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15  DE  MAIO  DE 2000

10ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO “DIA  ESTADUAL DE PREVENÇÃO AO  CÂNCER DE MAMA”

 

Presidência: ROSMARY CORRÊA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 15/05/2000 - Sessão 10ª S. Solene  Publ. DOE:

Presidente: ROSMARY CORRÊA

 

DIA DE PREVENÇÃO DO CÂNCER DE MAMA

001 - ROSMARY CORRÊA

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Anuncia que a sessão foi convocada pela Presidência da Casa, atendendo à solicitação da Deputada ora na Presidência com a finalidade de comemorar o Dia de Prevenção do Câncer de Mama. Convida todos a ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - JOSÉ ANTONIO MARQUES

Na qualidade de diretor técnico do Núcleo de Saúde da Mulher, do Centro de Referência da Saúde da Mulher, Nutrição, Alimentação e Desenvolvimento Infantil Perola Byington anuncia estar representando o Secretário da Saúde Dr. José da Silva Guedes, na solenidade. Fala a respeito da comissão que está assessorando o Dr. Guedes na elaboração do Plano de Controle do Câncer de Mama, no Estado.

 

003 - ALA SZERMAN

Agradece à Deputada Rosmary Corrêa ter conseguido instituir este dia comemorativo. Fala da importância da prevenção do câncer de mama.

 

004 - MARILENE GARCIA

Saúda os presentes. Em nome do Ministério da Saúde à Dra. Tânia Lago pelo  trabalho voluntário que desenvolve em prol da saúde da mulher. Discorre sobre os programas levados pelo Ministério que apoiam grupos de ajuda mútua de pacientes e ex-pacientes de câncer de mama.

 

005 - MÁRIO MOURÃO NETO

Como representante do Hospital do Câncer, faz depoimento sobre a instituição desde 1953.

 

006 - Presidente ROSMARY CORRÊA

Faz menção aos quadros expostos pintados pela artista plástica Lourdes Borges.

 

007 - SÔNIA MARIA ROLIM ROSA

Apresenta dados estatísticos da OMS sobre a neoplasia maligna na população feminina.

 

008 - VERA GIMENEZ

Presta o seu testemunho como paciente e relata livro de sua autoria narrando sua experiência.

 

009 - NASSIF ALEXANDRE GALEB JÚNIOR

Depõe sobre a detecção precoce do câncer de mama.

 

010 - HUMBERTO TORLONI

Como pesquisador, acena com o fim da fase apocalíptica do câncer de mama. Traça um paralelo entre a prevenção do mal com o nível de informação.

 

011 - WILMA GODÓI

Discorre sobre a atuação da Associação Viva a Vida das mulheres mastectomizadas.

 

012 - Presidente ROSMARY CORRÊA

Destaca a importância do seu papel político na melhoria das condições de atendimento médico-hospitalar para a mulher. Usa da frase "É mais fácil morrer de uma bala perdida do que de câncer tratado", para representar o objetivo desta solenidade. Lamenta a morte da Sra. Lígia Gonçalves, voluntária de diversas entidades de assistência social. Homenageia a memória da voluntária com a entrega de placa honorífica ao esposo da Sra. Lígia.

 

013 - PAULO CIRILLO

Lê o currículo da Sra Lígia Gonçalves, em sua memória.

 

014 - Presidente ROSMARY CORRÊA

Entrega certificados de participação a vários homenageados. Homenageia também assistentes sociais e uma taquígrafa, em nome dos outros funcionários. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.                                               

- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

                                   *    *    *

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - A Presidência cumprimenta a todos e passa a nomear as autoridades presentes: Dr. José Antônio Marques, que neste ato representa o Dr. José da Silva Guedes, Secretário de Estado da Saúde; Dr. Humberto Torloni, Diretor do Centro de Pesquisas do Instituto Ludwig, da Fundação Antônio Prudente, que neste ato representa a Dra. Luisa Lima Villa, Presidente da Rede Feminina do Hospital do Câncer, Fundação Antônio Prudente; Sra. Marilena Garcia, do Ministério da Saúde; Dr. Paulo Cirillo, Psicólogo do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer; Sra. Maria José Ferreira da Silva, Diretora Administrativa do Instituto Brasileiro do Controle de Câncer; Dr. Nassif Alexandre Galeb Júnior, Mestre em Ginecologia pela Unesp; Sr. João Gonçalves, que nos dá a imensa honra de estar presente nesta sessão, esposo de Dona Lígia Gonçalves - que era voluntária do Hospital de Câncer de São Paulo, mas foi tragicamente assassinada há cerca de 15 dias. Dona Lígia seria homenageada nesta sessão e por isso agradecemos muito a presença de seu marido, que deverá receber a homenagem em seu nome -; Professor Dr. Fausto Farah  Baracat, Chefe de Serviço de Oncologia, Ginecologia e Mamária, do Instituto de Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho, neste ato representado pelo Dr. Roberto Pastana; Dr. Carlos Marigo, foi Diretor do Departamento Técnico e Científico do Oncocentro; Dr. Mário Mourão Neto, Diretor do Departamento de Mastologia do Hospital de Câncer - Fundação Antônio Prudente; Sra. Maria Luíza Passos Maia, Presidente do Corpo de Voluntárias do Hospital das Clínicas; Sra. Leny Luísa Alves, Presidente do Corpo de Voluntárias do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha; Sra. Irene Sanches Daquino, Presidente da Associação de Voluntárias do Hospital do Mandaqui, acompanhada pela Sra. Lourdes Simões Fuzaro, que também faz parte da Diretoria; Dr. Manoel Sebastião Soares Póvoas, Presidente da Academia Nacional de Seguros e Previdência; Dra. Sônia Maria Rolim Rosa Lima, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa  Casa de São Paulo; Dr. Francisco de Assis Lima Júnior, Diretor da UCD, Centro de Diagnóstico; Dr. João Carlos Sampaio Góes, Diretor Científico do Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer, neste ato representado pelo Dr. Waldir Muniz Oliva Filho, Diretor Clínico do referido instituto; Sra. Telma Bondt, Presidente das Voluntárias do Hospital Albert Einstein, neste ato representada pela Sra. Paulina Rosenblit Lerner; Sra. Maria Del Carmen Molina Wolgien, Médica Mastologista do Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer; Dra. Marília Campos, Médica Radiologista especializada em diagnósticos das doenças de mama; Da. Elza Valentim, Assistente Social da Divisão de Reabilitação da Fundação Oncocentro; Sra. Flávia Antonine de Almeida, Assistente Social da Divisão de Reabilitação da Fundação Oncocentro; Sra. Maria de Lourdes de Campos Vergueiro, Coordenadora do Conselho da Mulher Empresária, da Distrital Santana; Sra. Diva Gimenez Horta, que também representa o Conselho da Mulher Empresária da Distrital Santana, que aniversaria hoje, a quem damos nossos parabéns; Deputado Abílio Nogueira Duarte; Dr. Pascoal Marracini, Gerente Administrativo do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho; Dr. Roberto Amparo Pastana Câmara, Presidente do Instituto de Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho; Sra. Ala Szerman, da Empresa de Fitness Etética e Saúde, pioneira dos Spas no Brasil; Dra. Sônia Maria Rolim Rosa, Professora Assistente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Sra. Vera Gimenez, Atriz, Psicóloga e autora do livro “De Peito Aberto” e Elza Maria Mourão.

