12 DE MARÇO DE 2007

003ª SESSÃO SOLENE DO PERÍODO ADICIONAL PARA HOMENAGEAR o ganhador do Prêmio Nobel Alternativo, Senhor Francisco Whitaker, um dos pioneiros do Fórum Social Mundial

 

Presidência: ROMEU TUMA

 


DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 12/03/2007 - Sessão 3ª S. SOLENE - PER. ADICIONAL Publ. DOE:

Presidente: ROMEU TUMA

 

HOMENAGEM AO GANHADOR DO PRÊMIO NOBEL ALTERNATIVO, SENHOR FRANCISCO WHITAKER, UM DOS PIONEIROS DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

001 - ROMEU TUMA

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que a sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido dos Deputados Renato Simões, Nivaldo Santana, Romeu Tuma, José Caldini Crespo e Vanderlei Siraque com a finalidade de homenagear o ganhador do Prêmio Nobel Alternativo, Senhor Francisco Whitaker, um dos Pioneiros do Fórum Social Mundial. Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro. Fala sobre os debates ocorridos no Fórum Social Mundial, em Nairobi, Quênia. Discorre sobre os motivos que levaram à homenagem.

 

002 - NIVALDO SANTANA

Deputado Estadual, em nome do PCdoB, elogia o trabalho de Francisco Whitaker, considerando-o um dos pilares da organização do Fórum Social Mundial.

 

003 - Presidente ROMEU TUMA

Passa ler cartas de autoridades ausentes. Anuncia apresentação musical.

 

004 - RAFAEL PINTO

Diretor cultural da Associação dos Funcionários do Grupo Santander/Banespa, faz um testemunho de sua passagem no Fórum Social Mundial no Quênia e em Porto Alegre.

 

005 - Presidente ROMEU TUMA

Comenta sua experiência na África. Lê pronunciamento do padre Ernanne Pinheiro quando da outorga do Prêmio Nobel Alternativo a Chico Whitaker. Presta homenagem a Francisco Whitaker de quem cita biografia, lembrando a origem e importância do Right Liveilhood Award Foundation. Lê o poema "Os Indiferentes " de Gramsci. Lê mensagem do Deputado Caldini Crespo.

 

006 - CARLOS SIGNORELLI

Vereador da Câmara Municipal de Campinas, presta homenagem a Francisco Whitaker, e agradece sua atuação na sociedade civil e na política, em nome do Conselho Nacional do Laicato do Brasil.

 

007 - FRANCISCO WHITAKER

Agradece a todos pelas homenagens e pela indicação ao Prêmio Nobel Alternativo. Fala do trabalho do Fórum Social Mundial, como um conselho coletivo para soluções políticas e sociais para um mundo melhor, e sobre suas perspectivas.

 

008 - Presidente ROMEU TUMA

Conduz a entrega de homenagem a Francisco Whitaker. Lamenta a ausência do Deputado Renato Simões. Fala das mudanças sociais necessárias no país. Anuncia apresentação artística. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - romeu tuma - PMDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Esta Presidência passa a nominar as autoridades presentes: Sr. Francisco Whitaker; Sra. Isalene Tiene, ex-Prefeita de Campinas; Vereador Carlos Signorelli; Sr. Rafael Pinto, Diretor Cultural da Associação dos Funcionários do Santander/Banespa; Sr. Cônsul da Índia, Sr. Rajeev Kumar; Sra. Stella Sette Whitaker Ferreira, esposa do nosso grande homenageado; Dr. Antonio Carlos Malheiros, Presidente da Comissão de Justiça e Paz, representado pela Sra. Josefina Bacariça; Sr. Jair Sanches Molina, representando o Deputado Caldini Crespo; Sra. Lucila Pizani, ex-Vereadora do Município de São Paulo; Sra. Flávia Pereira, ex-Vereadora do Município de São Paulo; Sr. Leonardo Depetuski, vice-Prefeito de Colatina, Espírito Santo, agradecemos pela presença; Sra. Sonia Novaes Moraes, Assessora Brasileira da Reforma Agrária, ABRA; Sr. Raimundo Perilat, Coordenador da Casa de Solidariedade; Sr. Luiz Antonio Amaral, Assessor da CNBB; Sr. Osmar Lopes, da Executiva Estadual do PT; Padre Roberto Fitz, da Pastoral Operária; Sra. Rosângela Rigo, Secretária Estadual de Mulheres do PT e da Executiva Nacional do PT; Sr. Ademar de Oliveira, do Movimento de Meninos e Meninas de Rua; Sra. Júlia Depetuski, vice-Presidente do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente; Sra. Cida Lima, Coordenadora da Associação de Mulheres da Zona Leste; Sr. José Teperman, da entidade judaica B’rai B’rich; Sra. Sueli Moraes, da Pastoral da Mulher Marginalizada do Centro; Sra. Carmen Cecília de Souza Amaral, da Pastoral Fé e Política; Sr. Raimundo Pires da Silva, Superintendente Estadual do INCRA e o Sr. Udine Verrardi, representando o Deputado Antonio Salim Curiati.

Senhores Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Rodrigo Garcia, atendendo solicitação dos Deputados Renato Simões, Nivaldo Santana, Caldini Crespo, Vanderlei Siraque e deste Deputado, com a finalidade de homenagear o ganhador do Prêmio Nobel Alternativo, Sr. Francisco Whitaker, um dos pioneiros do Fórum Social Mundial.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Caro Chico Whitaker - se me permite chamá-lo assim -, amigo e companheiro, senhoras e senhores, esta sessão solene é para apresentar os debates e o desafio do Fórum Social Mundial.

Estávamos no Quênia, em Nairobi, numa noite agradável - eu e os Deputados Renato Simões, Nivaldo Santana, Vanderlei Siraque, Caldini Crespo - quando falamos sobre você, discutindo os ideais do Fórum, o nascimento do Fórum. E um companheiro - o Rafael também estava lá - nos lembrou que um prêmio como esse deveria ter uma repercussão muito grande. Aliás, em países que têm raízes com o patriotismo a repercussão é grande. Infelizmente aqui não. Lembrávamos dessa homenagem que você recebeu, que muito orgulha nosso País. Discutíamos sobre a nossa viagem ao Fórum, sobre a nossa participação, se cada Deputado faria um discurso, faria a sua prestação de contas, foi quando surgiu a idéia de homenagear você, Chico, por esse prêmio numa sessão solene na Assembléia, onde todos os parlamentares que ali estavam seriam os proponentes desta justa homenagem, oportunidade em que prestaríamos conta do nosso trabalho na 7ª edição do Fórum.

Lerei aqui um pequeno resumo, informando aos senhores que o Deputado Renato Simões esteve em Brasília, hoje, numa reunião bastante cansativa e está se deslocando para São Paulo. Deverá chegar a tempo, Chico, de homenageá-lo, até por uma questão de lealdade, já que ele foi um dos grandes incentivadores dessa homenagem.

Quero aqui, quebrando o protocolo, agradecer à assessoria do Deputado Renato Simões, que colocou toda alma neste trabalho. Continuaremos esta sessão até que o Deputado Renato Simões chegue. Não seria justo que o nosso companheiro, camarada, não chegasse a ver o nosso homenageado.

Esta é a 7ª Edição do Fórum Social Mundial, que neste ano realizou-se no continente africano, em Nairóbi no Quênia.

Como era de se esperar neste fórum os problemas do continente africano estiveram muito presentes e ganharam destaque em todo os debates e em todas as oficinas realizadas no FSM. Uma realidade de um continente pobre e que vive diferentes realidades e situações de pobreza e miséria.

Por outro lado à presença de muitas pessoas de outros países permitiu, assim como nos demais fóruns - os já realizados no Brasil em Porto Alegre, Venezuela e na Índia - um debate profundo e um encontro de todos aqueles e aquelas que acreditam que é possível construir um outro mundo, onde a justiça e a igualdade, os direitos e a cidadania sejam valores e condições iguais para todos e todas.

O Fórum Social como um espaço do debate pluralista e respeitando a diversidade de engajamento e atuação das diferentes entidades e movimentos que dele decidem participar sempre é uma experiência rica e uma possibilidade de integração dos movimentos e de uma ação articulada internacionalmente.

E é neste espaço que temos a oportunidade também de conhecer e dialogar com parlamentares de outros países. Da Assembléia Legislativa de São Paulo fomos para o Fórum de Nairóbi em cinco Deputados José Caudini Crespo do PFL, Renato Simões e Vanderlei Siraque do PT, Nivaldo Santana do PCdo B e Romeu Tuma do PMDB

Juntar uma sessão solene sobre o Fórum Social Mundial com uma homenagem ao Chico Whitaker se faz necessária porque ele tem sido uma das pessoas que junto cm outros representantes de ongs e movimentos sociais têm organizado e levado a frente a organização do Fórum Social Mundial como um espaço aberto e plural para a construção de outro mundo possível.

