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02 DE ABRIL DE 2012

012ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DOS “100 ANOS DE APOLÔNIO DE CARVALHO”

 

 

Presidentes: SIMÃO PEDRO, RUI FALCÃO e ADRIANO DIOGO

 

RESUMO

001 - SIMÃO PEDRO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que o Presidente Barros Munhoz convocara a presente sessão solene, a requerimento dos Deputados Rui Falcão, Adriano Diogo e Simão Pedro, na direção dos trabalhos, com a finalidade de "Comemorar os 100 Anos de Apolônio de Carvalho". Convida o público para, de pé, ouvir o "Hino Nacional Brasileiro". Faz histórico da vida de Apolônio de Carvalho. Informa que o homenageado foi criador e o primeiro militante do PT. Anuncia a exibição do documentário "100 anos de Apolônio de Carvalho".

 

002 - MARLY DE ALMEIDA

Escritora do livro "Reneé France de Carvalho: Uma Vida de Lutas", destaca a importância de Reneé France de Carvalho, viúva de Apolônio de Carvalho, na vida do homenageado. Fala sobre a participação da Senhora Reneé em revoluções ocorridas em outros países e de sua atuação na política brasileira. Agradece o apoio concedido pelo ex-Ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannucchi, na publicação de seu livro.

 

003 - Presidente SIMÃO PEDRO

Ressalta a importância de Apolônio de Carvalho para a militância política do Brasil.

 

004 - RUI FALCÃO

Assume a Presidência.

 

005 - PAULO TEIXEIRA

Deputado Federal, saúda os presentes. Considera justa a homenagem a todos que lutaram contra a ditadura militar. Destaca a criação de "Comissão da Verdade", no Congresso Nacional. Recorda que Apolônio de Carvalho lutou contra diversos regimes totalitários, dentre os quais o nazismo.

 

006 - JOSÉ DIRCEU

Ex-Chefe da Casa Civil, destaca a importância de Apolônio de Carvalho para o Partido dos Trabalhadores. Ressalta a experiência do homenageado e a ajuda por ela prestada à executiva nacional do PT.

 

007 - RAUL DE CARVALHO

Filho de Apolônio de Carvalho, agradece a homenagem prestada por esta casa a seu pai. Fala sobre o convívio familiar com Apolônio de Carvalho. Destaca a contribuição do homenageado na formação de novos militantes.

 

008 - IDIBAL PIVETTA

Advogado, autor e diretor de teatro, recita poesia, de autoria própria, em homenagem a Apolônio de Carvalho.

 

009 - ADRIANO DIOGO

Assume a Presidência.

 

010 - RUI FALCÃO

Deputado Estadual, presta homenagem à senhora Reneé France de Carvalho. Destaca a influência dos ideais de Apolônio de Carvalho na vida deste Parlamentar. Fala sobre a ajuda prestada pelo homenageado ao PT. Menciona críticas do ex-revolucionário ao capitalismo.

 

011 - EDUARDO SUPLICY

Senador, recorda contribuições de Apolônio de Carvalho ao Partido dos Trabalhadores. Cita lutas do homenageado contra o nazismo, o franquismo e a ditadura brasileira.

 

012 - PAULO VANNUCCHI

Ex-Ministro de Direitos Humanos, saúda os presentes. Comenta prefácio, escrito pelo ex-Presidente Lula, ao livro "Reneé France de Carvalho: Uma Vida de Lutas", da escritora Marly de Almeida. Faz menção a episódios da vida de Apolônio de Carvalho. Reflete acerca da etimologia da palavra revolucionário. Recorda o passado militar de Apolônio de Carvalho, Luis Carlos Prestes, e outros revolucionários brasileiros.

 

013 - RENEÉ FRANCE DE CARVALHO

Viúva de Apolônio de Carvalho, agradece a realização desta solenidade em homenagem a Apolônio de Carvalho.

 

014 - Presidente ADRIANO DIOGO

Recorda ex-integrantes do PT. Lamenta o número de brasileiros desaparecidos durante a Ditadura Militar. Menciona crimes contra a humanidade já cometidos por regimes totalitários. Tece comentários acerca do andamento dos trabalhos da "Comissão da Verdade". Destaca a participação do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva na fundação do PT. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Simão Pedro.

 

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O SR. PRESIDENTE – SIMÃO PEDRO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Boa noite a todos. Vamos dar início a Sessão Solene que homenageará o militante político de extrema grandeza, Apolônio de Carvalho. Para dar início a nossa sessão, constituirei a Mesa dos nossos trabalhos. Quero convidar o Deputado Adriano Diogo, quero solicitar uma salva de palmas, que é, comigo e com o Deputado Rui Falcão, um dos organizadores. E também o Deputado Rui Falcão, que é Presidente Nacional do PT. (Palmas.)

Também solicitar uma calorosa salva de palmas para Renée France de Carvalho, viúva do companheiro Apolônio de Carvalho. (Palmas.)

E aqui conosco também à esquerda, o ex-Ministro Paulo Vannucchi, ex-Ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, do Governo Lula. (Palmas.)

Estão aqui conosco também o filho do Apolônio de Carvalho, o Raul de Carvalho; o ex-deputado estadual, federal, ex-Chefe Ministro da Casa Civil, José Dirceu. (Palmas.)

Deputado Federal Paulo Teixeira; Marly de Almeida Gomes Vianna, escritora do livro “Apolônio de Carvalho”. (Palmas.)

Companheiro Idibal Pivetta, autor e diretor de teatro, advogado de ex-presos políticos; quero agradecer também a presença do Alexandre Curiati, representando o Deputado Estadual Antonio Salim Curiati. (Palmas.)

Uma salva de palmas também ao nosso vereador, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo, Ítalo Cardoso. (Palmas.)

Agradecer ao Edson Pinto, Delegado de Polícia Civil, representando o Delegado Geral de Polícia Civil, Marcos Carneiro.

Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da ata da sessão anterior. E convido a todos para, de pé, ouvirmos a execução do Hino Nacional Brasileiro, executado pela da Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Subtenente PM Samuel.  

