19 DE JUNHO DE 2009

032ª SESSÃO SOLENE EM  HOMENAGEM  AOS “MÚSICOS DO BRASIL”

 

Presidente: RODOLFO COSTA E SILVA

 

 

RESUMO

001 - RODOLFO COSTA E SILVA

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Comunica que o Presidente Barros Munhoz convocara esta sessão solene, a requerimento do Deputado Rodolfo Costa e Silva, na direção dos trabalhos, para "Homenagear os Músicos do Brasil". Convida o público a ouvir, de pé, o Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - MARIO HENRIQUE OLIVEIRA

Presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais e Intérpretes do Município de São Paulo - Sindimusp -, fala de sua emoção ao participar deste evento. Faz histórico sobre os 42 anos da entidade que preside. Recorda dificuldades enfrentadas no período militar. Agradece a vários dirigentes de entidades musicais.

 

003 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA

Anuncia o septeto "Violinos Show", que apresentou as músicas "Wave" e "Garota de Ipanema".

 

004 - ANSELMO RAMPAZZO

Presidente da Associação de Fabricantes de Instrumentos Musicais do Brasil, ressalta a qualidade e a excelência da produção nacional de instrumentos. Faz referências à concorrência com a China. Informa que a produção brasileira seria maior, se o ensino de música fosse mais valorizado.

 

005 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA

Anuncia o "Coral da Emily", que faz apresentação musical.

 

006 - ROBERTO BUENO

Presidente da Ordem dos Músicos do Brasil - Conselho Regional do Estado de São Paulo, recorda que Dom Pedro I foi o autor do "Hino da Independência", incentivou a produção musical, e concedeu bolsa a Carlos Gomes para estudar na Europa. Lembra que o presidente Getúlio Vargas tornou obrigatório o ensino de música. Cita iniciativas de Villa-Lobos. Enaltece a figura do presidente Juscelino Kubitschek, que sancionou a lei que criou a entidade que ora dirige. Comunica que sua gestão herdou muitas dívidas. Cita ações sociais que implementou.

 

007 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA

Presta homenagem aos músicos brasileiros, na pessoa do Sr. Roberto Bueno. Anuncia o violonista Robson Miguel, que faz apresentação musical.

 

008 - ALDO BARBIERI

Faz reflexão sobre a situação brasileira. Ressalta a necessidade de valorização da Educação, em contexto amplo. Recorda os investimentos na área educacional, levados a efeito na Índia e na Coreia do Sul. Lamenta que muitos músicos estejam desempregados. Recorda que muitos músicos precisam recorrer a outras atividades. Lembra que Jacob do Bandolim era escrivão de polícia. Comunica que muitos profissionais brasileiros só conseguem reconhecimento no Exterior.

 

009 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA

Anuncia o cantor argentino Carlos Bergesio, que interpreta a canção "El Dia Que Me Quieras", do compositor brasileiro Alfredo Le Pera, acompanhado do músico Robson Miguel. Ressalta a necessidade de políticas sociais para o exercício pleno da cidadania. Enaltece o Ensino como agente transformador. Destaca avanços na área da música, pela sua força mobilizadora e, por usar da matemática, desenvolver o raciocínio lógico. Cita ações junto às Secretarias de Cultura, em âmbitos estadual e municipal, relativas à música. Elogia os profissionais músicos. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Rodolfo Costa e Silva.

 

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O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Iniciamos os nossos trabalhos, agradecendo a presença de todos nesta manhã memorável para a Assembleia Legislativa.

Compondo a Mesa temos o Dr. Roberto Bueno, Presidente da Ordem dos Músicos do Brasil, Conselho Regional do Estado de São Paulo; Sr. Mário Henrique Oliveira, Presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais e Intérpretes do Município de São Paulo, Sindimusp.

Sras. Deputadas e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente efetivo desta Casa, Deputado Barros Munhoz, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear os Músicos do Brasil.

Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Camerata da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do 2º Tenente Músico PM Ismael Alves de Oliveira.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Esta Presidência agradece à Camerata da Polícia Militar do Estado de São Paulo na pessoa do maestro 2º Tenente PM Músico Ismael Alves de Oliveira. Aproveito a oportunidade para convidar os músicos da Camerata a permanecerem nesta sessão, pois hoje estamos, justamente, homenageando os músicos do Brasil.

Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Mário Henrique Oliveira, Presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais e Intérpretes do Município de São Paulo, Sindimusp.

 

O SR. MÁRIO HENRIQUE OLIVEIRA – Bom-dia a todos. Gostaria, inicialmente, de agradecer a presença dos senhores e ao Deputado Rodolfo Costa e Silva por esta homenagem.

Depois de 42 anos, temos o privilégio de estar nesta Casa sendo homenageados, principalmente pelas difíceis condições que estamos vivendo hoje. Temos sensação de termos saído de um sonho que buscamos por tantos anos, impossível de ser alcançado. Mas esse sonho hoje se torna realidade.

Agradecemos ao Professor Roberto Bueno por estar transformando a Ordem dos Músicos na casa do músico, algo difícil até de se entender pelas circunstâncias.

Queremos agradecer também a uma pessoa que foi muito importante em todas essas mudanças e continua sendo. Estou me referindo ao Sr. Carlos Mendes, Presidente do Sindicato dos Compositores, que, junto conosco, lutou para que conseguíssemos realizar mudanças concretas.

Não poderíamos deixar de citar o Dr. Helder Silveira, também um dos grandes responsáveis por esta mudança, ao Dr. Jatir, que muito nos auxilia, mas, infelizmente, não pôde estar presente, à D. Maria Cristina, 1ª Secretária, ao César da Loja dos Músicos, D. Rosa, Sr. Plínio, vice-Presidente. São várias pessoas importantes que contribuíram para essa mudança.

Agradecemos às pessoas que aqui estão, aos músicos da Camerata da Polícia Militar, aos músicos presentes. São pessoas que realmente têm tudo a ver com a música e merecem estar aqui.

Hoje, a Ordem dos Músicos está sendo homenageada, tendo um músico, de fato, na sua Presidência - Professor Roberto Bueno -, para quem peço uma salva de palmas. (Palmas.)

Agradecemos ao Deputado e a sua assessoria por esta homenagem maravilhosa. Muito obrigado a todos os presentes.

 

O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Teremos agora a apresentação dos Violinos Show. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Agradecemos a bela apresentação dos Violinos Show.

Queremos anunciar a presença do ex-Deputado Ruy Codo, criador do Hino dos Bandeirantes e da lei que instituiu o Hino do Estado de São Paulo. (Palmas.)

Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Anselmo Rampazzo, Presidente da Associação de Fabricantes de Instrumentos Musicais do Brasil.

 

O SR. ANSELMO RAMPAZZO – Bom-dia a todos. Na qualidade de Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Instrumentos Musicais do Brasil, Anafima, quero dizer que temos uma honra muito grande em participar desta Sessão Solene em homenagem aos Músicos do Brasil, a razão da existência das empresas dos brasileiros que se dedicam à construção de instrumentos musicais.

A indústria nacional de instrumentos musicais, Deputado Rodolfo Costa e Silva, tem nos músicos do Brasil seu principal público comprador, assim como os estudantes. Atendemos com padrão de excelência e qualidade quase toda gama de instrumentos musicais.

Nosso segmento industrial poderia ser bem melhor se tivéssemos a cultura musical dos países como Alemanha, Japão, Estados Unidos. Mas, embora o Brasil seja um país musical por natureza, ficamos restritos aos profissionais da música e às manifestações folclóricas regionais. Nos países mencionados, a música faz parte do currículo escolar, desde o primeiro ano, na longa trajetória educacional dos seus cidadãos.

No Brasil, somente agora foi introduzido o programa de música nas escolas, que passa a ser obrigatório em todo o território nacional, a partir de 2009.

