25 DE AGOSTO DE 2008

038ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AODIA DA COMUNIDADE ALEMÔ

 

Presidente: ROBERTO ENGLER

 

RESUMO

001 - ROBERTO ENGLER

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Comunica que esta sessão solene foi convocada pelo Presidente Vaz de Lima, por solicitação do Deputado Roberto Engler, ora na direção dos trabalhos, com a finalidade de homenagear o  "Dia da Comunidade Alemã". Convida o público presente a ouvir, de pé, os hinos nacionais alemão e brasileiro, executados pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

002 - Presidente ROBERTO ENGLER

Expressa o sentimento de confraternização entre a Alemanha e o Brasil.

 

003 - STEFAN VON GALEN

Presidente da Associação Escolar Benjamin Constant, cumprimenta as autoridades presentes. Lembra a importância de se comemorar anualmente o Dia da Comunidade Alemã. Anuncia que a comunidade alemã está preparando uma grande festa comemorativa para o próximo ano, quando serão comemorados os 185 anos da primeira imigração. Solicita o apoio dos deputados para a aprovação do Projeto de lei nº 196, de 2004, que institui a data de 25 de julho como o "Dia da Comunidade Alemã" no Estado de São Paulo.

 

004 - ÚRSULA DORMIEN

Presidente da Corporação Alemã de São Paulo, agradece, em nome das entidades de língua alemã de São Paulo, ao Deputado Roberto Engler e à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, a homenagem prestada aos descendentes dos países de língua alemã. Parabeniza os colégios e as instituições que se empenham em ensinar a cultura e as tradições do país de origem dos imigrantes. Afirma que a língua alemã deve ser preservada. Lembra a importância do domínio de um segundo idioma para prosperar em diversas áreas, aprofundar os laços de amizade e contribuir para o progresso do Brasil.

 

005 - HERMANN WEVER

Presidente do Conselho Deliberativo da Siemens, lembra o dia 25 de julho de 1824, que simboliza o início da imigração dos povos de língua alemã, no Brasil, e a formação da Colônia de São Leopoldo. Faz um histórico do relacionamento dos alemães com o Brasil. Comenta que durante o período colonial o Brasil ficou isolado, mas a vinda da família real e o casamento de D. Pedro I com a arquiduquesa Leopoldina marcaram as relações entre os povos de língua alemã e o Brasil. Cita as principais contribuições dos imigrantes alemães para indústria brasileira. Lembra que as imigrações ficaram prejudicadas por ocasião da primeira e da segunda guerra mundial.

 

006 - HEINZ PETER BEHR

Cônsul Geral da República Federativa da Alemanha, manifesta a honra de poder estar presente às festividades que comemoram a origem da imigração alemã. Diz do orgulho de fazer parte da história de um número tão grande de brasileiros. Lembra que hoje era o dia para lembrar as conquistas dos imigrantes alemães e que todos os que festejam esse dia realizaram muitas coisas. Parabeniza a todos por essa festa e faz votos para que o elo com a Alemanha continue existindo.

 

007 - Presidente ROBERTO ENGLER

Cumprimenta as autoridades presentes e manifesta a satisfação de comemorar o "Dia da Comunidade Alemã". Cita versos de Goethe. Ressalta a importância dos alemães na construção do Brasil, lembrando Hans Staden, autor de um dos principais textos da literatura quinhentista. Diz que a característica principal dos alemães, o empreendorismo, contribuiu para o desenvolvimento do nosso País. Agradece a todos. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Roberto Engler.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O Sr. Presidente - Roberto Engler - PSDB - Boa-noite, senhoras e senhores. Inicialmente, para fazer parte da Mesa deste evento, convido o Sr. Heinz Peter Behr, Cônsul Geral da Alemanha, e sua esposa, Sra. Maria Elsa Behr; o Sr. Hermann Wever, Presidente do Conselho Deliberativo da Siemens; a Sra. Úrsula Dormien, Presidente da Corporação Alemã de São Paulo; o Sr. Stefan Von Galen, Presidente da Associação Escolar Benjamin Constant.

Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Sras. Deputadas e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Vaz de Lima, atendendo à solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear o Dia da Comunidade Alemã.

