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23 DE OUTUBRO DE 2000

40ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO MILÉSIMO ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DO ESTADO HÚNGARO

 

Presidência: JORGE CARUSO

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 23/10/2000 - Sessão 40ª S. Solene Publ. DOE:

Presidente: JORGE CARUSO

COMEMORAÇÃO DO MILÉSIMO ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DO ESTADO HÚNGARO

 

001 - JORGE CARUSO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Anuncia que a sessão foi convocada pela Presidência com a finalidade de comemorar o Milésimo Aniversário da Fundação do Estado Húngaro. Convida todos a ouvirem as execuções dos hinos nacionais húngaro e brasileiro.

 

002 - LASZLÓ KAPOS

Como Presidente da Casa Húngara de São Paulo, cumprimenta o Presidente Jorge Caruso e demais autoridades. Relembra que o dia 23 de outubro é a data nacional na Hungria e nesse mesmo dia foi decretado o "Dia da Hungria" pelo município de São Paulo, em homenagem ao levante do povo húngaro contra a opressão soviética, iniciado também em 23 de outubro de 1956. Disserta sobre a história da Hungria país que, devido à sua localização geográfica no centro da Europa, foi constantemente exposto a ameaças de potências expansionistas.

 

003 - Presidente JORGE CARUSO

Anuncia um número musical.

 

004 - TIBOR RABOCZKAI

Na qualidade de professor na Universidade de São Paulo, refere-se aos fatores histórico-políticos que motivaram a vinda de húngaros para o Brasil. Fala de sua geração que experimentou o entrechoque cultural e político dos dois mundos, do que ficou para trás e o mundo da nova pátria, com a longa aculturação.

 

005 - IRENE BODNÁR

Representante da juventude húngara, cumprimenta as autoridades. Enaltece a acolhida recebida pelos imigrantes húngaros por parte dos brasileiros. Sublinha que se herdaram mil anos de cultura, receberam também a força daquele povo húngaro que, nos momentos mais críticos de sua história, sempre soube se manter de pé.

 

006 - Presidente JORGE CARUSO

Anuncia um número musical.

 

007 - FERENC  PÁL

Chefe da Cátedra de Português na Universidade Elte de Budapeste, saúda o Presidente Jorge Caruso e demais autoridades. Discorre sobre os contatos existentes entre o Brasil e a Hungria e entre o povo brasileiro e o povo húngaro.

 

008 - Presidente JORGE CARUSO

Anuncia um número musical.

 

009 - BRUNO FEDER

Na condição de Vereador à Câmara Municipal de São Paulo, parabeniza o Presidente Vanderlei Macris pela convocação da sessão e pela escolha do Deputado Jorge Caruso para presidi-la. Saúda as autoridades presentes. Mostra-se feliz em estar vivenciando um momento como este, tão importante para a comunidade húngara.

 

010 - TAMÁS RÓZSA

Como Embaixador da Hungria, saúda as autoridades presentes. Agradece ao Presidente da Casa por convocar o Legislativo para esta sessão e designar o Deputado Jorge Caruso para dirigi-la. Fala do 23 de outubro de 1956, data da revolução húngara e a luta pela independência. Historia a formação do Estado Húngaro.

 

011 - Presidente JORGE CARUSO

Fala da honra para o Poder Legislativo do Estado em abrir a Casa para acolher os irmãos da República da Hungria e lhes dá os parabéns pelos mil anos de fundação. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB  - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

  - É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Esta Presidência, por acordo, dispensa a leitura da ata da reunião anterior, e passa a nomear as autoridades presentes: Exmo. Sr. Tamás Rozsa, Embaixador da República da Hungria no Brasil (Palmas); Exmo. Sr. Dom Ernesto Linka, Abade do Mosteiro São Geraldo de São Paulo; Exmo. Sr. András Basch, Cônsul-Geral da Hungria em São Paulo; Exmo. Sr. Laszló Kapos, Presidente da Casa Húngara de São Paulo; Exmo. Sr. Achot Zarian, Cônsul-Geral da Armênia em São Paulo; Exmo. Sr. Lothar Versyck, Cônsul-Geral da Bélgica em São Paulo; Exmo. Sr. Li Chunhua, Cônsul-Geral Adjunto da República Popular da China em São Paulo; Exmo. Sr. Mustapha Abdonni, Cônsul Honorário do Reino Hashemita da Jordânia, em São Paulo; Exmo. Sr. Fábio Ferraz Bicudo Júnior, Cônsul-Geral de Honduras em São Paulo; Exmo. Sr. João Grimberg, Cônsul-Geral da República da Letônia, representando o Sr. Italo Bagio, Presidente da Associação dos Cônsules Honorários do Brasil; Exmo. Sr. Igor R. Fedochenko, Cônsul-Geral da Federação da Rússia, em São Paulo; Exmo. Sr. Quagliotti Silvestri, Adido Cultural do Consulado Geral de San Marino, em São Paulo; Srs. Dirigentes das Organizações de Origem Húngara; Srs. Membros da Colônia Húngara, Senhoras e Senhores e ainda, com o perdão, Sr. André  Lisowski, Cônsul-Geral da República da Polônia; Srs. Deputados, Senhoras, Senhores, esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva desta Casa, na pessoa do Sr. Vanderlei Macris, com a finalidade de comemorar o Milésimo Aniversário da Fundação do Estado Húngaro.

Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos os hinos Nacional Húngaro e Brasileiro, executados pela banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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São executados os hinos.

