24 DE MARÇO DE 2003

1ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM À PROFESSORA DORINA NOWILL, PRESIDENTE EMÉRITA DA FUNDAÇÃO DORINA NOWILL PARA CEGOS

 

Presidência: RAFAEL SILVA e VITOR SAPIENZA

 

Secretário: VITOR SAPIENZA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 24/03/2003 - Sessão 1ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: RAFAEL SILVA

 

HOMENAGEM À  PROFESSORA DORINA  NOWILL, PRESIDENTE EMÉRITA DA FUNDAÇÃO DORINA NOWILL PARA CEGOS

001 - RAFAEL SILVA

Assume a Presidência e abre a sessão.

 

002 - HUGO DANIEL ROTSCHILD

Como Mestre de Cerimônias nomeia as autoridades.

 

003 - Presidente RAFAEL SILVA

Convida todos para ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro.

 

004 - HUGO DANIEL ROTSCHILD

Lê texto sobre a vida de Dorina Nowill.

 

005 - VITOR SAPIENZA

Dá depoimento sobre a admiração e amizade por uma mulher cega esposa de amigo seu. Homenageia o Presidente Rafael Silva e sua esposa, Maria Clara.

 

006 - UBIRATAN GUIMARÃES

Homenageia o Deputado Rafael Silva e Dorina Nowill.

 

007 - CARLOS ALBERTO LANCELLOTTI

Como Diretor Presidente da Fundação Dorina Nowill, enaltece o trabalho de esperança e de incansável semeadora do bem de Dorina Nowill.

 

008 - DORINA NOWILL

fala da honra em estar na Casa em que se elaboram leis para o conjunto dos cidadãos. Disserta sobre a importância de o deficiente ser considerado pela sociedade com um cidadão.

 

009 - VITOR SAPIENZA

Assume a Presidência.

 

010 - RAFAEL SILVA

Fala de seu propósito de assomar à tribuna para mostrar que um portador de deficiência também pode ser Deputado. Homenageia Dorina Nowill.

 

011 - RAFAEL SILVA

Assume a Presidência. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado Vitor Sapienza para, como 2º Secretário "ad hoc", proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO - VITOR SAPIENZA - PPS - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

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O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Agradeço ao nobre Deputado Vitor Sapienza, por estar aqui participando desta sessão solene em homenagem à Professora Dorina Nowill e à Fundação Dorina Nowill como um todo. O Deputado Vitor Sapienza tem um trabalho muito bonito em favor da Terceira Idade e de outros segmentos da sociedade que precisam de um apoio, de uma participação efetiva dos homens públicos.

Solicito ao cerimonial da Assembléia Legislativa que nomeie os membros da Mesa e as autoridades presentes.

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD - Compõem a Mesa, além do nobre Deputado Rafael Silva, a Sra. Dorina de Gouvêa Nowill, Presidente emérita e vitalícia da Fundação Dorina Nowill para cegos; Sr. Carlos Alberto Lancellotti, Diretor Presidente da Fundação Dorina Nowill. Também querermos registrar e agradecer as presenças da Sra. Leila Davidson, capitão da Marinha, neste ato representando o vice-almirante Pierantoni Gamboa, comandante do 8o Distrito Naval; Sr. Humberto Silva Neiva, Diretor Vice-Presidente da Fundação Dorina Nowill; Coronel Ubiratan Guimarães, Deputado estadual desta Casa; Sr. João Câncio Póvoa Filho, Vice-Presidente do Conselho Consultivo da Fundação; Sra. Olimpia Ana Sant´Ana Sawaya, Vice-Presidente do Conselho Consultivo da Fundação; Sra. Maria Carolina Pinto de Carvalho, curadora do Conselho; Sra. Maysa Aparecida Azambuja Vedovato, Diretora Executiva; Sra. Dulce Arena Avancini, Diretora do Conselho; Sr. Gualter Godinho, ministro do Superior Tribunal Militar de Brasília.

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Sidney Beraldo, sob requerimento deste Deputado, Rafael Silva.

