032ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM
AOS “MÚSICOS DO BRASIL”
RESUMO
001 - RODOLFO COSTA E SILVA
Assume a Presidência e abre
a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Comunica que o Presidente Barros Munhoz
convocara esta sessão solene, a requerimento do Deputado Rodolfo Costa e Silva,
na direção dos trabalhos, para "Homenagear os Músicos do Brasil".
Convida o público a ouvir, de pé, o Hino Nacional Brasileiro.
002 - MARIO HENRIQUE OLIVEIRA
Presidente do Sindicato dos
Músicos Profissionais e Intérpretes do Município de São Paulo - Sindimusp -,
fala de sua emoção ao participar deste evento. Faz histórico sobre os 42 anos
da entidade que preside. Recorda dificuldades enfrentadas no período militar.
Agradece a vários dirigentes de entidades musicais.
003 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA
Anuncia o septeto
"Violinos Show", que apresentou as músicas "Wave" e
"Garota de Ipanema".
004 - ANSELMO RAMPAZZO
Presidente da Associação de
Fabricantes de Instrumentos Musicais do Brasil, ressalta a qualidade e a
excelência da produção nacional de instrumentos. Faz referências à concorrência
com a China. Informa que a produção brasileira seria maior, se o ensino de
música fosse mais valorizado.
005 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA
Anuncia o "Coral da
Emily", que faz apresentação musical.
006 - ROBERTO BUENO
Presidente da Ordem dos
Músicos do Brasil - Conselho Regional do Estado de São Paulo, recorda que Dom
Pedro I foi o autor do "Hino da Independência", incentivou a produção
musical, e concedeu bolsa a Carlos Gomes para estudar na Europa. Lembra que o
presidente Getúlio Vargas tornou obrigatório o ensino de música. Cita
iniciativas de Villa-Lobos. Enaltece a figura do presidente Juscelino
Kubitschek, que sancionou a lei que criou a entidade que ora dirige. Comunica
que sua gestão herdou muitas dívidas. Cita ações sociais que implementou.
007 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA
Presta homenagem aos músicos
brasileiros, na pessoa do Sr. Roberto Bueno. Anuncia o violonista Robson
Miguel, que faz apresentação musical.
008 - ALDO BARBIERI
Faz reflexão sobre a
situação brasileira. Ressalta a necessidade de valorização da Educação, em
contexto amplo. Recorda os investimentos na área educacional, levados a efeito
na Índia e na Coreia do Sul. Lamenta que muitos músicos estejam desempregados.
Recorda que muitos músicos precisam recorrer a outras atividades. Lembra que
Jacob do Bandolim era escrivão de polícia. Comunica que muitos profissionais
brasileiros só conseguem reconhecimento no Exterior.
009 - Presidente RODOLFO COSTA E SILVA
Anuncia o cantor argentino
Carlos Bergesio, que interpreta a canção "El Dia Que Me Quieras", do
compositor brasileiro Alfredo Le Pera, acompanhado do músico Robson Miguel.
Ressalta a necessidade de políticas sociais para o exercício pleno da
cidadania. Enaltece o Ensino como agente transformador. Destaca avanços na área
da música, pela sua força mobilizadora e, por usar da matemática, desenvolver o
raciocínio lógico. Cita ações junto às Secretarias de Cultura, em âmbitos
estadual e municipal, relativas à música. Elogia os profissionais músicos. Faz
agradecimentos gerais. Encerra a sessão.
* *
*
- Assume a Presidência e abre a sessão o
Sr. Rodolfo Costa e Silva.
* * *
O SR.
PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a
sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
Com base nos
termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos
líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.
* *
*
- É dada como lida a Ata da
sessão anterior.
* * *
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Iniciamos os nossos trabalhos, agradecendo a presença
de todos nesta manhã memorável para a Assembleia Legislativa.
Compondo a Mesa temos o
Dr. Roberto Bueno, Presidente da Ordem dos Músicos do Brasil, Conselho Regional
do Estado de São Paulo; Sr. Mário Henrique Oliveira, Presidente do Sindicato
dos Músicos Profissionais e Intérpretes do Município de São Paulo, Sindimusp.
Sras. Deputadas e Srs.
Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada
pelo Presidente efetivo desta Casa, Deputado Barros Munhoz, atendendo
solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear os Músicos do Brasil.
