DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA                              006ªSS

DATA:990503

 

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL - Exmo. Sr. Deputado Blota Júnior, jornalista e radialista; Sr. Carlos Corrêa de Oliveira, Presidente da API -  Associação Paulista de Imprensa; Deputado Israel Dias Novaes, Presidente da Academia Paulista de Jornalismo; Deputado vice-Prefeito Sólon Borges dos Reis, Presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas; Dr. Fausto Eduardo Pinho Camunha, DD Secretário Municipal de Esportes, Lazer e Recreação; Sr. Tenente Coronel PM Luiz Carlos da Costa, representando o Exmo. Sr. Coronel PM Rui César Mello, Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo; Sr. jornalista Everaldo Gouveia, Presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo; Sra. Vera Martins, representando o Exmo. Sr. Marcos Arbaitman, Secretário de Estado de Esportes e Turismo; Sr. Adolfo Lemes Gilioli, vice-Presidente da API - Associação Paulista de Imprensa; Sr. Vereador Murilo Antunes Alves, jornalista e radialista; Sr. Romeu Anelli, Diretor de Promoção Social da Associação Paulista de Imprensa e ex-Presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo; Sr. Fiori Gigliotti, radialista e narrador esportivo; Sr. José Eduardo de Paiva, representando o Sr. José de Paiva Neto, Presidente da Legião da Boa Vontade; Sr. jornalista Tão Gomes Pinto, Diretor Geral da Revista Imprensa; Sr. Antônio F. Midelandi, Diretor da Associação Paulista de Imprensa - API; Exma. Sra. Antonietta Rosalina da Cunha Losso Pedroso, Juíza do Tribunal Regional do Trabalho e ex-Presidente do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas no Estado de São Paulo; Sr. José Yunes, representando o Sr. Dr. Rubens Aprobato Machado, Presidente da OAB - Seção de São Paulo; Sr. Walter Rossi, Secretário da API e Presidente da Casa do Poeta "Lampião de Gás de São Paulo".

Srs. jornalistas, Srs. comunicadores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Vanderlei Macris, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de comemorar o 66º Aniversário de Fundação da Associação Paulista de Imprensa, API.

  Convido a todos para, de pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar.

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  - É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL - Esta Presidência concede, neste momento, a palavra à nobre Deputada Edir Sales, vice-Líder do Partido  Liberal nesta Casa de Leis.

 

A SRA. EDIR SALES - PL - SEM REVISÃO DA ORADORA - Sr. Presidente, meus caros amigos, autoridades aqui presentes, caros amigos eu digo, porque também sou da imprensa escrita, também sou jornalista e graças à minha profissão que amo tanto estou aqui na Assembléia legislativa do Estado de São Paulo.

  Sempre digo: poderei um dia deixar de ser deputada, mas nunca de ser jornalista.

Saúdo o Presidente da API, Sr. Carlos Corrêa de Oliveira, nesses 66 anos de aniversário da Fundação da Associação Paulista de Imprensa

  A Associação Paulista de Imprensa, todos sabem, é um baluarte da mídia impressa, que está sempre reunindo os decanos do jornalismo, tem uma função  primordial de lutar também pela classe;  é um exemplo para todos os que estão saindo agora das escolas: a Associação Paulista de Imprensa.

  É necessário que o recém-formado se lembre do que foi e o que representa esta associação.

Parabenizo o colega e nobre Deputado Estadual, também jornalista, Afanasio Jazadji, pela brilhante idéia de reunir tanta gente importante nesta noite, que ficará  na história da Assembléia legislativa de São Paulo.

  Esta Sessão Solene de hoje é muito importante: está distinguindo os mais expressivos jornalistas  do Estado de São Paulo.

Homenageio a todos os jornalistas na pessoa do também Presidente da União de Vereadores, Sebastião Misiara, amigo de todos aqui presentes.

  Mais uma vez, quero dizer a vocês que amo esta profissão de jornalista, e que amo vocês também.

  Muito obrigada, Sr. Presidente Afanasio Jazadji.

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL - Esta Presidência concede a palavra, neste momento, ao Sr. Carlos Corrêa de Oliveira, jornalista, Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API.

 

O SR. CARLOS CORRÊA DE OLIVEIRA - Sr. Deputado Afanasio Jazadji, caros colegas companheiros nossos, jornalistas, é realmente empolgante para um jornalista profissional, já com alguns anos de luta, vir até esta tribuna para saudar os 66 anos da Associação Paulista de Imprensa. No jornalismo, faço 51 anos de atividade, de forma que se tem muita história, tem muito caminho percorrido, muita coisa a dizer e muita coisa ainda a ser vista e dita.

  Mas aqui, por esta deliberação do Deputado Afanasio Jazadji, também jornalista, estou como Presidente da Associação Paulista de Imprensa para dizer algumas palavras. Para  comemorar a passagem do seu 66º aniversário, ocorrido sábado, dia 1º de maio, por ser um dia fora do comum, sábado,  e dia 2, domingo, o Deputado tomou esta iniciativa de fazer, nesta Casa de Leis, tradicional Casa do paulista e do paulistano, uma homenagem aos 66 anos de vida da Associação Paulista de Imprensa.

  Eu me permito ler apenas um pouco da nossa história; a história é grande, é grandiosa mesmo, mas eu não poderia ocupar o tempo todo de vocês, porque somos todos companheiros, jornalistas, não haveria um outro jeito de se dizer a um jornalista, tratando-o por Senhor, Nobre Senhor, ou por Excelência. Para os jornalistas todos somos iguais, todos somos "nós".           

(Entra leitura)

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL -  Esta  Presidência registra a presença do Sr. Décio Grizzi, Presidente do Sindapesp, Sindicato dos Aposentados do Estado de São Paulo; Sr. Manuel Santos, representando o Deputado José Carlos Stangarlini; Sr. Roberto Machado Carvalho, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; Sr. Antônio Cimino, Diretor do Jornal da Zona Leste e Presidente  das Editoras de Jornais e Revistas de Bairros de São Paulo; Sr. Cláudio Bellocchi, Diretor do Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. Com muita alegria vislumbro em nossa platéia companheiros como Hélio  Grazziano, que veio de Caieiras, velho companheiro de imprensa; companheiro Carlos Alberto  Acuso; Franco Neto, a principal voz da Rádio Jovem Pan de São Paulo; Roberto Petri; fotógrafos Nelson Elias; Cícero Gucci, vindos de fora da capital; o colunista do jornal "A Tribuna", de Santos, Fernando Allende; de Jundiaí do "Jornal da Cidade" jornalista Anselmo Bronbaum; também de  Jundiaí o comunicador e jornalista Dilson  Freddo, da Rádio Cidade de Jundiaí; de São Carlos  o colega jornalista e radialista Itamar de Oliveira.

Tem a palavra o Sr. Deputado Israel Dias Novaes, Presidente da Academia Paulista dos Jornalistas. (Palmas.)

 

O SR. ISRAEL DIAS NOVAES -  Sr. Presidente e Srs. Deputados, senhores integrantes da Mesa, senhoras e senhores, acredito que a minha obsessão jornalística tenha inspirado o nosso presidente a instalar-me como orador. Aceito a incumbência certo de que poderia fazer, quem sabe se apenas uma reportagem oral e a reportagem sempre foi sobremaneiramente a minha vocação fundamental.

 Quero apenas recordar aos colegas e aos amigos que a profissão de jornalista não é sempre uma vocação e nem uma profissão; é uma fatalidade, as pessoas nascem condenadas a ser jornalistas e o pior é que cumprem esta ameaça e este castigo. Mas ao mesmo tempo é um castigo do qual não nos desligamos nunca e vou suscitar até jornalistas famosos como Carlos Lacerda.

