Opinião: Rejeição ao voto obrigatório


14/05/2014 17:28 | Welson Gasparini*

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Muitas coisas, no Brasil de hoje, nos deixam estarrecidos: uma delas, o vandalismo, a selvageria, com que pessoas queimam e inutilizam ônibus urbanos de passageiros num verdadeiro atentado ao direito de locomoção dos usuários dessa modalidade de transporte; outra - mesmo vindo a favor de uma tese que sempre defendi - a maciça rejeição ao voto obrigatório. Pesquisa Datafolha divulgada pelo jornal "Folha de S. Paulo ", no último domingo, traz dados verdadeiramente alarmantes: 61% dos entrevistados pelos pesquisadores daquele instituto são contrários a essa obrigatoriedade legal. Pior ainda: 57% não votariam se tivessem essa opção!

Nunca, em tempo algum, tantos brasileiros se posicionaram contra o voto obrigatório e isto, é claro, nos leva a uma conclusão óbvia: esse pessoal está insatisfeito com a classe política. Está insatisfeito mas não quer usar a grande arma que dispõe para trocar governos e governantes: o voto!

O voto facultativo, pela legislação vigente, contempla apenas os analfabetos, os maiores de 70 anos e os que têm 16 ou 17 anos. Com a obrigatoriedade do voto o que encontramos? Um eleitorado revoltado, disperso, angustiado e não acreditando mais na possibilidade de resolver, com essa arma, os problemas de moralidade publica; a corrupção é tão grande no Brasil - praticamente uma epidemia - que leva pessoas mais simples a essa conclusão. Mas não é verdade: há, sim, muitos corruptos na política, muitos políticos aceitando propinas e se vendendo; assim como também há muitos empresários adorando dar propinas, comprar funcionários e administradores públicos ou dirigentes de diversos setores; corruptos e corruptores existem, infelizmente, em todas as partes. Mas a solução, entretanto, conforme defendem alguns mais radicais, não é buscar os militares nos quartéis para botarem ordem nisso: precisamos é dentro da própria democracia, aproveitando o processo eleitoral, escolher representantes com conduta correta e que possam, assumindo importantes cargos, responder ao anseio popular e ter o comportamento desejado pelos eleitores.

A obrigatoriedade do voto, insisto, é uma violência; o correto é o eleitor ser estimulado a votar e a escolher as melhores alternativas; é levá-lo a entender o voto como um dever cívico e não uma imposição legal. Quem não quiser votar - e preferir ir pescar, passear ou ficar em casa vendo televisão - que não vote; mas quem resolver votar o faça com a consciência da responsabilidade de ditar rumos para sua cidade, seu Estado e seu país.

*Welson Gasparini é deputado estadual pelo PSDB, advogado e ex-prefeito de Ribeirão Preto.

alesp