            No decorrer da solenidade estaremos nomeando outras autoridades que nos visitam, mas gostaria que todos se considerassem neste momento não como autoridades, mas amigos, que estão juntos nessa corrente que estamos fazendo para lutar contra essa terrível doença que é o câncer de mama. E a nossa luta começa pela prevenção, esta a razão da sessão solene desta data.

            Através de um projeto de lei proposto por esta Deputada foi criado o Dia de Prevenção do Câncer de Mama,  que será comemorado todo terceiro domingo do mês de maio.

Como a Assembléia Legislativa não funciona no domingo, estamos comemorando nesta segunda-feira. A nossa intenção com a instituição desse dia é conscientizar, é sensibilizar todas as mulheres e todas as autoridades responsáveis por esse importante trabalho da prevenção do câncer de mama, pois assim  estaremos evitando muitas mortes.

            Convido todos os presentes para, de pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar.

 

*    *      *

 

-         É executado o Hino Nacional.

 

*      *       *

Esta Presidência concede a palavra ao Dr. José Antônio Marques, Diretor Técnico do Núcleo de Saúde da Mulher, do Centro de Referência da Saúde da Mulher, Nutrição, Alimentação e Desenvolvimento Infantil, Pérola Byington.

 

O SR. JOSÉ ANTÔNIO MARQUES - Estou representando o Secretário da Saúde Dr. José da Silva Guedes, que não pôde comparecer por problema particular. Pediu-me que o representasse porque sou Diretor do Centro de Referência da Mulher e estamos montando uma comissão que está assessorando o Dr. Guedes na elaboração do Plano de Controle do Câncer de Mama, no Estado de São Paulo. Por quê? Porque o câncer de mama, atualmente, no Estado de São Paulo, mata um sem-número de mulheres e é o que vemos no nosso Centro de Referência da Mulher, onde diagnosticamos e tratamos de 100 a 120 casos novos de câncer na mama, por mês, encaminhados da rede pública para o nosso Centro de Referência. Não só fazemos o tratamento e o diagnóstico desse câncer de mama, como também fazemos cerca de 800 quimioterapias por mês nessas mulheres. Além da cirurgia, às vezes mutiladora para essas mulheres, fazemos esse número de quimioterapias. É um problema de saúde pública extremamente importante. Ele está sendo mais importante na cidade de São Paulo do que o câncer do colo de útero, em que os exames de prevenção, como o papanicolau, são mais tranqüilos de serem feitos do que o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, inclusive já se tem uma diminuição muito grande nos últimos anos.

O câncer de mama hoje é o tumor que mais atinge as mulheres na cidade de São Paulo. Ele pode ser extremamente mutilador se diagnosticado em fases mais tardias. Para terem uma idéia, mais de 50% das mulheres atendidas na cidade de São Paulo têm um tumor acima de 5 centímetros. Quer dizer, um tumor diagnosticado tardiamente. E hoje nosso programa de controle, que deve ser decretado pelo Sr. Secretário de Saúde ainda neste semestre, vai tentar atenuar esse impacto na sobrevida das mulheres. Os tumores, quando diagnosticados tardiamente, matam mais mulheres do que os diagnosticados previamente.

A Secretaria de Saúde, juntamente com a Fundação Oncocentro, está montando uma comissão científica que vai dar base ao Sr. Secretário de Saúde para elaborar esse decreto para o controle do câncer não só na cidade de São Paulo, mas em todo o Estado. Não temos, hoje - e essa comissão já pôde fazer isso - mamógrafos suficientes para fazermos um programa de detecção precoce em todo Estado de São Paulo. Esse programa deve incluir as mulheres que passam pela rede de saúde. Ao passarem, estas deverão ser incluídas nos grupos de risco. O programa propõe-se a fazer mamografia em todas as mulheres com suspeita de tumor, com suspeita nesse grupo de risco. Hoje, segunda-feira, é um dia em que 50 a 60 mulheres passam no meu grupo de reunião, no Centro de Referência da Saúde da Mulher, e que deverão ser operadas nesta semana. Toda semana, na segunda-feira, temos cerca de 60 mulheres num grupo de discussão multiprofissional, com todos os médicos que vão operar essas mulheres. É realmente um problema de saúde pública e, em nome do Sr. Secretário da Saúde, quero parabenizar a Delegada Rose pela instituição do Dia Estadual da Prevenção do Câncer de Mama pela sua importância. Parabéns à Delegada Rose.

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Gostaríamos de anunciar a presença da Sra. Rosina Tagnetti, Secretária da Associação Viva a Vida, que neste ato representa sua Presidente Dona Wilma Godói de Almeida.

Passamos a palavra a uma pessoa que gostamos e admiramos demais, nossa querida Ala Szerman.

