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DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA                         037ªSS

DATA:991129

 

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – A Presidência passa a nomear as autoridades presentes, saudando o Exmo. Sr. Musa Amer Odeh, Embaixador da Palestina; Exmo. Sr. Deputado Federal Aldo Rebelo, representando a Câmara dos Deputados; Revmo. Sr. Damaschinos Mansur, Prelado da Igreja Ortodoxa Antioquia do Brasil; Sr. Hani Bassiuni, Cônsul Comercial do Egito; Sr. Ali Al Katib, Consultor representante da Netneare Institut Agency; Sr. Hassan El Emelhe, Presidente das Entidades Árabe-palestino-brasileiras; Sr. Mohamed Salem Jabbar, líder e representante da Juventude Palestina; Sr. Lourenço Chofhi, ex-Presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira; Sr. Ramon Semin, vice-Presidente Administrativo, representando neste ato o Sr. Paulo César Atala, Presidente da Câmara Municipal de Comércio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira; Sr. Walter Natalino Sorrentino, Presidente Estadual do Partido Comunista do Brasil; Sr. Daniel Vaz, Presidente da União dos Estudantes do Estado de São Paulo; Sr. Vereador, 2º vice-Presidente da Câmara Municipal de Taubaté, Jair Gomes de Toledo, representando neste ato, o presidente da Câmara Municipal, o Vereador Wilson Vieira de Souza; Sr Daniel Vaz, Presidente da União Estadual dos Estudantes; Sr. Inam Azis Gholmieh,    Presidente do  Clube  Marjayoun do Brasil; Sr. Vereador Itamar de Jesus, da Câmara Municipal de Taubaté; Sr. Kalil Mohamed, do Grupo Islâmico; Sr. Mohamed Hermas, da  Câmara do Comércio Exterior Árabe-Brasileira; Sra. Terezinha Zerbini, representando o Diretório Nacional do Partido Democrático Trabalhista, PDT;  Sr. Lúcio Ricardo Maluf,  Presidente da Fundação Alberto Pasqualini, do Partido Democrático Trabalhista do Estado de São Paulo; Sr. George Isa Hanna Khuriyeh,  pai deste Deputado, nobre Deputado Jamil Murad, Líder do Partido Comunista do Brasil, nesta Casa;  Sr. Deputado Pedro Tobias, do Partido Democrático Trabalhista; Sr. Deputado Arnaldo Jardim, do PPS;   Sr. Deputado Carlos Zarattini;  Sr. Deputado Márcio Araújo; Sr. Gallo  Smaili, representando o Sr. Vereador Mohamad Said  Mourad, da Câmara Municipal de São Paulo;  Sr. Deputado  Nivaldo Santana, Srs. Deputados, senhoras  e senhores, esta sessão solene foi convocada por este Presidente, atendendo solicitação dos nobres Deputados Jamil Murad, Pedro Tobias e Salvador Khuriyeh, com a finalidade de comemorar o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

Convido a todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional da Palestina e o Hino Nacional Brasileiro, executados pela Banda da Polícia Militar.

 

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-          São executados os Hinos Nacionais da Palestina e do Brasil.

 

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O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – PDT -  Gostaria neste instante, de conceder a apalavra ao nobre Deputado Jamil Murad.

 

O SR. JAMIL MURAD – PC DO B – SEM REVISÃO DO ORADOR – Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Embaixador Palestino, autoridades religiosas, civis, amigos da grande causa do povo palestino, hoje, é um dia de grande emoção, porque é o Dia de Solidariedade do povo do Estado de São Paulo ao povo palestino, que vem sendo celebrado desde 1984, a partir de uma lei aprovada aqui, por proposta do Deputado Benedito Cintra.

Este ato é uma manifestação do nosso povo de São Paulo, através da Assembléia Legislativa, em favor do Estado Palestino Independente.

O dia 29 de novembro tornou-se um dia de reflexão e ação pelo povo palestino, pelos seus direitos alienáveis, começando  pelo direito à sua Pátria livre e independente.

De 1948 para cá, vimos o povo palestino vencer um número incontável de batalhas, mas ainda lutando para chegar ao seu objetivo maior, mas com a certeza de que o perigo da existência ou extinção como povo, como pátria, já passou. O povo palestino foi expulso de suas terras, sofreu com a destruição de suas casas, sofreu com  perseguições horríveis como se fosse criminoso, quando o criminoso era o que o perseguia; sofreu com massacres que horrorizaram a humanidade, sofreu com a proibição não só de sua bandeira, mas de suas próprias cores em qualquer objeto que lembrasse a bandeira Palestina, sofreu com o bloqueio de suas atividades econômicas, com o desemprego, com o empobrecimento de seu povo, sofreu com prisões, por tempo indeterminado, de qualquer pessoa, sem direito à defesa e sem nenhuma acusação formal. Mas, o povo palestino, de maneira heróica, organizou a resistência, em todos os terrenos: no terreno político, organizou a OLP, que conquistou assento na ONU, e manteve unido e em  combate o povo palestino por todas essas décadas. No terreno militar , também reorganizou as instituições e garantiu educação e saúde para o seu povo.

Organizou a Intifada,  a revolução das crianças  que  com pedras enfrentaram heroicamente as metralhadoras e os gases venenosos.

Com o heroísmo da Intifada o mundo se convenceu  de que o povo palestino já era um vencedor. Era questão de tempo.

O povo palestino guiado pela OLP soube vencer todos os obstáculos. Ainda não chegou ao seu esperado Estado Palestino Independente, mas reocupou e administra uma parte de seu território. A Bandeira Palestina tremula em território palestino.

O governo e o povo palestinos lutam heroicamente para vencer, embora enfrentem uma conjuntura internacional adversa, onde a independência e a soberania dos povos sofrem atentados criminosos da maior nação militar do mundo, que são os Estados Unidos. E não é demais lembrar que este sempre foi  o guardião de Israel.

O povo palestino com seu heroísmo e com o apoio de quase todos os povos do mundo venceu obstáculos que pareciam intransponíveis e necessita da continuidade desse apoio do povo de São Paulo e do povo brasileiro para conquistar em definitivo o Estado Palestino Independente. Este é o nosso desejo e o nosso compromisso.

Sr. Presidente, em nome da bancada do PC do B, representada pelo nobre Deputado Nivaldo Santana, presente neste plenário,  e por este deputado  queremos gritar com todos os senhores: Viva o heróico Povo Palestino! Viva o Estado Palestino Independente com a capital em Jerusalém! Viva a Paz com Justiça!

Muito obrigado.

(Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – DT – Tem a palavra o nobre Deputado Pedro Tobias, do PDT.