 Carlos Lacerda era uma dupla personalidade de jornalista e político; jornalista permanentemente,  político quase que por acaso, mas acontece que pelo seu brilho pessoal, acabou ele sendo guindado à Presidência do partido e até a candidato  a uma porção de postos elevadíssimos. Ele havia fundado no Rio de Janeiro um jornal chamado "A Tribuna da Imprensa"; "Tribuna" por ele ser deputado e "da Imprensa" por ele ser jornalista. O partido dele  passou por maus bocados porque no Lacerda sempre prevaleceu a  condição de jornalista. Imaginem os senhores que ele participava de sessões noturnas secretas da UDN, absolutamente secretas e no dia seguinte, dava  o furo nos colegas, dando manchete àquele segredo do seu partido. Por isso a UDN nunca teve segredo, foi um partido aberto não por vocação  de abertura, mas por causa da inconfidência de um dos seus dirigentes maiores. A imprensa é isto.

 Quero apenas citar um exemplo fatal para os senhores: houve um instante em que deputado federal, recebia visita do diretor e eu estava em companhia deste incomparável Blota Júnior. Este diretor do "Correio Brasiliense" me procurava para uma missão jornalística. Eu disse que não podia ser jornalista naquele momento porque tinha ocupações parlamentares e ele disse: "Não, tivemos notícia que  o senhor tem um sítio em Avaré  e então resolvemos  que o senhor vai fazer a nossa página agrícola. Eu achei isto uma barbaridade; em primeiro lugar, porque não tinha sítio nenhum em Avaré, mas eu não ia desmentir um diretor  de jornal com vocação para ser meu patrão.Então eu disse: "me então a página agrícola". Ele respondeu: "o senhor vai criar a página agrícola".

Criei uma página agrícola, sem entender nada de agricultura.

Mas aprendi muito cedo que jornalista que sabe muito, na verdade, não serve como jornalista, porque a melhor definição que conheço de jornalista é isto. O jornalista é, em primeiro lugar, tido como um escritor mais ou menos frustrado, o que é a primeira bobagem. Temos alguns jornalistas que chegaram às culminâncias das letras neste País e no mundo. Cito dois: o que era Machado de Assis senão um jornalista profissional e o que era Euclides da Cunha, senão brilhantíssimo repórter?

Estes dois exemplos já contestam essa aleivosia de que jornalista é jornalista e escritor é escritor. Às vezes escritor é que quer ser jornalista e não consegue, porque o jornalista, quando quer, torna-se um grande escritor.

Faço justiça à minha profissão, ameaçada aqui e ali. Uns dizem: a tecnologia vai matar o jornalismo. Não vai matar coisa nenhuma. Também o jornalismo falado e cinematografado compete com o jornal, mas não há nada como aquela folha impressa que recebemos de manhã. Ali é que nos informamos, e não numa passagem vertiginosa de televisão.

Conheci um outro brasileiro ilustríssimo, para quem São Paulo precisa tirar o chapéu. Trata-se do historiador Afonso de Taunay. Uma vez ele me perguntou no Correio Paulistano, onde fui secretário durante vinte anos: "Afinal, qual é o seu futuro profissional? Você será juiz, promotor, diplomata?" Eu disse que não, que continuaria jornalista, porque gosto muito de jornal. Ele disse; "Então o senhor vai ser" - e aí vem a grande definição de jornal - "um ótimo técnico em generalidades".

O jornalista especializado não é jornalista, é colunista. O jornalista é amplo; ele pode não saber tudo de nada, mas sabe nada de tudo. Com isso faz carreira e é indispensável na sociedade.

Convém destacar que há dois tipos fundamentais. Há o cidadão que, para manter o seu curso superior, ingressa num jornal e fica como repórter, às vezes, durante todo o curso. Quando se forma, larga o jornal para sempre e não fica nem como leitor. Este não é jornalista, é um pensionista nosso. O outro, nem que não queira será jornalista. Recebe, então, esta marca e este castigo para o resto da vida.

Jornal, como se dizia antigamente, não dá camisa para ninguém, mas dá aquela satisfação do dever cumprido. Cumprimos o dever freqüentemente, com o abuso até da nossa própria segurança. Posso citar até uma outra autodefinição. Quando na Câmara dos Deputados, resolvi redigir um manifesto contra o governo militar. Redigi-o como jornalista e o que paguei com isto? Cassação, perseguição tenaz, mas nunca mais me separei daquele documento, que era a minha carta de alforria, que era o meu documento de libertação e a minha definição de jornalista.

Quero cumprimentar os colegas desta meritória Instituição, que sempre esteve ao lado das boas causas, através dos seus grandes presidentes, que foram todos. Quero saudá-los por saberem manter reunidos profissionais que têm vocação para se dispersar. Graças à Associação Paulista de Imprensa, nós não nos dispersamos, nós nos encontramos na sua sede.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

 O SR. PRESIDENTE  - AFANASIO  JAZADJI - PFL  -  Esta Presidência com muita satisfação registra a presença entre nós do jornalista, radialista Francisco Gotfield, criador do Mosaico na TV; começou no rádio em 1940 na então Rádio Piratininga, nos 620 KHZ, hoje Jovem Pan; depois foi para a Rádio Tupi; ficou durante 20 anos na Rádio América, dentre outras. Era o Programa Mosaico no Rádio, que ia ao ar diariamente e assim foi durante 42 anos. Em 1961 foi para a extinta TV  Excelsior, Canal 9 e de lá para cá exibe semanalmente o Programa Mosaico na TV, pela CNT Gazeta, sendo o programa mais antigo  da televisão ainda no ar, há quase 38 anos, ficando um ano na frente do comunicador Silvio Santos e constando do Guiness Book por isso. É um dos integrantes da Associação dos Pioneiros da TV e está na TV Gazeta há mais de 25 anos. Com grande prazer registramos a presença do Sr. Francisco Gotfield.

O Sr. Milton Jorge Tame, do "Jornal do Brás"  manda um recado: "Para nosso orgulho o primeiro jornal de bairro de São Paulo foi editado em 1º de setembro de 1895, nome "O Braz", jornalista  Albino Bairão, cuja família alegou ao "Jornal do Brás" e o Sr. Milton Jorge Tame está continuando nessa missão. Parabéns.

Queremos também registrar a presença entre nós do nosso querido Maurício Loureiro Gama; nosso companheiro Florestan Fernandes Júnior, da TV Manchete; Celso Zucateli, do Canal 21;  Péricles Barranqueiro Júnior, da Rádio Cidade de Jundiaí; Miguel Vacaro Neto, jornalista e radialista e do meu querido  mestre, professor de muitos anos, James Rubio.

Continuando com essa sessão solene, em homenagem aos 66 anos da API, esta Presidência concede a palavra agora ao Professor, Deputado, vice-Prefeito, Presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas, Sólon Borges dos Reis.

 

O SR. SÓLON  BORGES  DOS  REIS  - Sr. Presidente, nobre Deputado Afanasio  Jazadji , em cuja pessoa saúdo todos os que integram essa Mesa;  companheiros de imprensa do passado e do presente, senhoras e senhores, devo dizer uma palavra, acrescentar uma palavra a tudo quanto de significativo, de oportuno e de competente aqui já foi dito.

Em caráter pessoal venho como uma das pessoas que no jornalismo primeiro chegaram, dentre os aqui presentes, à Associação Paulista de Imprensa. Eu militava na imprensa diária de Campinas e tinha até o prodigioso poder de manter uma revista literária, sob o nome de "Nirvana", chegou a circular quatro anos. Só que hoje pensar numa revista não é qualquer empresa que se atreve, a lançar sim, mas a manter é difícil. E estava na Presidência, isso foi em 36, faz tempo, da Associação Campineira de Imprensa, que lá em Campinas dez anos antes já procurava congregar os jornalistas da época, eis que Campinas sempre foi uma cidade privilegiada pelo progresso, pela cultura e tinha condições para isso.

Mas foi na administração do Honório de Cirus, em 36/37, a gestão dele coincidiu com a minha lá em Campinas e nós pudemos trabalhar juntos, fizemos intercâmbio de visitas.

