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19 DE SETEMBRO DE 2003

37ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO 110º ANIVERSÁRIO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

 

Presidência: ARNALDO JARDIM

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 19/09/2003 - Sessão 37ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: ARNALDO JARDIM

 

110 ANOS DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

001 - ARNALDO JARDIM

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que esta sessão foi convocada pela Presidência efetiva a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos com a finalidade de comemorar os "110 anos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo". Convida a todos para ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - FRANCISCO ROMEU LANDI

Diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fapesp, discorre sobre a história da engenharia no Brasil e sobre a Escola Politécnica.

 

003 - JULIANA  COLACIOPPO

Diretora do Grêmio Politécnico, fala da contribuição à sociedade dos estudantes da Poli e do Grêmio.

 

004 - KAMAL MATTAR

Presidente da Associação dos Engenheiros Politécnicos, traça histórico da entidade, discorrendo acerca de suas atividades.

 

005 - Presidente ARNALDO JARDIM

Anuncia a execução de números musicais.

 

006 - IVAN GILBERTO SANDOVAL FALLEIROS

Vice-diretor da Escola Politécnica da USP, fala sobre as perspectivas futuras da escola, fundeadas no projeto "Poli 2015".

 

007 - Presidente ARNALDO JARDIM

Expressa seu orgulho por ter estudado na Escola Politécnica a qual parabeniza por seus 110 anos de desenvolvimento educacional e tecnológico. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Quero saudar todos os presentes, colegas politécnicos, representantes de instituições de ensino, de pesquisa, senhores profissionais, engenheiros, representantes de entidades amigas de escolas co-irmãs da Escola Politécnica.

Permito-me destacar que tenho a satisfação de ter a minha direita o Prof. Dr. Ivan Gilberto Sandoval Falleiros, vice-diretor da Escola Politécnica, que representa neste instante o diretor da escola, Dr. Vahan Agopyan e o magnífico reitor Adolpho José Melfi. Bem-vindo, professor Ivan, obrigado pela presença. (Palmas.) Tenho a satisfação de ver a minha esquerda o Prof. Dr. Francisco Romeu Landi, diretor-presidente do Conselho Técnico Administrativo da Fapesp, ex-diretor da Escola Politécnica. Gostaria de saudar a presença do Dr. Kamal Mattar, presidente da Associação dos Engenheiros Politécnicos.

Com muita alegria vejo a presença feminina nesta Mesa, na expressiva presença de uma estudante da Escola Politécnica, ela que representa o nosso Grêmio Politécnico, que comemora seu centésimo aniversário, Juliana Colacioppo. Já estão conosco, à direita da Mesa, personalidades, vários politécnicos, pessoas cuja presença, pela própria citação, os senhores terão dimensão do que significa. Gostaria de saudar a presença do Dr. Zevi Kann, politécnico, hoje comissário chefe da Comissão de Serviços Públicos de Energia do Estado de São Paulo, órgão regulador dos serviços de energia do Estado de São Paulo. Saudar a presença de Rodrigo Bermelho, que também integra a diretoria do Grêmio Politécnico.

Vou citar todos e depois pedir uma salva de palmas. Capitão de Mar e Guerra Frederico Guaurino de Oliveira, que representa o comandante do 8o Distrito Naval Carlos Afonso Pierantoni Gamboa; o Capitão de Mar e Guerra, engenheiro naval Ilson Soares, diretor do Centro de Coordenação dos Estudos da Marinha de São Paulo; Capitã de Corveta, Ana Maria Vaz de Araújo, representando o contra-almirante, engenheiro naval Alan Arthou, do Centro Tecnológico da Marinha.

A presença de tão expressiva delegação da Marinha de Guerra do Brasil encontra amparo naquilo que é uma parceria consistente que, ao longo dos anos, a Escola Politécnica tem desenvolvido com a Marinha do nosso país e que se desdobra agora em outros graus de conhecimento, por exemplo, naquilo que faz hoje o agrupamento do IPT, nas estruturas de perfuração profunda da Petrobrás, um dos exemplos de ponta do desenvolvimento científico e tecnológico em que está engajada a nossa Escola Politécnica.

Quero saudar a presença do Prof. Reitor do Centro Universitário Instituto Mauá de Tecnologia, entidade irmã da Escola Politécnica, professor Otávio de Mattos Silvares; professor Armando Antônio Maria Laganã, representando o Sr. Secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Turismo do Estado de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, politécnico que integra o primeiro escalão do governo de São Paulo; engenheiro João Ernesto Figueiredo, vice-presidente do Instituto de Engenharia; politécnico que recentemente integrou o esforço Poli 2015, José Sidnei Colombo Martini, presidente da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica, Cteb; meu amigo, ex-ministro de Estado, ex-secretário de Estado, politécnico, Dr. Clóvis Barros de Carvalho; professora Elza Ajzenberg, diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP; Guilherme Ary Plonsky, diretor superintendente do IPT, que se faz acompanhar do Dr. Eduardo Figueiredo Horta, diretor da Divisão de Engenharia Civil e vários outros membros da direção do IPT que estão aqui.

Quero destacar que esta Sessão Solene foi convocada pelo nosso presidente da Assembléia Legislativa, nobre Deputado Sidney Beraldo, com a finalidade de homenagear a nossa Escola Politécnica pelos seus 110 anos de existência e serviços prestados ao Estado de São Paulo e ao país, convocada a partir de uma proposta de minha iniciativa. Todos os senhores nos engrandecem muito com suas presenças.

Queria solicitar ao nosso querido Coral da Escola Politécnica que, sob regência da maestrina Lucymara Apostólico, pudesse nos brindar com a execução do Hino Nacional. Convido a todos para que ouçamos, de pé, o Hino Nacional.

 

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- É entoado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Queremos agradecer a participação do Coral da nossa Escola Politécnica que, depois, nos brindará com mais uma participação. Neste instante, com muita satisfação, gostaria de passar a palavra ao Dr. Francisco Romeu Landi, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fapesp que, a nosso convite, falará sobre a história da engenharia no Brasil e a Escola Politécnica.

 

O SR. FRANCISCO ROMEU LANDI - Exmo. Sr. Presidente desta Sessão Solene, Deputado Arnaldo Jardim, nobres Deputados, autoridades, senhoras, senhores e politécnicos, nesta Casa, há 110 anos, foi lavrada a certidão de nascimento da Escola Politécnica. Após longas discussões - se era melhor aplicar os recursos do ensino básico no profissionalizante ou no ensino superior - acabou por prevalecer o argumento do Deputado Antonio Francisco de Paula Souza e companheiros seus. A sociedade paulista vivia uma fase de expansão, e a produção do interior paulista, especificamente o café, precisava ser escoada para o porto de Santos. Novas áreas precisavam ser exploradas e precisava-se de estradas, pontes e viadutos para vencer distâncias e escoar a produção.