 

O SR. PEDRO TOBIAS – PDT – SEM REVISÃO DO ORADOR – Sr. Presidente, nobre Deputado Salvador Khuriyeh, nobres Deputados, autoridades presentes, nasci e fui criado perto de um campo de refugiados, próximo de Tripoli.

Vi atrocidades de época de guerra, bombardeios, dentro do campo.

Nobre companheiro Jamil Murad, não há de ser  a ONU  ou ajuda internacional que vai conseguir a independência do povo palestino - para mim, meia independência – mas, sim, a  revolta do povo palestino. As nações foram forçadas a seguir a revolta do povo palestino. Isto hoje está mostrando no Sul do Líbano, a minha terra.

Israel quer sair, custe o que custar. Por este motivo, a pressão. A independência não  se dá  por decreto. É por revolução, é por revolta popular. Afora disto estamos muito longe de o povo palestino vir a  ser um país independente.  Estamos muito longe e precisa muita luta ainda para conseguirmos isto. Porque hoje, ainda, na parte meio independente o povo palestino é um povo de segunda categoria no meio  judeu. Não podemos esconder isto.

Quem acha que já acabou  a luta,  ainda  há a  luta armada, porque só no “papo” não funciona nada. De outro lado, Deputado Salvador,  conheci  muitos palestinos  e tenho muito satisfação e orgulho de conhecer você, filho de palestino; você honrou toda a sua raça,  você representa o nosso  povo aqui,  um deputado lutador, e vamos continuar essa luta. Somos doze deputados aqui na Assembléia Legislativa descendentes de árabes, mas a nossa força é muito pequena. A nossa  colônia  é a maior  que existe aqui em São Paulo e qual é o peso político sobre o Governo brasileiro? Nenhum! Há  outras colônias que não chegam a dez por cento da nossa e percebemos que têm muito mais força do que a nossa. Felizmente o nosso povo se adapta à sociedade, se sente brasileiro. Mas não podemos nos esquecer de nossa  origem, porque nosso povo hoje é colonizado, sim. Colonizado economicamente. A colonização militar  é tão ruim quanto à colonização econômica, porque os países do primeiro mundo “dominam”  o resto dos países de terceiro mundo com dinheiro e isso é pior do que domínio militar, porque o domínio militar é fácil combater. Hoje, dinheiro que entra cedo e sai à tarde é a maior colonização do mundo atual. Por isso, o povo de terceiro mundo, não só o povo palestino, o libanês  ou o brasileiro, mas o povo integrante das nações de terceiro mundo, que é a maioria, precisam de muita batalha. E para finalizar, viva a Palestina, viva o povo brasileiro palestino e não podemos esquecer a luta, porque sem luta retrocederemos,  e   a luta lá no território é a mais importante, é a que serve, pois é essa que força o recuo do inimigo. Não foi a ONU nem os Estados Unidos que forçaram o recuo de Israel  e sim a luta de jovem, de adolescente que combatia o considerado maior exercito do mundo, apenas com pedras. E conseguimos tanto na Palestina, quanto no sul do Líbano . Eles querem sair por esse motivo, porque estão perdendo gente todos os dias. Esse é o melhor remédio para uma revolução. Revolução sem morte, sem sangue, sem arma, não é revolução. O resto, é “papo furado”. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE –SALVADOR KHURIYEH – PDT – Gastaríamos de anunciar a presença do Sr. Clauldionor Damaceno, representando a Vereadora Lídia Corrêa, da Câmara Municipal de São Paulo; a presença também do Sr. Eduardo Felício Elias, Presidente da Federação das Entidades Árabes Brasileiras, bem como  a presença do Exmo.  Sr. Deputado Federal José Roberto Batochio, Presidente do PDT, Partido Democrático Trabalhista do Estado de São Paulo. Gostaríamos ainda de saudar a presença do representante da sociedade islâmica Arma Arafh Arefh e do representante da Mesquita do Brás, Hassam Garig. Gostaríamos neste instante de convidar para fazer uso da palavra o nobre Deputado Márcio Araújo, da Bancada do Partido Liberal.

 

O SR. MÁRCIO ARAÚJO – PL  - Sr. Presidente, Srs. Deputados, autoridades já nomeadas, embaixador, meus senhores e minhas senhoras e queridos representantes do povo palestino, mais uma vez venho a esta tribuna, em nome da Bancada do PL nessa Assembléia Legislativa, para dizer de público do meu apreço pela causa palestina e pela coragem desse povo em manter vivo o ideal de independência. Hoje, data em que se comemora o Dia Internacional da Solidariedade do povo palestino, quero parabenizar os nobres Deputados  Salvador Khuriyeh, Jamil Murad e Pedro Tobias pela feliz idéia de ter solicitado esta comemoração.

Toda independência, emancipação ou libertação percorrem necessariamente  processos traumáticos. Assim aconteceu em inúmeros países que hoje desfrutam de uma  relativa independência. Digo relativa, porque num mundo globalizado, todos são de uma forma ou de outra interdependentes.             Nesses períodos conjunturais surgem sempre os líderes próprios, forjados e preparados para cada situação.

São verdadeiros estadistas que, encarnando a alma do povo leva-o à realização  dos seus mais lídimos propósitos e ideais. Temos no mundo atual aproximadamente sete milhões de palestinos espalhados pelo nosso Planeta.

O povo palestino, cuja origem vem do povo fenício, teve a relevante atuação na navegação antiga. Há até relatos de que no Brasil, antes do descobrimento tivemos a presença desses audazes navegadores, que deixaram marcas de sua estada no Litoral e até mesmo no Rio de Janeiro.

No Brasil, e especialmente em São Paulo, convivemos na mais ampla harmonia com esse povo ordeiro e trabalhador, que não se deixa abalar pelas contingências, e que através de sua perseverança constrói conosco a grandeza de são Paulo.  Haja vista a representação de Deputados de origem palestina existente  nesta Casa de Leis e na cidade onde moro, São José do Rio Preto, fundada pela  colônia árabe. Temos a certeza de que no futuro próximo, esse povo, como nação, terá fixado as bases de sua independência, vindo desse a tornar o nosso Planeta bem mais saudável e estruturado no concerto das nações, inclusive através de ações  políticas. Temos visitado freqüentemente o Oriente Médio e visto  como o povo palestino é operoso e hospitaleiro.

Sinto-me à vontade e alegre quando viajando penetro em terras da autoridade palestina.

Quero parabenizar todos os Deputados de origem palestina, pelo modo simpático como tem exposto a nós outros, a Casa Palestina  pela independência.

Para terminar, desejo citar uma passagem bíblica, que mostra a fé, a garra, coragem e determinação do povo palestino, através de uma representante mulher, Cyro Fenícia.

