Mais um Dia Mundial da Água e nós, moradores do Estado de São Paulo, temos nada a comemorar. Vital, a água é um recurso escasso e muito mal cuidado em São Paulo. A população paga caro para tê-la, quase nunca tem na torneira e quando a recebe trata-se de um recurso não tratado, com destinação errada e que passa por tubulação irregular. A verdade é que o Poder Público tem sido omisso nesse assunto. O governo federal entrega nossas fontes naturais para multinacionais. Basta olharmos a situação do aquífero Guarani e a quantidade de fontes nas mãos de empresas. Não podemos admitir que os bens naturais sejam negociados à nossa revelia. O governo estadual é incapaz de pensar a longo prazo e fazer um plano para despoluir rios, enfrentar períodos de estiagem - como o que aconteceu entre 2013 e 2014 e quase secou o sistema Cantareira - e tomar iniciativa para, de fato, coletar e tratar água e esgoto. A maioria dos municípios lava suas mãos e entrega os serviços de saneamento básico para empresas, como a Sabesp, que mais se preocupam com o lucro dos acionistas do que com a água na torneira da população. Reportagem recente da Folha de S.Paulo mostra que apenas sete dos 365 municípios em que a Sabesp atua contam com atendimento de água, coleta e tratamento de esgoto. Há anos pressionamos a estatal paulista e não vemos resultado. O povo não aguenta mais. Muita promessa e nada de ação. Em 2003, o então governador Geraldo Alckmin prometeu entregar o rio Tietê limpo e navegável. Hoje, 15 anos depois, ele se prepara para deixar o governo e novamente disputar a presidência da República sem ter feito nada do que prometeu. Nesse período, seu governo nada fez para extinguir a tubulação de amianto, substância cancerígena proibida por lei em São Paulo, que coloca em risco a saúde dos moradores. Assim, a população sofre e os problemas só aumentam. A gestão dos recursos hídricos em São Paulo é pouco transparente, nada eficiente e não traz melhora ambiental. Depois de quase secar um dos principais sistemas de abastecimento da região metropolitana, em 2014, o governo de São Paulo foi salvo pelo volume morto. Com isso, a população reduziu em 20% o consumo de água, fazendo o lucro da Sabesp cair 53%. No ano seguinte, a imprensa noticiou que a estatal paulista desperdiçava quase o triplo do volume de água economizado pela população. Em 2016, depois de aumentar tarifas e cortar investimentos, milagrosamente o balanço da empresa apontou lucro recorde de R$ 2,9 bilhões. Falta água para a população, mas não dinheiro para os acionistas. Agora, a empresa adotou práticas ortodoxas e persegue a população. Fazendo valer a lógica de que água é uma mercadoria e não um bem natural, a Sabesp quer punir os cidadãos que economizarem. A Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp) decidiu reajustar automaticamente a tarifa de água e esgoto da Sabesp quando houver uma "variação anormal" do consumo médio de água da rede. Ou seja, se o cidadão reduzir o consumo e isso afetar negativamente as receitas da Sabesp, a conta de água subirá além da correção pela inflação. A Arsesp argumenta que a nova regra visa a "garantir o equilíbrio econômico-financeiro" da empresa. Nessa data, só nos resta lamentar a postura de nossos governantes e trabalhar para mudar esse quadro. Água é vital. Pagamos caro e exigimos serviços de distribuição de água e tratamento de esgoto de qualidade! Marcos Martins é deputado pelo PT