Chico Whitaker é membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz foi também o ganhador do prêmio Right Livelihood Award - ou como é conhecido o prêmio nobel alternativo - recebido do parlamento sueco e que tem como objetivo valorizar as pessoas que lutam e se dedicam à justiça social e a democracia.

Chico Whitaker é também um dos idealizadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e integra a Comissão de Justiça e Paz e é militante de longa data dos movimentos sociais e da base da igreja católica, ex vereador de São Paulo e exilado político. Sua história representa uma importante contribuição para a democracia brasileira e sua atuação no FSMundial permite ampliar ainda mais esta luta.

Por isso, Chico, nós, naquele momento, naquela noite, estávamos tomando um lanche, depois de um dia com bastante debate, e ali nasceu a oportunidade de sonhar fazer esta homenagem mais do que justa. E o destino coincidentemente traça alguns caminhos que não esperamos e quatro dos cinco Deputados não foram reeleitos. As pessoas falam que perdemos a eleição. Não perdemos a eleição. Nossos eleitores talvez não tivessem tido tanta gana, tanta vontade como os eleitores dos demais. Isso faz parte do parlamento, faz parte da democracia e as coisas são escritas de um jeito diferente. Tivemos essa oportunidade que marca o nosso currículo. Tenho certeza de que também é a opinião do Nivaldo aqui presente, do Deputado Renato que já, já vai chegar, uma oportunidade única de presidir uma sessão em homenagem a você, uma figura ímpar, indescritível, sem adjetivos, como a última participação nossa em uma sessão solene neste Parlamento. Talvez seja um desígnio de Deus de nos dar oportunidade pela última vez de falar neste microfone, presidindo a sessão com muita honra.

Após esta explicação inicial do porquê desta homenagem, gostaria de dar a palavra ao nosso querido companheiro, Deputado Nivaldo Santana, um grande idealizador e proponente também desta sessão solene. (Palmas.)

 

O SR. NIVALDO SANTANA - PCdoB - Sr. Presidente dos nossos trabalhos, Deputado Romeu Tuma, nosso companheiro homenageado Francisco Whitaker, em primeiro lugar gostaríamos de dizer a todos vocês que estamos a 48 dias do término da presente legislatura. E com isso, premidos por uma agenda apertada, todos nós estamos participando de diversas atividades nesta reta final dos nossos mandatos. E aqui, no hall de entrada da Assembléia Legislativa, estamos fazendo uma atividade de lançamento de uma publicação em homenagem aos parlamentares negros e negras, que, durante todas as legislaturas, conseguiram ocupar uma representação nesta Casa. E somos um dos homenageados, por isso que a nossa presença aqui é compartilhando também com um evento paralelo.

Mas, como líder da Bancada do PCdoB aqui, nesta Casa, é com muita honra e satisfação que compartilhamos com os Deputados Romeu Tuma, que preside os nossos trabalhos, Renato Simões, Caldini Crespo e Vanderlei Siraque como promotores desta sessão solene, que busca homenagear um ilustre brasileiro que teve um reconhecimento internacional ao receber o chamado Prêmio Nobel alternativo.

Participamos de diversos fóruns sociais mundiais, o último realizado na África, e a realização desse fórum na África, além da multiplicidade de eventos, reuniões e atividades lá desenvolvidas, foram devido ao continente africano representar na realidade contemporânea do mundo a quinta essência da desigualdade, da exclusão social, da fome e da miséria que atingem proporções gigantescas da sua população.

Por isso, achamos importante, ao lado dessa luta que todos nós defendemos, cada um com suas bandeiras, com suas convicções e com as suas especificidades, a luta por um mundo alternativo, a valorização de eventos como esse que faz parte da nossa luta democrática, da nossa luta social para construir uma sociedade de igualdade democrática, de afirmação dos direitos dos povos e de autodeterminação das nações.

E a figura de Chico Whitaker, sem dúvida nenhuma, um dos pilares fundamentais da organização do Fórum Social Mundial ao lado de outras múltiplas atividades que ele já desenvolveu ao longo de sua vida, representa para nós também uma demonstração de que apesar das dificuldades, apesar de vivermos ainda um mundo de guerra, do império da força conseguimos ver uma luz no fundo do túnel e temos certeza de que exemplos como a dele vão se multiplicar, vão fertilizar solos de todo o mundo e de todos os povos na luta justa pela construção de um mundo de paz, de democracia, de liberdade, a construção de um mundo representado pela sua pluralidade e diversidade no Fórum Social Mundial.

Por isso que, em nome da Bancada do PCdoB, deixamos uma saudação para todos os presentes, autoridades, todos militantes das causas sociais, e um abraço afetuoso no nosso companheiro e amigo Chico Whitaker. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Agradeço ao nobre Deputado Nivaldo Santana, um grande companheiro da Assembléia com quem tive a honra de conviver nesses quatro anos no nosso dia-a-dia, na nossa viagem ao Quênia e no dia-a-dia do Corinthians também, onde V. Exa. é conselheiro como eu.

O Chico tem várias homenagens aqui. Quero ler a carta do Deputado Vanderlei Siraque, que teve um compromisso de última hora e não pôde adiar, também um dos companheiros proponentes.

“São Paulo, 12 de Fevereiro de 2007.

Nobres colegas Deputados, convidados, participantes e nosso querido homenageado Francisco Whitaker, pela presente venho justificar minha ausência a tão importante Solenidade, devido ao compromisso inadiável junto ao curso de Doutorado que freqüento na PUC.

Gostaria, porém, de transmitir algumas palavras a cerca da justa homenagem a Chico Whitaker. Neste ano tive a honra de juntamente com os Deputados Renato Simões, Romeu Tuma, Nivaldo Santana e José Caldini Crespo, representar a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo no Fórum Social Mundial de Nairóbi no Quênia, e foi uma experiência enriquecedora não apenas para o exercício do nosso mandato parlamentar, mas principalmente enquanto seres humanos, que tanto lutamos pela vida e pela dignidade da pessoa humana.

Importante lembrar que, além de ser um dos criadores e organizadores do Fórum Social Mundial, Chico Whitaker é um homem que dedica a vida à luta pela justiça social, cuja notoriedade de seu trabalho rendeu-lhe o recebimento do Prêmio Nobel Alternativo.

Ademais, reitero a importância deste evento que renova e fortalece ainda mais a nossa crença e a nossa luta para a Construção de Outro Mundo, parabenizando a presença de todos e todas participantes, colocando-me a disposição para o que se fizer necessário.

Atenciosamente,

Vanderlei Siraque - Deputado Estadual”

Temos outras também aqui, Chico, mas não quero me estender até porque também quero fazer um discursinho aqui, daqui a pouco. Mas tem aqui uma homenagem a você de dom Pedro Luiz Stringhini onde justifica a dificuldade de comparecer, mas o parabeniza - e todos nós Deputados que fizemos a proposta -, e reitera na oportunidade a sua admiração pelo seu trabalho, dizendo que você continua ajudando os outros a crerem que um outro mundo é possível.

Temos também uma mensagem do Professor Gofredo da Silva Teles - Professor de Direito da USP - Faculdade São Francisco.

“Cumprimento os Deputados pela iniciativa, seja pelo debate sobre o FSM, seja pela homenagem a esse amigo de longa data e companheiro de muitas lutas: Chico Whitaker.

Gostaria muito de estar presente para abraçar e cumprimentar a todos mas, a minha juventude de mais de 90 anos hoje me impõe alguns limites. E com toda esta experiência, as vezes, é prudente sermos realistas!

Conheço o trabalho e a história pública deste grande amigo e cidadão brasileiro.

A você amigo Chico, muito obrigado por tudo o que já fez na construção de um mundo melhor e, tenho certeza de que muito ainda vai contribuir.

Ao cidadão brasileiro meus cumprimentos e a certeza de que seu exemplo é importante para as novas gerações e para que possamos continuar acreditando que nossas lutas não foram em vão.

Meu abraço a todos.

Gofredo da Silva Teles”

Passo a ler uma outra mensagem, de Pedro Pontual, muito carinhosa.

“Prezado Deputado Renato Simões

Impossibilitado de comparecer à sessão solene em homenagem ao companheiro Chico Whitaker, quero expressar em nome do Instituto Pólis e do Conselho de Educação de Adultos da América Latina (CEAAL) nosso reconhecimento e apreço pela trajetória de Chico Whitaker, sempre comprometida com as melhores causas da Humanidade e que por isto mesmo se expressa no Fórum Social mundial como espaço de articulação de todos aqueles que acreditam que outro mundo é possível.

Saudações carinhosas,

Pedro Pontual”

Em seguida, faço a leitura de correspondência enviada pelo Dr. Dalmo de Abreu Dallari, justificando a sua ausência.