Uma mulher palestina pede a Jesus para libertar sua filha de um mal  espiritual. Ela clama para que o Senhor Jesus a atenda, mesmo que seja através da sobra da sua autoridade espiritual.

O Senhor Jesus diz para esta mulher fenícia: “Ó mulher, grande é a tua fé; faça-se  contigo conforme queres.” E desde aquele momento a sua filha ficou sã.

Oxalá o Senhor do Universo abençoe todos os esforços desse bravo povo, em prol da sua independência. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – Gostaria de agradecer as palavras do nobre Deputado Márcio Araújo e convidar S.Exa. a subir até a Presidência para receber de presente, das mãos do nosso Embaixador, uma “hatta”, conforme seu desejo.

O Nobre Deputado Márcio Araújo, carinhosamente, esteve conosco na sessão solene do ano passado e em conversa teve a oportunidade de relatar sua visita ao território palestino e disse que gostaria muito de ter uma “hatta” para guardá-la com carinho e de certa forma expressar o carinho que tem pelo povo palestino. Então convidamos o nobre Deputado Márcio Araújo para recebê-la de presente das mãos do Embaixador.

 

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-É feita a entrega da “hatta”.

 

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Gostaria, neste ato, de passar a palavra ao nobre Deputado Federal Aldo Rebelo.

 

O SR. ALDO REBELO – Exmo. Sr. Presidente dos trabalhos nobre Deputado Salvador Khuriyeh, co-autor do requerimento de convocação desta sessão juntamente com os Deputados Jamil Murad e Pedro Tobias em comemoração ao Dia de Solidariedade ao Povo Palestino; estimado amigo e companheiro Embaixador da Palestina no Brasil; Srs. Deputados; minhas amigas e meus amigos, creio que a comemoração deste Dia de Solidariedade enseja uma tríplice comemoração para o povo árabe-palestino, para o povo brasileiro e para a humanidade. Este dia simboliza o glorioso e heróico passado da civilização árabe no nosso Planeta como berço mais antigo da civilização, porque na verdade é a civilização egípcia a mãe da civilização greco-romana e a que deixou a herança mais sólida, profunda e duradoura para a humanidade; é a contribuição da civilização árabe no seu período mais rico a toda a cultura humana e que nós aqui no Brasil registramos muito mais próxima pela  presença muçulmana e árabe na península ibérica ao longo de tantos séculos; passado que registra a luta e a resistência contra as diversas tentativas de ocupação da região e do mundo árabe desde a luta heróica contra a ocupação dos europeus, que a pretexto da guerra religiosa, na verdade faziam uma guerra econômica, uma guerra social e de civilizações, que foi o que representou, do meu ponto de vista, a ofensiva das cruzadas contra os territórios árabes.

A civilização árabe e o povo palestino, portanto, como parte desta civilização representam hoje um território sagrado de resistência contra a sufocante globalização neoliberal. Essa globalização não é apenas a imposição de marcas comerciais, não é apenas a tentativa de uniformização econômica, de predomínio dos países mais fortes e mais ricos sobre as nações economicamente mais frágeis. Essa é apenas a superfície mais aparente. Na verdade a guerra econômica e comercial é acompanhada também de uma guerra de uniformização de valores e idéias, da imposição de uma civilização sobre a outra. Setenta por cento de toda informação gerada no  planeta, de toda informação consumida em todo mundo, de toda imagem consumida em todo mundo, é gerada apenas em um único país. Qual tipo de imagem e de sonhos esse país vende pelo planeta? Não vende apenas cultura, imagem, filmes, vídeos, música, mas vende também ideologia, por um lado de transformar o seu próprio país numa espécie de braço da civilização, da modernidade, da democracia, do bem comum e dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que sataniza e tenta destruir valores, resistências e crenças de outras civilizações e de outros povos. Quando miramos o planeta, vemos que entre aqueles que resistem há uma resistência muitas vezes anônima e surda, mas há uma resistência do povo árabe e do povo palestino. Resistência não apenas cultural e religiosa, mas em defesa dos seus valores políticos, como tem feito o povo  palestino em defesa da sua pátria e da sua terra.

Creio também que além de relembrarmos esse passado que honra e orgulha a trajetória da humanidade e de reverenciarmos esse presente tão carregado de tragédias e horrores, mas também carregados de exemplos edificantes aqui já registrados, como o das crianças e dos adolescentes palestinos, de pedras em punho, enfrentando os gases, as bombas e as metralhadoras de um dos corpos policiais mais bem armados do planeta, creio também que o ensejo desse ato luz faz também a celebração do futuro, o qual tenho confiança de que será grandioso. Quando a humanidade daqui a aproximadamente 300 anos se reunir para celebrar esse futuro, que será certamente muito melhor do que o presente, tenho a mais absoluta certeza de que na mesa e na festa de comemoração haverá a presença de um mundo árabe próspero, de um mundo árabe que com o seu exemplo e a sua luta haverá de oferecer essa contribuição ao futuro da humanidade e quem sabe mais à frente integrado economicamente como um mercado único, partilhando com o resto do planeta as trocas comerciais e culturais, assim como a contribuição que cada civilização tem a fazer uma com a outra. Creio que nós, latino-americanos, herdeiros como membros desta civilização ibérica, também como parte e como bebemos desta cultura árabe, nós latino-americanos e brasileiros estaremos presentes para festejar esse futuro. Portanto, creio que a cada celebração do dia de solidariedade ao povo palestino temos mais do que o direito, mas o dever de afirmar essa memória honrosa e esse momento de resistência, mas também de confiança nesse futuro radioso que o povo árabe palestino tem contribuído em fazer para o mundo.

Parabéns a todos!

Muito obrigado. (Palmas.)

                       

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – PDT – Agradecemos as palavras do nobre Deputado Federal Aldo Rebelo e gostaria de passar, neste instante, a palavra ao nobre Deputado Arnaldo Jardim.

 

O SR. ARNALDO JARDIM – PPS – SEM REVISÃO DO ORADOR - Bom dia a todos, meus cumprimentos ao meu querido amigo Salvador Khuriyeh e aos nobres Srs. Deputados Jamil Murad e Pedro Tobias, patrícios nossos que tiveram a feliz idéia de tomar a iniciativa para que aqui pudéssemos comemorar o “Dia da Solidariedade ao Povo Palestino”.

Cumprimento o querido amigo Deputado federal Aldo Rebelo; Exmo. Sr. Musa Amer Odeh, Embaixador da Palestina; Reverendíssimo Sr. Damaschino Mansur da Igreja Ortodoxa da Antióquia do Brasil; Sr. Hany Ezzat Bassiuny, Cônsul Comercial do Egito; Sr. Mohamed Salem Abdal Jappar, representante da comunidade palestina; meus amigos e minhas amigas, senhoras e senhores e caro Deputado Nivaldo Santana que participa conosco neste ato.

