Opinião - Diálogo difícil, mas necessário


21/02/2018 11:58 | Vitor Sapienza

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Dia desses estive conversando com um jovem de aproximadamente vinte anos e morador de uma das cidades mais carentes da grande São Paulo. Durante nosso bate-papo, o jovem me fez alguns questionamentos, pelos quais reforcei minha convicção do quanto está cada vez mais difícil promover o desenvolvimento por falta de ações que requeiram coragem.

Sua primeira pergunta foi sobre a minha atuação. Ele me perguntou se eu era político e eu, prontamente, disse que sim, uma vez que exerço meu mandato como deputado estadual.

Dando sequência ao diálogo, ele me disse que trabalhava na capital e com certo tom de frustração me disse que se formou aos trancos e barrancos no ensino médio, em uma escola pública. "O senhor deve saber o meu nível de escolaridade", emendou, dando a entender a qualidade do ensino que lhe fora dado.

O jovem rapaz me confidenciou o seu desejo de continuar os estudos, mas também pontuou a dificuldade que seria, visto que, para se ter uma ideia, para chegar em seu trabalho demorava cerca de duas horas e meia e, para retornar para o lar, demandava o mesmo tempo. Ele finalizou o assunto com uma pergunta inesperada: "Como vou melhorar de vida?".

Continuamos o diálogo e, graças à sua simplicidade, que em nada diminuiu a sabedoria de suas colocações, tive uma verdadeira aula de vivência. A inquietude típica da juventude trouxe novas perguntas feitas por ele.

Ele me perguntou se não seria mais eficiente se, em vez de aumentar os ramais do metrô, fossem ampliados os percursos da CPTM. "Veja o senhor: eu ganharia tempo ao me locomover se fossem ampliados os percursos da CPTM. Na linguagem popular, pergunto se não seria melhor privatizar algumas áreas."

Honestamente, não soube responder, visto que ele, o usuário, é com certeza a melhor pessoa para avaliar a eficiência de um serviço, já que sente na pele os seus resultados.

Ainda dentro das lições que recebi, o jovem continuou suas indagações, colocando-me cada vez mais na defensiva. Ele mencionou algumas instituições como Sesc, Senai e congêneres, afirmando ofertam serviços úteis à comunidade, mas indagando por que não o fazem em localidades onde a população é mais carente.

"Não seria mais útil se parte dos investimentos fosse destinada às periferias, de modo a possibilitar um proveito maior no que se refere ao ganho cultural e social, fazendo com que a população fosse menos dependente de serviços assistencialistas como Bolsa Família, casas populares e outros programas?"

Preferi ouvir para aprender com o jovem a falar das minhas experiências. Mas a verdade é que constatei que a juventude tem muito de nossas convicções e, por isso, temos de apoiá-la. Aquele jovem, como tantos outros com os quais me encontro, é realmente um grande observador e tem uma sabedoria a ser explorada.

Vitor Sapienza é deputado pelo PPS

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