04 DE AGOSTO DE 2006

027ª SESSÃO SOLENE PARA HOMENAGEAR O “DIA DA COMUNIDADE ALEMÔ

 

Presidência: ROMEU TUMA


DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 04/08/2006 - Sessão 27ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: ROMEU TUMA

 

HOMENAGEAR O "DIA DA COMUNIDADE ALEMÃ"

001 - ROMEU TUMA

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pelo Presidente efetivo da Assembléia Legislativa, a pedido do Deputado ora conduzindo os trabalhos, com a finalidade de homenagear o "Dia da Comunidade Alemã". Convida todos para, de pé, ouvirem a execução dos Hinos Nacionais Brasileiro e Alemão.

 

002 - STEFAN GRAF VON GALEN

Representante da Comunidade Alemã no Conscre e Presidente da Associação Benjamin Constant, fala de sua satisfação em participar desta solenidade. Solicita um minuto de silêncio em memória de Ingo Renaux, por seu exemplo no engajamento, dedicação e amor pela conservação da cultura e tradição alemã, bem como por manter e aprimorar os laços entre o Brasil e a Alemanha. Discute o bom relacionamento entre os imigrantes de mais de 20 países moradores de São Paulo, independentemente da sua religião, cor, classe social, etc, bem como propagar as suas raízes, culturas e tradições.

 

003 - RÜDIGER STUMP

Presidente do Clube Transatlântico, relata a história da imigração alemã no Brasil, iniciada nos primeiros anos do século XIX e a contribuição dos alemães na industrialização, cultura e educação do país, principalmente no Estado de São Paulo.

 

004 - FRANZISKA POTEL

Consulesa para Assuntos Culturais do Consulado da República Federal da Alemanha, tece considerações sobre os alemães e seus descendentes que residem em São Paulo e da relação cultural e econômica entre o Brasil e a Alemanha.

 

005 - Presidente ROMEU TUMA

Fala sobre os motivos que o levaram a propor o projeto de lei de criação do Dia da Comunidade Alemã, que se encontra em tramitação nesta Casa. Faz breve relato sobre a influência germânica na cultura e economia de São Paulo. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Esta Presidência quer agradecer e anunciar a presença das autoridades que compõem esta Mesa: Sra. Franziska Potel, Consulesa para Assuntos Culturais do Consulado Geral da República da Alemanha; Sra. Ursula Dormien, Presidente das Corporações Alemãs; Sr. Rüdiger Stump, Presidente do Club Transatlântico; nosso amigo, Sr. Stefan Graf Von Galen, representante da Comunidade Alemã no Conscre e Presidente da Associação Benjamin Constant; nosso amigo, Sr. Sérgio Serber, Presidente do Conscre, Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Cultura Estrangeiras e Sr. Klaus H. Behrens, Presidente do Conselho do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Rodrigo Garcia, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear o Dia da Comunidade Alemã.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos os Hinos Nacionais Alemão e Brasileiro.

 

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- São executados os Hinos Nacionais Alemão e Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Informamos que hoje, excepcionalmente, esta solenidade ocorre neste plenário por conta da reforma do plenário principal. Por isso não contamos com a presença da banda da Polícia Militar.O nosso operador de som programou a entrada dos Hinos no tempo exato, na proporção da chegada do Schumacher e do Massa. Vocês perceberam que houve alguns segundos de diferença.

Concedemos agora a palavra ao Sr. Stefan Graf von Galen, representante da comunidade alemã no Conscre - Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras e Presidente da Associação Escolar Benjamin Constant.

 

O SR. STEFAN GRAF VON GALEN - Prezado Deputado Estadual Dr. Romeu Tuma, Prezada Sra. Potel, Consulesa da República Federal da Alemanha, Prezada Sra. Ursula Dormien, Presidente das Corporações Alemãs da cidade de São Paulo, Prezado Sr. Stump, Presidente do Clube Transatlântico, Prezado Sr. Klaus Behrens, Presidente do Conselho do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Prezados Colegas do Conscre, Prezadas Senhoras e Senhores,

É com imensa honra, alegria e satisfação que comemoramos pela terceira vez o “Dia da Comunidade Alemã”.

