Opinião: Tia Ju: o anjo das crianças da Vila Virgínia


16/05/2016 16:30 | Welson Gasparini*

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Ribeirão Preto sempre teve algumas unanimidades, aquelas pessoas sobre as quais só se pode falar bem. Uma delas, durante todo o tempo em que iluminou Ribeirão Preto com o brilho da sua inteligência e o esplendor da sua bondade, era a dona Julieta Fernanda Sousa Taranto, falecida na última quinta-feira, 12/5, aos 94 anos de idade. Para as crianças da Creche Modelo da Vila Virginia - que a chamavam de Tia Ju - ela era um verdadeiro anjo, sempre pronta para abrigá-los, com muito carinho, sob suas asas.

Portuguesa de nascimento, mas brasileira de coração, sempre foi muito determinada nos seus objetivos: daí, talvez, o sucesso da administração por ela desenvolvida, durante mais de 30 anos, naquela creche mantida pela Liga das Senhoras Católicas e pela própria comunidade. Não havia, também, como negar aos seus pedidos, porque ela nunca pedia nada para si, mas sim para aquela criançada humilde e carente.

Formada em pedagogia pela Faculdade de Filosofia do Porto chegou ao Brasil em 1939 e passou a lecionar matemática e português em colégio particular, só deixando o magistério para se casar com o diplomata Eduardo Guidão da Cruz, representante do Brasil na Organização Internacional do Trabalho, com quem teve sua única filha, Tânia, casada com o engenheiro e professor universitário Wilson Vicente Ruggiero; o casamento durou pouco porque o marido, fulminado por um infarto, faleceu em 1954. De 1954 a 1957, carregou sua viuvez num sítio em Iguatuba Grande (RJ), onde desenvolveu trabalhos assistenciais e criou um pomar. Em dezembro de 1958, casou-se com o médico pediatra Roberto Taranto e veio, a contragosto, morar em Ribeirão Preto, mas logo se deixou conquistar pelo calor da cidade e pelo carinho de nossa gente.

A grande missão de sua vida ela encontrou em 1975 quando, convidada por Edilah Lacerda Biagi, assumiu a presidência da creche e da Liga, encontrando, de imediato, o apoio e entusiasmo de colaboradoras como Déa Spadoni Biagi e Nice Penna de Barros. Mudou a filosofia da creche e promoveu vários melhoramentos, tanto na ampliação das instalações da sede como nos cursos complementares oferecidos, como aulas de balé, música, danças de rua, coral e outras, todas ministradas por um grupo de voluntárias. Também criou um curso profissionalizante na área de informática para alunos e ex-alunos, com apoio do governo do Japão e da Unimed de Ribeirão Preto.

Durante todo esse tempo em que esteve à frente da entidade, nunca deixou de promover eventos para aumentar a arrecadação de fundos visando não apenas a manutenção da creche, mas também a implantação de melhorias.

Era uma mulher notável porque embora pudesse, com os recursos materiais de que dispunha, morar luxuosamente em qualquer lugar do mundo, optou por ficar em Ribeirão Preto cuidando dos milhares de "sobrinhos" aos quais proporcionou não apenas educação formal e encaminhamento profissional, como lhes deu, sobretudo, amor, muito amor!

*Deputado estadual (PSDB), advogado e ex-prefeito de Ribeirão Preto.

alesp