 

A SRA. ALA SZERMAN - Bom dia, queria agradecer a presença de todas as autoridades presentes, mas meu agradecimento principal vai realmente para a Delegada Rose, que conseguiu instituir este dia. Quem passou pelo câncer de mama, como é meu caso, sabe o quanto é importante para a mulher poder ser tratada. O testemunho que posso dar a vocês, sem ser piegas, é que o câncer de mama é uma doença muito ingrata. Ela se instala muito quietamente sem que percebamos, mesmo naquelas pessoas que mantêm uma vida sadia, uma alimentação maravilhosa e com passos gigantes e rápidos deteriora todo seu organismo.

Na parte da própria cura, quando entra na mastectomia, para a mulher é algo muito importante. Mesmo que o médico, que os enfermeiros digam a ela que vai sobreviver, é difícil dizer o que ela sente porque a mama é um órgão feminino e a grande feminilidade da mulher está nesse órgão. A perda dele é uma invalidez psíquica. É difícil sobreviver à idéia de estar inválida e menos feminina.

A prevenção é muito importante. Posso falar isso como pessoa saudável, mesmo tendo um pequeno tumor. Fiquei mais de um ano com a idéia de ser nada. A prevenção é muito importante para salvar a vida. O câncer, às vezes, é difícil de se curar, mas pode-se  salvar a mulher, o seu dia-a-dia. Realmente chegar antes da mastectomia é muito importante.

Quero agradecer à Delegada Rose pela iniciativa e dizer que me sinto emocionada ao saber que alguém pensa nessas 30 mil mulheres que este ano devem passar por este problema no Brasil. Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE ROSMARY CORRÊA - PMDB - Tenho certeza que depoimentos como este fazem valer a pena a luta da gente.

Gostaria de passar a palavra à Sra. Marilene Garcia, que representa neste ato a área da Saúde da Mulher no Ministério da Saúde.

 

A SRA. MARILENE GARCIA - Bom dia a todos que participam da beleza e da singeleza deste ato, hoje, na cidade de São Paulo. Gostaria de parabenizar a todos os componentes da Mesa na pessoa da Presidente dos Trabalhos, Deputada Rosmary Corrêa.

Em nome do Ministério da Saúde, especialmente da Coordenação da Saúde da Mulher, Dra. Tânia Lago, abraçar a todos os presentes, especialmente as mulheres e companheiros homens que fazem o trabalho voluntário. Esse trabalho ainda visto por alguns segmentos da nossa sociedade como algo pequeno, na realidade é um trabalho que  mostra ainda a força da solidariedade.

            Ao falar em nome do Ministério da Saúde, ao trazer o reconhecimento público governamental a esta causa: diagnóstico precoce, prevenção do câncer de mama, gostaria também de dizer do apoio que as políticas públicas de saúde têm tentado dar a esta causa, câncer de mama, a primeira causa mortis  por câncer de mulheres brasileiras. Mas eu me transponho, neste momento, do lugar de uma representante do Ministério da Saúde, do lugar de assessora da Dra. Tânia Lago, Coordenadora da Saúde da mulher e vivo o meu momento de maior entusiasmo e irmandade. Eu sou uma ex-paciente do câncer de mama, há dez anos sofri, como infelizmente tantas colegas aqui presentes sofreram, o impacto transformador das nossas vidas,  que é receber uma notícia através de uma biópsia positiva de um câncer de mama. Como foi dito pela minha companheira que me antecedeu, a mama na mulher, dito pela mitologia e histórias tem toda uma conotação e forma na nossa personalidade feminina, uma força que envolve maternidade, que envolve a vida sexual, e nós temos a ameaça de um câncer, uma doença ainda vista pela grande maioria de forma estigmatizada, câncer mata 100%. Ainda não conseguimos mudar culturalmente essa realidade, estamos a caminho. Mas na questão do câncer de mama, além da ameaça da própria doença, nós temos as ameaças ditas por minha companheira que me antecedeu,  de um extermínio psicológico da condição feminina da mulher. Por isso nós fazemos também, pelo Ministério da Saúde, apoiamos os grupos que fazem um trabalho de ajuda mútua de pacientes e ex-pacientes de câncer de mama. Nós fazemos um trabalho de organização e sistematização dessa rede, rede no sentido do surgimento de um novo tipo de trabalho voluntário: a voluntária, usuária, ex-paciente, que quer fazer daquele momento de dor na sua vida uma bandeira em prol da própria vida.

Surge no panorama nacional esse trabalho de conexão. Estamos mapeando os grupos existentes de pacientes e ex-pacientes que trabalham essa questão de uma forma bastante abrangente, transdisciplinar, para podermos atuar metodologicamente, de maneira que esses grupos se fortaleçam e na prática  possam  fazer essa causa crescer.

A todos vocês presentes, aos familiares da companheira Lígia, que tão bem representou a ex-paciente que somos  - e temos certeza que  há anos, quando a Lígia  teve de enfrentar esse desafio do câncer de mama, ainda não tínhamos o avanço da ciência e da tecnologia que nos permite falar “somos ex-pacientes”, porque a doença ficou lá trás. Agora é hora de vida, agora é hora de luta. Que a Lígia se transforme no símbolo dessa nossa luta e que a Deputada Rosmary Corrêa seja a nossa representante no Parlamento Paulista dessa luta que ora ela inicia, nesta Casa Legislativa, a Assembléia do Estado de São Paulo.

A todos vocês obrigada pela atenção e necessitamos de todos e todas, pacientes, ex-pacientes, profissionais da saúde, da educação; essa luta, “prevenção do câncer de mama, combate ao câncer de mama” não tem origem ideológica, não tem bandeira partidária, é uma luta de todos  os brasileiros que acreditam na vida.

Muito obrigada  a todos. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Gostaríamos de citar a presença da Sra. Beatriz Helena Botelho, vice-Presidente da Associação Paulista Feminina de Combate ao Câncer; Da. Regina Meves, Maria do Carmo Fernandes Pereira, da Associação de Voluntárias do Hospital Infantil Darci Vargas  e as Sras. do “Reach to Recovery”, Alcançar a Recuperação, grupo que faz parte da Associação Paulista Feminina de Combate ao Câncer, do qual a nossa querida Lígia Gonçalves era coordenadora.