A alegria e satisfação não é tão completa pois a alguns meses atrás perdemos o nosso maior líder, o Sr. Ingo Renaux, que foi um exemplo no engajamento, dedicação e amor pela conservação da cultura e tradição alemã, bem como por manter e aprimorar os laços entre o Brasil e a Alemanha. Nobre Deputado, peço a permissão para que prestemos uma homenagem a este grande homem com um minuto de silêncio.

Neste ano em função da Copa do Mundo notou-se claramente o intercâmbio entre o povo brasileiro e alemão. Viu-se pela TV centenas, milhões de alemães vestindo a camisa da seleção brasileira mostrando assim de alguma forma uma afinidade com o Brasil. Por outro lado os brasileiros de diversas gerações alemãs vestiram as camisas da Alemanha, retribuindo um amor pela pátria dos seus antepassados.

Nota-se também no comércio, indústria e turismo tanto aqui como na Alemanha um avanço significativo nas relações bilaterais.

Estas relações da comunidade alemã não se restringe apenas com a pátria, mas também com outras etnias, de outros países.

Nós do Conscre, e eu em particular como representante da comunidade alemã, tentamos divulgar, e discutir o bom relacionamento entre os imigrantes de mais de 20 países moradores de São Paulo, independentemente da sua religião, cor, classe social, etc., bem como propagar as suas raízes, culturas e tradições.

Assim, por exemplo mantemos um relacionamento estreito com a comunidade judaica, com a qual não temos boas recordações pelo que aconteceu durante a 2ª Guerra.

Por isto esta data, na realidade a data exata é o dia 25/07, é de extrema significação, para que nós e principalmente as gerações futuras deem continuidade a tudo o que os nossos antepassados construíram.

Nobre Deputado Dr. Romeu Tuma, mais uma vez, em nome de toda a comunidade alemã agradeço imensamente pelo seu engajamento em prol dos alemães e seus descendentes radicados aqui em São Paulo. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Queremos anunciar a presença da Sra. Oriana Jara Maculet, Presidente da ONG Presença da América Latina.

Com a palavra o Sr. Rüdiger Stump, Presidente do Clube Transatlântico.

 

O SR. RÜDIGER STUMP - Ilustríssimo Sr. Presidente da Mesa, Deputado Romeu Tuma, Prezada Sra. Potel, Consulesa para Assuntos Culturais do Consulado da República da Alemanha, Prezada Sra. Ursula Dormien, porta-voz da Confederação das Comunidades de Língua Alemã em São Paulo, Sr. Stefan Graf Von Galen, membro do Conscre; Sr. Klaus Behrens, Presidente do Conselho do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

É com satisfação que venho hoje falar sobre a história dos 182 anos da imigração alemã no Brasil. Fato marcante para estes dois países que mesmo distantes geograficamente se uniram e fortificaram duas culturas tão adversas que culminou em progresso e numa relação muito fraterna.

Vou brevemente passar a trajetória desta saga, relatando resumidamente alguns personagens que tiveram papel importante não só na imigração alemã mas na História do Brasil de forma geral.

O Brasil tornou-se uma região importante a partir da emigração da corte real em 1808. O pequeno Portugal teve medo de ser triturado entre os massivos interesses das potências da França e Inglaterra.

Com a chegada de Dom João VI, começaram também os investimentos e a imigração de Europeus para o Brasil. Enquanto no início a maioria dos imigrantes já tinha servido a corte de Portugal e vinha a convite do rei, a partir de 1821 quando Dom João regressou para Portugal e nomeou seu filho Pedro como rei do Brasil, começou a propaganda para alistar soldados e colonos.