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Quero agradecer ao Subtenente Samuel e a todos os componentes da Banda da Polícia Militar, sempre presentes aqui conosco. Muito obrigado.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, minhas Senhoras e meus Senhores, essa Sessão Solene foi convocada pelo Presidente dessa Casa, Deputado Barros Munhoz, atendendo solicitação dos nobres Deputados Rui Falcão, Adriano Diogo e deste deputado com a finalidade de homenagear os 100 anos de nascimento de Apolônio de Carvalho.

Para que os nossos telespectadores e todos possam saber, Apolônio, um brasileiro nascido no Mato Grosso do Sul, iniciou a sua carreira como profissional militar, chegou a ser Tenente no Rio de Janeiro, foi caçado e expulso do Exército por se colocar contra o golpe militar dado pelo Getulio Vargas, isso no início dos anos 30. A partir daí, ele se alistou em uma brigada internacional para apoiar os revolucionários na Espanha contra a ditadura do General Franco.

Depois dali ele foi para a França combater a invasão dos nazistas alemães na guerra mundial, lutou na resistência francesa, por isso foi considerado pela pátria francesa, um herói. Foi nesse período que ele conheceu e se casou com a Renée, tiveram dois filhos, depois do final da 2ª Guerra Mundial voltaram ao Brasil, ajudaram a construir o PCB, o Partido Comunista Brasileiro. Tiveram que ir para a clandestinidade, depois, no Golpe Militar, foram à resistência do Golpe. O Apolônio foi o criador do PCBR, foi preso, torturado, exilado.

Retornando ao Brasil, ajudou a fundar o PT. Foi o militante número um. A primeira ficha de afiliação do PT no nascimento do Partido, aqui no Colégio Sion, ele foi o primeiro militante, ao lado do Lula, Jacó Bittar, Zé Dirceu e tantos outros que naquele momento, lutaram para redemocratizar o país.

E o Apolônio, um exemplo de militância, um entusiasta de transformação da nossa sociedade, uma pessoa que sempre cultivou e animou as pessoas, dando-lhes esperança de que é possível construir um mundo democrático, justo e fraterno.

É um orgulho para nós tê-lo muito próximo de muitos daqui, que tem muitas histórias para falar sobre Apolônio. Então, essa é uma homenagem muito justa, um brasileiro que nos dá muito orgulho. Um militante, um combatente revolucionário, nós precisamos sempre cultivar sua memória e aquelas coisas que ele nos ensinou. Para nós três, Adriano Diogo e Rui Falcão, é muito importante e um prazer muito grande podermos organizar essa Sessão Solene para essa justa homenagem.

Agora nós vamos assistir a um vídeo sobre Apolônio.

Antes do vídeo, anuncio a presença do Senador Eduardo Suplicy, a quem eu solicito uma salva de palmas. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação do vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Para corrigir, a Marly de Almeida Gomes Vianna, que está aqui conosco, é organizadora do livro “Uma vida de lutas”, que é o livro de memórias da Renée France de Carvalho. Depois, quem tiver interesse no coquetel, a Renée estará lá para autografar.

Eu quero fazer um convite à Marly de Almeida, para que possa fazer uso da palavra. Enquanto a Marly se aproxima, anuncio a presença do Capitão PM Antonio Carlos Luiz Magalhães, representando o Coronel PM José Luis Martins Navarro. Obrigado pela presença.

 

A SRA. MARLY DE ALMEIDA - Bom dia. Em primeiro lugar, quero agradecer o convite e dizer da minha felicidade de estar aqui. Eu tive a honra de conhecer Apolônio e de ser amiga da Renée. Apesar da comemoração dos 100 anos de Apolônio, e de estar de uma maneira muito comovente no livro dele e na fala dele, Apolônio foi um homem que lutou a vida inteira pelo que se imagina, se luta de melhor para a humanidade. Quero destacar a figura da Renée, que foi com quem nós trabalhamos nesses últimos três anos. Querendo dizer que eu, quando trabalhei sobre 35, fui entrevistar o Apolônio no ano de 1988, e, desde então, eu brigo com a Renée para ela dar o depoimento dela. E a Renée, modesta como sempre, levou 21 anos para aceitar dar esse depoimento, que está hoje nesse livro. E eu queria chamar a atenção porque as mulheres sempre ficam um pouco na retaguarda. E não é pouco ficar na retaguarda de um revolucionário.

Mas a Renée não é só retaguarda. Ela começou a luta com 14 anos de idade na França, lutando pela Frente Popular. Depois, lutando ativamente em solidariedade aos revolucionários republicanos espanhóis. Quando termina a guerra civil da Espanha, começa a segunda guerra mundial e a Renée se engaja ativamente na luta guerrilheira contra o nazismo não só no seu país, não só em Marselha na França, no mundo.

Foi aí que ela conheceu Apolônio e os dois lutaram ativamente contra o nazismo, fazendo ‘N’ tarefas de ligação e inclusive de participante da luta armada. Depois de toda essa luta vitoriosa, Renée vem ao Brasil com Apolônio e seus companheiros que o Partido Comunista tinha chamado, era uma ordem para ele, tendo um filho de dois anos, o Renê, e esse aqui chegou na barriga, para nascer um pouco depois.

