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09 DE MARÇO DE 2001

3ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM A D. CLÁUDIO HUMMES

 

Presidência: VANDERLEI MACRIS e JOSÉ CARLOS STANGARLINI

Secretário: JOSÉ CARLOS STANGARLINI

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 09/03/2001 - Sessão 3ª S. Solene  Publ. DOE:

Presidente: VANDERLEI MACRIS/JOSÉ CARLOS STANGARLINI

 

HOMENAGEM A D. CLÁUDIO HUMMES

001 - Presidente VANDERLEI MACRIS

Abre a sessão. Nomeias as autoridades. Anuncia que a sessão foi convocada pela Presidência da Casa, atendendo à solicitação do Deputado José Carlos Stangarlini, com a finalidade de homenagear d. Cláudio Hummes, arcebispo metropolitano de São Paulo, por sua nomeação como cardeal da Igreja Católica Apostólica Romana. Pede um minuto de silêncio em homenagem à memória do Governador Mário Covas. Saúda a d.Cláudio, ressaltando sua ação à frente da Diocese de Santo André e como conselheiro do Fórum São Paulo Século XXI.

 

002 - JOSÉ CARLOS STANGARLINI

Assume a Presidência.

 

003 - REINALDO BESERRA DOS REIS

Homenageia d. Cláudio Hummes, em nome dos leigos católicos.

 

004 - FERNANDO ANTONIO FIGUEIREDO

Como bispo diocesano de Santo Amaro e Presidente da CNBB Sul 1, homenageia a d. Cláudio Hummes, em nome do clero.

 

005 - JOÃO CARLOS DE SOUZA MEIRELLES

Secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, representando no ato o Governador do Estado Geraldo Alckmin Filho, saúda d. Cláudio Hummes

 

006 - Presidente JOSÉ CARLOS STANGARLINI

Saúda e cumprimenta d. Cláudio Hummes por sua ascensão ao cardinalato. Entrega-lhe uma lembrança pelo apreço e amizade que lhe dedica.

 

007 - D. CLÁUDIO HUMMES

Saúda as autoridades e, em especial ao Presidente José Carlos Stangarlini, a quem agradece a iniciativa da homenagem. Disserta sobre a instituição do cardinalato na Igreja. Refere-se à participação no Fórum São Paulo Século XXI.

 

008 - Presidente JOSÉ CARLOS STANGARLINI

Agradece a todos que contribuíram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE – VANDERLEI MACRIS – PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado José Carlos Stangarlini para, como  2º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO – JOSÉ CARLOS STANGARLINI – PSDB Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

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O SR. PRESIDENTE – VANDERLEI MACRIS – PSDB – Exmo. Sr. João Carlos de Souza Meirelles, Secretário de Estado da Agricultura, neste ato representando o Exmo. Sr. Geraldo Alckmin Filho, Governador do Estado de São Paulo; Eminente Rev.mo. Dom Cláudio Hummes, Cardeal Arcebispo de São Paulo; Exmo. Rev.mo. Dom Fernando Antônio Figueiredo, Bispo Diocesano de Santo Amaro e Presidente da CNBB-Sul I; Sr. Reinaldo Beserra dos Reis, Presidente Nacional da Renovação Carismática; Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada por este Presidente atendendo à solicitação do nobre Deputado José Carlos Stangarlini, com a finalidade de homenagear Dom Cláudio Hummes, arcebispo metropolitano de São Paulo, por sua nomeação como cardeal da Igreja Católica Apostólica Romana.

Tem sido praxe nesta Casa em todas as solenidades de homenagem a presença da Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Em função do luto oficial de oito dias pelo passamento do Governador Mário Covas, esta Presidência neste momento pede um minuto de silêncio em homenagem à sua memória.

 

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É feito um minuto de silêncio.

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O SR. PRESIDENTE – VANDERLEI MACRIS – PSDB – É motivo de grande honra para o Parlamento Paulista – e de uma particular satisfação para este seu Presidente – receber nosso Cardeal Dom Cláudio Hummes, nesta sessão solene em sua homenagem.

Desde sua ordenação como padre em 1958, passando por sua atuação como Bispo de Santo André (de 1975 a 1996), seguida da promoção a Arcebispo de Fortaleza, em 1996, e de São Paulo, em 1998, atingindo agora a dignidade de Cardeal, Dom Cláudio foi um defensor intransigente dos valores mais essenciais do ser humano.