Era o centenário do nascimento de Carlos Gomes, porque antes de festejarmos o sesquicentenário e até o centenário da morte, já existia o centenário do nascimento. E para lá foi a delegação daqui para Ribeirão Preto, com Machado Santana, que liderava lá. Enfim, começou a convivência com a Associação de Imprensa, na qual  ingressei em 1936, como sócio nº 74, portanto, já tenho 63 anos de Associação Campineira de Imprensa. Então trago a minha palavra pessoal daqueles que nunca deixaram a API; vindo para São Paulo depois, também passei a integrar o Conselho Deliberativo.  É para mim um privilégio voltar a esta Casa e usar esta tribuna, depois de 14 de março, de 1947, quando caiu o Estado Novo e funcionava a Constituinte no Rio de Janeiro, então capital do Brasil - a primeira foi Bahia, a Velha Cap, a segunda o Rio, a bela Cap; depois Brasília a Nova Cap e São Paulo, talvez, a super Cap. Vim para esta Casa quando o Poder Legislativo em São Paulo foi reaberto. Estavam ali o Maurício, o Cruz, o Cunha Mota, o Nélson Mota e a memória nos traz com prazer -a saudade sempre dói- os companheiros daquele primeiro comitê de imprensa, do qual tive oportunidade de ser o seu Secretário. Depois voltei a esta Casa, eleito cinco vezes, cumprindo os mandatos. Primeiro no Parque D. Pedro II e depois a partir de 68, nesse prédio, que me traz grandes recordações e encontro amigos ainda no trabalho e os saúdo ao revê-los.

A API nesses seus 66 anos enseja esta oportunidade, que eu pessoalmente quero saudar e me congratular com ela por promover este encontro. Mas eu também trago a solidariedade implícita e explícita de uma instituição que passei a integrar e vim a exercer a Presidência. Aliás, cheguei à Presidência de honra, mas depois me rebaixaram para Presidente executivo, porque todo mês precisa fazer um trabalho, coisa que o Presidente de honra não precisa.. É a Ordem dos velhos jornalistas, mas se não mais no exercício ele deixa de ser um jornalista velho para ser um velho jornalista. Esse é o esforço que faz procurando, através de uma medida que eu considero fundamental, a convivência. Viver realmente é preciso, mas conviver para um ser é eminentemente social, como é para  a criatura humana , é uma necessidade fundamental, vital. E a Ordem dos velhos jornalistas traz pela minha pessoa as congratulações que cabem, de um lado à Associação Paulista de Imprensa, tendo à frente o Sr. Carlos Correia e, de outro lado,  ao Poder Legislativo na pessoa do nobre Deputado e Jornalista Afanasio Jazadji, que torna possível este momento, que considero um momento alto, porque é um momento vivido, vivido intensamente. A presença dos que aqui estão, o olhar em  cada um, vendo ali um conhecimento, um companheiro, um amigo e a invocação dos que já não estão mais aqui põe um toque de saudade, um toque de emoção, um toque de afetividade.

Como no meu entender só o afetivo é efetivo, este é realmente um encontro extraordinário. Eu, pessoalmente, agradeço muito por este momento, além do privilégio de poder senti-lo.

Parabéns a todos quantos aqui vieram para colaborar na realização de um encontro desta natureza. Porque as funções que a API tem exercido -e ainda muito mais pode exercer, está dependendo de projetos, de empreendimentos para voltar aos dias em que pesava ainda muito mais na balança, porque tinha uma atividade diferenciada. E pode ter, desde que saiba criar.  

A Constituição do Brasil reconhece nas entidades de classe, ademais dos sindicatos, cuja função é específica, o direito de em qualquer circunstância polêmica representar juridicamente a sua classe, ainda que não seja função específica, já que ela é mais ampla.

Desejo que a API cresça ainda mais do que vem crescendo. E na pessoa do seu Presidente, Carlos Correia de Oliveira, abraçando-o, abraço todos aqueles que integram a API, bem como aqueles que vieram aqui para dar a sua solidariedade, o seu estímulo e a sua presença neste clima de emoção e de fé, porque a fé também é emoção. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL - Esta Presidência quer registrar algumas mensagens enviadas pelos companheiros convidados a esta sessão solene e que não puderam comparecer pelos mais diferentes motivos. São eles: de Hélio Ribeiro, comunicador; do nobre Vereador Martinho Leonardo de Santos, que nos cumprimenta; dos jornalistas Miriam Guedes de Azevedo e Fernando Allende, de "A Tribuna", de Santos; do jornalista e publicitário Mauro Sales; do jornalista Ricardo de Carvalho e esteve conosco até há pouco o Presidente da ACEESP, Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, Mário Marinho, mas teve de se ausentar porque foi chamado com urgência para uma reunião.

Registramos também telegrama do nobre Deputado João Caramez e do Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Armando Melão Neto.

Esta Presidência concede agora a palavra ao nosso estimado, querido Jornalista, Radialista e Deputado Blota Júnior.

 

O SR. BLOTA JÚNIOR - Exmo. Sr. Presidente, nobre Deputado Afanasio Jazadji, senhores membros da Mesa Diretora, minhas senhoras, meus senhores, queridos colegas e amigos jornalistas, jamais consegui -e com certeza jamais conseguirei- assomar a esta tribuna sem que um pungente sentimento tome conta de tudo aquilo que sou, física, mental, psicológica e principalmente sentimentalmente.

Ninguém passa impunemente pela vida pública e dela se afasta sem que, quando retorna àquele mesmo plenário, aquele mesmo cenário onde teve a oportunidade de terçar armas com as mais fecundas inteligências e as grandes categorias políticas que São Paulo já pôde produzir, não sinta de novo a necessidade de penetrar fundamente no passado e agradecer a Deus as oportunidades dadas ao longo de sua vida.

A minha carteira de trabalho de jornalista tem a data de 18 de agosto de 1938, o que significa que em agosto do ano passado arredondei 60 anos de jornalismo, que nunca deixei de ser, provavelmente, desde que tenha nascido, porque no velho casarão da Rua Padre Guedes, em Ribeirão Bonito, no mesmo Cartório do 2º Ofício, onde o tabelião José Blota exercia a sua atividade, num dos setores havia um pequeno jornal semanal, "A Ordem", sob a orientação de dois irmãos descendentes de calabreses, Carmine e José Blota, meu tio e meu pai.

Sempre olho para o passado para dizer que nasci jornalista por ter publicado o primeiro artigo aos 12 anos de idade. Possivelmente inspirado pelo "Velhos Espadachins", de Michel Zevaco, o Spardaignan, escrevi toda uma história a respeito de amantes na Ponte dos Suspiros, em Veneza, sem saber o que era Veneza, a Ponte dos Suspiros, e sem sequer, lá dentro de minha infância, saber o que seriam amantes.

De qualquer forma, vindo para São Paulo para estudar Direito na pensão do Monsenhor Francisco Bastos, o único local sagrado e abençoado onde a minha velha e saudosa mãe permitia que seu filho caipira de Ribeirão Bonito pudesse morar para estudar Direito, eu busquei desde logo o meu primeiro emprego num jornal especializado, "O Esporte", que nascera exatamente naquele agosto de 1938, para tentar combater o oligopólio que "A Gazeta" exercia no setor do noticiário esportivo.

E, ali, inscrevi-me no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e desejei sempre continuar a minha carreira. É verdade que o rádio fascinava muito mais aquele jovem de 18 para 19 anos, com todos os seus ouropéis, com todos os seus brilhos, com toda aquela atração que hoje as grandes figuras da televisão exercem sobre seus telespectadores, os jovens radialistas de 1939, 1940 também exerciam sobre as garridas moçoilas da Escola Normal da Praça da República.

Então, o jornal me deu esta grande oportunidade de ingressar no rádio, mas, ao mesmo tempo que me deu oportunidade de, pela via da locução esportiva, vir a trabalhar no rádio, me afastou do ambiente de jornal, aquele ambiente tem  outro calor, outra expressão, outro simbolismo diário, porque só quem nunca participou da feitura de um jornal pode não compreender, perceber e sentir o que é ver chegar todas aquelas colaborações, aquelas contribuições da inteligência, do conhecimento técnico, da capacidade descritiva dos jornalistas que compunham a sua redação, e depois  passar pelo secretário da redação, no tempo do "Correio Paulistano", meu querido e fraterno amigo Israel Dias Novaes, e no tempo do jornal "O Esporte", na Rua Quintino Bocaiúva, possivelmente porque, grande cultor dos escritores, eu deveria entender um pouco mais de português do que os meus queridos colegas, eu próprio me fiz secretário de redação do jornal  "O Esporte, da locução esportiva para o auditório, do auditório para a televisão foram caminhos, degraus e patamares que foram cobertos, mas, lá bem no fundo, o jornalista permanecia. Tanto assim é que permanecia, que sempre procurei ter programas eminentemente jornalísticos, num rádio que não era aceito pela imprensa.

