01 DE JUNHO DE 2007

010ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO AOS “70 ANOS DO SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS NO ESTADO DE SÃO PAULO”

 

Presidência: SIMÃO PEDRO e RUI FALCÃO

 

Secretário: RUI FALCÃO


DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 01/06/2007 - Sessão 10ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: SIMÃO PEDRO/RUI FALCÃO

 

COMEMORAÇÃO AOS "70 ANOS DO SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS NO ESTADO DE SÃO PAULO"

001 - SIMÃO PEDRO

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido dos Deputados Simão Pedro e Rui Falcão, com a finalidade de comemorar os "70 Anos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo". Convida a todos para, de pé, ouvirem o Hino Nacional. Lê mensagens dedicadas à solenidade encaminhadas pelos Deputados Marcos Martins, Lelis Trajano e Estevam Galvão e do Vereador à Câmara Municipal de São Paulo Francisco Macena.

 

002 - JOSÉ PAULO KUPFER

Economista e jornalista da TV Gazeta, fala que a vocação principal do sindicato, ora homenageado, é que além da defesa dos interesses corporativos dos jornalistas é ser um defensor dos direitos humanos e da democracia do nosso país.

 

 

003 - JOAQUIM PALHARES

Jornalista e diretor da Carta Maior, discorre sobre o movimento estudantil da década de 60 e o que hoje acontece na Universidade de São Paulo. Comenta a situação da imprensa na Venezuela.

 

004 - FREDERICO BARBOSA GHEDINI

Vice-Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, parabeniza esta Casa pela homenagem ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Diz que homenagear a história dos jornalistas é reafirmar a luta da entidade pela democracia.

 

005 - Presidente SIMÃO PEDRO

Discorre sobre a atuação do Sindicato dos Jornalistas na defesa da democracia, como também na história recente do país.

 

006 - RUI FALCÃO

Assume a Presidência.

 

007 - JOSÉ AMÉRICO DIAS

Jornalista e Vereador da Câmara Municipal de São Paulo, tece comentários sobre a história do Sindicato dos Jornalistas, e que este se confunde com a luta pela democracia no Brasil e com a liberdade de imprensa.

 

008 - Presidente RUI FALCÃO

Presta homenagem à Eduardo Sucupira, o jornalista mais antigo do sindicato.

 

009 - EDUARDO SUCUPIRA

Agradece a homenagem. Fala de sua vida profissional com atuação em vários jornais do país.

 

010 - JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO

Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, relata a história da imprensa no Brasil desde 1808. Fala que nestes 70 anos de existência do Sindicato dos Jornalistas, pouco mais que um terço da história da imprensa foi construída.

 

011 - SIMÃO PEDRO

Assume a Presidência.

 

012 - RUI FALCÃO

DeputadoEstadual, fala sobre a participação do sindicato nas questões profissionais. Ressalta a necessidade de conhecimento dos documentos relativos ao período da ditadura militar e o julgamento daqueles que praticaram crimes contra a humanidade.

 

013 - Presidente SIMÃO PEDRO

Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado Rui Falcão para, como 2º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO - RUI FALCÃO - PT - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

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O Sr. Presidente - Simão Pedro - PT - Srs. Deputados, passo a compor a Mesa: Sr. José Augusto de Oliveira Camargo, Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. (Palmas.) Sr. Frederico Barbosa Ghedini, vice-Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas. (Palmas.) Sr. José Paulo Kupfer, economista e jornalista da TV Gazeta. (Palmas.) Vereador e jornalista, Sr. José Américo. (Palmas.) Sr. Joaquim Palhares, jornalista e diretor da Carta Maior. (Palmas.)

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, um bom-dia a todos! Esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Vaz de Lima, atendendo a solicitação deste Deputado, Simão Pedro, e do Deputado Rui Falcão, com a finalidade de comemorar os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do sub-Tenente Sérgio Contrimas Padovese.

 

* * *

 

- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O Sr. Presidente - Simão Pedro - PT - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na pessoa do sub-Tenente Sérgio Contrimas Padovese. Muito obrigado.

Quero também anunciar a presença do Sr. Eduardo Sucupira, o jornalista mais idoso do Sindicato, hoje com cem anos de idade, que será homenageado nesta sessão. (Palmas.)

Está também conosco no plenário o Exmo. Sr. Ítalo Cardoso, ex-Deputado Estadual. (Palmas.)

Rapidamente, vou ler mensagens de alguns Deputados que não puderam comparecer a esta sessão, mas que nos enviaram justificativas: do Deputado Estadual Marcos Martins, do PT; do Vereador Chico Macena, do PT da Capital; do Deputado Estadual Lelis Trajano; e do Deputado Estevam Galvão de Oliveira.

São Paulo, 31 de maio de 2007

Ao Excelentíssimo Sr. Simão Pedro

DD: Deputado Estadual

Agradeço o convite para a “Sessão Solene com a finalidade de homenagear os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas em São Paulo”. Informo não poder participar devido a compromissos anteriormente agendados.

Parabenizo o nobre Deputado por esta iniciativa e desejo sucesso.

Ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, parabéns pelo excelente trabalho realizado em 70 anos de vida.

Reitero os protestos de apreço e consideração.

Atenciosamente,

Dep. Marcos Martins, Deputado Estadual – PT/SP

 

São Paulo, 29 de maio de 2007

Ao nobre Deputado,

Acuso o recebimento do convite de V. Exa. para participar da sessão solene com a finalidade de homenagear os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

Agradeço o honroso convite, e parabenizo V. Exa. pela iniciativa do evento desejando sucesso.

Aproveito a oportunidade para apresentar a V. Exa. os meus protestos de estima e consideração.