A vida de Dom Cláudio é uma lição de como se pode conciliar, em perfeita harmonia, o culto aos valores espirituais e a atenção para com a realização concreta da justiça entre os homens.

Falando em um Parlamento, não poderia deixar de ressaltar uma fase da vida de Dom Cláudio especialmente marcante na memória de todos os defensores da democracia e do Estado de Direito.

Durante o longo período em que foi bispo de Santo André, honrando o exemplo do apóstolo, com coragem e firmeza recusou-se a aceitar a opressão imposta ao povo e a supressão das liberdades. Atuou na linha de frente em defesa dos trabalhadores, em defesa do povo, em defesa, enfim, da própria Pátria.

A preocupação de Dom Cláudio com a justiça social – decorrência clara da doutrina cristã – é evidente em sua conduta diária e em suas manifestações. Permitam-me citar, por exemplo, trecho de sua homilia na Catedral, do dia 4 de maio de 2000, referindo-se ao dia do trabalho e aos direitos dos trabalhadores: “O neoliberalismo, acoplado à globalização, reinventou a pobreza, até mesmo em países em que ela parecia erradicada. O desemprego tornou-se o maior problema mundial. Tanto mais grave, porque o trabalho não é só direito do homem, mas também necessidade vital.”

A tolerância e o respeito às diferenças, valores fundamentais tanto para a democracia, como para a doutrina católica, são também exemplos de temas sempre presentes nas lições de Dom Cláudio. Em suas próprias palavras: “porque o mundo hoje está muito globalizado e interativo, se quisermos alcançar uma convivência pacífica entre os povos, será necessário o diálogo entre as culturas. A diversidade não é necessariamente inimiga da unidade. Ao contrário, ela pode enriquecer a unidade com a diversidade de seus conteúdos.”

Como Presidente desta Casa há dois anos, concluindo agora minha gestão à frente do Parlamento de São Paulo, posso afirmar que Dom Cláudio foi um parceiro fundamental, fazendo-se presente em diversos momentos, reforçando as relações institucionais entre este Parlamento e a Cúria Metropolitana.

Particularmente, gostaria de lembrar que Dom Cláudio foi um conselheiro sempre atuante do Fórum São Paulo Século XXI – este que podemos considerar nosso mais importante projeto dos últimos tempos, unindo Parlamento e sociedade para juntos construirmos um plano estratégico de desenvolvimento de nosso Estado, centrado no princípio fundamental de respeito ao ser humano.

Por esses e por tantos outros motivos, faz-se necessária esta homenagem tão justa a este homem que acaba de receber o cardinalato. Dom Cláudio, tenha de todos os parlamentares de São Paulo, das 14 agremiações político-partidárias que compõem esta Casa, o nosso respeito e a nossa admiração, pois é o exemplo de homem que tem sabido construir a paz social no nosso Estado. Portanto, a Assembléia Legislativa, como a casa da democracia do Estado de São Paulo, presta suas homenagens a este grande homem, verdadeiro líder do nosso povo. (Palmas.)

A Presidência quer comunicar a presença do Secretário de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo Mendes Thame e convida S. Exa. para integrar a Mesa.

Neste momento passo a Presidência dos nossos trabalhos ao nobre Deputado José Carlos Stangarlini, autor da proposta de homenagem a dom Cláudio Hummes.

 

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Assume a Presidência o Sr. José Carlos Stangarlini.

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O SR. PRESIDENTE – JOSÉ CARLOS STANGARLINI – PSDB – A Presidência convido o Sr. Secretário da Justiça, Dr. Édson Vismona, também para compor a Mesa. Exmo. Sr. Presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Deputado Vanderlei Macris; Exmo. Sr. João Carlos de Souza Meirelles, Secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento; Exmo. Dr. Antonio Carlos Mendes Thame, Secretário de Estado de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras; Eminentíssimo Reverendíssimo Dom Cláudio Hummes, Cardeal Arcebispo de São Paulo; Eminentíssimo Reverendíssimo Dom Fernando Antônio Figueiredo, Bispo Diocesano de Santo Amaro e Presidente da CNBB Regional Sul-1; Sr. Reinaldo Beserra dos Reis, Presidente Nacional da Renovação Carismática e Católica do Brasil, esta Presidência concede a palavra ao Sr. Reinaldo Beserra dos Reis, Presidente Nacional da Renovação Carismática e Católica do Brasil, que fará uso da palavra em nome dos leigos católicos.