Não fosse por um detalhe, a adoção do Programa Música nas Escolas teria tudo para dar certo também para os fabricantes nacionais de instrumentos musicais. Sem os devidos cuidados da regulamentação, o Programa Música nas Escolas não contempla nem o pacote mínimo de instrumentos musicais necessários ao currículo, nem a procedência dos instrumentos.

Assim, os primeiros ensaios do Programa Música nas Escolas já indicam que alguns Estados brasileiros estão comprando instrumentos musicais da China, maior fabricante do mundo. Nada contra a importação ou o livre comércio, mas suspeita-se de subfaturamento, importação não muito correta. Assim, a concorrência fica difícil e desleal.

Somente o ano passado, o equivalente a 75 milhões de dólares FOB, ou seja, 225 milhões, foram importados da China pelo Brasil. Na verdade, essas cifras poderiam estar entre nós, brasileiros, sem mencionar o fato de o produto brasileiro ter qualidade à altura de qualquer outro país produtor de instrumentos musicais.

Peço desculpas por trazer este assunto tão árido a uma Sessão Solene em homenagem aos Músicos do Brasil, mas, por outro lado, este fórum pode ser o nascedouro para a solução de uma questão industrial economicamente carente.

Quero prestar uma homenagem aos músicos do Brasil e estendê-la aos fabricantes de instrumentos musicais do Brasil.

Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Neste momento, teremos a apresentação do Coral da Emily. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Quero agradecer a apresentação do Coral da Emily. Em vez de nós homenagearmos os músicos, são eles que nos homenageiam nesta manhã maravilhosa. A Assembleia Legislativa ficou mais bonita esta manhã.

Esta Presidência concede a palavra ao Professor Roberto Bueno, Presidente da Ordem dos Músicos do Brasil.

 

O SR. ROBERTO BUENO – Quero deixar aqui minha gratidão eterna a todos os colegas que vieram participar desta homenagem. Agradeço ao Deputado Rodolfo Costa e Silva, por nos prestigiar e abrir esta Casa para nós.

No tempo do Império, tivemos o Imperador D. Pedro I, que, como todos sabem, foi o criador do Hino da Independência, sem sombra de dúvida, o pioneiro da música no Brasil.

D. Pedro teve a coragem de mandar Carlos Gomes para estudar no exterior, custeando as despesas. A nossa gratidão é eterna a esse primeiro “político” do tempo do Império que sempre teve um grande apreço pelo músico.

Certa vez, na sua residência, no Palácio, organizou uma festa e disse ao coordenador da festa: “Eu gostaria que você desse, aos músicos, os melhores quartos e os melhores pratos.” O encarregado perguntou o motivo dessa discriminação. D. Pedro foi claro e taxativo: “Eu demoro a vida inteira para fazer um músico, ao passo que um comendador, um barão, um visconde, eu faço com uma caneta.”

Depois de D. Pedro, veio outro político, Getúlio Vargas, que instituiu o ensino obrigatório da música nas escolas, o canto orfeônico, apoiou Villa-Lobos, etc.

Após Getúlio, veio aquele que sancionou a lei da Ordem dos Músicos do Brasil, nosso inestimável e inesquecível Presidente Juscelino Kubitschek.

Meus amigos, a Ordem dos Músicos do Brasil veio para trabalhar pelo músico, e não contra o músico. Infelizmente, tivemos um período ditatorial, e nossa Ordem ficou no anonimato durante quarenta e poucos anos, como disse o Marinho.

Nossa luta está sendo árdua e difícil. Não tenho vergonha de dizer isso aqui, porque mais vale uma verdade do que um milhão de mentiras. Pegamos a Ordem dos Músicos do Brasil com 852 reais no caixa e cinco milhões de dívida. Estamos fazendo o possível e impossível.

Como o Marinho já mencionou, a D. Rosa, o César, Dr. Hélder, Dr. Jatir, Plínio, são pessoas que vestiram a camisa em benefício dos músicos. Nesse pouco tempo que estamos lá, abrimos 300 vagas para músicos carentes. Temos cerca de 20 deficientes visuais, ganhamos máquina de Braille e uma série de coisas. Assim, esses músicos deficientes também poderão logo mais se beneficiar.