E Renée viu-se em uma terra estranha, sem falar uma palavra de português, com duas crianças pequenas. E ela brinca que esse sotaque que ela adquiriu, foi porque ela aprendeu português não foi falando ou ouvindo, foi lendo jornal sozinha e se virando para conseguir aprender a língua. Lutou muitas vezes com Apolônio afastado, viajando. Foi militante do Partido, viveu em uma clandestinidade um pouco forçada dos anos 40, depois que o Partido Comunista foi colocado em uma ilegalidade. Depois, na retaguarda de um lado, ajudando, e por outro lado fazendo as tarefas do Partido aqui em São Paulo. Participou da Comissão de educação e mais tarde, junto com Apolônio, enfrenta a chamada “gloriosa de 64”, que fez 48 anos ontem e entrou em uma grande clandestinidade. Depois, quando Apolônio rompe com o Partido e funda o PCBR, é preso em 1970, Renée viveu momentos terríveis da vida dela, porque ela não teve só o marido preso e barbaramente torturado, como teve os filhos também, presos e barbaramente torturados. Eu não sei como essa mulher aguentou, resistiu, lutando sempre sem perder a esperança, com otimismo, porque se nós costumávamos dizer que o idealismo do Apolônio era fazer o sonho sonhar, era a Renée que puxava. Manteve a família unida, manteve os filhos que criou muito bem. Enfim, é uma figura absolutamente extraordinária e a vida dela está contada no livro. Eu quero, antes de terminar, agradecer a Perseu Abramo e agradecer muito ao Ministro Paulo Vannucchi, que, há muito tempo, quando soube do livro, apoiou de todas as maneiras a realização do livro. E quero dizer do meu orgulho de poder dizer que sou amiga de Apolônio e de Renée. Obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado, Marly. Eu vou passar agora a Presidência da Mesa ao Deputado Rui Falcão, mas antes quero só dizer, Renée, que eu sou de uma geração, nasci em 1964, dois meses depois do golpe. Mas já na juventude, morando aqui em São Paulo e militando nos grupos de juventude da Igreja Católica, das comunidades de base, vendo o PT surgindo, militando nos movimentos populares aqui na cidade de São Paulo, o Apolônio foi uma das pessoas que nos inspiravam muito.

Lembro-me de uma entrevista dele em 1980, e ele era aquela pessoa que inspirava as pessoas a darem um sentido na sua vida. Eu sempre me perguntava por que eu faço militância. E sempre que eu me fazia essa pergunta, lembrava-me do Apolônio. Uma frase dele, muito forte já nessas ultimas entrevistas, no documentário “Vale a pena sonhar”, ele dizia que as pessoas precisam ter um sonho, um horizonte, precisam dar um sentido para a sua vida, porque senão não vale à pena ter vivido. Então, Apolônio foi uma dessas pessoas que com muita inteligência, lucidez, foi um animador.

Lembro-me muito bem na crise que o nosso PT viveu em 2005, ele foi uma pessoa com muita lucidez, dizendo que nós tínhamos que nos animar para ir para frente, porque tínhamos um caminho muito grande para percorrer. Apolônio foi um desses militantes que nos inspirava e nos apontava nos momentos mais difíceis. Pela sua trajetória, era isso que esperávamos mesmo. Então, para mim, é uma honra muito grande fazer parte dessa Sessão Solene. Muito obrigado e passo a Presidência agora ao Deputado Rui Falcão. (Palmas.)

 

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- Assume a Presidência o Sr. Rui Falcão.

 

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O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - Quero registrar a presença entre nós, do Vereador Edgar Nóbrega, do PT de São Caetano. Passo a palavra ao Exmo. Sr. Deputado Federal, ex-líder da Bancada do PT, Deputado Paulo Teixeira.

 

O SR. PAULO TEIXEIRA - Bom dia. Eu quero cumprimentar o Deputado Rui Falcão, Presidente Nacional do PT, que preside essa Sessão Solene, os Deputados Simão Pedro e Adriano Diogo, da iniciativa dos três para a realização dessa Sessão. Nosso querido e sempre Ministro Paulo Vannucchi, Renée, Raul, quero cumprimentar também o Senador Suplicy, Edgar, o Deputado José Dirceu, Senhoras e Senhores.

Quando olhamos o momento que estamos vivendo no Brasil e no mundo, no Brasil nós vivemos um momento de mudanças na sociedade brasileira. Momento de mudanças bastante significativas. O povo, os mais pobres passam a ter políticas muito claras, e refletivas que mudam a vida das pessoas mais pobres, 40 milhões de brasileiros que ascendem socialmente.

Mas para que nós tenhamos esse sucesso, muitos lutaram contra a ditadura militar, foram à luta, muitos perderam a vida, foram presos, suas famílias sofreram enormes sacrifícios. Portanto, temos que fazer homenagens àqueles que lutaram, por isso da aprovação do Congresso Nacional por iniciativa do então Ministro Paulo Vannucchi, do Presidente Lula e da então Presidente Dilma Rousseff, da Comissão da Verdade.

Nós queremos passar a limpo aquele período do Brasil e que todos os brasileiros conheçam o que aconteceu naquele período do nosso país. Tantos lutaram, tantos perderam suas vidas, tantos foram presos, tantos tiveram a sua liberdade cercada. E para que nós tenhamos esse país de mudanças, nós temos que fazer homenagens aos nossos lutadores. Dentre eles, um grande lutador foi Apolônio de Carvalho e essa família maravilhosa da Renée, do Renê, do Raul, dos netos, sobrinhos e a todos relacionados a eles.

Portanto, o que estamos vivendo no Brasil hoje, temos que prestar homenagens a essas pessoas. E não só no Brasil. O Apolônio lutou contra a ditadura brasileira, foi barbaramente torturado, preso; sua família sofreu tortura e uma série de privações, mas ele lutou também contra um dos piores regimes que nós vivemos na humanidade no século passado, que foi o nazismo. Ele lutou contra o nazismo na resistência francesa. E, um pouco antes, lutou contra o Franquismo, a Monarquia Franquista na defesa dos republicanos na Espanha. Então, ele fundou um mundo.

Ele lutou na Europa para que a Europa tivesse a democracia com grande conteúdo social, como foi a social democracia europeia depois da segunda guerra. Por isso, é importante quando os jovens vão às ruas na Espanha, na França, contra o neoliberalismo, eles possam resgatar essa luta do que foi na França contra o neoliberalismo, e na Espanha contra o Franquismo. Quer dizer, foi uma democracia que garantia direitos e que não permitia que eles fizessem aquela farra econômica que estourou, explodiu em 2009. Por isso, quando disseram aqui que o Apolônio nasceu em Corumbá, lembro-me de uma fala de um camponês, um trabalhador rural do Mato Grosso. Perguntaram para ele, você tem medo de onça? E ele falou assim “de onça eu não tenho medo, eu tenho medo do IBAMA”.

Então, eu creio que o Apolônio não tinha medo de onça. Ele, ao lutar contra o Franquismo, o nazismo e lutar contra a ditadura brasileira, mostrou enorme coragem. Mas, além da sua grande coragem, ele tinha um coração que levava o sentimento do mundo, de igualdade, democracia, que elevava os melhores valores, que são os valores da criação, da construção de uma sociedade fundamentalista.