Convido todos os
presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela
Camerata da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do 2º
Tenente Músico PM Ismael Alves de Oliveira.
* * *
- É executado o Hino Nacional Brasileiro.
* * *
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Esta Presidência agradece à Camerata da Polícia
Militar do Estado de São Paulo na pessoa do maestro 2º Tenente PM Músico Ismael
Alves de Oliveira. Aproveito a oportunidade para convidar os músicos da
Camerata a permanecerem nesta sessão, pois hoje estamos, justamente,
homenageando os músicos do Brasil.
Esta Presidência concede
a palavra ao Sr. Mário Henrique Oliveira, Presidente do Sindicato dos Músicos
Profissionais e Intérpretes do Município de São Paulo, Sindimusp.
O SR. MÁRIO HENRIQUE OLIVEIRA – Bom-dia a todos. Gostaria, inicialmente, de agradecer
a presença dos senhores e ao Deputado Rodolfo Costa e Silva por esta homenagem.
Depois de 42 anos, temos
o privilégio de estar nesta Casa sendo homenageados, principalmente pelas
difíceis condições que estamos vivendo hoje. Temos sensação de termos saído de
um sonho que buscamos por tantos anos, impossível de ser alcançado. Mas esse
sonho hoje se torna realidade.
Agradecemos ao Professor
Roberto Bueno por estar transformando a Ordem dos Músicos na casa do músico,
algo difícil até de se entender pelas circunstâncias.
Queremos agradecer
também a uma pessoa que foi muito importante em todas essas mudanças e continua
sendo. Estou me referindo ao Sr. Carlos Mendes, Presidente do Sindicato dos
Compositores, que, junto conosco, lutou para que conseguíssemos realizar
mudanças concretas.
Não poderíamos deixar de
citar o Dr. Helder Silveira, também um dos grandes responsáveis por esta
mudança, ao Dr. Jatir, que muito nos auxilia, mas, infelizmente, não pôde estar
presente, à D. Maria Cristina, 1ª Secretária, ao César da Loja dos Músicos, D.
Rosa, Sr. Plínio, vice-Presidente. São várias pessoas importantes que
contribuíram para essa mudança.
Agradecemos às pessoas
que aqui estão, aos músicos da Camerata da Polícia Militar, aos músicos
presentes. São pessoas que realmente têm tudo a ver com a música e merecem
estar aqui.
Hoje, a Ordem dos
Músicos está sendo homenageada, tendo um músico, de fato, na sua Presidência -
Professor Roberto Bueno -, para quem peço uma salva de palmas. (Palmas.)
Agradecemos ao Deputado
e a sua assessoria por esta homenagem maravilhosa. Muito obrigado a todos os
presentes.
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Teremos agora a apresentação dos Violinos Show.
(Palmas.)
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Agradecemos a bela apresentação dos Violinos Show.
Queremos anunciar a
presença do ex-Deputado Ruy Codo, criador do Hino dos Bandeirantes e da lei que
instituiu o Hino do Estado de São Paulo. (Palmas.)
Esta Presidência concede
a palavra ao Sr. Anselmo Rampazzo, Presidente da Associação de Fabricantes de
Instrumentos Musicais do Brasil.
O SR. ANSELMO RAMPAZZO – Bom-dia a todos. Na qualidade de Presidente da
Associação Nacional dos Fabricantes de Instrumentos Musicais do Brasil,
Anafima, quero dizer que temos uma honra muito grande em participar desta
Sessão Solene em homenagem aos Músicos do Brasil, a razão da existência das
empresas dos brasileiros que se dedicam à construção de instrumentos musicais.
A indústria nacional de
instrumentos musicais, Deputado Rodolfo Costa e Silva, tem nos músicos do
Brasil seu principal público comprador, assim como os estudantes. Atendemos com
padrão de excelência e qualidade quase toda gama de instrumentos musicais.
Nosso segmento
industrial poderia ser bem melhor se tivéssemos a cultura musical dos países
como Alemanha, Japão, Estados Unidos. Mas, embora o Brasil seja um país musical
por natureza, ficamos restritos aos profissionais da música e às manifestações
folclóricas regionais. Nos países mencionados, a música faz parte do currículo
escolar, desde o primeiro ano, na longa trajetória educacional dos seus
cidadãos.
