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26 DE OUTUBRO DE 2001

36ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO CENTRO DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES DE CAMPINAS - CCLA

 

Presidência: CLAURY ALVES SILVA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 26/10/2001 - Sessão 36ª S. SOLENE Publ. DOE:

Presidente: CLAURY ALVES SILVA

 

HOMENAGEM AO CENTRO DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES DE CAMPINAS - CCLA

001 - CLAURY ALVES SILVA

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência, a pedido da Deputada Célia Leão, com a finalidade de homenagear o Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas - CCLA. Convida todos a ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro

 

002 - MARIA LETÍCIA DE BARROS E GONÇALVES

Diretora de seção do CCLA, agradece a homenagem prestada no centenário da fundação.

 

003 - ALCY Gigliotti

Vice-presidente do CCLA, enaltece a realização deste evento. Historia a fundação Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas e discorre sobre suas atividades.

 

004 - Presidente CLAURY ALVES SILVA

Anuncia a apresentação de números musicais.

 

005 - VERA PESSAGNO BRÉSCIA

Delegada Regional da Secretaria Estadual de Cultura, entrega placa comemorativa do centenário ao Sr. Marino Sigiatti, presidente do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas. Anuncia a apresentação de números musicais.

 

006 - MARINO ZIGGIATTI

Presidente do CCLA, agradece a homenagem aos 100 anos da instituição.

 

007 - Presidente CLAURY ALVES SILVA

Discorre sobre o trabalho da CCLA de preservar a cultura e resguardar os fatos que fizeram a nossa história. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Walter Feldman, atendendo solicitação da Deputada Célia Leão, com a finalidade de homenagear o Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas - CCLA. Queria aqui frisar que a pedido da Deputada Célia Leão, que solicitou-nos que fizesse as honras desta Casa na Presidência destes trabalhos, está em viagem, em comitiva de Deputados da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, em Cuba. Portanto, não só recomendou-nos que colaborássemos para que esta solenidade transcorresse da melhor forma possível, como também pediu-nos para que transmitisse o abraço, a alegria de Campinas. E a Deputada Célia Leão está homenageando o Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, que aliás, são cem anos prestados à cultura, não só de Campinas e região, mas também à cultura paulista e de todo o Brasil.

Gostaria aqui de anunciar, agradecer, e de forma bastante honrada desta Casa recebemos a presença na mesa, do Sr. Dr. Marino Ziggiatti, Presidente do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas. Gostaria também de anunciar a presença do Sr. Simão Podoski, 2º Vice-Presidente do Centro Ciências e Letras do Centro de Artes de Campinas; Dr. Alcy Gigliotti, Vice-Presidente do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, e a Sra. Maria Letícia de Barros e Gonçalves, diretora de seção do Centro do CCH.

Convido a todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional, que será entoado pelo coral da Banda do Corpo Musical da PM, neste ato sob a regência do 1º sargento-músico Clébio de Azevedo, maestro, ao qual agradecemos aqui a presença e o trabalho que a Corporação da PM tem feito neste Estado, e colaborando aqui com a Assembléia Legislativa, através dos seus músicos que se apresentam aqui nas nossas solenidades. Muito obrigado ao maestro, e na sua pessoa cumprimentamos a todos os integrantes.

 

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-              É entoado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Mais uma vez agradecemos ao Coral da Polícia Militar. Muito obrigado. Passamos a palavra a Sra. Maria Letícia, Diretora de Seção do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas.

 

A SRA. MARIA LETÍCIA DE BARROS E GONÇALVES - Sr. Presidente desta Sessão Solene, Deputado Claury Alves Silva, na pessoa de quem peço vênia para cumprimentar todos os Deputados que compõem esta Casa; membros que compõem esta Mesa, nossa Diretoria do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas, senhoras e senhores, numa iniciativa e solicitação da nobre Deputada Célia Leão, esta homenagem que esta Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo hoje presta, reveste-se de parte integrante da programação cultural comemorativa ao centenário da fundação, em Campinas, do Centro de Ciências Letras e Artes. No alvorecer do séc. XXI e do terceiro milênio novas propostas surgem, e com estas, realizações que vêm marcar nossa história institucional, onde todos participem idealista e construtivamente.