Solicito aos presentes para que, de pé, ouçamos a execução do Hino Nacional Brasileiro pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Esta Casa agradece mais uma vez a presença da Banda da Polícia Militar, comandada neste evento pelo 2o Tenente Jassen. A presença dos senhores dignifica este ato, porque valoriza a solenidade pela demonstração do civismo que existe aqui dentro e deveria existir no Estado e na Nação como um todo.

Peço ao cerimonial desta Casa para que faça a leitura de uma parte da vida da professora Dorina Nowill.

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD - A professora Dorina de Gouvêa Nowill nasceu em São Paulo em 1919. Devido a uma patologia ocular, ficou cega aos 17 anos. Como era dotada de uma inteligência brilhante, decidiu continuar seus estudos.

Entretanto, naquela época, havia poucos livros em Braile para estudantes cegos. Por essa razão, reuniu um grupo de voluntários e criou, em 1946, a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, organização que, em 1991, recebeu o seu nome pelo merecido reconhecimento de seu trabalho em prol da educação, reabilitação, cultura e profissionalização de pessoas cegas ou com baixa visão e na prevenção da cegueira.

A professora Dorina foi a primeira aluna cega a matricular-se em São Paulo numa escola comum, para estudar junto com estudantes com visão normal. Formou-se professora na Escola Caetano de Campos.

Ainda como aluna, com a ajuda de alguns colegas, conseguiu que a Escola Caetano de Campos implantasse o primeiro curso de especialização de professores para o Ensino de Cegos em 1945. Após diplomar-se na Caetano de Campos, viajou para os Estados Unidos da América com uma bolsa de estudos patrocinada pelo Governo Americano, Fundação Americana para Cegos e Instituto Internacional de Educação para freqüentar um curso de especialização na área de deficiência visual na Universidade Columbia e realizar estágios nas principais organizações de serviços para cegos. Retornando ao Brasil, dedicou-se ao trabalho pioneiro de desenvolver as atividades de Fundação, obtendo sempre o apoio de organizações estrangeiras, do Governo Brasileiro e de particulares.

Iniciou as atividades da Fundação em São Paulo, com a implantação da primeira imprensa Braile para produzir livros em Braile, e foi responsável pela criação na Secretaria de Educação de São Paulo do primeiro serviço Especial para Educação Integrada de Alunos Cegos na Escola Comum.

Foi Presidente da Fundação Dorina Nowill para Cegos desde 1946 e hoje ocupa o cargo de Presidente Emérita e Vitalícia.

No período de 1953 a 1970, dirigiu o primeiro órgão nacional de educação de cegos no Brasil, criado no Ministério da Educação, Cultura e Desportos, para implementar a criação de serviços especiais de educação de cegos e capacitação de profissionais para esses serviços ainda incipientes ou inexistentes na época.

Durante essa gestão, realizou programas e projetos que implantaram serviços para cegos nas diversas unidades da Federação Brasileira, criaram cursos de preparação de professores para o ensino de cegos, cursos de preparação para professores de orientação e mobilidade, centros de reabilitação e programas de prevenção da cegueira.

Em nível internacional, trabalhou com organizações mundiais de cegos e órgãos da ONU, tendo sempre representado oficialmente o Brasil.

Ocupou ainda importantes cargos em Organizações Internacionais de Cegos, promovendo o desenvolvimento dos serviços para cegos no Brasil e em países da América Latina, por meio de intercâmbio técnico-científico e obtenção de ajuda internacional e estrangeira.

Foi um dos membros iniciadores do Conselho Mundial para o Bem-estar dos Cegos, hoje, União Mundial de Cegos, órgão consultor, tendo sido a primeira mulher eleita para assumir a Presidência desse Conselho.

Trabalhou intensamente para a criação da União Latino-Americana de Cegos - Ulac.

Atuou na OIT, sendo uma das responsáveis pela aprovação da Convenção 159 e da Recomendação 168, as quais, por seu empenho, foram ratificadas pelo Governo Brasileiro e transformadas em lei em 1991, beneficiando pessoas cegas na área do trabalho.

Ao longo de sua trajetória de trabalho sempre teve grande preocupação com a prevenção da cegueira, atuando diretamente na implantação de programas para esse fim.