 

O SR. REINALDO BESERRA DOS REIS – Eminentíssimo Reverendíssimo Dom Cláudio Hummes, Srs. Deputados, autoridades civis e eclesiásticas presentes e amigos, há uma promessa de Deus de nos conceder pastores segundo o seu coração. Tenho absoluta certeza de estar traduzindo o sentimento de todas as comunidades dos novos movimentos eclesiais, formas de ser igreja hoje, de estarmos diante da realização dessa promessa ao sermos contemplados com a benção de termos ao nosso lado a figura de dom Cláudio, agora agraciado com a honra, o cargo e a tarefa no pastoreio em nível do cardinalato. Nós, leigos da Igreja Católica, assim como as comunidades de Fortaleza, testemunhamos essa alegria de contar com esse apoio significativo diante da igreja na pessoa de dom Cláudio. Realmente temos experimentado um incentivo, uma acolhida a nos orientar na pessoa de dom Cláudio. Temos sentido a presença do seu cajado a nos conduzir e muitas vezes afugentar aqueles que trabalham contra essa realidade das novas comunidades e dos novos movimentos. Por tantas vezes e em tantas manifestações e eventos dom Cláudio, com muita clareza, manifestou-se solidário e incentivador dessa nova maneira de ser igreja que as novas comunidades em movimentos eclesiais encarnam.

Hoje a presença de muito louvor e de muita alegria ao Senhor nosso Deus está em nossos corações, pedindo que confirme continuamente esse pastoreio, esse ministério e que agora derrame sobre a pessoa de dom Cláudio uma unção nova e condizente com o novo cargo e com o novo compromisso que assumiu diante da igreja do nosso Deus. Que Deus possa ser bendito e louvado nos nossos lares e nos nossos corações pela graça e pela honra de termos tão perto de nós esse filho distinto, amado e querido por Deus para estar à frente da igreja de uma metrópole como São Paulo. Parabéns e bem-vindo, dom Cláudio, a essa nova função! Queremos mostrar nossa total adesão e obediência ao seu pastoreio, dizendo que daremos todo apoio àquilo que nos competir e for possível. Que Deus o abençoe! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – JOSÉ CARLOS STANGARLINI – PSDB – Esta Presidência quer registrar a presença das seguintes autoridades: Sr. José Luiz Ricca, representando o Exmo. Sr. Walter Barelli, Secretário de Estado do Emprego e das Relações do Trabalho; Coronel PM, Sra. Laudinéa Pessan de Oliveira, representando o Exmo. Sr. Rui César Melo, Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo; Monsenhor Agostinho Zeceletti, Vigário Episcopal da Região de Santana; Monsenhor Walter Caldeira, Vigário Episcopal da Região Belém; Sr. Sebastião Furlan, Presidente do Conselho Arquidiocesano da Renovação Carismática Católica; Dom Aloísio Pena, Arcebispo da Arquidiocese de Bauru; Dom Joseph Mahfouz, Arcebispo Maronita do Brasil; Dom Fares Maakaroun, Arcebispo da Eparquia Greco - Melquita Católica do Brasil; Monsenhor Nectarius, representante do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla; Arcebispo Datev Karibian, Igreja Armênia; Sr. João Mabtum, Presidente Estadual do Conselho da Renovação Carismática Católica; Dom Izidoro Oliveira Preto, Bispo da Ordem de São Bento; Dom Damas Kinos Mansour, Arcebispo Metropolitano Ortodoxo; Sr. Mauro Luiz Dias, vice-Presidente Executivo da Rede Vida de Televisão; a quem agradecemos a oportunidade de estarmos sendo transmitidos diretamente; Sra. Antonia Accarino Mucciolo, Conselheira do Inbrac – Rede Vida de Televisão; Dom Gil Antônio Moreira, Bispo Auxiliar de São Paulo.

Tem a palavra o Excelentíssimo Reverendíssimo Dom Fernando Antonio Figueiredo, Bispo Diocesano de Santo Amaro e Presidente da CNBB Sul I, que falará em nome do clero.