A Associação Paulista de Imprensa, que hoje comemora 66 anos, tinha o orgulho de ser o sodalício de jornalistas de jornal. E raros eram aqueles colegas do rádio, primo pobre da inteligência da comunicação brasileira, que puderam ingressar nos seus quadros, entre os quais o Murilo Antunes Alves, que já em 1944 conseguia esta grande vitória. Tanto assim, que me pesa e constrange dizer hoje, com grande mágoa e remorso, que nestes 60 anos de atividades jornalísticas, e nos 66 anos da Associação Paulista de Imprensa, já fui membro do Sindicato, fundador da Associação dos Cronistas Esportivos, um dos seus primeiros presidentes e, no entanto, não pertenço aos quadros da API, porque a palavra imprensa, exatamente pelo seu nascedouro, até pela sua etimologia, pela sua confusão natural com a prensa, com o prelo, imprensa era apenas o jornal, imprensa era apenas a revista.

É verdade que lá, de vez em quando, cronista bissexto, eu participava de criações das revistas "Carioca" e "Vamos Ver", ao mesmo tempo em que fazia a minha crônica de rádio, na velha "Folha de S.Paulo", levado pelo Hermínio Saketa, também escrevendo para o jornal "A Noite", ainda na rua 7 de Abril, das empresas incorporadas ao patrimônio da União, sempre o jornal, a revista, sempre aquela tentação de ver o nome impresso. Possivelmente seja isso que faça o jornalista.

Então, nos idos de 1946 e hoje, reivindico para mim essa primazia, essa prioridade, esse pioneirismo. Tendo sido levado aos Estados Unidos pelo serviço Cultural e Informativo dos Estados Unidos, que atraía os jovens radialistas de então, para que fizessem um curso de televisão nos Estados Unidos  - e para lá foram Manoel da Nóbrega, Aurélio Campos e muitos radialistas cariocas, a grande figura de tribuna do Emílio Carlos, que acabou depois desbordando para a BBC de Londres  - um dia, na Av. Broadway, ao ver, fui atraído por uma exposição que se chamava "Os Supérfluos de Guerra", que recentemente terminava. Ali, num vasto pavilhão, entre metralhadoras, botes infláveis, máscaras e uniformes de camuflagem, havia um aparelho que me chamou a atenção, era um gravador. O gravador nasceu exatamente pela necessidade das transmissões de ordens entre os diversos comandos aliados. E este aparelho, que se constituía de dois carretéis, com um fio magnético, gravava exatamente aquela voz que chegava ao microfone.

Escrevi a Paulo Machado de Carvalho, meu saudoso e querido amigo de tantos anos, citando que eu via nisto umas das possibilidades da agilização da reportagem do rádio, aquilo que eu fazia com os microfones presos, junto com o Murilo, e que acabou, por intermédio do seu cunhado, João Batista do Amaral, comprando o primeiro aparelho de gravação que chegou ao rádio paulista e brasileiro. Depois, o repórter Edmar Borel, no Rio de Janeiro, conseguiu a mesma coisa.

Cito isto porque a memória é fraca. Jamais vi este assunto por escrito nem registrado, mas quero fazê-lo de público, exatamente da tribuna, onde Israel  e Sólon Borges dos Reis me acompanharam, durante três mandatos, e sabem que jamais, em toda a minha atividade política, traí uma única verdade, mistifiquei um único acontecimento, inventei um único fato ou  colori qualquer acontecimento.

Ainda mais saboroso que isso, é que quem ouvia a sua voz era incapaz de reconhecê-lo, como hoje aliás, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico dos gravadores, aquele que grava pela primeira vez, desconhece a própria voz.  Por isso, o pomposo e imortal Senador César Lacerda Vergueiro, que gravou na campanha política do General Eurico Gaspar Dutra, um discurso jamais deixou que fosse reproduzido, porque não acreditou que ele tivesse falado daquela maneira e com aquela voz.

Sou jornalista desde que nasci, pressumo-me jornalista, continuarei sempre jornalista, mas honrando o rádio e  honrando a televisão, vendo, com prazer, o dia em que se pode falar de imprensa escrita, imprensa falada, imprensa televisionada. Nesse dia, o rádio e a televisão foram abrigados pelos braços generosos e acolhedores da imprensa escrita, mas passaram a rivalizar, a equilibrar-se no mesmo plano reconhecido da sua atividade pública, da sua atividade cívica, da sua atividade social. Lá naquela velha Rádio Record, durante 42 anos tive a oportunidade de militar, e a cada vez que queria me reconciliar com a idéia de que o radialista era ainda um ser marginalizado na apreciação cultural e intelectual do brasileiro, via o vulto de um dos maiores escritores paulistas  e brasileiros: Antônio de Alcântara Machado, exatamente primo de Paulo Machado de Carvalho que, durante muito tempo, não teve oportunidade sequer, de se revelar como um grande redator de rádio, mas que fazia ali o seu mister, independente de sua capacidade intelectual.

Meu querido amigo, essa figura exemplar, essa figura invejável, essa figura lapidar de jornalista, que é Maurício Loureiro Gama, na sua grande memória, um dia confidenciou, que Antoninho de Alcântara Machado, entre tudo aquilo que produziu, também permitam-me inserir uma nota pitoresca nestas palavras que já vão longe; Antônio de Alcântara Machado é o autor de um dos mais pitorescos e saborosos "slogans" publicitários que já se conseguiu: "passe jabu na careca e chame o cabeleireiro".

Grande honra também foi durante todo o tempo escolhido por Guilherme de Almeida, ler a sua crônica ao microfone, ao bater das badaladas das nove horas, do relógio do Mosteiro de São Bento.

Aqui andaríamos pela noite toda, nestas rememorações tão gratas ao coração de quem as faz, tão cansativas aos ouvidos de quem as recebe, mas não posso deixar de citar que, ao sair da carreira política, ao deixar por disposição pessoal, a atividade política para me manter sempre fiel ao rádio e à televisão,  orgulho-me de ter ao meu lado sempre, não desafetos, não adversários, mas sim, elementos que se colocaram em trincheiras contrárias, entre os quais cito esse tribuno invencível com quem longamente na velha Assembléia Legislativa do Palácio 9 de julho, tive a oportunidade de enfrentar por horas e horas, Sólon Borges dos Reis, que tive do lado de lá, e que depois tive do lado de cá, e sei portanto da sua isenção, da sua ética, do seu impecável comportamento de homem público, e posso hoje abraçá-los, como abraço os colegas jornalistas, que todos esses anos, no rádio e na televisão, tenho com eles convivido.

Não bastasse Deus me tivesse proporcionado tantas maravilhosas oportunidades de me congratular, por ter sempre permanecido jornalista, recebi a mais alta, a mais elevada, a mais subida honra em homenagem que me poderia permitir.

Existe em São Paulo uma academia paulista de jornalismo, onde 40 jornalistas selecionados, 39 deles pela força da sua cultura, da sua inteligência, do seu trabalho maravilhoso, e eu próprio que completo os 40, sem todas essas qualidades necessárias, mas devo a Israel Dias Novaes, seu fundador, seu presidente, esta alta honra que vim a merecer, porque ser membro da Academia Paulista de Jornalismo é declarar que você é, efetivamente, jornalista e, dentro da profissão que abraçou com todo ardor e com todo amor, está reconhecidamente imortal para perpetuar no tempo sua memória e seu trabalho. Imortal porque, dentro de cada um de nós, a escolha feita, a eleição da profissão feita no nascedouro, nos primeiros dias da nossa atividade, se recompensa com isso, com o galardão máximo que recebi através da Academia Paulista de Imprensa.