Cordialmente,

Chico Macena, Vereador - PT/SP

 

São Paulo, 23 de maio de 2007

Carta nº 144/07 - LT

Sr. Deputado, acuso e agradeço o recebimento de convite para homenagear os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.

Aproveito a oportunidade para colocar o Gabinete à disposição de Vossa Excelência.

Atenciosamente,

Lelis Trajano, Deputado Estadual

 

São Paulo, 30 de maio de 2007

Of.165/07 – EG/Lid.

Sr. Deputado, tenho a honra de cumprimentar Vossa Excelência, em meu nome e no dos demais membros da Bancada  do Democratas na Assembléia Legislativa, pela realização da Sessão Solene com a finalidade de homenagear os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas.

Parabenizando Vossa Excelência pela brilhante iniciativa, subscrevo o presente com reiterados protestos de estima e distinta consideração.

Deputado Estevam Galvão de Oliveira, Líder do Democratas

 

O Sr. Presidente - Simão Pedro - PT - Gostaria de comunicar que estou dividindo a Presidência desta sessão com o nobre Deputado Rui Falcão.

Passo a palavra ao Sr. José Paulo Kupfer, economista e jornalista da TV Gazeta, agradecendo a sua presença.

 

O SR. JOSÉ PAULO KUPFER - Bom dia a todos! Agradeço o convite para participar desta solenidade. Também dou os parabéns ao Rui e ao Deputado Simão Pedro pela iniciativa. Fui diretor do Sindicato de Jornalista quando ele completou 50 anos e de lá para cá ele apenas tem confirmado a sua vocação principal que, além da defesa dos interesses corporativos dos jornalistas é ser um defensor dos direitos humanos e da democracia do nosso país.

Eu não sabia que teria de falar e não falarei muito. Apenas vou aproveitar para fazer um comentário muito pessoal. Nunca tinha estado na Mesa Diretora de nenhum órgão do nosso Legislativo. Achei que é muito alto e que o plenário fica muito embaixo. Os nossos parlamentares, de fato, têm de se esforçar muito para chegar perto dos seus colegas, especialmente do povo, a quem eles juraram defender e fazer funcionar direito os poderes, que é a nossa democracia. É uma experiência muito interessante e nova, e agradeço por esta oportunidade. E como jornalista ficarei mais atento ainda às necessidades para que os nossos parlamentares tenham a capacidade, o esforço, o denodo e, quem sabe, a utopia de se baixarem dessas alturas para chegarem onde devem estar, que é ao lado do povo. Muito obrigado, bom dia a todos.

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Esta Presidência anuncia também as seguintes presenças: Sr. Almyr Gajardoni, chefe do Núcleo de Redação da Imprensa Oficial que representa, neste ato, o Secretário de Comunicação do Estado de São Paulo, Exmo. Sr. Hubert Alqueres, presidente da Imprensa Oficial; Sr. Paulo Canabrava Filho, presidente do Conselho da Associação Brasileira de Propriedade Intelectual dos Jornalistas, Apijor; Sr. Amadeu Memolo, presidente da Associação dos Jornalistas Aposentados do Estado de São Paulo, Afaesp; Sr. Galdêncio Torquato, jornalista e professor titular da USP, representando neste ato o Dr. Luiz Flávio D’Urso, presidente da OAB São Paulo; Sr. Carlos Marchi, presidente do Conselho Deliberativo em São Paulo, representando a Associação Brasileira de Imprensa, ABI; Sra. Irany Galeb Cônsul, jornalista aposentada, vice-presidente da Ajaesp; Sr. Nelson Elias, diretor da Afaesp, Associação dos Jornalistas Aposentados do Estado de São Paulo; Sra. Josephina Bacariça, “Josi”, diretora-executiva da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Sr. Sylvio Micelli, jornalista da Fespesp e da ASSETJ; Sr. Gomide, representando o Exmo. Sr. Deputado Enio Tatto; Sr. Waldir Pervelho, Editor da Revista “O Tira”; Sr. Waines Moreira Alves, “Professor Moreira”, Vereador da Câmara Municipal de Taboão da Serra; Sr. Flávio Oliveira Santos, representando o presidente da API, Associação Paulista de Imprensa, Sr. João Batista de Oliveira; Sr. Alcides Manoel Rocha, representante da Ajaesp, “Folha de S. Paulo”; Sr. Dorgil Marinho, candidato a presidente da Fenaj, pela Chapa 2 - Luta Fenaji; Dr. Eduardo Cardoso de Almeida Castanheira, delegado de polícia, - sub-chefe da Assessoria Policial Civil da Alesp, representando o Dr. Mario Jordão Toledo Leme, delegado geral da Polícia do Estado de São Paulo; Sr. Ney Camargo, representando o Exmo. Deputado Antonio Salim Curiati; ex-Deputada Bia Pardi. Muito obrigado pela presença de todos.

Concedo a palavra ao Sr. Joaquim Palhares, jornalista diretor da nossa “Carta Maior”.

 

O SR. JOAQUIM PALHARES - Senhoras e senhores, presidente desta Sessão, Deputado Simão Pedro, Deputado Rui Falcão, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo que é hoje homenageado; vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Frederico Barbosa Ghedini; nosso presidente de São Paulo, José Augusto de Oliveira Camargo, trazendo seus nomes quero homenagear todos os jornalistas aqui presentes. Numa data como esta, na condição de representante de todos os jornalistas da “Carta Maior”, eu não poderia deixar de destacar dois fatos que, ao meu juízo, me parecem relevantes. Nos anos duros da década de 60, notadamente em 64, e depois aquele maravilhoso movimento estudantil de 1968, tive a infelicidade e a felicidade de participar de ambos os momentos. O que hoje acontece na cidade de São Paulo, na Universidade de São Paulo, na USP, me fez lembrar um pouco daquela atividade estudantil à qual eu era extremamente vinculado e com certeza muito de vocês também participaram.