Assim, este evento propõe-se a resgatar para Campinas e região uma maior valorização, promoção e participação, através da Cultura e da Educação, valores mais importantes da civilização humana, possibilitando o conhecimento, em detalhes, da história das artes, da cultura de Campinas, do Brasil e do exterior.

Por isso, numa louvável e inteligente iniciativa esta Casa, sobejamente atuante, representada pelos nobres Deputados, através do seu digno Presidente, Dr. Walter Feldman, pretende ultimar, sempre o bem maior das entidades, elevar e aproximar, em todos os níveis também a cultura. E hoje, em especial, propiciar uma oportunidade ímpar ao Centro de Ciências e Artes de Campinas, prestando-lhe esta relevante homenagem. Obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Esta Presidência concede a palavra ao Dr. Alcy Gigliotti, Vice-Presidente do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas. Antes, porém, gostaria de agradecer e registrar a presença da Sra. Vera Pessagno Bréscia, Delegada Regional de Cultura, neste ato representando o Exmo. Sr. Secretário do Estado da Cultura, Deputado Marcos Mendonça. Muito obrigado pela presença.

 

O SR. ALCY GIGLIOTTI - Excelentíssimo Sr. Deputado Claury Alves Silva, digno Presidente destes trabalhos; eminente Presidente do Centro de Ciências Letras e Artes, eng. Marino Ziggiatti; Maria Letícia, Simão, nossos companheiros de diretoria, intuitos e Exmos. Srs. Deputados estaduais, demais autoridades civis, militares e religiosas, integrantes do Coral da Polícia Militar, senhoras, senhores, juventude da nossa Pátria, é difícil para nós, integrantes do Centro de Ciências Letras e Artes da importante cidade de Campinas, deste nosso majestoso Estado de São Paulo, interpretar, por meio de palavras, sempre tão difíceis de encontrar precisas, o reconhecimento carinhoso e a alegria exultante de todos nós por esta feliz oportunidade tributada a nossa centenária instituição.

Há aqui e agora, pelos ares, o agasalho de uma festiva integração e o perfume de um astral indimensionável de satisfação e prazer que a todos nós domina. Neste excelso plenário, onde os assuntos mais complexos e a estabilidade de todo um povo se concentram em mãos e mentes privilegiadas, aqui estamos trazendo alguma coisa diferenciada pela sensibilidade, pela música, pela pintura, pela poesia e pelo calor humano tão agradável, nascido naturalmente do coração e da alma de todos os que participam deste evento. Brota, igualmente, um profundo agradecimento a todos, senhoras e senhores, Deputados e Deputadas que tornaram possível esta nossa visita que marcará, com vivíssimas cores este glorioso mês de outubro de 2001, tão caro e alvissareiro a todos nós.

Nosso muito obrigado mais a aqueles que conduziram o preparo deste plenário, transferindo para a nossa visão o carinho, a dedicação e o amor com que se lançam à tarefa. Não poderíamos deixar de ressaltar o importante trabalho da Sra. Deputada Célia Leão e Maria Letícia de Barros e Gonçalves em favor da realização deste evento. Séria, segura, com objetivos pesquisados, uma garra e entusiasmo que se podem levar como exemplo para qualquer uma de todas as vidas.

É sem dúvida um orgulho para nós de Campinas, de uma definida certeza, enfeitando a luta pela felicidade do povo do nosso Estado e do nosso Brasil. Igualmente não poderia deixar de me referir ao esforço de Maria Letícia, nossa companheira de comissão organizadora, que lutou, momento a momento com seu entusiasmo, sem receios.

A dedicação e o vigor de ambas restará como amena lembrança na história do nosso CCLA centenário. Por fim um agradecimento a todos aqueles que tornaram possível, tornando ou participando este programa que trazemos com o coração aberto e alma plena de felicidade, aquela mesma que Alexander Poe, poeta e ensaísta inglês deixou-nos, desde os longínquos tempos do começo do séc. XVIII: “Ó felicidade, fim e alvo do nosso ser; fim, prazer, bem-estar, satisfação, qualquer que seja o teu nome, aquele algo que leva ao suspiro eterno que nos faz suportar a vida e ousar a morte”.