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL - Esta Presidência registra alguns telefonemas de ilustres companheiros que não puderam comparecer: J. G. Marques Ferreira, vice-Presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas, que está mandando um abraço a todos; o jornalista Evê Sobral, da CNT Gazeta, que não conseguiu chegar a tempo, pois seu avião decolará do Rio de Janeiro às 22 horas, também deixou um abraço a todos e ao Presidente Carlos Corrêa.

Tem aqui uma mensagem do jornalista Hélio Graziano, Diretor do Jornal Regional "News", da região noroeste da Grande São Paulo. Sugere uma maior parceria da API e jornais menores, jornais de bairros, periódicos do interior, em uma troca de informações, união e forças. Para tanto uma difusão e contatos, além de reuniões periódicas, com a participação, sempre da API.

Está feita a sugestão ao nosso Presidente da Associação Paulista de Imprensa.

Registramos, também, com muita alegria, as presenças dos companheiros, Srs. Antonio Bim Filho, jornalista da "Folha de S. Paulo", velho companheiro de guerra; Décio Chiconelo; Almir Borges; Assis Ângelo e Jaime Brener.

Muito obrigado pela presença de todos.

Dando seqüência a nossa Sessão Solene esta Presidência concede a palavra, nesse momento, ao Dr. Vereador, Jornalista e Radialista Murilo Antunes Alves.

 

O SR. MURILO ANTUNES ALVES -  Sr. Presidente dessa Sessão Solene, querido amigo, companheiro e colega Afanasio Jazadji, integrantes da Mesa, colegas, amigos, recebi o convite do Sr. Afanasio Jazadji para dizer algumas palavras.

Em um primeiro momento, assaltou-me a indecisão e ainda mais depois de ouvir os pronunciamentos dos Srs. Carlos Corrêa de Oliveira, Sólon Borges dos Reis, meu colega de turno, o prezado amigo Israel Dias Novaes e desse dileto e querido amigo, companheiro da Record de todos os anos, Sr. Blota Júnior.

Dirá o poeta que: "Já vai alta a lua na mansão celeste". Não tecerei longas considerações, mas não pude resistir ao convite porque, para mim, voltar a esta Casa é um reencontro com tempos idos e vividos. Aqui passei mais de 40 anos credenciado pela Rádio Record. Fui Presidente da Associação dos Cronistas Parlamentares. Evoco, então, companheiros que foram colegas de bancada. Entre eles os Srs. Sólon Borges dos Reis e Maurício Loureiro Gama, querido e prezado amigo da vizinha terra de Tatuí, da minha cidade natal, Itapetininga.

Ouvi atentamente as considerações que foram aqui expendidas. Essa afirmação de que ser jornalista é uma fatalidade senti na própria carne. Em Itapetininga, estava terminando o Grupo Escolar quando meu pai, correspondente do Correio Paulistano, me chamou a atenção. Resolvi fazer um jornalzinho manuscrito, há 12 anos, chamado "Juca Pato", que era figura popularizada por Belmonte. Esse jornal tinha apenas um exemplar e eu copiava notícias dos jornais, entregava para a cozinheira, Virgilina, que era analfabeta, e ela levava para as filhas lerem à noite o que eu escrevia. Logo depois ingressei no Ginásio de Itapetininga.

Aos 14 anos os colegas resolveram lançar o jornal: "O Arauto". Fui redator-chefe desse jornal durante dois anos. Comecei a escrever no Jornal "A Tribuna Popular" de minha terra natal. Minha Carteira Profissional tem anotação de l935. Vim para São Paulo.

 Vivi muito as experiências lembradas pelos colegas, inclusive meu ingresso na Associação Paulista de Imprensa. Nós, do interior, começamos logo a admirar  a API. Quando vim para São Paulo, para cursar a Faculdade de Direito, em l938, uma das minhas idéias foi ingressar na API. Exigiram uma série de documentos. Há poucos dias, fui consultar meu dossiê e notei que há o recorte de um artigo meu, de l935, publicado na "Tribuna de Itapetininga", um dos primeiros assinados por mim. Era uma crônica sobre a renúncia de Eduardo VIII, que se apaixonara por Wally Simpson. Embora decorridos mais de 60 anos, lembro-me da conclusão da crônica: "No século XX, apesar de tachar de materialista por muitos, ainda há quem dê um trono por uma mulher." Depois vem minha assinatura. Reencontrei em meu dossiê.

Depois de muita luta, ingressei na API. Trouxe até minha Carteira Profissional daquela época, da API. Está a data de meu ingresso: janeiro de l939. Sessenta anos se passaram. Quem assina a carteirinha é Guilherme de Almeida, que era o Presidente na época.

Agora vêm as curiosidades: já militava no rádio naquela época. Comecei na Rádio São Paulo em l938. No entanto, o que consta na carteirinha: "Diretor da Sucursal da Tribuna Popular de Itapetininga em São Paulo". Realmente, havia essa separação. Inclusive, uma confidência: fui membro de quase todas as associações de classe. Fui Presidente dos Repórteres Policiais, Presidente na Casa, vice-Presidente da CESP. Mas, em várias dessas entidades havia, de início, essa restrição. Quem for jornalista de rádio pode ser vice-Presidente. O Presidente deve ser jornalista de jornal.

A última experiência, para lembrar, é que quando comecei a fazer reportagens  no rádio depois da queda de Getúlio Vargas, no dia 29 de outubro de l945, quando acabou o Estado Novo, não tínhamos setoristas no rádio. O noticiário era redigido pelo próprio locutor, ou então havia um redator só. Então, o Murilo Antunes Alves que aconteceu? Fui credenciado em todos os setores aqui da Assembléia Legislativa, da Câmara Municipal, fui repórter policial.

Já que se falou tanto aqui da Assembléia Legislativa, tenho gravado até hoje a promulgação da Constituição Paulista de l947, no dia 9 de julho de l947. O Presidente Valentim Gentil - a gravação ainda continua em meu poder - dizia: "O povo paulista, pelos seus legítimos representantes, decreta e promulga a Constituição do Estado de São Paulo." Transmiti esse acontecimento. Tudo isso para lembrar a importância do gravador a que se referiu Blota Jr., que era um gravador GE. Foi trazido dos Estados Unidos e começamos a fazer entrevistas. Entrevistei Adhemar de Barros, logo que foi eleito Governador.

Já que se falou também se a gravação poderia surpreender, evocaria o que aconteceu com Monteiro Lobato. Entrevistei Monteiro Lobato em l948, no dia 2 de julho, para erradiar no dia quatro e ele morreu no dia três. Essa gravação também tenho. Há um trechinho em que ele diz assim, falando sobre o gravador que não era muito conhecido, um gravador de arame: "O Murilo está enfiando em minha mão um canudo. Diz ele que estão gravando e depois vão repetir minhas bobagens para os ouvintes". Mais ou menos está isso gravado.

Já que estamos fazendo uma confidência, recordo-me que não levei pergunta nenhuma para o Monteiro Lobato. Então, como tinha que preencher a meia hora ocorreu-me perguntar: "Dr. Monteiro, se o senhor pudesse voltar ao mundo, pudesse viver a vida que viveu, gostaria de ter sido como foi, escritor?" Ele falou: "É uma pergunta muito insidiosa essa. Se eu pudesse voltar ao mundo, viver a vida que eu..." E isso foi ao ar  depois que ele morreu. Tanto é que um ouvinte me telefonou e disse: "O senhor matou o Monteiro Lobato". 

 São apenas evocações mas, sem dúvida alguma, vivemos, Blota, eu, Maurício Loureiro Gama, Sólon Borges dos Reis e Israel Dias Novaes. Nunca me separei do jornal. Continuei dentro da Record, militei no tempo, trabalhei rapidamente no "Correio Paulistano" e fui editor político de um jornal de breve existência que marcou época e que foi da Record, que era "O Tablóide", editado ali na Rua do Seminário.

