23 DE JUNHO DE 2003

22ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO 70º ANIVERSÁRIO DA "FUNDAÇÃO ESCOLA LIVRE DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO"

 

Presidência: SIMÃO PEDRO

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 23/06/2003 - Sessão 22ª S. SOLENE Publ. DOE:

Presidente: SIMÃO PEDRO

COMEMORAÇÃO DO SEPTUAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO ESCOLA LIVRE DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO.

 

001 - SIMÃO PEDRO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Anuncia que

 a sessão foi convocada pela Presidência efetiva da Casa, por solicitação do Deputado ora na Presidência, com a finalidade de comemorar o Septuágesimo Aniversário da Fundação Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Convida todos a ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - MICHELE MEDRADO

Presidente do Centro Acadêmico Florestan Fernandes, fala, em nome dos estudantes, sobre o tema: "70 anos de juventude".

 

003 - Presidente SIMÃO PEDRO

Lê manifestações dos Deputados Marcelo Bueno e Rogério Nogueira.

 

004 - PAULO ROBERTO MARTINS

Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo. Fala da excelência da contribuição dos sociólogos para a melhora da nação. Fala da luta para que o ensino médio tenha Sociologia em seu currículo escolar.

 

005 - ROGÉRIO BAPTISTINI

Professor da Escola Livre de Sociologia e Política, fala em nome dos professores sobre o tema "70 anos da história". Defende a Sociologia como a disciplina essencial para reconhecimento, interpretação do Brasil e de seus problemas; e de mobilizar e orientar os intelectuais na construção do novo país.

 

006 - EVANDA PAULINO

Diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política, fala em nome dos ex-alunos da Fundação. Destaca a figura de um intelectual que pensou a Sociologia, Rubens Borba de Moraes.

 

007 - ELIANA ASCHE

Diretora da Escola Livre de Sociologia e Política, fala sobre a escola, hoje, como algo muito vivo e plural.

 

008 - WALTÉRCIO ZANVETTOR

Diretor-Geral da Escola de Sociologia e Política, faz uma saudação aos 70 anos da Escola. Faz um paralelo entre os problemas da nação, naquela época e os de hoje. Analisa também o cenário internacional.

 

009 - Presidente SIMÃO PEDRO

Anuncia uma apresentação musical pelo Coral da Escola de Sociologia e Política, sob a regência de Bia de Luca. Discursa sobre os 70 anos da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a ata da sessão anterior.

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Srs. Deputados, Senhoras e Senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Sidney Beraldo, atendendo a solicitação deste Deputado, com a finalidade de comemorar o 70º Aniversário de Fundação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo.

Quero agradecer a presença de todos, em especial do Prof. Waltércio Zanvettor, Diretor Geral da Escola Livre de Sociologia e Política; da Sra. Eliana Asche, Diretora da Escola de Sociologia e Política; da Sra. Evanda Paulino, Diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política; do Sr. Rogério Baptistini, Prof. da Escola de Sociologia e Política; da Sra. Michelle Medrado, Presidente do Centro Acadêmico Florestan Fernandes e do Sr. Paulo Roberto Martins, Presidente do Sindicato dos Sociólogos de São Paulo. (Palmas.)

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, que será executado pela Banda Musical Regional do Comando de Policiamento da Área Metropolitana.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - Simão Pedro - PT - Esta Presidência agradece ao 1º Sargento PM Edson Ferreira, Regente da Banda Musical Regional do Comando de Policiamento da Área Metropolitana. Muito obrigado.

Tem a palavra a Srta. Michelle Medrado, presidente do Centro Acadêmico Florestan Fernandes, que falará em nome dos estudantes sobre o tema “70 anos de juventude”.

 

A SRA. MICHELLE MEDRADO - Bom dia. Agradecemos ao Presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Sidney Beraldo; ao Deputado Simão Pedro, ex-aluno da Escola de Sociologia e Política de São Paulo pelo o seu interesse em manter vivo o laço de amizade e esperança com o futuro, mais com o passado da instituição, pela qual temos profundo respeito e orgulho de ser membros. Agradeço à diretora Eliana Asche e os demais membros da Mesa. Agradeço, por fim, a esta Casa que nos recebe hoje, a primeira Faculdade de Ciências Sociais.

Lutamos. Lutamos muito a cada dia por melhorias. Lutamos por esta que é a nossa função como estudantes interessados. Temos um carinho imenso pela ESP e por isso reclamamos e brigamos para vermos sua ascensão e para que possamos resgatar a sua história. Além de lutarmos pela tradição histórica da ESP, que em sua formação em 1933 estava preocupada com questões da sociedade brasileira, lutamos também para o fortalecimento do papel do sociólogo que não tem tanto reconhecimento no Brasil, exigindo hoje sociologia no Ensino Médio para que os professores sociólogos possam atuar diretamente na base da educação. Também é necessário incentivar produções de pesquisas e esta é uma das nossas maiores lutas dentro da Estado de São Paulo, conseguirmos um curso em licenciatura para voltarmos a produzir pesquisas na sociedade.