Naquela oportunidade os estudantes lutaram contra direitos que estavam sendo vilipendiados; professores e estudantes estavam sendo expulsos da universidade e era simplesmente a representação do autoritarismo contra a classe estudantil. E na verdade contra o povo brasileiro. Aqueles estudantes de 64 e de 68 são hoje, na sua grande maioria, os dirigentes da sociedade brasileira e da classe política brasileira.

Outro fato que não há como deixar de registrar é o que vem acontecendo no nosso vizinho país, Venezuela, onde grande parte da imprensa refere que liberdades estão sendo cerceadas. Não vivemos na Venezuela, no entanto, conhecemos o caráter e a natureza daquele governo. O que a mim causa estranheza é que, aqueles que hoje se levantam contra as ditas cassações da liberdade de imprensa, por ocasião do golpe que foi dado ao presidente Hugo Chávez, comandado por uma rede de televisão, naquela data nenhuma referência fizeram, nenhum movimento aconteceu, o Senado Federal não se manifestou, a Câmara Federal não se manifestou e, para tristeza minha, a grande parte dos jornalistas daquela época, não se manifestou.

Agora ocorre exatamente o contrário, fazendo com que possa parecer ao povo brasileiro que o que está acontecendo na Venezuela é um caminho inevitável do cerceamento das liberdades individuais, coisa que este país já experimentou e todos somos efetivamente contra.

O jornalismo é exatamente isso. Não há como, nos dias de hoje - creio que nunca houve -, haver jornalismo isento. Todo ser humano tem a sua posição na sociedade, a sua ideologia, e deve necessariamente ser declarada. O que não podemos admitir é que em nome da defesa de liberdades consagradas do mundo inteiro nos ocultemos atrás de posições interessadas e mercantilistas, e fazermos a crítica daquilo que não temos o menor conhecimento do que efetivamente acontece.

Então, numa data como esta, eu não poderia deixar de destacar esses dois fatores, que são relevantes, e que dizem muito com a vida do jornalismo e das entidades que dirigem a nossa classe. Em virtude disso ficam destacados esses dois momentos que estamos vivendo hoje e que vivemos no passado.

Com relação ao aniversário do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo só há que enaltecer a luta dos companheiros dirigentes e todos os jornalistas, ressaltando que a democracia é o nosso foco e é o foco do jornalismo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Com a palavra agora o Sr. Frederico Barbosa Ghedini, vice-presidente da Federação Nacional de Jornalistas, nosso querido Fred.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA GHEDINI - Deputado Simão Pedro; Deputado Rui Falcão; Presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Augusto Camargo; colega José Paulo; Vereador José Américo; nosso querido Sucupira, nosso homenageado; colega Paulo Canabrava; senhores e senhoras, quero dizer da enorme satisfação de poder representar a Federação Nacional de Jornalistas nesta homenagem.

Parabenizo a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo por este ato, porque homenagear o Sindicato Nacional dos Jornalistas de São Paulo é tomar partido numa questão que é essencial, é o partido das lutas democráticas - certamente não é o partido dos donos da mídia.

Quero realçar esse aspecto porque temos no Brasil um partido que é mais forte do que qualquer outro que está no poder. Temos de enfeixar poderes nas mãos e substituir os militares, sim, senhor. Controlam a opinião pública, controlam o Parlamento, a Presidência da República. Esse é o chamado poder da mídia. Não exatamente naquilo que não lhes interessa ou que não diga diretamente respeito a eles. Mas, sentimos na carne a questão quando discutimos o conselho profissional de jornalistas e os senhores estão percebendo agora na Emenda 3, quando eles querem tornar empresários todos os jornalistas deste País. Artistas e jornalistas serão tidos como empresários. E não há para ninguém.

Quando colocamos o projeto do nosso conselho profissional em discussão, foi um massacre. Simplesmente os parlamentares retiraram da pauta poucos dias depois de iniciada a campanha do partido da mídia. Não houve discussão. Não houve discussão no Congresso, não houve discussão na sociedade. Houve, sim, a manifestação de uma posição: a daquele partido e daqueles que lhes eram favoráveis. Juristas famosíssimos se manifestaram sem ler o texto, para vocês terem idéia desse poder massacrante.

Homenagear a história dos jornalistas é homenagear a história de uma luta, que é a luta pela democracia, mas pela democracia efetiva, onde todos tenham voz, principalmente na mídia. Esse é o pensamento que colocamos quando da discussão do projeto do conselho. Por quê? Concordo plenamente com o que falou o colega Palhares, mas eu desejo muito que o Brasil consiga trilhar um caminho diferente, no sentido de termos uma mídia democrática onde as pessoas possam se manifestar. Não onde os jornalistas não possam marcar suas posições. Concordo com você: todos têm seu posicionamento na sociedade em geral sobre todos os assuntos. Muitas vezes, juristas famosos se manifestam até sem ler o texto.

Isso não quer dizer que o profissional jornalista não deva abrir espaço para o contencioso nos veículos de comunicação. É essa a principal propaganda da chamada grande mídia? Dizer que não tem rabo preso com ninguém, dizer que é independente? Mas faz-se essa propaganda porque é justo, por parte da opinião pública, almejar o espaço plural. É justo, é necessário numa democracia existir o espaço plural. E a função do jornalista - está no Código de Ética do Jornalista - é garantir essa pluralidade, o que não quer dizer que os veículos não devam ter suas linhas editoriais. Linha editorial não pode se confundir com censura, como ocorreu no Meio&Mensagem, quando demitiram o diretor de redação do Meio&Mensagem por ter colocado um boxe lembrando um fato histórico: a posição do Frias de Oliveira na época da ditadura militar.