No Brasil, somente agora
foi introduzido o programa de música nas escolas, que passa a ser obrigatório
em todo o território nacional, a partir de 2009.
Não fosse por um
detalhe, a adoção do Programa Música nas Escolas teria tudo para dar certo
também para os fabricantes nacionais de instrumentos musicais. Sem os devidos
cuidados da regulamentação, o Programa Música nas Escolas não contempla nem o
pacote mínimo de instrumentos musicais necessários ao currículo, nem a
procedência dos instrumentos.
Assim, os primeiros
ensaios do Programa Música nas Escolas já indicam que alguns Estados
brasileiros estão comprando instrumentos musicais da China, maior fabricante do
mundo. Nada contra a importação ou o livre comércio, mas suspeita-se de
subfaturamento, importação não muito correta. Assim, a concorrência fica
difícil e desleal.
Somente o ano passado, o
equivalente a 75 milhões de dólares FOB, ou seja, 225 milhões, foram importados
da China pelo Brasil. Na verdade, essas cifras poderiam estar entre nós,
brasileiros, sem mencionar o fato de o produto brasileiro ter qualidade à
altura de qualquer outro país produtor de instrumentos musicais.
Peço desculpas por
trazer este assunto tão árido a uma Sessão Solene em homenagem aos Músicos do
Brasil, mas, por outro lado, este fórum pode ser o nascedouro para a solução de
uma questão industrial economicamente carente.
Quero prestar uma
homenagem aos músicos do Brasil e estendê-la aos fabricantes de instrumentos
musicais do Brasil.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Neste momento, teremos a apresentação do Coral da
Emily. (Palmas.)
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB - Quero agradecer a apresentação do Coral da Emily. Em
vez de nós homenagearmos os músicos, são eles que nos homenageiam nesta manhã
maravilhosa. A Assembleia Legislativa ficou mais bonita esta manhã.
Esta Presidência concede
a palavra ao Professor Roberto Bueno, Presidente da Ordem dos Músicos do
Brasil.
O SR. ROBERTO BUENO – Quero deixar aqui minha gratidão eterna a todos os
colegas que vieram participar desta homenagem. Agradeço ao Deputado Rodolfo
Costa e Silva, por nos prestigiar e abrir esta Casa para nós.
No tempo do Império,
tivemos o Imperador D. Pedro I, que, como todos sabem, foi o criador do Hino da
Independência, sem sombra de dúvida, o pioneiro da música no Brasil.
D. Pedro teve a coragem
de mandar Carlos Gomes para estudar no exterior, custeando as despesas. A nossa
gratidão é eterna a esse primeiro “político” do tempo do Império que sempre
teve um grande apreço pelo músico.
Certa vez, na sua
residência, no Palácio, organizou uma festa e disse ao coordenador da festa:
“Eu gostaria que você desse, aos músicos, os melhores quartos e os melhores
pratos.” O encarregado perguntou o motivo dessa discriminação. D. Pedro foi
claro e taxativo: “Eu demoro a vida inteira para fazer um músico, ao passo que
um comendador, um barão, um visconde, eu faço com uma caneta.”
Depois de D. Pedro, veio
outro político, Getúlio Vargas, que instituiu o ensino obrigatório da música
nas escolas, o canto orfeônico, apoiou Villa-Lobos, etc.
Após Getúlio, veio
aquele que sancionou a lei da Ordem dos Músicos do Brasil, nosso inestimável e
inesquecível Presidente Juscelino Kubitschek.
Meus amigos, a Ordem dos
Músicos do Brasil veio para trabalhar pelo músico, e não contra o músico.
Infelizmente, tivemos um período ditatorial, e nossa Ordem ficou no anonimato
durante quarenta e poucos anos, como disse o Marinho.
Nossa luta está sendo
árdua e difícil. Não tenho vergonha de dizer isso aqui, porque mais vale uma
verdade do que um milhão de mentiras. Pegamos a Ordem dos Músicos do Brasil com
852 reais no caixa e cinco milhões de dívida. Estamos fazendo o possível e
impossível.