Felicito-me por cada vez mais ver grupos diversos em atividades, funcionando e interagindo entre os alunos da ESP. Engana-se quem pensa que a ESP não está viva e atuante; o casarão tem vida própria.

Obrigada. (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Recebemos manifestações de agradecimento pelo convite, congratulações e de justificativas pelas ausências dos Srs. Deputados João Caramez, Afanasio Jazadji e a Sra. Amélia Queiroz, presidente da Agência de Desenvolvimento de São João da Boa Vista.

Srs. Deputados, passo a ler a manifestação do Deputado Marcelo Bueno:

“Excelentíssimo Senhor Deputado Simão Pedro, agradeço convite para Sessão Solene em comemoração ao septuagésimo aniversário de Fundação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Embora compromissos anteriormente assumidos para o dia 23 de junho impeçam minha presença, parabenizo Vossa Excelência pela iniciativa, desejando êxito ao evento.

Atenciosamente,

Marcelo Bueno

Deputado Estadual.”

 

Srs. Deputados, passo a ler a manifestação do Deputado Rogério Nogueira:

“Caro Amigo Deputado Simão Pedro, agradeço sensibilizado o convite para a Sessão Solene com a finalidade de comemorar o Septuagésimo Aniversário de Fundação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, a realizar-se no dia 23 de junho do corrente. Infelizmente, compromissos assumidos anteriormente impossibilitarão que eu prestigie tão importante evento, que desejo se revista do merecido êxito.

Sem mais para o momento, renovo protestos de estima e consideração.

Atenciosamente,

Rogério Nogueira

Deputado Estadual.”

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Tem a palavra o companheiro Paulo Roberto Martins, presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo.

 

O SR. PAULO ROBERTO MARTINS - Sr. Deputado Simão Pedro e demais membros da mesa, em nome do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo e também da Federação Nacional dos Sociólogos do Brasil, aqui representado por mim e pelo nosso colega Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho, é com muita honra que estamos nesta solenidade em que se comemoram os 70 anos da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que já formou inúmeros brasileiros que contribuíram para que este país se tornasse melhor para todos nós.

Sem dúvida, se não existissem as diversas escolas de Ciências Sociais neste país, certamente este país seria pior do que é hoje. É justamente com a contribuição dos sociólogos que podemos observar na história brasileira toda luta pela construção de uma sociedade justa e fraterna, e pela democracia que possa realmente existir em nosso país.

Neste sentido, achamos que a Escola de Sociologia e Política já contribuiu muito, mas esperamos que ela continue a contribuir neste século com mais intensidade, olhando para as diversas facetas com que o sociólogo pode contribuir para a sociedade brasileira.

Estamos levando diversas lutas para que possamos ter o nosso espaço de trabalho ampliado. Uma delas se refere à questão da sociologia no ensino médio. Gostaríamos de deixar registrado aqui que uma lei aprovada por esta Casa foi vetada pelo governador do Estado, o mesmo que foi reeleito, e nós gostaríamos de contar com o apoio de todas as escolas, de todas as faculdades de ciências sociais, inclusive a Escola de Sociologia e Política para que possamos reverter esse veto. A ação do nobre Deputado Simão Pedro se coloca de forma importante para que possamos articular politicamente nesta Casa a derrubada desse veto e, com isso, novamente colocar a questão da educação como um exercício fundamental da sociologia no país.

Outras são as nossas lutas para que o sociólogo possa estar presente, de acordo com a legislação vigente, em várias áreas de atuação que hoje estão ocupadas por outros profissionais que não têm a qualificação desejada para o exercício da profissão. É com muita honra que estamos aqui neste evento, esperamos estar quando a Escola de Sociologia e Política fizer seus 80 anos.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Muito obrigado, companheiro Paulo Roberto Martins, sem dúvida este deputado já está somando esforços a esta luta para que possamos ter o curso de sociologia no ensino médio como uma disciplina obrigatória.

Tem a palavra o Sr. Rogério Baptistini, professor da Escola Livre de Sociologia e Política, que falará em nome dos professores sobre o tema “70 anos da história”.

 

O SR. ROGÉRIO BAPTISTINI - Senhores, autoridades presentes, bom dia, é com muita honra que represento os meus colegas professores vinculados à Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo para prestar essa homenagem à nossa instituição, tão cara a nós que militamos na área das ciências sociais brasileiras, que é a Escola de Sociologia e Política.

Falar da Escola de Sociologia e Política é uma tarefa bastante complicada porque suscita algumas questões relativas ao papel de São Paulo na construção do Brasil moderno e ao papel dos intelectuais, como atores não só do pensamento, mas principalmente políticos desempenharam nesse processo de construção do Brasil moderno. Evidentemente, não vou entediar os senhores com especulações sociológicas acerca da história das idéias ou do pensamento social brasileiro, mas vou falar um pouco acerca do manifesto de fundação da escola e seu contexto nos anos da década de 30, quando é fundada por Roberto Simonsen, acompanhado dos diretores das principais instituições de ensino da cidade de São Paulo, a Escola Livre de Sociologia e Política.

