Opinião- Crônica do extermínio anunciado " parte 1


16/01/2017 16:47 | Carlos Giannazi*

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Acompanho a história da educação paulista há alguns anos, desde o meu primeiro mandato, a partir de 2007. De lá até hoje, vejo, incomodado, inúmeras ações dos sucessivos governos que promovem o aviltamento da escola pública, em suas várias dimensões.

Há uma clara intenção dessas administrações em não focar um projeto de recuperação das escolas e dos educadores. Cada administração que se instala dá as suas caras, impõe sua burocracia, apresenta um ou outro projeto, uma menina dos olhos para ser apreciada e anuviar todo o mais.

Foi assim com o governo Serra, que deu atenção especial às Etecs, expandindo-as e nelas oferecendo também o ensino regular. A intenção era ter nessas escolas apenas professores celetistas, passíveis de demissão a qualquer insurreição. Paralelo a isso, forçava a municipalização, numa atitude evidente de safar-se do ensino fundamental. Aqui e ali, escolas de tempo integral " que hoje padecem com a falta de recursos.

O primeiro governo Alckmin, através do autoritarismo de seu secretário criou as PEIs, prima rica das ETIs. Mereceu atenção e propaganda especiais e recursos diferenciados. Servidores escolhidos a dedo, com regime e salários especiais, ilhas de excelência. Enquanto isso, a maioria das demais escolas, sucateadas em sua essência e esperança de melhoria, viviam o pesadelo da reorganização pedagógica, uma peça mal costurada que não conseguiu esconder o verdadeiro interesse: encolher, enxugar e diminuir ao máximo o tamanho da rede paulista de escolas.

Em meio a um processo disfarçado, mas eficiente, de redução de classes, salas e escolas, veio caminhando a Escola da Família, outrora gloriosa nas mãos de polivalente Chalita, hoje não mais do que um apêndice que sobrevive graças ao esforço comunitário e de alguns educadores comprometidos.

No segundo governo de Alckmin, o processo de enxugamento de classes, secundado eficientemente pela superlotação das classes, segue a mil por hora. O aviltamento salarial das carreiras é tão evidente e notório que já não causa nenhum constrangimento aos últimos titulares da pasta. O ajuste fiscal na educação paulista começou faz tempo, muito antes das PECs federais. Uma máquina burocrática lenta, atrasada e mal humorada, que não respeita direitos e não acelera processos que tratam de benefícios dos servidores , colabora para o outro tipo de enxugamento salarial.

Qual é a cara, a identidade, da escola pública estadual? Qual é o desenho desejado e necessário para esta escola que vive às turras com a insatisfação de alunos, educadores e comunidade? Qual é a qualificação dos profissionais que se quer nesta escola necessária para os tempos de sociedade pós-tudo e vida virtual? Ninguém na máquina burocrática diz coisa com coisa. Propõem resoluções que dilaceram cargos e funções e exterminam as nuances de vida inteligente que ainda consegue existir nas escolas, apesar da SEE.

A julgar por dois textos publicados no jornal a Folha de S.Paulo, assinados pelo titular da pasta, que evidenciam a veia privatista e defesa ferrenha do estado mínimo e a sua declaração de que o governo apresentou um bom projeto de lei, permitindo o uso de celular na sala de aula, é provável que terminemos esta administração com poucas escolas públicas, a maioria assumida por voluntários ou pelas famílias e os educadores trabalhando trinta horas por dia para sobreviverem.

Estamos no caminho do extermínio anunciado da rede pública paulista de escolas. Voltaremos ao assunto.

*Carlos Giannazi é deputado pelo PSOL

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