Perdoem-me essas evocações mas gostaria, já que me foi dada esta oportunidade, de prestar a minha homenagem não só aos companheiros aqui presentes como também àqueles que já passaram para o outro lado do mistério mas que conseguiram viver conosco esta fase importante da imprensa brasileira, a passagem depois para o rádio e para a televisão.

Só posso agradecer a Deus a oportunidade que me deu de poder ainda, 65 anos decorridos da minha atividade jornalística, pois estou na Record há 52 anos, participar nesta noite da homenagem à Associação Paulista de Imprensa pelos seus 66 anos, 60 dos quais estive lá integrando como sócio da entidade.

Parabéns ao Deputado Afanasio Jazadji pela sua idéia, pela sua lembrança, meus cumprimentos ao Carlos. Saúdo todos os colegas e desejo  felicidade a todos. Perdoem-me. Só não pude corresponder às expectativas, porque falar depois do Blota, depois do Israel, depois do Sólon, depois do Carlos, é muito difícil. Se não correspondi à expectativa, evoco Camões: "É que a tanto não me ajudaram engenho e arte". Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL - Registramos a presença também entre nós da jornalista Sônia Russo, da Sala de Imprensa da Assembléia Legislativa; do jornalista Clóvis Messias, também setorista aqui na Sala de Imprensa da Assembléia Legislativa e também do jornalista Luiz Carlos Ramos, que é um dos redatores da primeira página do Jornal "O Estado de S. Paulo".

Esta Presidência concede a palavra ao comunicador, radialista, jornalista Fiori Gigliotti.

 

O SR. FIORI GIGLIOTTI - Exmo. Sr. Deputado Afanasio Jazadji, que preside esta Sessão Solene, este momento de encantamento, de cultura, de alegria, de saudade, de evocação, demais ilustres companheiros que enriquecem esta Mesa que dirige os trabalhos, queridos companheiros homenageados, senhoras e senhores, sinto-me muito pequeno, bastante humilde, mas imensamente feliz por desfrutar desta noite de cultura, desta noite de saudade.

O Legislativo transforma-se numa universidade cultural e o tempo como melhor de todos os professores. Nasci no Jornal "Correio de Lins", como vendedor, cobrador, limpador da sala e depois fui o primeiro cronista esportivo do jornal. Depois passei a ser colunista social. Logo após veio a vontade de redigir, pelo menos, um programa de rádio. Esse privilégio me foi concedido em 1946. Mais tarde veio a vontade de falar, de apresentar o programa. Também essa vontade foi concretizada. Depois veio a ambição do menino sonhador que lia todas as revistas esportivas da época, que lia todos os jornais esportivos daquela ocasião, que sabia tudo o que acontecia na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, na Rádio Tupi, na Rádio Difusora de São Paulo, na Rádio Tupi do Rio de Janeiro também. Naquele tempo, rasgava os céus do Brasil também as ondas hertzianas da Rádio Jornal do Comércio do Recife, cujo slogan era esse: "Rádio Jornal do Comércio, Pernambuco falando para o mundo".

E o tempo foi passando, até que no dia 26 de maio de 1947, depois de agredir, de encher a paciência dos nossos diretores, nos foi concedido o privilégio de fazer a primeira transmissão de futebol. Isso aconteceu no dia 26 de maio de 1947. Neste mês estaremos completando 52 anos gritando gols, transmitindo futebol.

Sinto-me na obrigação de fazer deste modesto pronunciamento uma espécie de prestação de contas porque os homens da imprensa escrita o fizeram e como vejo aqui, queridos companheiros de rádio como Roberto Petri, como James Rúbio, como Franco Neto, o Lazinho, como o Maurício Loureiro Ramos, que me faz lembrar do Carlos Spera, do Tico-tico, do José Carlos Araújo e de tantos e tantos outros saudosos companheiros, sinto-me na obrigação de jogar para vocês também o modesto currículo de um homem de rádio, de um jornalista da imprensa falada.

Neste mês, para justificar a homenagem que a API nos presta, presidida por este tão simpático Carlos Corrêa de Oliveira, quando a gente ouve esta lição de cultura e de história do Presidente da API e este show de habilidade na manipulação das palavras, evocando tantas coisas que a gente nem poderia imaginar que tivesse acontecido, através do imenso Deputado Israel Dias Novaes; se a gente pode ouvir, num momento como este, como pudemos ouvir, um orador do quilate de Blota Júnior, que sabe dizer as coisas, que tudo o que diz a gente aproveita, tudo o que fala encanta, seduz, se a gente pode ouvir, mais uma vez, com a simplicidade, faltando apenas os trocadilhos e o linguajar cativante do Murilo Antunes Alves, um moço de Itapetininga, se a gente ouviu gostosamente a Deputada Edir Sales, abrindo esta sessão, precisamos dizer do nosso currículo.

Começamos em 1947, transmitindo futebol. Vamos completar 52 anos. Transmitimos 396 jogos de futebol até hoje, gritamos 4500 gols aproximadamente, fomos titular de esportes da Rádio Bandeirantes de 13 de outubro de 1963 a dezembro de 1995, 32 anos seguidos. Nas nossas andanças pelo interior, e paradoxalmente, quando quisemos ingressar na política não nos elegemos, fizemos tantas e tantas amizades que na semana passada, numa sexta-feira, emoldurada por tanta simpatia, enriquecida pela presença de tantos amigos na Câmara Municipal de Araraquara, recebemos o nosso 136º título de cidadania porque recebemos o l35º em março, na cidade de Maringá. Temos mais dois para receber, o de Gastão Vidigal e o de Palmares Paulista. Um homem de rádio. Um homem que nasceu da humildade, que nuca teve vergonha de buscar saber um pouco mais, que sempre prestou atenção naqueles que falam bem, naqueles que são os professores da palavra, que nunca deixou de ler aqueles que são os professores da letra, do texto, porque na vida ninguém sabe tudo. O importante é saber o necessário.

Nesta noite, quando estamos unidos no Legislativo paulista, graças a esta iniciativa, cativante, generosa, histórica, do Afanasio Jazadji, acho que devemos esticar os nossos braços  e num só abraço agradecer a Deus por este privilégio.

 Eu sou um modesto aluno que não me canso de aprender. Mas olho para o meu lado direito, faço um meneio de cabeça; olho para o meu lado esquerdo, jogo meus olhos para cima dos presentes e vejo tantos cabelos brancos. Os meus cabelos também já foram pretos e hoje meus cabelos estão brancos, graças a Deus.

O que são os cabelos brancos? É o cansaço? É a vida que passa, e vai destruindo a gente, ou é o diploma da importância do cansaço, da carga do saber, do prêmio do sofrimento, da grandeza da espiritualidade, do privilégio de seguir vivendo?

  Lembrando o modesto compositor, eu diria que os cabelos brancos são gotas de prata, que a lua gostosamente jogou sobre as cabeças de todos nós. Eu acho que viver é um presente de Deus, mas viver tão gostosamente como vivem os jornalistas, como vivemos nós, como lembrou tão lindamente o Deputado Israel Dias Novaes, é algo singular, diferenciado.

Eu digo para vocês que hoje nem teria condições de falar, mas eu precisava falar, eu precisava vir aqui, e por ironia até justificar o que disse o Deputado Israel Dias.

  Hoje recebemos a notícia da Diretora Administrativa da Rádio Record, que acabou o futebol na rádio Record, simplesmente. Houve uma reunião de portas fechadas, Dona Ivone entrou simpática, com os olhos embargados, praticamente chorando, porque ela é uma mulher realmente simpática, sabemos que ela disse aquilo contra vontade, sabia  que aquilo iria machucar a alma e o coração da gente, que iria colocar muitos rapazes  - praticamente todos numa situação dramática, alguns com mulher esperando nenê, outros com parentes enfermos, com um saído do emprego da Prefeitura de Bragança Paulista para passar a trabalhar como repórter na Record, chegou hoje para tomar posse - posse do quê?  O emprego não existe mais.

  Agora nós, sinceramente nos alimentamos, nós jornalistas, eu tenho a impressão, quase sempre do pior. Nós nos alimentamos das coisas macabras, nós nos alimentamos principalmente do sofrimento, porque é isto que enriquece a cultura, o saber e a vida da gente.