A argumentação do grupo liderado por Paula Souza se apoiava no fato de que o País e o Estado precisavam desenvolver a sua própria tecnologia. Não poderíamos ficar dependentes de tecnologias desenvolvidas em outros locais. Precisávamos criar nossa própria competência, conduzir nossos destinos. A sabedoria com que esta Casa soube entender a questão mostrava a filosofia de respeito e devoção ao ensino e à pesquisa que, até hoje, é um traço significativo da cultura que aqui se estabeleceu.

Até então era conhecida a ousadia que os paulistas representavam desde a época dos bandeirantes. Agora, a esta ousadia se somava a cultura do desenvolvimento. Da ousadia e desta nova cultura nasceu a visão do caminho que se deveria seguir em busca da independência, e que tanto distingue os paulistas. A criação da Escola Politécnica é o primeiro sinal dessa cultura.

Os caminhos desta Casa e o crescimento da autonomia tecnológica estão profundamente entrelaçados. A revolução de 32 - que dá o nome a este Palácio 9 de Julho, quando os paulistas se levantaram na exigência de uma Constituição - marcou um novo momento em que políticos e politécnicos foram à luta. Os políticos articularam as ações. O jovem idealista deixou a folha dobrada enquanto ia morrer. O ideal de uma Constituição e de um país democrático ceifou a vida de muitos politécnicos e convocou toda a instituição que então se engajou na luta através do seu gabinete de materiais, que já começava a tomar a forma do Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Armamento e munição produzidos pela Escola Politécnica supriam as linhas de combate. Mais uma vez, as duas instituições se cruzavam na defesa de uma sociedade moderna.

Os resultados da determinação política de criar um local para desenvolver a capacidade dos paulistas de definir os seus destinos mostrou o acerto, relatam alguns apenas episódios, ao possibilitar a criação do nosso Parque Tecnológico, hoje seguramente o mais bem estruturado da América Latina quanto à atração que essa competência tecnológica trouxe e traz para que novas indústrias aqui se instalem. É de se notar o enorme progresso que a criação de uma universidade traz para o desenvolvimento regional. Podemos citar o exemplo da Unicamp, que trouxe um enorme desenvolvimento para a região da Grande Campinas e toda a indústria de informática que ali vem se instalando. Podemos citar também o progresso da cidade e da região de São Carlos como resultado da presença da Universidade de São Paulo. O mesmo se repete em tantas e tantas cidades onde a Unesp está presente.

Há que se salientar também a contribuição para a estruturação das demais escolas de engenharia. Em grande parte, por ser a irmã mais velha, a Escola Politécnica teve oportunidade de contribuir para a criação, cessão dos primeiros docentes e estruturação do curso de engenharia das hoje tradicionais Escola de Engenharia São Carlos, Escola de Engenharia Mauá, Faculdade de Engenharia Industrial. Não só se criava um espaço maior para o desenvolvimento do ensino e da estrutura do conhecimento, como também se influía significativamente na transferência desse conhecimento para as empresas de engenharia.

A Poli teve grande liderança no uso do concreto armado. Nessa ocasião, as normas brasileiras eram tão arrojadas que diversos países vieram aqui estudar as razões de tamanho avanço, adequando-se posteriormente a essas inovações. Grande beneficiário desse arrojo tecnológico foi a arquitetura brasileira que se projetou internacionalmente.

A primeira formulação de um plano estratégico para a produção de energia elétrica, quando o Estado de São Paulo se deparou com as previsões de déficit que o aumento do seu parque industrial vinha apontando, nasceu na Politécnica. O conceito de planejamento energético aqui começou e daqui se irradiou para o país. É interessante lembrar a aventura da construção de barragens neste país. Não sabíamos projetar nem construir barragens. Para isso, contratamos uma empresa inglesa, a qual, inteligentemente, obrigamos a fazer uma parceria com uma empresa nacional. Não foi necessária uma segunda parceria. Daí para frente, tudo ficou a cargo dos paulistas.

A Escola Politécnica tornou-se um grande centro de projetos e medidas laboratoriais ligado à construção de barragens e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas criou um centro de medidas e ensaios dessas mesmas barragens. Nasceu nessa ocasião também o Centro Tecnológica de Hidráulica. O avanço tecnológico na construção de barragens foi tão grande que resultou na competência para a construção da Usina de Itaipu, então a maior do mundo, com base essencialmente na engenharia dos paulistas. Hoje, as nossas empresas operam em diversos países do mundo.

O suporte ao desenvolvimento da indústria automobilística, na qual o país era jejuno, fez-se pela integração dos engenheiros paulistas. O desafio de Juscelino Kubitschek de 50 anos em cinco parecia um sonho que dificilmente seria realizado. Não dispúnhamos de fundição para blocos e motores, não tínhamos tecnologia de qualidade nem de autopeças, não tínhamos tecnologia para ligas e metais, não dispúnhamos de mão-de-obra qualificada. O desafio estava colocado e a engenharia paulista aceitou. Em poucos anos, o país era capaz de decretar a sua independência.

A modernização industrial seguiu-se em todos os setores. Estabelecemos uma indústria siderúrgica capaz de construir as chapas e o aço necessários para atender ao extraordinário desenvolvimento da indústria paulista através da CSN e da Cosipa.

Foi em terras politécnicas que se desenvolveu a moderna tecnologia de produção de álcool etílico a partir da cana-de-açúcar por meio de fermentação contínua em substituição ao processo de fermentação por bateladas, contribuindo assim, sensivelmente, para o aumento da produção de açúcar, hoje a melhor do mundo.

O convênio com a Marinha do Brasil, do qual resultou a formação de centenas de engenheiros navais, garantiu o sucesso da nossa indústria de estaleiros - hoje com alguma dificuldade, mas com uma perspectiva de recuperação.

O grande salto da indústria de informática: o primeiro computador brasileiro e latino-americano foi desenvolvido em terras politécnicas. Foi também nos laboratórios da Poli que nasceu o primeiro circuito integrado monolítico na América Latina. Quanto à tecnologia de extração de petróleo em grandes profundidades - tecnologia de ponta - o Brasil hoje é líder no mundo. Na Escola Politécnica foi instalado, com o patrocínio da Petrobras, o único tanque de provas digital existente na América Latina, utilizado para o projeto de extração de petróleo em águas profundas.

Os segredos da computação em paralelo, base da construção de supercomputadores, estão sendo desvendados nos laboratórios da Politécnica.

Neste mesmo instante em que os países europeus buscam a compatibilização de seus currículos de engenharia tendo em vista a globalização, a Escola Politécnica foi escolhida como projeto-piloto pela França e pela Espanha para a institucionalização do duplo diploma, pelo qual o engenheiro adquire conhecimento nos dois países simultaneamente. Esse é o início de um mundo tecnologicamente globalizado, já agora com significativo número de jovens de ambos os países, que estão experimentando o conhecimento de uma diferente cultura.