No momento em que completa 70 anos de existência, a Escola de Sociologia e Política de São Paulo merece um exame de sua trajetória. Nascida das cinzas da derrota paulista em 1932, num certo sentido a ESP, antiga Escola Livre de Sociologia e Política, representou uma alteração de rumos na forma como as elites encaravam o Brasil e seus problemas. De fato, a escola parece sintetizar, para além do ressentimento paulista pela perda do controle do poder central, a idéia de construção de um novo país, orientada pela ciência e pela técnica, operadas pela vontade política.

Conforme esclarece o manifesto de fundação da escola, publicado em 1933, a análise desapaixonada e honesta de nossa história política e social revela, sem dúvida, a cada passo, esforços sinceros para reorganização da vida do país. Em todos os ramos de atividade, múltiplas são as tentativas e concepções tendentes a melhorar as nossas condições de existência. Mas não se pode negar que tem sido pouco animador o resultado.

Diziam os fundadores: “a todo o esforço seguem-se geralmente o malogro e a decepção e sempre continuamos no mesmo ambiente de hesitações, experiências e desequilíbrio”. Continuando, é evidente que esse estado de coisas, não obstante à ilusão de alguns sonhadores de panacéias, não deriva de um fator único suscetível de exame e solução tranquilizadora. Vários e diferentes são os fatores, cada qual de maior ou menor efeito corrosivo. Dentre eles, entretanto, destaca-se naturalmente, por seu caráter básico, a falta de uma elite numerosa e organizada, instruída sob métodos científicos ao par das instituições e conquistas do mundo civilizado, capaz de compreender, antes de agir, o meio social em que vivemos.

Está na consciência de todos essa grande falta. Ainda há pouco, na guerra civil desencadeada em nosso Estado, e também agora na luta para refazer-se dos efeitos dessa guerra e das aflições que antecederam, o povo sente-se mais ou menos às tontas e vacilante. Quer agir, tem vontade de promover algo de útil, cogita uma renovação benéfica, mas não encontra a mola central de uma elite harmoniosa que lhe ensine passos firmes e seguros.

Esse mal não pode ser remediado às pressas. Não admite paliativos desalentadores. Urge encará-lo de frente com pensamento mais para o futuro do que para o presente. É isso que dizia o manifesto de fundação.

Assim, vinculada à história do Brasil moderno desde seu início, a Escola de Sociologia e Política, cujas primeiras aulas foram ministradas em julho de 1933, nas dependências da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, marca uma alteração na ação do intelectuais. A antiga dubiedade, caracterizada pelo caráter ornamental e pelo sentido de missão política, foi aos poucos substituída pelo saber especializado, orientado pelas modernas disciplinas das ciências sociais.

Objetivamente, a Sociologia se apresenta como a disciplina essencial para o reconhecimento e interpretação do Brasil e de seus problemas, emprestando às elites intelectuais uma função especializada na construção do novo país, conforme reclamam os fundadores ainda no manifesto.

Os instrumentos e processos de ensino em vigor permitem, se a formação de profissionais distintos de especialidades notáveis acoroçoam, por outro lado, especulações individualistas, pesquisas isoladas e o malsinado autodidatismo, gerador de planos e concepções de caráter pessoal. Falta em nosso aparelhamento de estudos superiores, além de organizações universitárias sólidas, um centro de cultura político-social apto a inspirar o interesse pelo bem coletivo, a estabelecer a ligação do homem com o meio, a incentivar pesquisas sobre as condições de existência e os problemas vitais de nossas populações, a formar personalidades capazes de colaborar eficaz e conscientemente na direção da vida social.

Criada com o objetivo de formar quadros para o novo Estado em construção, a Escola de Sociologia e Política se apresenta, no início, em um nível mais estritamente vinculado à onda mudancista que arrasta o Brasil. Enquanto o interventor paulista Armando de Sales Oliveira, em 1934, cria a Universidade de São Paulo com o objetivo de formar professores para o ensino médio, a Escola Livre de Sociologia e Política já nasce orientada para os problemas do Estado e para a elaboração científica. Não à toa, é na escola que se formam, em nível acadêmico, intelectuais do porte de Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, entre tantos outros.

Recorrendo novamente à promessa do manifesto, temos a confirmação do anunciado. Já aproveitando elementos de valor de nossas classes cultas, contratando professores de renome de fora do país, já promovendo conferências públicas avulsas e periódicas, e intercâmbio com instituições análogas, já adotando para os cursos uma orientação eminentemente científica à altura das exigências do meio social contemporâneo, a escola oferecerá aos estudiosos um campo de cultura e de preparação indispensável para a eficiente atuação na vida social.

Como podemos observar, a fundação da Escola Livre de Sociologia e Política acontece em um momento de engajamento político no campo da cultura. Na década de 30, as manifestações do decênio anterior, sugerindo a necessidade de novo rumo na vida brasileira, rotinizam-se. Acontece um fenômeno de diluição das vanguardas e de incorporação do ideal renovador aos hábitos artísticos e literários.