Grandes nomes da Oftalmologia foram seus parceiros e, entre eles, são lembrados Dr. José Mendonça de Barros, Dr. José Gouvea Pacheco Dr. Renato Toledo, Dr. Moacir Álvaro, Dr. Rubens Belfort Matos, Dr. Armando de Arruda Novaes, Dr. Oswaldo Gallotti, Dr. Oswaldo Monteiro de Barros, Dr. José Carlos Reis, Prof. Hilton Rocha, Dr. Newton Kara José.

Realizou campanhas, participou de eventos e de comissões no campo da prevenção da cegueira tanto no Brasil, como no exterior

Por meio de seus esforços na OMS e no Governo Brasileiro, obteve a criação em São Paulo, do primeiro Centro Colaborador de Prevenção da Cegueira no Brasil, localizado na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo - Serviço de Oftalmologia Sanitária.

Teve também atuação destacada no Conselho Internacional de Educação de Deficientes Visuais.

Durante os cinqüenta e seis anos de existência, a Fundação que leva seu nome já produziu mais de mil títulos (100 mil volumes) e atendeu mais de dez mil pessoas nos diferentes serviços de atendimentos.

O reconhecimento mundial da atuação da professora Dorina em prol do desenvolvimento e da inclusão social de pessoas com deficiência visual é concretizado por meio de inúmeros prêmios, condecorações, títulos, comendas e outros concedidos por organizações de todo o mundo, pelo governo brasileiro e por organizações brasileiras.

 Esta aí, Deputado, o breve relato da vida da Professora. Dorina Dowill.

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Agradeço ao Cerimonial desta Casa e convido o Deputado Vitor Sapienza, do PPS, para que faça uso da palavra.

Antes da palavra do nobre Deputado Vitor Sapienza, quero agradecer e anunciar a presença da D. Ilka Fleury, ex-Primeira-Dama do Estado de São Paulo.

 

O SR. VITOR SAPIENZA - PPS - Sr. Presidente, nobre Deputado Rafael Silva, que hoje preside esta sessão, Srs. Deputados, minhas senhoras, meus senhores, autoridades já mencionadas, Dr. Lancellotti, Presidente da Fundação, poderia fazer um discurso eloqüente, mas prefiro dar um depoimento.

Nasci em São Paulo em uma época que quando se falava de cego lembrava-se da Fundação Padre Chico. O tempo passou, o Deputado fez concurso, foi ser fiscal de rendas, teve oportunidade, em torno de 1962, 1963, de conhecer um fiscal chamado Alex.

Na época, esse fiscal era corregedor-fiscal, praticamente fiscal dos fiscais. Lá nasceu uma amizade que perdura até hoje. Dessa amizade, em determinado momento surgiu o convite para o casamento de um de seus filhos, talvez de alguém que até esteja aqui presente.

O Alex nunca havia mencionado que a sua esposa era cega. Este Deputado, na época fiscal de rendas, foi ao casamento, tive oportunidade de cumprimentar os noivos, a esposa do Alex e vi a desenvoltura, a forma, bastante altivez com que ela tratava os convidados, como se nada tivesse acontecido em sua vida.

De lá nasceu uma admiração, um acompanhamento que este Deputado ao longo de todos os anos, desde a época em que não ele era Deputado, de admiração e amizade por aquela mulher que fez da sua vida um ato de heroísmo, e ainda continua fazendo.

Tivemos oportunidade ainda de participar juntos de um programa do falecido Deputado Hélio Ansaldo, quando ainda ela continuava tratando como se não fosse cega, dando-me mais uma vez lição de esperança, de amor à vida, de entusiasmo.

Nesse momento, este Deputado, que está em seu quinto mandato, que já viu várias coisas em sua vida, que já teve várias surpresas, uma delas, sem dúvida alguma, a fibra de quem nos preside hoje, Rafael Silva, Deputado Rafael Silva, seu espírito briguento em busca da verdade e em busca do ideal. Ao seu lado, sempre uma senhora de cabelos loiros, mais talvez para brancos, chamada Clara, que o acompanha. E, muitas e muitas vezes, nosso povo, talvez, influenciado muitas e muitas vezes por uma imprensa caolha, que só vê defeitos e não aponta qualidades, não mostra o valor do Sr. Rafael Silva.

Em que pese ter sido marcado ou estigmatizado por um problema, S. Exa. se supera juntamente com Clara, que lhe dá todas as forças, demonstrando uma paciência e uma força de vontade digna de todos os elogios.