E ele o fazia com um sorriso sereno e generoso na sua face. Para ele, lutar nunca foi um peso, sempre foi motivo de alegria, de prazer, porque ele estava lutando pelos seus ideais, e esses ideais que o povo francês, o povo espanhol e o povo brasileiro podem hoje desfrutar dessa sociedade democrática, sociedades que possam fazer pelo mais pobre e garantir a dignidade de todos.

Por isso Apolônio vive entre nós. E fazemos a homenagem dos seus 100 anos, e esperamos comemorar toda vida, essa vida maravilhosa dele e de sua família, que nos legou os ensinamentos que podem fazer com que os jovens que hoje questionam a ditadura militar como aconteceu no dia 30, 31 e ontem, possam estimular esses jovens, uma nova geração de lutadores sociais que possam continuar construindo esse país de democracia e de justiça social. Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - Passo a palavra ao Deputado José Dirceu. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ DIRCEU - Renée, Raul, os companheiros e companheiras que estão na Mesa, deputados, ex-ministros. Eu acho que seria importante resgatar do ponto de vista histórico, Renée e Raul, a participação do Apolônio no PT; porque o Apolônio, além de ter sido um lutador contra o Franquismo e fascismo, ter lutado contra o estado novo, contra a ditadura militar, ele tem um papel muito importante na construção e constituição do PT, não só porque ele emprestou seu nome, seu prestígio, imagem, história, carisma, ao participar da fundação do PT, que ligava várias gerações a essas lutas históricas da humanidade, como ele mostrou-se uma rica experiência na executiva nacional do PT.

Eu viajei com o Apolônio logo no começo para organizar o PT em vários estados do Brasil, porque nós tínhamos a exigência legal e tínhamos 20% dos municípios em cada estado, em nove estados se não me engano e um número determinado de filiados, mas nós tínhamos que, principalmente, levar a mensagem do PT, articular e atrair para o PT vários lutadores. E ninguém melhor que o Apolônio para fazê-lo.

Pela liderança que ele exercia, pelo poder que ele tinha, inclusive de convencimento. Mas também o PT não foi construído sem grandes debates, dilemas e opções. A primeira opção se nós legalizávamos ou não o PT, porque havia correntes que diziam que o PT não devia ser legalizado, que isso era submeter à ditadura. Alguns inclusive que o PT não devia participar de eleições.

E o Apolônio, com sua experiência com várias lutas, imaginem ter uma experiência em 80. Nenhum de nós tínhamos essa experiência, a experiência e o conhecimento que o Apolônio tinha. Ele era um homem do mundo. Tinha vivido na França, na Espanha, conhecia o mundo, era comunista, tinha militado no Partido Comunista Brasileiro, tinha fundado o PCBR com o Mário Alves e outros, tinha lutado na resistência armada contra a ditadura, e foi muito importante durante aqueles primeiros anos, a capacidade do Apolônio em nos fazer compreender a necessidade inclusive do PT fazer alianças. Um dos primeiros diligentes do PT que nos alertava para a necessidade de alianças na sociedade, e não falo apenas de aliança política partidária. O Apolônio falava de aliança, de formar blocos sociais, de reunir interesses. Primeiro os interesses nacionais. Ele tinha essa experiência da luta anti-imperialista da cidade, de como formar no Brasil uma aliança que incorporasse setores para além das classes trabalhadoras e populares. Depois, as alianças políticas também.

Apolônio sempre se preocupou muito com a nossa capacidade de gestão pública, de governar, com os problemas de Governo. Então, ele trouxe para a executiva nacional uma experiência histórica, uma autoridade que nós não tínhamos. E deu uma grande contribuição para a construção do PT, até quando se retirou por vontade própria da Executiva Nacional do PT, mas continuou como filiado e militante do PT. Eu acho inclusive que é algo para pesquisar. Muitos que conviveram com o Apolônio lembram-se dele no Diretório Nacional e na Assembleia Legislativa, nos nossos atos públicos e nos debates políticos do PT. Apolônio sempre estava presente nos debates teóricos, ele tinha a base política teórica e cultural grande, mas também na disputa política, nos planos de ação e de luta, na política de aliança e nos planos de governo.

Deixou-nos também esse legado, além do exemplo de vida que ele nos deixa, que é um exemplo de vida para os futuros e atuais, deixou para os petistas, para a construção do PT, um grande legado. Então, vamos resgatar e homenagear Apolônio de Carvalho, que já faz parte da nossa história e do povo do Brasil. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - Registrar a presença do Mauro Scarpinatti, que representa o deputado do PT, Enio Tatto. Passo a palavra agora ao Raul de Carvalho, filho de Apolônio de Carvalho.

 

O SR. RAUL DE CARVALHO - Bom dia a todos. É uma grande alegria nós estarmos aqui. Inicialmente, eu gostaria de falar em nome da minha mãe também, de agradecer esse evento, essa manifestação, especialmente em nome dos Deputados Simão Pedro, Rui Falcão e Adriano Diogo, mas também aos seus gabinetes e assessores, que fizeram força para que fosse um evento bonito. E a todos os companheiros e dirigentes do Partido, representantes políticos e a todos os presentes aqui. Muito obrigado de nossa parte.

Eu gostaria de falar rapidamente, porque eu acho que os companheiros aqui, os que já falaram e os que vão falar, conviveram com o Apolônio e esse pequeno filme, resumo da Estela, também mostrou a figura do Apolônio. Geralmente, o Apolônio é apresentado como esse dirigente, guerreiro, esse organizador. E eu gostaria de me reter um pouco na figura do Apolônio, ou seja, ele foi uma pessoa de uma geração em que tem grandes nomes. Muitos deles estão fazendo centenário agora, já são bem idosos, que no século passado deram grandes contribuições ao governo social, às lutas políticas, era uma geração formada no espírito internacionalista, e era uma geração que deu o grande conteúdo de desenvolvimentos sociais do século passado.

Mas acho que o que distinguiu Apolônio, não que ele fosse o único a ter essas características, era uma personalidade muito particular. Todo mundo que conheceu a ele, podia ver que ele era uma pessoa extremamente fraterna, extremamente amiga, uma pessoa solidária, que se interessava pelos outros.