Estou muito contente nesta manhã. Achei realmente uma ato de ousadia, quando o Deputado Salvador Khuriyeh juntamente com os Deputados Pedro Tobias e Jamil Murad de fazerem o ato num horário como esse. Sei que é um período que compromete muito a vida de cada um de nós e as circunstâncias de cada um dos senhores que estão aqui. Acho que, portanto, a presença se mede muito mais pela qualidade do que pela quantidade porque cada um de nós aqui representa um esforço muito significativo por estar aqui num período como esse.

Sou uma pessoa muito otimista, um otimismo que certamente presidiu os meus avós quando saíram de Homs, na Síria, e vieram aqui para o Brasil em busca de oportunidades de trabalho, e vieram aqui como vieram milhares de nossos irmãos árabes de todos os países fincar o lastro daquilo que é hoje uma comunidade que, com todo o respeito as demais comunidades que aqui estão no Brasil, realmente pedimos licença para destacar a comunidade árabe como a comunidade mais numerosa e mais integrada ao Brasil nos seus diferentes momentos, nos seus desafios, nas suas oportunidades, e principalmente na nação  que aqui se constituiu. Sabemos que do ponto de vista cultural a presença da imigração árabe é extremamente significativa na cultura que se formou do povo brasileiro em todos os seus aspectos. Tão significativa, que é verdade, como foi destacado pelos Deputados Pedro Tobias e Jamil Murad que, algumas vezes, corremos até o risco de nos  diluirmos, de ficarmos um pouco descaracterizados diante da presença do conjunto da sociedade. Outros povos acabam tendo um comportamento um pouco diferente, mas isso tem alguma virtude? Pode se dizer que isso talvez preserve um pouco a sua cultura mas certamente isso também tem aquele que é um predicado nosso que é a capacidade de chegar e  de realmente de nos fazer partícipes e integrantes do povo brasileiro como é a comunidade árabe. Portanto, quero dizer que devemos sim como foi bem destacado aqui, concordo muito e até saúdo o retrospecto que o Deputado Aldo Rebelo fez aqui, o nosso processo de luta, de afirmação da identidade do povo árabe, especialmente do povo palestino.

Acredito que estamos num momento em que temos muito o que comemorar.

Sem dúvida, isso não é só um discurso para poder de alguma forma adoçar o nosso pensamento, isso é baseado em fatos concretos que ocorreram agora, particularmente, nos últimos dois anos. A derrota em Israel, de Nytanearro, fazendo com que isso significasse uma mudança política que estamos cobrando para que eles aprofundem ainda, foi um passo importante.

O fato de o mundo árabe caminhar e se consolidar cada vez mais - bem sabemos que muitas vezes divisões enfraquecem a nossa possibilidade de pressão e de força – o fato de conseguirmos avançar significativamente no reconhecimento do Estado Palestino e os desafios da sua conformação agora, que devem ser acompanhados por todos nós para uma participação ativa, são três fatores de muita importância que devemos saudar e considerar que eles não se encontram isoladamente. Eles ocorrem exatamente num momento em que depois de praticamente uma década de silêncio, em que os países globais com a ideologia neoliberal e com a sua prática econômica de globalização quase transformaram o mundo num pensamento único, pasteurizado e de verdades absolutas - hoje, isso tudo está sendo questionado – ou pelas divergências dos próprios países centrais, o fato da conformação da comunidade européia como um peso específico que impede os Estados Unidos de terem uma posição hegemônico, o fato de aqui na América Latina podermos avançar na conformação de um bloco regional, o fato de a China surgir internacionalmente como um peso relativo devendo ser reconhecida e fazendo com que o mundo não possa ter a verdade absoluta, tudo isso conforma um momento muito mais favorável para o desenvolvimento da nossa luta e da afirmação da unidade árabe e da afirmação do Estado Palestino.

Acho que devemos saudar este momento que estamos vivenciando.

O fato dos países árabes hoje, de uma forma geral, estarem vivendo um momento de prosperidade econômica, o fato de que podemos entrar num novo milênio com os olhos postos no sentido de buscar alterar a ordem econômica que aí está, acho que deve ser motivo de júbilo para todos nós. De nossa parte, cabem algumas tarefas imediatas: 1º) solidariedade ao povo palestino na constituição e consolidação do Estado Palestino; 2º) intensificar, do ponto de vista econômico e cultural, os laços do Brasil com a comunidade árabe de uma forma geral; 3º) buscar pressionar - nós, parlamentares, a comunidade de uma forma geral - para que ações solidárias do ponto de vista diplomático possam ocorrer. Temos agora a chamada Rodada do Milênio, a reunião de Seattle. Na semana passada, através de uma discussão com o bloco parlamentar argentino, começamos a caminhar para uma integração de ação a respeito disso, mas certamente seria muito oportuno que essa ação pudesse reunir o Brasil, a América Latina e também os povos árabes na busca de uma pressão conjunta.

Parece-me que estes são alguns dos objetivos imediatos a que devemos nos propor e que devem dirigir o nosso pensamento e a nossa ação no contexto que efetivamente considero de vitória e de perspectivas positivas. O mundo não aceita mais a verdade única da globalização e passou a questioná-la. A oportunidade de afirmações  culturais e independentes abrem-se de uma forma inédita. Portanto, temos a oportunidade de consolidar e avançar na nossa integração cultural e econômica para que possamos, efetivamente, fazer com que também o outro lado do mundo, o Sul e o Centro, possam ser ouvidos na hegemonia americana estabelecida que tem vigorado até esse instante.

É isso que devemos comemorar e saudar como nossa presença aqui no Brasil. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – Tem a palavra o nobre Deputado Federal José Roberto Batochio, Presidente do PDT, no Estado de São Paulo.

 

O SR. JOSÉ ROBERTO BATOCHIO – Exmo. Sr. Deputado Salvador Khuriyeh, que preside esta cerimônia que comemora o Dia Internacional da Solidariedade ao Povo Palestino; eminentes Deputados Jamil Murad e Pedro Tobias que, juntamente com o Presidente da Mesa, inspiraram a realização desta significativa cerimônia que presta uma justa homenagem ao povo palestino; Sr. Embaixador Musa Amer Odeh, que entre nós representa a comunidade palestina e esta nação que, em breve, se constituirá em estado soberano e independente por força do reconhecimento do Direito Internacional e por vontade dos povos; senhores que compõem a Mesa; autoridades presentes; Srs. Deputados; minhas senhoras e meus senhores, é auspicioso este evento na medida em que aqui estamos para testemunhar a expectativa mundial em relação a esta embaraçosa e humilhante situação para a consciência jurídica internacional de todos os povos civilizados.