O Centro de Ciências, Letras e Artes surgiu de uma necessidade flagrante: cultuar e divulgar a cultura em geral, e objetivando o maior empenho dos estudiosos e o proveito de todos. A respeito, uma sintética lição nos deixaram José Alexandre dos Santos Ribeiro e Francelino Piauí na revista do Centro de Ciências Letras e Artes, comemorativa do 75º aniversário da entidade. O artigo se intitulava: síntese histórica do Centro de Ciências Letras e Artes.

O Centro de Ciências Letras e Artes que nasceu como século é resultado do centro intelectual que Campinas vinha se tornando nos últimos anos do século passado, com a vinda para cá de estudiosos, professores, cientistas e amantes da cultura em geral, principalmente por causa de dois fatos: a passagem da antiga Estação Agronômica de Campinas, fundada em 1887, pelo governo do império, para o domínio do Estado de São Paulo, como nome de Instituto Agronômico de Campinas, por decreto de 8 de fevereiro de 1892. A criação veio por Decreto-lei de março de 1895, e inauguração a 4 de dezembro de 1896, do Ginásio de Campinas, atualmente nosso Colégio Estadual Culto à Ciência, que já completou, aliás, cem anos.

Em 25 de setembro realizou-se uma primeira reunião, em 1901, objetivando uma instituição que atendesse à imperiosa necessidade de integração da cultura campineira. Na residência do Dr. Edmundo Krug, lá estavam Alexandre Krug, Ernesto Sikst, Adolfo Hample, Henry Potel, João Cesar Bueno Bierrenbach, Camilo Vanzolini, Agostinho Lourenço e José de Campos Novais para as primeiras digressões das quais surgiu uma comissão para redigir estatutos, a fim de sedimentar a entidade.

Mais três reuniões, a última das quais a Quarta Assembléia Geral, realizada em 31 de outubro de 1901, na qual se aprovariam os estatutos e se elegeria a primeira diretoria, votando 33 sócios, e assim constituída: presidente: Dr. Leôncio de Carvalho; vice-presidente: Dr. José de Campos Novais; secretário-geral: Dr. Francisco de Paula Magalhães Gomes; 1º secretário: Dr. João Cesar Bueno Bierrenbach; 2º secretário: Dr. Ângelo Simões; orador: Professor Henrique Maximiliano Coelho Neto, e tesoureiro: Dr. Edmundo Krug.

Nessa reunião, por proposta de Coelho Neto deliberou-se o envio de uma mensagem congratulatória a Santos Dumont pelo seu histórico feito de voar com o se invento em torno da Torre Eiffel; ficando o mesmo Coelho Neto incumbido de redigir a mensagem, que foi a primeira manifestação de vida do nosso Centro de Ciências Letras e Artes. Já integrando a nós brasileiros e o nosso centro, duas figuras insignes da nossa Pátria: Coelho Neto e Santos Dumont.

Nesse mesmo ano criaram-se comissões com a finalidade de cultuar-se e desenvolver-se o objetivo declarado de cada uma. Forma quinze, logo integradas, e que iniciaram um movimento impressionante, com resultados imediatos. Eram as comissões de Matemática, Astronomia, Engenharia, Física, Química e Mineralogia, Botânica, Zoologia, Agricultura, Zootécnica, Geografia, História, Demografia, Ciências Médicas, Ciências Sociais e Econômicas, Ciências Jurídicas, Letras e Artes, Revista e Publicações, Biblioteca e Museu, Legislação, Justiça e Contas e Comissão de Sindicância. Isso a 31 de outubro de 1901, data da fundação da entidade.

As reuniões, até fim de novembro de 1901 eram realizadas na sede do Clube Campineiro. Já a partir daí adotou-se uma sede provisória; a primeira do CCLA, em prédio pertencente à mãe do Dr. Cesar Bierrenbach, e que passou a ser, a partir de fevereiro de 1902, devidamente adaptada a local de atividades da novela Instituição.