Ora, o Meio&Mensagem tem linha editorial, mas não pode censurar os seus jornalistas de falarem aquilo que é verdade.

Defendemos a necessidade de um código de ética, de um conselho profissional que vele por esse exercício profissional dos jornalistas, preservando a possibilidade e a existência do contraditório na imprensa. O exercício de uma profissão altiva, de uma profissão com autonomia de trabalho para o jornalista. E homenagear a luta do Sindicato dos Jornalistas é homenagear essa luta principalmente. Lógico, a dignidade do jornalista também, porque o sindicato existe para lutar por essa dignidade, pelos direitos profissionais que essa Emenda 3 quer tirar. Jornalistas e empresários não têm direito a décimo terceiro, a férias, a nenhum direito trabalhista duramente conquistado nesse País.

Senhoras e senhores, essa homenagem é justa, é tomar posição numa luta que é encarniçada, longe dos olhos da sociedade, porque quem deveria mostrá-la faz tudo para esconder.

Portanto, parabenizo a Assembléia Legislativa de São Paulo por tomar posição nesse momento difícil em que se discutem essas questões aqui no nosso País. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - O Fred vai precisar se retirar. Agradecemos a sua presença.

Como Sociólogo quero dizer que fiquei muito honrado em solicitar esta sessão solene e compartilhar com o Deputado Rui Falcão, que é jornalista de profissão e um Deputado muito combativo na Assembléia Legislativa, não só aqui, mas em todas as suas atividades.

Homenagear uma instituição que completa 70 anos em defesa do profissional jornalista, uma instituição que marcou e marca a sua presença na história da luta pela democracia, desde o enfrentamento do Estado Novo, desde a greve histórica de 1961, aquele momento mais difícil durante a ditadura militar na Praça da Sé, aquele grande ato na missa de sétimo dia do nosso saudoso jornalista Vladimir Herzog, o abaixo-assinado de mil jornalistas publicado na “Folha de S.Paulo” e no “O Estado de S.Paulo”, ou seja, momentos de coragem, de combatividade em defesa da democracia. E agora continua essa luta representando os seus quatro mil e quinhentos filiados.

Então, homenagear o Sindicato dos Jornalistas é homenagear a democracia brasileira. Por isso me senti muito honrado e quero agradecer Guto, em seu nome, todo o sindicato, toda a diretoria.

Passo a Presidência desta sessão ao Deputado Rui Falcão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Rui Falcão.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - Esta Presidência quer registrar a presença do Presidente da Câmara Municipal de Bertioga, do Partido dos Trabalhadores, Vereador Jurandir; do Sr. Ricardo Januário Maia e do Sr. José Wilson Cunha Freitas, estudantes de Jornalismo, da Universidade Paulista, UNIP, cursando o terceiro semestre do 2º ano.

Quero registrar ainda mensagem do Deputado Cido Sério, do PT: “Caros Deputados Simão Pedro e Rui Falcão, quero cumprimentá-los pela iniciativa em homenagem ao Sindicato e parabenizar o Presidente e toda diretoria pelos 70 anos de luta pelo reforço da democracia no Brasil.”

Passo a palavra ao Vereador e nosso colega jornalista José Américo, do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. JOSÉ AMÉRICO – Bom dia a todos. Deputado Simão Pedro; Deputado Rui Falcão, que assume neste momento os trabalhos; Palhares, da Carta Maior; Sr. José Augusto de Oliveira Camargo, Presidente do Sindicato dos Jornalistas; José Paulo Kupfler; Sucupira, nosso jornalista mais antigo; Frederico Ghedini, nosso ex-Presidente, homem combativo e comprometido com a nossa luta; senhores ex-presidentes aqui presentes, quero dizer que é com muita satisfação, com muita emoção, que participo do aniversário de 70 anos do nosso Sindicato dos Jornalistas.

Cheguei no Sindicato dos Jornalistas como militante, ainda do movimento estudantil. Era estudante de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP quando participei dos movimentos em protesto pela morte do jornalista Vladimir Herzog, que era nosso professor e que foi assassinado pela ditadura militar. Comecei dessa forma no Sindicato dos Jornalistas, depois fui para lá como jornalista lutar por melhores condições de trabalho, por reivindicações salariais, mas, isso que o Fred colocou para todos nós é fundamental. O jornalista não tem uma ordem, como os advogados, ou conselhos regionais, como outras profissões, como os economistas que também têm ordem e tal.

Temos um sindicato que representa as duas coisas: de um lado ele luta pela dignidade profissional, por melhores condições de trabalho, e por outro luta em defesa da nossa profissão. E luta em defesa - isso é que sempre foi a grande alma do Sindicato dos Jornalistas - da democracia nos meios de comunicação.

A história do Sindicato dos Jornalistas no nosso país se confunde com a luta pela democracia no Brasil e com a liberdade de imprensa. A luta contra a censura fez parte da lutas dos jornalistas, quer dizer, nós, durante a ditadura militar, quando lutávamos por reivindicações salariais, nunca deixamos de levantar a bandeira da luta contra a censura, contra a interferência da ditadura militar nas redações, os censores que permaneciam nas redações. Nunca fizemos isso; nunca abrimos mão dessa bandeira de modo que o nosso sindicato enfeixa essas duas grandes bandeiras, a bandeira da luta reivindicatória sindical, propriamente dita, e a luta por liberdade de imprensa, um esteio fundamental da democracia em qualquer país do mundo.