Sem dúvida, a supressão da autodeterminação do povo palestino e o seu alijamento do território a que faz jus pela história, pela tradição e pelo Direito Internacional configura e representa uma das mais gritantes e rematadas justiças que assiste o Direito Internacional e os foros de civilização que alcançamos neste fim de milênio.

Quero dizer, com esta minha manifestação, que não se justifica, em lugar nenhum, a supressão do território de um povo a pretexto de anexá-lo, porque este é o novo nome da ocupação territorial por direito de conquista banido do Direito Internacional dos tempos modernos em que vivemos. Por esta razão, quando a ONU exorta a comunidade internacional a pressionar as nações estruturadas organicamente no concerto internacional de todos os povos para que os territórios que pertencem ao povo palestino sejam deixados por aqueles que, a pretexto de segurança nacional e de defesa de fronteiras, promovem a sua ocupação, anexando-os, sem dúvida está a proclamar um ilícito que se comete no plano internacional contra um povo e o seu direito de autodeterminação. Nós, brasileiros, não estamos indiferentes a esta situação de injuridicidade, de violação às regras básicas do Direito Internacional subtraindo o mais fundamental de todos os direitos de um povo: o direito ao seu território, a sua soberania e a sua autodeterminação. (Palmas.)

A nação brasileira, que representa verdadeiramente a experiência única no mundo de uma democracia multirracial, reafirma esta sua vocação de prática, de igualdade e de fraternidade entre todos os povos e todos os homens, proclamando que efetivamente a ninguém é dado subtrair ou ocupar territórios a pretexto de exercer normas de segurança em relação as suas fronteiras ou de prevenir futuros conflitos.

Eric Hobsbaum, na sua monumental obra “O Breve Século XX  “, assinalou com aguda pertinência, que o século XX, que ele aponta como iniciado em 1914, e terminado nos últimos anos da década de 70, sem dúvida nenhuma, é o século que mostrou à humanidade todo o prodígio e toda a capacidade inventiva do homem, fazendo a tecnologia e a ciência saltar do carro no campo, às viagens interplanetárias. Neste período, assinala Hobsbaum, o homem deixou de se arrastar pelo planeta e lançou-se à aventura da conquista interespacial, mas mostra também igualmente, este  professor , que neste mesmo período, a humanidade, numa manifesta contradição, demonstrou ser capaz das mais ignóbeis violações, dos mais terríveis desprezos aos direitos fundamentais do homem e dos povos,  encartando-se exatamente nesse período, a 1ª Grande Guerra, a 2ª Grande Guerra Mundial, a quase totalidade dos conflitos experimentados pela sociedade humana, em número, quantidade e intensidade superiores aos que se verificaram no resto da história conhecida do povo humano. Portanto, ao fecharem-se as portas deste milênio, cabe a nós todos,  a cada um dos cidadãos, a cada  um dos países, a cada um dos povos, sinalizar de maneira inequívoca, patente, ao concerto internacional da nações, que não podemos mais admitir, sob o influxo desta onda neoliberalizante ou globalizante, que justifica, segundo a ética dos resultados, a que se refere Max Weber, todos os meios, tendo em vista determinados fins, que nem sempre são legítimos e atendem e consultam aos interesses coletivos. Pois bem, temos que sinalizar que ao fechar este milênio, não podemos mais aceitar  guerras de conquistas, nem os resíduos denominados ocupação territorial como motivo de segurança nacional decorrentes dessas mesmas guerras de conquista.

E o povo brasileiro, generoso,  multi-racial, pluralista, fraterno, diz-se presente à causa palestina, preconizando a paz entre todos os lindeiros, entre todos os confrontantes, mas dizendo um grande e solene “não”  à violação fundamental dos direitos do povo palestino.

A nossa solidariedade e os nossos profundos cumprimentos do PDT de São Paulo, Partido Democrático Trabalhista,  ao povo palestino, a quem para  muito breve auguramos estar instalado na casa que por direito, por justiça, por tradição, pela história, lhe pertence e que certamente lhe será restituída. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – PDT -  Agradecendo a palavra do nobre Deputado José Roberto Batochio, encerramos as manifestações dos Deputados desta Casa e dos nobres Deputados federais, que nos honram com as suas presenças. Passamos a uma outra parte de nossa solenidade de hoje, concedendo a palavra ao Sr. Ali El Katib, que fará uma apresentação, e um comentário  sobre o Projeto Belém 2000. Enquanto o Sr. Ali se dirige ao microfone,  para fazer uso da palavra, gostaria de informar que neste instante, estamos iniciando no país, a primeira mostra de cinema palestino, que se chama “Mostra de Cinema Palestino, Uma Nação na Tela”, que está sendo promovida pelo Cine USP, com apresentações que se iniciam hoje, dia 29 de novembro, às 18 horas e 30 minutos, com a apresentação do filme “Crônica de um desaparecimento, de Elia Suleiman. Na seqüência haverá a apresentação do filme    Nós somos todos soldados”, de  Hanna Musleh. Amanhã, dia 30, às 18 horas e 30 minutos, a apresentação do filme “Introdução ao fim de    uma discussão”, de Elia Suleiman.   Na seqüência,  “ Checkpoint, de Tom Wright e Therese Saliba, “ Nós somos todos soldados”, de Hanna Musleh.

No dia 1, quarta-feira, próxima, “Casamento na Galiléia”, de Michel Khleifi, e “Casamentos proibidos na Terra Santa”, de Michel Khleifi também. No dia 2, às 18 horas e 30 minutos,  a reapresentação do filme “Crônica de um desaparecimento”. Às 20 horas do dia 2, na próxima quinta-feira, um debate com a jornalista e curadora da mostra, Tânia Caliari. No dia 3, sexta-feira, encerrando a primeira mostra, às 18 horas e 30 minutos, novamente a apresentação de “Casamentos proibidos na Terra Santa”. Depois, a reapresentação de “Introdução ao fim de uma discussão”, e na seqüência a reapresentação do filme “Checkpoint”.

É a primeira mostra de cinema palestino, que está sendo realizado pelo Cine USP, aqui no Brasil, nestes dias que se sucedem a contar de hoje,  e gostaria de  convidar a todos os presentes para participarem desta amostra.

Tem a palavra o Sr. Ali El Katib.

