10 DE SETEMBRO DE 2007

026ª SESSÃO SOLENE PARA HOMENAGEAR O “INSTITUTO BACCARELLI E OS MENINOS DO FUTURO”

 

Presidência: VAZ DE LIMA E ANTONIO MENTOR


DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 10/09/2007 - Sessão 26ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: VAZ DE LIMA/ANTONIO MENTOR

 

HOMENAGEM AO INSTITUTO BACCARELLI E AOS MENINOS DO FUTURO

001 - Presidente VAZ DE LIMA

Abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado Antonio Mentor, com a finalidade de "Homenagear o Instituto Baccarelli e os Meninos do Futuro". Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional, executado pela Sinfônica Heliópolis. Agradece ao Deputado Antonio Mentor pela iniciativa, bem como aos convidados pela presença. Fala do respeito que tem pela democracia neste País. Informa que a sessão solene está sendo gravada e será transmitida posteriormente pela TV Assembléia. Anuncia que a partir de segunda-feira tudo o que acontece na Casa será transmitido em tempo real.

 

002 - ANTONIO MENTOR

Assume a Presidência.

 

003 - JOSÉ MENTOR

Deputado Federal, cumprimenta os presentes. Reflete sobre os 30 anos de luta dos moradores da favela de Heliópolis.

 

004 - LURDINHA

Inspetora de alunos da Escola Gonzaguinha, disserta sobre a formação do Instituto Baccarelli e as dificuldades que testemunhou.

 

005 - Presidente ANTONIO MENTOR

Informa aos presentes que a sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela internet. Registra a presença de um grupo da cidade de Americana. Anuncia a apresentação de vídeo mostrando o trabalho do Instituto Baccarelli na comunidade de Heliópolis.

 

006 - SILVIO BACCARELLI

Maestro, criador do Instituto Baccarelli, emociona-se com a constatação de um sonho realizado. Cita a música como um instrumento de comunicação entre Deus e o homem.

 

007 - Presidente ANTONIO MENTOR

Anuncia um número musical. Refere-se a esta sessão solene como um reconhecimento pela dedicação do Maestro Baccarelli aos jovens da favela Heliópolis. Pede o comprometimento de todos com a disseminação desse projeto, levando a música para outros lugares, como um instrumento de inclusão social. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - VAZ DE LIMA - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O Sr. Presidente - Vaz de Lima - PSDB - Esta Presidência quer nomear as seguintes autoridades: conosco representando a Ministra do Turismo Marta Suplicy, o Sr. Fábio Manzini Camargo, conosco aqui também à Mesa, o Deputado Federal e amigo José Mentor, o Maestro Silvio Baccarelli, o Presidente do Instituto Baccarelli, Sr. Victorio Broetto, e também o Deputado Antonio Mentor, que em seguida vai assumir a Presidência. 

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, atendendo solicitação do nobre Deputado Antonio Mentor, com a finalidade de “Homenagear o Instituto Baccarelli e os Meninos do Futuro”, o que carinhosamente chamamos de Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Exatamente para começarmos bem esta sessão, quero convidar a todos para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Sinfônica Heliópolis, sob a regência do Sr. Roberto Tibiriçá.

 

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-  É entoado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - VAZ DE LIMA - PSDB - Esta Presidência agradece à Sinfônica de Heliópolis, ao Maestro Roberto Tibiriçá e ao Coral, muito bonito, que também se faz presente.

Permitam-me dizer algumas palavras. Primeiro, os meus agradecimentos ao Deputado Antonio Mentor, autor desta significativa e importante sessão solene para homenagearmos aqueles que têm dedicado a sua vida à realização deste importante trabalho de inclusão e de despertar de valores e de talentos aqui em São Paulo.

Agradeço, Deputado Antonio Mentor, pelo privilégio e pela oportunidade de participar deste momento tão significativo para esta Assembléia Legislativa. Nós agradecemos pela presença de vocês e pela oportunidade que nos dão de homenageá-los.