Queria dizer aqui que sou um pouco menos pessimista. Acho que o setor hegemônico dos meios de comunicação a cada dia que passa se afasta mais do povo. E com isso está perdendo leitores, telespectadores e legitimidade. O que está acontecendo no nosso país, depois que conquistamos a democracia, depois que acabamos com a censura, é a substituição, nas palavras do Fred, da velha e antiga tutela militar, que durante muitos anos foi um poder oculto, às vezes não tão oculto, às vezes aberto no nosso país. A mídia substituiu isso, mas, o povo brasileiro e os jornalistas são muito maiores que tudo isso. E queria dizer com satisfação que o povo percebe, o povo tem espírito crítico e o distanciamento dos meios de comunicação, pelo menos desse setor, do povo tem os levado a perder leitores e legitimidade. As últimas eleições presidenciais foram uma demonstração cabal disso. Alguns jornais foram numa direção oposta àquilo que o povo brasileiro estava pensando. Foi uma dissintonia absurda.

Espero que esses fatos sensibilizem aqueles que acham que podem tudo no nosso país, que podem falar um dia em nome da democracia quando lhes interessa, quando os censores estavam em suas redações, e em outros momentos usam da democracia que foi conquistada pelo povo brasileiro contra os interesses do povo brasileiro em nome, evidentemente, de elites cada vez menores, cada vez mais egoístas e pouco generosas.

Então queria dizer que o nosso povo é forte, os nossos jornalistas têm sensibilidade, lutam no dia-a-dia das redações para que as notícias possam ser veiculadas. É uma luta, como o Fred disse aqui, que não é registrada porque quem deveria fazê-lo não faz. Mas a luta no dia-a-dia das grandes redações brasileiras continua com muitas informações, ás vezes veiculadas somente porque o jornalista, o repórter foi lá, identificou o fato, fez a matéria, brigou, teve o apoio de colegas da redação. É uma situação que pouca gente conhece, nós jornalistas sabemos. Essa luta é importante, é uma luta que tem que continuar.

Quero então transmitir aqui os meus parabéns para o Simão e para o Rui por esta homenagem tão bonita e tão providencial nesse momento por que passamos. Também quero aqui transmitir minha homenagem e o meu apreço ao Guto, que representa toda a nossa categoria. A todos os jornalistas presentes um grande abraço e um feliz 70 anos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - O Simão e eu não somos muito fortes aqui no protocolo mas não poderíamos permitir que ficasse essa omissão aqui. Portanto, quero registrar a presença de um ex-Presidente nosso, reeleito inclusive no seu mandato à época, Everaldo Gouveia. (Palmas.) E também o Diretor do Sindicato dos Químicos do ABC, Cafu, que veio nos prestigiar. (Palmas.) E o Paulinho que representa o mandato do Vereador Donato. (Palmas.) Muito obrigado pela presença de vocês.

Gostaria de anunciar a realização do Seminário sobre a TV Pública, que vai ocorrer nesta Casa, no dia 25 de junho, às 14 horas, no Plenário Teotônio Vilela, com as presenças de Paulo Markum, da TV Cultura; do Franklin Martins, da TV Pública Nacional; e do Prof. Laurindo Leal Filho, Lalo, nosso colega, iniciativa dos Deputados petistas Carlinhos Almeida, Enio Tatto e Vicente Cândido, aos quais nos associamos.

Neste momento, vamos prestar uma homenagem ao nosso colega Eduardo Sucupira, o jornalista mais antigo do nosso sindicato, que já completou um século, felizmente firme, lúcido. Vai receber esta homenagem diretamente do Guto, em nome do Sindicato dos Jornalistas. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

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O SR. EDUARDO SUCUPIRA - Sr. Deputado Vaz de Lima, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Deputados Simão Pedro e Rui Falcão, Deputados presentes, minhas senhoras e meus senhores, um pedido antecipado de desculpas pelas deficiências que posso revelar nos breves momentos em que vou dizer alguma coisa de interesse.

Peço licença para que não se confunda aquilo que tem um aspecto biográfico da minha vida de jornalismo com os acontecimentos gerais e universais do momento histórico-social que estamos vivendo.

De começo, situando a minha posição de jornalista, com referência especial ao Sindicato, que é o meu meio de convivência de muitos anos a esta parte, devo dizer que a minha vida de jornalista foi inspirada por meu pai, que também era jornalista e trabalhava no “Jornal da Tarde”, da Bahia. Ele era positivista. Meu avô também era coronel do Exército positivista e junto com os próceres do movimento abolicionista e da República participou junto com Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Euclides da Cunha e outros próceres que participaram do grande movimento abolicionista e a instauração da primeira República no Brasil.

Já fiz referências ao jornal “Unidade”, onde trabalhei no “Diário da Noite”, no “Diário de São Paulo”, na “Última Hora”, sob a direção do grande jornalista Nabor Caires de Brito, e fui representante da “Imprensa Popular” do Rio de Janeiro, em Buenos Aires, em plena 2ª Guerra Mundial. Tive, naquela ocasião, oportunidade de ver o surgimento e a vitória do peronismo e das lutas ensangüentadas que movimentaram o centro de Buenos Aires.

Preciso citar que colaborei, durante vários anos, no “Estado de S.Paulo”, fazendo recensões de livros sobre filosofia, como “A Voz Operária do Rio de Janeiro”, quando tratei de assuntos de importância para a época, que se referiam a personalidades e seus trabalhos, como “Nietsche e o Existencialismo”, “Pablo Neruda e suas Atividades Político-Partidárias”. Um trabalho sobre “Cervantes e o Espírito do Tempo”, outro sobre Júlio Verne, “Pela Paz e o Progresso”, Friedrich Engels, um grande colaborador de Karl Marx, grande humanista, e essa outra grande figura que foi muito esquecida Augusto Cesar Sandino, herói combatente da Nicarágua.