As preocupações da Escola Politécnica com o ensino de engenharia são permanentes. A contínua vigilância sobre os currículos que atendem à engenharia do século XXI nos tem estimulado a rever continuamente a estrutura do curso e das disciplinas. Essa preocupação com a formação do estudante se estende ao seu perfil. Se considerarmos que o nosso estudante será futuramente um personagem que lidará com pessoas, com trabalhadores, no chão de fábrica, indispensável se torna prever uma formação de cidadania, que trabalhe em equipe de liderança e de empreendedorismo.

O curso deve contemplar a extraordinária expansão que vem tendo a tecnologia tanto no que se refere ao seu leque de abertura para novas tecnologias como no acelerado processo em que elas ocorrem. O desafio que dessa maneira se estabelece é como ministrar um curso de Engenharia que leve em conta tecnologias que ainda não foram criadas. Estamos encarando esse desafio com o maior entusiasmo.

É assim, Sr. Presidente, prestando contas destes 110 anos a esta Casa, onde nascemos, que a Escola Politécnica vem dando a sua contribuição ao desenvolvimento e à independência da nossa sociedade, ao mesmo tempo em que encaramos o futuro com espírito de quem quer construí-lo e não apenas aceitar passivamente ou arregalar os olhos quando ele se apresentar.

Esparramando politécnicos por todo o país ou recebendo brasileiros de todo o país, manteremos erguido o mesmo estandarte dos ideais da ousadia bandeirante e do respeito ao ensino e à pesquisa que os políticos e os politécnicos paulistas souberam criar. O caminho a percorrer ainda é longo, mas de mãos dadas ele será mais fácil.

Saúdo o Sr. Presidente em nome da Escola Politécnica com o maior respeito e orgulho e aos nobres Srs. Deputados que enriquecem esta Casa, estendendo a todos um sincero muito obrigado por esta cerimônia. (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - A Presidência quer anunciar a presença do ex-Deputado Federal engenheiro Horácio Ortiz; do meu colega de turma engenheiro Ari Rodrigo Perez; do Sr. José Roberto, que representa aqui o Deputado Romeu Tuma e do Prof. Nélio Bizzo, vice-Diretor da Faculdade de Educação da USP.

Neste instante, tenho a satisfação de passar a palavra à Sra. Juliana Colacioppo, Diretora do nosso querido e centenário Grêmio Politécnico, que falará sobre a questão do estudante da Poli e da contribuição do Grêmio à sociedade.

 

A SRA. JULIANA COLACIOPPO - Nós, alunos dos diversos anos da Escola Politécnica de S. Paulo, considerando:

- que a existência de um Grêmio no seio da Escola Politécnica constitui um centro de reunião de todos os alunos;

- que este Grêmio vem fortalecer os laços de amizade e fraternização entre os estudantes dos diversos cursos;

- que a reunião de todos os alunos da Escola Politécnica debaixo da mesma bandeira, é o primeiro passo para a fundação da Federação dos Estudantes paulistas;

- que este Grêmio se torna um meio fácil de se conhecer a opinião da Escola todas as vezes que ela tiver necessidade de manifestar sua vontade interna e externamente;

- que apenas pela reunião de nossas forças poderemos obter uma resultante que possa agir e impor a opinião da classe;

- que o meio prático de se obter essa resultante é constituído pela formação de um Grêmio; resolvemos:

I.                     Fundar um Grêmio somente constituído de estudantes dos diversos cursos da Escola Politécnica de S. Paulo;

II.                 Obter a licença competente da diretoria para que este Grêmio tenha sede no Edifício da Escola, ao menos provisoriamente;

III.                Convocar uma assembléia para discutir e aprovar os Estatutos.

                       

S. Paulo, 1º de Setembro de 1.903

 

Nossa ata de fundação é, 100 anos depois de sua concepção, uma das melhores sínteses da razão de ser do movimento estudantil.  Da preocupação com o convívio entre os alunos, do anseio por representação dos estudantes frente à Escola, da esperança na expansão, no fortalecimento e na união dos estudantes em âmbitos estadual e nacional, surge o Grêmio Politécnico. Surge uma entidade política que tomará parte tanto em importantes momentos da História Brasileira quanto no cotidiano dos alunos.  Por um lado, participar das atividades do Grêmio torna-se uma prática de profundo crescimento pessoal, um ponto de inflexão na formação ideológica de quem passa pela entidade.  Num ambiente tomado pelo racionalismo calculista da engenharia, o Grêmio torna-se um refúgio àqueles que vêem na convivência pessoal, no intercâmbio de experiências, na discussão política e na atuação social partes tão fundamentais de seu aprendizado quanto cálculo, física e álgebra.  Por outro, a união entre o interesse político e o pensamento pragmático da engenharia geram um ativismo produtivo, assim como concepções criativas de atuação, por vezes revolucionárias seja na forma, seja na essência - fazendo com que por nossa entidade passem pessoas que se destacarão nos diversos ramos de nossa sociedade.

Têm a participação fundamental dos estudantes nos 110 anos de existência da Escola Politécnica, a qual teve atuação decisiva na história de São Paulo do Brasil,  através de seus engenheiros formados, seus professores e dos próprios estudantes, cujo papel é o questionamento e a ação para a mudança da Universidade e da sociedade.  Nosso passado intercala os movimentos em favor de um projeto de desenvolvimento nacional e de uma educação emancipadora porque a luta por uma Universidade pública, gratuita e democrática se confunde com a luta por um país também mais democrático, com menos desigualdades sociais e mais soberano.

Desde o começo os estudantes da Poli mantiveram-se presentes e ativos nas questões da Escola e da Universidade.  Envolveram-se em várias greves estudantis, motivadas por questões acadêmicas como as provas substitutivas, o jubilamento e a falta de professores.  Em 1961 o Grêmio atuou com força na Reforma Universitária, defendendo a renovação da Universidade, sua humanização e adequação às reais necessidades do povo brasileiro. Questionava a falta de integração universitária, o caráter estritamente profissionalizante do ensino, a desatualização dos métodos e o desvinculamento da Universidade do restante da sociedade.  O Grêmio foi uma das entidades fundadoras da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 37, e da União Estadual dos Estudantes (UEE), em 48.  Ajudou a refundar o DCE-Livre da USP em 76 e quando o estudante Alexandre Vanucchi Leme foi assassinado pelos órgãos repressivos da ditadura, mobilizou Gilberto Gil a fazer a denúncia pública do crime em um show histórico na Escola Politécnica. Os politécnicos sempre desempenharam um papel importante com o a base de sustentação política e de infra-estrutura aos outros estudantes.