Convido os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Alemão e o Hino Nacional Brasileiro, executados pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro Segundo Tenente PM David Serino da Cruz.

 

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  - São executados o Hino Nacional Alemão e o Hino Nacional Brasileiro.

 

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  O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em nome do maestro, 2º Tenente Músico PM David Serino da Cruz. Muito obrigado.

  Antes de conceder a palavra às nossas autoridades, quero apenas externar o meu sentimento ouvindo a execução dos dois hinos nacionais, lado a lado, mostrando o grau de confraternização entre os dois povos, da Alemanha e do Brasil. Fico muito honrado e agradecido.

  Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Stefan Von Galen, Presidente da Associação Escolar Benjamin Constant.

 

   O SR. STEFAN VON GALEN - Prezado Sr. Deputado Roberto Engler; prezado Sr. Cônsul Geral da República Federal da Alemanha, Heinz Peter Behr; prezado Sr. Hermann Wever, Presidente do Conselho da Siemens; prezada Sra. Úrsula Dormien, Presidente da Corporação Alemã em São Paulo, demais autoridades, senhoras e senhores.

   Para ser exato, pela quinta vez, estamos comemorando hoje o Dia da Comunidade Alemã.

   Ao Deputado Roberto Engler, uma vez mais o nosso muito obrigado por abraçar esta nossa solicitação.

   Talvez muitos se perguntem por que comemorar este evento todos os anos. É importante esta comemoração, pois isto é igual a uma semente que deverá ser plantada anualmente para dar frutos e que com isto a comunidade alemã, nossos filhos, nossos netos, não se esqueçam de suas origens e de sua importância. Assim fizeram os nossos antepassados de muitas gerações desde a primeira imigração em 1824, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, e em 1829 aqui em São Paulo. Eles também, ano a ano, plantaram as suas sementes que deram os frutos dos quais nós hoje estamos desfrutando. Sim, no próximo ano serão comemorados os 185 anos da primeira imigração no Brasil, e também os 180 anos da imigração aqui em São Paulo. Queremos e podemos fazer uma grande festa comemorativa a estas duas datas. Para tal, o engajamento da comunidade, das entidades e do empresariado alemão é de vital importância.

   Gostaria ainda, nobre Deputado Engler, de solicitar o seu empenho na aprovação do Projeto de lei nº 196 de 2004, que institui o dia 25 de julho como o "Dia da Comunidade Alemã” em todo o Estado de São Paulo, e assim se transformar em lei. Isto, com certeza, irá coroar os festejos dos 185 anos, respectivamente 180 anos da imigração alemã no Brasil e em particular em São Paulo.

   Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Esta Presidência gostaria de registrar a presença do Sr. Egon Janos, presidente da Associação das Entidades Húngaras de São Paulo, que esteve presente em agosto do ano passado, e no dia 23 de outubro este Deputado terá a honra também de fazer aqui neste mesmo local o evento da comunidade húngara. Muito obrigado. Sr. Alexis Pomerantzeff, Imperador da Nação Lingüística Portuguesa; Sr. Nico Geide, Cônsul de Assuntos Políticos e de Imprensa da República Federal da Alemanha; Sr. Leonel Aguiar, da Associação Paulista de Imprensa; Sr. Valdemar Regio de Araújo, representando o nosso querido Deputado Antonio Salim Curiati; Sr. Raul Luís dos Santos Marcarenhas, do Colégio Benjamim Constant; Dr. Paulo Rios, grande amigo, Delegado-Chefe da Assembléia Legislativa, representando o Delegado Geral de Polícia do Estado de São Paulo, Maurício José Lemos Freire.

            Neste instante, esta Presidência concede a palavra a esta senhora que já nos conquistou, Sra. Úrsula Dormien, Presidente da Corporação Alemã de São Paulo. (Palmas.)