 

O SR. ALI EL KATIB – Sr. Presidente, Deputado Salvador Khuriyeh, Sr. Embaixador Palestino no Brasil, Dr. Musa Amer Odeh, Sr. Prelado da Igreja Ortodoxa Antioquina do Brasil, D. Damasquinos Mansour, demais autoridades já nomeadas, meus amigos, a data de hoje, além de todas as manifestações já citadas, tem um momento muito especial, um momento que passa a ser um pequeno  parâmetro: em 1984, quando foi instituída a lei do Deputado Benedito Cintra, do Dia de Solidariedade Internacional ao Povo Palestino, tive a oportunidade com demais Deputados desta Casa de todos os partidos, de participar da promulgação desta lei. De lá para cá, esta Casa atuou decididamente em prol dos direitos humanos, dos direitos de vida do povo palestino, e assim foi, por todo o Brasil, inclusive em Brasília, na Câmara  Federal.  No entanto, existe um diferencial na data de hoje, é que exatamente naquela época se falava  dos massacres de Fabra e  Shatila, se falava da Antifada. Hoje, temos um assunto de tanta luta, que é o turismo na Terra Santa. É o Projeto Belém 2000, que se  iniciou ontem à noite em Belém, numa festividade que terá três anos de duração. Hoje à noite, dentro de algumas horas, na Palestina, em Belém, continua-se com grandes eventos, que terminarão em março de 2001. São 17 meses de eventos seguidos.  Para termos uma idéia, o que significa o turismo para o mundo, não só na geração de empregos, mas na geração de fortalecimento da amizade entre os povos, do fortalecimento da cooperação e negócios entre os povos, veremos um vídeo feito em Belém, que mostra um pouco da grandiosidade deste projeto.

 

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-          É exibido o vídeo.

 

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Quando o Deputado Arnaldo Jardim se diz otimista, ele tem toda a razão. O otimismo já acontece hoje. Este projeto terá uma programação evidentemente com um programa religioso muito grande, mas teremos os festivais de gastronomia, festivais de música e de dança, as festas das colheitas do damasco, da amêndoa, da azeitona, o festival de uva e de vinhos, a programação esportiva, a maratona do milênio e uma série de tantas outras. Então, o futuro do povo palestino já acontece. E em termos deste mesmo futuro que o Deputado Aldo Rebelo disse acreditar, a integração palestina brasileira já acontece. Eu represento  uma operadora turística de Jerusalém  que atua há quarenta anos  na Palestina em toda a Terra Santa. E agora, desde 1997 com um programa integrado da Embaixada Palestina no Brasil, o Ministério de Turismo Palestino e com o Ministério Extraordinário do Projeto Belém 2000,  que participa da feira da ABAVE desde 1997 no Rio, em 98 em Recife e este ano, em Curitiba. O diferencial é que agora uma empresa palestina passa a atuar no Brasil oferecendo o seu know how de quarenta anos aos operadores brasileiros , há condições favoráveis de bons negócios, com custos excelentes e qualidades de serviços lá na Terra Santa. Então, nós acreditamos que a verdadeira solidariedade é isto, cidadania e responsabilidade social. É a troca e a cooperação entre os povos. E ainda mais, o turismo  vem para fortalecer esta relação de amizade e esta cooperação entre os povos e  ajuda em muito no processo de paz palestino.

 Parabéns aos nobres Deputados organizadores desse ato, Deputado Salvador Khuriyeh,  Deputado Jamil Murad e  Deputado Pedro Tobias. Parabéns por esse evento tão significativo , porque  acredito que para os próximos anos já começamos a trazer  grandes novidades atuais em termos de futuro, em termos de otimismo através do turismo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – PDT -  Gostaria nesse ato de convidar para fazer uso da palavra o Sr. Hassan El Emeleh, Presidente da entidade árabe-palestino-brasileira.

 

O SR. HASSAN EL EMELEH – Exmo. Sr. Deputado Salvador Khuriyeh, Presidente da Mesa, Exmo. Arcebispo da coletividade ortodoxa no Brasil, Exmo. Embaixador do povo palestino, amigos, companheiros, amigas e companheiras, sinto-me muito feliz por estar aqui falando, sinto-me como se estivesse em minha casa. Esta Casa é a casa do povo de São Paulo. Eu sou brasileiro , paulista de origem palestina, portanto esta é também a minha casa. Mas, gostaria de lembrar como esta Casa abriu seus braços e suas portas para receber aos árabes e palestinos. Em 1974 foi inaugurado aqui o maior congresso da América Latina que foi realizado no Brasil. Aquela foi uma época dura, difícil, mas esta Assembléia abriu suas portas para nós. Lembro- me também que em 74 organizamos o maior congresso da América Latina aqui, além de outros eventos. Por isto sinto-me feliz e contente.

Gostaria de dizer que a causa palestina é uma luta entre duas entidades nacionais. De um lado, o povo palestino, do outro lado, o sionismo. Nunca a causa palestina foi dos palestinos. A causa palestina sempre foi do povo árabe e Jerusalém é a causa do povo islâmico de todo o mundo. Então nunca falamos que a causa palestina é nossa, mas de todos os árabes. Nunca esqueceremos o sacrifício do povo-irmão egípcio, que participou de cinco guerras pela causa palestina: em 1948, 1956, 1967, 1969 e finalmente em 1973.

O povo egípcio teve quase 100 mil vítimas entre mortos e feridos. Nunca esqueceremos a luta e o sacrifício do povo libanês, que repartiu o pão entre os filhos libaneses e palestinos. O povo do Líbano até agora está se sacrificando ocupando o Sul do Líbano pelo sionismo, tampouco esqueceremos a luta do povo irmão da Síria, que também entrou em três ou quatro guerras e até agora sofre a ocupação sionista no Sul. Não esqueceremos do sacrifício do povo da Jordânia que, apesar da pobreza e da sua situação economicamente frágil,  sempre nos recebeu de braços abertos. Quase dois terços da Jordânia é constituída de descendentes e oriundos da Palestina.       Então esta causa nunca foi nossa, mas ela tem de ter um fim e precisamos do apoio seja do mundo árabe, seja dos amigos. Sabemos que nosso inimigo está forte economicamente, armado e preparado, mas nós estamos munidos pela justiça, pelo direito e pela determinação.

O povo palestino, como o povo árabe, está determinado a por um ponto final nesse conflito que dura quase 100 anos.