Então, na realidade, quando pensamos um pouco na forma como ele organizou a vida dele, lá em casa, nossa opinião de família é que o Apolônio tentou ser coerente entre o que ele pensava, entre os ideais que ele tinha de uma sociedade mais justa, uma sociedade melhor, e o novo homem que deveria ser o personagem dessa sociedade. O homem livre dessa exploração, o homem que poderia desenvolver essa especialidade, e necessariamente o homem solidário e fraterno. Então, eu acho que uma grande qualidade e a grande diretriz de vida que o Apolônio teve, foi de viver coerentemente com o ideal que tinha. Um ideal que era um ideal político, mas que era um ideal também de uma forma de ser, de um comportamento, de uma forma de ver o mundo. O Apolônio tem todo esse histórico de militante. Dentro desse histórico, o momento que eu vi meu pai mais entusiasmado, não foi esse momento, digamos, de grandes lutas, mas sim os momentos em que ele podia atuar como organizador, como educador. O Apolônio foi um grande organizador, ele tinha o dom da palavra e foi uma pessoa extremamente convincente, mas ele não queria adeptos, nem para ele nem para as ideias dele. Apolônio sempre se preocupou em construir militantes daquelas ideias, ou seja, seres críticos, seres capazes de avançar, de não ter medo de errar, de errar e dar a volta por cima e de manter sempre a esperança.

Principalmente quando eu o via muito entusiasmado, é verdade que ele era um militante muito, muito disciplinado e ele devia parecer entusiasmado até para as tarefas que ele não queria fazer, mas quando eu o senti mais de bem com a vida, era quando ele podia exercer esse tipo de atividade; de formar pessoas, de organizar pessoas, de pensar para frente. Então, acho que o legado maior que o Apolônio deixou para nós, foi esse legado de otimismo, de perseverança, da necessidade de nós organizarmos o indivíduo e desenvolver uma corrente de pensamentos e ação que seja capaz realmente de levar a sociedade para frente. Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RUI FALCÃO - PT - Passo a palavra agora ao advogado, músico, artista, Idibal Pivetta.

 

O SR. IDIBAL PIVETTA - Queridos companheiros da Mesa diretora dos trabalhos, querida Renée, querido amigo Raul, quando eu recebi na última sexta-feira o convite do Adriano Diogo para falar nessa solenidade, fiquei sumamente orgulhoso e feliz por poder prestar uma homenagem a um dos mais importantes cidadãos, guerrilheiros desse país.

Então, eu trouxe uma pequena poesia para ler para vocês. Não se afobem, porque é pequena. Uma poesia em homenagem ao Comandante Apolônio de Carvalho.

“Para onde vais, Comandante Apolônio de Carvalho nessa tua solidão, se em cada esquina espreitava um perigo, em cada rua tinhas um amigo. E na grande praça empinavas a pipa da esperança. Para onde vais, Comandante Apolônio nessa tua solidão.”

Vamos citar um grande revolucionário brasileiro, que comandou a Revolta da Chibata em 1910, no Rio de Janeiro, dentro da Marinha de Guerra do Brasil, João Cândido Felisberto, que falando sobre o seu companheiro, um marinheiro desaparecido chamado de garoto assim se expressou. O garoto não tem idade. Aprendeu a montar com os tropeiros da Coluna Prestes. Na Espanha, vestindo de vermelho e branco, enfrentou Caudilho Francisco Franco. Em 1935, foi preso na Revolta da Praia Vermelha e, em 1939, colaborou com a libertação de Paris. A última notícia que dele se tem, é que esteve em Santiago de Cuba, a convite do seu amigo Camilo, e o garoto foi para o Caribe lutar contra o sargentão Fulgêncio Batista.

O garoto segue patuscando fundo e correndo o mundo. Isso foi o que João Cândido falou do companheiro revolucionário apelidado de “garoto”.

O que valeu, meu Comandante Apolônio, foi à aula aprendida, busca sonhos dando sonhos, e que esses sonhos são salvação. Nem que fique escalado, deixarão de te ouvir, Comandante Apolônio. É hora do teu silêncio ecoar, segues em teu descolorido e rasgado uniforme de campanha, e como um cometa que risca a noite a tua figura projetando a luz de um mundo novo, marca a senda de um só e único povo.

Vai meu Comandante, ancoras levantar, velas estufar, fechando escotilhas, contornando ilhas. Desfraldando a bandeira da utopia, sulcando os mares da fantasia, sentindo as brisas da maresia. Vai, meu Comandante. Como Garibaldi, foste também um herói de dois mundos, semeando ideais para os dias de hoje e plantando Carvalhos para os próximos séculos. Com tua mirada de visionário e presença de missionário. Vai meu Comandante Apolônio de Carvalho, sonhar o teu, o nosso sonho.

Obrigado. (Palmas.)

 

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- Assume a Presidência o Sr. Adriano Diogo.

 

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O SR. RUI FALCÃO - PT - Antes de passar a palavra ao Deputado Adriano Diogo para presidir os trabalhos, eu quero dizer algumas poucas palavras sobre Apolônio de Carvalho.

Deputado Adriano Diogo agora a pouco dizia que quando nós estamos na Presidência, a gente fica travado pelo protocolo.

Quero cumprimentar a todos. Agradecer a presença, agradecê-los companheiros dos gabinetes que organizaram essa cerimônia; saudar a Renée, em nome dela, saudar todas as mulheres. Que no dia a dia você foi precursora disso, mas as mulheres também têm um trabalho longo pela frente, para alcançar em igualdade de gênero, para se libertarem do duplo trabalho. Enfim, há uma grande luta pela frente, para que as mulheres não fiquem simplesmente secundando os homens, mas se colocando lado a lado em todas as lutas no cotidiano. Queria fazer, aqui, uma saudação às companheiras presentes também.