Como o Marinho já mencionou,
a D. Rosa, o César, Dr. Hélder, Dr. Jatir, Plínio, são pessoas que vestiram a
camisa em benefício dos músicos. Nesse pouco tempo que estamos lá, abrimos 300
vagas para músicos carentes. Temos cerca de 20 deficientes visuais, ganhamos
máquina de Braille e uma série de coisas. Assim, esses músicos deficientes
também poderão logo mais se beneficiar.
Estamos criando um
projeto, contando com o apoio de médicos, psicólogos, para nossos colegas que,
infelizmente, enveredaram pelo caminho das drogas. Temos também um projeto cujo
objetivo é atender crianças, cerca de 120, em uma favela de São Paulo. Além
desses projetos que estão sendo encaminhados, temos vários outros destinados a
pessoas que não tiveram acesso ao estudo da música.
Com a graça de Deus, o dinheiro
que hoje entra na Ordem dos Músicos será revertido em benefício do ser e não do
ter, ou seja, em benefício dos senhores. Podem confiar no que estou falando.
Meus sinceros
agradecimentos e minha gratidão eterna a todos os senhores que aqui estiveram
hoje.
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Queremos agradecer a presença do Sr. Ruben Eduardo
Ali, da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira e Diretor do Departamento de
Turismo e Cultura, acompanhado do cantor argentino Carlos Bergesio; do
Comandante da PM, Subcomandante Ezequiel Alves da Silva, do Corpo Musical, na
pessoa de quem agradecemos a todos os policiais militares que nos acompanham na
Assembleia, especialmente os músicos.
Agradecemos também a
presença de uma pessoa, por quem tenho um carinho muito grande, Sr. Bene
Mascarenhas, assessor do Secretário da Educação, Sr. Paulo Renato de Souza, e
seu representante neste ato.
Queremos ainda registrar
a presença do Sr. Milton Joshue, da Ordem dos Músicos, Delegado-Geral; do
Maestro Aldo Barbieri.
Neste momento, esta
Presidência, em homenagem a todos os músicos presentes, entregará uma placa ao
Sr. Roberto Bueno, da Ordem dos Músicos, e assume o compromisso de lutar muito
por essa categoria.
* * *
É feita a entrega da placa.
* * *
O SR. ROBERTO BUENO – Meus amigos, esta homenagem é extensiva a todos os
senhores. Esta placa será colocada na Ordem. É dos senhores, e foi feita para
os senhores. Muito obrigado. (Palmas.)
Quero dizer que o
projeto de lei do Deputado Rodolfo Costa e Silva, sobre a obrigatoriedade do
ensino da música nas escolas, é muito importante. Meus amigos, vamos ter de
lutar com isso. Médico tem de dar aula de Medicina, advogado tem de dar aula de
Direito, engenheiro tem de dar aula para Engenharia, músico tem de dar aula
para músico. Músico é que tem de ensinar nas escolas. Temos de brigar por isso.
Não adianta ter um
diploma de bacharel que não seja específico na área da Música. Não vai resolver
nada. Se não me falha a memória, temos 57 mil músicos inscritos no Estado de
São Paulo, e a maioria sem emprego. Isso acontece não apenas em São Paulo, mas
no Brasil.
Precisamos lutar. Vamos
para Brasília, vamos para a Assembleia, vamos para o Brasil inteiro. Não vamos
ficar calados. Se nos unirmos como um feixe de vara, ninguém vai quebrar. A
Ordem dos Músicos será a maior instituição dentro do Brasil. Vamos lutar por
isso. Músico tem de dar aula de Música. Cada um no seu devido lugar. Vamos
exigir respeito para nossa classe. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Teremos agora a apresentação de um grande músico
brasileiro, Robson Miguel, mas antes apresentarei uma breve biografia.
Ele foi o único
brasileiro a conquistar o maior título internacional pelo Ciclo Violinístico de
Madri. Atualmente, Robson Miguel ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de
violinista, segundo mídia de pesquisas nacionais e internacionais realizadas
por meio de milhares de sites de busca, com o título outorgado pelo Prêmio
Quality Internacional do Mercosul.
Mestre Robson Miguel,
mostre sua arte. (Palmas.)
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
O SR. ROBSON MIGUEL – Bom-dia a todos. Estou muito feliz por estar aqui e,
como músico que também vem levantando essa bandeira, gostaria de cumprimentar
meu Presidente, nosso Presidente, Roberto Bueno, músico respeitado no Brasil.