Estamos criando um projeto, contando com o apoio de médicos, psicólogos, para nossos colegas que, infelizmente, enveredaram pelo caminho das drogas. Temos também um projeto cujo objetivo é atender crianças, cerca de 120, em uma favela de São Paulo. Além desses projetos que estão sendo encaminhados, temos vários outros destinados a pessoas que não tiveram acesso ao estudo da música.

Com a graça de Deus, o dinheiro que hoje entra na Ordem dos Músicos será revertido em benefício do ser e não do ter, ou seja, em benefício dos senhores. Podem confiar no que estou falando.

Meus sinceros agradecimentos e minha gratidão eterna a todos os senhores que aqui estiveram hoje.

 

O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Queremos agradecer a presença do Sr. Ruben Eduardo Ali, da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira e Diretor do Departamento de Turismo e Cultura, acompanhado do cantor argentino Carlos Bergesio; do Comandante da PM, Subcomandante Ezequiel Alves da Silva, do Corpo Musical, na pessoa de quem agradecemos a todos os policiais militares que nos acompanham na Assembleia, especialmente os músicos.

Agradecemos também a presença de uma pessoa, por quem tenho um carinho muito grande, Sr. Bene Mascarenhas, assessor do Secretário da Educação, Sr. Paulo Renato de Souza, e seu representante neste ato.

Queremos ainda registrar a presença do Sr. Milton Joshue, da Ordem dos Músicos, Delegado-Geral; do Maestro Aldo Barbieri.

Neste momento, esta Presidência, em homenagem a todos os músicos presentes, entregará uma placa ao Sr. Roberto Bueno, da Ordem dos Músicos, e assume o compromisso de lutar muito por essa categoria.

 

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 É feita a entrega da placa.

 

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O SR. ROBERTO BUENO – Meus amigos, esta homenagem é extensiva a todos os senhores. Esta placa será colocada na Ordem. É dos senhores, e foi feita para os senhores. Muito obrigado. (Palmas.)

Quero dizer que o projeto de lei do Deputado Rodolfo Costa e Silva, sobre a obrigatoriedade do ensino da música nas escolas, é muito importante. Meus amigos, vamos ter de lutar com isso. Médico tem de dar aula de Medicina, advogado tem de dar aula de Direito, engenheiro tem de dar aula para Engenharia, músico tem de dar aula para músico. Músico é que tem de ensinar nas escolas. Temos de brigar por isso.

Não adianta ter um diploma de bacharel que não seja específico na área da Música. Não vai resolver nada. Se não me falha a memória, temos 57 mil músicos inscritos no Estado de São Paulo, e a maioria sem emprego. Isso acontece não apenas em São Paulo, mas no Brasil.

Precisamos lutar. Vamos para Brasília, vamos para a Assembleia, vamos para o Brasil inteiro. Não vamos ficar calados. Se nos unirmos como um feixe de vara, ninguém vai quebrar. A Ordem dos Músicos será a maior instituição dentro do Brasil. Vamos lutar por isso. Músico tem de dar aula de Música. Cada um no seu devido lugar. Vamos exigir respeito para nossa classe. (Palmas.) 

 

O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Teremos agora a apresentação de um grande músico brasileiro, Robson Miguel, mas antes apresentarei uma breve biografia.

Ele foi o único brasileiro a conquistar o maior título internacional pelo Ciclo Violinístico de Madri. Atualmente, Robson Miguel ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de violinista, segundo mídia de pesquisas nacionais e internacionais realizadas por meio de milhares de sites de busca, com o título outorgado pelo Prêmio Quality Internacional do Mercosul.

Mestre Robson Miguel, mostre sua arte. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. ROBSON MIGUEL – Bom-dia a todos. Estou muito feliz por estar aqui e, como músico que também vem levantando essa bandeira, gostaria de cumprimentar meu Presidente, nosso Presidente, Roberto Bueno, músico respeitado no Brasil.