Saudar os nossos dois ex-ministros que estão aqui, o Paulo Vannucchi e o José Dirceu, que fazem parte dessa história do Apolônio também. Saudar o Senador Suplicy, os nossos deputados e deputadas, vereadores; o Raul que representa, junto com a Renée, a família. E queria dizer que, antes de começar a cerimônia, uma jornalista da TV Assembleia me perguntou que tipo de influência o Apolônio exerceu na minha vida. E eu dizia para ela o seguinte, o Apolônio me inspirou a gostar da liberdade, porque a vida do Apolônio pode se resumir nisso. Uma pessoa que sempre lutou pela liberdade; e a liberdade traz junto com ela a ideia de igualdade também, a ideia de fraternidade, solidariedade, e essas coisas eu aprendi com o Apolônio.

Corria os anos 60, e nós, que éramos militantes do Partido Comunista, impactados ainda pelo golpe de 64, nos reuníamos fazendo uma crítica daquele período e buscando novos caminhos. Era o momento da organização do sexto congresso do Partido Comunista Brasileiro. E a época dirigente do comitê estadual universitário, junto com Antonio Benetazzo, Fernando Ruivo, Jeová Assis Gomes, cuja memória nós também homenageamos nesse momento, nós recebíamos naquele período de debates visitas de vários dirigentes históricos. Jacob Gorender, Mário Alves, Carlos Marighella, Toledo Joaquim Câmara Ferreira, e também do Apolônio de Carvalho. Cada um de nós seguiu um caminho diferente naquele momento, com o mesmo objetivo, mas caminhos diferentes. Apolônio foi fundar o PCBR, outros companheiros foram para o Coletivo Marighella, depois ALN, Olipo, eu fui para a Colina, depois Val-Palmares, e nos encontramos no PT.

E ali, Apolônio era essa figura que todos disseram aqui. Trazia um imenso cabedal teórico. Uma vida de luta, de exemplos. Lutava pela unidade dentro do PT, ele não participava muito desse embate de tendências que nós temos até hoje, e nessa contribuição de ter um Partido que falasse com as massas populares, que reunisse as pessoas, que a revolução não fosse vista como um golpe de uma mão, mas como um processo social envolvendo as maiorias sociais, é importante lembrar que Apolônio não lutou só contra a ditadura e o fascismo, Apolônio lutava também contra o capitalismo, porque construir a sociedade capitalista exige uma construção de outra sociedade, pautada pelo fim da exploração, em que a busca incessante do lucro não seja o móvel principal da relação entre os homens e mulheres.

Então, nesse momento, nós resgatamos também a historia do Apolônio, nos 72 anos do PT lá em Brasília. Entregamos à Renée um quadro com a ficha número um de filiação do Apolônio ao PT, foi o nosso primeiro filiado. E essa cerimônia tem o objetivo de resgatar a historia do Apolônio, que vive nas lutas dos companheiros agora, do levante, que mesmo sequer como o Simão, que nasceu em 1964, mas nasceram há menos de 20 anos, talvez, estão indo às lutas em defesa da verdade, da justiça, e contra esses rescaldos de defensores da ditadura que reivindicam hoje a clemência da idade para não serem espezinhados e submetidos ao próprio púlpito, inclusive das suas famílias. É preciso que a verdade se restabeleça. Que a historia fale e que Apolônio viva como sempre no seu exemplo; dele, para todas as gerações. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Com a palavra o Senador Eduardo Suplicy.

 

O SR. EDUARDO SUPLICY - Presidente Deputado Adriano Diogo; querido Presidente e Deputado Estadual Rui Falcão; Presidente do PT, querido Deputado Simão Pedro; Ministro Paulo Vannucchi; Ministro José Dirceu; querida Renée, Raul, e todos. Paulo Teixeira e todos os companheiros que aqui vem.

Eu sou testemunha, prezado José Dirceu, disso que você mencionou há pouco, porque foram tantas as ocasiões, inclusive nos momentos difíceis de reuniões do PT, aonde chegava o momento em que Apolônio de Carvalho falava sua palavra, e era uma palavra tão bem respeitada por todos. E acho que a sua voz, querida Renée, vinha com tanta experiência, bagagem, que todos nós o respeitávamos, e ele indicava um bom caminho de harmonia para nós.

Então, quero, sobretudo dizer que será muito útil se nós pudermos complementar o legado de Apolônio de Carvalho pela maneira segundo a qual ele conseguiu tantas vezes fazer com que nós, ainda que pudéssemos estar vivendo momentos de divergência sobre qual o melhor caminho a tomar, ele normalmente, em muitas ocasiões, nos indicou a melhor forma, inclusive, de fazer com que os companheiros que estavam em posições divergentes acabassem se harmonizando. Eu acho que o legado dele para a história do PT e os ensinamentos que ele próprio teve a partir de suas experiências contra o Fascismo, nazismo, especialmente na Espanha e na França, fez com que nós tivéssemos aprendido extraordinariamente bem com ele a luta e a construção de um Brasil de nossos sonhos.

Fiz questão de vir aqui, Renée, atendendo um convite do Rui Falcão, Adriano Diogo e Simão Pedro, para dizer essa palavra de homenagem a esse grande companheiro. Quero pedir licença, porque eu avaliei que dadas as circunstâncias de hoje, e vocês sabem quais são, eu acho que, como senador do PT, tenho que chegar na primeira hora da abertura da sessão hoje, lá no Plenário. Acho que o Presidente Adriano Diogo vai compreender, porque eu vou pegar o voo daqui a pouco. Então, um grande beijo, um abraço, e viva Apolônio de Carvalho! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT – Obrigado, Suplicy. Agora nós vamos passar a palavra para o companheiro, Ministro Paulo Vannucchi, que junto com os familiares e os nossos desaparecidos, construiu a possibilidade de nós termos a Comissão da Verdade no Brasil. Com a palavra, Paulo Vannucchi.