 

            A SRA. ÚRSULA DORMIEN - Exmo. Sr. Deputado Roberto Engler, Exmo. Dr. Heinz-Peter Behr, Cônsul Geral da República Federal da Alemanha, Exmo. Sr. Stefan Graf von Galem, Presidente da Associação do Colégio Benjamin Constant, Exmo. Sr. Hermann Wever, Presidente do Conselho Deliberativo da Siemens, demais autoridades presentes, senhoras, senhores e amigos, em nome das entidades de língua alemã de São Paulo, quero agradecer à Assembléia Legislativa e, em especial, ao nobre Deputado Roberto Engler pela homenagem prestada à comunidade alemã, aos descendentes dos imigrantes dos países da Europa de língua alemã. Aliás, modéstia à parte, homenagem merecida, lembrando os pioneiros que com muita garra, não medindo esforços, contribuíram para o progresso do nosso Brasil, o país que os acolheu de braços abertos.

            Com grande satisfação, também quero parabenizar  os colégios, as instituições, enfim a todos que se empenharam e empenham  em ensinar e transmitir o idioma, a cultura e as tradições do país de origem dos imigrantes.

É um trabalho muito importante, pois estou convicta de que a língua alemã - aliás, como qualquer outro idioma estrangeiro - é uma dádiva preciosa para os descendentes de imigrantes desde a sua infância e deve ser preservada.

O domínio da língua dos antepassados, juntamente com a da nova pátria, representa estima e respeito a ambos e não impede de forma alguma de ser um bom cidadão brasileiro, até muito pelo contrário. Creio que todos descendentes de imigrantes podem ser considerados mediadores entre o Brasil e o País de seus ascendentes, e assim cooperar nas mais diversas áreas, bem como aprofundar os laços de amizade entre ambos, prestando, desta maneira, significativa contribuição para o progresso de nossa amada Pátria Brasil.

Encerrando, também não quero deixar de agradecer aos patrocinadores do coquetel, que será oferecido em seguida para dar continuidade à comemoração desta data magna. Obrigada!

 

  O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Hermann Wever, Presidente do Conselho Deliberativo da Siemens.

 

            O SR. HERMANN WEVER - Exmo, Deputado Roberto Engler, Exmo Sr. Cônsul Geral da República Federal da Alemanha em São Paulo Sr. Heinz Behr; Exmo. Sr. Stefan von Galen, Presidente da Associação Escolar Benjamin Constant; prezada senhora, muito amiga, Ursula Dormien, Presidente da Corporação Alemã em São Paulo; prezadas senhoras, prezados senhores, estamos aqui hoje reunidos para comemorar a data que simboliza o início da imigração dos povos de língua alemã no Brasil. No dia 25 de julho de 1824 chegaram no local então denominado Feitoria Velha, às margens do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, os primeiros 43 imigrantes que deram início à primeira bem-sucedida tentativa de colonização no Brasil formando a colônia de São Leopoldo. A nova colônia teve um desenvolvimento muito rápido, seu exemplo foi seguido com a fundação de novas colônias e passou a ser um pólo irradiador da colonização baseada na pequena propriedade rural.

O dia 25 de julho passou a ser, com toda justiça desde 1824, o dia da imigração dos povos de língua alemã e também o “Dia do colono”.

No entanto, o relacionamento dos cidadãos de língua alemã com o Brasil teve início bem antes, poucos anos após o seu descobrimento. Com efeito, Pero Lopes de Souza no seu “Diário de Navegação”, onde descreve a viagem da armada de cinco navios comandada por seu irmão Martim Afonso de Souza, menciona a existência de vários alemães entre os membros da tripulação, um dos quais ajudou na construção do primeiro engenho de açúcar em terras brasileiras em 1532 na Ilha de São Vicente. Casas de comércio alemãs construíram nas décadas seguintes novos engenhos na região e enviaram para administrá-los técnicos alemães.