Posso dizer, com certeza, que isso é apenas o começo de uma grande conquista. O Sindicato mais cobiçado, mais amado e mais desejado, sem dúvida alguma, é o da arte desejada por todos os seres humanos, que é a arte da Música.

Eu sempre digo que, no mundo, só têm dois tipos de pessoas: os músicos e os que gostariam de ser. Advogado quer tocar teclado, engenheiro quer tocar violino. Todo mundo quer estar ao nosso lado, ser músico.

Agora vou executar uma música em homenagem a todos nós músicos e aos presentes, salientando que a Ordem dos Músicos não contempla somente uma área específica, porque o Brasil é um caldeirão de raças. Mas, para Deus, só tem uma raça: a raça humana, independente de ser branco, negro ou índio. Existem músicos negros, brancos, índios, formando o Brasil.

Quando os portugueses vieram para cá, já trouxeram aqueles crioulos. Esses negros, vendo o arco do índio, feito de uma madeira chamada beriba, juntaram com uma cuia, que é o baú, fizeram imediatamente o primeiro instrumento chamado “beribaú”.

Os italianos, da terra das valsas, da terra de Beneditino Guido D’Arezzo, Giovani Batista Doni - que fizeram a primeira escrita do pentagrama musical, em 1640 -, trouxeram para cá um instrumento de quatro cordas. Como aqui não tinha fábrica, eles faziam instrumento a partir de um cavaco de madeira. Aí, já deram o nome de cavaco.

O índio tinha a cuia, e, da cuia, surgiu a cuíca.

Com esses instrumentos, a música chegou ao Brasil e nasceu a primeira organização musical, ainda sem o sindicato, sem o Roberto Bueno.

Em seguida, trouxeram a caixa da Alemanha; da África, trouxeram o bumbo. Assim, esses instrumentos musicais, sempre presentes nas culturas do branco, do negro, do índio, foram se juntando. Essa mistura formou o DNA mais rico: a sabedoria na melodia dos europeus, a percussão ligeira dos indígenas, a pesada dos negros. Juntos, formam as cores da nossa Aquarela do Brasil, bem representada pela nossa Ordem dos Músicos do Brasil. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. ROBSON MIGUEL – Quero agradecer o carinho de todos os senhores. Cada vez que um brasileiro sobe ao pódio para confirmar uma vitória, em qualquer esporte em que é vencedor, é tocado o Hino da Vitória. Por que não a Ordem dos Músicos? Na verdade, todos os sindicatos “mamam” na Ordem dos Músicos do Brasil, “mamam” na nossa arte, porque nenhuma delas traz tanta alegria se não vier somada à música.

Em um congresso de medicina, tem de ter música; uma feira agropecuária é aberta com música. A música está sempre presente em todos os momentos da nossa vida - na área social, na área espiritual -, porque ela é a arte o homem, do invisível. É a arte que prova que Deus existe. Se não fosse a música, nenhuma outra arte aproximaria tão bem o homem de Deus. A música é a arte de expressar os afetos da alma, e a alma é a área invisível, a espiritualidade do homem.

A música é para sentir. Quero decretar a vitória da Ordem dos Músicos do Brasil. Parabéns meu querido Presidente Roberto Bueno e todos os músicos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Obrigado, Maestro Robson.

Esta Presidência concede a palavra ao Maestro Aldo Barbieri.

 

O SR. ALDO BARBIERI – Eu gostaria de fazer uma pergunta, talvez um pouco estranha para o momento, mas, na verdade, tem tudo a ver: o que nós queremos? O que estamos fazendo aqui?

Queremos que o Brasil seja, para o resto da vida, um exportador de matéria prima, um exportador de banana, ou queremos que o Brasil seja exportador de algo com um valor um pouco mais agregado?

Não respondam isso para mim. Respondam para si mesmos ao chegarem em casa. Façam esta pergunta a cada manhã e a cada noite: o que nós queremos?

Nós queremos o Brasil do jeito que está? Ou queremos uma coisa um pouco melhor? Nós queremos que os alunos saiam da escola semialfabetizados ou já com a inteligência formada, um espírito crítico formado, um olho crítico formado? Dependendo da nossa resposta, como chegaremos a esse resultado?