“Caro Deputado

Estando em Paris, onde deverei permanecer até o final de março, não poderei comparecer à sessão de homenagem ao grande brasileiro e humanista que é Francisco ‘Chico’ Whitaker. Quero cumprimentá-lo, Senhor Deputado, e à Assembléia Legislativa, pela feliz iniciativa dessa homenagem, das mais justas e merecidas. Conheço Chico Whitaker há muitos anos e venho acompanhando de perto a sua carreira, tendo tido o privilegio de realizarmos juntos inúmeras atividades, em defesa e pela promoção dos Direitos Humanos.

Assim, posso dar meu testemunho de que se trata de uma das mais notáveis figuras humanas, homem lúcido, criativo, corajoso, autêntico, solidário, absolutamente desprendido capaz de por em pratica até o extremo sacrifício seu compromisso com os valores fundamentais da pessoa humana. Figura exemplar, pela ética de seu desempenho, pelo espírito de solidariedade e pela firmeza de sua luta em defesa da dignidade humana, Chico Whitaker é personagem maior da história brasileira. Sua vida é uma constante comprovação de sua crença na Justiça como o caminho único e necessário para a conquista da Paz.

Por tudo isso, cumprimentando-o, com toda a amizade, por seu brilhante desempenho na Assembléia Legislativa de São Paulo, como defensor dos Direitos Humanos, rogo-lhe, Senhor Deputado, a especial gentileza de transmitir ao ilustre homenageado os meus mais calorosos cumprimentos.

Cordialmente,

Dalmo de Abreu Dallari”

Temos também mensagem do Dr. Funari, nosso ouvidor.

“Caro companheiro Deputado Renato Simões

Impossibilitado de comparecer pessoalmente face compromisso assumido anteriormente com o Ouvidor do Rio Grande do Sul, que tomará posse em Porto Alegre no mesmo dia e hora, é a presente para cumprimentá-lo pelo tão importante evento e pedir que transmita ao companheiro Francisco Whitaker nosso caloroso abraço.

Informo ainda que a Ouvidoria será representada por nosso ouvidor Adjunto Dr. Julio César Fernandes Neves.

Atenciosamente

Funari”

Portanto, são várias homenagens, que no decorrer da sessão iremos transmitindo.

Registramos a presença do Deputado Simão Pedro, a quem agradecemos pela presença.

Teremos agora uma apresentação musical, representando o Brasil, da Companhia de Reis São Lucas, de Limeira.

A Folia de Reis conta à história da viagem dos Reis Magos à gruta de Belém. Segundo a tradição católica, os magos eram três: Belchior ou Melchior, rei da Núbia, Arábia, levou, como presente, ouro; Baltazar, senhor da Etiópia, negro africano, levou incenso; e Gaspar, rei de Tarso, o mais moço, levou a mirra. Como os magos, a folia vai, de casa em casa, adorar o Menino Deus no presépio ou lapinha. Na ocasião da visita são entoados cantos devocionais. O giro de Folia geralmente ocorre de 24 de dezembro a 6 de janeiro, sendo este último, o dia dedicado a Santos Reis. A Folia leva à frente a bandeira, o símbolo do sagrado, um ícone da natividade ou dos três Reis.

A Companhia de Reis São Lucas, da cidade de Limeira, nasceu em janeiro de 2004 com o objetivo de resgatar e cultivar a tradição do reisado. A Companhia é composta de 20 pessoas, sendo 8 mulheres e 12 homens.

Os instrumentos são: violas caipiras, violões, timba, bumbo, pandeiro e afuxé. O mestre é Wilson Nunes Cerqueira e o contra mestre João de Souza. A Companhia de Reis conta ainda com o Bastião (palhaço) e um alferes (bandeireiro), responsável pela bandeira.

 

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- É feita apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Vamos dar uma explicação de como começou esta Sessão Solene em homenagem ao Chico.

Com muita sensibilidade a assessoria do Deputado Renato Simões, a quem quero novamente agradecer e cumprimentar, pensou em representar com pequenos eventos culturais aqui os locais aonde aconteceram as edições do Fórum.

Fizemos então a apresentação representando o Brasil. Infelizmente não conseguimos, por questões de data, enfim, do Consulado Venezuelano, um grupo de cultura que representasse a Venezuela, mas teremos ainda uma representação da Índia e um grupo vai representar o continente africano logo mais.

Esta Presidência passa a palavra, para dar o seu testemunho sobre o Fórum Social Mundial, ao nosso companheiro Rafael Pinto.

 

O SR. RAFAEL PINTO - Boa noite a todos. É uma honra estar aqui neste momento homenageando o Chico Whitaker, que é para mim e para vários companheiros militantes que procuram construir um país melhor, onde a igualdade é um objetivo a ser atingido e construído, um grande defensor dos Direitos Humanos. Ficamos realmente emocionados e honrados por estarmos aqui.

Sou diretor cultural da Associação dos Funcionários do Grupo Santander/Banespa, onde tivemos oportunidade de fazer lutas e lutas importantes das pilastras do neoliberalismo, que foi a privatização e, por outro lado, também, como militante do movimento negro, estar aqui neste momento é muito importante.

A minha passagem e essa presença que nós tivemos lá no Fórum Social Mundial foi um compromisso que a minha entidade tem, a Fubesp, de estar presente em todas os Fóruns Sociais Mundiais. Conseguimos, de uma certa maneira, garantir a representação da nossa entidade nesse espaço.

O Fórum Social Mundial, da maneira como ele foi construído, e pelos objetivos que ele atinge, procura efetivamente dar conta daquilo que nós chamamos de desigualdades que ocorrem no mundo afora, e principalmente quando se escolhe neste momento o continente africano com o objetivo de fazer a discussão da questão da guerra e também a questão da miséria, de como a miséria atinge o mundo. Levando-se em conta o processo histórico que se abateu sobre o continente africano, é de extrema importância.

Na minha experiência, e falo até como uma experiência pessoal, como testemunho, pisar no solo africano é um outro impacto. Pisar no solo africano, do ponto de vista de olhar como os africanos vivem, nós que vivemos aqui saímos um pouco dos estereótipos que a grande mídia passa em relação à África.

Nas caminhadas que fizemos naquelas favelas da África percebemos a questão da pobreza, mas o povo com a sua identidade bem definida, um povo digno. Se porventura podemos dizer que encontramos lá situações de extrema desigualdade, um Estado fraco no que diz respeito a dar conta de políticas sociais, no que diz respeito à educação e à saúde, nós encontramos um povo forte e guerreiro, o que nos dá muita responsabilidade.

Falo essencialmente como militante do movimento na diáspora, no sentido de pensar a questão da globalização do ponto de vista do trabalho, do ponto de vista da superação da desigualdade.

Esta é a minha experiência, que nos deu muita força. O Fórum Social Mundial, é bom dizer aqui, proporcionou-nos momentos extremamente importantes como, por exemplo, a nossa experiência em Porto Alegre. Construímos o quilombo Milton Santos e Lélia Gonzaga. Foi um espaço de troca de experiências entre nós, aqui do Brasil e da América, com os africanos, pensando as diferenças e construindo lutas de superação das desigualdades de maneira conjunta. Então, esse idealismo, essa concepção de construção estão sendo levados daqui por diante. Portanto, estamos dando um salto aqui no Brasil para combater a desigualdade, principalmente a racial, e o Fórum Social Mundial tem sido uma ferramenta de extrema valia para podermos trocar as experiências e efetivamente atingir aquilo que nós falamos e que é o lema do FSM, que ‘outro mundo é possível ser construído’, que um outro mundo melhor é possível. Muito obrigado. Muito axé! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Agradecemos ao nosso companheiro Rafael pelo seu testemunho.

Fui escalado também para fazer um testemunho. O Rafael, resumidamente, colocou as coisas mais importantes que deveriam ser colocadas, especialmente em relação ao FSM, em especial, essa nossa estada no Quênia.

Pudemos observar que, mesmo diante de tanta pobreza, de tanta diferença e injustiça social, aquele povo vive com dignidade. Recentemente, em uma palestra que fiz no PMDB, tive oportunidade de dizer que as pessoas por mais pobres que fossem, por menos vestimentas que tivessem, viviam arrumadas, bonitas, com orgulho.

Percebemos que é um povo sofrido, mas que tem uma força impressionante. Falei em tom de brincadeira que talvez não conseguíssemos viver naquelas condições no Brasil, mas sinto verdadeiramente isso. Não creio, apesar da força do brasileiro, que as pessoas conseguissem viver aqui naquelas condições subumanas de infra-estrutura urbana, sem esgoto, falta de água. Visitamos a maior favela do mundo hoje - ela superou o Soweto na África -, e o fato de pisar o solo do continente africano nos faz pensar em algumas situações importantes.