Assim, quando Hans Staden em sua segunda viagem ao Brasil em 1550 - tendo naufragado nas proximidades de Itanhaém chegou a São Vicente caminhando com alguns companheiros pela costa - encontrou um pequeno núcleo de compatriotas e foi convidado para terminar a construção em alvenaria do Forte São Felipe, em Bertioga, o primeiro forte do Brasil meridional, e nomeado pelo primeiro Governador do Brasil, Tomé de Souza, para ser o seu comandante. Estava ocupando esse cargo quando foi feito prisioneiro dos índios Tupinambás e viveu as incríveis aventuras que relata em seu famoso livro publicado pela primeira vez em Margburg, em 1577. O estilo realista do livro e suas gravuras em estilo primitivo, mas de absoluta fidelidade, deram ao mesmo um extraordinário sucesso, sendo reeditado em várias línguas e tornado o Brasil foco de interesse e atenção em toda a Europa. É, pois, com inteira justiça que o Instituto Martius-Staden, que tem como missão a divulgação da língua e cultura alemãs no Brasil e ao mesmo tempo a divulgação da cultura brasileira entre os povos de língua alemã, o adotou como um dos seus patronos. Sobre o segundo Martius vamos falar daqui a pouco.

  Simultaneamente a esses fatos ocorridos no sul do Brasil, também no norte e nordeste do país era ativa a presença de alemães dedicados principalmente à cultura da cana-de-açúcar e que se integraram totalmente às sociedades locais, construindo famílias numerosas entre cujos descendentes encontram-se pessoas de destaque da história brasileira.

A invasão holandesa, primeiro na Bahia, em 1624 a 1625, e posteriormente em Pernambuco, de 1630 a 1654, e particularmente o espírito empreendedor e estimulador das artes e ciências, de Maurício de Nassau, permitiu que inúmeros cidadãos de língua Alemã estivessem no Brasil e dessem uma extraordinária contribuição para a exploração científica do nosso país, como foi o caso de Piso e Markgraf, autores de “História Naturalis Brasilae” e do pintor Zacarias Wagner, autor do famoso “Thier  Buch”, o livro dos animais.

  A partir da retomada e consolidação do território brasileiro pelos portugueses, e particularmente a partir da descoberta das ricas jazidas de ouro em Minas Gerais, experimentou o Brasil um período de total isolamento na segunda metade do Século XVII e durante o Século XVIII, imposto por Portugal, para evitar que outras nações tentassem novamente participar das extraordinárias riquezas do nosso país.

  Foi um período em que muito pouco foi escrito ou se divulgou em língua alemã sobre o Brasil. Mesmo assim, a intensa utilização no Exército de Portugal, de oficiais e engenheiros originários de países de língua alemã, fez com que muitos desses oficiais participassem de missões de demarcação de limites, tanto no Norte do Brasil, incluindo a região amazônica, como também no Sul, particularmente a região das missões.

  Entre esses oficiais deve ser destacada a figura de João Henrique Böhm, nomeado em 1767, comandante de todas as tropas no Brasil, e que foi o fundador e organizador do Exército brasileiro.

  Outro oficial alemão do Exército português João Carlos Augusto Von Oeynhausen, que chegando ao Brasil em 1802 administrou sucessivamente as províncias do Ceará, Mato Grosso e finalmente, a partir de 1818, São Paulo, sempre com grande eficiência de dinamismo destacou-se entre esses engenheiros.

  A invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas, e a chegada ao Brasil, em 18008, do então príncipe regente e mais tarde rei D. João VI, tirou o Brasil de forma rápida do estado letárgico em que se encontrava. O primeiro ato do príncipe regente ainda em sua escala na Bahia, de abrir portos brasileiros às nações amigas  combinado com a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, gerou um surto de desenvolvimento econômico e cultural que o Brasil ainda não tinha experimentado.

Junto com a corte vieram diversos oficiais e engenheiros de língua alemã que deram enorme contribuição para o desenvolvimento da nova pátria. Entre eles destacaram-se Frederico Luis Guilherme Varnhagen pai do maior historiador brasileiro Francisco Adolfo Vanhagen visconde de Porto Seguro, que dirigiu os trabalhos de construção da real fábrica de ferro São João de Ipanema, em Sorocaba, na província de São Paulo, onde em 1818 foi inaugurado o primeiro alto forno do Brasil.

Grande contribuição à geologia e à siderurgia brasileiras foi dada por Guilherme Luis Barão Von Eisheweig, que na Fábrica Patriótica, próxima a Congonhas do Campo, em Minas Gerais, e por ele fundada, produziu em 1812, pela primeira vez no Brasil, ferro pelo processo siderúrgico. Mais tarde foi nomeado Eishweig superintendente das minas de ouro de Minas Gerais, e é hoje reverenciado como patrono da geologia brasileira.

