Médicos: um risco para a saúde!


02/02/2015 17:58 | Welson Gasparini*

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Parece um paradoxo, mas não é: entre os riscos para a saúde do brasileiro está, por incrível que possa parecer, o próprio médico. É o que se pode deduzir de um fato indesmentível: dos 2.891 recém-formados em medicina, 1.589 foram reprovados, em outubro de 2014, no exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), ou seja, 55% do total (o índice é menor do que o registrado em 2013, quando 59,2% foram reprovados, e maior do que em 2012, índice de 54,2% de reprovação.

Todo médico formado precisa fazer o exame para tirar o registro do Conselho Regional de Medicina, o que lhe permite atuar no Estado. Apesar de ser obrigatório, mesmo quem for reprovado no exame pode obter o registro. É que, por força de lei, o conselho não pode condicionar o registro médico ao resultado de uma prova. Para tanto, seria preciso uma lei federal, como a referente à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde o bacharel reprovado é impedido de exercer a advocacia.

O exame do Cremesp, cujos resultados foram divulgados em janeiro, apontou que a reprovação foi maior entre os formados em instituições privadas (65,1%), sendo 33% entre os de escolas públicas. Segundo critérios da Fundação Carlos Chagas, que aplicou o exame, 33% das questões eram consideradas fáceis; 4,6% muito fáceis e 32,4% médias, sendo 29,6% difíceis. Recém-formados erraram questões básicas sobre atendimento inicial de vítima de acidente automobilístico, ferimento por arma branca, pneumonia, pancreatite aguda e pedra na vesícula; dois a cada três candidatos erraram o diagnóstico de uma lactante de seis semanas com tosse leve há dez dias, sem febre e com a respiração acelerada. Este mesmo percentual não soube avaliar o risco operatório para uma mulher com pedra na vesícula, diabética, hipertensiva e com histórico de angina (estreitamento de artérias que provoca dor no peito) durante esforços moderados.

Lamentavelmente, o exame do Cremesp revela uma realidade muito mais grave: a má qualidade do ensino brasileiro onde, conforme já afirmei em artigos anteriores, com louváveis exceções, os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e o resultado é a formação de profissionais desqualificados " no caso, os médicos - para atender as necessidades da população brasileira. É um quadro que só será revertido quando a educação " em todos os níveis - passar a ser vista como verdadeira prioridade. Precisamos seguir, reitero, o exemplo de países como Coreia do Sul, Índia, e China e tantos outros, que deram a volta por cima através do aprimoramento do processo educacional. A educação é um alimento fundamental que não pode faltar na formação da criança e do jovem que queira vencer na vida.

*Welson Gaspararini é deputado estadual pelo PSDB, advogado e ex-prefeito de Ribeirão Preto.

alesp