Todos os senhores sabem que sou oriundo da área de segurança pública. Sou delegado de polícia e - no próximo dia 7 de abril, completo 28 anos de carreira - falo com muita tranqüilidade, Deputado Simão Pedro, que a questão da segurança pública, da forma exacerbada que se discute, nunca vai se encaminhar, pois essa é uma questão macro, muito maior do que apenas a ramificação violência. Punir menor, baixar maioridade, é um debate louco que não vai levar a lugar algum, se não discutirmos as verdadeiras causas da violência.

Eu me senti muito ambientado no Fórum Social, meus caros Rafael, Chico, minha cara ex-prefeita e sempre prefeita, porque entendo, conheço, vivo a segurança pública há 28 e sei que por ali passam as soluções que tanto buscamos.

Nessas horas de irritação social, nesses casos que machucam a todos nós, vemos políticos com algumas propostas que, na prática, sabemos não irão resolver. É preciso atacar a causa da violência, e quem quiser discutir segurança pública - falo isso com muita tranqüilidade - tem de participar do Fórum Social Mundial, tem de ir à África, tem de pisar aquele solo, tem de ver como vive aquele povo. Isso para começar a entender que segurança pública é muito mais que apenas o aspecto violência, que para a diminuição da maioridade penal deve ser travada uma discussão muito mais séria, muito mais responsável.

Tive muita honra de participar desse Fórum, graças ao senhor, um dos idealizadores do Fórum, assim como tive muita satisfação em participar de um Fórum em Porto Alegre. Confesso que não queria me estender na minha fala, mas não poderia deixar passar este momento sem prestar algumas homenagens.

Preparei um discurso, mas gostaria de incorporar à minha fala e deixar registrada nos Anais da Assembléia Legislativa o pronunciamento do padre Ernanne Pinheiro, que foi publicado, quando o senhor recebeu o prêmio:

“Francisco Whitaker recebe prêmio Nobel alternativo

A Comissão Brasileira de Justiça e Paz sente-se feliz com a homenagem internacional prestada a Francisco Whitaker Ferreira, o nosso Chico, através do premio Nobel alternativo. Trata-se de um reconhecimento do Parlamento sueco a personalidades que prestam serviços especiais à população. O nome do prêmio é - Right LivelihoodAward - para quem orienta sua vida por critérios éticos. Um retrato da vida de Chico.

Ao longo de todas as etapas de sua vida, ele se dedica, com muito entusiasmo, a causas nobres. Embora arquiteto de profissão, de fato, muito tem se doado à educação popular, valorizando muito a metodologia participativa.

Se percorrermos sua trajetória histórica, vamos descobri-lo presente e atuante em várias das iniciativas promissoras das últimas décadas. Sempre engajado na realização do sonho de uma sociedade justa, podemos lembrar algumas das pegadas de Chico:

- Na Juventude Universitária Católica (JUC), como cristão realmente comprometido com um mundo mais burrano, buscava novos horizontes para o Brasil;

- Este compromisso se chocou com o Projeto dos Militares que assumiram o poder com a ditadura de 1964; isto o levou a exilar-se na França por vários anos. Nem por isso, Chico ficou parado. Sua estadia na Europa foi a ponte para o projeto das Jornadas Internacionais por uma Sociedade Superando as Dominações - iniciativa da CNBB nos anos 70, em intercâmbio de experiências alternativas para uma outra sociedade;

- De volta ao Brasil, empenhou-se na valorização e articulação dos movimentos sociais, sempre acreditando na democracia participativa, ou depois, como vereador, tentando novos caminhos para a democracia representativa através de uma associação nacional de vereadores;

- Chico sempre deu o melhor de si para operacionalizar ideais de mudança e transformação da sociedade;

- Sua atuação como secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz deixou marcas fortes. Vale chamar a atenção para a aprovação da lei de iniciativa popular contra a corrupção eleitoral. Através de mais um milhão de assinaturas consegue convencer a Comissão de Participação Legíslativa a apresentar um Projeto de Lei, logo aprovado como a Lei 9.840, que tanto tem contribuído para a lisura eleitoral, com mais de 400 casos de cassação;

- Sua dedicação, pedagógica e inspiradora, junto ao Fórum Social Mundial ofereceu grande contribuição para a credibilidade de que "outro mundo é possível".

Por tudo isto, Chico Whitaker se torna merecedor deste prêmio e alegra todos aqueles que trabalham com ele na Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP).

Padre Ernanne Pinheiro”

Essa, Chico, foi a fala do Padre Ernanne, no dia que você recebeu a homenagem.

Agora, passo a ler minha homenagem, muito simples, diante da grandeza que você representa para todos nós, diante do exemplo que você nos dá.

Meu caro Chico Whitaker, nesta noite a Assembléia Legíslativa do Estado de São Paulo sente-se honrada por poder homenageá-lo, pela sua trajetória de luta em prol dos direitos de cidadania e de justiça social e pelos princìpios éticos que sempre pautaram sua existência.

Nós, parlamentares - que participamos no mês de janeiro da sétima conferência anticapitalista anual do Fórum Social Mundial, que foi realizada em Nairóbi, capital do Quênia -, os nobres Deputados Renato Simões, Nivaldo Santana, José Caldini Crespo, Vanderlei Siraque e este parlamentar, queremos homenageá-lo em nome do povo de São Paulo por ter sido agraciado com o prêmio Nobel Alternativo, na categoria honorária, concedido pela Fundação Para a Maneira Correta de Viver (Right Livelihood Award Foundation).

Quero abrir um parêntesis para falar um pouco da trajetória e do currículo do nosso homenageado: Francisco Whitaker Ferreira, arquiteto, militante dos movimentos sociais e de base da Igreja Católica, ex-vereador de São Paulo pelo PT, exilado político, ex-coordenador da Comissão Brasileira Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e um dos idealizadores do Fórum Social Mundial (FSM).

O Prêmio Nobel Alternativo (Right Livelihood Award) não tem categorias - como medicina, literatura, paz etc., mas visa reconhecer a obra completa de um grupo ou pessoa que tenham se destacado em áreas como paz e resolução de conflitos, meio-ambiente, direitos humanos e civis, desenvolvimento, visão e alternativas para o futuro, saúde e reabilitação, ciência para a população, infância e educação, cultura e valores espirituais e proteção de minorias.

O prêmio lhe foi concedido "por uma vida dedicada a trabalhar pela justiça social que fortaleceu a democracia no Brasil e ajudou a dar vida ao Fórum Social Mundial, demonstrando que outro mundo é possível”.

Esses prêmios anuais, também chamados de Nobel Alternativo, foram criados em 1980, para homenagear os pioneiros da luta pela justiça, pela verdade e pela consolidação da paz na América do Norte, na América do Sul e na Ásia. Segundo o criador do prêmio, o sueco-alemão Jacob von Uexkull, ex-integrante do Parlamento Europeu, "os ganhadores demonstraram como a coragem individual, mesmo enfrentando a repressão e interesses poderosos, pode conseguir mudanças importantes”.

Outros premiados com a mesma honraria (Right Livelihood Award Foundation) foram o denunciante norte-americano da guerra do Vietnã, Daniel Ellsberg e a ativista indiana dos direitos dos dalits (casta inferior do hinduismo), Ruth Manorama. Entre os agraciados pelo prêmio em anos anteriores, estão o teólogo brasileiro Leonardo Boff, Joseph Ki-Zerbo, o principal líder socialista de Burkina Faso, a indiana Vandana Shiva, uma das mais respeitadas ambientalistas da atualidade, e os brasileiros Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O Fórum Social Mundial, do qual participamos, e do qual Vossa Excelência foi um dos criadores, é um espaço de debate democrático de idéias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.

Na verdade é algo semelhante a uma grande feira mundial de cultura, idéias, posicionamentos, enfim, é um espaço que permite em especial às minorias que reivindiquem, denunciem, proponham, debatam, permitindo assim que se manifestem e façam ouvir seus problemas e angústias livremente, cabendo aos inais atentos o eco e a ajuda na busca de soluções.

No FSM, respira-se pura Democracia.

Para finalizar, Senhores Deputados, minhas Senhoras e meus Senhores, para poder expressar melhor o meu sentimento, minha admiração, pela sua militância, meu caro Chico Whitaker, passo a ler um texto de Antonio Gramsci, intitulado "Os indiferentes", que nos serve como divisa, como parâmetro e como um alerta:

"Os indiferentes

 

Odeio os indiferentes.

Acredito que viver

significa tomar partido.

Indiferença é apatia, parasitismo, covardia.

Não é vida.

Por isso, abomino os indiferente.

Desprezo os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes,

Vivo, sou militante.

Por isso, detesto

quem não toma partido.

Odeio os indiferentes ".