O casamento, em 1817, do então príncipe herdeiro, mais tarde primeiro imperador D.Pedro I, com a princesa austríaca arquiduquesa Leopoldina de Habsburgo, foi um fato marcante no desenvolvimento das relações entre os povos de língua alemã e o Brasil.

A jovem princesa, dona de uma educação esmerada, amante das artes e das ciências, e de um caráter extraordinariamente firme e puro, ganhou logo o respeito e a admiração do povo brasileiro. Através de sua influência, concordou o imperador da Áustria, Francisco II, em financiar uma expedição científica ao Brasil com o objetivo de estudar sua flora e sua fauna, que além dos notáveis cientistas austríacos Natterer, Pohl, Mikan, Schott, e do pintor Thomas Ender, trouxe consigo dois cientistas bávaros, Carlos Frederico von Martius e João Batista von Spix.

Os resultados desta missão foram extraordinários e, sob o ponto de vista científico e artístico, podem ser considerados como uma redescoberta do Brasil pelo mundo de então.

Entre as extraordinárias contribuições desses cientistas destaca-se, no entanto, a obra realizada por von Martius, tendo permanecido cerca de três anos no Brasil, durante sua viagem, percorrendo com seu colega von Spix, grande parte do território brasileiro, e pode von Martius acumular uma quantidade tal de informações sobre a flora brasileira, que acabou dedicando o quase meio século de existência que teve após o seu retorno à Alemanha à divulgação das coisas do nosso País. Entre suas obras, destaca-se “Flora Brasiliensis”, com 40 volumes, que só foi terminada em 1906, 40 anos após sua morte.

A sua obra sobre as palmeiras brasileiras lhe deram o codinome de “Pai das Palmeiras”, e sobre ele disse Humboldt: “Enquanto existir uma palmeira em nossa terra, o nome de Martius não será esquecido”. De fato, no dia 17 de abril de 1992, dia em que foi comemorado o 200º aniversário de seu nascimento, o governo brasileiro decretou que nesta data passasse a ser comemorado o “Dia do Botânico”, em sua homenagem.

Foi a Imperatriz Leopoldina, com apoio de José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Independência, que havia na sua juventude estudado na Alemanha, que conhecia e admirava a classe dos pequenos proprietários rurais existentes na Áustria e na Alemanha, que incentivou através do trabalho do Major Jorge Antonio von Schaffer, a vinda dos imigrantes alemães para o Brasil. Em sua homenagem foi dada a primeira colônia no rio Grande do sul o nome de São Leopoldo. Diga-se de passagem que já em 1818, havia sido fundada por três alemães e dois suíços uma colônia no sul da Bahia, às margens do rio Caravelas, à qual foi dado o nome de Leopoldina. Essa colônia, no entanto dedicada à produção de café, utilizava o trabalho escravo e não representava verdadeiramente um projeto de imigração.

O movimento imigratório de países de língua alemã, depois da iniciativa bem sucedida da colônia de São Leopoldo, continuou a se desenvolver com altos e baixos, em diversas regiões do País, mas com preponderância marcante para as províncias da região sul. Muitos projetos foram, infelizmente, abandonados pela má escolha do local, pelas difíceis comunicações, pela baixa qualidade das serras e principalmente pelas falhas da administração pública na recepção dos emigrantes na organização das fases iniciais dos trabalhos. O descontentamento gerado por esses casos acabou por se refletir na imprensa, nas populações e nos governos dos países de origem dos imigrantes, ocasionando uma redução significativa do fluxo imigratório nessa metade do século XIX. Felizmente, o sucesso de alguns novos projetos como Joinvile e Blumenau, em Santa Catarina, e o desenvolvimento positivo de muitas colônias no Rio Grande do Sul, descritas por visitantes europeus em inúmeras publicações, ajudaram a reduzir a campanha contrária dos críticos à emigração. Levantamentos realizados pelo IBGE e por outros estudiosos permitem estimar entre 320 mil e 350 mil o número de imigrantes de língua alemã no Brasil, de 1800 até hoje. Como comparação, no mesmo período os Estados Unidos da América receberam cerca de quatro milhões e 800 mil imigrantes, cerca de 15 vezes mais. É indiscutível o impulso positivo que a imigração gerou nas regiões em que os projetos de colonização foram implantados. A criação de uma nova classe de pequenos proprietários rurais, de artesãos, de pequenos industriais e comerciantes fomentou o desenvolvimento econômico que não existia nas regiões de agricultura praticada por grandes latifúndios, gerando uma distribuição de renda mais homogênea e reduzindo os problemas sociais.