Esta Casa é composta de 94 Deputados, vindos de muitos lugares, homens e mulheres, de todos os credos religiosos, de vários segmentos da sociedade, alguns muito jovens. Temos uma Deputada com 24 anos, a Deputada Vanessa Damo, e temos também um Deputado com 82 anos, o Deputado Antonio Salim Curiati. Digo isto para mostrar a pluralidade que existe aqui nesta Casa. Os 94 parlamentares, graças a Deus, foram todos eleitos democraticamente pelo voto popular; nenhum Deputado, ao longo de todos os anos desta Casa Legislativa, chegou aqui senão pelo voto popular. Isto é o respeito que temos à democracia.

E aqui vamos agindo e interagindo. Temos várias formas de fazer o nosso mandato, cada um ligado a um tema: Saúde, Educação, Comunidade Negra, enfim, este é o espectro da sociedade paulista. Estamos aqui representando o povo paulista.

Em nome desses parlamentares e desse povo, eu gostaria muito de agradecer particularmente ao Instituto Baccarelli, na pessoa do Sr. Victorio e do Maestro Silvio, e de todos os que colocam a sua vida à disposição dessa atividade. Queremos demonstrar o respeito e o carinho que o povo de São Paulo tem por atividades desta natureza.

Esta Sessão está sendo gravada e será transmitida posteriormente pela TV Assembléia. Estamos disponibilizando também pela Internet. A partir de segunda-feira tudo o que ocorrer na Assembléia, em cada plenário - e são seis, cinco além deste - todas as atividades que ocorrerem simultaneamente estarão disponibilizadas em tempo real na Internet: CPI, Audiência Pública, o plenário aqui, uma Comissão, uma Frente Parlamentar - temos 57 Frentes Parlamentares funcionando, sobre diversos assuntos -, tudo isso será colocado à disposição da população paulista, porque é direito do cidadão saber o que acontece na Casa Legislativa. E é dever do homem público colocar à disposição da população a sua atividade, com toda transparência, com toda verdade, que é o que nós buscamos.

Desejo a todos uma boa sessão. Parabéns pelo trabalho. Parabéns aos jovens e aos mais adultos que estão aqui participando deste momento. Parabéns, Deputado Antonio Mentor, pela iniciativa. É um fato para ficar na nossa História. É um registro que queremos deixar para a nossa História, de que alguém, em algum momento, se lembrou de prestar uma homenagem por uma atividade tão significativa.

Parabéns pelo mandato que V. Exa. exerce. Parabéns pela sua coerência, pela sua forma firme de defender o seu ideal, aquilo em que V. Exa. acredita, prega e vive. Um grande abraço. Muito sucesso. (Palmas.)

 

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-  Assume a Presidência o Sr. Antonio Mentor.

 

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O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - Boa-noite a todos. Gostaria inicialmente de agradecer esse gesto bonito de acolhimento de nosso Presidente Vaz de Lima. Isso demonstra, com muita clareza, a forma como o Presidente Vaz de Lima conduz esta Casa: democraticamente, recebendo as opiniões e acolhendo os nossos pedidos. A sua presença na abertura desta Sessão tem um significado muito importante para o nosso mandato, e penso que também para todos os que estão presentes hoje aqui.

Quero fazer uma saudação muito especial ao Sr. Fábio Manzini, meu amigo, representando aqui uma pessoa muito querida por todos nós e que tem tudo a ver com o projeto do Instituto Baccarelli, hoje homenageado nesta Casa - a Ministra Marta Suplicy que, como prefeita de São Paulo, teve uma atitude extremamente importante para o desenvolvimento desse projeto. Tenho certeza que a Ministra gostaria muito de estar participando deste momento. Agradeço também a presença de uma figura muito importante na minha vida: José Mentor, Deputado Federal, meu irmão, que também tem tudo a ver com o desenvolvimento desse projeto maravilhoso. É uma homenagem simples, porém muito significativa. Quero citar o Sr. Victorio Broetto, Presidente do Instituto Baccarelli, que vem sendo uma das locomotivas desse projeto. É uma honra recebê-lo nesta Casa de Leis. Deixei para citar por último aquele que simboliza todos esses jovens que trabalham a música, haja vista o carinho que observamos quando foi citado seu nome: Maestro Silvio Baccarelli. Agradeço ainda a presença do sempre Deputado Ruy Codo.