Durante os 13 anos da regência de Dom João Vi destacaram-se vários alemães e descendentes diretos como importantes administradores e pioneiros no Brasil. Daniel Pedro Mueller chegou em 1804 como ajudante do governador da capitania São Paulo e executou essa função até 1810. A partir de 1814, Mueller prestou serviço como Tenente Coronel no batalhão de engenharia e iniciou a pavimentação e construção de muros e córregos no centro de São Paulo. Uma obra até hoje existente é o paredão na Rua Xavier de Toledo. Entre as ruas Xavier de Toledo e Quirino de Andrade foi construída uma bacia, um pequeno piscinão. No centro desse piscinão ergueu-se um obelisco com a placa "ao zelo do bem público - 1814". A placa sumiu, mas o obelisco encontra-se no mesmo lugar até hoje. O coronel Mueller foi ainda responsável pela construção de muitas ruas e viadutos.

Outra personalidade que merece destaque é o engenheiro Friedrich Ludwig Wilheim Varnhagen. Como engenheiro de mineração foi contratado pela corte de Portugal em 1803 e desembarcou em 1809 no Brasil. Em 1814 foi nomeado Diretor da Fábrica Real de Ferro Ipanema perto de Sorocaba. Sob sua administração cresceu a fabricação de produtos usados na agricultura, no uso doméstico e no uso militar. Quando ele regressou para Portugal em 1821, tinha nascido o seu filho Francisco Adolpho em 1816. Esse filho que recebeu a sua educação em Portugal, mas sempre voltou ao país de sua origem, mostrou-se mais tarde um brasileiro. Serviu o Brasil em várias missões diplomáticas e escreveu a primeira história do Brasil. Posteriormente, foi concedido a ele o título “Visconde de Porto Seguro”.

Johann Kari August von Oyenhausen nascido em Portugal, filho do alemão Kari August von Oeynhausen, passou pela instrução militar e foi nomeado, em 1802, Capitão da Capitania do Ceará.

Em 1807 foi transferido para o Mato Grosso e finalmente assumiu a Capitania de São Paulo em 1819. Nos anos que antecederam a independência, o Capitão Oeynhausen reestruturou a administração, limpou-a de maus elementos e apoiou tanto o engenheiro Mueller em seus planos urbanísticos como o engenheiro Varnhagen em sua tarefa na fábrica de ferro.

A imigração alemã continuou principalmente para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Hoje, porém, gostaria de me concentrar principalmente no Estado de São Paulo. Aqui encontramos em 1845 a vinda do Professor de Geografia e Geologia Carlos Rath, que já lecionava na Universidade de Tübingen na Alemanha e chegou a convite de Dom Pedro II. Carlos Rath, além de ser engenheiro, também se destacou como representante da comunidade alemã na cidade de São Paulo e assumiu várias tarefas sociais, como a construção de igrejas e cemitérios.

A comunidade alemã de São Paulo cresceu tanto que, em 1878, foi fundada, na Rua Florêncio de Abreu, a primeira escola alemã que posteriormente mudou-se para a Rua Olinda e por isso chegou a ser conhecida como “Olinda Schule” e transformou-se, a partir de 1938, no Colégio Visconde de Porto Seguro. Aliás, a escola foi fundada no ano da morte do grande historiador Visconde de Porto Seguro.

A fase de industrialização que se iniciou no final do século 19 baseou-se na iniciativa e no risco empresarial de homens com visão:            em São Paulo eram Louis Bücher e Anton Zerrenner com a Cervejaria Antártica Paulista. Os irmãos Weiszflog fundaram em 1899 a indústria de papel Melhoramentos de São Paulo que expandiu com o lema: "da árvore até o livro tudo numa mão só".

A partir de 1916, a atividade industrial e comercial dos alemães de São Paulo chegou numa importância que justificou a fundação de uma câmara de comércio e indústria. Essa câmara nasceu na época de uma necessidade de sobrevivência, pois os aliados da Primeira Guerra Mundial tinham a intenção de cortar e impedir qualquer atividade comercial dos alemães no Brasil. Os fundadores foram as companhias: Theodor Wille, Hermann Stolz, Irmãos Weiszflog e Bromberg.