Essa nova estrutura social constituiu a base do rápido processo de industrialização dos estados do sul do País no século XX e, sem dúvida nenhuma, explica a renda per capita desses estados bastante superior à média nacional.

Contribuição muito importante nesse processo foi dada por diversas colônias que à vista das deficiências do ensino público fundaram escolas particulares, muitas delas dirigidas por ordens religiosas das igrejas locais, tanto católicas quanto protestantes. Infelizmente o advento das duas guerras mundiais no século passado teve uma influência muito negativa na continuidade dos trabalhos dessas instituições. Uma estimativa do número de brasileiros descendentes de imigrantes de língua alemã apresenta certamente uma grande dificuldade em vista da falta de estatísticas adequadas. Podemos, no entanto, usando métodos de correlação, estimar esse número entre três a três e meio milhões de pessoas, ou seja, próximo a 2% do total da população brasileira. Entre esses representantes - e que nos emocionou muito vê-lo na apresentação das delegações dos vários países nos Jogos Olímpicos de Pequim como portador da bandeira brasileira - temos Robert Scheidt, já ganhador de medalhas olímpicas anteriormente e que novamente ganhou uma medalha de prata.

  Desde o início do século XIX era bastante claro que as economias dos países de língua alemã na Europa e a economia brasileira eram parceiras naturais. Já em 1827 representantes de Bremen, em Hamburg, depois de cinco meses de negociações, concluíram com o Brasil um tratado de comércio com a cláusula de nação mais favorecida,  igual à concedida à Inglaterra 20 anos antes. O comércio entre as duas partes cresceu rapidamente e já em 1830, além dos embaixadores da Áustria e da Prússia e de alguns cônsules, havia junto à corte de D. Pedro I 17 representações comerciais dos estados alemães. Enquanto seus maiores concorrentes na Europa, Inglaterra e França, abasteciam-se de matérias primas de suas colônias, os países de língua alemã estavam interessados num comércio de duas mãos, exportando produtos industrializados e importando produtos primários que evidentemente era também interesse do Brasil na ocasião.

  O comércio bilateral cresceu durante o Século XIX e no início do Século XX. A Alemanha sozinha já ocupava o segundo lugar no comércio exterior com o Brasil, tanto na exportação, depois da Inglaterra, como na importação, pouco abaixo dos Estados Unidos. Para esse sucesso contribuiu sem dúvida a existência no Brasil de um significativo grupo populacional de origem alemã. Casas comerciais importadoras, exportadoras foram fundadas por alemães no Brasil com filiais na Europa e deram uma alta contribuição à consolidação desse fluxo de comércio.

            Infelizmente a 1ª Guerra Mundial, em 1914, interrompeu essa evolução em vista das pressões exercidas pelos países aliados contra a manutenção do comércio com a Alemanha. Data desse período a criação das câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, no Rio em 1916, e em São Paulo em 1917, para a defesa dos interesses mútuos atingidos por essas pressões.

  Após o término da Guerra, em 1918, o comércio entre o Brasil e a Alemanha voltou a crescer de forma especial, a partir de 34, com o Acordo de Moedas entre os dois países. A Segunda Guerra Mundial evidentemente interrompeu novamente esse desenvolvimento.

  O sucesso do programa de reconstrução da Alemanha do pós-guerra e o processo de industrialização brasileira, que tinha tido um impulso grande durante a Guerra, e acelerou-se ainda mais durante a década de 50, criaram novamente as bases para uma profícua parceria. Novamente a existência de uma comunidade numerosa, fluente na língua alemã, aliada à complementaridade dos interesses econômicos dos dois países, fez que significativos investimentos alemães viessem a ser realizados na indústria brasileira, em particular nos ramos químico, eletroeletrônico, mecânico, e de forma muito especial no setor automobilístico, atendendo aos interesses do Governo, de criar uma indústria automobilística nacional.