 

O SR. PAULO VANNUCCHI - Por economia processual, eu peço licença para saudar essa importante Mesa, nas pessoas de Renée e Raul, e dos três deputados anfitriões, meu Presidente Rui Falcão, Simão Pedro, proponente da iniciativa e Adriano Diogo, o responsável principal pela aprovação histórica nessa Casa da primeira Comissão da Verdade, no âmbito constitucional legislativo estadual e também vendo aqui tantos amigos, amigas, companheiros; permitam-me uma menção não a todos, mas à Amelinha e Fernanda de todas as lutas, a Rita que está aí, Maurício, Ivan Seixas que não está aí, mas tem trabalhado com o Adriano Diogo nesse tema. E contar da minha emoção quando Raul, meu companheiro, não apenas companheiro do tempo de presídio, cidades diferentes, mas do tempo que pouca gente sabe, mas que o Raul também trabalhou na nossa equipe clandestina que realizou o livro “Brasil Nunca Mais”, sob a coordenação de Dom Paulo Evaristo Arns. E o Raul me ligou para essa honrosa presença e ainda sugeriu que ele falaria sobre a pessoa humana, e me caberia falar sobre o revolucionário Apolônio.

E também, engajado que estive em uma discussão da Fundação Perseu Abramo, com a Professora Marly Viana aqui presente, no sentido da organização e da publicação de eventos dessa revolucionária Renée de Carvalho e agora essa possibilidade de termos os dois livros. O livro que ela lança agora é o “Vale a pena sonhar”, que eu reli ontem e percebi que na assinatura daquela interminável fila da FENAC de Pinheiros, em que o Apolônio conversava 10 minutos com cada uma das 300 ou 500 pessoas que aguardavam. E o autógrafo também é de Apolônio e da Renée, com a letra dela. Na orelha daquele livro, há uma citação da autora, de uma frase do Hélio Pelegrino, também um dos petistas do primeiro momento, e ele dizendo, “Apolônio e Renée é um projeto”. E continua dizendo, um projeto da memória. E falando Apolônio revolucionário, em um depoimento pessoal importa registrar, que o livro de Renée tem um importante prefácio de Lula. Se não por outras razoes, provavelmente pelo único texto em que Lula conseguiu elaborar no transcorrer dessa duríssima e longa batalha de cinco meses que acaba de ser concluída em mais uma extraordinária vitória, que foi a luta vitoriosa contra o câncer, e a recuperação que Lula faz de Renée, tanto quanto Apolônio, figura que toda vez que mencionamos, aparece a palavra “doce”. A doce Renée, o doce Apolônio.

E o revolucionário Apolônio, eu conhecia vindo de São Joaquim da Barra para São Paulo em 1967, 1968 na leitura das obras de sebo da trilogia do Jorge Amado, “Os subterrâneos da liberdade”, em que Marighella aparece como Carlos, João Amazonas aparece como João e o Apolônio aparece muito disfarçado como Apolinário. E releiam a trilogia para ver como entre os grandes, esse Apolinário já se revestia de uma mística muito especial.

Eu era assessor do Lula, na ascensão do PT em 1980, e tinha saído de cinco anos de cadeia, portanto. Não sei se é verdade, se é mentira, mas o folclore registrou na época que o Comandante do Primeiro Exército teve uma discussão direta com ele, depois de constatado que dele não extorquiriam nenhuma informação, o Comandante do Primeiro Exército foi cumprimentá-lo lamentando apenas que ele estivesse do outro lado. Esse herói que já tinha sido herói na Espanha, na França, na ditadura de Getúlio, é revolucionário a vida inteira e é revolucionário no processo de construção do PT.

E eu tive a honra de um pequeno período de colaboração direta com ele. E vamos lembrar de que quando falamos do revolucionário Apolônio, um resgate necessário de que a palavra “revolucionário” nem sempre teve o conteúdo que o Iluminismo deu para ela. Algo em direção a um futuro que melhora, a construção desse futuro. Antes, ao longo de milênios na filosofia, a palavra revolução está presente em conteúdo da astronomia ou da geometria, a revolução de um corpo em torno de seu próprio eixo, e muitas vezes, na antiguidade revolução é um retorno no status ante. E o Iluminismo trouxe esse sentido nosso, atual, do revolucionário e também muitas vezes o revolucionário é identificado com o rupturista. Aqueles que partem para as mudanças bruscas que existem na história, que muitas vezes são indispensáveis a história, mas a revolução não é apenas a ruptura.

Há rupturas e há uma revolução que desliza ano após ano. Apolônio é um revolucionário de vida inteira. É um grande revolucionário petista. E eu fui seu auxiliar na elaboração de dois documentos, que eu estive procurando e ainda não achei, mas vamos achar, que é sobre a relação do PT com os grupos de esquerda, e o segundo que é novamente sobre a relação do PT com os grupos de esquerda. E o revolucionário de Apolônio naqueles dois documentos, eu, depois da cadeia, jornalista temporão recém-formado, com aquelas técnicas de copy desk de evitar repetição de como propõe Graciliano Ramos, o texto bom é aquele que é reduzido a 1/3 do seu tamanho original. Aparecia 50 vezes em cada um dos textos.

Então, o revolucionário Apolônio está dialogando como revolucionário que ele sabia que era, que estavam ajudando a compor o PT para dizer que ser revolucionário acima de tudo, é ter a capacidade de renovar o seu pensamento porque a coerência está na capacidade de mudar o pensamento o tempo todo para mantê-lo sempre coerente, consistente, com seus fundamentos mais fundamentais, mais básicos e não a repetição do mesmo discurso à vida inteira em uma realidade histórica que muda tanto, dinamicamente o tempo todo.

E eu não posso terminar sem fazer uma referência a um tema que é o tema dessa semana extraordinária, que nessa semana nós tivemos notícias como a vitória de Lula na luta contra o câncer, notícias como o desmascaramento de um fariseu no Senado, que vestia a indumentária de vestal da ética da República. É preciso transformar isso em um filme agora, para apresentar diante de denúncias que é tirano, com o mesmo tom de Demóstenes quer dizer, cuidado com o que está fazendo, porque, às vezes, as pessoas que fazem esse tipo de denúncia mais tarde se revelam como sendo essas pessoas.

A semana que teve finalmente uma juventude que realiza àquilo que tem sido sonho de muitos de nós nos últimos anos, que é ter como direito a questão da verdade, a memória empunhada por quem de direito. Não a geração que já esteve pessoalmente vinculada a esse embate, mas quem está construindo o futuro hoje, porque é do futuro que se trata esse tema, e lembrar que nesse processo o que acontece agora faz um enfrentamento também que tem que ser precisamente conhecido, que é o enfrentamento que no Rio de Janeiro perante o clube militar, busca lembrar, primeiro, que não é justo que aquele clube militar que já teve episódio, já esteve em uma trincheira de defesa dos torturadores que não podem ser confundidos com os militares brasileiros.