  E o tempo vai passando, e tudo isto vai semeando pelos caminhos que vamos vencendo mercê da vontade de Deus e vamos plantando e colhendo, mas nem sempre colhemos aquilo que queremos. Mas em não colhendo  o que semeamos e o que não traduz o que esperávamos - temos que nos curvar, porque nada é mais forte do que a vontade, do que o poder de Deus.

  Então numa reunião como esta, sem querer machucar a sensibilidade de ninguém, por causa dos nossos problemas, como modesto homem de rádio, rendo a todos os nossos nobres colegas, esculturas imensas da imprensa hoje homenageada, hoje reconhecida, rendo o carinho, o respeito de todos nós humildes da imprensa falada, porque isto que acontece nesta noite, ao invés de ser um acontecimento singular, meu caríssimo Presidente, deveria ser algo  que fizesse parte do próprio calendário, do que nós somos acostumados a menosprezar a cultura, e homem que não tem cultura não vale nada. Ele não vai a lugar nenhum, seus horizontes são limitados.  Mas desgraçadamente isso prevalece, hoje, no meio do rádio e da comunicação. Os mais pobres de cultura são os que mais ganham, têm os salários mais altos, mais exorbitantes. Mas eles não têm a felicidade de levar a vida na fantasia em que levamos, de viajar pelo tapete mágico das ilusões que fazem bem a nossa vaidade da alma, do coração , o privilégio de ser um jornalista de verdade.

 E hoje, no ocaso de uma carreira modéstia à parte invejável - fiz 12 Copas do Mundo, nenhum ser vivo alcançou tal privilégio -, sou o único jornalista vivo que acompanhou Pelé em 59, fazendo uma excursão pela Europa, durante 2 meses e 15 dias. Mas acho que tudo isso é simplesmente uma alegria interior que vai-se armazenando dentro de nós e que acabará servindo simplesmente para,  quando o cansaço nos dobrar a coluna, balançarmos a rede  produzida pelo tempo  e criar, de olhos fechados ou, quem sabe, olhando para a lua ou para as estrelas, um festival de evocações dizendo  'Obrigado, Senhor, eu vivi.'.

Encerro agradecendo  a todos os meus nobres colegas, grandes oradores, culturas fantásticas. É impossível dizer a vocês que vim para ser homenageado; vim para   homenagear principalmente vocês. Saio daqui mais vitorioso do que nunca, porque raras vezes em minha vida,  participando de tantos festivais, de tanta puxação de saco, de tanta besteira, de tanta ironia, de tanta demagogia, aprendi tanto como nesta noite.  Obrigado, Senhor. Nada mais. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI - PFL - Esta Presidência concede a palavra ao jornalista Everaldo Gouveia, Presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo.

 

O SR. EVERALDO GOUVEIA  -  Exmº Sr. Deputado Estadual, Afanasio Jazadji, idealizador dessa homenagem que hoje prestamos  à Associação Paulista de Imprensa pelos  66 anos de fundação,   colega Carlos Corrêa de Oliveira, Presidente da API e também meu antecessor no Sindicato dos Jornalistas, Presidente daquela entidade na década de 60, demais personalidades aqui presentes, autoridades, jornalistas para quem, na pessoa de Maurício Loureiro Gama, estendo minha felicitação pela presença de todos, registrando aqui sua presença, o associado mais antigo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.

Quero também registrar a presença do colega jornalista Florestan Fernandes Júnior, que está comigo há vários meses em uma luta na Rede Manchete de Televisão que, como é do conhecimento dos senhores, vive um problema seríssimo. É uma emissora que, com menos de 20 anos de existência, conseguiu posição de destaque no cenário televisivo brasileiro, dentro da mídia eletrônica brasileira, pelo esforço de seus profissionais e pela competência de jornalistas e radialistas que fizeram e fazem essa emissora até hoje, mas que infelizmente,  por má gerência, vive um momento difícil.

Estamos indo para o oitavo ou nono mês de greve na Rede Manchete de Televisão, não só em São Paulo, mas também no Rio de Janeiro, onde fica a sede da emissora, e em Brasília, em razão do atraso no pagamento de salários.

É uma situação difícil, principalmente para seus funcionários que enfrentam dificuldades dentro de casa, sem condições, às vezes, de honrar compromissos - contas diversas - e até sem condições de colocar comida em casa, o que é uma situação muito mais grave. Daí a necessidade de fazer campanhas de arrecadação de alimentos ou até de recursos financeiros para sustentar o movimento até hoje.

Nesta semana a Rede Manchete de Televisão deverá viver seu momento decisivo, porque há uma disputa pelo controle da emissora, disputa essa que se dá, atualmente, na Justiça do Rio de Janeiro. Acreditamos que nesta semana teremos um desfecho para tal situação, e esperamos que  seja o mais favorável aos trabalhadores , jornalistas e radialistas  da Rede Manchete.

Gostaria de dizer que sinto-me à vontade aqui, sinto-me praticamente no Sindicato dos Jornalistas, porque estou cercado de vários profissionais. O nobre Deputado Afanasio Jazadji está deputado, mas antes de mais nada, tenho certeza, é jornalista,   foi na condição de jornalista que ingressou nesta Casa  e é como jornalista que continua se comunicando, não só com seus eleitores, mas com quem gosta de ouvir  seus comentários.

Estou muito feliz também pela presença de vários colegas, feras no microfone. Há muita gente aqui, da época da latinha, no rádio, como se falava antigamente,  muita gente 'cobra', que tem o dom da oratória, o que eu, infelizmente, não tenho. Meu primeiro emprego na profissão foi em uma emissora de rádio. Confesso que gostei muito e gosto de rádio até hoje. Mas acho que sou mais da turma do Israel - adoro sujar as pontas dos dedos com a tinta de um jornal. Adoro a vida da redação de um diário, sem desmerecer a televisão ou o rádio, mas a vivência da mídia impressa é o que mais me cativa.

Como não falamos tanto e escrevemos mais, muitas vezes não temos a capacidade, a grandiloqüência de   nos  comunicarmos tão bem como fizeram os colegas Israel, Blota, Murilo, Fiori.

Olhando para a frente, neste plenário em silêncio, parece estarmos ouvindo Fiori em uma emissora de rádio e não aqui, tão próximo, com essa voz maravilhosa que a natureza  lhe deu, assim como o Sólon , aqui presente, e o colega Carlos Corrêa de Oliveira, Presidente da API, a grande homenageada desta noite.

A API e o Sindicato dos Jornalistas têm vários pontos comuns: a API fez 66 anos no dia 1º de maio e o Sindicato dos Jornalistas  completou 62 anos no dia 15 de abril. E com certeza muitos dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas eram oriundos da API. Muita gente reunia-se na API, atuava ali dentro, e 4 anos depois, por razões que só o destino pode dizer, e até pelas particularidades e circunstâncias do momento, um grupo de jornalistas de São Paulo resolveu criar o Sindicato, sem qualquer demérito à API.

Foi brilhantemente citado o nome de Edgar Loenrow. Quem quer conhecer a história da imprensa brasileira no início do século, e principalmente das entidades de classes dos jornalistas, tem de ler a obra de Edgar e todo aquele material riquíssimo que ele juntou ao longo de sua existência, e que hoje está guardado na Unicamp - a Universidade de Campinas. Este é um ponto comum que une o Sindicato dos Jornalistas e  a API.

Outro ponto que o próprio Carlos citou há pouco, foi a luta pela criação de uma faculdade de jornalismo aqui em São Paulo. Os fundadores do Sindicato dos Jornalistas também tiveram esse ideal no momento em que criaram a entidade, ideal esse que se concretizou com o surgimento da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, na década de 50.

Existem vários outros pontos comuns entre o Sindicato e a Associação Paulista de Imprensa, mas podemos destacar um ponto importante, que é a luta intransigente e sem trégua pela liberdade de expressão. Hoje, dia 03/05, é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, uma data da Unesco, e é uma felicidade muito grande  estarmos comemorando o aniversário da API, que o Deputado Afanasio Jazadji tenha idealizado esta sessão solene justamente nesta data.