A última reunião realizada no Clube Campineiro, em 26 de fevereiro desse ano, foi em especial já e em homenagem ao centenário de nascimento de Victor Hugo, contando com uma parte artística, da qual participava o irmão de Carlos Gomes, maestro e compositor Santana Gomes.

Em setembro de 1902, pouco menos um ano depois publicava-se o primeiro número da Revista Ciências Letras e Artes que se tornou um órgão internacionalmente prestigiado e que sobreviveu até 1976. Em 1902 também já cresciam as doações voluntárias para a organização da biblioteca e do museu.

Em 1905, nascia, por proposta de Cesar Bierrenbach, o arquivo de Carlos Gomes, que depois se transformaria no nosso monumental Museu Carlos Gomes, que é glória e orgulho de Campinas e do Brasil, até hoje. Em seu terceiro ano de vida, pasme-se, a entidade possuía 185 sócios correspondentes; sendo 126 no Brasil e 59 no exterior. Era sócios honorários do Centro de Ciências Letras e Artes, entre outros, na época, Santos Dumont, Vieira Bueno, Campos Sales e o Barão do Rio Branco.

A primeira sede própria teve a sua sede a sua pedra fundamental lançada em 1º de dezembro de 1907, também com a presença de Santos Dumont, que a colocou. Já com a planta aprovada, de autoria do engenheiro José Piffer, sendo inaugurada em 31 de outubro de 1908, a um ensejo do 7º aniversário do CCLA, um belíssimo prédio, posterior e infelizmente derrubado, e que se situava na Rua Conceição, esquina da Avenida Francisco Glicério.

Em 1908 visitavam o Centro de Ciências Letras e Artes, nada mais nada menos do que o cientista Vital Brasil e o grande Rui Barbosa, cujas palavras de elogio ao Centro estão gravadas no nosso livro de visitas; são realmente maravilhosos. Nunca mais esse majestoso e internacionalmente conhecido Centro de Ciências Letras e Artes parou. Eminentes paulistas e brasileiros de outros Estados exerceram funções nas diretorias e conselhos do Centro.

Por esta Assembléia Legislativa grande número deles sustentaram e vêm sustentando a luta política, honesta e objetiva em prol da Pátria. Entre eles distinguiu-se Nelson Omenha, que foi durante muitos anos presidente do Centro de Ciências Letras e Artes. O Prof. Sólon Borges dos Reis também prestou sua colaboração as nossas diretorias.

Já existem inúmeros trabalhos sobre a caminhada cheia de lutas e progressos da nossa entidade. Mas até o momento ainda não se inscreveu a história do Centro de Ciências Letras e Artes, toda essa maravilhosa existência inteiramente dedicada à cultura, e com resultados surpreendentes. Celeiro de grandes nomes de todas as atividades culturais, ali nasceram Fernando Lopes, Sônia Rubisnki, grandes pianistas; ali se exibiu Guiomar Novaes.

Seria impossível, é claro, nessas pobres palavras contar toda a gama de nomes, fatos, acontecimentos, palestras, cursos, eventos literários, musicais, poéticos etc. Mas estão todos registrados ali à espera de alguém que as reúna, sem dúvida em uma obra que se tornará tão monumental como a entidade a que vai se referir. O Centro de Ciências Letras e Artes chega ao seu centenário algo combalido; mas não perdem os homens e mulheres que o sustentam a alegria do combate e as esperanças de conquistas de algumas necessidades básicas que vêm impedindo, por sua ausência, a manutenção integral do “status” já conquistado, em apenas três curtos anos.

Mantém ele ainda a sua biblioteca. Hoje com aproximadamente 150 mil volumes. São livros, revistas, jornais, folhetos, fotos, a monumental coleção da revista que se não publica mais desde 1976. Mantém uma galeria de arte que expõe algumas vezes alguns dos 160 quadros da Pinacoteca do Centro de Ciências Letras e Artes, dentre os quais existem telas de Lasar Segall, Almeida Júnior, Pedro Américo, Benedito Calixto e tantos outros.