Temos a presença de pessoas muito significativas para todos nós. Quero agradecer muitíssimo ao Prefeito de Campinas, Dr. Hélio de Oliveira Santos, aqui representado pelo jornalista Wander Pessoa, que participa deste momento conosco. Cumprimento o Sr. Delmo Niccoli, Diretor Jurídico do Grupo Votorantin, um dos patrocinadores deste projeto. Muito obrigado ao meu amigo particular, que fez questão de estar entre nós, Paulo Zimmermann, Diretor da TV Brasil de Campinas. Representando o Deputado Estadual Antonio Salim Curiati, temos aqui o Sr. Ney Cardoso. Muito obrigado pela presença. Representando a Deputada Estadual Ana Perugini, contamos com a presença da nossa amiga Ieda Manzano. Queremos agradecer também à Diretora do Conservatório de Arte de Guarulhos, Solange Barros, por sua participação nesta Sessão Solene.

Esta Presidência concede a palavra ao nobre Deputado Federal José Mentor.

 

O SR. JOSÉ MENTOR - Quero cumprimentar o Deputado Antonio Mentor, a quem coube a iniciativa de promover esta sessão solene, os membros da Mesa, entre eles, meu querido companheiro Fábio Manzini, representando a Prefeita Marta Suplicy, que também participou desta luta. A Ministra, na época em que era prefeita, deu um impulso grande a esse projeto, ao conceder a área para a construção do Instituto em Heliópolis. A presença de Fábio Manzini nos enche de orgulho, porque, mais do que uma presença institucional, é parte da luta desse projeto.Cumprimento o Sr. Victorio Broetto, que está capitaneando o Instituto, o Maestro Silvio Baccarelli e as demais pessoas citadas anteriormente.

Gostaria de fazer uma pequena reflexão. Assisti a um ensaio, há poucos dias, na sede, quando essa orquestra ensaiou com Wagner Tiso e fez um retrospecto do frevo no Brasil. No Sesc Pinheiros, foi apresentada uma bailarina do frevo popular de Pernambuco, Flávia Ferro, filha do Deputado Federal Fernando Ferro. Foi uma das coisas mais bonitas a que já assisti em termos musicais. Não pude assistir ao show, porque era numa quarta-feira e, nesse dia, tenho de estar em Brasília.

Eu me emociono quando ouço essa Sinfônica tocar, porque vem à memória uma luta de muitos anos, sem a qual não estaríamos hoje assistindo a esse espetáculo. Vejo algumas pessoas na platéia que entendem o que foi essa luta. Heliópolis, há 30 anos, recebeu a ocupação de algumas famílias, que, por diversos momentos, em várias circunstâncias, foram ameaçadas de despejo, quer pelos grileiros lá no começo, quer por iniciativas oficiais da Prefeitura de São Paulo. Trata-se de uma terra valorizadíssima no coração do Ipiranga, um milhão e cem mil metros quadrados. Hoje abriga talvez 15, 16, 17 mil famílias. Com certeza a maior área em São Paulo. Essas famílias tiveram de lutar muito. Primeiro pela água, depois pela posse da terra.

Aqui vou falar o nome de três pessoas que vejo: a Dona Lili, a Dona Edite e a Lúcia, mais nova, mas participou muito dessa luta. Contou com o apoio de gente também representativa na região. Vi agora há pouco que a Teresinha Martins foi vereadora de São Paulo. Pessoas como o Gérson, o Rubinho, que, aliás, é um incansável defensor e batalhador do Instituto Baccarelli. Talvez entre nós o que mais insiste. Vejo o Graciano, também do Ipiranga. Essa luta toda chegou às vias de fato em alguns momentos. Repito: grileiros, a incompreensão de alguns governantes.

Vários governos passaram até chegarmos à Prefeita Marta Suplicy, quando o instituto recebeu uma área com o espaço físico adequado, não para 500 crianças e adolescentes hoje estudarem, mas quem sabe para quatro mil jovens, para que o Maestro Tibiriçá possa fazer o que está fazendo hoje aqui com muito mais gente, numa proporção muito maior, espalhando um projeto que cada vez que ouvimos, ficamos arrepiados. Estou registrando esse aspecto para dizer a todos que participaram desses 30 anos de lutas no Heliópolis que sem essa luta que fixou essas famílias lá, que deu tranqüilidade para as famílias poderem se assentar nas suas residências - muitos ainda necessitando de saneamento básico, melhorias - não estaríamos aqui hoje assistindo ao Baccarelli.