No esporte nacional, foram alemães ou filhos de alemães que direcionaram o futuro do futebol paulista. Hans Nobeling chegou de Hamburgo em 1897 e trouxe em suas malas a camisa do seu clube "Hamburger Sportverein", bem como os estatutos do clube. Com base nisso, ele fundou junto com amigos o "Sport Club Germânia" que depois da guerra trocou o nome para "Esporte Clube Pinheiros". As cores do clube permanecem até hoje as mesmas do HSV de Hamburgo. A recente copa do mundo tirou um dos maiores fenômenos da bola do esquecimento: Artur Friedenreich - El Tigre - filho de um imigrante alemão e uma negra, que finalizou em sua carreira, mais gols do que o rei Pelé.

A partir dos anos 50, intensificaram-se os investimentos industriais no Brasil, mas principalmente no Estado de São Paulo que se desenvolveu cada vez mais como a locomotiva da industrialização brasileira. Principalmente a indústria automobilística, que descobriu o Brasil como um país com grande potencial. Na Grande São Paulo, instalaram-se a Volkswagen e a Mercedes, as duas marcas mais importantes da Alemanha e, consequentemente, essas empresas dominaram em curto prazo o mercado brasileiro, tanto de carros de passeio bem como de utilitários. Numa segunda fase, essas duas grandes montadoras chamaram fornecedores de autopeças, bem como prestadores de serviço, para se instalarem no estado. A Alemanha tornou-se, na época pós-guerra, o país com o segundo maior investimento no Brasil, e São Paulo era considerada o maior pólo industrial alemão fora da Alemanha.

Chegando ao final da minha palestra, quero me desculpar pela impossibilidade em mencionar todas as personalidades, entidades, associações e empresas, mas as atividades de alemães e dos descendentes são tantos que precisaria muito mais espaço para mencionar todos que merecem.

Somente quero mencionar, em especial, duas personalidades que se destacaram nos últimos 50 anos na comunidade alemã em São Paulo: o Sr. Ernst Gunther Lipkau, Presidente de Honra da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, que ajudou com imensa dedicação muitas empresas a ter sucesso no Brasil; e o recém falecido, Sr. Ingo Renaux, que como presidente da Associação das Entidades Alemãs de São Paulo, contribuiu muito para a forte presença cultural e social dos alemães nessa cidade e neste Estado.

Espero que eu tenha conseguido neste curto espaço de tempo, passar uma fração desta importante relação entre nossos povos, nossos paises, nossas economias e nossa história e para encerrar gostaria em nome do Hospital Oswaldo Cruz, Frigorífico Hans, Pães Wickbold e Colégio Benjamim Constant convidá-los para um breve coquetel viabilizado pelas empresas mencionadas. Senhoras e Senhores, muito obrigado pela atenção.

 

O Sr. Presidente - Romeu Tuma - PMDB - Esta Presidência concede a palavra à Exma. Sra. Franziska Potel, Consulesa para Assuntos Culturais do Consulado da República Federal da Alemanha.

 

A SRA. FRANZISKA POTEL - Exmo. Sr. Deputado Romeu Tuma, estou muito feliz por estar presente nesta noite. Lembro-me bem do ano passado, quando este dia foi comemorado pela segunda vez. Recém-chegada da Alemanha, aquele foi realmente meu primeiro evento como Consulesa de Assuntos Culturais em São Paulo.

Fiquei muito impressionada com a idéia e com o empenho das entidades da língua alemã em organizar este dia e também com a boa idéia do Exmo. Deputado Romeu Tuma.

Aproveito esta ocasião, esta noite, para agradecer a essas entidades por terem deixado o Consulado participar e, dessa forma, colaborar para comemorar a importância da amizade teuto-brasileira.