Possui uma discoteca com cerca de 30 mil discos, a maior parte de músicas clássicas, com óperas de cantores líricos de extraordinária expressão. Tem a coleção de jornais da cidade, desde o séc. XVIII, e uma coleção de obras sobre Campinas que tornam a Biblioteca chamada Cesar Bierrenbach, em homenagem ao nosso coordenador de fundação, o melhor ponto válido de consultas para pesquisadores.

Está, aliás, ressalte-se, ainda sob a direção de Maria Luiza Silveira Pinto de Moura, que aproveitamos o ensejo para a homenagear, já há mais de 45 anos em ininterrupta e prodigiosa atividade; ela que tudo conhece, até as entranhas dessa monumental biblioteca. Mantém o Centro de Ciências Letras e Artes uma vitrine cultural, na entrada do edifício-sede, onde se expõe, periodicamente, livros, fotos e acervos de homens ilustres que fizeram nossa história do Brasil tão imensa. Mantém ainda uma sala de leitura, onde diariamente se encontram jornais e revistas atuais para leitura pelos sócios e interessados.

Mantém, igualmente, três museus; o importantíssimo Museu Carlos Gomes, de renome internacional, que possui talvez o maior acervo sobre o campineiro que se tornou um dos maiores nomes da ópera mundial, além de partituras originais de grandes compositores brasileiros; até um original de Giuseppe Verdi..

O Museu Campos Sales, com perto de 400 peças; sendo que grande parte delas de doações pessoais do grande campineiro que chegou à Presidência da República, e o Museu do Índio, com um valioso acervo de grande beleza. Possui o seu auditório Marino Ziggiatti, onde quase que diariamente se realizam cursos, palestras, espetáculos teatrais, musicais, saraus literomusicais, semanas e outras atividades, sempre de fundo cultural, com ingresso gratuito.

Mas há muito mais: um livro de visitantes ilustres; uma preciosidade iniciado em 1907; um monumental arquivo de documentos, ofícios e relatórios que lotam várias estantes e arquivos de aço. Há muito mais.

Aliás, por falar no Auditório Marino Ziggiatti, aproveitamos também o ensejo para neste solene plenário prestar-lhe uma homenagem pessoal. Seu nome apenas não se dá ao auditório, por ele mesmo construído; o auditório tem capacidade para 230 pessoas, um belíssimo palco, em condições de utilizar toda essa gama de modernidade tecnológica. Marino está lutando pela entidade há mais de 50 anos, tendo já presidido a mesma por treze vezes, com mandatos de dois anos; o que representam 26 anos de presidência do Centro de Ciências Letras e Artes. Neste centenário está cumprindo os dois anos de sua reeleição, por aclamação, ocorrida em abril de 1999. Seus 25º e 26º anos de presidência. Um Guiness, sem dúvida incansável.

Vamos terminar. Há uma grande frase de Anatole France: “O presente é árido e turvo. O futuro ninguém conhece; toda a riqueza, todo o esplendor, toda a graça do mundo estão no passado.” É verdade, sob um certo ângulo. É também verdade o que disse o inglês, Lord Byron, poeta, grande cultor da vida, inclusive em suas tragédias e dissensões: “Todos os tempos quando são antigos são bons”.

Enfim, o passado, se cultuado e preservado, é sem dúvida o que disse a respeito, Hirg: “Felicité Robert de la menner”, em princípios do século 19: “O passado é uma espécie de archote colocado à entrada do porvir para dissipar as trevas que o envolvem”.

É ainda verdade também dizer-se como o poeta e romancista inglês: Guilbert Kissy Chesterton numa das suas mais conhecidas frases soltas, uma das mais conhecidas frases soltas da humanidade: “Tradição não quer dizer que os vivos estão mortos, mas que os mortos estão vivos”. Resumindo: o passado conserva a sabedoria e ensina; o presente utiliza o passado para se conduzir rumo ao futuro, e o porvir é será sempre um profundo mistério que se deve respeitar e fazer florir.

Esse nosso centenário do Centro de Ciências Letras e Artes preservou e conservou o passado até agora. Nosso presente está ameaçador; não é possível viver-se do que passou. É lição, é graça. É que o tempo, esse crucial e mortal destruidor não perdoa, não se apiada; nada compreende e diverte-se a notar que tudo por ele é consumido e irremediavelmente destruído.