Quero registrar um último fato. Edmilson, um grande amigo nosso - e cumprimentando o Edmilson cumprimento todos aqueles que trabalham no Baccarelli - lembrou que em 1996 o Maestro Silvio Baccarelli se inspirou, para poder construir esse projeto, num fato para nós na época lamentável, que foi um prédio que se incendiou. Muitos vão lembrar, houve uma repercussão muito grande na ocasião, houve até falecimento. As pessoas estavam acomodadas de uma maneira subumana. Incendiaram um prédio, resultou em mortes. Foi nesse fato lamentável que Baccarelli se inspirou para montar esse projeto para ajudar o Heliópolis.

Quero cumprimentar as lideranças da área, o apoio que muitos de nós demos a essa luta e dizer da satisfação recorrente que tenho de estar presente toda vez que posso no Instituto Baccarelli. Já desenvolveram parcerias com a Petrobras, com o Grupo Votorantin, com a Volkswagen. Tenho certeza absoluta que ainda vou ter a oportunidade, junto com muitos de vocês, de ver outras atividades, outros momentos alegres como esse para dizer que valeu a luta.

Parabéns, Baccarelli, felicidades para todos vocês!

Molecada, em frente!

 

O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - São muitas as histórias a respeito dessa comunidade.

Vamos ouvir agora alguém que participou desde o início desse projeto e que neste momento representa a comunidade de Heliópolis, inspetora de alunos da Escola Gonzaguinha, onde nasceu o projeto Instituto Baccarelli. Chamo para usar a palavra a Dona Lurdinha.

 

A SRA. LURDINHA - Boa-noite! É com muito orgulho, muita felicidade aqui dentro do peito que digo para vocês: este momento foi muito esperado. E chegou! Começamos engatinhando. Quando o Maestro Silvio Baccarelli ligou para a nossa Escola Gonzaguinha, quem estava lá para atender? Eu. Ele me disse: quero 36 crianças para formarmos em música.

“Mas isso é verdade?” “Sim, escolham. Quero ajudar essa comunidade.” E assim escolhemos, eu e a Dona Mariê, que era coordenadora naquela época. Assim fomos levá-los com muita dificuldade. Trinta e seis crianças, à tarde, graças a Deus o ônibus vazio. No ponto do Hospital São Paulo, descíamos todos os dias por três meses.

A diretora do Gonzaguinha já falava: precisa adquirir alguém para ir, você é inspetora da escola. “Sim, senhora, vou adquirir umas mães.” E graças a Deus adquiri mães maravilhosas que acompanham até hoje esse projeto, um orgulho para Heliópolis e se torna muito orgulho no dia de hoje. Somos reconhecidos internacionalmente e mundialmente. Quer mais orgulho, gente?!

Sempre digo para os pais para que não desistam, porque o seu filho está maior, mas não cobrem dele. E você também não pode cobrar do pai o que ele não pode te dar. Saiba como levar. É assim que conseguimos, com dificuldade. E é isso, meus companheiros, que está faltando muito para ajudarmos uns aos outros, para encorajarmos.

 Não é difícil chegar lá. Quantas vezes faltei ao Gonzaguinha para que a orquestra viajasse quando era convidada para tocar fora. Eu levava falta. É claro, normal. E aceitava de coração aberto como hoje em que levei falta na escola, pois estou aqui com vocês com muito orgulho e felicidade. Sempre dizem que esses jovens são o futuro do nosso país e que eles serão os governantes do dia de amanhã. Mas eles precisam ter oportunidade, que alguém deixe os seus afazeres para lhes dar uma oportunidade e atenção. É uma vitamina para um filho receber o pai aqui para assisti-lo. É o que digo sempre aos pais “Vá, porque o seu filho vai ser fortificado.” Para não desistir, é perseverar, perseverar e acreditar que o futuro está aí.

Agradeço o maestro Silvio Baccarelli por acreditar no potencial da nossa comunidade e por tirar muito do seu tempo para doar para nós. Ele ficava como criança e sentava no meio deles para tirar fotos. Para mim, Silvio Baccarelli era um artista muito famoso. “Meu Deus, sentado no chão com os nossos alunos, na nossa comunidade”! Chorei muitas vezes por saber que ali estava uma autoridade sentada com as nossas crianças, meus filhos, minhas filhas, minhas sobrinhas. É um prazer acreditar que o projeto tem que caminhar.