Quero fazer uma referência sobre um problema sobre o qual nunca consegui uma explicação. Um dos grandes acontecimentos que tivemos na nossa América Latina, que deve ser sempre um momento presente, com esse ideal em desenvolvimento da comunidade Sul Americana de Nações. É um problema que temos de chamar, porque nosso presente e nosso futuro estão na América Latina, com o desenvolvimento a que estamos assistindo.

Participei da Revista de Estudos Políticos da Universidade Federal de Minas Gerais, também fazendo recensões sobre assuntos de filosofia positiva. A referência principal que quero fazer é ao Congresso Continental de La Cultura, realizado no Chile, em abril de 1953, um dos acontecimentos de paz e culturas marcantes da história da América Latina.

Esse congresso foi instalado por força do apelo da poetisa Gabriela Mistral, a quem foi outorgado o Prêmio Nobel de Literatura. A ela aderiu, no Brasil, o Deputado Menotti Del Pecchia, membro da Academia Brasileira de Letras.

É bom mencionar as personalidades que partiram. Além de Menotti Del Pecchia, o cientista Manuel de Abreu, o arquiteto e Presidente do Instituto do Brasil, os escritores Sérgio Milliet, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Cândido Portinari e o ator Procópio Ferreira.

Entre professores, a delegação brasileira era composta de trinta pessoas. Cineastas, pintores, escritores, como Orígenes Lessa, autor do livro “O Feijão e o Sonho”, que fez muito sucesso. Jorge Amado e este que está falando com os senhores, Sucupira, eram os secretários do Congresso.

Quero salientar que esteve presente ao Congresso uma figura feminina que empolgou todas as fases desse acontecimento: a cantora americana Beth Sander, que trouxe o abraço de artistas do seu país. Enfrentando sérias interdições, ela se fez presente ao congresso, pois venceu obstáculos em sua viagem. Disse ela textualmente: “Minha presença é um símbolo do desejo de estar aqui. Dezenas de ‘personas’, com negativas de passaportes a Paul Robson, um dos maiores baixos do mundo, Howard Fast, Albert Kaner, Charles Wight, Gerome, Dr. Debois, Alberto Malta, Michel Gold, e outras pessoas com o mesmo estado de espírito.”

Poderia citar uma série de personalidades das Américas que estiveram presentes, mas não houve tempo de preparar.

Esse congresso teve um aspecto interessante, empolgante, porque dele participou a China, com seu representante Li Mang e dois assessores que falavam perfeitamente o português.

Li Mang foi uma figura que tomou conta do congresso. Desde o dia em que chegou, ele mostrou-se conhecedor de problemas fundamentais e de interesse de todos os representantes dos diversos países da América Latina.

Meus amigos, termino essas breves linhas, um pouco diversificada e trêmula, enviando a todos nossos agradecimentos, extensivos ao Sindicato de Jornalistas Profissionais.

Deixo a minha palavra de paz e entendimento, que deve ser seguida como um ponto importante entre povos e nações. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - Depois desse belo exemplo de vida e luta que nos propiciou o companheiro Eduardo Sucupira, esta Presidência passa a palavra ao Sr. José Augusto de Oliveira Camargo, Presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.

 

O SR. JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO - Bom dia a todos, companheiros da Mesa Diretora, Deputados, jornalistas, Deputados jornalistas, vereador jornalista, agradeço pela presença de todos, em particular à direção dos trabalhos de hoje, que num ato de reconhecimento e também de carinho para com o sindicato organizou esta sessão solene em homenagem aos 70 anos.

Quando falamos no final há algumas vantagens, pois o assunto já está suficientemente esclarecido, de modo que temos uma liberdade maior, não precisamos nos fixar em determinados temas que já foram abordados. Mas a desvantagem é que perdemos a chance de nos referir a algumas coisas porque corremos o risco de ficar repetitivo. Nesse sentido saúdo os que fizeram uso da palavra, os que analisaram um pouco da história do sindicato, os que fizeram análises conjunturais, os que protestaram, os que usaram desta tribuna para fazer suas propostas, para apresentar suas idéias, divulgar seus protestos. Acho que é para isso que serve a tribuna legislativa quando oferece este espaço para as organizações, para as entidades, para a sociedade. Nesse sentido, todas as falas foram bastante pertinentes, colocando-nos reflexões que temos de levar adiante.

Entendo que estamos hoje fazendo, na verdade, uma dupla homenagem. A homenagem formal, oficial à entidade, Sindicato dos Jornalistas, que completou seus 70 anos no dia 15 do mês anterior. E hoje, 1º de junho, é o Dia Nacional da Imprensa, cuja história passa despercebida e a data é muito simbólica.

Certamente os jornalistas que estão aqui se lembram que até um tempo atrás o Dia da Imprensa não era comemorado no dia 1o de junho, mas em 10 de setembro. Através de uma lei, alterou-se a data para o dia de hoje. O motivo passa despercebido.

A 10 de setembro de 1808, mesmo ano em que a Família Real veio ao Brasil, circulou no Rio de Janeiro o número um da “Gazeta do Rio de Janeiro”. Foi o primeiro jornal impresso no Brasil, por isso dizia-se o dia da imprensa. Mas três meses antes disso, em 1o de junho de 1808, foi impresso em Londres o Correio Braziliense que vinha de maneira clandestina para o Brasil, estava sendo editado em Londres pelo Manoel Hipólito da Rocha, um gaúcho exilado porque pregava a independência do Brasil. Ele era perseguido tanto no Brasil quanto em Portugal. Exilou-se em Londres e publicou o “Correio Braziliense”, o primeiro jornal brasileiro. E a Fenaj teve uma atuação de destaque em Brasília na aprovação da lei que transferia o Dia da Imprensa de 10 de setembro para 1o de junho.