Passaremos a palavra agora ao Dr. Mário Mourão Neto, Diretor do Departamento de Mastologia do Hospital do Câncer.

 

O SR. MÁRIO MOURÃO NETO -  Eu agradeço muito essa oportunidade e quero como todos parabenizar a Deputada Rosmary Corrêa pelo evento. Nós, médicos oncologistas,  ficamos atrás das campanhas de prevenção, vivemos à custa do diagnóstico precoce. A instituição que eu represento, que é o Hospital do Câncer, da Fundação Antônio Prudente, de 1953 até hoje tratou de 18 mil mulheres com câncer de mama, apesar de ter passado muito mais pelo hospital. O que nós vimos de uma década para cá é que houve uma mudança no perfil da paciente dentro do hospital. Até dez anos atrás tínhamos 70% de casos  avançados, ou seja, casos que não iriam responder ao tratamento. Invertemos o perfil em dez anos e 65% dos casos são casos iniciais, não se vê hoje mais no Hospital do Câncer, por exemplo, tratamento mutilante. Além de tudo trabalhamos integradamente e, por conta da prevenção, o diagnóstico precoce é feito fora do hospital.

Nós temos um serviço integrado de cirurgia reparadora, de cirurgias oncológicas, quimioterapia, de oncologia clínica,  radioterapia, patologia e além de tudo uma nova realidade tem no hospital que é o departamento de psiquiatria e psicologia, integrando a todas as pacientes que passam pelo hospital para receber um tratamento digno e evitar, na medida do possível.  E, como foi dito aqui por duas ex-pacientes, é uma palavra que não podia falar há 15 anos e hoje podemos garantir a cura do câncer de mama na medida em que é feito  o diagnóstico precoce.

É um problema, hoje, de saúde pública, a incidência do câncer de mama no Brasil, como foi dito aqui. Este ano nós vamos ter não  30 mil casos, vamos ter 40 mil casos estimados. Só que desses 40 mil casos somente 10 mil ou 15 no máximo serão tratados, os outros não têm diagnósticos e irão às instituições, aos centros de referência tardiamente.

É uma oportunidade, então, para que a população em geral tenha acesso a todo e qualquer aspecto de prevenção e principalmente de diagnóstico precoce, através principalmente de bons mamógrafos, que no Brasil são praticamente inexistentes. Essa rede, então, deverá ser feita à custa da população. Ou seja, não havendo uma mobilização social não teremos essa integração.

Na nossa instituição existe  também, exatamente para evitar o aspecto mutilante de algumas circunstâncias do câncer de mama, e hoje a maioria das pacientes pode evitar o tratamento mutilante, desde que haja tumores detectados em fase inicial, independentemente do impacto psicológico,  o recurso da reconstrução imediata. O Hospital do Câncer da Fundação Antônio Prudente, nos últimos quatro anos, fez para todas e quaisquer pacientes, não só pacientes particulares ou do convênio, inclusive do SUS, que foi a própria instituição que bancou o tratamento, a reparação imediata. Nós temos este ano  matéria  da Deputada  Júlia Costa, do PDMB de Minas Gerais, por inspiração do Dr. Henrique Salvador, que foi o antigo presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, e hoje também o SUS tem por obrigação fazer a reparação imediata. Estamos atrás disso tudo, não podemos fazer a prevenção, principalmente o diagnóstico precoce. É por isso que mais uma vez enfatizamos a importância da prevenção do câncer de mama, fato que está sendo consagrado hoje, através da iniciativa da nobre Deputada Rosmary Corrêa, a quem mais uma vez quero parabenizar. Muito obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Vocês devem estar vendo estes belos quadros expostos pintados pela artista plástica Lourdes Borges, nossa amiga Lourdinha, que também é uma paciente, alguém que viveu esta situação e pinta estas coisas maravilhosas.

            Lourdinha, gostaria que você ficasse em pé, para receber os nossos aplauso. (Palmas.)

Tem a palavra a Dra. Sônia Maria Rolim Rosa, Professora Assistente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Coordenadora Científica do Ambulatório de Saúde da Mulher no Climatério da Faculdade de Saúde da USP.

 

A SRA. SÔNIA MARIA ROLIM ROSA - Bom dia a todos. É um prazer enorme estar aqui. Os senhores sabem que carcinoma de mama constitui-se em neoplasia maligna de elevada freqüência na população feminina, além de ser importante causa de morte entre as mulheres. Numerosas investigações relacionadas com o seu estudo têm evidenciado progressivo aumento de suas taxas e a estimativa para o total mundial de novos casos poderá exceder a  um milhão neste ano.

A Organização Mundial de Saúde estima que, entre os anos de 1975 e 2000, a taxa de aumento dessa neoplasia nos países em desenvolvimento será de 63,5%, enquanto que nos desenvolvidos 14,5%. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que o câncer de mama é a principal causa de morte entre as patologias malignas da população feminina. Em um estudo sobre os fatores de risco para o aparecimento de câncer de mama, destaca-se a idade superior a 40 anos, que é a faixa do climatério, aonde atuamos na Faculdade de Ciências Médicas do Estado de São Paulo.

A importância do Dia Estadual da Prevenção do Câncer de Mama, por solicitação da nobre Deputada Rosmary Corrêa, vem chamar a atenção das autoridades competentes, para que juntos possamos ajudar nossas mulheres, visando cada vez mais a detecção precoce e o atendimento digno que nossa população, sem sombra de dúvida, merece.

Parabéns pela iniciativa, nobre Deputada Rosmary Corrêa. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Gostaria de passar a palavra a uma pessoa muito conhecida e querida por todos nós e que hoje vai prestar o seu testemunho, que é a Sra. Vera Gimenez.  