Eu saúdo especialmente a presença do Oficial da Polícia Militar aqui presente, para que nós saibamos sempre que não é justo que militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, sigam marcando nos seus ombros o peso da acusação que generaliza contra algumas dúzias de assassinos que estavam lá reunidos, que lá se protegeram, e em uma situação em que existem milhares e milhares de comandantes militares, de Praças e Soldados que são pessoas cumprindo a sua atribuição profissional, hierárquica, disciplinada de servidores da pátria e lembrando que foram militares, Apolônio de Carvalho, Lincoln e muitos dos lutadores, que nesse momento em torno de Apolônio têm esse momento extraordinário. A própria Renée só se convenceu a contar um pouco da sua vida quando entendeu que se tratava de mais uma tarefa revolucionária de formação dessa geração que entra em cena agora, para levar adiante um processo de construção no futuro, que consolida o período Lula, o período Dilma Rousseff, que da torre de Tiradentes transitou a Presidência da República. Parabéns, Apolônio. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Essa Presidência concede a palavra à Sra. Renée France de Carvalho. Com a palavra essa mulher, essa senhora, essa companheira. Com a palavra, D. Renné.

 

A SRA. RENÉE FRANCE DE CARVALHO - Eu estive pensando em dizer duas palavras de agradecimento e todos os companheiros que falavam em nome dele, e em nome do PT, mas as palavras que o Paulo Vannucchi acaba de dizer, salientando essas duas datas, o centenário de Apolônio e o surgimento do movimento de protesto tão justo que está sendo criado agora, eu não sei mais o que dizer para vocês, senão, muito obrigada. Muito obrigada por terem vindo, muito obrigada pelas as palavras que disseram sobre Apolônio; estou emocionada demais para dizer mais. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Nós estamos caminhando para o encerramento desse ato, dessa cerimônia. E, a mim, coube fazer palavras de encerramento e finalização dessa cerimônia, tão singela e significativa.

Quando José Dirceu começou a falar, fazendo uma retrospectiva histórica, principalmente sobre o Apolônio no PT, fiquei pensando, quantas pessoas importantes foram embora. Alguns participaram e passaram pelo PT. Eu estava imaginando a genialidade e a capacidade de Lula ter aglutinado na formação do PT, pessoas tão importantes como Apolônio e Renée. Mas estava lembrando que falta fazem Marighella, Mario Alves, e tantos outros companheiros e tantos outros revolucionários. Depois de 48 anos do golpe, segundo Paulo Abraão Secretário Nacional de Justiça, temos 70 mil processos abertos na Comissão Nacional de Anistia de brasileiros que tiveram suas vidas interrompidas e dilaceradas, 70 mil brasileiros.

Se Apolônio estivesse vivo hoje, nos orientando como conduzir a Comissão da Verdade, talvez nos orientasse e dissesse por que o Juiz Baltazar Garzón, que investigou o crime do Franquismo nessa reversão política coordenada. Talvez Apolônio nos tivesse orientado que, apesar da resistência francesa, do Governo de Colaboração do Petran, fossem analisadas quantos milhões de pessoas foram presas e foram mandadas para os campos de concentração e os campos de extermínio na Europa, que até bem pouco tempo atrás se dizia que não houve extermínio dos judeus nos campos de concentração. Talvez se Apolônio estivesse aqui, estivesse nos aconselhando e mostrando como as tropas do nazi-fascismo invadiram e mataram mais de seis milhões de pessoas, como Mussolini foi para Missilia. Das mesmas formas que as tropas da ONU invadiram a Líbia e provocaram aquele massacre. Apolônio faz muita falta.

Mas, um momento principal que ele nos orientaria, tenho certeza, é que fizéssemos a Comissão da Verdade com a grandeza e espírito que ele sempre viu a luta, fazendo disso um momento maior da nossa nacionalidade. Por isso, companheiros, Apolônio sempre foi um exemplo. Nos momentos mais difíceis da luta armada, Apolônio, na direção do PCBR discutia com Mario Alves e outros companheiros, o caminho da resistência.

Essa deve ser a nossa diretriz. Os nossos desaparecidos brasileiros terão que ter a sua sepultura digna. A história de seus familiares tem que ser contada, e quem fez esses bárbaros crimes tem que ser identificados. Setenta mil brasileiros, porque nem todos os brasileiros deram entrada na Comissão Nacional de Justiça. E para concluir, o último pensamento, eu queria dizer o seguinte, o PT foi acolhedor, Lula foi acolhedor. Quando formou o PT, pegou essa enorme diáspora e trouxe para a luz, trouxe para a legalidade e formou um Partido. Mas, passados tantos anos, essa enorme diáspora está fora da política. Consideradas pessoas que não tem muito a contribuir com esse presente político. Esse erro nós não podemos cometer, principalmente em memória que reverenciamos hoje em memória de Apolônio. As pessoas que resistiram à ditadura têm um papel fundamental, não só no passado, como no presente e futuro dessa nação. Vamos acabar com essa tortura, vamos fazer a nossa historia, e vamos fazer a nossa verdade. Viva a democracia, viva o PT, viva Apolônio e viva a Comissão da Verdade. (Palmas.)

Essa Sessão Solene só começou, não está encerrada. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - Queremos convidar a todos para um coquetel no salão aqui ao lado, onde podemos conversar mais, como disse o Adriano Diogo, dando continuidade a nossa Sessão Solene. Deputado Adriano Diogo e Deputado Rui Falcão, eu quero agradecer a todos os que colaboraram para o êxito dessa Sessão Solene, o pessoal do Cerimonial, da TV. A nossa Sessão Solene será transmitida no próximo dia sete, às 21 horas. Queremos agradecer aos assessores e a todos que colaboraram para que essa Sessão Solene pudesse cumprir a sua finalidade, que é homenagear a vida de um grande brasileiro, um grande internacionalista, Apolônio de Carvalho. Obrigado. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e dois minutos.

 

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