Nosso Centro ainda persiste. Homens e mulheres de fé e muito amor prosseguem sustentando o insustentável ao administrar um valioso acerco pelo premido pelo tempo e necessitando de garantias que não conseguem pela omissão dos poderes públicos, dos associados poucos e indiferentes e do povo em geral, fascinados por novidades do presente, totalmente separado da história depois do passado, e inacreditavelmente incapaz de situar-se na confusa e inexplicada expectativa do futuro. Há limites. Ainda estamos podendo; nós condutores por algum tempo das riquezas até hoje preservadas.

Mas o que virá? Essa é a interrogação quase trágica, pergunta irrespondível e dramática. O que fazer? Precisamos do Poder Público, precisamos de associados participantes envolvidos; precisamos do povo ávido de ver, de sentir e de encontrar prazer também nas coisas belas e proveitosas que o passado, sobretudo a cultura em todas as suas dimensões pode gerar. Este centenário pode ser o reinício; o prenúncio de uma realidade mais formosa e da qual o nosso grandioso Estado de São Paulo, o nosso Brasil e a própria humanidade não podem deixar perecer.

Ali no Centro estão remansosas lembranças de um tempo de lutas, derrotas e vitórias, de belezas sem conta e expectativas, ainda esperando se estratificarem em conquistas maravilhosas para a sociedade e a vida deste nosso confuso presente que se poderá mudar também para que o porvir chegue mais manso e suportável para todos os seres vivos. Daí este nosso apelo final: conheçam-nos; ajudem-nos; visitem-nos, mas não só, admirem com efusão e agradecimento uma obra centenária, de cem anos de serviço à cultura e de preservação de uma riqueza que não poderá jamais ser esquecida, destruída ou abandonada.

Lembraríamos aqui Camilo Castelo Branco: “Os dias prósperos não vêm do acaso; são granjeados como as searas, com muita fadiga e muitos intervalos de desalento.” Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Fomos aqui premiados com as belas palavras do Dr. Alcir. Quero aqui cumprimentá-lo pelo histórico do CCLA. Ouviremos agora os números musicais pela Sra. Vera Pessagno e pelo Quarteto Jovem do Conservatório Carlos Gomes.

 

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- São feitas as apresentações dos números musicais. (Palmas.)

 

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O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Tem a palavra a Sra. Maria Letícia.

 

A SRA. MARIA LETÍCIA DE BARROS E GONÇALVES - Em especial para agradecer a estes jovens músicos que compõem o Quarteto do Conservatório Carlos Gomes, brilhantes futuros grandes músicos. Muito obrigada, e não tardiamente, mas ainda passando o programa que foi apresentado, ouvimos: Telemann, “Quarteto em si bemol maior”, primeiro movimento; Haydn, “Quarteto de Cordas”, Opus 33, nº 3, primeiro movimento. Encerramos com Carlos Gardel: “Por uma Cabeça”. Muito obrigada a vocês. (Palmas.)

Continuando a parte artística teremos em seguida a apresentação da nossa querida cantora, amiga, nossa diretora do Centro de Ciências, Vera Pessagno, acompanhada do Trio Scala que apresentarão peças do nosso maestro campineiro Antonio Carlos Gomes. Quem sabe, “Hino Acadêmico”, “Conselhos” e encerrando com “Minha Terra”.

Gostaria de cumprimentar o Sr. Deputado Claury Alves Silva e todos os integrantes da Mesa, os componentes de Campinas, Herbert Carlos Gomes, lutador e idealista Dr. Ziggiatti, Simão, Alcir e Dra. Maria Letícia Barros Y Gonçalves.

Gostaria, em nome da Secretaria de Estado da Cultura Governo do Estado de São Paulo, prestar uma singela homenagem, quatro placas para o Centro de Ciências Letras e Artes pelos cem anos de existência. Gostaria também de dizer que a Secretaria de Estado da Cultura vai comemorar com a edição dessa obra que vai contar toda a história dos cem anos do Centro.