 

A SRA. VERA GIMENEZ - Bom dia a todos. É uma honra muito grande estar aqui. Vim falar sobre o que passei. Só posso falar da minha emoção e daquilo que senti. Sempre achei que câncer fosse uma coisa para os outros, jamais poderia tê-lo, pois sempre fui esportista, não como gordura e não há casos de câncer na minha família. Sou uma pessoa que sempre fiz exames periódicos, como a mamografia. Na época eu tinha 46 anos, e sofri uma perda muito grande, de uma pessoa muito querida. Acho que o câncer de mama também pode ser ocasionado por um impacto emocional muito grande. Havia feito um exame em maio. No ano seguinte tinha um câncer de três centímetros, o que me obrigou a fazer uma mastectomia radical com esvaziamento de axilas. Fiquei um ano e meio sem um seio, o que para uma mulher, principalmente para uma atriz, é uma coisa muito difícil. Quando estamos nuas dentro de uma sala, sempre colocamos as mãos nos seios. O seio para a mulher representa a feminilidade, a amamentação, a continuidade da vida, a sedução e a sexualidade. Perdi um deles e não fiquei com medo de morrer. Tomei oito quimioterapias, passei por um processo muito doloroso e só um ano e meio depois fiz a reconstrução.

Como uma forma de exorcizar o problema,  tive que falar, ao invés de esconder, como a maioria das mulheres fazem. Tenho algumas amigas que tiveram câncer e não querem nem ouvir. Falo no assunto porque foi uma forma de colocá-lo para fora. Escrevi um livro que fala sobre a minha experiência. Já faz seis anos que passei por tudo isso. Desta forma suponho que esteja livre da doença, pois os médicos dizem que o risco está nos primeiros cinco anos. Gosto de falar e ajudar as outras mulheres. Esse é o meu depoimento. As autoridades podem colocar mais mamógrafos, para que haja a detecção precoce, pois não têm como se evitar o câncer de mama, tem como detectarmos no começo, para que se possa curá-lo e também dar a possibilidade de fazer a reconstrução, pois ficar sem o seio é uma questão muito dolorosa, muito triste e a cirurgia plástica oferece várias opções para você fazer uma reconstrução. E fica perfeito. Esta é a minha posição. Estou muito feliz de ter podido falar para vocês isso.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Gostaríamos de passar a palavra ao Dr. Nassif Alexandre Galeb Júnior, Mestre em Ginecologia pela UNESP e responsável pelo setor de mastologia da UCD, Centro de Diagnóstico e Médico do IBCC.

 

O SR. NASSIF ALEXANDRE GALEB JÚNIOR - Senhoras e senhores, colegas, ilustres Deputados aqui presentes, pacientes, é um satisfação muito grande de minha parte perceber que foi instituído este dia de prevenção  de câncer de mama. Na realidade, como disse minha antecessora, detecção precoce do câncer de mama.

Coube a mim fazer uma pincelada sobre o que é esta detecção precoce do câncer de mama. Nós, médicos, nos baseamos, quando vamos tomar uma conduta, em estudos. Existe uma quantidade enorme de estudos sobre detecção do câncer de mama.

Cabe a nós ver, verificar esses estudos, analisá-los, criticá-los e aplicá-los. O mundo inteiro fez isto. É muito raro encontrarmos uma situação como a que encontramos no Brasil, referente ao número de casos de câncer avançado que temos.

Fiz estágio nos Estados Unidos e na Europa. Raríssimas vezes encontrei aquilo que encontramos no Brasil: uma quantidade enorme de tumores grandes. Isto indica apenas uma coisa: nossas mulheres estão mal-orientadas. É por isto que fiquei muito contente ao saber que estamos começando e, também, continuando numa luta de detecção precoce do câncer de mama. Entre os vários métodos que temos para detecção precoce, baseado nesses estudos que têm que ser analisados e criticados, a conscientização é a mais simples. Simples entre aspas, porque depende da cultura da nossa paciente e do nosso lugar, mas, um dos mais eficientes,  é a conscientização.

O que é conscientização? Conscientização é uma coisa bem simples, como disse o Paulo Cirillo.  Não basta estar ciente de que está com alguma coisa na mama; é estar consciente de que tem alguma coisa na mama e tem que saber que tem que procurar um médico logo. Só isto cura. Estatísticas, pelos estudos que fiz, 65% das mulheres com câncer de mama são curadas.

Falamos de muitas coisas caras: mamografia.  Mamografia, como diagnóstico, é óbvio. É uma arma indispensável, mas mamografia, como detecção precoce, sob o ponto de vista político, e  esta atitude de detecção precoce é uma questão de política de saúde, pode ser muito cara para um determinado tipo de país, para um determinado tipo de mulher ou de população, mas se nós, desde já, através de um plano conseguíssemos fazer com que as nossas mulheres tivessem esta conscientização, já estaríamos fazendo muita coisa pela mulher brasileira que, infelizmente, está entre os países que têm o maior número de câncer avançado no mundo. Nós, do BCC, juntamente com a Unip, com o Paulo Cirillo, fizemos um trabalho para saber por que a mulher brasileira, na localidade a mulher paulistana, se atrasa em vir ao médico. O trabalho consistia de 35 perguntas para 1.500 mulheres. Conclusão nossa: mesmo as mulheres de nível universitário da cidade de São Paulo não acreditavam que o câncer de mama fosse curável. Quando não se acredita que um tumor é curável, para que vamos fazer uma detecção precoce? Para que vamos correr ao médico? Receber uma mastectomia mais precoce?

Falta ainda  conscientizarmos a nossa população. Por incrível que pareça, não a temos conseguido, embora na nossa pesquisa tivéssemos visto que 99% das mulheres entrevistadas viam televisão, liam um número muito grande das revistas principais nossas, até caras, percebemos que elas deviam pegar essas revistas da semana passada ou retrasada.

Acho então que  a conscientização, que foi muito bem falada, é uma das principais lutas. Temos que atacar isto nos pontos certos, transmitir um recado para a nossa população que realmente a ensine, porque nossa população aprende tudo. Mesmo as nossas analfabetas, quando eram informadas por médicos, compreendiam, respondiam quase todas as perguntas de maneira correta.