Quero aproveitar este momento, Sr. Presidente, para prestar também uma homenagem à Clara, sua esposa, que está sempre ao seu lado. Prestar uma homenagem ao meu particular amigo Alex que, com a sua humildade e com a sua perseverança fez com que todos os seus filhos - em sua maioria ali estão - acompanhassem e acompanham sempre a luta dessa heroína, chamada Dorina.

Nesse ponto, para não me estender, quero parabenizar o nosso amigo Rafael Silva, quero parabenizar Dorina por esta justa homenagem que hoje prestamos a esta grande heroína brasileira. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Agradecemos as palavras do nosso grande amigo nobre Deputado Vitor Sapienza, que tem um trabalho muito bonito - repito - voltado em favor de um segmento importante dessa nação, que é dos idosos, do pessoal da Terceira Idade.

Convidamos agora, para fazer o uso da palavra, o nobre Deputado Ubiratan Guimarães, que vai falar em nome do PTB.

 

O SR. UBIRATAN GUIMARÃES - PTB - Sr. Presidente, nobre Deputado Rafael Silva, um exemplo nesta Casa, um exemplo de lutador, um exemplo de homem, que nos deixa emocionado. Cada vez que vejo o nosso Deputado, atuando aqui na tribuna, é uma emoção.

Senhoras e senhoras, Dona Dorina, para mim é motivo de orgulho estar aqui hoje porque a conheci há 11 anos atrás. No ano de 91 exatamente, eu, coronel da Polícia Militar do Estado, titular do Comando de Policiamento Metropolitano, tive a honra de fazer uma campanha para a doação de córneas. Recebi o diploma das mãos da senhora - um diploma de colaborador - através de um trabalho feito por nossos homens na rua.

Nós que vivemos e vivíamos combatendo crimes, tínhamos sempre a esperança de ao atender algum acidente, atender algum tiroteio, ou alguma coisa em que a família da vítima concordasse em doar as córneas. Fizemos um trabalho e com os nossos homens, valorosos homens da Polícia Militar, imbuídos desse espírito de ajudar o próximo, cerca de dois meses conseguimos triplicar o número de doações.

Portanto, Dona Dorina, é com emoção que venho a esta tribuna revê-la e dizer: “Dentre as coisas que eu consegui na vida, no meu trabalho na Polícia Militar, a senhora pode ter certeza de que aquele diploma, que foi entregue pela senhora, está num lugar de destaque”.

Muito obrigado, Dona Dorina, que a senhora continue essa luta incansável em prol dos deficientes. Nosso Deputado Rafael, como disse, é um exemplo de luta também. Se eu puder vir a colaborar com a senhora, continue contando comigo. Não estou mais na Polícia, passei para a reserva, mas o cidadão Ubiratan Guimarães vai ajudando no que for possível.

Muito obrigado e parabéns, Sr. Presidente.

(Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Nós agradecemos as palavras do Cel. Ubiratan Guimarães, do PTB - Partido Trabalhista Brasileiro. O coronel tem tido também aqui um desempenho voltado para o social. Ele demonstra a sua sensibilidade, mas que não é conhecida pela população. Dentro desta Casa, porém, ele demonstra essa sensibilidade voltada.

Ele demonstra a sua sensibilidade que não é conhecida pela população. Mas, nesta Casa, ele demonstra essa sensibilidade, voltada a favor das pessoas que mais precisam, dos setores que mais precisam. Com certeza ele será um grande colaborador da Fundação porque tem essa sensibilidade, repito.

Também agradecemos a presença de dona Ana Paula Silveira Sakai, Presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Guarulhos.

Agora, convidamos o Sr. Carlos Alberto Lancellotti, nosso amigo Lancellotti, para fazer uso da palavra.

 

O SR. CARLOS ALBERTO LANCELLOTTI - Bom dia amigos de Dorina, da Fundação; Srs. Deputados Rafael Silva, Vitor Sapienza e Ubiratan Guimarães.

Nesta data homenageia-se a nossa querida Dorina Nowill. Quando me perguntam como soletra, falo “goodwill”: é a esperança, é a possibilidade de um dia melhor.