De certa forma, o inconformismo e a inovação perdem seu caráter transgressor e passam a se constituir em um direito intelectual que fundamenta a construção da nova ordem política, econômica e social. Os fermentos de mudança, semeados na década de 20 e tornados visíveis com as manifestações modernistas, com a politização da jovem oficialidade militar, com a organização política da intelectualidade católica, com o surgimento da política ideológica, com a fundação do PCB , ganham dimensão posterior nos anos da década de 30.

Objetivamente, a ação reformadora passa a dar sentido à atividade crítica das elites intelectuais, que se engajam na organização do País pelo alto, a partir do Estado, arrancado ao controle exclusivo das elites oligárquicas. Tratava-se de civilizar por cima, construir a Nação pela ação de uma elite política e cultural, que justifica o desenvolvimento econômico como projeto ideológico.

Isso também pode ser visto no manifesto de fundação da escola, onde está contida a afirmação de que a história universal encerra exemplos de grandes civilizações, construídas sem base na educação popular, mas não há exemplo de civilização alguma que não tivesse por alicerce elites intelectuais sábias e poderosamente constituídas. Nesse momento surge a demanda pela sociologia como disciplina científica capaz de orientar os intelectuais para a mobilização na construção do novo Brasil.

Não se trata mais de denunciar o artificialismo das leis, criticar convenções artísticas, denunciar o anacronismo da situação, mas sim de interpretar cientificamente o Brasil real e se engajar no projeto de sua elevação no concerto das nações. Além disso, trata-se de organizar o ensino superior com vistas à ampliação dos grupos de elite e à formalização de um sistema educacional capaz de formar uma sociedade de cidadãos, ainda que politicamente dirigidos.

O Brasil caminhou nesses anos para a modernidade da civilização urbano-industrial, ainda que condicionado pela sociedade tradicional, mas orientado por uma elite intelectual que assume importante papel político e, a partir do Estado, dá sentido às ações visando à construção do futuro. E a Escola de Sociologia e Política de São Paulo está inserida nesse processo. Ela é parte de uma obra grandiosa, movimentada por elites portadoras de vontade, que é a construção do Brasil moderno, ou, em outros termos, mas com o mesmo sentido generoso, a construção da Nação brasileira.

Obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Muito obrigado, Professor Rogério.

Enviaram mensagens a esta Assembléia Legislativa, impossibilitados de comparecer a esta cerimônia, desejando pleno sucesso e se somando à nossa homenagem, o Sr. Antônio Carlos Caruso, Presidente do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, o Sr. Arnaldo Madeira, Secretário Chefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo, o Sr. Joaquim Lopes da Silva Júnior, Diretor Presidente da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, MTU - São Paulo, o Deputado Estadual Paschoal Thomeu, o Sr. Gabriel Chalita, Secretário de Estado da Educação, o Sr. Duarte Nogueira, Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o Deputado Estadual Celino Cardoso, o Sr. Fernando Lessa, Secretário Particular do Governador Geraldo Alckmin.

Queria convidar para fazer uso da palavra, agradecendo também sua presença, a Sra. Evanda Paulino, Diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política, que falará em nome dos ex-alunos da Fundação.

 

A SRA. EVANDA PAULINO - Bom dia. Muito obrigada pela oportunidade. Gostaria de continuar a fala do Professor Rogério Baptistini, quando ele destacou alguns dos intelectuais que pensaram a sociologia. Gostaria de destacar mais um, que é o Rubens Borba de Moraes.

Rubens Borba de Moraes é um intelectual da década de 30, que, junto com a reflexão sobre necessidade da sociologia, ele percebeu uma outra área, que daria suporte à informação, à pesquisa e à possibilidade do desenvolvimento de todas as áreas do conhecimento, que é a biblioteconomia. Naquela época, Rubens Borba de Moraes era diretor da rede pública de bibliotecas. A biblioteconomia existia apenas para criar o quadro de pessoas para trabalhar na rede pública. Ele trouxe para a casa da sociologia, para ser abrigado pela sociologia, o curso de biblioteconomia.

É um intelectual a quem nós, da biblioteconomia, prestamos nossa distinção, exatamente pela percepção de uma área então totalmente desconhecida, e ele sabia que era impossível desenvolver qualquer pesquisa, qualquer desenvolvimento das outras áreas do conhecimento se não contasse com essa área de embasamento, em que seria tratada e oferecida a informação. É o nosso patrono, a quem gostaria aqui de deixar nossa homenagem.

Dentro da casa da sociologia, nós crescemos e fomos reconhecidos até legalmente. Da Escola de Biblioteconomia, que chamamos carinhosamente a Biblioteconomia da Fesp, é que saiu a biblioteconomia brasileira. Foi lá que foram formados os bibliotecários que abriram as outras faculdades de biblioteconomia, tanto No Estado de São Paulo como em outros estados, mas é de lá também que saiu a atual diretora da Biblioteca Mário de Andrade, atual diretora das bibliotecas da rede pública total, o atual diretor da faculdade de Biblioteconomia da Universidade de São Paulo, assim como outros casos que temos para citar. A Biblioteconomia da ESP é a biblioteconomia brasileira.