O outro ponto que percebemos no nosso estudo foi a noção de freqüência; não acredito que seja muito freqüente. Aliás, com pouco de razão a nossa população só conhece as mulheres que tiveram câncer  porque a vizinha, a prima, a amiga da cabeleireira faleceram.  Estatisticamente, para elas,  o estudo delas é de que o câncer é incurável, mas não é tão freqüente, porque aquelas que se curaram,  elas não ficam sabendo.

Acredito que esta atitude de se criar este dia hoje foi uma atitude bastante benéfica para detecção precoce de câncer, acho que vai incentivar essa conscientização.

Um outro tipo de atitude que eu sugeriria, seria que um grupo de estudos,  visto que a detecção precoce é baseada em estudo, fosse formado para orientar a nossa detecção precoce e ainda defender a nossa população contra alguns tipos de informações, às vezes mercantilistas,  que vêm pela mídia. Mais uma vez gostaria de cumprimentá-los pela instituição deste dia de prevenção do câncer e obrigado pela atenção.

(Palmas)

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Quero também agradecer imensamente as presenças das companheiras do Rotary Club São Paulo Norte:  Marli,  Deise,  Almada,  Gelci,  Regina e Diva.

            Gostaria de passar a palavra agora para o Dr. Humberto Torloni, Diretor do Centro de Pesquisas do Instituto Ludwig, da Fundação Antônio Prudente.

 

O DR. HUMBERTO TORLONI - Sra. Presidente, parabéns pela iniciativa de conclamar um programa tão importante para a saúde pública brasileira, particularmente para a mulher. Ouvimos, no decorrer desta sessão, relatos de histórias vivas, com mensagens altamente positivas de pessoas que passaram pelo buraco da agulha, que estão vivas, dando lições de otimismo.

A fase apocalíptica do câncer de mama está passando. O orador que me precedeu falou duas palavras importantes: estar ciente e estar consciente. Falou também de pessoas de grau de alfabetismo variável, que têm acesso aos meios de comunicação.

O primeiro passo na prevenção é informação. Quantas televisões fazem anúncios de tudo que querem, menos na área de saúde! O desserviço causado  pelos meios de comunicação é muito sério. A mulher pode ser analfabeta, mas ela sabe muito bem os nomes dos atores de televisão, das cantoras mais preferidas. Um pouco de mensagem para a saúde, nos meios de comunicação para este País, melhoraria muito a prevenção.

Outro elemento de informação está na escola.Com a progressiva escolarização no Estado, no Município e no País,  as crianças, futuros cidadãos, recebem instrução, recebem informação. As meninas se tornarão adolescentes, jovens, adultas, assumirão seu papel  social e familiar de toda maneira. Existe uma brecha enorme no currículo escolar das meninas e dos meninos. Da mesma maneira que se incentiva com a prevenção da Aids e como evitar doenças sexuais com algumas mensagens, existem informações disponíveis através do Inca para incorporar na área de ciência, na área de  Biologia, na área de Educação Física. Poder-se-ia incluir informações não apocalípticas, informações positivas, tais como: “Previna-se. Entre outras coisas que podem ocorrer além da Aids, além de uma série de outras doenças, sentindo nódulo na mama, a melhor diagnosticista de câncer de mama é a mulher.”

 No Hospital  do Câncer temos uma série de exemplos: uma mulher sentiu  nódulo, ao passar a mão durante o banho, foi a um médico, não especialista, e o médico disse: “Volte daqui a seis meses”. Aquele carocinho que ela suspeitou que era anomalia, durante 6 meses era formado por células que cresceram durante o dia, durante a noite, durante o fim de semana, durante os feriados, durante o Carnaval, durante as greves, e depois de 6 meses foi procurar o Dr. Mourão ou seus colegas  com o tumor maior. Perdeu-se tempo, não se valorizou.

A mulher que sentir qualquer alteração na sua mama, procure o médico. Se o médico disser que não é nada, troque de médico, porque sua mama, uma vez tirada, não pode ser colada. Há relatos disto. Estou sendo muito simples e usando linguagem direta: sentiu nódulo na mama, procure um médico, se ele disser que não é nada, procure segunda opinião. De medo de câncer ninguém morre. De câncer, quem tem medo, paga o preço, e este preço é uma vida perdida, com qualidade de vida diferente das relatoras aqui.

Todas as oradoras que me precederam venceram o temor, venceram a doença, venceram o preconceito. Pagaram o preço, e a mensagem delas vale muito mais do que tudo aquilo que está escrito. A mídia tem que ser motivada, para ajudar a tirar  da primeira lista da mortalidade da mulher o câncer de mama.

Parabéns por sua iniciativa, muito obrigado por nos ter convidado.

(Palmas)

 

            A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Gostaríamos de ressaltar a presença aqui de senhoras mastectomizadas que fazem parte do grupo da nossa querida Lígia Gonçalves. São essas senhoras dos lacinhos cor-de-rosa. Pediria que elas ficassem de pé para receber nossos aplausos, por favor.  (Palmas.)

            Tem a palavra a Dona Wilma Godói de Almeida, Presidente da Associação Viva a Vida das mulheres mastectomizadas e primeira representante no Estado de São Paulo do “Reach to Recovery”.

 

A SRA. WILMA GODÓI - Senhores e senhoras, é um prazer imenso estar aqui para poder agradecer pessoalmente esta iniciativa da Dra. Rose.  É muito bom e gratificante para a gente saber que pessoas importantes se preocupam com a nossa posição de mastectomizadas. Represento aqui a Associação Viva a Vida, de Piracicaba.  Somos uma entidade já de 12 anos e formamos um grupo de apoio que faz o ‘depois’, o que sobrou da cirurgia de mama, quando, muitas vezes, a mulher fica abandonada: infelizmente, ela se tranca, se fecha, não quer saber de mais nada, de mais ninguém. É aí que entra, então, o Viva a Vida.

Temos 10 visitadoras treinadas e especializadas na visita de pós-cirurgia. Temos alguns trabalhos de fisioterapia e atendimento psicológico, mas são poucos. Trabalhamos só com pessoas que fizeram mastectomia. Nossas visitadoras são todas mulheres que já passaram pela cirurgia de mama e que, portanto, sentiram na pele aquela dor imensa. Mas todas superamos. A minha cirurgia foi feita há 33 anos e estou aqui podendo fazer alguma coisa por alguém.