 

DOM FERNANDO ANTONIO FIGUEIREDO - Quero cumprimentar de coração e fraternalmente a todas as autoridades presentes, aos bispos e aos nossos irmãos no sacerdócio, ao nobre Deputado José Carlos Stangarlini, que preside esta sessão, não ofuscando de maneira alguma o Presidente da Assembléia Legislativa, o nobre Deputado Vanderlei Macris. Particularmente, gostaria de cumprimentar o Eminentíssimo Dom Cláudio Hummes - quando fomos convidados para esta sessão, trouxemos para este momento solene tudo quanto Dom Cláudio representa para todos nós. O Santo Padre, o Papa, concedeu a nomeação e a investidura a dom Cláudio como cardeal, na Arquidiocese de São Paulo, assim como Dom Geraldo Majella, em Salvador. Por isso, neste momento voltamos os nossos olhares para o Papa. Que carinho e amor tem pelo Brasil, pelo nosso povo, esse papa! É um sinal de atenção e desvelo de um pastor para com o nosso País. Como brasileiros, alegramo-nos como membros dessa comunidade do Estado de São Paulo, desta cidade onde vivemos.

Conheço dom Cláudio há muitos anos; como franciscano, nos nossos estudos, eu o conheci. dom Cláudio, franciscano, bispo em Santo André, arcebispo em Fortaleza e em São Paulo, é um homem de Deus, pois sua vida está mergulhada nesse Deus, através de suas meditações, orações e do diálogo constante com o Senhor. Isso é traduzido numa mensagem de justiça, paz e fraternidade para todas as pessoas. Mas eu diria: não é por ser franciscano, por ser bispo ou arcebispo, que ele é um homem de Deus. Não. Por ser um homem de Deus é que ele é franciscano, bispo, arcebispo e agora cardeal. Isto eu creio ser muito importante para nós. E aí o reconhecimento à sua pessoa. Homem de Deus, mas homem da Igreja. O amor que ele tem para com essa igreja, a igreja de São Paulo, a igreja particular por onde passou: Santo André, Fortaleza. Pela Igreja do Senhor Jesus, presente por toda a parte. E agora com uma função nova, como cardeal, em momentos especiais, estará, no consistório, amando essa Igreja, trabalhando por ela e tudo fazendo – dando sua própria vida – pela Igreja fundada por Jesus, sobre essa rocha que é Pedro.

Homem de Deus e da Igreja, d. Cláudio gosta sempre de dizer que, como cardeal, está junto ao povo, querendo estar cada vez mais junto dele. Por isso eu diria que ser homem de Deus e da Igreja é ser homem do povo. Ele estende sua mão, a mão misericordiosa, bondosa, generosa, dadivosa da Igreja para ajudar, para estar ao lado daquele que está caído, o carente. É para ajudá-lo, sim, para apoiá-lo, e, mais ainda, para promovê-lo. Dom Cláudio, desejamos, realmente, que, como cardeal, cada vez mais esteja representando, para todos nós, esse homem de Deus, homem da Igreja e homem do povo. E a Assembléia Legislativa esteja bem segura, porque d. Cláudio será sempre essa referência, para que a dignidade do homem, a dignidade de cada um seja respeitada, defendida e promovida. Dom Cláudio, parabéns. Que Deus o abençoe!

 

O SR. PRESIDENTE – JOSÉ CARLOS STANGARLINI  – PSDB – Queremos registrar as presenças do Exmº Sr. Senador Roberto Freire; de Dom Damaschiros, Arcebispo Metropolitano da Igreja Ortodoxa Antioquina no Brasil; de Dom Fernando Legal, Bispo Diocesano, da Diocese de São Miguel Paulista.

Tem a palavra o Exmº Sr. Dr. João Carlos de Souza Meirelles, Secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, neste ato representando o Exmº Sr. Geraldo Alckmin Filho, Governador do Estado de São Paulo.

 

O SR. JOÃO CARLOS DE SOUZA MEIRELLES - Sr. Presidente desta sessão, nobre Deputado José Carlos Stangarlini; Sua Excelência, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, nobre Deputado Vanderlei Macris; Sua Eminência Reverendíssima, D. Cláudio Hummes, Cardeal Metropolitano; Srs. bispos e autoridades de religiões, que compõem conosco o cenário da fraternidade universal, na concepção ecumênica da construção de um mundo novo, que aqui nos honram com suas presenças; Sr. Senador da República; Srs. Secretários de Estado; Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, o Governador Geraldo Alckmin, impossibilitado de estar aqui, por razões que todos compreenderão, e que d. Cláudio perdoará. Sabendo que eu viria a esta sessão, pediu-me que estivesse aqui a representar o Executivo de São Paulo.