A Palestina não será libre enquanto existir a ocupação sionista no Sul do Líbano, não será livre enquanto houver uma ocupação na Síria. Contudo, estamos vendo uma luz no fim do túnel, que não chegou por acaso, mas porque nos sacrificamos também. Não existe uma família que não tenha um filho morto, ferido, prisioneiro ou que não tenha sido desalojada ou tenha tido sua casa destruída.             Nosso povo se sacrificou e está disposto a sacrificar-se. Nossas crianças precisam viver em paz, como vivem todas as crianças do mundo. Temos esperança no ano 2000, temos a Leitura Sagrada, temos o Senhor Jesus Cristo, temos a Pedra  Sagrada dos muçulmanos, que consideram Jerusalém o terceiro lugar sagrado do mundo. Por isso, amigos, em nome de nossa coletividade, em nome dos irmãos, agradecemos todo esse apoio, que, aliás, vamos continuar precisando.

Sei que o nosso amigo Salvador Khuriyeh tem sangue palestino correndo nas veias, mas também orgulhamo-nos de ser brasileiros, pois este povo nos acolheu, nos deu tudo o que precisamos, talvez muito mais do que nosso país.

Obrigado amigos pela presença e se Deus quiser nos encontraremos um dia na Palestina livre. (Palmas.)

           

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – Agradecemos as palavras do Sr. Hassan El Emelhe.  Neste instante, convidamos a fazer uso da palavra o Sr. Mohamed Salem Jappar, líder e representante da Juventude Palestina.

 

O SR. MOHAMED SALEM JAPPAR - Nobre Deputado Salvador Khuriyeh, estou muito emocionado por estar presente neste ato e falar em nome da Juventude Palestina do Brasil. Cumprimento o Exmo. Sr. Presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Deputado Vanderlei Macris; Deputado Aldo Rebelo e demais Deputados presentes; convidados; autoridades diplomáticas; militares e órgãos  diplomáticos; senhoras e senhores,

(ENTRA LEITURA)

Falarei que jamais esqueceremos quantas guerras, quantos mortos, feridos e órfãos nos custaram - árabes e palestinos - até que chegássemos a este dia, líderes árabes e judeus a se sentarem para uma conversação sobre um acordo de paz no Oriente Médio. Não esqueceremos, pois a História falará por nós e as marcas da guerra ficarão registradas para sempre.

Peço a todos que se levantemem nome dos bravos mortos em combate contra Israel, das mães desoladas e das crianças órfãs. Peço um minuto de silêncio.

                                              

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-          É feito um minuto de silêncio.

 

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Esperamos que os decretos dos  Estados Unidos, as resoluções da ONU e as negociações para a paz sejam cumpridas para que não comprometam mais o nosso povo árabe, não nos ameaçando com mais sofrimentos e injustiças, para que possamos estabelecer a situação política e econômica na região, para que o nosso governo possa se firmar rumo ao avanço da criação do Estado Palestino, uma nação livre, sem domínio imperialista  e infiltração sionista.

Que o mundo, homens livres e do bem, junte-se a nós para que possamos dar um “basta” nos sofrimentos, perseguições e expulsões; que seja uma paz verdadeira, justa e duradoura. Acreditamos na paz e no convívio entre árabes e judeus, mas para que isso aconteça o nosso caminho é mais longo do que imaginam, pois Israel há de cumprir os acordos feitos pelos governos dos territórios ocupados, libertando os prisioneiros e respeitando o direito à liberdade e à vida. Que possamos ver essa bandeira triunfar sobre a Palestina independente e sobre Jerusalém, sua legítima e reconhecida capital.

Viva o povo palestino, viva a Palestina, livre e soberana!

(Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH - PDT – Ouviremos neste instante o Sr. Mohamed Salem Jappar, líder e representante da juventude palestina.     Tem a palavra o Exmo. Sr. Musa Omer Odeh, Embaixador da Palestina, para que possamos ouvir sua mensagem oficial.

 

O SR. MUSA OMER ODEH – Sr. Presidente, Srs. Deputados Federais e Estaduais; Sua Eminência Damaschino Mansur; Sr. Cônsul do Egito, senhoras e senhores presentes, (entra leitura)

Como a cidade de Belém assistiu, há dois mil anos, à chegada da mensagem de amor e paz com o nascimento do nazareno palestino, o Nosso Senhor Jesus Cristo, sobre o seu abençoado solo, esperamos que as comemorações pelo terceiro milênio, já iniciadas em Belém, sejam um prenúncio de uma iminente celebração pelo Estado Palestino independente, tendo Jerusalém como capital, para que toda região desfrute da justiça e da paz naquela    terra abençoada.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE – SALVADOR KHURIYEH – PDT – Ouvimos, neste instante, a mensagem oficial do Estado Palestino para nós, brasileiros, pelo Embaixador da Palestina, Sr. Musa Amer Odeh. (Pausa.) Recebemos, neste instante, das mãos do nosso Embaixador, um livro escrito por Henri Catan, intitulado “A Palestina e o Direito Internacional – o aspecto legal do conflito árabe-israelense”. O Embaixador traz este livro para que conste do acervo da biblioteca da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Isto muito nos honra e levarei com orgulho o livro ao Presidente efetivo da Casa, Deputado Vanderlei Macris. Estamos há exatos 52 anos da data que marcou o reconhecimento do mundo da existência do Estado Palestino. Em 29/11/47 a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, presidida pelo  brasileiro Osvaldo Aranha, adotou uma resolução dividindo a Palestina em dois Estados: um judeu, com 56% do território, e outro palestino, com 44% do território. Não bastaram centenas de vidas e sangue do povo palestino e dos povos irmãos árabes. Hoje estamos também concedendo parte de nossas terras para que possamos buscar a paz no Oriente Médio e no mundo. Mais uma vez estamos reunidos aqui neste plenário para reafirmar a nossa disposição em não dar tréguas nesta luta, que só se encerrará com a efetiva criação do Estado Palestino e a autodeterminação do nosso povo. Aliás, essa sessão é mais uma demonstração de que o dia 29/11, consagrado pelas Nações Unidas como o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, é uma data a ser observada não apenas por esse povo perseguido e injustiçado, mas sim por todos que buscam a paz total em nosso planeta e que entendem que ela não chegará enquanto existirem povos oprimidos ou escravizados. Nesse sentido gostaria de estabelecer uma pequena pausa neste momento para render minhas homenagens ao heróico povo timorense que, finalmente, depois de décadas de dominação, é agora dono de seu próprio destino. (Pausa.)

Como palestino não poderia deixar de comemorar a independência de Timor Leste, porque nós, palestinos, como poucos, conhecemos os sofrimentos por que passou aquele povo. E nada mais adequado do que registrar essa heróica conquista  neste dia de luta, dia 29 de novembro de 1999. Poucos dias nos separam dos 2000 anos do nascimento do palestino nosso Senhor Jesus Cristo,  e daqui a pouco estaremos entrando no novo milênio.