A nossa entidade já tem 12 grupos por este país tão lindo. Fazemos o treinamento em Piracicaba, formamos o grupo dando toda a orientação e estrutura, procurando sempre atender da melhor forma possível. Estamos nos espalhando. Somos representantes da “Reach to Recovery” já há 12 anos, uma entidade mundial, presente em 38 países, cujo programa adaptamos para a nossa realidade, que é bem diferente da dos outros países. Esta iniciativa foi muito boa e oportuna. Esperamos, assim, conseguir algumas coisas mais facilmente. 

O Dr. Humberto Torloni abordou uma coisa que muito me preocupa. Como falei, recebemos a pessoa depois que ela foi operada. A gente, portanto, sabe de tudo que aconteceu antes. E a maior queixa é: “Estive no médico e ele falou que não era nada.” É aquilo que a gente quer ouvir. A gente sente o caroço, vai ao médico e ouve ele dizer que não é nada. “Meu Deus, que bom que não tenho nada.” E fica feliz, tranqüila. Tenho muitas que já se foram por isso.

Eu proporia, então - não sei, sou apenas um grãozinho de areia neste mar maravilhoso, não sou ninguém, sou só voluntária - uma campanha de conscientização nas faculdades para essa moçada que vem vindo. É um negócio muito sério. Como o Dr. Humberto colocou muito bem, dias são preciosos. É muito importante que seja levado em consideração aquilo que o doente achou. Ela encontrou o caroço, sabe que é grave, vai ao médico, mas ele diz que não é nada. Sei de casos assim.

Admiro a classe médica, não tenho nada contra, mas temos tido vários casos de pessoas que, tendo procurado o médico e obtido um diagnóstico negativo, se tranqüilizaram. Aquilo cresceu e quando procuraram já era tarde demais. É ótimo que se façam as campanhas de prevenção, mas quando ela encontrar alguma coisa é preciso que seja melhor atendida.  Desculpe-me classe médica.

A Marilena falou sobre uma rede nacional de ex-pacientes de câncer de mama. Essa rede, se Deus quiser, vai sair. Estamos trabalhando com isso, porque se dermos as mãos, seremos mais e vai dar certo.  Não tenho dúvida de que a gente precisa dar as mãos, é muito importante. Tomei assim a liberdade de trazer umas folhas de abaixo-assinado, que vocês vão encontrar na saída. Se quiserem colaborar conosco, saibam que um abaixo-assinado tem muito força.

Agradeço por esta oportunidade de estar aqui mostrando um pouquinho do que somos, do que é o Viva a Vida. Vivemos a vida realmente o dia-a-dia.  É uma vida muito linda, muito boa. Depois que a gente passa por um susto desse, a vida tem mais valor.

Muito obrigada.  (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ROSMARY CORRÊA - PMDB - Gostaria também de anunciar a presença do nobre Deputado Virgílio Dalla Pria, também médico, que nos dá o prazer de estar conosco nesta reunião.

 

(Entra leitura de 02 fls. - “É com enorme..” - )

 

Esta frase representa muito bem o nosso momento: É muito mais fácil, hoje,  morrer por uma bala perdida, do que de um câncer tratado.

            Agradeço a todos e neste momento quero passar a fazer algumas homenagens que muito honram  esta Assembléia Legislativa. Após a realização das homenagens, convidamos a todos os presentes para apreciarem as pinturas da artista Lourdes Borges.

            São feitas as homenagens às seguintes autoridades:

            A nossa primeira homenagem é feita à nossa companheira Lígia Gonçalves. Para quem  não sabe, a Lígia, voluntária do Hospital do Câncer, estava há algumas semanas participando de um bazar da Associação Paulista de Combate ao Câncer, no Círculo Militar.  Um bazar em prol do Hospital do Câncer. Saindo do seu trabalho, à tarde, pegou uma carona com uma companheira e passaram no supermercado aqui próximo da Assembléia Legislativa, na Rua Tutóia. E isso me liga muito a essa situação  porque  como delegada de polícia  instalei a primeira delegacia  de polícia de defesa da mulher. O fato que acabou vitimando a Lígia diz-me muito de perto. O marido insatisfeito, porque a companheira o havia abandonado, depois de tantas agressões, foi  armado ao supermercado onde ela trabalhava  e deu um tiro na cabeça da  ex-esposa. O tiro, além de matar essa moça, acabou atingindo a Lígia, que chegou a ser socorrida, foi operada, mas infelizmente não resistiu e veio a falecer. Isso nos deixou extremamente traumatizada porque a Lígia era a nossa convidada para a sessão de hoje, onde ela seria homenageada pela Assembléia Legislativa por todo o trabalho que ela fez, representando o trabalho de todas as suas companheiras. Mas, Deus não quis que assim fosse, mas tenho certeza de que a Lígia, de onde estiver, está presente, atuando, gostando, vendo e queremos fazer essa homenagem a ela por intermédio da sua família,  do seu marido. Antes disso, gostaria que o Dr. Cirillo fizesse a  gentileza  de ler o currículo da Lígia e que fique aqui para receber uma placa de prata.

 

O DR. PAULO CIRILLO  - Bom dia, é muito paradoxal, mas embora triste pela perda da  Dona  Lígia, nossa amiga, acho que amiga de grande parte de todas as pessoas aqui presentes, também é um prazer reconhecer o grande trabalho que ela fez por todos nós.

            Digo por todos nós porque também me incluo como ser humano que sou.

           

(ENTRA LEITURA -Uma página - “Lígia Gonçalves”)

 

A Da. Lígia não era só isso, do ponto de vista de um currículo formal. Ela era muito mais. Acho que todos nós que a conhecemos sabemos que foi uma das pessoas mais simples, humanas e puras, que conhecemos. E também uma das mais alegres. Jamais esquecerei dos grupos em que participei com ela, de como ela trabalhava a alegria. Porque ela nunca mostrou o lado triste, o lado feio, o lado desagradável, do câncer. Pelo contrário, ela sempre respeitou e trabalhou muito o lado alegre, bonito de  uma  mulher. Uma mulher não deixa de ser uma esposa, não deixa de ser feminina, não deixa de ser sensual porque perdeu uma mama. Uma mulher é muito mais do que isso, basta ela perceber e valorizar todo aquele potencial que ela tem dentro de si. Acho que a Da. Lígia soube fazer isso muito bem, ela  deixou grandes sementes e cumpre a nós  cultivar essas sementes que ela nos deixou. Muito obrigado.