Há dois caminhos. Um é deixar do jeito que está, deixar rolar ladeira abaixo. O resultado, nós conhecemos. O outro caminho é mudar paradigmas, mudar maneiras de pensar. Chegamos a esse resultado na maneira de ver o mundo. Quando dizemos “ver” o mundo, não significa apenas ver com os olhos, mas com todos os sentidos. É a educação dos sentidos, além da visão. Acima de tudo, a educação do cérebro, a educação da inteligência, a formação de um espírito crítico, mas um espírito crítico permanente. Não que estacione em um determinado período histórico.

Chegamos a esse ponto ensinando a criança a pensar, a ver e ouvir. Mas ensinar a ver o que está em volta, não apenas ver com os olhos, mas com todos os sentidos. E isso inclui a audição.

Quando falamos em audição, estamos falando em música. Quando falamos em música, estamos falando de educação musical nas escolas. Uma advertência a todos nós: essa educação não pode ser apenas pró-forma, apenas uma matéria. Tem de ser uma educação de qualidade, com método – começo, meio e fim -, com uma finalidade estabelecida, ou seja, aumentar a inteligência do aluno, sua capacidade mental.

Qual é o objetivo de aumentar a inteligência de um aluno? Vejam o que está acontecendo na Índia: naquele país, houve um investimento pesado em Educação, e hoje eles estão no primeiro lugar em desenvolvimento da indústria eletrônica.

A Coreia do Sul emergiu da guerra nos anos 50 praticamente destruída. Hoje, é uma das grandes potências do mundo. Eles investiram em produção de banana? Não. Investiram em produção de inteligência, desenvolveram seus alunos, desenvolveram seus programas educacionais, suas escolas, a formação de seus professores.

E não existe outra maneira. O caminho é esse. Qualquer agrupamento humano que queira se destacar de uma maneira um pouco mais refinada, sob o ponto de vista de produção, principalmente produção intelectual, tem de investir em Educação. Caso contrário, continuaremos com mulata pelada, banana, cachaça, futebol. E não sairemos mais disso.

Os senhores querem futebol, banana, cachaça e mulata, ou querem algo um pouco mais consistente? O que nós queremos?

Mas não adianta formar um número enorme de músicos e deixá-los sem emprego. Conheço vários músicos de qualidade que trabalham como motoristas de táxi e em outras atividades.

Vou citar o exemplo de Jacob do Bandolim. Ele era escrivão de polícia e músico amador. Isso aconteceu, porque ele não teve a chance de ser um músico profissional. Assim, durante o dia, ele era escrivão de polícia. Quando chegava em casa, ia estudar bandolim. No fim de semana, ia para as rodas de show. E ele foi quem foi.

Um dos poucos músicos profissionais nessa área foi Pixinguinha – ele era compositor, arranjador da RCA. Como ele, vários outros músicos que não tiveram chance aqui foram lutar fora do país. Não estou falando de música popular, estou falando de música clássica.

Posso falar do primeiro oboé da orquestra de Cleveland, Alex Klein, de Curitiba, que nunca foi reconhecido aqui. Um dia, foi para os Estados Unidos. Nunca mais se ouviu falar dele no Brasil. Quando foram ver, ele era o primeiro oboé na Orquestra de Cleveland.

Outro exemplo é Afonso Venturieri, de Belém do Pará. Ele foi o primeiro fagote na Orquestra de Campinas. Ganhava um salário de fome, trabalhava como um doido. Um dia, nos anos 80, ele sumiu. Certa vez, eu estava em Campos de Jordão e o vi. Perguntei o que havia acontecido, porque não o vira mais, e ele disse que estava na Suíça: era o primeiro fagote da Orquestra da Suíça Romanda.

Vejam os senhores, uma pessoa do Belém do Pará, que, na Orquestra de Campinas, não tinha o menor valor, foi ser o primeiro fagote na Orquestra da Suíça Romanda. E está lá até hoje.