Hoje, infelizmente, estamos envolvidos por uma batalha no Oriente Médio, em que pouco se dá valor à vida humana. Nós, da Dorina, de longa data, batalhamos para que a vida possa melhorar, para que todo deficiente físico possa ter uma oportunidade de inclusão na sociedade.

Nossa querida Dorina está nessa batalha desde os 17 anos. Batalha essa que não termina, em que só há vitórias e não há derrotas. Pois ela sempre planta uma semente boa, uma semente que vai fluir uma nova árvore e dela podemos usufruir.

Informaram-nos que estávamos ao vivo na televisão. Infelizmente, a televisão aberta dá mais imagens de pessoas não vivas, o que é uma tristeza. Realmente, fico excessivamente deprimido ao ligar uma televisão.

Quando Dorina nasceu, em 1919, terminava a 1ª Guerra Mundial, em que o avião tinha iniciado a sua atividade como elemento de destruição. Isso levou o seu inventor a um estado de depressão e infelizmente veio a falecer.

O que queremos é que o deficiente tenha uma oportunidade de participar da sociedade, de viver, de constituir família, como fez Dorina com Alexandre. É isso o que pretendemos, é isso que a sociedade deseja; a sociedade briga por dias melhores.

Quero concluir, parodiando Fernando Pessoa, que disse certa vez: “De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando; a certeza de que precisamos continuar ...” Aí eu digo: apoiando o deficiente, pois a inclusão é o nosso objetivo.

Quero agradecer a todos e, mais uma vez, parabenizar nossa Dorina Nowill, que é mais “goodwill” do que pretendemos.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Agradecemos as palavras do nosso amigo Lancellotti, amigo dos portadores de deficiência visual e amigo da instituição. Antes de a Profª Dorina fazer uso da palavra queremos abrir uma oportunidade para quem quiser se manifestar. Existem os microfones de aparte abaixo. A manifestação poderá ter um tempo aproximado de três ou quatro minutos. Assim, se alguém quiser fazer uso da palavra, está à disposição.

Estava falando com Neiva sobre a dificuldade que existe neste país para que as entidades possam, realmente, ter condições de cuidar das pessoas que precisam de cuidados especiais.

Rui Barbosa falou que tratar a desiguais com igualdade é uma desigualdade flagrante. Na medida em que uma nação entende que aqueles que precisam de cuidados especiais merecem esses cuidados, a nação passa a ser mais feliz.

Portanto, abrimos a palavra para quem quiser usar do microfone de aparte.

Todos conhecem o trabalho da Fundação Dorina Nowill e já que ninguém se manifesta, vamos ouvir as palavras da Professora Dorina Nowill, que é uma bandeira de esperança e de luz que temos para seguir.

Esta Sessão Solene foi convocada para homenagear não apenas a Professora Dorina Nowill, mas esse grupo de pessoas que acompanha esse trabalho fantástico.

Fui vereador por oito anos em Ribeirão Preto e estou no terceiro mandato de Deputado estadual. Quando vereador tínhamos sessões solenes de cidadania. Num primeiro momento eu não entendia muito bem isso. Depois passei a entender.

Na medida em que um povo valoriza as pessoas que precisam ser valorizadas, mostramos que é possível mudarmos uma realidade. A televisão brasileira mostra os aspectos negativos. Ela se preocupa muito com os aspectos negativos, porque eles trazem audiência. Um desastre. Um crime pavoroso. Isso ocupa um espaço especial na televisão, pois o povo acompanha. Então, passamos a ter os parâmetros que não deveríamos ter. Passamos a valorizar os símbolos que não deveriam ser valorizados. Eu entendi, então, que quando uma pessoa merece ser valorizada, ela tem que ser reconhecida. Os órgãos de comunicação deveriam mostrar, porque outros poderiam seguir o mesmo exemplo. E constatariam que é importante ser útil, ser bom e fazer o bem. É importante, também, lutar para a construção de um mundo melhor.

Portanto, as nossas homenagens e a desta Casa a todo o grupo da Professora Dorina Nowill.

Vamos ouvir agora as palavras da Professora Dorina Nowill.