Caro Chico, sras e srs., aqueles que não tem a capacidade de sê indagar não merece nosso respeito. Você merece nossa homenagem e nosso respeito. Muito obrigado, pela oportunidade de poder homenagear um brasileiro, que deixou a sua marca na nossa história contemporânea, pela sua sensibilidade social, pela sua luta e, por não ser indiferente diante de tantas mazelas.

Teremos agora uma apresentação musical, representando a Índia, da Senhora Bhávana Rhya, com a dança típica Namami Mangalasharan. Os espetáculos de Bhávana Rhya, orientados pelo espiritualista Daniel Marczyk, visam o resgate do caráter espiritual da Índia sagrada, a terra mãe, vertente espiritual de todo o Universo.

Neste momento em que nosso planeta carece de uma força espiritual verdadeira, a dança indiana revela-se como um instrumento de ressonância física, visual e auditiva do mundo sensível, capaz de imantar as pessoas que vêem e ouvem o espetáculo, com a imagem de uma beleza que transcende a matéria.

Ao final deste encontro, acreditamos que todos os espectadores terão compartilhado uma experiência espiritual genuína e única, certamente inesquecível, cuja força está em nos fazer lembrar gestos espontâneos de expressão espiritual. Gestos esquecidos por nós sob inúmeras camadas de condicionamento sócio-cultural, adquiridos nos últimos dois mil anos de história e tão bem preservados pela tradição da dança clássica indiana. Uma sugestão ao resgate de nós mesmos, mais puros, mais livres e próximos de nossa essência espiritual.

Convido a nossa querida Bhávana Rhya para apresentar a dança típica da Índia.

 

* * *

 

- É feita a apresentação musical.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Quero agradecer Bhávana Rhya pela apresentação da dança típica Namami Mangalasharan.

Quero, aqui, também expressar os sentimentos do Deputado José Caldini Crespo, que manda uma mensagem:

“Manifesto meu orgulho e minha alegria por participar do grupo de parlamentares que, em momento oportuno, teve a brilhante iniciativa de homenagear o brasileiro Francisco Whitaker, que merecidamente recebe o Prêmio Nobel Alternativo.

Sua vida, seus feitos, sua iniciativa e o resultado daquilo que são propostos são, sem sombra de dúvida, exemplo para todos nós que o vemos como um condutor e um idealizador. Parabéns e muitas felicidades!” Assina o nosso caro companheiro Deputado Caldini Crespo.

Convido, para homenagear Francisco Whitaker, dando seu testemunho, nosso querido Vereador de Campinas Carlos Signorelli.

 

O SR. CARLOS SIGNORELLI - Prezado Sr. Deputado Romeu Tuma, Presidente desta sessão, senhoras e senhores, nosso amigo Chico, vou numa outra linha, até para contar os podres do Chico, porque senão só ficamos elogiando-o e dá a impressão que o sujeito não tem nenhum defeito. Ele tem um imenso defeito. Ele, como quase todos nós - e pelo que estou olhando o público, só um sai fora da história - é um homem de igreja, e na igreja católica, ele é um leigo.

Por que estou falando isso? Porque estou aqui muito mais como presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, que é um organismo da Igreja Católica, que busca representar os leigos e leigas. Os leigos e leigas na Igreja Católica são aqueles que, por uma vocação especial, são chamados a ter uma atuação no tecido humano da sociedade. Nós, leigos e leigas, somos chamados a interferir, a partir da nossa fé, nas instâncias da sociedade civil, da sociedade política. É isso que nós somos.

O Chico esteve conosco durante grande parte da década de 90 e a Lei nº 9.840 não tinha sido aprovada. Estávamos numa assembléia do Conselho de Negros, discutindo a possibilidade, ou não, da aprovação da referida lei. Até estávamos comentando sobre a derrota dele no Congresso, para Deputado federal. Eu disse: “Que pena!” E ele disse: “Que pena coisa nenhuma! Foi aquela derrota que me fez muito mais feliz e muito mais profícuo.” É verdade. Deus e o Espírito têm caminhos que não sabemos quais são, e nos deixamos levar por eles.

Em verdade, o Chico para nós, leigos e leigas nesta igreja no Brasil, é um modelo, um símbolo, um paradigma. E é também uma espécie de sinal de que nós somos plenamente igreja. Enquanto somos isso, temos tudo a fazer - a partir da nossa fé - para transformar essa sociedade com a qual não concordamos absolutamente. E muitos de nós nos internamos nesse tipo de trabalho, para verificar se podemos construir o novo.

Quando o Chico foi para o Fórum Social Mundial estávamos vivendo num momento em que, de pensamento único, queríamos dizer: “Existe a possibilidade de um outro mundo. A possibilidade. Um outro mundo é possível.”

E também dizíamos a partir da nossa fé: “Não é possível que o mal permaneça para sempre. Não é possível que a exclusão permaneça para sempre.” Então, o Fórum Social Mundial queria dizer simplesmente isso: “É possível construir um outro mundo, não a partir daqueles que estão bem, mas daquela massa sobrante que foi excluída.”

Neste momento, Chico, creio que você vai ter que ser cobrado por outra coisa. Depois do relatório da ONU, você vai ter que trocar. Não é mais “Um outro mundo é possível”. Agora, “Um outro mundo é necessário”. Porque este já deu o que tinha o que dar. A burguesia que o construiu já entortou, não há mais nada o que fazer. Temos a necessidade de construir um outro mundo. E com certeza, você, a partir da sua fé, nós todos, a partir da nossa fé, seja qual for, vamos buscar construir um outro mundo, que é necessário construir, porque este já deu o que tinha que dar e está nos seus estertores, nos seus momentos finais. E fazemos isso sempre pela nossa fé.

Quero agradecer em nome do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, a oportunidade de mostrar um leigo neste País, um leigo nesta igreja, que é modelo e paradigma, para todos nós, leigos e leigas, e para todos nós, homens e mulheres que pela nossa fé e pelo nosso batismo permanecemos a esta igreja. Este é o momento para dizer-lhe um agradecimento especial, por este laicato que está presente em sua vida e em sua história. (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Quero aqui anunciar mais algumas presenças que nos honram: Maria de Brotas, da Associação Moradores do Itaim Paulista; Wellington Diniz, Secretário Agrário do Partido dos Trabalhadores Estadual; Adelina Martins, da Ação Cultural AfroLeste; Roberto Cruz, diretor do Ceabra; Ailton Alves, que representa o Deputado Carlos Neder; Carlos Roberto Olvgira, da coordenação da CMP - Central dos Movimentos Populares; Luciano Santos, do Movimento Pró-Reforma Política com Participação Popular.

Confesso que estou aqui torcendo para o Renato chegar. Até por uma questão de justiça, ele tinha que estar presente. Mas, enfim, vamos deixar as coisas acontecerem para ver como ficam. Então, neste sentido, queremos que você, Chico, o nosso homenageado, faça uso da palavra.

 

O SR. FRANCISCO WHITAKER - Deputado Romeu Tuma, meus caros amigos e amigas, boa noite a todos. Confesso que gostaria que o Sr. Edson tivesse contado mais podres, porque realmente me sinto aqui extremamente, digamos, lisonjeado por toda a generosidade de vocês. Acho que não mereço tanto, mas fico realmente muito agradecido por essa generosidade, a maneira como vocês me vêem. Vamos ver o que vai acontecer daqui para a frente.

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que com o Signorelli como presidente do Conselho Nacional dos Leigos, nós todos aqui que temos mais ou menos alguma relação com a igreja sabemos que os bispos, quando chegam aos 75 anos, eles se aposentam obrigatoriamente. Quer dizer, o Papa tem que aceitar a aposentadoria, mas eles têm que apresentar o pedido de, e se transformam em bispos eméritos. Já não ficam mais cumprindo funções, ficam fazendo o que querem, mas digamos já estão livres das funções obrigatórias. Eu estava dizendo para o Signorelli que como presidente do Conselho Nacional dos Leigos, ele deveria criar agora a categoria de leigo emérito. É preciso criar, para podermos dar uma descansada também. Chegando aos 75, não pendurar a chuteira, não, mas dar uma descansadinha e seguir para a frente.

No caso concreto, acho que todos esses elogios que me fizeram, e pensando nas coisas que vocês citaram, me levam a acreditar que realmente nada do que fazemos depende de nós somente. Nada. Nascemos e já começamos a depender de cara do leite que nos dão, do cuidado conosco. E se não tivermos aquele cuidado, não sobreviveremos. E ao fazer as coisas, nada do que fazemos tem possibilidade de frutificar, se não fizermos com os outros.

Nessas coisas em que me meti ao longo da vida, eu me sinto realmente extremamente ligado a um cuidado enorme de pessoas que vão, digamos, se conectando nas coisas às quais estou conectado. Eu vou cumprindo as tarefas que me vão me cabendo, mas é desse trabalho conjunto que nascem os resultados.