Foi me pedido para falar como ex-aluna, porque entrei nessa fundação como aluna, tornei-me professora e estou atualmente, nessa gestão, na direção da Biblioteconomia. No início da nossa comemoração dos 70 anos usei uma imagem, porque uma aluna havia me pedido para falar novamente que nos sentimos um dos pilares da Sociologia. Existimos dentro dessa casa desde 1940. Assim, a Biblioteconomia é o pilar da biblioteconomia brasileira, mas também um dos pilares da Fundação. Estou aqui com alguns ex-alunos que me pediram para dizer que eles têm muito orgulho de pertencer à Fundação. Quero dizer como ex-aluna, como professora e atual diretora que nos sentimos muito orgulhosos de pertencer à Fundação. Somos a Biblioteconomia da Fesp. Obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado, Professora. Queria anunciar também a presença e agradecer ao Sr. João Furtado, conselheiro da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Sra. Carlota Boto, conselheira da Fundação, e o Sr. Jorge Nagle, conselheiro da Fundação, o Sr. José Ênio Casalecchi, conselheiro da Fundação. Todo o conselho da Fundação está aqui presente para prestigiar e fazer também essa homenagem.

Queria anunciar e agradecer também a presença do Sr. Francisco Assis Mello, do Centro de Integração Escola/Empresa, coordenador de relacionamento e constituições de ensino. Muito obrigado pela presença de todos.

Dando continuidade a nossa Sessão Solene convido a Sra. Eliana Asche, diretora da Escola Livre de Sociologia e Política, que falará sobre a escola hoje.

 

A SRA. ELIANA ASCHE - Bom dia, senhoras e senhores. Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao Deputado Simão, que nos recebeu e que nos homenageia hoje. Em segundo lugar, o agradecimento à representação da Fundação, na figura do Waltércio, nosso diretor, e uma homenagem especial aos nossos conselheiros, ao núcleo educacional do conselho, ao núcleo humano do conselho, a parte mais pedagógica do conselho representado por esta figura que é mais do que um nome, é uma instituição, Prof. Jorge Nagle, nome mais importante da história da Educação no Brasil; Prof. José Ênio Casalecchi, também figura importantíssima na área educacional brasileira; Prof. Carlota Boto, representando a modernidade do pensamento educacional brasileiro, da história da Educação no Brasil, e Prof. João Furtado, nosso mais novo conselheiro.

Gostaria também de salientar a presença do Centro Acadêmico Florestan Fernandes, representado pela Srta. Michelle Medrado, que muito nos honra com suas reivindicações, com seus debates, com a sua movimentação aqui. Gostaria de agradecer a presença da Prof. Roseli Coelho, nossa decana atualmente, da Sra. Ana Flávia, que nos ajuda a dirigir a escola com alguma eficácia.

Falar da escola de Sociologia e Política hoje é falar de uma escola de alta vitalidade, uma escola que renasce, que cresce, mas que não cresce naquele sentido ruim das universidades hoje; cresce naquele sentido positivo de um pensamento antigo, um pensamento de intervenção, um pensamento plural que hoje renasce na Escola de Sociologia e Política em toda a sua plenitude.

Uma escola que tem banda de jazz, grupos de estudos foucaultianos, um núcleo de pesquisa e ciências audiovisuais, curso de alfabetização para egressos do sistema prisional, pequenas e grandes atividades que concebem o que seria o pensamento universitário hoje.

Quero falar da vitalidade dessa escola. Essa escola tem característica que está perdida atualmente, que é a da paixão absoluta que os alunos nutrem por aquele espaço, onde eles podem tocar violão, onde eles fazem as reivindicações das mais simpáticas e as mais absurdas, onde eles convivem numa integridade, numa familiaridade muito difícil de ser encontrada hoje nas escolas particulares. Devemos essa nova vitalidade a um período de certa calmaria administrativa que estamos vivendo, especialmente de uma crença - e espero que seja a crença da Fundação e do Conselho Superior da Fundação da Escola de Sociologia e Política - de que escola é algo muito vivo, muito plural, muito difícil de conseguirmos continuar convivendo com o mínimo de democracia e com o máximo de criatividade e seriedade científica.

Uma homenagem especial aos alunos dessa escola, tanto da Escola de Sociologia e Política quanto da Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais, e aos seus professores que mantêm viva essa chama e que mantêm essa escola viva, alerta, esperta, brigona e especialmente amada.

Muito obrigada, senhoras e senhores. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Muito obrigado, Profª Eliana Asche.

Dando continuidade, gostaria de anunciar e agradecer as presenças do Prof. Lejeune Mato Grosso, 1º Secretário da Federação Nacional dos Sociólogos e vice-Presidente da Confederação Nacional das Profissões Liberais; Sr. Jorge Achoa Filho, ex-aluno da Fundação Escola de Sociologia e Política; Sra. Silvia Marques, ex-aluna; Sra. Ana Flávia, Diretora Tesoureira da Fundação, e do Sr. Carlos Alberto Costa, Arquiteto Urbanista.

Passo a palavra ao Professor e Dr. Waltércio Zanvettor, Diretor Geral da Escola de Sociologia e Política, que fará uma saudação aos 70 anos da Escola.

