Opinião - O Watergate brasileiro


08/03/2016 11:21 | Gilmaci Santos*

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O Brasil vivencia um momento histórico sem igual em que alguns dos maiores personagens do cenário político são citados em uma das mais complexas e intrincadas investigações envolvendo políticos e empresários da mais alta patente. Mas a Operação Lava Jato tem sido um misto de esperança e decepção, pois mesmo sendo salutar ver a democracia se fortalecendo, é extremamente triste observar a decepção de um povo que acreditou em um projeto construído pela esquerda brasileira.

O atual cenário lembra muito outro vivido há mais de 40 anos nos Estados Unidos, quando o presidente Richard Nixon (1969-1974) anunciava sua renúncia enquanto o Congresso encaminhava um processo de impeachment, motivado pelo escândalo conhecido como Watergate. A Comissão de Justiça da Câmara de Representantes recomendou a destituição de Nixon, abrindo processos por obstrução da Justiça, abuso de poder e desacato às ordens judiciais. Em 9 de agosto de 1974, Nixon assinou a sua carta de renúncia. Na época, o escândalo e a renúncia fizeram com que a opinião pública americana visse a política com verdadeiro ceticismo.

O caso levou os americanos a reverenciarem menos o cargo de presidente, reduzindo a confiança do povo nas instituições por um longo período. Watergate deixou a imprensa menos complacente com os próximos presidentes que viriam. No Brasil, a investigação tomou novos rumos nos últimos dias, quando, em seu acordo de delação premiada, o senador e ex-líder do governo, Delcidio do Amaral (PT-MS), afirmou que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula teriam tentado obstruir a operação Lava Jato, investigação que apura os desvios na Petrobras. Trechos do documento foram publicados pela Revista IstoÉ. Ainda segundo Delcídio, o ex-presidente teria pagado pelo silêncio de Marcos Valério, apontado no julgamento do mensalão do PT como o operador do esquema do mensalão.

Comparar essa grande investigação ao caso Watergate não é nada absurdo, até mesmo o famoso jornal britânico "The Guardian" comparou, em editorial no ano passado, os escândalos de corrupção na Petrobras e o caso norte-americano. Se tudo for comprovado, e tudo sinaliza para isso, será um dos maiores - se não o maior - escândalo na história do Brasil.

Independente do desfecho da investigação, é certo que a sexta-feira, 4 de março de 2016, será um dia histórico, que mostra que nem mesmo um dos maiores líderes políticos do Brasil estão acima da lei. Foi o dia em que a democracia se fortaleceu, mas ficamos estarrecidos ao ver um homem de origem simples e que representou uma nação, ter o seu nome citado em uma investigação desta magnitude. Não se esperava isso de alguém em que foi depositada a esperança de uma nação, afinal, além de dois mandatos seguidos, foi ele também uma espécie de "tutor" da atual presidente.

Mas não são só decepções, a investigação fortalece também as instituições brasileiras que cuidam do caso. Recentemente, em uma palestra para um público ligado ao direito, o juiz federal Sérgio Moro, disse que a criminalização da lavagem de dinheiro facilita a investigação e a responsabilização dos evolvidos. Moro disse que a investigação segue também "o velho conselho norte-americano: siga o dinheiro, e você descobre quem é o chefe e o responsável pelo crime".

Agora é só esperar pelo epílogo dessa grande investigação. Esse pode ser o fim de uma era, mas jamais o fim do sonho de um país melhor e mais justo. A máquina pública não pode ser utilizada para um projeto de poder. A corrupção não pode derrotar 204 milhões de pessoas, nós somos muito mais fortes que a corrupção.

*Gilmaci Santos é deputado estadual (PRB) e membro efetivo da Comissão de Constituição, Justiça e Redação

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