É uma questão de dar valor ao músico e também de dar valor a si mesmo. É preciso pegar as leis de incentivo à cultura e aperfeiçoá-las constantemente. É preciso fazer diferença entre a música comercial e a não comercial. A música comercial não precisa de ajuda, já tem as gravadoras. Lança-se um conjunto hoje, que dura um, dois anos, e depois ele some. Em seguida, aparece outro. Eles ganham dinheiro, assim como as gravadoras e os compositores. Não há necessidade da ajuda do governo para isso.

O governo precisa ajudar as músicas de câmera, as escolas de músicas, as orquestras, os conjuntos de música folclórica, conjuntos de música popular sem apelo comercial, como o choro. Aqui em São Paulo, existem três grandes rodas de choro, que quase ninguém conhece, porque a mídia não divulga. Elas estão sempre lotadas, mas não aparece na mídia. Por que será? Quem constrói essa falta de interesse nos formadores de opinião?

Este meu discurso não é para ser concluído. Vou deixar a pergunta: o que nós queremos, o que vocês querem, o que eu quero?

Obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Agradecemos as palavras do maestro e registramos a presença da Dra. Eneida Soller, Coordenadora do Conselho de Entidades de Cultura do Estado de São Paulo.

Vamos fazer um improviso agora. Convidamos o cantor Carlos Bergesio e o músico Robson Miguel para que façam uma apresentação.

 

O SR. ROBSON MIGUEL – Estamos nos conhecendo agora, mas o músico é incrível.

 

O SR. CARLOS BERGESIO – Para mim, é uma honra enorme estar compartilhando esse dia tão feliz com os músicos brasileiros. Sinto-me orgulhoso por estar aqui como músico e cantor argentino.

Desejo que todos esses projetos pelos quais os senhores estão trabalhando se concretizem, porque a música é a felicidade dos povos. Graças a essa música não usamos armas, somente instrumentos musicais. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. CARLOS BERGESIO - Obrigado. A letra dessa música, “El Dia em que Me Quieras” é de autoria do paulista Alfredo Le Pera e a melodia é de Carlos Gardel.

 

O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Agradecemos aos membros do Violinos Show, ao Robson Miguel e ao Carlos Bergesio por nos brindarem com essa maravilha.

Meus amigos, talvez este dia tenha transformado a Assembleia Legislativa. No domingo, esta sessão será retransmitida pela TV Assembleia e todo Estado poderá acompanhar este maravilhoso evento.

Esta Casa sente-se muito honrada em receber os músicos e homenageá-los. Na verdade, a Assembleia Legislativa é que foi homenageada.

Este evento mostrou a beleza da música brasileira, mas ele é também um evento de lutas. Há alguns anos, incorporamos a batalha para reintroduzir a música nas escolas - como era antes da ditadura militar -, quando tínhamos o canto orfeônico, como lembrou meu querido amigo Roberto Bueno. Penso que avançamos muito na legislação federal, e o nosso Estado está-se conscientizando da importância da música nas escolas.

Como o Maestro Aldo Barbieri, também faço minha pergunta: estamos falando aqui apenas de música? Ou estamos falando também de Educação, de política social, de cidadania, de segurança pública, de transformação da família, de transformação da sociedade, de transformação deste mundo que poderemos mudar?

Este País cresceu muito, enriqueceu, mas a justiça social não acompanhou. Estamos lutando aqui, juntamente com os músicos, pela utilização da capacidade musical de um país que é musical, como poucos na humanidade. Temos de usar esse instrumento de trabalho para ajudar a sociedade brasileira a encontrar seu rumo; ajudar na Educação para que a escola volte a ser referência. Fazer com que a força mobilizadora da música, no imaginário da infância, da adolescência, da juventude, dos poetas, dos profissionais, possa mover a transformação pela base.

Acreditamos no poder da música. A música é matemática, é lógica. A música constrói a capacidade de raciocinar de forma organizada, a música é cultura. Traz em seu bojo a crítica, a multiplicidade do pensamento, a capacidade da discussão na busca dos caminhos.