 

A SRA. DORINA NOWILL - Sr. Presidente, Deputado Rafael Silva, Srs. Deputados Vitor Sapienza e Ubiratan Guimarães, Sr. Carlos Alberto Lancellotti, Presidente da Fundação Dorina Nowill para cegos, senhoras e senhores aqui presentes e representantes de organizações e todos aqueles que trabalham na Fundação e que aqui estão e que representam os que ficaram dentro de seus departamentos, continuando o trabalho que, eu diria, ilumina suas vidas e os torna cada vez mais dignos do nome de cidadãos brasileiros. A todos, especialmente ao Deputado Rafael Silva, que tem procurado de todas as maneiras mostrar o trabalho que a Fundação realiza, os meus agradecimentos.

Sinto-me profundamente honrada neste minuto e até muito emocionada para expressar, como eu deveria, aquilo que enche a nossa alma e o nosso coração num momento como este.

Por estar aqui onde estou, lembrando a própria Constituição Brasileira, que aponta a grande importância da ordem social, que tem como objetivo o bem-estar e a justiça social, ainda engrandece muito mais a homenagem que hoje meus companheiros de trabalho e eu estamos recebendo.

Porque esta Casa, onde se preparam as leis, onde se legisla para o Estado de São Paulo, tem para todos nós uma emoção só pelo fato de aqui estarmos. A Casa em si não é bela, nem é importante pelo veludo de suas cadeiras ou pelas madeiras maravilhosas que ornamentam as salas de trabalho do Poder Legislativo. A Casa tem sua importância pelo fato de aqui se elaborar as leis para o conjunto dos cidadãos. Disse Cícero uma vez que precisamos ser escravos da lei para podermos ser livres. Só isso basta já para nos mostrar a importância da lei para o país, para a ordem social e para as nossas vidas.

Sinto-me muito feliz por constatar que todos incluíram nesta homenagem todos aqueles que diuturnamente trabalham na Fundação: seus diretores, seus profissionais, pessoas que garantem o sucesso do nosso trabalho com o apoio que oferecemos à vida dos deficientes visuais, funcionários dedicados. Os que aqui estão e os que por aqui passaram, recebem neste momento esta homenagem, porque foram eles que me trouxeram aqui. Foi graças à colaboração de todos que eu recebo uma homenagem tão grande quanto esta.

Tenho dentro de mim muito civismo. Graças a meus pais e professores, aprendi o que quer dizer Pátria; aprendi a amá-la; aprendi a respeitar a nossa bandeira; aprendi a cantar com orgulho o Hino, que relata suas glórias, seus sucessos, bem como a importância de uma nação. A ordem social é a espinha dorsal de uma nação e esta Casa é uma parte dessa espinha dorsal, que junto com o Poder Executivo e o Judiciário dirigem os destinos do povo brasileiro.

Queria lembrar neste momento que a obra que eu represento, a obra em favor dos deficientes visuais, depende muito dos legisladores, como do Poder Executivo, do Judiciário e da sociedade civil, que entende que o mais importante é considerar o deficiente como um cidadão. Para isso é que hoje se procura imprimir na vida e no coração do povo brasileiro o que é cidadania. E cidadania é considerar que todos nós somos responsáveis pelo bem estar de todos os nossos semelhantes, de todos os cidadãos.

A Fundação sempre propugnou para que o direito dos deficientes visuais fosse reconhecido.

É bem verdade que todas as Cartas Magnas e a própria instituição dos direitos do homem nos consideram iguais. Acredito piamente nesta igualdade através da integração.

Hoje, falamos muito sobre a inclusão. Há épocas em que as coisas mudam, mas o importante é que elas mantenham dentro do seu estofo a valorização do ser humano e elas têm a sua época: uma vez foi integração e hoje é inclusão.

Graças a Deus nunca me senti excluída. Acho que os deficientes não podem se consolar com a palavra excluídos ou concordar com ela, porque todos nós nascemos incluídos. E se algo nos afastou dessa inclusão natural que vem de Deus, da natureza e dos direitos do homem, devemos trabalhar para que isso se restabeleça através de leis e da filosofia do nosso trabalho, que é a filosofia mantida desde a criação da Fundação em 1946 e que norteia todos os nossos trabalhos, que impulsiona a dedicação daqueles que acreditam no que hoje se chama Terceiro Setor e que sempre esteve latente no povo brasileiro e na nossa sociedade para buscar soluções que tragam a qualidade de vida a que todos fazem jus.