Paralelamente o Grêmio participou ativamente da vida política e científica do país. Foi assim com a publicação da Revista Politécnica, a primeira revista técnico-científica do país, que em 1908, através da publicação de certos dados se envolveu na discussão do preço da energia elétrica na renovação do contrato da "Light & Power"; começava a ousadia politécnica.  Essa mesma ousadia que foi demonstrada no empreendimento da Campanha Paula Souza, um projeto de alfabetização de adultos; em 1944 a campanha se agitou com a construção de um edifício próprio - idéia que deu origem à famosa Casa do Politécnico, que serviu de moradia estudantil aos politécnicos e outros universitários por década.  O Grêmio participou ativamente da campanha o "Petróleo é Nosso", em defesa de um controle de estado com planejamento nacional das reservas petrolíferas; iniciou a campanha "O Brasil não exportará o seu futuro", contra a exportação de minérios atômicos como lastro de navios estrangeiros; montou uma comissão de estudos nucleares que teve enorme repercussão no Rio de Janeiro e em São Paulo. O movimento estudantil politécnico, enquanto movimento social, sempre manteve intrínsecas as características de criatividade e engenhosidade.

Hoje o contexto é outro, porém ainda dinâmico.  Os fatos atuais são uma evolução do tempo que passou, requerem multas mudanças, mas não podemos ser anacrônicos.  O Brasil, desde a sua colonização há 503 anos, vem se desenvolvendo como povo soberano e multicultural - mas ainda sofremos uma dependência externa.  Passa pela engenharia a melhoria da infra-estrutura básica, a solução dos problemas de habitação e comunicação, a gestão sustentável de nossas reservas ambientais e de nossos recursos hídricos, a exploração dos nossos, minérios, nossa biomassa e da biodiversidade, o desenvolvimento da biotecnologia, a retomada da indústria naval, e muitas outras coisas.  Devemos reconhecer e defender a nossa democracia, conquistada com muita batalha, mas lutar para reduzir as enormes desigualdades sociais, que fazem das diferenças econômicas diferenças de poder de decisão e participação; o objetivo deve ser democratizar o acesso a tudo aquilo que aprendemos a construir e o que ainda vai-nos desenvolver, aumentar a presença e participação das mulheres e minorias.  A Universidade evoluiu e se dinamizou, mas precisam ser discutidas questões como a presença das fundações de direito privado, o caráter das pesquisas, a escolha de nossos representantes discentes e docentes e a forma das avaliações dos nossos cursos.  Além disso, é constante a busca por uma educação que não falsifique em profissional o espírito criador, que não faça do cargo e da profissão a idéia dominante na vida dos estudantes, que não transforme o engenheiro em um mero reprodutor da técnica sem consciência social.

Uma nova reforma curricular se anuncia com o Projeto Poli 2015; é mais um nobre esforço para concretizar nossos ideais.  A habilidade de planejamento sempre foi uma das maiores qualidade dos politécnicos, o que nos qualifica para o sucesso. É preciso reconhecer, contudo, que o futuro passa, necessariamente pelos estudantes; eles vivenciam as transformações planejadas no passado e estão sendo preparados para enfrentar as próximas empreitadas.  O Grêmio Politécnico é a síntese desse potencial, a possibilidade de apresentar soluções e concretizá-las tanto quanto questionar e discutir.  A apatia e individualismo do atual estudante é um obstáculo complexo a ser superado.  Com criatividade e engenhosidade, este tem sido o papel do Grêmio há cem anos: conscientizar o politécnico para a sua tarefa histórica.  E continuaremos, com a mesma alegria, até que surjam tantos grêmios, tantos centros acadêmicos, até que participem do movimento tantos estudantes, que somaremos nossas forças criando uma resultante tão grande que vencerá de vez a inércia do todos, que revolucionará nossa realidade, até que nosso trabalho atinja o mundo mais justo e harmônico que hoje ainda permanece oculto.

Não estivemos só olhando na espera dos tempos melhores.  Estivemos fazendo.

Grêmio Politécnico 100 anos

Pimenta na Cabeça do Século

Obrigada.

 

Sr. Presidente, agora passarei a ler o seguinte documento:

“Compromisso com o público, escola pública - A importância de participar do Grêmio Politécnico:

Todos o anos os melhores alunos do país ingressam na Escola Politécnica. Provêm geralmente de escolas com um bom ensino, muitas vezes tradicionais e pertencem a uma parte da sociedade privilegiada. Logo nos primeiros anos aprendem muito sobre cálculos matemáticos, fenômenos físicos e químicos. É quando se inicia o processo de treinamento que termina quando já se sabe ler todos os manuais e fazer todos os cálculos necessários para um bom projeto ou ter domínio sobre os modelos gerenciais para almejar um cargo de gerência que provavelmente será alcançado em pouco tempo. Em multinacionais ou em microempresas constróem, gerenciam, prestam consultorias, vendem. Outros, de volta à Universidade ensinam, pesquisam. E, entre todas as atividades que os ex-alunos realizam dentro do país, poucas são realmente pensadas em um contexto nacional e social.

A escola nos ensina a técnica da engenharia, fundamental para o desenvolvimento do país, no entanto precisamos além do conhecimento científico também do social. Não podemos esquecer da tamanha desigualdade social do Brasil e da importância da aplicação da engenharia para o desenvolvimento do país. Estudamos em uma Universidade Pública que é sustentada por todos os cidadãos e por tanto temos a obrigação social de retribuir, o que não pode ser feito quando temos como meta apenas o sucesso pessoal.

A preocupação com a social deve estar embutida em todas as nossas ações inclusive junto com o aprendizado tecnológico desenvolvendo o senso crítico para até mesmo contestarmos o que nos é ensinado. É então que surge a importância do Grêmio Politécnico na formação dos estudantes. O Grêmio é um lugar de encontro, questionamento e plano de ações. Onde indagamos sobre tudo, inclusive sobre o próprio ensino. Temos a oportunidade de vermos nossas ações surtirem efeito, uma vez que a Universidade é um protótipo da sociedade e para conseguirmos alguma mudança aqui dentro são poucos os passos necessários.

Não concordamos com muitas coisas dentro do nosso país, sobretudo na política, mas quase nada é feito. Porque predomina o pensamento do imutável e da ineficiência da ação individual. Certamente precisamos nos organizar coletivamente para realizarmos ações expressivas dentro de um certo contexto

E será que alguma vez dentro da história da nossa vida temos a oportunidade de pensarmos coletivamente, de estarmos inseridos em um grupo capaz de discutir, traçar planos e executá-los efetivamente? São poucos os que se dispõe a esquecer um pouco do individualismo incrustado em cada um de nós e menos ainda os que percebem, entretanto aqui na Universidade temos essa grande oportunidade que não é a única porém muito presente, e ela se dá no movimento estudantil.