Posso dizer, com
certeza, que isso é apenas o começo de uma grande conquista. O Sindicato mais
cobiçado, mais amado e mais desejado, sem dúvida alguma, é o da arte desejada
por todos os seres humanos, que é a arte da Música.
Eu sempre digo que, no
mundo, só têm dois tipos de pessoas: os músicos e os que gostariam de ser.
Advogado quer tocar teclado, engenheiro quer tocar violino. Todo mundo quer
estar ao nosso lado, ser músico.
Agora vou executar uma
música em homenagem a todos nós músicos e aos presentes, salientando que a
Ordem dos Músicos não contempla somente uma área específica, porque o Brasil é
um caldeirão de raças. Mas, para Deus, só tem uma raça: a raça humana,
independente de ser branco, negro ou índio. Existem músicos negros, brancos,
índios, formando o Brasil.
Quando os portugueses
vieram para cá, já trouxeram aqueles crioulos. Esses negros, vendo o arco do
índio, feito de uma madeira chamada beriba, juntaram com uma cuia, que é o baú,
fizeram imediatamente o primeiro instrumento chamado “beribaú”.
Os italianos, da terra
das valsas, da terra de Beneditino Guido D’Arezzo, Giovani Batista Doni - que
fizeram a primeira escrita do pentagrama musical, em 1640 -, trouxeram para cá
um instrumento de quatro cordas. Como aqui não tinha fábrica, eles faziam
instrumento a partir de um cavaco de madeira. Aí, já deram o nome de cavaco.
O índio tinha a cuia, e,
da cuia, surgiu a cuíca.
Com esses instrumentos,
a música chegou ao Brasil e nasceu a primeira organização musical, ainda sem o
sindicato, sem o Roberto Bueno.
Em seguida, trouxeram a
caixa da Alemanha; da África, trouxeram o bumbo. Assim, esses instrumentos
musicais, sempre presentes nas culturas do branco, do negro, do índio, foram se
juntando. Essa mistura formou o DNA mais rico: a sabedoria na melodia dos
europeus, a percussão ligeira dos indígenas, a pesada dos negros. Juntos,
formam as cores da nossa Aquarela do Brasil, bem representada pela nossa Ordem
dos Músicos do Brasil. (Palmas.)
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
O SR. ROBSON MIGUEL – Quero agradecer o carinho de todos os senhores. Cada
vez que um brasileiro sobe ao pódio para confirmar uma vitória, em qualquer
esporte em que é vencedor, é tocado o Hino da Vitória. Por que não a Ordem dos
Músicos? Na verdade, todos os sindicatos “mamam” na Ordem dos Músicos do
Brasil, “mamam” na nossa arte, porque nenhuma delas traz tanta alegria se não
vier somada à música.
Em um congresso de
medicina, tem de ter música; uma feira agropecuária é aberta com música. A
música está sempre presente em todos os momentos da nossa vida - na área
social, na área espiritual -, porque ela é a arte o homem, do invisível. É a
arte que prova que Deus existe. Se não fosse a música, nenhuma outra arte aproximaria
tão bem o homem de Deus. A música é a arte de expressar os afetos da alma, e a
alma é a área invisível, a espiritualidade do homem.
A música é para sentir.
Quero decretar a vitória da Ordem dos Músicos do Brasil. Parabéns meu querido
Presidente Roberto Bueno e todos os músicos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Obrigado, Maestro Robson.
Esta Presidência concede
a palavra ao Maestro Aldo Barbieri.
O SR. ALDO BARBIERI – Eu gostaria de fazer uma pergunta, talvez um pouco estranha para o
momento, mas, na verdade, tem tudo a ver: o que nós queremos? O que estamos
fazendo aqui?
Queremos que o Brasil
seja, para o resto da vida, um exportador de matéria prima, um exportador de
banana, ou queremos que o Brasil seja exportador de algo com um valor um pouco
mais agregado?
Não respondam isso para
mim. Respondam para si mesmos ao chegarem em casa. Façam esta pergunta a cada
manhã e a cada noite: o que nós queremos?