Isto, d. Cláudio, por motivo extremamente profundo; vivemos neste começo de século um instante absolutamente particular. E a iniciativa do nobre Deputado José Carlos Stangarlini, propondo esta sessão para homenagear V. Exa. Revma., permite-nos trazer aqui um pensamento do Governador Geraldo Alckmin, neste instante de luto. Num momento em que ele assume o Governo de São Paulo, não por desejo, e sim pela circunstância da perda de um dos pilares da democracia desta República, que foi o Governador Mário Covas, mas que por isto mesmo simboliza, neste instante, essa dimensão grandiosa que o homem que acredita e que tem fé confere a sua presença na vida, que é o sinal da continuidade de que Deus permite que as coisas continuem através da unção que dá a todos os homens. A sua presença como cardeal de São Paulo, Dom Cláudio, homem que vem de uma vinculação profunda com o povo, não é alguém que vem simplesmente dos trânsitos superiores, vem da extração popular, vem da casa de São Francisco, vem de uma ordem que tem o compromisso com a pobreza, portanto com o povo como um todo e isto, para nós, tem um sentido extremamente profundo. A sua presença pode representar aquele grito de paz numa terra que vive uma contradição extremamente grave, que é a situação vivida por São Paulo e o Brasil hoje, assim como uma grande parte do mundo, onde os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres estão se transformando em miseráveis. Para esta cidade, arquidiocese sua, vem gente da pobreza e da miséria do país inteiro; portanto, a sua presença pastoral, com o seu cajado de pastor a mostrar claramente os caminhos passam a ter um sentido simbólico nesta sessão. Esta, d. Cláudio, é a Casa do Povo. Aqui estão os homens que foram ungidos pelo mandato popular, pelo voto, portanto pela delegação do povo. Esta decisão de a Assembléia de homenagear V. Exa., significa a homenagem de todo o povo do Estado de São Paulo. Esta Casa da democracia representa muito neste momento. Como bem lembrou o Presidente Vanderlei Macris, através de um projeto revolucionário feito pelo parlamento, construiu-se uma nova visão para o Século XXI, criando até mesmo um índice que avalia de forma muito mais profunda a realidade e que diagnostica os problemas deste Estado, para que sobre esses problemas o Legislativo e o Executivo se debrucem para construir uma nova realidade de justiça e paz.

Quando eu vinha para cá, d. Cláudio, lembrava-me de um episódio do século passado, mas que está muito presente em todos nós, de um significado profundo de como a Igreja tem essa capacidade extraordinária de se renovar permanentemente, de se apresentar sempre com a veste da modernidade, ser capaz de sintonizar-se com o que há de mais moderno no mundo e, muitas vezes, antecipar-se a tudo o que há por aí.

Eu pensava no exemplo de um sacerdote jesuíta que foi mandado para China, para que pudesse conhecer a realidade, sobretudo construir uma doutrina de inserção social da igreja, uma nova ligação entre a igreja, os pastores e o povo de Deus. E parece-me que tem um sentido absolutamente concreto na designação da providência divina para que d. Cláudio venha a ser bispo de São Paulo na condição de cardeal, bispo na condição de representante direto de Pedro, portanto, do próprio Papa, e isto nos engrandece e nos dá imensa alegria. Se o Presidente José Carlos Stangarlini permitir, gostaria de fazer uma breve menção a uma curiosa coincidência. Hoje, tenho este privilégio de estar falando em nome do Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e lembro-me que há mais de 30 anos estava na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, quando Vereador de São Paulo, para saudar o novo arcebispo e cardeal metropolitano de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Tive o privilégio de entregar a ele um cajado, que era um báculo de madeira, singelo e simples como compete a um pastor. Portanto, a história me distinguiu com privilégios que é preciso muito esforço para que a gente não se orgulhe disso, para que se possa cultivar a humildade, traço comum entre todos nós. E é com esse símbolo da humildade, em nome do Governador Geraldo Alckmin, que já declinou, de forma explícita, na missa em que o recebemos na atual Catedral, respondendo, “pro tempore” na Catedral de São Paulo, na Igreja da Consolação, quando se manifestou pessoalmente.

