Opinião- Ainda sobre equívocos da SEE com as Salas de Leitura


02/12/2016 17:40 | Carlos Giannazi*

Compartilhar:


A Rede Estadual de Ensino propõe um equipamento pedagógico às suas escolas chamado Sala de Leitura com encaminhamentos repletos de equívocos. Na ausência de Bibliotecas Escolares ou Centros de Multimeios (ou algo similar), em seu obstinado projeto de economizar recursos na área educacional, às custas de baixos investimentos, criou, nas escolas onde é possível, as Salas de Leitura, ou "ambiente" de leitura, onde tudo cabe ou cabe nada. Convenhamos, esta é a melhor saída para o improviso e economia a qualquer preço: ambiente de leitura é a escola toda e, nesse sentido, não se pode dizer que não haja projetos de leitura nas escolas estaduais.

Essas Salas de Leitura, a maioria montada à base do improviso, padecem de quesitos mínimos, dentre os quais um programa efetivo e contínuo de escolha de livros a ser feita pelos usuários da leitura escolar. Nada há nesse sentido, salvo esporádicas reposições de livros, escolhidos de forma centralizada e comprados de modo homeopático. A escassez de livros é um dos piores crimes pedagógicos que se pode cometer contra a formação de futuros leitores. A escolha do espaço onde será instalada e estruturada a Sala de Leitura é outro problema: não há definição planejada de espaços apropriados para o aprendizado dos prazeres da leitura, nem nas escolas já em funcionamento nem nos novos prédios. Qualquer lugar serve. Lembrando da conversa de Alice com o gato inglês, no sempre belo Alice no País das Maravilhas, "qualquer caminho serve quando não se sabe para onde se vai". Qualquer lugar serve, desde que não se tenha que gastar ou investir em reformas ou compras. São raras as escolas da rede estadual que têm espaços amplos, arejados, claros, bonitos e confortáveis para se acomodar livros, leitores e momentos de leitura. Tampouco há um programa efetivo de formação desses mediadores de leitura. Os burocratas da administração da educação paulista sabem o que é um "mediador de leitura"? Pouco provável. Se soubessem, com certeza não editariam as resoluções e circulares pertinentes ao trabalho nas Salas de Leitura com orientações para os gestores "escolherem" os responsáveis por estas salas, em vez de abrirem processos democráticos de escolha. E este, certamente, é o maior equívoco: amarrar a escolha do mediador da Sala de Leitura com base no seu vínculo de trabalho ou na sua situação de docência (ou não docência). Para a burocracia da educação paulista, a indicação do responsável deve ficar centralizada nas mãos do gestor , tirando da comunidade usuária a possibilidade de participar, exigindo que a escolha recaia, pela ordem, sobre professores readaptados, sobre professores adidos e, excepcionalmente sobre professores Categoria F. Grande equívoco, pois a escolha deve ser orientada pelo perfil e não pelo vínculo ou condição. Não importa qual seja o vínculo ou a condição, a escolha tem que ser feita com base no perfil definido para ser o mediador de leitura, o animador do espaço. Mas, o governo prefere fazer a escolha do modo mais enviesado e econômico possível, desrespeitando preferências, laudos médicos, interesses pessoais e possibilidades de atuação.

Por estas razões, esta postura vem causando espanto, desconforto e pânico entre os docentes: de um lado, por conta da ação autoritária desde a Resolução SE 14/2016, que obrigou a se atribuir a responsabilidade das Salas de Leitura aos docentes readaptados, sem a observação de seus laudos médicos e suas limitações, depois tirando os professores Categoria F da atuação nas Salas de Leitura, independentemente da qualidade do seu trabalho, obrigando-os a escolherem aulas, e atualmente por não definir critérios mais claros, objetivos e adequados à literatura de mediação de Salas de Leitura, deixando todos em polvorosa.

Mais uma vez a burocracia da Secretaria erra por omissão, por descompasso administrativo e por abuso da economia de investimentos. E perde a oportunidade de elevar suas Salas de Leitura à condição de equipamentos sustentáveis, firmes, pegagogicamente qualificados.

*Carlos Giannazi é deputado estadual pelo PSOL

alesp