  Hoje existem no Brasil cerca de duas mil empresas com participação de capitais alemães, austríacos e suíços, num investimento total superior a 18 bilhões de dólares. Essas empresas empregam cerca de meio milhão de pessoas. O comércio bilateral entre o Brasil e a Alemanha aproxima-se dos 16 bilhões de dólares, nas duas direções.

  Nesse processo de industrialização, a cidade e o Estado de São Paulo deram uma enorme contribuição. Depois de uma não muito bem sucedida tentativa de colonização, em 1829, nas proximidades de Itapecerica, o sistema de parceria introduzido pelo senador Vergueiro apresentou resultados positivos com a imigração de suíços e alemães, entre os anos de 1847 e 1855.

  O crescimento rápido da cidade de São Paulo na segunda metade do século XIX já começava a atrair novos imigrantes, e também imigrantes transferidos de outras regiões. Em 1864 foi fundada a Sociedade Beneficente Alemã, que até hoje presta bons serviços à comunidade alemã de São Paulo.

  Novas levas de imigrantes chegaram a São Paulo entre as duas guerras, e depois de 45. São Paulo tem hoje a maior representação de habitantes originários e descendentes de países de língua alemã no Brasil, à frente mesmo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Não há nenhuma outra cidade no mundo com o número de empregados em indústrias de capital alemão, como tem São Paulo, e aí incluímos qualquer cidade alemã, inclusive Berlim, München, Hamburg e outras.

  Além dessa atividade intensa na área econômica, devemos destacar que existe um esforço enorme e muito bem sucedido de colaboração na área cultural. Tanto a cultura alemã vem sendo divulgada com grande sucesso no Brasil, como a cultura brasileira vem sendo divulgada na Alemanha. Para isso muitos contribuíram; um grande exemplo é o do Instituto Goethe, que vem fazendo um trabalho admirável nesse sentido.

  É para nós todos aqui presentes hoje uma satisfação saber que um artista brasileiro, de origem alemã, Heinz Butrick, teve um dos seus quadros - um excelente artista, por sinal, admirado por todos nós - instalado aqui nesta Casa. Para nós é uma homenagem e uma honra muito grande, e agradecemos.

Se por um milagre de Deus pudéssemos mostrar aos primeiros imigrantes que aqui chegaram o muito que eles ajudaram a construir, com certeza, eles ficariam orgulhosos, assim como todos aqui presentes estamos orgulhosos da contribuição legada por eles para a constituição da nação brasileira que tanto amamos.

Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Nós que agradecemos pela bela aula que nos foi dada.

Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Heinz Peter Behr, Cônsul Geral da República Federativa da Alemanha.

 

O SR. HEINZ PETER BEHR - Prezado Deputado e amigo Roberto Engler, Sra. Úrsula Dormien, Sr. Hermann Wever, Sr. Stefan Von Galen, é uma honra e, ao mesmo tempo, uma grande alegria para mim, poder estar presente nestas festividades em comemoração ao Dia da Imigração Alemã.

Este é um dia no qual vocês brasileiros de origem alemã e alemães aqui presentes se recordam da imigração que faz parte da sua história e da sua terra de origem. Tudo isso tem a sua razão de ser.

Nós, humanos, somos criaturas culturais e sabemos que a história também faz parte da cultura. Somos apenas aquilo que é visível aos olhos dos outros neste momento, mas, na nossa existência atual, somos marcados pela nossa história, uma parte inseparável de nós.

A Alemanha, os alemães e eu, como representante daquele país e de seu povo, temos orgulho de fazer parte da história de um número tão grande de brasileiros. Esse fato cria um laço permanente, e todos devemos lidar com isso da melhor forma possível.

Nesse sentido, nós, alemães, estamos muito satisfeitos com os grandes feitos que remetem a nomes de imigrantes alemães no Brasil. Ao mesmo tempo, sabemos que nem todos imigrantes tiveram sucesso, assim como sabemos das necessidades e privações pelas quais muitos tiveram de passar.