É uma grande oportunidade de nos reunirmos com outras pessoas que também querem mudar tudo o que não concordam e de experimentar o novo, de pensar coletivamente e assumir as responsabilidades do grupo, mesmo que sejam contrárias a individual. Sem os vícios da idade e com o desejo dos jovens os estudantes podem construir um novo movimento. E foi com toda essa vontade que um grupo de estudantes fundou o Grêmio Politécnico dia primeiro de setembro há 100 anos atrás.

O maior e o segundo mais antigo centro acadêmico da país com a diferença de apenas 21 dias do primeiro. São tantas as histórias, vidas e fatos que ocorreram nesses 100 anos que não conseguimos mensurar.”

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Quero, com muita satisfação, pedir que se pronuncie, neste instante, ele que tem sido, ao lado de uma equipe muito dinâmica, uma equipe que tem dado alma à nossa Associação dos Engenheiros Politécnicos, o nosso presidente, Kamal Mattar.

 

O SR. KAMAL MATTAR - Sr. Presidente da Mesa, nobre Deputado Arnaldo Jardim, que dentre outros títulos é também Conselheiro da Associação dos Engenheiros Politécnicos, autoridades civis e militares, autoridades universitárias, falarei da nossa Associação, que nasceu com o nome de Associação dos Antigos Alunos da Escola Politécnica, copiando o nome da associação congênere em Paris. Mais recentemente, decidimos adotar também o nome de Associação dos Engenheiros Politécnicos, para que, por exemplo, meu filho Luís, aqui presente, recém-formado também em produção, não tivesse que perguntar: “quando é que vou ser antigo aluno?”. Então, é a Associação dos Engenheiros Politécnicos.

A Associação foi fundada em 7 de janeiro de 1935. Tem, no seu cadastro, todos os formados pela Escola Politécnica. São membros natos da nossa Associação. E, temos assim mais de 22 mil nomes relacionados. Os primeiros nomes datam do século retrasado, de 1895. São os primeiros formados pela Escola Politécnica, que foi fundada em 1893. E, temos todos relacionados, até o ano de 2002.

A nossa Associação é uma das mais antigas do Brasil, senão a mais antiga. Mas, com certeza absoluta, é a mais antiga do Brasil em funcionamento contínuo, porque outras foram criadas, algumas foram fechadas, outras foram interrompidas. A nossa tem funcionamento contínuo desde a sua fundação, há 68 anos.

Temos várias atividades. Há um programa, que é o que mais sensibiliza não só a coletividade politécnica, como toda a coletividade, em geral: o nosso programa de bolsa de estudos. Fazemos uma pesquisa, uma entrevista anuaisl e verificamos quais os alunos que têm dificuldades financeiras. Para esses alunos, distribuímos um salário -mínimo mensal. Hoje, temos 106 bolsistas recebendo essa graça. Conseguimos manter essa bolsa de estudos não somente com a contribuição dos engenheiros politécnicos, como também com a colaboração de empresas de engenharia, dirigidas por politécnicos.

Quero lembrar o Del Nero, com sua firma, em Figueiredo Ferraz, que contribui com essa nossa bolsa. Espero, com isso, que eu consiga aumentar a sua cota. dele.

Sempre procedemos a reuniões e homenagens. Fazemos sempre um jantar, para o qual convidamos todos os membros da família politécnica e onde no qual são homenageados, em especial, aqueles que completam 50 anos de formados, 25 anos de formados e 10 anos de formados. Neste anos, faremos este esse jantar no dia 30 de outubro e um dos homenageados, com 25 anos de formado, é o Presidente da Mesa, nobre Deputado Arnaldo Jardim.

Temos, também, uma homenagem anual ao pProfessor do aAno. Pedimos à diretoria dea Eescola que nos envie uma lista tríplice de professores. Depois, nossa diretoria se reúne- se e escolhe. Neste ano, será homenageado o professor VWalter Borzanei, de químicaQuímica, formado em 1947. Essa homenagem está marcada na Escola Politécnica para o dia 10 de novembro. Outra reunião que fazemos é uma em que sempre convidamos os alunos recentemente formados, que se graduaram no ano anterior, para que eles saibam da existência da Escola Politécnica, assim que se formam.

Ultimamente, temos tido um grande apoio da diretoria da Escola Politécnica, que sempre nas aulas magnas, ou seja, na primeira aula que o “bicho” recebe, temos nos dá o direito de falarmos porde  alguns minutos para falar para que eles os alunos já saibam da existência da nossa associação e, para que não aconteça o que, lamentavelmente, aconteceu comigo. Só depois de muitos anos de formado é que fiquei sabendo da existência dessa associação bendita, que hoje eu presido hoje.

Também tTemos também a intenção de valorizar a qualidade de vida e, para isso, organizamos brincadeiras e competições de, por exemplo, futebol, xadrez, rugbi, realizadas no acampamento dos engenheiros que o Instituto de Engenharia, graciosamente e gentilmente, sempre nos oferece. Inclusive, com a participação entusiasta feminina. Não neste ano, em que houve um temporal terrível e, quase ninguém apareceu, mas no ano passado as moças foram e montaram um time de futebol. Faltavam elementos para completar os onze jogadores e me convidaram para jogar no time das moças. Joguei e marquei um gol de pênalti. Jogamos também golfe, organizado pelos colegas (Sokano ?). Promovemos também viagens e visitas técnicas para expansão e conhecimento pessoal e técnico dos nossos colegas.

No ano passado, organizamos um projeto inédito:, a (EP  o Polivap Mapcom?),. cCom o patrocínio de mais uma empresa dirigida por politécnicos,. C conseguimos realizar esse esse projeto mMapcom, que é pioneiro no seio universitário. Através de entrevistas e questionários, descobrimos o potencial de cada aluno, as suas qualidades interiores, dando a ele uma chance de melhorar a gestão da sua carreira. Também cria vantagens para a própria Escola Politécnica, no sentido de orientar e descobrir qual o melhor posicionamento dos seus cursos, visando a esse projeto que está em curso: o Poli 2015.

Estamos para construir um prédio na Poli, que será chamado de Edifício para Atividades de Extensão da Escola Politécnica. Os projetos já estão bem adiantados e vamos construí-lo. Esse projeto servirá para a integração dos politécnicos, através de um programa de palestras, de encontros, visando a trocas de experiências, treinamento pessoal, apoio do engenheiro politécnico à comunidade e outras. A Associação pretende construir esse prédio e depois doá-lo à Escola Politécnica; pretende construí-lo angariando fundos e verbas dentre os politécnicos, dentre as empresas. Pretendemos construí-lo sem desembolsar sequer um centavo. Quero fazer como fez anos atrás o professor Landi, quando ainda diretor do grêmio. Ele construiu a Casa do Politécnico, ainda junto à Poli velha, e conseguir toda a doação, inclusive de imóveis, para aquela casa. E é o que pretendo para a nossa sede também.