O Fórum Social Mundial, por exemplo, foi uma idéia genial de um outro brasileiro, o Alberto, que merece também enormes homenagens pela idéia que teve, a maneira como conduziu a idéia e passou para os outros, que compraram a idéia junto com ele e tocamos a coisa todos juntos.

Eu diria, por exemplo, que uma das coisas que mais me tocou o coração em relação a esse prêmio que recebi, foi o fato de eu ter sido indicado para ele por participantes indianos do Fórum Social. Quer dizer, não foram companheiros brasileiros essas lutas, mas da Índia, do outro lado do mundo. Vemos que essa tarefa, por exemplo, do Fórum, é mundial. Há gente no mundo todo dizendo e tentando provar que um outro mundo é possível e construído nas condições para que ele seja realmente possível.

Começamos a dizer até que já não se trata mais de que é somente possível. Trata-se também de dizer que ele é absolutamente necessário. E mais ainda, se tornou cada vez mais urgente. Tudo que está acontecendo no mundo nos dá consciência da urgência absoluta de fazer o que temos de fazer.

Na verdade, não há dúvida de que o Fórum foi uma bela invenção. Temos de cumprimentar o conjunto de companheiros que foram elaborando essa proposta, foram formulando e descobrindo no meio dessas lutas todas, que existem em montões pelo mundo afora, e na hora em que o Fórum foi pensado pelo Oded ele disse que há tanta coisa acontecendo no mundo, para mudar o mundo, e essas pessoas que se reúnem em Davos ficam dizendo que não existe, que a única saída é o mercado, que acabou, que a história terminou e não precisa pensar em modelo social nenhum outro porque já é por aí. Tudo vai se resolver pela lei da oferta e da procura. E ele dizia “Não, é do mundo inteiro! Tem gente mexendo, trabalhando, fazendo.” É muito impressionante que no meio de todas essas lutas ajudas surgiu essa idéia de criar um instrumento que não é manifestação de rua, que não é a ação dentro de partidos, que não é ação dentro de governos, mas uma ação de criar um espaço aberto, plural, respeitador fundamentalmente da diversidade, onde possamos nos encontrar, nos conhecer, superar preconceitos, descobrir que temos muitas convergências, identificar ações e tocar a bola para frente.

Isto é, é possível um outro mundo. E quando o Oded teve a idéia ele falou: “Nós precisamos mostrar isso!” Por isso que, em vez de ficar só existindo e tomando conta da mídia num único fórum chamado Fórum Econômico Mundial, centrado no dinheiro, vamos criar um Fórum Social Mundial centrado nos seres humanos. Essa foi a idéia, as pessoas virem dizer umas para as outras, e fazerem mais a partir das convergências que vão encontrando.

Essa idéia foi então muito importante. Penso que é um trabalho realmente coletivo. E aí vem o problema. As primeiras coisas que terei de fazer é explicar um pouco o que é esse bendito Prêmio Nobel. Ninguém sabe direito o que é. Aliás, o nosso companheiro da imprensa que veio me entrevistar me falou: “Explica o que é isso. O pessoal precisa saber o que é isso!” Objetivamente - o Romeu já explicou tudo - a explicação foi dada e não preciso mais explicar. Mas é uma história interessante.

Vincula-se muito com o Fórum, no fundo, porque o criador do prêmio, que foi Deputado europeu, do Partido Verde, disse aí pelas tantas, 1980, que teve acesso a uma grande fortuna que poderia dar margem ao Prêmio Nobel e foi para a Fundação Nobel dizer: “Você precisa criar um outro Prêmio Nobel além dessas disciplinares - de Biologia, Medicina, Literatura e tal -, porque o mundo já não depende só de avanços em cada um desses setores. O mundo depende inclusive de uma concepção global do processo mundial e de todos os setores inter-relacionados e interdisciplinares. Precisa criar um prêmio que seja para esse tipo de atividade.” E a Fundação Nobel não pôde criar o prêmio porque no testamento do Nobel estava especificado que não se poderia criar nenhuma outra categoria de prêmio.

Ele falou: “Bem, se é assim vamos criar uma fundação. É uma fundação interessante, e a tradução é “Por uma maneira justa de viver, prêmio por uma maneira correta de viver”, e que seja para pessoas que tenham participado do processo conjunto desse tipo, pensando conjuntamente em todos os aspectos da realidade, para ver se conseguimos fazer um mundo mais humano, mais justo, mais igualitário.

Como a Fundação Nobel não podia fazer, em 80 ele criou o prêmio. A partir daí, todos os anos eles dão esse prêmio a quatro pessoas. E eu fui indicado. Ficaram dois anos pesquisando a minha vida. Tive de me esconder muitas vezes para eles não acharem os podres, como diz o Signorelli, para ver se eu podia realmente entrar no conceito deles. Acabaram achando, mas isso é interessante. Todo o veredicto, digamos, a súmula da ementa do prêmio, vai, vai e vai, e Fórum Social Mundial. Por quê? Por causa da minha participação nesse processo. Eles mesmos dizem que os Prêmios Nobel anteriores são do século passado. E esse Nobel alternativo é prêmio para o Século 21. É uma outra etapa da humanidade em que ela consegue entender que os problemas ecológicos, sociológicos, de saúde, de conhecimento, tudo isso está muito entrelaçado e é desse conjunto que vai nascer uma nova humanidade.

É muito interessante porque se vinculam muito. Eles, no fundo, deram-me o recado com isso. Eles não disseram “O senhor vai sair por aí falando de si mesmo.” Obviamente, se eles consideram que é uma maneira correta de viver começam não falando de si mesmo. Mas começa já falando o que é trabalho coletivo de todos nós.

Eles deram o recado que estavam querendo dizer “Olha, vamos lhe dar uma visibilidade muito grande, muito maior do que você tinha até agora. Até agora você era um dos membros dos comitês da organização dos fóruns e tal. Você era um brasileiro perdido lá no continente sul-americano e agora você é uma pessoa conhecida no mundo todo.” É impressionante. O que estamos querendo dizer com isso é que você vai ter de começar a falar do Fórum no mundo inteiro. Por isso o prêmio convergiu. É um mundo novo, fale do Fórum.”

Imediatamente me abriram portas. É muito impressionante. A cerimônia de entrega do prêmio foi em Estocolmo, dia 8 de dezembro, no Parlamento sueco. Foi muito bonita e emocionante. Eu me emocionei muito aqui, com vocês, e com você dizendo que daqui a dois dias este será um dos últimos atos. Vocês fazem isso para mim. Isso me emocionou muito.

Ponho tudo isso no nosso coletivo, na nossa vontade de virar o mundo. Lá, então, eles fizeram uma tremenda solenidade no Parlamento, como vocês fizeram aqui, entremeada de números musicais. A cada discurso, a cada etapa tinha um número do folclore sueco fundamentalmente, música clássica e outros. Foi muito bonito e emocionante. Não sei se o Renato chegou a tempo, mas demorou bastante tempo. Foi muito bonito nessa linha.

Depois disso eles já puseram-me pelo mundo afora! Já passei pelo Parlamento europeu, em Bruxelas! Estava em sessão em Estrasburgo e me levaram para o Parlamento europeu em Estrasburgo. Para falar o quê? Sobre o Fórum. Por que? Porque esse bendito Fórum, apesar de muitos de nós ter participado diretamente, é incrivelmente desconhecido. Assim como o Prêmio Nobel alternativo não é assim tão conhecido, o Fórum também não é. Não só não é conhecido como é mal visto. O que se fala dele é muito distorcido. Não se conta o que é isso, não se explica. E se fala mal. Obviamente, o sistema é questionado. Questionam-se as raízes do sistema. Eles não podem deixar que isso prolifere demais. E a nossa idéia é fazer fóruns cada vez mais.

Um exemplo da má informação: o que vai acontecer em 2008? Fizeram do 2007 já. Por que foi feito esse fórum na África em 2007? Ir para um continente, como você disse, à África, como ocorreu conosco quando fomos a Índia, vê outra realidade de subdesenvolvimento, de situação social complicada, difícil. Para nós, brasileiros, é um susto. Levamos um tempo para acordar. A gente acorda, compara e vê coisas. Mas para eles de lá é um negócio impressionante! Na Índia, o que aconteceu com Fórum, o que ele trouxe de possibilidades de união entre forças indianas, sociais, políticas e de todo o tipo foi muito impressionante. E era um país, até então, quase que só marcado pela divisão.

Na África, o salto que se deu foi de outro tipo. Foi a união dos povos africanos. Mais do que tudo que aconteceu na África, além, evidentemente, das redes e coisas que estavam ali, tinham se articulado em fóruns anteriores e lá deram mais passos para frente, como por exemplo uma rede que se criou sobre a questão das águas; é incrível o salto que ela deu, inclusive com a entrada agora de africanos fortemente nisso.