Como bem falou o Dr. Alcir, muita história, não só da cidade de Campinas, mas do Estado de São Paulo e de todo o Brasil. E também histórias internacionais, porque Carlos Gomes é um nome internacional. Homem que consagrou o evento do século 19, e bem longe ele fez essa música para a grande década.

Gostaria de entregar esta placa para o Dr. Marino Ziggiatti, como uma homenagem do Governo do Estado de São Paulo, da Secretaria de Estado da Cultura pelos cem anos de existência.

 

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-              É feita a entrega da placa. (Palmas.)

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-              É entoado um numero musical. (Palmas.)

 

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A SRA. MARIA LETÍCIA DE BARROS E GONÇALVES - Ouvimos uma música que Carlos Gomes compôs, em São Paulo, em homenagem a sua namorada que tinha ficado em Campinas. Naquela época a distância entre Campinas e São Paulo era muito longa, muito grande. Por isso “Tão Longe e Tão Distante”.

A seguir, uma música que Carlos Gomes compôs também aqui em São Paulo, em homenagem aos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco: “Hino à Mocidade Acadêmica”.

 

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-              É entoado um número musical. (Palmas)

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A SRA. VERA PESSAGNO BRÉSCIA - É mais uma música que Carlos Gomes compôs na Itália e que retrata muito bem - gostaria até dedicar esta música a Dra. Maria Letícia e também a todas as mulheres aqui presentes, porque são eventos daquilo que Carlos Gomes pensou há anos. Naquela época a situação da mulher era totalmente diferente de hoje, e Carlos Gomes compôs, intitulada “Conselhos”.

Nessa música ele sugere, dá alguns conselhos às mulheres daquela época. É uma música extremamente machista. E onde ele viveu, na Itália, a situação da mulher, por volta de 1875/76 por aí, a situação era muito diferente da de hoje. Ele fez a letra, um pouco jocosa, embora compositor de ópera e sacro, um compositor romântico, dramático, ele foi extremamente irônico e jocoso. A letra é muito fútil e reflete uma realidade cultural daquela época, mas serve como registro histórico de como a mulher evolui nestes últimos anos. Concertos de Carlos Gomes.

 

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- É feita a apresentação musical.

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A SRA. VERA PESSAGNO BRÉSCIA - E para encerrar a nossa apresentação, eu primeiramente gostaria de apresentar José Andrade Neto, integrante do Grupo Scala (Palmas.) e a última música é uma fantasia da ópera “O Guarani”, com letras ecológicas.

Esta composição foi de 1940, o arranjo do maestro Fabiano Lozano, que fez uma coletânea dos principais trechos da ópera “O Guarani” e colocou temas ecológicos. De 1940, e a letra ainda está bem atual. De Carlos Gomes, arranjo de Fabiano Lozano, “Minha Terra”.

 

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- É feita a apresentação musical.

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O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Parece que alguma coisa andou errada aqui. A Assembléia estava homenageando o CCLA, mas, na verdade, nós estamos sendo homenageados com a cultura de Carlos Gomes, através da música. Parabéns, Sra. Vera, pela sua apresentação. Estamos sabendo que já tem oito CDs gravados e lançou um agora. Parabéns! Ficamos muito satisfeitos com a apresentação que a senhora fez, juntamente com os músicos que a acompanharam. E também o quarteto que brilhantemente aqui já se apresentou e nos brindou com os números. Comentava com o Dr. Marino que a última apresentação, de Carlos Gardel, até sugeria dançar um tango.

Passo a palavra ao Sr. Marino Ziggiatti, que é o Presidente do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas. Tem V.Sa. a palavra.

 

O SR. MARINO ZIGGIATTI - Exmo. Sr. Deputado Claury Alves Silva, mui digno Presidente desta Sessão em homenagem ao Centro de Ciências, que a Assembléia nos presta; coronel comandante do Corpo de Bombeiros, que é uma instituição que também gostaríamos de destacar porque é uma instituição centenária em Campinas; jovens; digna representante e delegada de cultura da região em Campinas, Vera Pessagno, nós agradecemos e, principalmente, pelo brinde que nos trouxe, esta placa que o Governo do Estado de São Paulo nos endereça, isso muito nos sensibiliza.