Por que pedimos essa mudança? Porque entendemos que a essência do jornalismo não estava em comemorar aquilo que representava a “Gazeta do Rio de Janeiro”, um jornal oficial, um jornal concedido pela Coroa Portuguesa no Brasil. Não sei se podemos chamar de um Diário Oficial, mas talvez fosse alguma coisa semelhante a isso. Ao mesmo tempo circulava no Brasil, de maneira clandestina, um jornal que tinha uma posição política muito mais próxima das aspirações populares, que pregava os ideais libertários da Revolução Francesa. Havia, naturalmente, esse choque de posições. Entendemos que essa era a homenagem que deveríamos fazer na imprensa.

Tenho repetido isso em outros momentos. Acho que essa origem é bastante simbólica.

De 1808 até agora vamos completar 200 anos no ano que vem, certamente motivo para uma nova sessão solene: 200 anos de imprensa no Brasil. Cento e noventa e nove anos de imprensa hoje. Nesses 199 anos, essa dicotomia, essa separação entre imprensa oficial, alinhada com o poder, alinhada com os poderosos, uma imprensa que, se não se identificava com o poder, identificava-se com as aspirações populares. Essa é a trajetória da imprensa. Isso simboliza a história da imprensa brasileira.

Podemos lembrar uma série de momentos em que as empresas de imprensa se alinharam ora de um lado, ora de outro lado, segundo situações específicas, concretas. Podemos citar dezenas de casos, alguns já foram lembrados.

Havia momentos em que certos veículos de comunicação eram dóceis e favoráveis à ditadura militar e em outros momentos assumiam bandeiras populares.

Essa origem do Dia da Imprensa com essa separação entre o jornal oficial e o jornal de oposição traduz a história da imprensa brasileira ao longo destes 200 anos. Mas também temos de entender que não se faz imprensa sem o trabalhador da imprensa, sem o jornalista.

Por isso ao homenagear agora, no Dia da Imprensa, os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas, estamos homenageando também os profissionais que fizeram essa imprensa, os profissionais que construíram essa história. Nada mais pertinente do que homenagear os profissionais que fizeram essa história da imprensa através da sua representação sindical.

Nestes 70 anos, pouco mais que um terço da história da imprensa foi construída com a existência do Sindicato dos Jornalistas.

Assim como podemos citar casos em que a imprensa se posicionou ora de um lado, ora de outro dessa dicotomia, também podemos fazer o mesmo quanto aos profissionais. Profissionais que se aliaram e defenderam intransigentemente os interesses populares. Acho que o testemunho dado pelo Eduardo Sucupira encerra este pensamento.

Temos também momentos não tão gloriosos, onde os profissionais da imprensa abdicam dessa nossa missão histórica e se aliam com o poder, com os interesses econômicos e não honram essa tradição da imprensa brasileira e do Sindicato dos Jornalistas.

Este é um momento de festa, de comemoração, mas não pode deixar de ser um momento de reflexão. Todos os oradores que me antecederam fizeram deste momento um momento de reflexão. Acho que isso foi muito importante, tornou esta cerimônia ainda mais interessante, não foi apenas mais uma simples homenagem, mas um debate de temas nacionais, de posições, de idéias, de propostas, que é em essência o que os jornalistas têm de fazer, o papel que a imprensa tem de cumprir.

É nesse sentido que encerro minhas palavras, dizendo que estamos construindo essa imprensa que acreditamos através dessa passagem, dessa dicotomia, dessa oposição entre a posição que assumimos em defesa dos valores populares e a imprensa que combatemos porque não cumpre seu papel de informar a população. Temos de nos preparar para superar esse problema para que a imprensa e os jornalistas efetivamente cumpram seu papel histórico, que esteve na origem da data de 1o de junho como Dia da Imprensa e na origem da data do motivo da criação do Sindicato dos Jornalistas há 70 anos. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - Quero registrar a presença do Sr. Marcel Naves, representando a Rádio Eldorado.

Vou passar a Presidência desta sessão ao nobre Deputado Simão Pedro para dirigir algumas palavras às senhoras e aos senhores.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Simão Pedro.

 

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O SR. RUI FALCÃO - PT - Caro companheiro, Deputado Simão Pedro, que co-preside esta solenidade; caro José Américo, vereador, jornalista, um dos líderes da greve dos jornalistas em 1979 e que desde antes mantém uma linha de coerência, de atuação política ao lado dos trabalhadores; caro Joaquim Palhares, que dirige uma das poucas publicações independentes hoje em nosso País, junto com o jornal “Unidade”, que é um jornal sem patrões, a publicação “Carta Maior”, por cuja manutenção por ela devemos lutar em conjunto para que prospere e mantenha a sua linha independente e combativa; caro Sucupira, que nos deu aqui um breve retrospecto de uma luta em defesa da cultura, das idéias, da liberdade, da paz e de uma sociedade mais justa; caro Paulo Canabrava, que foi um dos repórteres políticos mais combativos de sua época, que partiu para o exílio e continua mantendo acesas as suas idéias e as suas lutas; caro Almyr Gajardoni, um dos textos mais brilhantes que já conheci na imprensa brasileira; caro Carlos Marques, da nossa Associação Brasileira de Imprensa, que participou de todas as lutas democráticas do nosso País; caro Fred Ghedini, ex-presidente do nosso sindicato, agora na Fenaj, comprometido com a luta pela democratização da comunicação; Sr. Eduardo Cardoso de Almeida Castanheira, que representa aqui o Delegado Geral; caro José Augusto Camargo, o nosso Guto, a quem homenageamos em nome do Sindicato dos Jornalistas; caro José Paulo Kupfer, um dos pioneiros do jornalismo econômico crítico do nosso País, que tem, inclusive, ajudado em seminários e debates que promovemos nesta Casa, hoje é um dia que precisamos fazer um registro inicial.