Sem dúvida, esse é o ideal constante e permanente de todo jornalista, é a luta intransigente, sem trégua, incansável pela liberdade de expressão. É inegável a influência da mídia na vida da sociedade, como ela influi na vida cultural, econômica, política de um país, de uma sociedade, de um grupo social.

Cada vez mais a imprensa tem uma responsabilidade maior no sentido de fortalecer as instituições, a democracia, o corpo social. Essa bandeira nós nunca vamos deixar de lado, pelo contrário, temos que lutar permanentemente pela liberdade de expressão, temos que continuar lutando permanentemente  por uma imprensa livre e democrática. Tenho certeza que é isso que nos une aqui, neste momento, além de render esta homenagem à Associação Paulista de Imprensa, é não esquecer esse ideal, essa bandeira importante para a nossa profissão.

O Israel foi muito feliz quando disse que o jornalismo é quase que uma tragédia, é um problema. Não é uma profissão que enriquece. Quem quer ser jornalista não está preocupado em se tornar rico ou milionário, porque não é uma profissão em que há condições de enriquecer rapidamente. Quem faz jornalismo está interessado em defender o bem comum, em prestar um serviço à comunidade, em ajudar o desenvolvimento da cidadania, a ampliação do papel do cidadão dentro de uma sociedade. Este, às vezes, é um trabalho muito ingrato, muitas vezes não compreendido, deixado de lado.

Sem dúvida, é um trabalho fundamental. O jornalismo é uma atividade eminentemente social. Temos uma atividade social, exercemos uma função pública como jornalistas. Aliás, ultimamente o serviço público neste País é pouco reconhecido. Por analogia podemos dizer que, muitas vezes, a imprensa não é reconhecida ou entendida no seu trabalho. Essa tarefa de lutar pela liberdade de imprensa, de expressão, pelo fortalecimento da cidadania, de informar os cidadãos sobre o que está acontecendo, seja próximo dele, seja lá em Brasília, para que a partir do conhecimento dos fatos ele possa decidir, opinar dentro daquele meio social É isso que torna doce , dá  um  prazer muito grande para o jornalista exercer a sua profissão.

Quero mais uma vez render uma homenagem à Associação Paulista pelo seu 66º aniversário, bem como a toda a diretoria da API na pessoa do seu Presidente Carlos Corrêa de Oliveira. Ouso tomar a liberdade, Sr. Presidente e colega Afansio Jazadji, de sugerir  que nós, ocupantes desta tribuna e participantes desta sessão solene, registrássemos aqui o nosso protesto e o encaminhássemos, por intermédio do Deputado Afanasio Jazadji,  a   essa triste notícia  que o Sr. Fiori Gigliotti nos trouxe de fechamento do Departamento de Esportes da Rádio Record, fizéssemos ainda, um apelo, para que a direção daquela Casa volte atrás na sua decisão e retome não só o Departamento de Esportes, mas fortaleça e aumente ainda mais o seu  jornalismo.

Então, além desta  festa ,temos que aproveitar a ocasião para registrar a nossa indignação e fazer um apelo, através do Deputado Afanasio Jazadji, à Direção da Record, para que volte atrás nessa triste  decisão. Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO JAZADJI -PFL Esta Presidência registra a presença do nobre Vereador Mohamed Said Mourad, 2º Secretário da Câmara Municipal de São Paulo, bem como do jornalista Egídio Grandineti Jr.

Tem a palavra a jornalista Vera Martins, Presidente da Federação Brasileira dos Colunistas Sociais.

 

A SRA. VERA MARTINS  - Sr. Presidente Afanasio Jazadji, Sr. Presidente da Associação Paulista de Imprensa, Carlos Corrêa, senhores presentes, sinto-me uma verdadeira foca ao falar agora, depois de tão ilustres conferencistas que deram uma aula de História para todos nós.

Nesta oportunidade, além de ser Presidente da Federação Brasileira dos Colunistas Sociais, que reúne cerca de 700 membros em todo o Brasil, represento o meu chefe, Marcos Arbaitman, Secretário de Esporte e Turismo do Estado de São Paulo que, ao receber o convite honroso da Casa e da API, pediu-me que viesse representá-lo em vista de ele ter outro compromisso.

Senti-me muito honrada com a deferência, porque a API faz parte da minha vida. Nasci em Aguaí e percebi que a maioria dos colegas é do interior. Sempre digo que o pessoal sai do interior, vem lutar aqui em São Paulo e se projeta; tenho a impressão de que é pela força do leite de vaca que tomamos quando éramos pequenos e pela luta da família. Não em demérito dos paulistanos, mas a luta do pessoal da interlândia é mais Biotônico Fontoura.

Já tive grandes alegrias, mas a primeira  foi quando eu estava no ginásio, em Aguaí. Ganhei um concurso de redação, em 1963, e fui presenteada com uma caneta de ouro. Hoje ela já está preta, mas valeu pelo mérito de ter ganho um concurso de redação em todo o Estado de São Paulo. Eles disseram que eu tinha jeito para escrever.

  Acreditei  naquilo que  eles disseram e fui para São João da Boa Vista. Em 1968 comecei a escrever no jornal do município. Falei para o editor deste jornal o seguinte: "Tenho um conto, o senhor quer publicar? " Ele falou: "Depende, larga aí na mesa." Tinha 16 ou 18 anos e  o conto tinha o seguinte título: "O início do fim". Imaginem uma menina com 16 anos escrevendo um conto com esse título. Ele leu e no sábado seguinte, saiu no jornal, com o meu nome: "Vera Lúcia Pires Martins". Aquilo para mim foi uma glória, pensei : "vou virar jornalista",  e assim foi. Fui escrevendo vários contos até que ele me convidou para fazer a crônica social e assim virei colunista social no município de São João da Boa Vista.

 Depois,  um padre da cidade me falou: "Vera, porque você não se filia à API? " Disse: "Mas eu posso?" Isto foi em 76. Ele falou que podia, me deu o endereço. Mandei a coluna e a minha grande honra foi receber a carteirinha azul e  o distintivo que hoje guardo como  se fosse um troféu e a minha inscrição na API foi n.º 6001. Daquele momento em diante me conscientizei que realmente era uma jornalista; primeiro porque eles falavam, segundo porque eu escrevia e terceiro porque tinha a carteira da API, então eu tinha passado no vestibular. Evidentemente que depois fiz outros cursos, Direito, Letras,  especialização. Não me casei,  mas fiz um monte de cursos. Como disseram Blota Júnior e  Israel Dias Novaes, realmente o jornalismo é como se fosse uma cachaça,  vicia, é como um vírus, fui atacada por ele e cá estou.

  A Associação foi fundada em maio, e em 10 de maio de 86, já estava em São Paulo, já havia virado "gente", já me conheciam, era da "Gazeta Esportiva" e do "Diário Popular", fundei a Associação dos Colunistas Sociais. Em 1990 ela virou federação, crescemos e hoje ela está forte e rígida, graças a Deus, representando o colunismo social. O colunista é quase igual ao radialista, o jornalista não olha com bons olhos o colunista, mas mesmo assim o colunista gosta do que faz, está lutando pelo seu espaço e provando que o colunismo social é uma variedade que traz muita alegria para seu leitor.

  Deputado Afanasio Jazadji, agradeço pela palavra, parabenizo a nossa eterna API, na pessoa do Sr. Carlos Corrêa, e a todos que aqui estiveram. É uma honra e uma alegria sem tamanho estar aqui e ouvir tão grandes oradores.

Esteve aqui um jornalista famoso, o Fausto Camunho,  ex-Secretário de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo e agora Secretário de Esportes do Município,  provando que  jornalista também tem um lado político, mas acima de tudo é jornalista, como disse o Israel Dias Novaes. Um abraço ao jornalista Sebastião Miziara, Presidente dos Vereadores do Estado de São Paulo. Realmente, jornal e  política caminham juntos. Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - AFANASIO  JAZADJI  - PFL

(Entra leitura)

 

Srs. Deputados, esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la esta Presidência agradece as autoridades e àqueles que com as suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se às 22 horas e 31 minutos.

 

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