Perguntam-nos muitas vezes quão grande é a comunidade alemã no Estado de São Paulo. Estávamos pensando sobre isso, sobre quem somos. Eu também faço parte da comunidade alemã mesmo que seja, infelizmente, por pouco tempo.

Mas é muito difícil estabelecer isso porque temos muitos brasileiros com dupla nacionalidade, muitos brasileiros só com um passaporte mas que se sentem alemães por causa dos antepassados. Existem alemães que estão morando aqui por um curto prazo, trabalhando em empresas.

Isso mostra muito bem a integração da comunidade alemã no Brasil.Existem tantos pontos de colaboração na área da cultura, na indústria e no comércio que é impossível mencionar.

O Sr. Stump citou muito bem a história da imigração alemã, mas eu também gostaria de mencionar o futuro que tem a amizade teuto-brasileira.

Neste ano contamos com a presença do Ministro Federal de Negócios Estrangeiros, Sr. Frank-Walter Steinmeier, que em maio estava no Brasil. Ele também disse que o Brasil é o país mais importante na América do Sul para a Alemanha. Por isso esperamos poder fortalecer ainda mais essa cooperação nas diversas áreas.

Neste momento gostaria também de transmitir as saudações do nosso novo Cônsul Geral, recém-chegado. Ele está no Brasil fazendo um curso de Português e manda saudações para todos. Agradeço novamente o empenho de todas as entidades organizadoras. Muito obrigada pela presença! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Srs. Deputados, autoridades presentes, senhoras e senhores, queridos amigos, estamos no período eleitoral. Precisamos então restringir absolutamente as normas vigentes, principalmente nós que somos os defensores da legislação, para que não sejam transcendidos os limites legais no uso do Parlamento. Fiz então o meu discurso, por escrito, para manter-me absolutamente dentro da regra, nem além nem aquém.

Depois do histórico, narrado pelo nosso Presidente, do Stefan Graf Von Galen, e sobre a imigração da comunidade alemã no Brasil, depois completado pela nossa querida consulesa, confesso que estou tentando falar de improviso porque seria repetir de uma forma resumida aquilo que já foi exposto. Vou me arriscar. Falarei com o coração e vou me manter, como sempre fiz na minha vida, apenas para dar uma explicação, mas com menos frieza, e explicar o porquê de termos apresentado esse projeto, que introduz no calendário do Estado de São Paulo o Dia da Comunidade Alemã, que será comemorado no dia 25 de julho.

Esse projeto nasceu como nascem todas as propostas que tenho apresentado nesta Assembléia Legislativa durante esse período de mandato que exerço. Nada que fiz e apresentei nesta Casa foi sem que acreditássemos nele. As pessoas perguntam: “Por que o Deputado Tuma, neto de árabe, apresentou um projeto em homenagem à comunidade alemã?” Às pessoas que não me conhecem parece ser oportunismo. Mas não é isso. Nunca fiz nada neste Parlamento que não fosse aquilo que a minha convicção, a minha tradição de lealdade aos meus princípios de vida pudessem pautar. Existe então uma explicação e acho que eu me aterei a isso.

Aprendi com o meu falecido avô, pai do meu pai, Zike Tuma, uma das principais lições da minha vida: respeitar aquilo que é das pessoas, respeitar a posse dos outros, respeitar os limites, respeitar os que trabalham e conquistam com o seu suor diário a melhoria de sua vida. Na época da guerra - os senhores talvez não se lembram, porque são todos muito jovens -, as empresas estrangeiras tiveram de sair e transferidas de seus proprietários para as pessoas brasileiras. A Tecelagem Teka - o nome sempre esqueço, mas aprendi a conviver com ela desde criança -, do Sr. Rolf, filho do proprietário que conheci, transferiu o nome para o meu avô, que passou a ser o proprietário daquela empresa por conta da guerra.