A Associação estabeleceu sua missão em potencializar o politécnico, oferecendo meios e recursos para ser agente de desenvolvimento da nação, oferecer meios e condições para que conquiste a excelência e a plenitude humana, exercendo uma ação de transformação da sociedade, promover o relacionamento e o companheirismo entre os politécnicos e contribuir para o seu desenvolvimento profissional, cultural e social para que a Poli seja um celeiro de talentos. Os nosso meio de divulgação é o jornal, que chamamos de Vox Poli, com tiragem de 20 mil exemplares, distribuídos para toda a coletividade Politécnica e o seu site.

A Associação foi declarada de utilidade pública pelo Decreto Estadual nº 8.585, de 18 de março de 1994, graças à preciosa colaboração do colega Deputado Arnaldo Jardim. A Associação tem a finalidade principal, entre outras, de manter acesa a chama do espírito politécnico. Muito obrigado. (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Muito obrigado ao Presidente Kamal Mattar.

Neste instante, convido o nosso Coral para que se apresente mais uma vez. O Coral da Escola Politécnica apresenta as músicas “Maria Solidária”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, arranjo de Ana Yara Campos, “Alguém Cantando”, de Caetano Veloso, arranjo de Marcos Leite, e “Berimbau”, de Vinícius de Morais e Baden Powell, arranjo de Arlindo Teixeira.

 

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-              É feita a apresentação do Coral.

 

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O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Queremos agradecer a belíssima apresentação do nosso Coral da Poli, reiterar a menção já feita à Lucymara Apostólico e saudar também a regência de Ana Marion. Muito obrigado a todos.

Neste instante, vamos ter a satisfação de ouvir o nosso Professor, Dr. Ivan Gilberto Sandoval Falleiros, nosso vice-Diretor da Escola Politécnica, que falará sobre “Poli Futuro”.

 

O SR. IVAN GILBERTO SANDOVAL FALLEIROS - Em primeiro lugar, quero saudar o Exmo. Deputado Arnaldo Jardim, que organizou esta Sessão Solene; professor Francisco Romeu Landi, companheiro de tarefa de pensar no futuro da escola; Juliana, que é o futuro da escola; Kamal Mattar que é quase eterno; os ilustres companheiros da tribuna de honra; líderes que estudaram na escola e que mostram um pouco do que a escola tem feito pelo país; amigos de sempre da Marinha do Brasil, cuja parceria com a escola já foi lembrada aqui pelo nobre Deputado Arnaldo Jardim; o professor Reitaro e, em nome dele, saudar o professor Renato Rocha Vieira; em nome dos ex-professores da escola, ainda saudar o Edson; e, em nome dele, os funcionários da escola - alguns deles estão fazendo hoje, numa sexta-feira, uma jornada extra; é apenas mais um exemplo de dedicação desses funcionários.

Devo falar aqui do futuro. Mas não se preocupem, só me sinto velho quando olho no espelho.

Quero agradecer, em nome da diretoria da escola e em nome da reitoria, que ora represento, a atenção da Assembléia Legislativa para com a escola na forma desta Sessão Solene. Esta homenagem mostra que o caminho percorrido nesses 110 anos de existência tem sido bem visto pelo povo paulista, representado pelos Srs. Deputados, mas também reforça a necessidade de compromisso com o futuro.

Ocupar-se com o futuro da escola é tarefa tão difícil quanto costuma ser qualquer previsão. Mas é preciso enfrentar as incertezas e fortalecer as esperanças.

O passado da Poli, resumido há pouco pela Juliana e pelo Kamal, é testemunha de que ela sempre esteve presente no futuro de São Paulo e do país. Desde 2002, a comunidade politécnica empenha-se em trabalho de prospecção, visando o horizonte de meados da próxima década. O trabalho baseou-se em técnica que busca a base comum de pensamento entre grande número de pessoas muito heterogêneas em formação, experiência, origem ou ocupação.

No caso da Poli foram reunidos docentes, funcionários e alunos de todos os níveis e representantes de órgãos externos à escola, mas que interagem com ela, por exemplo, outras entidades acadêmicas e de pesquisa, as indústrias de bens e serviços e setores do governo. Cerca de 120 pessoas, das quais 45 externas, aceitaram a tarefa de trabalhar três dias pela escola, incluindo parte de um fim de semana, depois de uma lição de casa envolvendo algumas horas de leitura e meditação preparatórias.

As reuniões de trabalho para a descoberta da base comum procuraram associar os dois lados do cérebro, o emocional e o lógico, de modo a explorar todo o potencial criativo. Juntando pessoas escolhidas para representar a heterogeneidade, o que se encontra de comum é realmente muito forte e profundo. É um meio possivelmente sem igual para abordar problemas complexos como este de lidar com o futuro, tratando de interesses muito díspares, em grandes comunidades.

A técnica, de fato, foi usada pelo governo do Estado do Ceará, o que talvez tenha sido o projeto mais ambicioso que usou a técnica. O grupo de pessoas reuniu, para os senhores terem uma idéia, desde o Governador, o então Tasso Jereissati, até representantes de categoria como a dos presidiários. Isso dá uma idéia do alcance, da ambição que a técnica pode ter.

O produto central do trabalho feito pela Conferência - esse é o nome, e a palavra aí vem de conferir - o trabalho feito pela Conferência da Poli produziu uma visão de futuro que está resumida neste quadro que será agora apresentado:

“A POLI 2015 será referência nacional e internacional em ensino, pesquisa e extensão universitária. Estará comprometida como desenvolvimento sustentável, nas dimensões social, econômica e ambiental. Terá administração flexível e integrada.

O engenheiro da POLI 2015 terá formação abrangente, tanto sistêmica quanto analítica, fundamentada em sólidos conhecimentos das ciências básicas para a engenharia, com a atitude de sempre aprender. Será competente no relacionamento humano e na comunicação. Terá postura ética e comprometimento cultural e social com o Brasil.”

Estas fases contêm o que há de crenças comuns em um grupo de pessoas influentes e que de algum modo se relacionam com a formação de engenheiros, com a escola e com universidade. Elas parecem corriqueiras, quase um conjunto de lugares comuns, porque são reflexos do inconsciente coletivo.

A enorme riqueza contida nas idéias arroladas para a construção do consenso foi preservada. Um pouco do que vocês vêem em tom mais leve no fundo do quadro é esta coleção de idéias. Esta preservação ajuda o processo de transformar idéias em projetos de execução para caminhar na direção desse futuro.

A visão da escola começa por colocá-la como referência nacional e internacional. Muitos poderão perguntar: “mas já não é?” Sim, especialmente no País. Lembro que ainda esta semana, na revista “Info”, os cursos de Engenharia de Computação da escola tiraram primeiro e segundo lugar; estavam empatados e o critério de desempate foi um quesito qualquer, e a nota era de 98%. Isso por uma revista neutra, feita por uma porção de questionários com opiniões de várias origens.