Lembrando a importância da educação, da saúde e do trabalho, que são os pilares da cidadania, gostaria de deixar aqui a minha humilde mensagem como representante que sou de um grupo enorme de cidadãos brasileiros, incluindo muitos dos representantes do povo que por aqui passaram e que aqui ainda estão: o exercício do direito é o que garante, é o que impulsiona o cumprimento do dever de cada um de praticar a cidadania e construir cidadãos.

Esta é a nação brasileira que eu venero neste momento na pessoa de todos aqui presentes, que são capazes de dar de si mesmo para que o cidadão brasileiro possa representar sua Pátria com orgulho, com amor e com dignidade. (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Quero registrar que esta sessão solene está sendo transmitida para todo o Estado de São Paulo pela TV Assembléia e tudo o que foi dito e acontecer nesta sessão sairá no “Diário Oficial”, fará parte da história deste órgão oficial de comunicação e ficará registrado nos Anais desta Casa de Leis.

Daqui a 100, 200 anos, quem for estudar este Parlamento verá que no dia 24 de março de 2003 a Assembléia Legislativa, em sessão solene, homenageou a Fundação Dorina Nowill, a Profª Dorina Nowill e seus companheiros de luta em favor dos portadores de deficiência visual.

Convido o nobre Deputado Vitor Sapienza para assumir a Presidência dos trabalhos.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Vitor Sapienza.

 

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O SR. PRESIDENTE - VITOR SAPIENZA - PPS - Tem a palavra o nobre Deputado Rafael Silva.

 

O SR. RAFAEL SILVA - PSB - Sr. Presidente, Deputado Vitor Sapienza, Professora Dorina Nowill, Sr. Carlos Alberto Magalhães Lancellotti, Sra. Nair Passos Fleury, quero fazer uma homenagem a todo esse pessoal que acompanha o trabalho valoroso da Professora Dorina, o trabalho dessa Fundação que representa esperança.

Fiz questão de vir à tribuna desta Casa por um motivo especial. Fui Vereador em Ribeirão Preto, durante oito anos, estou no terceiro mandato de Deputado, e quis usar a tribuna para mostrar que um portador de deficiência também pode ser Deputado; um portador de deficiência tem capacidade para fazer muitas coisas.

Essa instituição séria, essa professora fantástica que já faz parte da história deste país e este seu grupo maravilhoso se preocupam em mostrar que o deficiente deve ter um espaço; deve ter uma oportunidade sim, mas deve ser entendido como cidadão. A cidadania se faz através da oportunidade de participação de cada um.

 Repito que fiz questão de vir à tribuna, pois uso a tribuna para mostrar que o portador de deficiência tem sensibilidade e capacidade. E esta sociedade deveria entender dessa forma. Mas, como a sociedade pode entender, se não há informações para isso?

Alguém disse, há muito tempo, que a informação é a matéria-prima da consciência; sem a informação não se forma consciência a respeito de determinado assunto.

Quando eu enxergava, eu ouvia falar da Professora Dorina. Ouvia entrevistas dela em emissoras de rádio - não me lembro quando - mas eu enxergava. Achava importante esse trabalho, mas não achava tão importante como eu deveria achar.

Lembro-me de um portador de deficiência visual. Minha esposa tinha uma loja em Ribeirão Preto e ele passava, de vez em quando, com uma espécie de carrinho de feira, com uma bengala na mão e alguns pacotes de doces que vendia. Em frente havia uma praça. Ele fugia da praça e ia para a calçada, onde havia construções. Perguntei-lhe por que. Ele respondeu que na praça ele não tinha um referencial, então, podia até se perder; então ele ia naquela calçada que tinha paredes.

Vi ali um portador um portador de deficiência, mas eu não analisava a realidade deste país que não dá oportunidade a essas pessoas.

Fiquei totalmente cego em 1986. Aí passei a entender esta realidade. Infelizmente a população brasileira não recebe as informações, como eu também não as recebia. Deficiente? Para que apoiar o deficiente? Eu poderia me perguntar, no passado. Hoje eu respondo: o deficiente contribui com impostos, assim como a família do deficiente. Antes de tudo ele deve ser entendido como cidadão e deve ter oportunidade.