Nós queremos o Brasil do
jeito que está? Ou queremos uma coisa um pouco melhor? Nós queremos que os
alunos saiam da escola semialfabetizados ou já com a inteligência formada, um
espírito crítico formado, um olho crítico formado? Dependendo da nossa
resposta, como chegaremos a esse resultado?
Há dois caminhos. Um é
deixar do jeito que está, deixar rolar ladeira abaixo. O resultado, nós
conhecemos. O outro caminho é mudar paradigmas, mudar maneiras de pensar.
Chegamos a esse resultado na maneira de ver o mundo. Quando dizemos “ver” o
mundo, não significa apenas ver com os olhos, mas com todos os sentidos. É a
educação dos sentidos, além da visão. Acima de tudo, a educação do cérebro, a
educação da inteligência, a formação de um espírito crítico, mas um espírito
crítico permanente. Não que estacione em um determinado período histórico.
Chegamos a esse ponto
ensinando a criança a pensar, a ver e ouvir. Mas ensinar a ver o que está em
volta, não apenas ver com os olhos, mas com todos os sentidos. E isso inclui a
audição.
Quando falamos em
audição, estamos falando em música. Quando falamos em música, estamos falando
de educação musical nas escolas. Uma advertência a todos nós: essa educação não
pode ser apenas pró-forma, apenas uma matéria. Tem de ser uma educação de
qualidade, com método – começo, meio e fim -, com uma finalidade estabelecida,
ou seja, aumentar a inteligência do aluno, sua capacidade mental.
Qual é o objetivo de
aumentar a inteligência de um aluno? Vejam o que está acontecendo na Índia:
naquele país, houve um investimento pesado em Educação, e hoje eles estão no
primeiro lugar em desenvolvimento da indústria eletrônica.
A Coreia do Sul emergiu
da guerra nos anos 50 praticamente destruída. Hoje, é uma das grandes potências
do mundo. Eles investiram em produção de banana? Não. Investiram em produção de
inteligência, desenvolveram seus alunos, desenvolveram seus programas
educacionais, suas escolas, a formação de seus professores.
E não existe outra
maneira. O caminho é esse. Qualquer agrupamento humano que queira se destacar
de uma maneira um pouco mais refinada, sob o ponto de vista de produção,
principalmente produção intelectual, tem de investir em Educação. Caso
contrário, continuaremos com mulata pelada, banana, cachaça, futebol. E não
sairemos mais disso.
Os senhores querem
futebol, banana, cachaça e mulata, ou querem algo um pouco mais consistente? O
que nós queremos?
Mas não adianta formar
um número enorme de músicos e deixá-los sem emprego. Conheço vários músicos de
qualidade que trabalham como motoristas de táxi e em outras atividades.
Vou citar o exemplo de
Jacob do Bandolim. Ele era escrivão de polícia e músico amador. Isso aconteceu,
porque ele não teve a chance de ser um músico profissional. Assim, durante o
dia, ele era escrivão de polícia. Quando chegava em casa, ia estudar bandolim.
No fim de semana, ia para as rodas de show. E ele foi quem foi.
Um dos poucos músicos
profissionais nessa área foi Pixinguinha – ele era compositor, arranjador da
RCA. Como ele, vários outros músicos que não tiveram chance aqui foram lutar
fora do país. Não estou falando de música popular, estou falando de música
clássica.
Posso falar do primeiro
oboé da orquestra de Cleveland, Alex Klein, de Curitiba, que nunca foi
reconhecido aqui. Um dia, foi para os Estados Unidos. Nunca mais se ouviu falar
dele no Brasil. Quando foram ver, ele era o primeiro oboé na Orquestra de
Cleveland.
Outro exemplo é Afonso
Venturieri, de Belém do Pará. Ele foi o primeiro fagote na Orquestra de
Campinas. Ganhava um salário de fome, trabalhava como um doido. Um dia, nos
anos 80, ele sumiu. Certa vez, eu estava em Campos de Jordão e o vi. Perguntei
o que havia acontecido, porque não o vira mais, e ele disse que estava na
Suíça: era o primeiro fagote da Orquestra da Suíça Romanda.
Vejam os senhores, uma
pessoa do Belém do Pará, que, na Orquestra de Campinas, não tinha o menor
valor, foi ser o primeiro fagote na Orquestra da Suíça Romanda. E está lá até
hoje.
