Opinião - Sem conselhos de participação, a democracia definha e o povo não fiscaliza o governo


25/04/2019 13:20 | Atividade parlamentar | Emidio de Souza

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Não é novidade que Jair Bolsonaro " um adorador da Ditadura Militar " critique a jovem democracia brasileira e a Constituição Federal de 1988. Apesar de ter sido parlamentar por mais de 25 anos, o presidente vem atacando preceitos básicos da democracia, como respeito aos direitos humanos, liberdade de organização de movimentos sociais e sindicatos e liberdade de imprensa.

Para além de palavras, o presidente editou no último dia 11/4 o Decreto 9.759/2019, conhecido como "Revogaço", que representa uma verdadeira ameaça à democracia participativa, tão importante para o país.

Sob a falsa alegação de "diminuição de custos" e "uma visão distorcida" que visava a "fragilizar a representação da própria sociedade", Bolsonaro e seu ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, demonstram desconhecimento sobre a matéria e prometem reduzir os espaços criados pela política nacional de participação social (PNPS) iniciada por Lula em 2003, como os conselhos dos idosos, da juventude e de deficientes físicos.

Seguindo o exemplo, o governador João Doria também demonstra desprezo com a participação popular em várias situações. Um bom exemplo são as reportagens sobre a postura governamental de inviabilizar o funcionamento do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). A direção do órgão não se reúne desde fevereiro, e Doria ainda cortou o espaço das universidades.

Infelizmente, ambos tentam desmontar o legado de participação social iniciado pelos governos de Lula e Dilma. Desprezam os princípios da democracia participativa, fundamentalmente o direito de exercer a cidadania de milhões de brasileiros.

A cada dia, além das eleições, canais de participação como conferências, conselhos, fóruns, orçamentos participativos se consolidam mundo afora como instrumentos de fiscalização e controle social importantes. Tais ferramentas impactaram administrações municipais e estaduais e viraram referência mundial antes mesmo da posse de Lula em 2003.

O Orçamento Participativo, por exemplo, foi gestado em administrações petistas desde a década de 1980, partindo de experiências locais, chegando a mais de mil cidades pelo mundo. Inclusive, sou testemunha de como os conselhos são fundamentais para aprimorar o serviço público e dar transparência à gestão. Quando prefeito de Osasco, fortaleci os conselhos atuais e viabilizei a criação de novos, implantei o Orçamento Participativo e deixei a população indicar as prioridades. Muitas ações do meu governo partiram de indicações feitas nessas ocasiões.

As políticas de participação social implantadas pelos governos do PT não são meras bandeiras, mas parte de um legado maior de aprimoramento da democracia, bem como uma resposta à crise de representação política vivida no país. Diferentemente do que alguns governantes pensam, o empoderamento popular não se resume a eleições a cada dois anos. Defendemos os mecanismos de participação popular conquistados pela Constituição de 1988 e acreditamos em seu aprimoramento. Acreditamos que uma democracia plena respeita a cultura participativa e cotidiana.

Bolsonaro e Doria não podem virar as costas para as demandas populares. Sem conselhos, entre outros canais de participação, os governos ficam livres de fiscalização, e a democracia " que já tem sido atacada diariamente - definha ainda mais.

Emidio de Souza é deputado pelo PT

alesp