triagem como pavilhões, para inflar o número de vagas nos presídios da região.

Outro exemplo foi o "gabinete integrado", anunciado em março do ano passado, para que cidades da RMVale ganhassem câmeras para um monitoramento integrado. O projeto também não saiu do papel, e já entrei com pedido de informações para saber o motivo.

Com esses exemplos, é possível identificar por que a Segurança Pública é considerada um dos pontos mais frágeis da gestão tucana.

É preciso executar um plano eficiente, que inclua a realização de concursos públicos e valorização dos policiais. Enquanto tivermos um governo mais preocupado em anúncios e menos ação, dificilmente haverá redução nos índices de criminalidade.

*Marco Aurélio de Souza é deputado estadual pelo PT.

alesp