É uma questão de dar
valor ao músico e também de dar valor a si mesmo. É preciso pegar as leis de
incentivo à cultura e aperfeiçoá-las constantemente. É preciso fazer diferença
entre a música comercial e a não comercial. A música comercial não precisa de
ajuda, já tem as gravadoras. Lança-se um conjunto hoje, que dura um, dois anos,
e depois ele some. Em seguida, aparece outro. Eles ganham dinheiro, assim como
as gravadoras e os compositores. Não há necessidade da ajuda do governo para
isso.
O governo precisa ajudar
as músicas de câmera, as escolas de músicas, as orquestras, os conjuntos de
música folclórica, conjuntos de música popular sem apelo comercial, como o
choro. Aqui em São Paulo, existem três grandes rodas de choro, que quase
ninguém conhece, porque a mídia não divulga. Elas estão sempre lotadas, mas não
aparece na mídia. Por que será? Quem constrói essa falta de interesse nos formadores
de opinião?
Este meu discurso não é
para ser concluído. Vou deixar a pergunta: o que nós queremos, o que vocês
querem, o que eu quero?
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Agradecemos as palavras do maestro e registramos a presença
da Dra. Eneida Soller, Coordenadora do Conselho de Entidades de Cultura do
Estado de São Paulo.
Vamos fazer um improviso
agora. Convidamos o cantor Carlos Bergesio e o músico Robson Miguel para que
façam uma apresentação.
O SR. ROBSON MIGUEL – Estamos nos conhecendo agora, mas o músico é incrível.
O SR. CARLOS BERGESIO – Para mim, é uma honra enorme estar compartilhando esse
dia tão feliz com os músicos brasileiros. Sinto-me orgulhoso por estar aqui
como músico e cantor argentino.
Desejo que todos esses
projetos pelos quais os senhores estão trabalhando se concretizem, porque a
música é a felicidade dos povos. Graças a essa música não usamos armas, somente
instrumentos musicais. (Palmas.)
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
O SR. CARLOS BERGESIO - Obrigado. A letra dessa música, “El Dia em que Me
Quieras” é de autoria do paulista Alfredo Le Pera e a melodia é de Carlos
Gardel.
O SR. PRESIDENTE – RODOLFO COSTA E SILVA - PSDB – Agradecemos aos membros do Violinos Show, ao Robson
Miguel e ao Carlos Bergesio por nos brindarem com essa maravilha.
Meus amigos, talvez este
dia tenha transformado a Assembleia Legislativa. No domingo, esta sessão será
retransmitida pela TV Assembleia e todo Estado poderá acompanhar este
maravilhoso evento.
Esta Casa sente-se muito
honrada em receber os músicos e homenageá-los. Na verdade, a Assembleia
Legislativa é que foi homenageada.
Este evento mostrou a
beleza da música brasileira, mas ele é também um evento de lutas. Há alguns
anos, incorporamos a batalha para reintroduzir a música nas escolas - como era
antes da ditadura militar -, quando tínhamos o canto orfeônico, como lembrou
meu querido amigo Roberto Bueno. Penso que avançamos muito na legislação
federal, e o nosso Estado está-se conscientizando da importância da música nas
escolas.
Como o Maestro Aldo
Barbieri, também faço minha pergunta: estamos falando aqui apenas de música? Ou
estamos falando também de Educação, de política social, de cidadania, de
segurança pública, de transformação da família, de transformação da sociedade,
de transformação deste mundo que poderemos mudar?
Este País cresceu muito,
enriqueceu, mas a justiça social não acompanhou. Estamos lutando aqui,
juntamente com os músicos, pela utilização da capacidade musical de um país que
é musical, como poucos na humanidade. Temos de usar esse instrumento de
trabalho para ajudar a sociedade brasileira a encontrar seu rumo; ajudar na
Educação para que a escola volte a ser referência. Fazer com que a força
mobilizadora da música, no imaginário da infância, da adolescência, da
juventude, dos poetas, dos profissionais, possa mover a transformação pela
base.
Acreditamos no poder da
música. A música é matemática, é lógica. A música constrói a capacidade de
raciocinar de forma organizada, a música é cultura. Traz em seu bojo a crítica,
a multiplicidade do pensamento, a capacidade da discussão na busca dos
caminhos.
