Opinião - A questão da EaD nas graduações em saúde


23/05/2019 14:09 | Atividade Parlamentar | Gilmaci Santos

Compartilhar:


O debate em torno da questão da oferta da educação a distância em cursos de graduação não é novo, na verdade essa discussão é relativamente antiga, mas, mais recentemente, profissionais e entidades relacionadas à área da saúde têm questionado os prejuízos que esse tipo de modalidade pode ocasionar na formação de profissionais dessa área.

Entendo que essa seja uma categoria cada vez mais popular, resultado de avanços tecnológicos, mas os cursos de Educação a Distância (EaD) na área da saúde devem ser tratados com cuidado. Não podemos esquecer que muitos desses profissionais terão rotinas extenuantes de trabalho em que vão lidar diretamente com vidas humanas e não poderão se dar ao luxo de ter uma formação deficiente em suas áreas de atuação.

O imbróglio é grande e o debate tomou outros contornos em 2017 com a publicação de uma portaria do Ministério da Educação (MEC) regulamentando o Decreto 9057, de 25 de maio de 2017, com o objetivo de desburocratizar e ampliar a oferta de cursos superiores na modalidade a distância. A portaria possibilita, por exemplo, o credenciamento de instituições de ensino superior (IES) na modalidade EaD sem a necessidade do credenciamento para cursos presenciais.

O aumento da oferta desse tipo de curso é evidente, segundo o último Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação, em 2005 existiam 189 graduações a distância no Brasil e, em dez anos, esse número saltou para 1.473 - alta de quase 680%. Em 2017, a EaD aumentou 17,6% e já atende mais de 1,7 milhão de alunos, isso representa uma participação de 21,2% dos alunos de graduação no país. E não é para menos, esses cursos costumam ser bem mais atrativos, pois unem baixos preços e flexibilidade de horário. Mas, por outro lado, essa modalidade exige um empenho maior do estudante, que não tem a monitoria presencial e constante do educador. Me pergunto se a ausência de um professor não traria prejuízos maiores para a formação na área da saúde.

Em 2017 apresentei a Moção 97 que apela ao ministro da Educação para que o Ministério da Educação (MEC), antes de aprovar qualquer curso de ensino a distância, principalmente na área da saúde, ouça os conselhos das respectivas categorias. A ideia é que haja uma discussão ampla visando impedir a criação de graduações que não tenham qualidade educacional.

Compreendo a importância dos cursos a distância na educação superior, pois a modalidade incentiva a inclusão social, mas é preciso priorizar a qualidade do ensino. As entidades federais dos profissionais da saúde consideram que as graduações que formam enfermeiros, educadores físicos, farmacêuticos, nutricionistas e dentistas não devem ter mais que 20% da carga horária na modalidade EaD, mas considero que até mesmo esse percentual precisa ser revisto. A quantidade de aulas a distância não pode ser determinada pela planilha financeira das instituições de ensino, mas pelo prisma da qualidade educacional.

Mesmo que seja relevante o propósito do ensino a distância, não podemos esperar que ele substitua o presencial em todos os cursos de graduação. O diálogo entre professor e aluno é necessário e fundamental na construção do conhecimento em qualquer área de atuação, mas, principalmente, em cursos que têm como objetivo o cuidado com a vida de outras pessoas.

Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB.


alesp