Entendo hoje que quando uma pessoa diz que tem dó do deficiente ela o humilha, porque o deficiente não quer dó nem pena, ele quer oportunidade e cidadania.

Dorina Nowill, permita-me que a chame de Dorina Nowill, que a chame de você; sinto-me feliz em tratá-la desta forma. Você, Dorina Nowill, representou e representa uma bandeira de esperança. Conhecendo depois de cego, a história de Louis Braille, de Ellen Keller, vi que nós termos uma heroína em nosso país, e que temos um grupo de pessoas valorosas que acompanham todo esse trabalho.

Portanto, a Assembléia Legislativa hoje está realizando esta homenagem através do Presidente desta Casa, do Deputado Rafael, do coronel Ubiratan, do Deputado do Vitor Sapienza. É uma homenagem do povo paulista, porque cada Deputado aqui dentro representa uma parcela da população; depois de investido no mandato, ele representa a população como um todo. Então, uma homenagem oficial, que é uma singela homenagem sim, porque esse grupo merece muito mais. Merece o reconhecimento de cada pessoa deste país, não apenas do Estado de São Paulo.

Sempre me pergunto e pergunto aos senhores presentes, aos senhores que me assistem pela TV Assembléia no estado todo: quem será o próximo cego? Quem vai ter um filho cego? Quem vai ter um neto cego? Quem vai ter um descendente portador de deficiência visual? Será que as pessoas que enxergam não entendem que à medida em que cuidam dos interesses desse segmento, estão cuidando dos próprios interesses, dos interesses do futuro deste país?

Porque a nação que não valoriza aqueles que precisam, nunca será uma nação feliz, e esse pessoal precisa de uma oportunidade especial. Todos os portadores de deficiências físicas, de modo geral, podem ser úteis. Um paraplégico ou tetraplégico pode ser útil sim, tem atividades que ele pode desenvolver. O cego também.

Professora Dorina, enfrentei muitos preconceitos, não maldosos, mas preconceitos culturais quando me candidatei a vereador, pela primeira vez, em Ribeirão Preto. Minha esposa queria desistir. E realmente, a dificuldade era imensa . Mas, eu acreditava numa força divina que todos possuímos. Enfrentei. A primeira batalha foi dura, mas vencemos. Depois, na segunda eleição, uma boa parte da população começou a entender que o cego pode trabalhar e pode ser útil, e a minha votação foi expressiva.

E hoje, no terceiro mandato de Deputado, professora Dorina, eu consigo, através dessa singela participação, mostrar que a senhora tem razão, que você tem razão, Dorina Dowill, quando acredita no portador de deficiência, e o portador de deficiência, tendo oportunidade, ele vai realizar coisas maravilhosas sim. Você tem razão, Dorina. O seu grupo tem razão em desenvolver essa luta.

Encerrando, eu quero, gente, do fundo do meu coração agradecer a professora Dorina Nowill, agradecer o Lancellotti, o Neiva, e em seus nomes agradecer a todo esse pessoal que anonimamente participa dessa luta fantástica. Anonimamente para o povo, mas, lá em cima o Criador acompanha todo esse trabalho. Acreditem nisso. Acompanha sim. E esse reconhecimento maior é o mais importante. É o mais importante. Muito obrigado em nome do povo de São Paulo, Dorina Nowill. Muito obrigado ao seu grupo por tudo de bom que fazem em favor desse segmento, que tanto precisa. Você e seu grupo mostram que nem tudo está perdido, que é possível, um dia, mudarmos a realidade deste país chamado Brasil. Muito obrigado. ( Palmas.)

 

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- Assume a Presidência o Sr. Rafael Silva.

 

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O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PSB - Antes de encerrar esta sessão, agradeço a minha esposa, Maria Clara, que me acompanha ao longo desta vida não de trevas, mas de luz, porque a perda da visão me deu uma luz interior muito grande.

Professora Dorina, esta Casa sente-se honrada em homenageá-la, homenageando também este grupo fantástico que a acompanha.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência vai encerrá-la.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 11 horas e 17 minutos.

 

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