Passada a guerra e a sua anormalidade com que o mundo viveu, meu avô devolveu - como deveria fazer, obviamente - essa grande empresa aos proprietários legítimos. Fomos praticamente educados aprendendo isso, lembrando que muitos daqueles que receberam empresas de terceiros não as devolveram. Este foi um grande ensinamento e primeiro contacto que formou um pouco o meu caráter com essa convivência com a comunidade alemã, por conta de o meu avô ter sido empregado daquela empresa ou viver de vendas, coisa que também meu pai fez.

Mesmo quando policial, tinha sua lojinha de enxovais da Teka. Aquilo foi uma lição de vida para todos nós, filhos, que vimos no ato do meu avô - hoje, infelizmente, é uma exceção, deveria ser uma regra - um ato de grandeza, de alguém que age dentro do respeito às conquistas dos seus semelhantes.

É por esse vínculo histórico, por esse conhecimento, que aprendemos a amar e a respeitar a comunidade alemã. Aliás, foi depois de conhecer o Stefan, uma pessoa que representa vocês com muita dedicação e firmeza, que apresentamos esse projeto.

Esse projeto já está pronto, já deveria ter sido votado. Ainda não o foi por causa da vida do Parlamento, mas quero crer que até o final deste ano vire lei no Estado de São Paulo a fim de que no próximo ano possamos comemorar no Estado o Dia da Comunidade Alemã no dia 25 de julho.

Todo o histórico da comunidade foi muito bem colocado pelos oradores que me antecederam, mas eu também preparei um breve relato, que passo a ler:

Senhores Deputados, Autoridades presentes, Senhores e Senhoras presentes, Meus caros e queridos amigos.

A Alemanha é uma das principais parceiras do Brasil nas áreas econômica e cultural e foi para homenagear a grande contribuição dada pela comunidade de língua alemã, na integração cultural de São Paulo, que apresentei o Projeto de Lei nº 196, de 2004, que hoje tramita nesta Assembléia Legislativa, para se instituir no âmbito do Estado de São Paulo, o "Dia da Comunidade Alemã".

São Paulo conta com quase 1200 empresas de capital alemão e essa notável participação em nosso cenário econômico, faz com que seja considerada "a maior cidade industrial alemã do mundo.

Diante desse número, podemos auferir o forte indicador que as empresas alemãs aqui radicadas a partir da segunda metade do século 20, desempenharam no desenvolvimento industrial do Brasil.

A grande maioria dos descendentes dos imigrantes alemães, que já despontam em sua quarta geração, vive em São Paulo. Avalia-se que a soma dessas gerações alcance de 3 a 5 milhões de indivíduos em todo o Brasil.

Os alemães foram os protagonistas do primeiro fluxo imigratório mais sistemático que se dirigiu para o Brasil após a independência.

Entre 1824, ano da fundação da primeira colônia alemã no Rio Grande do Sul, em São Leopoldo e 1830, quando essa imigração foi interrompida por causa da revolução Farroupilha e, depois, entre 1845 e 1938, o Brasil recebeu imigrantes alemães todos os anos.

Em São Paulo a imigração começou em 1827, com a chegada de 227 imigrantes alemães no porto de Santos, que se radicaram em Santo Amaro e em Itapecerica da Serra.

No período compreendido entre 1850 e 1909 entraram mais ou menos quinze mil alemães em cada década.

O maior fluxo ocorreu no período que se seguiu à primeira guerra mundial: na década de 1920 aqui chegaram cerca de 75.000 alemães,quase 30% do total.

A imigração alemã estava vinculada ao processo de colonização de terras devolutas, levado a cabo nos três estados do sul, especialmente a partir da promulgação da Lei de Terras de 1850. Houve assentamentos de alemães em outros estados, mas foram efêmeros, especialmente em Minas Gerais e na Bahia.

O que se esperava, com base na experiência dos colonos alemães, era um avanço na agricultura. Mas como naquela época, as condições da agricultura e da vida em geral eram muito precárias, a maioria dos imigrantes alemães não ficou muito tempo nessas terras.