           

A SRA  PRESIDENTE ROSMARY CORRÊA - PMDB - Passo esta placa  à Sra. Lígia Gonçalves às mãos de seu esposo. “Lígia Gonçalves, suas palavras ficarão gravadas para sempre.” Isso a Lígia disse num dos jornaizinhos da associação.

A luta pelo reconhecimento da mulher, como ser igual ao homem em inteligência, é para que cada um seja mais, sem que ninguém seja menos. Homenagem pelo trabalho contra o câncer de mama.  (Palmas.)

Gostaria de fazer a entrega de alguns certificados de participação nesta sessão solene às seguintes pessoas: Sra. Ala Szermam; Sra. Vera; Dr. Manoel Sebastião Póvoas; Dr. José  Antônio Marques; Dr. Marcos Desidério Rist; Dr. Nassif Alexandre Galeb Júnior; Dr. Paulo Cirillo; Dr. Mário Mourão Neto; Dr. Carlos Marigo; Dr. Francisco de Assis Lima Júnior; Dra. Sonia Maria Rolim Rosa Lima; Dra. Marília Campos; Dra. Marilena Garcia; Dr. Humberto Torloni; Sra. Beatriz Helena Botelho; Sra. Leny Luisa Alves; Sra. Wilma Godói de Almeida; Sra. Maria Luiza Passos Maia; Sra. Lurdes Borges; Sr. Waldyr Muniz Oliva Filho; Dr. João Carlos Sampaio Góes; Dr. Marcos; Sra. Vera Gimenez.

Gostaria de pedir a presença de Elza Valentim e de Flávia Antonine de Almeida, que são assistentes sociais, porque hoje é o Dia da Assistente Social. Gostaria de, por meio das duas, prestar uma homenagem a todas as assistentes sociais.

           

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-                     É prestada a homenagem.

 

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Nesta Casa, sempre que se faz uma sessão solene, pedimos o apoio, a ajuda de toda a Assembléia. Queria pedir licença a vocês para homenagear alguns funcionários; e sei que não estou homenageando a todos. Gostaria de pedir a uma das taquígrafas que subisse até aqui para que, em nome dela, possa homenagear todos os taquígrafos desta Casa e agradecer a eles pela gentileza que sempre nos prestam nas sessões solenes e nas sessões do dia-a-dia. Vocês não imaginam como eles trabalham! Ficam o tempo todo escrevendo tudo o que se fala aqui. Nada mais justo do que poder agradece-lhes por todo o trabalho que fazem, aqui, por todos nós, Deputados desta Casa de Leis.

Peço também que alguém do Cerimonial venha aqui para que possamos homenagear também esse setor, agradecendo a ajuda prestada a esta nossa solenidade.

 

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-                     É prestada a homenagem.

 

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Gostaria de prestar uma homenagem a uma pessoa que está há muitos anos nesta Casa e que é sempre o nosso braço direito, esquerdo, perna, tudo: minha querida Dona Ieda. (Palmas.)

 

                                                                       ***

 

-         É prestada a homenagem.

 

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Vou pedir agora que venham para cá a Diva Horta, a Tininha - intimada - e a minha querida Adália, porque são as nossas aniversariantes do dia. Peço a todos vocês que, junto comigo, cantem “Parabéns a você”, para celebrar e fechar com chave de ouro nossa reunião de hoje.

 

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-         É prestada a homenagem. (Palmas.)

 

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Aproveito para anunciar a presença do meu querido amigo, sempre líder, José Carlos Tonin, que nos dá o prazer de sua visita. (Palmas.)

Senhoras e senhores, mais uma vez gostaria de agradecer imensamente a presença de todos, a paciência de todos. Como eu disse no início da nossa sessão, aqui não tem autoridades, aqui tem amigos irmanados num ideal comum, num trabalho comum, que é lutar pela prevenção contra o câncer de mama.

Eu quero, enquanto Deputada desta Casa, me colocar ao inteiro dispor e é do fundo do coração, não são palavras para encerrar nenhuma sessão solene, é de verdade, quero me colocar à disposição de todas as entidades, de todas as associações de voluntárias. Que vocês façam desta Assembléia, que vocês façam do meu gabinete uma extensão do trabalho de vocês. Nós queremos estar sempre juntos, trabalhando com vocês, abrindo as portas que sejam necessárias. Queremos, faço absoluta questão de que nos usem nesse trabalho, que é tão importante para a mulher brasileira, que é tão importante para todos nós. E não diria só para a mulher, mas para homens e mulheres. Porque é muito triste também para o marido, para o companheiro, para o noivo, para o pai encontrar a sua companheira, a sua filha, a sua esposa, passando por uma situação dessa. Então, gostaria que nós aqui nesta Assembléia, através do meu gabinete, fôssemos a extensão do trabalho que vocês realizam nas suas entidades, nas suas associações. Contem conosco, estamos à disposição e mais uma vez muito obrigada a todos pela presença. A presença maciça de todos aqui demonstra realmente um interesse, demonstra realmente a preocupação de todos nós com esse problema sério, que é o câncer de mama, principalmente com a prevenção, que é a bandeira pela qual nós vamos lutar.

Lembrem-se sempre, essa é uma frase que não é minha, é uma frase que foi dita pela Tininha, logo depois do que aconteceu com a Lígia, uma bala perdida mata muito mais do que um câncer tratado.

Muito obrigado a todos, que Deus nos abençoe.

Esgotado o objeto da presente sessão, está Presidência vai encerrá-la, agradecendo a presença de todos. Está encerrada a sessão.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

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-                     Encerra-se a sessão  às 12 horas e 02 minutos.

 

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