Em nome do Governador Geraldo Alckmin, cardeal de São Paulo, trazemos os votos para que sua voz esteja sempre presente, para que sua voz, interpretando os símbolos da justiça dos homens e de Deus, nos ajude a conduzir este Estado. Seja bem-vindo! (Palmas.)

 

 O SR. PRESIDENTE – JOSÉ CARLOS STANGARLINI – PSDB  –Registro a presença do Sr. Ciro Gomes, ex-Governador do Estado de Ceará.

Dom Cláudio, é com grande alegria e felicidade que o povo de São Paulo, através de seu Poder Legislativo, o homenageia por sua nomeação como cardeal.

Sua Santidade, o Papa João Paulo II, reafirmou a prioridade que, no decorrer de seu pontificado, sempre atribuiu ao Brasil, nomeando-o, bem como a Dom Geraldo Majella Agnelo, como cardeais.

O reconhecimento do trabalho pastoral e de toda uma vida eclesiástica, certamente, corporificou-se no último dia 21, em Roma, na cerimônia do consistório, perante 40.000 pessoas.

O povo paulista, que o recebeu com júbilo, nas cerimônias religiosas do último domingo, na Igreja da Consolação e de Nossa Senhora de Fátima, neste ato civil reafirma a sua importância no conceito de São Paulo, pastor que é de uma das três maiores cidades do mundo.

Num mundo de desigualdades marcantes, que no nosso país, no nosso Estado e nesta cidade, a todo momento ficam evidentes, é fundamental que a igreja seja solidária, reafirme os valores do evangelho, mostre uma consciência crítica da sociedade, hoje tão materializada e consumista.

São imensos os desafios da sua atividade pastoral, mas a visão de que a mídia, principalmente a televisão e o rádio serão, cada vez mais, instrumentos de evangelização e de presença da igreja nos lares e junto às famílias, mostra um discernimento inovador e progressista que nos anima, mostrando um caminho firme para o fortalecimento da fé.

De outra face, Dom Cláudio, quando afirma que: “Precisamos dos carismáticos, das pastorais sociais para chegar mais às pessoas”, deixa patente a unidade da igreja e a grande importância dos movimentos leigos, como instrumentos do evangelho.

O arcebispo e agora cardeal Dom Cláudio contribuirá, cada vez mais, para o bem-estar do povo de nossa cidade e do nosso Estado, na busca que é de todos nós, de um país mais justo e solidário, inspirado nos valores cristãos.

Antes de encerrar, como colaborador e amigo de Dom Cláudio, quero deixar registrado este momento, entregando-lhe uma singela lembrança, que dá conta da importância deste ato e do apreço e amizade que lhe dedico.

 

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- É feita a entrega da lembrança.

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O SR. PRESIDENTE – JOSÉ CARLOS STANGARLINI – PSDB – Esta Presidência concede a palavra ao Eminentíssimo e Reverendíssimo Dom Cláudio Hummes, Cardeal Arcebispo de São Paulo.

 