 

O SR. WALTÉRCIO ZANVETTOR - Primeiro gostaria de agradecer a iniciativa do Deputado Simão Pedro de fazer esta homenagem à Fundação Escola de Sociologia e Política, agradecer ao Presidente da Casa, Deputado Sidney Beraldo, a presença dos conselheiros para nos prestigiar, já referenciados aqui pela Profª Eliana, Prof. Jorge Nagle, Prof. José Enio Casalecchi, Prof. João Furtado, Profª Carlota, Profª Evanda, Profª Eliana, Rogério, nosso amigo Paulo Martins, Lejeune Mato Grosso, Diretor da Federação Nacional dos Sociólogos, nossa Diretora Administrativa-Financeira, demais amigos aqui presentes, alunos, pessoal do Coral e não posso deixar de falar da Bia, que está coordenando junto com o Prof. Samuel, Maestro do nosso Coral, que, daqui a pouco, vai ser apresentado

Quero dizer que a Fesp, como já foi relatado aqui de uma maneira expressiva no sentido acadêmico pelo Prof. Rogério, surgiu há 70 anos pela necessidade de se ter uma maior compreensão dos aspectos políticos, sociais e econômicos da sociedade daquela época.

De uma maneira inovadora, os fundadores da Fesp procuraram na ciência e na sistematização do conhecimento que uma instituição de ensino propicia a fonte de informação e orientação para as questões que os afligiam naquele momento.

As Ciências Sociais e a Biblioteconomia foram para os fundadores a resposta que se buscava para as questões que se surgiam na sociedade da época. O momento era de expansão da indústria, da formação dos centros urbanos, da expansão do campo, do processo de interiorização e da ocupação do território brasileiro.

Se, naquela época, a sociedade brasileira apresentava fortes sinais de mudanças, 70 anos depois não temos uma situação diferente. As profundas alterações porque passa a sociedade intelectual, provocada não só pela sua internacionalização e pelo advento de novos padrões tecnológicos, estão determinando também profundas transformações no mundo do trabalho, na produção e na sua organização.

A urbanização, que ocorre pelo adensamento populacional até em regiões de economia agrícola, intensifica-se, criando novas redes espaciais e, conseqüentemente, novos padrões de convívio social e ação política de vida cultural e de relações econômicas.

Essas transformações devem ser, pela sua importância, continuamente consideradas no equacionamento de ofertas de educação.

Ocorrem também mudanças nas formas, como muitas profissões passam a ser exercidas, trabalho por conta própria, formal ou informal, terceirizado.

Por outro lado, vemos ocorrer o incremento da presença das organizações não governamentais no cenário brasileiro, assumindo funções públicas, atuando e cumprindo funções que anteriormente eram realizadas pelo Estado.

No cenário internacional, atualmente, com as exigências cada vez mais intensas, por respeito democrático, pela adversidade de idéias, as formas de vida e de crença, de cultura, grupos étnicos, religiosos, como reflexo das recentes conquistas das democracias pela universalização de direitos, que no papel da lei, as sociedades reconhecem, mas que na prática, no processo econômico e nas relações de produção, ainda são desconsideradas.

Se no passado a Fesp exerceu um papel de formadora de quadros para o desenvolvimento do país, esse cenário novamente se coloca cada vez mais com maior responsabilidade e exigência.

O futuro! A Fesp tem construído, trabalhando o presente, onde a formação, o ensino e a pesquisa devem compreender, analisar e propor ações que reflitam o complexo no momento da sociedade, de suas relações políticas e sociais, de organização da informação e da gestão administrativa para focar em nossos cursos de graduação.

Nesse sentido, gostaria de concluir que com essa atuação estamos fazendo política na educação e com a educação, procurando entender o papel do político aqui nesta Casa, como profissional, como instrumento de participação, defesa e afirmação das necessidades e vontades dos indivíduos no seu contexto social, para remeter a um tema que é valoroso a esta Casa, à nossa Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, que agora nos recebe para esta homenagem. Muito Obrigado. ( Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Muito Obrigado, Sr. Waltércio. Queria agradecer e anunciar as presenças do Sr. José Nogueira e José Aparecido de Andrade, que inclusive é aluno da Escola de Sociologia e Política, que estão aqui representando a vereadora Lucila Pizani, do PT, aqui da Capital. Anunciar e agradecer as presenças da Sra. Hilza, do diretório municipal do PT de Mogi Guaçu; do Sr. Valdeci, do Sr. Luiz, que são militantes do Movimento de Moradia da Mooca e do Brás, aqui na Capital; Sr. Reginaldo Mariano, funcionário da CPTM; do Sr. Wellington Diniz Monteiro, assessor da Secretaria Especial de acompanhamento do programa Fome Zero, do PT estadual; do Sr. Nicola, representando a Diocese de São Miguel Paulista; da Srta. Paula Empriveri, estudantes, que estão aqui prestigiando esta sessão solene.

Não estou acostumado com as formalidades da Casa ainda, mas queria convidar a todos para apreciar, agradecer, como já foi falado aqui a presença do Coral da Escola Livre de Sociologia e Política , que sob a regência da Sra. Bia de Luca, vai brindar a todos os presentes com algumas músicas.