Agradeço os dirigentes desta Casa por ter nos dado essa oportunidade de tornar público esse nosso trabalho incansável. Não pensem que é fácil. Não é fácil. Porque muitas vezes liguei para a casa de alguns deles para acordá-los: “Acorde! O ônibus tem que sair. Você não pode faltar, você é muito importante!” Assim, consegui acordar muitos deles. “Ô, tia, desculpa, vou chegar um pouco atrasado!” “Estou te esperando. Não podemos sair sem você.”

Gente, isso é perseverar, é não desistir. Temos que doar um pouquinho. O nosso coração tem que ser como uma terra fértil para brotar bons frutos. Se todos pensarmos em doar um pouquinho o seu tempo, ou sei lá, o seu dinheiro, o que você puder doar. Mas seja também um doador, não digo desse projeto, mas doe um tempinho, talvez até para o filho em casa que parece não precisar de nada. Mas ele precisa do carinho do pai, da mãe, da avó, de quem cria.

Hoje, muitas vezes essas crianças estão rebeldes por falta de pai, de mãe, de carinho. É disso que a juventude precisa para acreditar no seu potencial, para que ela cresça humana. Pessoal, digo isso com muita segurança, pois sou mãe de quatro filhos adotivos e duas filhas naturais e tenho experiência com tudo isso. Sou mãe e meus filhos já são todos adultos. E, com muita felicidade, nunca passei por uma decepção com nenhum deles. Por que? Porque temos que dar carinho. E na hora que tem que chamar, tem que chamar mesmo. Não tenha dúvida: não é não. É sim, pode. Mas com carinho.

Obrigada a todos. Fico muito agradecida por essa oportunidade. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - Quero comunicar a todos que estamos ao vivo pela internet, em transmissão “on line”, como se diz atualmente.

Registro aqui com muito carinhoso a presença de um grupo de homens, mulheres, e jovens, que também se deslocaram da minha cidade de Americana, para acompanhar essa sessão solene. Quero que levem de volta para Americana uma experiência maravilhosa como essa que vocês estão conhecendo hoje aqui. Muito obrigado por estarem aqui conosco. Quero homenageá-los também com uma salva de palmas! (Palmas.)

Assistiremos agora a um vídeo que mostra um pouco do trabalho que é executado pelo Instituto Baccarelli na comunidade de Heliópolis.

 

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- É feita a apresentação do vídeo.

 

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O Sr. Presidente - Antonio Mentor - PT - Peço ao Maestro Silvio Baccarelli que nos apresente, sob sua regência, a Ópera Carmem, executada pela Orquestra de Heliópolis. Gostaríamos de ouvir mais uma página da nossa música.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - É difícil falar depois de ouvir esse discurso maravilhoso, depois do que esses sons provocam no nosso coração. É uma coisa indescritível.

Agradeço ao Governador José Serra, que enviou uma mensagem muito carinhosa para esta sessão solene; ao Secretário Aloysio Nunes Ferreira, que também se dirigiu a esta Casa cumprimentando pela Sessão Solene; à Deputada Estadual Haifa Madi, companheira da Assembléia Legislativa; ao Secretário de Emprego e Relações do Trabalho, Sr. João Francisco Aprá; ao Vereador Beto Custódio que manifestou o seu carinho pelo projeto; ao Deputado Caruso que também se manifestou afetuosamente a todos nós; ao Presidente do Tribunal de Contas do Município, Antonio Carlos Caruso, pela sua mensagem; ao Secretário Municipal de Esportes, Claury Santos Alves da Silva; há uma infinidade de outros que mencionarei na seqüência.

Neste momento, quero fazer um agradecimento muito especial a um grupo de pessoas que faz um trabalho de comunicação na Região de Ipiranga, e que hoje nos brinda com a presença. É o Portal do Ipiranga. Meus amigos, muito obrigado pela presença. Quero saudá-los com uma salva de palmas de todos nós. (Palmas.)

Gostaria de chamar o Maestro Silvio Baccarelli para que pudesse fazer a sua manifestação.

 

O SR. SILVIO BACCARELLI - Pois é. Depois daquela escada caracol ali precisa respirar fundo e bem devagar para o oxigênio recuperar tudo que foi jogado pelo ar lá fora. Eu duvido que alguém aqui dentro tenha passado um dia na vida pela emoção que passei nesses últimos instantes.