Hoje é um dia para lembrarmos principalmente das conquistas. Na minha opinião, todos os senhores que festejam este dia alcançaram muita coisa. Os senhores e as senhoras devem ter orgulho de seu passado e podem olhar seu futuro com confiança.

Da minha parte, quero cumprimentá-los por esta festa, fazendo votos de que o elo com a Alemanha continue existindo, pois consiste em uma importante contribuição para as boas relações entre o Brasil e a Alemanha.

Prezado Deputado Roberto Engler, peço permissão para pronunciar algumas palavras em alemão.

 

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  - Pronunciamento em língua estrangeira.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Meus queridos amigos e autoridades que compõem a mesa; querido cônsul Heinz Peter Behr; querida Úrsula Dormien; palestrante Hermann Wever; querido amigo Stefan von Galen; quero rapidamente dizer da satisfação que temos de comemorar mais uma vez, aqui na Assembléia Legislativa, o Dia da Comunidade Alemã. Já é uma tradição que o nosso amigo Stefan busca transformar até em lei. Foi me dada a honra de propor esta Sessão Solene, o que agradeço como instrumento desta festividade.

Goethe, um dos maiores escritores alemães, afirmou que a amizade é como os títulos honoríficos: quanto mais velha, mais preciosa. Que nossa amizade se estenda por muitos e muitos anos ainda. São os votos que sinceramente faço.

Quero cumprimentar a todos, agradecer o empenho do meu amigo Sefan von Galen, sem o qual este dia não seria tão perfeito. Sua dedicação à causa é algo que nos deixa emocionados.

Foram muitos os brilhantes discursos que retrataram bem a importância dos alemães na construção do nosso querido Brasil. Mas há algumas coisas interessantes. O primeiro alemão a chegar ao Brasil foi o astrônomo e cosmógrafo Meister Johann. Foi ele que, acompanhando Pedro Álvares Cabral, forneceu a certidão de nascimento do Brasil. Logo, o Brasil nasceu com uma certa paternidade alemã. Há quem diga que na esquadra do descobrimento existia, anonimamente, um cozinheiro alemão. Imagino que essa viagem deve ter sido uma gostosura, regada a chucrute, a joelho de porco, cerveja artesanal. Deve ter sido uma viagem e tanto.

 Mas, nos primeiros anos no Brasil, ainda tivemos o prazer de receber outro alemão que contribuiu para a nossa história. São de Hans Staden alguns dos principais textos da nossa Literatura Quinhentista. Portanto, com descrições pormenorizadas dos primeiros momentos no Brasil. Se Meister Johann registrou o nascimento, outro alemão, Hans Staden, contemplou a infância brasileira.

            A característica principal dos alemães, não só dos que vieram ao Brasil, sem dúvida alguma é o empreendedorismo, que já foi abordado aqui. O perfil de quem chegava era o de construir, de adicionar, de colaborar. O perfil que contribuiu de maneira fantástica no desenvolvimento do nosso País, e o Brasil tem que agradecer essa contribuição tão maravilhosa. Portanto, valiosas contribuições chegaram no momento em que o bebê de Johann e a criança de Staden buscavam chegar à maioridade. É uma história de contribuições: nascimento, infância, maioridade. Há vários nomes, que não sei se os lerei corretamente: Scherer, Fisher, Köll, Scheidt, Lorscheider, Bresser, Hammer, Johannpeter, Hummes, Engler... esse nem tanto.

            Assim, amigos e amigas, render homenagens, reconhecer, louvar e preservar. São ações necessárias e, acima de tudo, são ações meritórias, ações que hoje executamos aqui.

É uma honraria irmanar e ombrear, lado a lado, junto a vocês, considerados nossos amigos. Que a originalidade alemã seja sempre cultuada e mantida nessa união absolutamente bem sucedida entre a Alemanha e Brasil! Obrigado. (Palmas.)

Amigos, esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades elencadas, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade. Esta Presidência os convida também para um coquetel no Hall Monumental.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e sete minutos.

 

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