Bia, você pode utilizar o microfone, se quiser falar das músicas.

 

A SRA. BIA DE LUCA - Bom-dia a todos, nós vamos apresentar uma pequena mostra do repertório que o Coral da Fesp está desenvolvendo, em homenagem justamente aos 70 anos da entidade.

A primeira peça que vamos apresentar chama-se Hãi nãi Hãi, que é um canto de boas-vindas dos índios Nhambiquara.

 

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- É feita a apresentação do número musical

 

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A SRA. BIA DE LUCA - Na seqüência vamos cantar a música ‘Funeral de um Lavrador’, da peça ‘Morte e Vida Severina’, letra de João Cabral de Mello Neto, musicada por Chico Buarque de Holanda. Existe, em todas as peças que estamos trabalhando no Coral da Fesp, uma ligação com algum objeto de estudo da faculdade. A primeira delas privilegiou os índios, alguns grupos minoritários em que a escola se aprofunda. E, agora vamos falar sobre o lavrador, sobre o imigrante, sobre o sem terra, e dentro desta perspectiva, incluímos no repertório o ‘Funeral de um Lavrador’, de Chico Buarque de Holanda.

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- É executado um número musical.

 

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A SRA. BIA DE LUCA - Queria salientar que a Elaine também é aluna da escola. Ela é uma excelente flautista e foi um grande achado para o coral. (Palmas)

E o Leo, grande percusionista, que está nos acompanhando no bongô, também é aluno da escola. (Palmas)

Para finalizar a nossa apresentação, vamos executar o “ABC do Sertão”, de Luiz Gonzaga.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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A SRA. BIA DE LUCA - Gostaria de apresentar a equipe que trabalha com o coral: eu; Luciano Vazoler, nos teclados e Cláudia Felizberto, minha assistente e preparadora vocal do coro. Obrigada e parabéns à Fesp. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Muito obrigado ao coral da Fesp, que se apresentou sob a regência da Sra. Bia de Luca, que deu um toque muito especial a esta nossa sessão solene.

Ao cumprimentar os presentes a esta Sessão Solene, alunos, ex-alunos, professores e ex-professores, seu corpo diretivo, meus ex-colegas do curso de Sociologia e Política, quero-lhes dizer que, além da honra de presidir esta Sessão Solene, é um prazer e também uma grande emoção. Emoção de reencontrar amigos e também porque ali passei bons e difíceis momentos de minha vida. E também, é claro, porque fíz parte, como aluno, desta história de 70 anos.

Lembro-me de que em 1990, prestei o vestibular e matriculei-me no curso de sociologia. Depois, inclusive, de ter concluído o curso de Filosofia, e com ele conseguido algumas respostas às indagações que fazia a respeito da minha própria existência enquanto ser humano, que nasceu numa comunidade rural, no Paraná, descendente de imigrantes europeus e veio parar na extrema periferia de uma cidade industrial como São Paulo e de compreender melhor a minha própria história e a de minha família. Insatisfeito, fui buscar na sociologia, instrumentais teóricos para melhor analisar a sociedade em que vivia e observava com inquietação e nela poder interferir com mais qualidade.

Estávamos reiniciando um período democrático no Brasil depois de anos de ditadura militar, a esquerda, com o PT, havia assumido, um ano antes, a administração da maior cidade da América Latina. Eu estava trabalhando na administração da capital. Os anos de militância política nos movimentos sociais, nas CEBs e no próprio PT, não davam conta das demandas político-administrativas para enfrentar os enormes desafios, em forma de problemas sociais enormes, que se erguiam à nossa frente. Creio que encontrei o que buscava. Assim propor esta Sessão Solene foi uma forma de retribuir e reconhecer o valor que esta Escola teve na minha formação e acredito que este sentimento é compartilhado pela grande maioria dos que por ali passaram, e de muitos que aqui estão.

Lembro-me que quando lá cheguei comentava-se que a Fesp passava por uma crise, buscando recuperar seu espaço na área das ciências sociais e do próprio mercado de trabalho. Bom, pensei comigo, nada anormal para uma escola cuja referência principal era justamente a "Ciência da Crise", como é conhecida a sociologia (embora a fundação tenha incorporado também na década de 40 o curso de Biblioteconomia e Documentação). Relembro esse fato para fazer um gancho com um assunto que gostaria de tratar nesta oportunidade, que são os desafios das ciências sociais hoje, pois eu não ~a só falar do que representou a Fundação Escola de Sociologia e Política durante estes 70 anos de existência e serviços prestados ao desenvolvimento das ciências sociais no Brasil (isso porque os professores e as pessoas que me antecederam já falaram muito bem).

A sociologia, embora sendo uma das mais jovens das ciências, nasceu com uma pretensão enorme: não só compreender, mas apontar soluções aos problemas sociais que surgiram a partir da constituição da moderna sociedade capitalista. Ela não foi obra de um único pensador, mas resultado de circunstâncias históricas e contribuições intelectuais e no contexto do conhecimento científico. Uma de suas características, segundo o mestre Octávio lanni é a sua capacidade de sempre se questionar, discutindo seu objeto e seu método. Isso porque a realidade social é viva, complexa, intrincada e contraditória. Foi assim no século XVIII e XIX, no século XX e mesmo neste início do século XXI: o objeto da sociologia está sempre revelando transformações em todas as direções.