Mais do que nunca, então, exatamente pelo significado do dia 29 de novembro, ganha força uma pergunta que todos os homens de bem, neste planeta,  devem estar se fazendo  nesta data: até quando o povo palestino deverá enfrentar esse calvário, se buscam tão-somente o que lhes é de direito?

 Que não entendam este pronunciamento como uma demonstração de fraqueza, pois como é característico de nosso  povo,  lutaremos até a eternidade se for preciso. No entanto, o que não conseguimos admitir é que nas vésperas do ano 2000 ainda tenhamos que travar essa verdadeira guerra, alimentada pela estupidez de políticas retrógradas que insistem na impossibilidade da convivência harmônica entre povos diferentes.

A fragorosa derrota da política extremista conduzida por Benjamim Netaniyahu, em Israel, devolve a todos a esperança de que sejam cumpridas, de uma vez por todas, as resoluções da ONU desprezadas desde 1947, criando o Estado Palestino. Esperamos então que  29 de novembro, data de luta instituída em 1977, e aqui nesta Casa, data instituída em 1984, pelo nobre Deputado Benedito Cintra, para que o mundo manifeste o seu reconhecimento da necessidade da existência  de um estado palestino, ceda lugar a uma outra data, esta sim festiva e repleta de júbilo para o nosso povo, o nosso dia de comemoração pela implantação e independência do Estado Palestino .

Antes de encerrar a sessão , Sr. Embaixador , gostaria neste instante de agradecer  a participação de todas as senhoras e senhores aqui presentes, especialmente a presença do nobre Deputado Márcio Araújo, do Deputado Nivaldo Santana, do Deputado Carlos Zarattini, do Deputado Pedro Tobias, do Deputado Jamil Murad, a presença dos nobres deputados federais Aldo Rebelo, Joaquim José Roberto Batochuio.  Agradeço a  todas as autoridades aqui presentes, do representante do Egito, do nosso arcebispo, do nosso embaixador. Gostaria de fazer um agradecimento especial, com a permissão de todos, a esses dois Deputados irmãos, Jamil Murad e Pedro Tobias, que somaram conosco na busca de fazermos essa sessão, e que soma conosco o nobre Deputado  Arnaldo Jardim, neste instante. Gostaria de fazer um agradecimento especial ao representante da Sociedade Islâmica, Sr. Arnest Arred, e da Mesquita do Brás, Rasan Garib, ao fotógrafo Vanderlei Guedes, que nos contempla com as suas fotografias  em sua visita ao território palestino; ao artista plástico, escritor, Roberto Gamer, que nos presenteia com um quadro de Jesus Cristo, fazendo o sermão das montanhas. Roberto Gamer, Sr. Embaixador, fez esse quadro agora, nos últimos dias,  nas últimas três semanas, e ele está doando esse quadro para a causa palestina, para que possamos fazer desse quadro conforme orientação de V. Exa., um símbolo da simpatia do povo brasileiro, descendente de árabe, como é o Roberto Gamer,  a nossa Casa, que teve apoio substancial de Luiz Charbel, que é professor e arabista, que tem se dedicado a nossa causa. (Palmas.).

Gostaria também de fazer um agradecimento à Tânia Curiati, que é curadora da primeira mostra do  cinema palestino que se realiza neste instante na USP.

Antes de encerrar, gostaria de pedir a permissão dos irmãos árabes, especialmente aos palestinos, que esta data, 29 de novembro de 1999, não se conclua pela realização desta sessão em si, ao contrário, que iniciemos neste instante, um desafio: estamos a exatos 365 dias, exato um ano do nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo. Como ouvimos aqui no ano passado, nas palavras do nosso embaixador Mussa, deveríamos, de acordo com as negociações de paz,  ter vivido na passagem do dia  quatro de maio deste ano a instituição oficial do Estado Palestino. Mas, em decorrência do recuo nas ações de negociação por parte do então 1º Ministro de Israel, Benjiamim Netaniyahu,  a instalação do Estado Palestino  foi retardada, atrasada. Devemos ter a instalação do Estado Palestino, se Deus nos permitir, no próximo ano, no ano 2000. Todas as negociações e todos os esforços do nosso povo e de todo mundo, buscando a paz, nos levam a ter fé e otimismo de que esta data poderá se oficializar no ano que vem.

Quero lançar um desafio aos nossos irmãos árabes:  que agora, neste instante, os nossos artistas, a nossa juventude, os nossos representantes, os nossos parlamentares nos unamos para que na passagem do ano 2000 haja não só  a realização de uma nova e grande sessão solene aqui na Assembléia Legislativa, mas façamos com que daqui por diante tenhamos, do mesmo modo com que Ali Al Katib traz para nós as informações das comemorações que se darão ao longo dos 17 meses, pela passagem das festividades Belém 2000,  que façamos também ao longo deste ano uma nova série de atividades, com exposições de artes, com apresentação de shows, com atos políticos, com reuniões. Precisamos efetivamente, pois, como disse Rassan, a causa nossa não é causa apenas do povo palestino. É causa de todo o povo árabe e é causa de todo o povo de todo o planeta, que busca a paz no mundo, que busca a paz na humanidade. Precisamos deixar de temer. Sabemos que nós, palestinos , nós, árabes, fomos oprimidos. Nós, que somos árabes, sabemos da dificuldade para poder realizar eventos como esses, mas precisamos, até pelo que estamos observando, às vésperas do ano 2000, às vésperas do início do terceiro milênio, com o mundo reconhecendo o direito do povo palestino, de estar pisando o seu próprio chão, precisamos deixar de temer e sair por aí  afora mostrando a nossa cara de árabe, mostrando a nossa cara de povo palestino, mostrando a nossa cara de povo que busca o amor, que busca a fé, que busca a paz e chamando o mundo para poder somar conosco, nesta causa que o povo palestino vem já há tantos anos, há décadas, há séculos, tentando buscar tentando instituir o nosso mundo.

Quero lançar um desafio a todos que participaram conosco desta sessão:  que esta sessão não se encerre aqui neste instante, mas para que ela apenas marque um início de um novo tempo em que levará  a paz do povo palestino e a paz o mundo.

Encerro as minhas palavras agradecendo a Deus por ter nos permitido realizar mais esta sessão, agradecendo mais uma vez às autoridades aqui presentes, a todos que conosco contribuíram, convidando-os para participar da mostra de fotografias, da mostra de artes, que estamos fazendo no hall monumental, neste instante, e que ficará em exposição na Assembléia Legislativa até o final da semana.

Encerrando a sessão, gostaria de clamar: Viva a paz! Viva o amor! Viva a Palestina! Viva a justiça! Viva a paz justa! Viva a Palestina com Jerusalém como sua capital! Viva! (Palmas.)

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 14 minutos.