Internacionalmente, por outro lado, ainda há muito o que fazer. O professor Landi lembrou de uma realidade que queremos reforçar, que é o diploma duplo. Não vou repetir aqui o que ele já disse, mas aproveitando a ocasião e homenageando as mulheres quero lembrar um fato ocorrido: uma das nossas alunas, que foi para a École Politécnique, em Paris e destacou-se tanto. Além do desempenho estudantil, destacou-se também como líder; tanto que é representante de turma junto à direção da escola lá em Paris.

A escola e também o Brasil têm atraído estudantes franceses. No nível de pós-graduação o fluxo tem sido principalmente na direção do exterior. É preciso começar a tratar como equilibrar essa balança de exportação de cérebros.

O compromisso com a sustentabilidade é a obrigação, é traço indispensável para a cidadania, mas à necessidade associam-se grandes dificuldades. Por exemplo, no paradigma corrente, como Nação queremos ter o direito de crescer economicamente. Isto implica aumento importante do consumo de energia; grande responsável por degradação do ambiente, em escala mundial. É preciso crer que a tecnologia é capaz de lidar com esses problemas que tendem a se tornar mais agudos.

Do lado social precisamos multiplicar os caminhos pelos quais a engenharia pode ajudar a inserção em todas as dimensões. A escola tem hoje 500 funcionários e outros tantos docentes para atender mais de quatro mil alunos de graduação, mais de três mil de pós-graduação e pelo menos três mil outros em cursos de educação continuada.

Essa grande organização com relações internas e com a sociedade, as mais diversas, precisa estar atenta e ser ágil para resposta rápida a mudanças. Flexibilidade e integração nas suas diversas atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária estão na mente dos gestores em qualquer tempo.

Se a visão da escola parece pouco eu lembraria, como o personagem de Lewis Carroll, que é preciso correr muito até mesmo para ficar no mesmo lugar. E eu acrescentaria: imaginem para ganhar posições.

A segunda frase da visão de futuro refere-se à pessoa formada. É a descrição de um super-homem ou de uma supermulher. Lembro-me que no meu tempo eram cinco meninas na turma. Hoje elas já são sustentadamente 15%. A pergunta: é possível produzir tais pessoas? É preciso crer que sim. Novamente é preciso crer. Se nos contentarmos com pessoas médias, toda essa abrangência de competências dificilmente será encontrada em um indivíduo, mas ela pode existir com certeza competente e efetivamente em uma equipe.

O engenheiro ou a engenheira do futuro viverá num mundo mais complexo tanto nas questões de relacionamento humano como na realidade da natureza, a ser preservada, sob estresse crescente. O tratamento analítico de problemas terá de ser acompanhado de conceituação sistêmica. Para tanto é preciso que a formação básica dos poucos princípios que alicerçam o edifício das ciências exatas sejam acompanhado de exemplos de construções sistêmicas. Talvez as próprias ciências sejam bons exemplos quando vistas panoramicamente.

Competências sociais, comportamento ético e cidadão não podem ser ensinados, mas podem ser aprendidos. A escola e professores precisam viver os valores que estão por trás dessas qualidades e criar oportunidades para o exercício e o desenvolvimento delas. Dentro do ambiente escolas, talvez o mais difícil seja lembrar continuamente que se trata de preparar os alunos para o futuro deles e não para o passado do professor.

Com experiência de algumas décadas de vida politécnica, fica a minha certeza de que funcionárias e funcionários, professaras e professores, alunas e alunos, engenheiras e engenheiros politécnicos continuarão construindo o futuro com a dedicação que São Paulo e o Brasil esperam deles. E alguns irão além do estrito cumprimento do dever. Obrigado. Até o futuro. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Muito obrigado, professor doutor Ivan Gilberto Sandoval Falleiros. Sua esposa, politécnica, está resistindo ali bravamente. A filha não resistiu, dormiu, mas certamente embalada pelas palavras do pai.

Neste instante, meus amigos, devo fazer o encerramento. Queria agradecer a presença de todos vocês. Permitam-me simbolizá-los relembrando os nomes daqueles que integram aqui nossa Mesa Diretora. Em nome de Juliana, do nosso centenário e querido Grêmio Politécnico, do Professor Francisco Romeu Landi, referência para todos nós que amamos nossa escola, do nosso querido amigo Kamal Mattar, da nossa Associação, que tem o dever de manter a chama acesa, como ele mesmo disse, e do nosso Professor Ivan Gilberto Sandoval Falleiros, quero agradecer às senhoras e senhores que integram aqui nossa tribuna de honra, parceiros que são, co-responsáveis pela vida, situação e futuro da nossa Escola Politécnica, a cada um de vocês que teve a delicadeza de, neste dia, sexta-feira à noite, dia difícil, todos nós sabemos, sair de seus compromissos para vir aqui partilhar esses momentos conosco.

Tenho de cumprir neste instante uma tarefa fácil, porque vou anunciar que vamos passar a um outro momento da nossa sessão solene. Quero convidar a todos para sairmos pelos corredores em seguida e partilharmos de um momento de coquetel. Mais do que poder comer e beber, certamente poderemos aproveitar muito bem para atualizar as conversas, rememorar momentos e certamente estabelecer compromissos. Essa é uma tarefa fácil.

Depois, tenho de resistir a tentações. Tenho de resistir à tentação de não fazer daqui uma hora da saudade, relembrar momentos inesquecíveis - cada um de nós os terá aos borbotões. Mas queria citar a presença de alguns contemporâneos meus - Allen Abert, Fernando Gomes. E continuando nesse passear de olhos, me permitam, e me desculpem se houver alguma falha - o Fernando Stucchi, o Camargo, o Sérgio, o Socan, o Antônio Luiz Mourão Santana, o Piauí, que estava por aí, o Massa, Carlos Eduardo Massafera, o Alex Abico, o Horta, o Julinho, que está por aí, o Paulo Coutinho, que está mais lá ao fundo, o Jaymez Catena, enfim, citar amigos que partilharam comigo de momentos de desafios e sonhos na nossa Escola Politécnica. Aceitamos o desafio do Kamal de manter a chama acesa.

Quero dizer do orgulho que tivemos com a descrição, ainda que sucinta, que fez nosso professor Landi, por ver a Escola Politécnica profundamente vinculada a esse trabalho que é o trabalho do desenvolvimento do conhecimento científico, tecnológico, autônomo do nosso País, capaz de se relacionar com o mundo, mas ter nossa perspectiva, o jeitinho brasileiro e a nossa capacidade de inventividade e criatividade, da qual não abrimos mão.