A iniciativa da convocação desta Sessão Solene foi na verdade do Deputado Simão Pedro, que tivera a idéia antes que assumíssemos o mandato aqui. O Deputado Simão Pedro, de forma muito fraterna, muito companheira, sabendo que sou jornalista de profissão e até hoje sou associado ao Sindicato dos Jornalistas, concedeu-me a possibilidade de co-patrocinar esta homenagem, o que muito me gratifica, porque tenho a oportunidade aqui de ver várias gerações: algumas pessoas aqui são mais antigas do que o nosso próprio sindicato, e outras são quase contemporâneas da sua fundação.

Temos aqui dois jovens, que estão se iniciando no Jornalismo, os quais acho que vão poder tirar lições desse evento. Espero que ao se formarem e adquirirem o carteirinha de jornalistas continuem na trilha da coerência do que ouviram aqui de muitos.

Muito já se disse aqui sobre o nosso sindicato, mas vou repetir em breves palavras que ele sempre esteve associado à luta pela democracia. Os momentos mais recentes são os das greves, que fazem história, fazem conquistas, fazem avançar direitos. O nosso sindicato fez duas greves importantíssimas: a de 1961 e a de 1979.

O Deputado Simão Pedro aludiu aqui sobre o episódio Vladimir Herzog, a missa da Sé, a publicação da convocatória. Mas é bom que se lembre que “O Estadão” só publicou a convocatória mediante apresentação de quatro assinaturas com RG. As assinaturas foram de Perseu Abramo, Fernando Pacheco Jordão, Raimundo Pereira, que lançou e dirigiu os jornais “Opinião” e “Movimento”, e de Gabriel Romeiro, que também foi presidente do nosso sindicato. Esse era o preço para publicar o anúncio convocando os companheiros e as companheiras para a missa do Vladimir Herzog, que foi um marco na luta pela derrubada da ditadura no Brasil.

Hoje, o nosso sindicato cuida também de ajustar a categoria, de defendê-la aos novos tempos do mercado informal, dos PJs, das novas formas de comunicação, da internet. É uma luta difícil que o Guto e os seus companheiros de diretoria têm dirigido muito bem e para a qual se requer muita unidade, muita participação, muita luta.

Modestamente, gostaria de dizer que temos duas bandeiras agora para empunhar: uma é a luta pela radicalização da democracia no Brasil. Porque é difícil haver democracia plena quando convivemos com monopólios da comunicação, aqueles que impedem em toda a sua extensão o direito social à informação. A informação enviesada, a informação que mantém na ignorância e na alienação parcelas da nossa sociedade. Um monopólio que impede que governos populares possam alterar correlação de forças. Então, para os jornalistas que têm por tradição defender a democracia e a liberdade de expressão, continuar a luta contra o monopólio da comunicação é um dever de cada um de nós.

Da mesma maneira há sinais que se possa caminhar nessa direção com a instituição de uma TV pública não estatal, não chapa branca, que permita múltiplas versões, e que seja formadora também. Acho que esse é um compromisso a que nós todos devemos nos vincular.

A outra grande bandeira que também está associada a essa é a reforma política. É fundamental divulgarmos informações e ajudarmos a ampliar a compreensão sobre o que é uma reforma política. Aquela que erradica práticas de corrupção, aquela que favorece a transparência, mas também aquela que amplia as formas de participação popular. Que não seja apenas a participação popular nas eleições, que garanta plebiscitos, referendos, consultas, como em outras sociedades democráticas que conhecemos. É equivocado dizer que o plebiscito e o referendo são formas de salvacionismo e de populismo. São formas de consultas à população, que são freqüentes nos Estados Unidos, na França, na Suíça, e que poderíamos adotar também.

Por fim, muitos jornalistas têm empunhado essa bandeira, têm ajudado até a esclarecer muitas questões. É algo que na América Latina, principalmente, na América do Sul, na Argentina, no Chile, e no Uruguai - as denúncias da imprensa permitiram que se avançassem nessa direção - diz respeito à defesa dos direitos humanos. E, aqui, no Brasil, temos um débito. O primeiro débito é botar a nu todos os documentos referentes ao período da ditadura militar. (Palmas.)

E a outra que está associada a essa a identificação, o julgamento e a punição de todos aqueles que cometeram crimes contra a humanidade, os torturadores que até hoje não foram punidos em nosso País, porque a anistia não cobre os crimes contra a humanidade. E os crimes contra a humanidade são imprescritíveis. E a imprensa democrática e os jornalistas democráticos, muitos dos quais deram a sua vida no Brasil para que a democracia pudesse prosperar, têm essa bandeira ainda para empunhar e para fazê-la valer: a luta pela efetivação plena dos direitos humanos no nosso País.

Assim, ao dizer isso, quero saudar os nossos colegas jornalistas, saudar o Guto que nos representa a todos, e por estarmos completando 70 anos num Brasil que avançou muito, que tem democracia, que tem um presidente vindo das lutas operárias, mas que tem muito a avançar e muito a construir com a participação dessa categoria, à qual tenho muito orgulho de pertencer. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Quero anunciar também as presenças de Enio Taniguchi, jornalista e assessor do Deputado Mário Reali; do Vereador Toninho Kalunga, do PT de Cotia e de Edmar Prandini, assessor do Vereador Beto Cangussú, de Ribeirão Preto. Obrigado pelas presenças de todos vocês!

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa, em particular ao pessoal do Cerimonial, que nos orienta em todos os momentos, à ALTV, TV desta Assembléia, que neste ano completa 10 anos de funcionamento, e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade. Bom-dia e um bom fim de semana a todos! Obrigado.(Palmas.)

Está encerrada a sessão.

 

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-  Encerra-se a sessão às 12 horas e 15 minutos.

 

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