Além disso aconteceu uma coisa muito impressionante. Havia gente de todos os países da África lá. Nunca, na história da África, havia acontecido coisa desse tipo. Estavam lá línguas diferentes, culturas diferentes e tradições coloniais diferentes, falando de problemas de todos os tipos, desde o cotidiano até de política, comércio, desenvolvimento. Todas essas coisas foram discutidas entre africanos, como aliança e adesão dos povos de outros países.

Depois houve uma reunião. O Fórum dispõe de um conselho. Ele não é um órgão diretivo, mas sim para aconselhar. Como se diz daqui para frente, cada vez, esse conselho se reuniu imediatamente após o Fórum. Começou-se a pensar o que fazer depois, em 2008 e 2009. E já saíram propostas para 2008. Mas para 2009 saíram propostas para fazer na África de novo um outro Fórum Mundial para consolidar e construir este tipo de unidade.

Penso que isso vai mais longe. Está surgindo outra idéia, e interessa a nós brasileiros agora. Está surgindo outra idéia, da possibilidade de em 2009 fazer, nada mais nada menos, na Amazônia. Não é Brasil, é Amazônia. Todo esse conjunto lá em cima, numa realidade muito complicada. E dá um pouco mais de tempo talvez para fazer um na África, outro na Índia, e assim por diante, continuando-se o processo.

No fundo, estamos numa caminhada. É o tal negócio. O que disseram os jornais? Como houve número menor de pessoas do que os 150 mil do Brasil, de Porto Alegre, ou 120 mil somando tudo; como houve 60 mil pessoas, os jornais publicam que o Fórum está esvaziando, está terminando. Pura mentira. Obviamente, cada passo é cada passo, com suas características. E como vai ser 2008? Será uma explosão de acontecimentos no mundo inteiro, na data de Davos, que é simbólica. Diz-se que a data tem uma alternativa para o pensamento único. Coisas precisam acontecer nesta data.

A proposta do Conselho Internacional do Fórum era convocar todos as pessoas ligadas de alguma maneira ao Fórum para fazer qualquer tipo de atividade. Seja um Fórum, uma manifestação de rua, uma peça de teatro, um seminário, uma entrevista de imprensa, qualquer coisa nas datas de Davos para falar o que estão fazendo e pretendem fazer dali para frente. Serão múltiplas coisas na mesma data. Vamos tentar articular tudo isso para aparecer na mídia, mas vai permitir uma inventividade muito grande. O Movimento Negro pode fazer algo no Brasil, em janeiro, na mesma época. O Conselho de Leigos pode bolar um seminário, algo que possa interesse muito. Houve uma proposta assim em Nairóbi, de começar a pensar até que ponto essa prática de plural, de respeito à diversidade, horizontalidade, de não-disputa de poder - discutem ao invés de disputar. Até que ponto essa prática entrou nas nossas organizações, fazendo com que elas começassem a se organizar de forma diferente, a não ter disputa de poder dentro delas, a começar a trabalhar construindo a união, ao invés de construir pirâmides de poder.

É essa então a reflexão. Cada organização que participa do Fórum pode fazer um seminário desse tipo. Até que ponto a participação nos fóruns nos ajudou a mudar as práticas das nossas organizações? O Fórum é também uma escola de novas práticas para construir aquilo que é fundamental para superarmos esse neoliberalismo terrível, que é a questão da nossa união. Quer dizer, o nosso drama é a nossa capacidade de nós dividirmos e enfrentar os que estão no mesmo campo; enfrentarmos uns aos outros, de enganar os inimigos e começarmos a ver, ao lado, um aliado como mais inimigo do que inimigo propriamente dito. Ou seja, brigarmos entre nós.

O Fórum nos oferece a ocasião para, durante cinco dias, viver outras realidades; ninguém está ali querendo machucar ninguém. Queremos nos entender uns com os outros para ver se podemos avançar juntos. Temos de ver também como isso está se repercutindo dentro das nossas organizações, dentro dos nossos partidos. Para quem fica em partido, como fazer para que partidos sejam mais respeitosos da sua diversidade, permitindo que cresçam e não se enfraqueçam. Se começam a brigar entre si mais do que com os outros partidos eles se arrebentam. É essa mudança que é a prática política do Século 21, e que penso que está vindo por aí.

Quero dizer que na verdade estamos numa perspectiva. Essas coisas que o Fórum traz, dizendo que não dá para pensar que o mundo vai mudar só pelas ações do governo. Sim, há também o governo, mas não basta. Precisa a sociedade inteira se organizar e tomar uma atitude.

Na ecologia não tem jeito! Só se a sociedade assumir que vai mudar seus hábitos, seu comportamento.

O Fórum também diz “Política não é só partido! Tem de haver outros tipos de expressão política!”

Já que estamos com muitas igrejas, lembro-me bem do dom Paulo Evaristo, em São Paulo, na Campanha da Fraternidade 96, que era fraternidade política, e o pessoal dizia “Que história é essa de a Igreja se meter em política?” Política de um lado, religião de outro lado e tal. Mas ele dizia: É essencial! Porque a pior forma de se fazer política, dizia, é não fazer política. Antes, é omissão diante do que é coletivo, e vai mal. É uma maneira de deixar que continue mal, de tomar um partido da conservação das coisas, como elas são, com toda justiça e com toda desigualdade.

Há milhares de lições que vão sendo tiradas disso. E vai tirando lições do Fórum, por exemplo, do nosso poder como sociedade: o poder dos consumidores. É inacreditável! Ficamos presos a esquemas mentais, trabalhador e tal. Tudo bem, tudo continua. Mas há outras coisas. Se o consumidor não consome, o sistema pára. Nós temos um poder enorme de fazer parar certas coisas do sistema enquanto consumidores! Se o consumidor não souber usar adequadamente os bens, vamos destruir a natureza! Temos muita coisa a fazer.

E há uma questão que me preocupa ultimamente. Recebi pela Internet muitas mensagens. Uma delas sobre a desigualdade no mundo. Começava a pegar aquelas coisas inacreditavelmente caras ao lado de uma pobreza inacreditável, até chegar numa coisa que acontece no Brasil que, a meu ver, é um dos piores males: o Big Brother. Este programa é destruidor. E nos ‘slides’ a pessoa que fez isso aí diz: E o pior é aquele cidadão, um bom repórter, que faz coisas boas, dizer: “Bem, agora vamos ouvir os nossos heróis”. Quem são os heróis? Esses cidadãos que ficam lá, com critérios absolutamente birutas, fazendo as coisas mais birutas, e o Brasil inteiro olhando e gastando para mandar para o paredão. É um negócio completamente louco, e nós olhando isso acontecer, destruindo a nossa cultura e a nossa capacidade de reação. Isso é uma coisa que podemos começar a mexer.

Tem muita coisa por aí para mexer, além das grandes causas mundiais como o aquecimento global etc. Tudo isso é coisa para fazer. Cá entre nós, Deputado Romeu Tuma, acho impressionante tudo isso. O Signorellli estava perguntando “Você foi da ação católica?” Eu fui, em 1950, da JUC. Naquele tempo eu era estudante e via que alguns começaram a meter minhoca na nossa cabeça, de que não dava para se omitir diante de tanta desigualdade e tanta miséria. Havia então duas correntes, que até hoje existem na nossa Igreja. Uma diz que a solução é mudarmos as pessoas. Se fizermos com que todo mundo seja bom, sério, honesto e digno, mudaremos o mundo. Isso é ingenuidade. Muda todos, mas ele está tão preso a estruturas, a lógicas e a sistemas que ele não vai mudar. O sistema vai continuar engolindo-o, tornando-o prisioneiro de práticas que ele não gostaria de fazer, mas que é obrigado para sobreviver. Então precisa mudar estruturas econômicas e políticas.

Eram essas duas correntes, no meu tempo. E a turma da minha juventude se dividiu. Uma turma foi cuidar da consciência das pessoas e a outra foi cuidar das estruturas. Essa embarcou na política, e se arrebentou. Até o golpe caiu fora e essa coisa toda. Resultado: essa noção de que uma coisa é mudar as pessoas e a outra é mudar as políticas.

O que aconteceu no Fórum? Em 2002, no segundo Fórum, já começou a aparecer explicitamente dentro do Fórum a discussão sobre a necessidade das duas coisas ao mesmo tempo. Você não muda estruturas se não mudar o comportamento das pessoas e você não muda o comportamento das pessoas se não mudar estruturas.

Você precisa pensar numa mudança dentro de si mesmo, dentro de todos, para entrar e fazer com que mudança de estruturas seja válida. E urgente, como já disse. Quantos desastres na humanidade não aconteceram na tentativa de mudar estruturas porque as pessoas mantiveram o seu jeito de ser? Ou seja, do jeito que elas eram, voltadas para dentro de si automaticamente para ganância, poder, ambição e desrespeito para com os semelhantes.