Em nome da Diretoria do Centro de Ciências, Letras e Artes desejamos agradecer a homenagem que esta operosa Casa Legislativa presta à nossa entidade pela passagem do seu 100º aniversário de fundação, atuando com continuada ação em obediência aos seus preceitos estatutários, conforme nos foi legado pelo idealismo de seus 99 fundadores, liderados pelo grande tribuno que foi Cesar Bierrenbach.

Agradecemos, em especial, à nobre Deputada Dra. Célia Leão, que mais uma vez demonstra sua sensibilidade e espírito de trabalho e justiça, como autora da indicação a este Legislativo do reconhecimento dos 100 anos de serviços à cultura, prestados pelo Centro de Ciências, Letras e Artes, notadamente nos seus esforços na preservação da memória de dois grandes campineiros, dois grandes vultos da cultura da nossa pátria, o maestro Carlos Gomes e o Presidente Campos Sales, através da farta documentação que preservamos no nosso acervo.

Completando os nossos agradecimentos, gostaríamos de entregar ao Presidente Feldman, ao nosso Presidente Claury e à Deputada Célia Leão um certificado em testemunho do nosso reconhecimento e agradecimento pela distinção que nos foi concedida. Muito obrigado. (Palmas.)

Gostaria que a professora Letícia entregasse também um outro documento representativo da Pinacoteca do Centro de Ciências. Esta é uma gravura que representa a doação que Lasar Segall fez na sua primeira exposição no Brasil, fora de São Paulo. Representa, em 1913, como a cultura de Campinas estava avançada, inclusive, antecipando a Semana de Arte Moderna. Está aqui um grupo interessado em receber essas manifestações. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CLAURY ALVES SILVA - PTB - Quero aqui, em nome do Presidente Walter Feldman, em nome da Deputada Célia Leão e em nome de todos os Deputados desta Casa, apresentar as nossas justas homenagens pelos 100 anos do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas.

Quero dizer que aqueles que não conhecem a instituição deverão, sem dúvida, ter uma grande oportunidade de conhecer, a partir do momento em que se divulga este trabalho árduo. Não é fácil no nosso país, país jovem, país que nasce de uma miscigenação de raças, país que ainda procura a sua identidade própria fazer cultura e, principalmente, preservar cultura. Aqueles nossos irmãos talentosos que, inspirados por dom divino, nas suas obras e em todas as áreas da cultura, puderam transmitir o sentimento para que momentos da história pudessem se perpetuar através das artes.

Portanto, queria aqui dizer que admiramos o trabalho que se realiza e que, principalmente, se preserva, com a documentação do ex-presidente e sempre presidente, que emprestou à toda população brasileira e, agora, sob a guarda do CCLA de Campinas, toda sua farta documentação e história que nós estamos satisfeitos de poder conhecer um pouco. Também Carlos Gomes, cujas obras foram aqui apresentadas, e com quem nós temos uma dívida para a preservação da história, através do CCLA.

Portanto, tenho certeza que representando aqui os Srs. Deputados, o Sr. Presidente, a Deputada Célia Leão, estaremos sempre dispostos a estarmos juntos, defendendo a cultura e os interesses do povo, especialmente Campinas, que preserva e que tem essa função de preservar a história de tão eminentes próceres da cultura, das artes, da música, de letras da região e do Brasil.

Também faremos a entrega da homenagem que aqui estamos recebendo ao Presidente Feldman, à Deputada Célia Leão, e uma homenagem especial a quem já faz parte do “Guinness Book”, o professor Dr. Marino que, por 26 anos, dá a sua contribuição à cultura, presidindo o CCLA. Parabéns!

E encerrando o objeto desta solenidade, quero agradecer a todos; agradecer à apresentadora das músicas, a Sra. Vera, que também representa o Secretário de Estado da Cultura, Marcos Mendonça; agradecer ao Quarteto, que trouxeram a esta Casa as vibrações tão positivas.

Está encerrada a sessão.

 

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-         Encerra-se a sessão às 11 horas e 58 minutos.

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