DOM CLÁUDIO HUMMES – Sr. Presidente, Srs. Deputados, meus irmãos, minhas irmãs, quero saudar, muito particularmente, o Deputado Vanderlei Macris, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Secretário de Estado Dr. Meirelles, representando aqui o Governador do Estado, Geraldo Alckmin, Senador Roberto Freire, Dr. Ciro Gomes, ex-Governador do Ceará, e o faço porque estive no Ceará por dois anos e levo grandes e boas lembranças do Ceará. Obrigado, Ciro Gomes, por estar aqui e eu o vejo como representando o povo do Ceará, demais Deputados desta Casa, autoridades representadas, presentes civis, militares, com muito carinho os meus irmãos no episcopado, Dom Fernando Figueiredo, bispo de Santo Amaro, Presidente da Regional Sul 1 da CNBB do Estado de São Paulo, bispos do Estado de São Paulo, demais bispos aqui presentes da Igreja Católica, arcebispos e bispos das igrejas ortodoxas também aqui presentes, quero abraçá-los com muita fraternidade, amizade e digo que estou feliz por estarem nesta sessão de homenagem, Sr. Abade do Mosteiro São Bento, demais sacerdotes, religiosas, os que vieram da parte do povo, seja de São Paulo, seja do ABC, minha antiga Diocese de Santo André tão querida, enfim, a todos eu gostaria de saudar, e desculpe se não estou talvez sublinhando quem deveria devidamente sublinhar, mas todos se sintam saudados e abraçados por mim, senhoras e senhores. Sr. Presidente, José Carlos Stangarlini, a quem agradeço a iniciativa desta homenagem. Esta homenagem que a Assembléia Legislativa decidiu prestar-me pela nomeação ao cardinalato, quero dedicá-la à Igreja no Brasil, especialmente à Arquidiocese de São Paulo. Esta homenagem que estimula essa igreja a estar ainda mais a serviço das grandes causas do povo brasileiro e do povo paulista. Que esse serviço da igreja ao povo procure sempre sua orientação no Evangelho de Jesus Cristo, que prega a dignidade igual de todos os seres humanos. A fraternidade, a paz social, a solidariedade para com os pobres, enfim, os direitos humanos fundamentais de todos. Pela nomeação de mais dois cardeais brasileiros, João Paulo II quis reconhecer a importância da Igreja no Brasil, mas também quis estimulá-la a realizar com novo vigor a sua missão na história desse país, esta missão que eu admiro a forma como a Igreja aqui conseguiu realizá-la durante as últimas décadas de modo especial. A instituição do cardinalato na Igreja tem origens antigas e referia-se, nos primeiros séculos da igreja, aos principais agentes de pastorais da Igreja de Roma. O papa que é bispo de Roma, e por ser bispo de Roma, é sucessor de Pedro e por isso que ele é também o chefe da Igreja, então sempre o papa é bispo de Roma, ele desde o início tinha também alguns desses agentes de pastoral, sejam leigos, sejam diáconos, presbíteros, eventualmente bispos, que o ajudavam no pastoreio da Igreja de Roma, da diocese de Roma. Chamavam-se cardeais, essa palavra “cardeal” que vem de cardo, que significa o gonzo, a dobradiça da porta, sobre a qual a porta gira. Portanto, eram pessoas importantes, eram pessoas sobre as quais giravam, por assim dizer, o peso do Governo da diocese de Roma. Eram chamados cardeais. Pode-se dizer que no curso do primeiro milênio da Era cristã, o colégio de cardeais era um grupo de diáconos, presbíteros e bispos que, por diversos títulos, ajudavam o romano pontífice no Governo pastoral da diocese de Roma. A partir do século XXI, o principal encargo dos cardeais foi sendo a eleição do papa. Eles também são uma espécie de senado do papa, esse grupo de cardeais, que foi se chamando colégio cardinalício, que se constitui numa espécie de senado do papa, constituindo-se assim nos principais conselheiros e colaboradores do papa, à medida em que ele exerce esse seu ministério petrino, esse seu ministério de ser o pastor universal da Igreja. E por isso o papa pode, convoca-os muitas vezes colegialmente, que chamamos de consistório essas reuniões, para com eles tratar dos assuntos mais importantes da igreja em nível mundial, bem como entregar-lhes funções nos dicastérios romanos, ou seja, naqueles departamentos da cúria romana , que o ajudam a governar a Igreja no mundo. O atual Código de Direito Canônico diz que os cardeais da Santa Igreja Romana constituem o colégio especial, ao qual compete assegurar a eleição do romano pontífice, de acordo com o direito especial. Os cardeais também assistem ao romano pontífice agindo colegialmente quando são convocados para tratar juntos as questões de maior importância , ou individualmente nos diversos ofícios que exercem, prestando ajuda ao romano pontífice, principalmente no cuidado cotidiano pela Igreja universal. É isso o que diz o Direito Canônico atual sobre os cardeais. É bom lembrar que os cardeais são livremente escolhidos pelo papa. Ninguém tem direito a ser cardeal, nem mesmo pelo fato de ter sido nomeado para esta ou para aquela diocese. Embora algumas dioceses tradicionalmente tenham um cardeal, isso não constitui nenhum direito. A eleição e nomeação dos cardeais é um livre gesto de escolha pessoal do papa. Sendo homenageado por esta nobre Assembléia Legislativa do nosso Estado, o que muito me honra, também gostaria de retribuir a homenagem com minha admiração e respeito.  O que mais me chamou a atenção nos trabalhos desta Assembléia recentemente, além do trabalho legislativo ordinário de todos os dias, foi o Fórum São Paulo Século XXI, do qual pude participar. Esse fórum, ao longo de 18 meses de intensos trabalhos através da metodologia de uma democracia mais participativa, quis apresentar ao Estado de São Paulo uma projeção dos grandes desafios que o Século XXI nos coloca e sugerir caminhos de solução para construir uma sociedade menos desigual, mais humana, mais justa e próspera. Foi também um excepcional trabalho de interação - e, portanto, de democracia participativa - entre sociedade e Parlamento. Sei que este foi o grande objetivo do Presidente Macris: promover um trabalho mais interativo, que envolvesse a sociedade na busca de grandes soluções políticas, sociais e econômicas para o Estado. Mais de dois mil cidadãos trouxeram contribuições a este fórum e 16 grupos temáticos dividiram entre si os grandes temas, resultando numa articulada e qualificada proposta de Governo e de sociedade para o povo paulista. Nesta proposta, convém ressaltar a elaboração do índice paulista de responsabilidade social. Como avaliar o progresso econômico e sobretudo o progresso social e humano de um município? Foi proposto, então, o índice paulista de responsabilidade social, já promulgado lei pelo atual Governador do Estado Geraldo Alckmin, no exercício desse cargo ainda na condição de vice-Governador. Esse índice tem como critério para avaliação do progresso de um município e da sua qualidade de vida, elementos que se referem, em primeiro lugar, não tanto ao progresso econômico, mas antes à qualidade de vida do povo, das pessoas, elementos, portanto, que se referem à cidadania e à solução dos grandes problemas sociais muito mais que ao mero progresso econômico. Esse índice reconhece o primado do homem acima do fator econômico, tese, aliás, defendida pela doutrina social da igreja. Por isso, o Fórum São Paulo Século XXI propôs à sociedade paulista os seguintes compromissos para o seguinte século:

1.          Promover a autonomia da sociedade frente ao Estado, fortalecendo as diferentes formas associativas - esses corpos intermediários - que nela florescem;

2.          Combater todas as formas de monopólio de concentração de poder.

3.          Criar e recriar mecanismos e instrumentos adequados ao exercício da democracia participativa. Nossa democracia, por lei, é representativa, mas pode procurar também uma participação maior, rumo a uma democracia participativa onde o povo, mesmo tendo eleito seus representantes, dispõe de outras formas de participação.

4.          Lutar pela democratização do conhecimento, reconhecendo esse direito do povo de conhecer;

5.          Capacitar sua população pelo ensino e pelo acesso à informação e ao conhecimento, a fim de torná-la protagonista do próximo século e da história dos tempos que estão por vir;

6.          Incrementar a qualidade de vida da população, garantindo seus direitos à saúde, à educação, à moradia digna, a cidades saudáveis, ao meio ambiente hígido, a transportes de qualidade, de acesso ao trabalho, à renda, aos bens culturais, ao lazer e ao desporto.

Meus caros, se cito esse trabalho de excepcional qualidade desta Casa, que foi o Fórum São Paulo Século XXI, faço-o para dizer o quanto valorizo esta Assembléia e o quanto me sinto honrado pela homenagem que recebo.

Faço votos de que esta Assembléia, que representa o povo paulista, possa continuar a ser fator de avanço nas grandes questões da cidadania, da justiça social, do emprego para todos e de uma atuação mais interativa entre Governo e sociedade.

Em todas essas questões, a igreja pode e quer contribuir. Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – JOSÉ CARLOS STANGARLINI – PSDB – Antes de encerrarmos esta sessão, gostaria de dizer que seria impossível nomear todos os participantes, Dom Cláudio. Cada uma dessas pessoas tem um papel muito importante dentro da nossa igreja. Mas aqui há um grupo que não poderia deixar de mencionar, entidade tão importante dentro da Arquidiocese de São Paulo: o Arsenal da Esperança. Muito obrigado por terem vindo.

Recebemos ainda fax de nosso irmão Deputado Federal Salvador Zimbaldi, justificando sua ausência, o qual passo às mãos de Vossa Reverendíssima.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades e aqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade, convidando todos para o descerramento da fita do nosso Espaço Ecumênico, no 2° andar, na sala 2.062.

Está encerrada a presente sessão.

 

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-         Encerra-se a sessão às 11 horas e 19 minutos.

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