Se, no nascimento da sociologia, a Revolução Francesa (na esfera da política) e a Revolução Industrial (no plano social e econômico) trouxeram crises e desordens na organização da sociedade - o que propiciou, nas várias Correntes interpretações e propostas diferentes, como podemos encontrar nos pensadores clássicos hoje também observamos no mundo importantes mudanças com o surgimento da sociedade global, que estão a exigir das ciências sociais a compreensão da sua profundidade e implicações futuras.

A sociedade global como sintetizou certa vez o professor Ladislaw Dowbor, "tem alguns eixos e cada um desses eixos têm embutido em si uma contradição: a tecnologia, a globalização, a polarização econômica, a urbanização e a transformação do trabalho. Enquanto as tecnologias avançam rapidamente, as instituições correspondentes avançam lentamente e esta mistura é explosiva. A economia globaliza-se, mas os sistemas de governo permanecem no âmbito nacional, gerando crises de governabilidade. A distância entre pobres e ricos aumenta dramaticamente, enquanto o planeta encolhe, a urbanização junta os poros extremos da sociedade, levando a convívios contraditórios cada vez menos sustentáveis, deslocando o espaço da gestão do nosso cotidiano para a esfera loca, enquanto os sistemas de governo continuam na lógica centralizada da primeira metade do século XX e o mesmo sistema que gera a modernidade técnica gera a exclusão social”.

Estes são temas desafiadores da sociologia e das ciências sociais neste início do século XXI. E o Brasil, podemos dizer, é um grande laboratório, porque aqui concentram-se enormes problemas sociais, que vêm desde sua origem e se enraizaram nas estruturas político-sócio-econômico-culturais.

A superação desses problemas é um desafio para a cidadania e para o conjunto das ciências sociais.

Acredito que enfrentar esse desafio está à altura da tradição e da capacidade atual da Fundação Escola de Sociologia e Política.

Fiquei em dúvida se trataria desse tema, mas encorajado pelo nosso companheiro e Professor Paulo gostaria de manifestar a minha opinião - e embora esta Sessão Solene não tenha sido convocada para esse fim - sobre um assunto que considero importante. Gostaria de contar com o apoio e com a luta de todos vocês. Trata-se da lei que foi aprovada por esta Assembléia Legislativa, vetada pelo Sr. Governador e também vetada pelo ex-Presidente da República que torna obrigatória a ministração das disciplinas de Filosofia, Psicologia e Sociologia ao ensino médio. Não é só uma questão de abertura de mercado aos profissionais dessa área mas, sim, também recuperar a qualidade da formação dos nossos alunos com a formação de uma consciência crítica, questionadora na busca da transformação social.

Esperamos ter, com esta singela Sessão Solene, nos somado a todas as comemorações que foram feitas durante este mês aos 70 anos da Escola de Sociologia e Política.

Acreditamos que é uma justa homenagem e quero aproveitar para agradecer as presenças do Prof. Paulo Roberto Martins, Presidente do Sindicato dos Sociólogos que engrandeceu em muito esta Sessão Solene com o seu pronunciamento; a Srta. Michele Medrado, Presidente do Centro Acadêmico Florestan Fernandes, que fez uma justa homenagem ao mestre que passou por essa escola, que deixou uma enorme contribuição às Ciências Sociais no Brasil; ao Professor Rogério Baptistini, pela sua exposição; à Profa. Evanda Paulino, Diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação, da Fundação Escola de Sociologia e Política; à Profª. Eliana Asche, Diretoria da Escola de Sociologia e Política; ao Prof. Waltércio Zanvettor, Diretor-Geral da Escola Livre de Sociologia e Política, com quem conversei, pois tive o prazer de conhecê-lo recentemente e que nos ajudou na organização desta Sessão Solene; ao meu assessor chefe de gabinete Vinícius; ao Edgar, a toda a nossa assessoria; ao Danilo, assessor da Escola de Sociologia e Política e à Profª. Roseli; aos funcionários aqui da Casa, principalmente os do Cerimonial; os técnicos, os funcionários da TV Assembléia que estão transmitindo esta Sessão Solene pela Cidade de São Paulo e pelo Interior do Estado - porque sempre estão cobrindo os eventos organizados pelos deputados estaduais -; a presença de todos vocês que, sem dúvida alguma, deram um toque especial, e ao coral que deu um toque carinhoso a nossa Sessão Solene.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece as autoridades e àqueles que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta Sessão Solene.

Gostaria de convidar todos, principalmente os companheiros da Mesa, para tomarmos um café no Café dos Deputados, mais uma vez muito obrigado e um grande abraço, uma boa semana para todos.

 

Está encerrada a sessão.

 

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-              Encerra-se a sessão às 11 horas e 25 minutos.

 

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