Na década de 1920, muitos imigrantes preferiram ficar em cidades maiores, como São Paulo, Curitiba ou Porto Alegre, preferencialmente nas chamadas "colônias alemãs" e não necessariamente na condição de colonos.

Entre os imigrantes havia grande contingente de camponeses e membros das classes trabalhadoras em geral, cuja motivação para emigrar estava relacionada à pobreza; mas também havia artífices especializados, refugiados políticos, ex-militares, pequenos empresários, intelectuais, etc.

De maneira bem objetiva, a comunidade étnica teuto-brasileira foi definida através de critérios bastante inclusivos: o uso da língua alemã (o bilingüismo só seria incentivado na década de 1930); a preservação de usos e costumes tradicionais, que diferenciavam dos brasileiros nos seus hábitos alimentares, o comportamento religioso, a organização do espaço doméstico (tanto no interior das casas quanto nos terrenos circundantes); a intensidade da vida associativa, através de todo um conjunto de sociedades culturais e recreativas que se encarregavam de difundir valores da cultura alemã vinculados ao teatro, literatura, música, dança, ginástica e esportes, que assumiram um forte conteúdo étnico.

A escola alemã e a família eram os baluartes do ensino da língua alemã. Existiam, ainda, os jornais e outras publicações em língua alemã que, ao lado da função informativa e noticiosa, também serviam de veículo aos literatos teuto-brasileiros e aos autores alemães mais tradicionalmente nacionalistas, como nos textos que ressaltavam a identidade étnica.

A tradição alemã é encontrada no "Clube Transatlântico", "Sociedade Filarmônica Lira" e "Club Kolpinghaus".

Portanto, hoje é uma data muito importante para o Parlamento paulista, pois estamos tendo a honrosa oportunidade de homenagear o dia da comunidade alemã em São Paulo. Parabéns a todos.

Quero parabenizar a colônia pela realização da Copa do Mundo. O Stefan falou do exemplo de organização, do exemplo de cidadania, do exemplo que a Alemanha deu para o mundo de como se pode e deve receber os seus semelhantes. Durante 30 dias a Alemanha se viu como a capital do mundo. Todos os olhos estavam voltados para lá.

Não tivemos a mesma tristeza que os nossos irmãos alemães por não termos conquistado a Copa por uma razão: os nossos queridos irmãos alemães perderam de pé, perderam lutando. O Brasil, a seleção brasileira, infelizmente, não perdeu assim. Mas, enfim, futebol é assim mesmo e sabemos, como bem lembrou o Presidente do nosso Clube Transatlântico, que até um alemão superou o Pelé em número de gols. É de se contestar, contudo, é um fato histórico e verdadeiro.

No dia-a-dia da Copa ouvimos com freqüência o hino alemão, que parece contagiou as pistas de Fórmula 1. O hino que tanto tocou durante a Copa, não saiu mais do circuito de Fórmula 1. Pelo jeito como a coisa caminha, acho que vai repetir domingo. É um hino que já aprendemos a gostar e a admirar.

Nesse sentido, quero encerrar a minha fala mantendo-me dentro dos limites estabelecidos pela legislação, agradecendo a todos vocês pelo carinho, pela presença e pelo respeito. Quero dizer que me sinto muito honrado em ser o autor desse projeto e de poder dividir com vocês essa alegria.

Quero agradecer aos presentes e às organizações já citadas, que oferecerão um coquetel após o encerramento da sessão. Agradeço especialmente ao Stefan, o elo de ligação entre o meu mandato e vocês. Aliás, sua esposa cuidou pessoalmente de todos os detalhes do coquetel, desde a colocação das bandeirinhas até a forma como será servido. Muito obrigado.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa, ao Cerimonial, à minha querida Tia Yeda - uma forma carinhosa que eu tenho de chamá-la - e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 20 horas e 55 minutos.

 

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