A nossa juventude, quando discutia nossos problemas, sabia para onde estava conduzindo seu país. Talvez tenhamos esquecido a política voltada para a nossa juventude, a nossa adolescência, a nossa infância. Estamos direcionando essa política para a Febem, antigo nome da instituição, onde vemos os problemas de uma infância, de uma adolescência abandonada.

Estamos vendo a degradação da família à medida que não temos uma política para transformar esse processo. Eu e tantos companheiros desta Casa – Deputados Vicente Cândido, do Partido dos Trabalhadores, Bruno Covas – lutamos pela música. Penso que estamos conseguindo avançar.

O maestro Aldo Barbieri fez excelentes perguntas. Mas precisamos avançar na consequência dessa pergunta, ou seja, se somos capazes de mobilizar a pessoas não apenas pela beleza do dedilhar de Robson Miguel. Precisamos mobilizar a sociedade com nossas palavras, com nossas ideias, com nosso poder de transformação.

É para isso que convido todos os senhores. Vamos continuar trabalhando junto à Secretaria Estadual da Cultura e à Secretaria Estadual da Educação, com o objetivo de sensibilizar São Paulo para a necessidade de levar a música nas escolas. E temos profissionais competentes para fazê-lo.

Isso é importante para a educação, para a criança, para o adolescente, para o músico, para a cultura. Mas também é importante para a construção do Estado e do País que nós queremos.

Quando São Paulo parte para um processo de transformação, o Brasil vem junto. O brinde que recebemos dos músicos – Robson Miguel, Camerata da Polícia Militar, Coral da Emily, Violinos Show, Carlos Bergesi – foi algo maravilhoso.

É com amor, com mobilização, com a certeza de estar do lado certo, que estamos nesta luta. Como dizia meu pai, esteja do lado certo, lutando por aquilo que você acredita.

Quando digo que música abrange tudo – Segurança Pública, Cultura, Educação -, é porque a política de segurança pública, por exemplo, não é apenas da Secretaria de Segurança Pública. Não vamos resolver o problema de segurança neste País se não resolvermos as outras políticas. Não é apenas a repressão que resolve o problema. Queremos uma Polícia mais competente, mas sozinha ela não consegue vencer o problema da Nação.

Isso, porém, tem de sair dos discursos. Precisamos colocar isso na vida cotidiana das pessoas e mudar a escola, transformá-la em centro de referência da sociedade. Isso é fundamental para que possamos alcançar o País que nós queremos.

Muito obrigado pela presença de todos os senhores. Muito obrigado pelo carinho, pela parceria que a Assembleia está fazendo com as organizações dos músicos. Muito obrigado pelos senhores terem mudado a Assembleia Legislativa.

Como disse, esta sessão será retransmitida e todo Estado poderá ver que a Assembleia Legislativa trouxe a vida da música, do amor, do poeta em toda forma de expressão, ajudando na criação de uma nação melhor e mais feliz.

O mundo se desenvolveu, veio a globalização, mas é fundamental que cada crescimento econômico, cada conquista tecnológica tenha como consequência a felicidade. É da felicidade que viemos falar aqui, da busca da felicidade, do país que nós queremos.

Convido todos para embarcar nessa luta dos músicos pelo respeito à profissão. Que essa possa ser a luta da transformação da escola, da melhoria da qualidade de vida e da vida futura dos nossos filhos, dos nossos netos. Um grande abraço a todos.

Queremos agradecer a todos que colaboraram conosco neste evento, especialmente minhas assessoras Lúcia, Vânia e Valéria, sempre uma lutadora desde que começamos essa batalha em defesa da música nas escolas.

Esgotado o objeto da presente sessão, a Presidência agradece às autoridades, aos nossos assessores, aos funcionários do Som, da Taquigrafia, da Ata, do Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV Assembleia e das assessorias da Polícia Civil e Polícia Militar, bem como a todos que, com as suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade, e convida todos para um coquetel no Salão Nobre Waldemar Lopes Ferraz.

Viva a felicidade!

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 08 minutos.

 

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