Na verdade, essas duas coisas do Fórum acabam ensinando isso. Quero terminar dizendo que assumo e agradeço essa homenagem. Assumo como uma grande oportunidade para que todos os companheiros aqui tenham conseguido conhecer um pouco mais do que significou Nairóbi. Vocês têm podido se exprimir nessa perspectiva, eu tenho podido falar um pouco mais do que significou Nairóbi. Vocês têm podido se exprimir nessa perspectiva; eu tenho podido falar um pouco mais do que é esse Fórum e devemos partir dessa para outra, continuar sem pedir para ser leigo emérito. Vamos para frente e firmes se a cabeça continuar firme, porque tem muito trabalho pela frente. Somos o começo de uma nova humanidade. Esse século XXI vai ser muito bacana. Não para mim, mas para os meus filhos e netos. Garanto que de lá de cima, vou ficar torcendo para eles aproveitarem bem tudo o que construímos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Vamos fazer, neste momento, a entrega de um Diploma, uma singela homenagem para marcar a importância desse evento, ao nosso querido Francisco Whitaker.

 

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- É feita a homenagem.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - O diploma é assinado pelo Presidente efetivo da Casa, Deputado Rodrigo Garcia, que diz o seguinte: “Deputado Rodrigo Garcia, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, outorga o presente certificado por indicação dos Deputados Estaduais José Caldini Crespo, do PFL, Nivaldo Santana, do PCdoB, Renato Simões, do PT, Romeu Tuma Júnior, do PMDB, Vanderlei Siraque, do PT, a Francisco Whitaker em reconhecimento ao seu trabalho dedicado à justiça social, ao fortalecimento da democracia brasileira e por sua contribuição e dedicação à construção do Fórum Social Mundial, reafirmando sempre nossa esperança de que outro mundo é possível.

São Paulo, 12 de março de 2007.” Assina o Presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Rodrigo Garcia, em nome do povo do nosso Estado. Uma justa homenagem. (Palmas.)

Meus queridos amigos, quero dizer a vocês que a sorte conspirou contra nós. O Deputado Renato Simões, Chico, teve um dia atribulado em Brasília, pegou um avião no final da tarde, tentou chegar, mas recebo neste minuto uma anotação da competente assessoria do nobre Deputado Renato Simões, que se dedicou com muito carinho à realização desta sessão - aliás, também quero homenagear a Georgete, minha secretária - dizendo que S. Exa. na virá. Toda essa aflição, Chico, vivemos durante o dia, durante a tarde, durante o próprio evento, aguardando que o Deputado Renato Simões pudesse chegar.

Enfim, as coisas da vida são assim, mas o coração dele está aqui, espiritualmente ele está aqui, a vontade dele foi realizada: você está aqui hoje sendo homenageado. Novos tempos virão, outros caminhos iremos percorrer, outros encontros teremos e oportunamente, tenho certeza absoluta, o Deputado Renato Simões poderá homenagear você pessoalmente.

Fica aqui a nossa tristeza por não podermos contar com a presença do Deputado Renato Simões, porque a Márcia me informa neste momento que o vôo foi desviado para Guarulhos - por conta da conspiração da sorte contra nós - um problema que temos vivido nos últimos meses. O Deputado Renato Simões não vai conseguir chegar a tempo, a não ser que estiquemos esta sessão, a exemplo do que aconteceu no Parlamento sueco, o que seria judiar de todos vocês. E tenho convicção de que o Deputado Renato Simões não gostaria que isso acontecesse.

Meu amigo Chico, grande homem público, você colocou algumas coisas que demonstram a pura realidade. Como eu disse em relação à Segurança Pública, isso passa necessariamente pelo Fórum Social Mundial. As pessoas podem não entender, mas nós que somos especialistas no assunto sabemos. Quando você está dentro da coisa, vive a coisa, conhece a coisa, você tem uma visão diferente. Você consegue dar um passinho à frente. Percebemos hoje em dia o debate tão tresloucado nos jornais todo santo dia: ‘bala perdida mata...’

Gente, não tem bala perdida. É bala certeira, que errou o alvo apenas. E vemos ‘bala perdida mata uma menor’, ‘bala perdida mata uma criança’, ‘bala perdida deixa uma jovem paraplégica’, você minimiza o problema porque não tem identidade. Bala perdida não tem identidade. É uma bala perdida. Daqui a pouco vão dizer que a bala entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Era uma bala perdida. É importante que se dê autoria. É uma bala certeira, que muitas vezes errou o alvo. Mas, é uma bala certeira.

A questão da segurança, Chico, passa pela sociedade, ela tem de participar. Não basta só deixar na mão de governantes, na mão das autoridades. A sociedade precisa se convencer de que precisamos resgatar alguns valores sociais, resgatar algumas questões que dão essa sensação de insegurança, que causam toda essa violência e a começar pela convivência familiar. Isso é muito importante.

Tive a honra, infelizmente com a não chegada do Deputado Renato Simões, de presidir esta justa homenagem. Como o Chico colocou, a sua indicação para esse prêmio Nobel Alternativo foi feita por indianos. O Brasil reconhece pouco a sua gente. Isso é muito triste. Mas vamos lutar para mudar isso E o Parlamento de São Paulo não poderia se omitir nessa homenagem, que fica registrada nos Anais desta Casa, dada a importância do prêmio que você recebe e mais do isso: dada a sua existência. Hoje ela está consignada no Parlamento do Estado de São Paulo, que é a casa de todos nós, a casa do povo que vive neste Estado.

Para encerrar este evento, quero convidar para a sua participação em homenagem ao nosso querido Chico, o Grupo de Dança Ojuobá/Projeto Caminhos, de Hortolândia, sob a coordenação de Mãe Eliane. Uma dança afro, cultuada nas tribos, trazidas ao Brasil pelos escravos, que apesar de toda opressão, mantiveram suas culturas e religião. Desenvolvida e cultuada no Brasil com a supremacia de seus descendentes, que formou a cultura afro-brasileira Aché. Coreografia de Érica D’oyá e percussão de Rodrigo de Logum, que convidamos orgulhosamente para uma apresentação em homenagem ao nosso querido Chico Whitaker.

 

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- É feita a apresentação do número musical.

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Estou vendo a Mãe Eliana se esforçando para fotografar com o celular.

Fica aqui o compromisso da assessoria do Deputado Renato Simões. Vamos solicitar à TV Assembléia, que está filmando o evento, para enviar uma cópia desta belíssima apresentação.

Meus amigos, logo após o encerramento desta sessão, o Chico terá a oportunidade de autografar o livro “O Desafio do Fórum Social Mundial, Um Modo de Viver”, de autoria do nosso homenageado.

Quero agradecer aos nobres Deputados que comigo possibilitaram esta noite importante. Chico, muito mais, como eu disse no início, pelo seu currículo do que pelo nosso, porque ser homenageado é importante, é verdade, mas é uma coisa talvez menor do que a oportunidade de homenagear uma pessoa como você. A sua presença é uma homenagem para o Parlamento de São Paulo, e, por conseqüência, para a população do nosso Estado.

Quero desejar a você os votos de muito sucesso, que continue nessa luta. Não dá ainda para reivindicar a aposentadoria nesse momento - você não tem esse tipo de direito -, porque sabemos que quanto mais as pessoas se dedicam, mais são importantes em nosso meio, e menos chances de descanso têm.

Quero agradecer aos vereadores, à nossa ex-prefeita, ao meu companheiro de noites, do Quênia, às assessorias, aos meus companheiros de gabinete, a Dani, Fabi, Georgete, à minha esposa Lu, às assessoras do Deputado Renato Simões.

Estamos no final do mandato. Então, fica uma homenagem especial a todos desta Casa, à nossa querida Da. Yeda, que foi me pegar na porta, há quatro anos, para me ensinar os caminhos da Assembléia Legislativa. Desculpem a emoção, mas é algo maior do que possamos sonhar.

Existem algumas coisas na vida que são muito importantes. Guardo com muito carinho este momento muito especial. Chico, você sabe o que vou dizer. Nós vamos ler a história. Ninguém vai nos contar a história. Nós não vamos ouvir falar da história. Nós, felizmente, por um desígnio de Deus, fizemos história em algum momento dela. E isso foi nossos quatro anos neste Parlamento.

Sou grato em poder encerrar o meu mandato nesta Sessão Solene, de presidi-la em homenagem a você e de poder ter escrito um pedacinho da história do nosso Estado. Deus abençoe a todos. Parabéns, Chico! Muito obrigado!

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência, antes de encerrá-la, agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 23 horas e 15 minutos.

 

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