A nossa juventude,
quando discutia nossos problemas, sabia para onde estava conduzindo seu país.
Talvez tenhamos esquecido a política voltada para a nossa juventude, a nossa
adolescência, a nossa infância. Estamos direcionando essa política para a
Febem, antigo nome da instituição, onde vemos os problemas de uma infância, de
uma adolescência abandonada.
Estamos vendo a
degradação da família à medida que não temos uma política para transformar esse
processo. Eu e tantos companheiros desta Casa – Deputados Vicente Cândido, do
Partido dos Trabalhadores, Bruno Covas – lutamos pela música. Penso que estamos
conseguindo avançar.
O maestro Aldo Barbieri
fez excelentes perguntas. Mas precisamos avançar na consequência dessa
pergunta, ou seja, se somos capazes de mobilizar a pessoas não apenas pela
beleza do dedilhar de Robson Miguel. Precisamos mobilizar a sociedade com
nossas palavras, com nossas ideias, com nosso poder de transformação.
É para isso que convido
todos os senhores. Vamos continuar trabalhando junto à Secretaria Estadual da
Cultura e à Secretaria Estadual da Educação, com o objetivo de sensibilizar São
Paulo para a necessidade de levar a música nas escolas. E temos profissionais
competentes para fazê-lo.
Isso é importante para a
educação, para a criança, para o adolescente, para o músico, para a cultura.
Mas também é importante para a construção do Estado e do País que nós queremos.
Quando São Paulo parte
para um processo de transformação, o Brasil vem junto. O brinde que recebemos
dos músicos – Robson Miguel, Camerata da Polícia Militar, Coral da Emily,
Violinos Show, Carlos Bergesi – foi algo maravilhoso.
É com amor, com mobilização,
com a certeza de estar do lado certo, que estamos nesta luta. Como dizia meu
pai, esteja do lado certo, lutando por aquilo que você acredita.
Quando digo que música
abrange tudo – Segurança Pública, Cultura, Educação -, é porque a política de
segurança pública, por exemplo, não é apenas da Secretaria de Segurança
Pública. Não vamos resolver o problema de segurança neste País se não
resolvermos as outras políticas. Não é apenas a repressão que resolve o
problema. Queremos uma Polícia mais competente, mas sozinha ela não consegue
vencer o problema da Nação.
Isso, porém, tem de sair
dos discursos. Precisamos colocar isso na vida cotidiana das pessoas e mudar a
escola, transformá-la em centro de referência da sociedade. Isso é fundamental
para que possamos alcançar o País que nós queremos.
Muito obrigado pela
presença de todos os senhores. Muito obrigado pelo carinho, pela parceria que a
Assembleia está fazendo com as organizações dos músicos. Muito obrigado pelos
senhores terem mudado a Assembleia Legislativa.
Como disse, esta sessão
será retransmitida e todo Estado poderá ver que a Assembleia Legislativa trouxe
a vida da música, do amor, do poeta em toda forma de expressão, ajudando na
criação de uma nação melhor e mais feliz.
O mundo se desenvolveu,
veio a globalização, mas é fundamental que cada crescimento econômico, cada
conquista tecnológica tenha como consequência a felicidade. É da felicidade que
viemos falar aqui, da busca da felicidade, do país que nós queremos.
Convido todos para
embarcar nessa luta dos músicos pelo respeito à profissão. Que essa possa ser a
luta da transformação da escola, da melhoria da qualidade de vida e da vida
futura dos nossos filhos, dos nossos netos. Um grande abraço a todos.
Queremos agradecer a
todos que colaboraram conosco neste evento, especialmente minhas assessoras
Lúcia, Vânia e Valéria, sempre uma lutadora desde que começamos essa batalha em
defesa da música nas escolas.
Esgotado o objeto da
presente sessão, a Presidência agradece às autoridades, aos nossos assessores,
aos funcionários do Som, da Taquigrafia, da Ata, do Cerimonial, da Secretaria
Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV Assembleia e das assessorias da
Polícia Civil e Polícia Militar, bem como a todos que, com as suas presenças,
colaboraram para o êxito desta solenidade, e convida todos para um coquetel no
Salão Nobre Waldemar Lopes Ferraz.
Viva a felicidade!
Está encerrada a sessão.
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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 08
minutos.
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