A constatação de um sonho realizado com todas as dificuldades já mencionadas pelas pessoas que já falaram aqui, esse sonho tornado realidade, lógico, é o resultado de algumas virtudes fundamentais para o ser humano: a força de vontade e o querer atingir um objetivo, usando todos os meios disponíveis, e até indisponíveis para conseguir atingir  esse objetivo.

Dentre esses jovens que estão aqui - vejo agora todos eles -, alguns são ainda daquela primeira turma que a Dona Lurdes conseguiu convencer a diretora da Escola Gonzaguinha a tentar estudar e aprender música. Esses são os grandes heróis desse projeto, porque se como outros eles tivessem arriado a bandeira no meio do caminho, nada disso estaria acontecendo hoje. Lutaram heroicamente, alguns choraram nesse ombro aqui: “Maestro, não posso continuar mais. Preciso ajudar meus pais. Completei 14 anos e eles passam necessidade. Eles querem que eu vá trabalhar para ajudar em casa”. E uma especialmente, que chegou anteontem de Viena, da Áustria, onde foi fazer um curso rápido de verão, aqui chorou também. Edna, você lembra, quando você veio me dizer “Maestro, eu não posso estudar mais. Tenho de ajudar o meu pai e minha mãe”, e eu disse para ela: filha, não faça isso. Você tem dons, qualidades especiais, que Deus não ficaria feliz se você não aproveitasse esse carinho que Ele te fez quando te criou, dando essa percepção, essa sensibilidade para fazer música. Você é jovem ainda, outras circunstâncias vão aparecer, virão certamente, e solucionarão os problemas de sua família. Não desista.

De fato, ela não desistiu e ainda trouxe a irmã menor, que hoje está no seu terceiro ano de estudo de oboé, um dos instrumentos mais complicados para se tocar. E essa menininha já está tocando oboé na orquestra pequena, de iniciantes, e faz às vezes o terceiro oboé na grande orquestra. Então, como elas, outras crianças também tiveram dificuldades, mas o caminho do instituto foi sendo traçado devagarzinho. As dificuldades foram sendo vencidas, e graças à dedicação, à sabedoria, à visão administrativa do Sr. Victorio Broetto e do Edilson, que também é maestro, é aluno de regência do nosso grande maestro e diretor artístico do Instituto Roberto Tibiriçá, graças a esses senhores, um grande problema foi resolvido: todos aqueles que tocavam na orquestra passaram a receber uma bolsa, uma verba, que eles podiam levar para a casa, todos os meses, para contornar a falta de recursos daquelas famílias. Conseguimos salvar uma grade parte, mas outros, infelizmente, não foi possível.

Eu choro aqui no meu coração - o irmão dele que está aqui, sabe disso - eu choro a ausência do Roberto, um menino jovem, super dotado para a música, era contrabaixista, tocava na igreja dele violão, tocava clarinete, tocava vários instrumentos. Mas, a vida não foi mãe para com ele, foi madrasta. Ele não achou o caminho certo e acabou desistindo. Outros desistiram, foram trabalhar como funcionários de alguma empresa e levam a vida. Mas, uma coisa é certa: o que eles aprenderam no Instituto, fez e fará deles grandes cidadãos brasileiros, sabedores dos seus compromissos como homens, como mulheres, que têm um dever a cumprir na sociedade. E a música, pelo pouco que eles aprenderam, deu-lhes a capacidade de raciocínio, de força de vontade, para resolver todos os problemas da vida. Eu confio que eles serão felizes, mesmo não sendo os músicos que sonhamos que eles fossem. Agradeço todas as palavras, todas as homenagens prestadas ao instituto e a todos que nele trabalham, nele estudam.

Estamos vendo a orquestra, lá em cima, temos quase 500 crianças que também estudam, cantam no coro, já estudam instrumentos. A nossa casa é um canteiro de músicos e todos eles serão grandes músicos. Tenho plena certeza, porque eles amam o que fazem, e tudo o que é feito com amor, dá fruto, e fruto de altíssima qualidade.