Foi com orgulho que assistimos à descrição dos momentos de interação da Politécnica. Está aqui meu querido João Del Nero. Outro dia eu lia uma revista do Instituto de Engenharia e havia uma reportagem com o João Del Nero falando da evolução do conhecimento no desenvolvimento das obras de transporte, das obras subterrâneas feitas na cidade de São Paulo. Até liguei para ele, porque me encantei com algumas coisas reveladas.

Estou vendo ali meu querido José Roberto Bernasconi, que é um vanguardeiro nessa integração pan-americana dos engenheiros, nesse processo de busca do estabelecimento do conhecimento. Quando inauguramos aqui, sob a batuta e animação do Bernasconi, com a participação do Professor Landi, a integração da Fapesp, aquele processo para que tivéssemos aqui estudantes de escolas de engenharia de toda América Latina, que passaram a ter na Poli uma referência, estabelecendo-se a partir daí todo um vínculo de desdobramento comercial, de relacionamento positivo do Brasil com outras nações.

Tenho de resistir à tentação de poder nominar cada um dos que estão aqui, porque tenho com eles o privilégio de ter história, ter partilhado momentos e tenham certeza de que isso continuará. E dizer que, de uma forma muito entusiástica, estou acompanhando aquilo que vem sendo coordenado pelo nosso vice-diretor, o professor Ivan, com o entusiasmo do Vahan Agopyan que não está aqui conosco. Sabemos como ele lamentou não estar aqui, neste instante , está no México, participando de um encontro científico. O professor Gilberto tem tido a incumbência, ao lado do professor Landi, do Sidnei, de tantos outros aqui, de coordenar essa projeção da nossa Poli 2015 , um perfil de que escola e de que profissional nós teremos nesta era do conhecimento.

A Poli soube estar ao lado de São Paulo e do país em momentos decisivos, a retomada do desenvolvimento, o desafio da industrialização, depois todo o desafio da informática. Sabemos que nesta era do conhecimento não teremos mais diplomas definitivos, serão certamente como carteiras de motorista, vamos ter que renová-los de período em período. Neste momento em que há uma necessidade de atualização permanente do conhecimento, neste momento em que o estudante não mais sairá da escola, a escola terá, não só com o estudante mas com o conjunto de profissionais, o desafio de manter uma relação sistemática , interativa, presente. Sabemos que a escola está se preparando para isso.

Mas, para ser feito tudo isso, cara Juliana, é preciso manter a chama acessa e ter a pitada de pimenta de rebeldia, de insubordinação, que contaminou sempre a cada um de nós, nas lutas do grêmio politécnico, dos desafios da nossa Politécnica, e eu sinto que isso está muito presente. Por isso que, resistindo a toda essa tentação, eu tenho que cumprir aquilo que determinou a mim hoje o professor Landi, que é falar na condição de Deputado, parlamentar que sou.

Dizer do meu orgulho de saber que aqui um Deputado, Paula Souza, apresentou um projeto para criar a Escola Politécnica, e não foi pacificamente aceito. Provocou aqui na Assembléia Legislativa acaloradas discussões. Alguns entendiam que o estado não deveria se meter a constituir um órgão de formação universitária, uma escola de engenharia . Isso deveria caber a outras iniciativas. Outros diziam que fazer uma escola de engenharia seria uma absoluta pretensão, porque o estado deveria se focar e se concentrar no ensino básico e no ensino técnico exclusivamente.

Mas, a Assembléia Legislativa de São Paulo teve sabedoria. Era Governador da Província de São Paulo Bernardino de Campos, que promulgou a lei e, logo depois, Paula Souza deixou o seu mandato de Deputado, deixou o cargo de Ministro que tinha para se dedicar, durante 20 anos, a ser diretor da Escola Politécnica.

É parte da nossa história. É orgulho da nossa escola. Foi Assembléia Legislativa quem determinou a sua constituição, reservou verbas. Na seqüência, depois, a Faculdade de Saúde Pública; no instante seguinte, a Luiz de Queiroz, numa seqüência, até que Assembléia Legislativa de São Paulo também decidiu criar a Universidade de São Paulo. E houve contestação a isso. E, quando se criou a Universidade de São Paulo, reafirmou-se ali o espírito bandeirante do povo paulista de desbravar Tordesilhas, mas de ter a ousadia de pretender o conhecimento científico e tecnológico não como algo que viesse de fora, mas como algo que pudesse ser feito por nós mesmos.

E assim fez a Assembléia Legislativa de São Paulo. Constituiu a USP. Depois de um período, constituiu a Unicamp, e depois a Unesp. Somos o único estado, por determinação do Poder Legislativo, a termos três universidades públicas no nosso país. Depois, foi a Politécnica.

Permitam-me dizer que, quando discutíamos o anteprojeto da Constituição Paulista, em 1989, eu tive a honra de ser o relator do anteprojeto, e, de uma forma definitiva, demos consistência a um por cento que se destinou a Fapesp, garantindo o repasse mensal, através de duodécimos, para que não tivéssemos nenhum tipo de interrupção. Que pudesse a Fapesp - onde há tantos politécnicos a dirigi-la, onde a Escola Politécnica tem uma vinculação tão próxima - ser essa entidade vanguardeira também no desenvolvimento da ciência e da tecnologia do nosso país. A Assembléia Legislativa de São Paulo soube identificar esse momento, soube estar ao lado dessa fronteira e cumprir esse desafio.

Os senhores professores, funcionários, estudantes que aqui estão sabem que, num período mais recente, nós também determinamos todo um procedimento de respeito à autonomia das nossas universidades, não no sentido liberal do termo, de acreditarmos simplesmente que se deva permanecer como um ente à parte, mas, uma universidade que, bem sabemos, tem um vínculo com o desenvolvimento social, tem um compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico, de uma forma a engajá-la como instrumento de desenvolvimento e de combate à desigualdade social. Mas soubemos respeitar a autonomia das pesquisas, a autogestão das universidades, e foi determinado também por esta Assembléia Legislativa que assim se procedesse.

Por isso tudo que nos orgulhamos dessa parceria: Poder Legislativo-Escola Politécnica; Escola Politécnica-desenvolvimento de São Paulo; desenvolvimento de São Paulo-Assembléia Legislativa, que confia na fronteira da educação como o instrumento mais adequado para, nesta era do conhecimento, estarmos em cima , estarmos diminuindo diferenças , estarmos podendo nos qualificar para dizer que, mais do que uma grande nação, nós queremos ter uma nação digna de nela se viver.

É com esse espírito, com essa chama politécnica, meu caro Kamal Mattar, que agradeço a presença de todos vocês, e dizer que a Assembléia Legislativa que, como disse o professor Landi, deu a certidão de nascimento à Escola Politécnica se orgulha de verificar a sua maioridade, tem orgulho do que fez e tem certeza do muito que fará. De parabéns a nossa gloriosa Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Está encerrada a sessão. Muito obrigado. (Palmas.)

 

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 Encerra-se a sessão às 22 horas e 09 minutos.

 

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