Quero agradecer aos membros desta Casa, representantes do povo de São Paulo, porque foram eleitos por eles, e então, a homenagem que eles nos prestam é a homenagem do povo de São Paulo, que reconhece o instituto como um local de salvação de vidas preciosas, que sem ele não teriam tido a oportunidade de manifestar os talentos que Deus jogou com as mãos cheias pelo mundo.

Quantos dons caíram lá em Heliópolis, quantos dons caíram pelo Brasil afora e sobre jovens que não tiveram condições de desabrochar, de fazer com que essa semente que caiu no seu coração crescesse, se transformasse numa flor e numa árvore belíssima? Temos dons de estados longínquos. Temos alunos do Amazonas, do Pará, do Rio Grande do Norte, do interior de São Paulo, de Minas Gerais que, através da internet, descobriram que havia um lugar onde eles poderiam ser recebidos e orientados com amor para fazer crescer essa profissão, que é divina.

A Música é a linguagem que Deus deixou pairando no universo, através da qual todos os homens se comunicam com Ele, independente de raça, de cor, ou religião. A música se comunica, se propaga pelo mundo como a língua universal com que nós falamos com Deus e Ele fala conosco, através desses caretinhas que puseram essas bolotinhas no papel e que pudemos tocar, transformando mensagens que estavam apenas na mente de Beethoven, de Mozart Essas notas estão mortas no papel, e vejam o milagre: esses meninos, esses jovens transformam todas essas notas em alma viva. É o Beethoven que está aqui no meio de nós, é o Mozart.

É o Bizet que nós ouvimos agora na abertura da Ópera Carmen e tantos outros, a começar por Johann Sebastian Bach, que, se traduzirmos em português, é João Sebastião Ribeiro, não é? Tanto que nossos músicos populares usam a música criada por Bach para fazer chorinho. Muda um pouquinho a pulsação, a divisão e a música de Bach se transforma em um chorinho, uma música genuinamente brasileira. A música é importante na nossa vida. É um instrumento através do qual Deus põe no mundo a paz, a fraternidade, o amor entre os homens.

Eles vão tocar agora peças que vocês serão transportados para o mundo que não é este que estamos aqui sentados, não. É um mundo superior já em contato com a divindade. Esse é o poder da música. Isso foi o que me disse a diretora da escola quando fiz a primeira apresentação com os 36 pequeninos que se apresentaram para estudar. Quando terminou a apresentação, ela me cumprimentou chorando e disse: “Maestro, o senhor me convenceu. A música transforma o coração dos homens. Não são mais as mesmas crianças, são os melhores alunos da nossa escola”.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - Os nossos agradecimentos às mensagens que recebemos parabenizando por esta Sessão Solene, do Deputado Estevam Galvão, líder do DEM, Deputado Aloísio Vieira, Deputado João Caramez, Deputado Gilmaci Santos e também do Sr. Paulo B. Alcântara, Diretor Técnico do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, Dra. Sandra Meneghetti, executiva da Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo, meu amigo e companheiro Zé Guardomanzo de Monte Alegre do Sul, Sra. Conceição Reis que também nos manda uma mensagem muito carinhosa que  queremos aqui registrar e agradecer.

Queria pedir ao maestro Roberto Tibiriçá que nos brindasse com a abertura da ópera Ruslan e Ludmila.

 

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- É executada a peça musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT -  Na seqüência a valsa Vozes da Primavera, ainda com o maestro Roberto Tibiriçá.

 

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- É executada a peça musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - Coisa maravilhosa! Como podemos encontrar um adjetivo apenas que possa qualificar adequadamente o que ouvimos aqui, Maestro? Não há. Penso que nem os poetas são capazes de descrever de forma fidedigna isso que está acontecendo nesta Assembléia Legislativa, palco de tantos debates, de tantas discussões.

Maestro Baccarelli, não queria me referir a este momento como uma sessão solene, mas de uma outra forma, como uma sessão de reconhecimento. Reconhecimento a esta dedicação, a este empenho, a esta forma carinhosa como o senhor se refere a esses jovens que hoje aqui estão, na verdade, nos presenteando. Uma sessão de reconhecimento a essa vontade que vemos espelhada nos olhos do Maestro Roberto Tibiriçá. Daqui observava cada gesto, cada olhar ao se dirigir a sua orquestra. A dedicação, o carinho, o afeto para com aqueles que trabalham atrás dos panos, reconhecendo a importância desses meninos e meninas que transformam o coração da gente num abrigo desse som magnífico que vocês produzem.

Tenho de fazer um registro a alguém que anonimamente tem sido uma grande alavanca desse projeto. É com ele que eu mais falo, que eu mais converso. É com ele que eu mais troco opiniões e talvez é a ele que eu mais recorra quando preciso de uma palavra de conforto, porque além de tudo o que ele faz em relação a esse projeto ele ainda consegue emprestar o ombro para ouvir as nossas angústias, as nossas tristezas. Ele também consegue enfrentar com muita dignidade os obstáculos que a vida nos coloca adiante. Eu quero convocar todos vocês para prestarmos uma homenagem muito carinhosa, do fundo do nosso coração, ao Edmilson, que quero que se levante para receber o nosso carinho. (Palmas.)

Seu esforço fala direto com a nossa alma, com o nosso coração. Cada vez que você, cheio de entusiasmo, traz uma boa notícia a respeito das conquistas, das apresentações, dos patrocinadores, das decisões em colaboração ao projeto, você faz isso não apenas com as palavras. Você faz isso com seus olhos, com seu coração, com a sua energia. Eu penso que isso também seja um grande combustível do sucesso do projeto do Instituto Baccarelli e da orquestra do Heliópolis.

Eu quero dizer duas palavras para vocês que, na verdade, são os grandes artistas deste momento que estamos vivendo hoje. Não sei há quanto tempo vocês estão trabalhando com música, mas tenho certeza de que alguns há 10 anos. E 10 anos na vida de um jovem de 20 é a metade da vida. Na vida de uma pessoa de 30 é um terço da vida. Na vida de uma pessoa de 50 é apenas 20% da vida. Mas para a história de uma comunidade, 10 anos é apenas uma página que vocês estão escrevendo de um livro que com certeza vai ser marcante para a comunidade de Heliópolis. Sem vocês, o Instituto Baccarelli não existiria. Nem com todo esforço, empenho e dedicação do Maestro não existiria.

Se alguém precisa ser homenageado, são vocês que tocam o nosso coração através da música que fazem. A música não fala apenas aos nossos ouvidos. A música fala para a nossa alma. Eu espero que, ao ouvir vocês, outros, muitos outros se emocionem também e consigam repetir em muitas outras comunidades esse projeto tão maravilhoso que vocês construíram na comunidade do Heliópolis.

Eu fico olhando para os meus amigos de Americana e tenho certeza de que pela cabeça de cada um deles está o seguinte pensamento: que consigamos um dia produzir esse mesmo resultado na comunidade do Parque da Liberdade, do Jardim da Paz, do São Gerônimo, do Gramado, comunidades também carentes. Com a ajuda que penso vou ter dos meus amigos do Instituto Baccarelli a gente possa construir lá também uma alternativa.

Posso contar com isso, Maestro Roberto Tibiriçá, Maestro Silvio Baccarelli, Maestro Edmilson e vocês que um dia serão maestros também? Que se comprometam com isso: reproduzir esse mesmo projeto em tantos lugares quanto conseguirem levar a música como instrumento de inclusão social para tantos e tantos jovens que eu tenho certeza vão cruzar o caminho de cada um de vocês.

Quero finalizar agradecendo a todos os funcionários desta Casa que nos proporcionaram esta noite tão feliz. Quero me dirigir especialmente a Dona Yeda, que conduziu de maneira brilhante a nossa sessão. Aos companheiros do meu gabinete: Flora, Ana e Leandro, os três principais articuladores deste momento sem embargo aos demais, eu quero também agradecer.

Normalmente encerramos a sessão com uma frase dizendo “Está encerrada a sessão.” Eu vou dizer isso, mas não sem antes convocar o Edmilson Venturelli para nos apresentar um número que eu acho maravilhoso. Se você quiser tocar o Hino do São Paulo eu também deixo. (Manifestação nas galerias.) E o do Corinthians, pode? (Manifestação nas galerias.) Está cheio de palmeirenses aqui. (Manifestação nas galerias.)

Isso foi para quebrar o protocolo. Fique à vontade. (Pausa.) 

Isabel, obrigado pela sua colaboração também.

Você pode tocar o que quiser, desde que toque “Sementes do Amanhã”.

 

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-  É entoado um número musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - Esta Presidência agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e 09 minutos.

 

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