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O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Esta Presidência deseja registrar ainda a presença das seguintes autoridades: Exmo. Sr. Bruno Feder, Vereador da Câmara Municipal de São Paulo; Sr. Ferenc Pál, Chefe da Cátedra de Português, da Universidade de Elte de Budapeste; Sr. Tibor Raboczkai, Professor da Universidade de São Paulo; Sra. Irene Bodnár, representante da Juventude Húngara.

Neste momento a Presidência concede a palavra ao Sr. Laszló Kapos, Presidente da Casa Húngara de São Paulo.

 

O SR. LASZLÓ KAPOS - Exmo. Sr. Deputado Jorge Caruso, Exmo. Sr. Vereador Bruno Feder, Exmo. Embaixador da Hungria, Exmo. Cônsul-Geral da Hungria, membros do Corpo Consular, hoje é um dia muito especial para os húngaros e descendentes de húngaros radicados em São Paulo. Neste ano festejamos os 500 anos do Descobrimento do Brasil e por coincidência também o milésimo aniversário do Estado Húngaro. Vinte e três de outubro é a data nacional na Hungria, foi decretado o “Dia da Hungria” pelo Município de São Paulo em homenagem ao levante do povo húngaro contra a opressão soviética, que se iniciou exatamente em 23 de outubro de 1956. Não foi a primeira luta do povo húngaro pela sua liberdade. Durante a sua longa história, a Hungria, em razão da sua localização geográfica no centro da Europa, foi constantemente exposta a ameaças de potências expansionistas. Durante o milênio, os mongóis, os turcomanos, os austríacos, os russos, os alemães, os soviéticos, ameaçaram, atacaram, invadiram a Hungria e durante algum tempo mantiveram-na ocupada. Mas o povo húngaro, amante da liberdade, sempre resistiu aos invasores. Quando foi possível, por meios pacíficos, diplomáticos, políticos, com resistência passiva, mas muitas vezes teve de lutar com armas nas mãos para defender ou reconquistar a sua independência. A última dessas lutas aconteceu no mês de outubro de 1956.

Durante as guerras, depois das guerras, em épocas de turbulências, perigos e sofrimentos, muitos húngaros abandonaram a sua pátria. Fugiram da Hungria para salvar suas vidas e também para procurar uma terra hospitaleira longe das turbulências da Europa, onde pudessem recomeçar uma nova vida com novas esperanças. Foi assim que dezenas de milhares de húngaros chegaram ao Brasil. Descobrimos por acaso uma pequena cidade em Santa Catarina chamada Jaraguá do Sul, cujos ascendentes chegaram da Hungria no fim do século passado. A maioria, porém, chegou ao Brasil neste século em três grupos: o primeiro foi depois da Primeira Grande Guerra; o segundo foi depois da Segunda Guerra Mundial e o terceiro chegou justamente depois do levante de 1956. Muitos dos húngaros que aportaram aqui, chegaram sem recursos, sem falar o português e sem saber o que esperar. Para nossa grande surpresa e admiração, fomos recebidos carinhosamente e de braços abertos pelo povo brasileiro. Acho que não há nenhum outro país no mundo que tenha recebido refugiados imigrantes com tanta boa vontade e generosidade como o Brasil. Desde os primeiros momentos de nossa chegada sentimos a boa vontade do povo, dos nossos novos amigos brasileiros, dos nossos novos colegas de trabalho e dos nossos novos vizinhos. Eles nos encorajaram, apoiaram, ajudam, incentivaram para recomeçarmos uma nova vida e construir um lar permanente aqui no Brasil.

Sempre seremos gratos pela amistosa acolhida do povo brasileiro e esperamos que os nossos filhos e os nossos netos nascidos aqui possam retribuir a generosidade proporcionada aos seus pais e avós contribuindo com o seu trabalho para o bem-estar e desenvolvimento deste grande país. Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Ouviremos agora uma apresentação musical da Sra. Katalin Szvorak, acompanhada pelo pianista György Oravecz, ambos de Budapeste.

 

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É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Tem a palavra o Sr. Tibor Raboczkai, professor da Universidade de São Paulo.

 

O SR. TIBOR RABOCZKAI - Coube-me tecer alguns comentários em nome daqueles húngaro-brasileiros que aqui chegaram crianças ou adolescentes.

Começo recordando que entre as várias causas de emigração maciça se encontram a perseguição política perseguição étnica, o medo de um regime totalitário ou a pobreza.

Até o Tratado de Paz de Trianon, ou seja 1920, a busca de melhores condições de sobrevivência dominava a emigração húngara. A partir daí, com um  terço dos magiares separados da Pátria pelo traçado das novas fronteiras, fugir da opressão étnica tornou-se a motivação decisiva para os que, na própria terra natal, passaram a ser considerados cidadãos de segunda classe, ou mesmo inimigos do estado pelos países que se apoderaram de territórios da Hungria.

Já a motivação política como indutora da emigração começou a ganhar importância à medida que a sombra de Hitler se projetava sobre a Europa e, mais tarde, se tornou aguda, com dezenas de milhares de húngaros fugindo das atrocidades do exército de Stalin. Uma nova onda emigratória ocorreu quando os soviéticos esmagaram a revolução operária antitotalitária em 1956.

É importante considerar isso, pois a motivação emigratória imprime as características comportamentais dos recém-chegados - os que, por sua vez influenciam as atitudes da geração intermediária, isto é, dos que nasceram na velha pátria e aqui chegaram crianças ou adolescentes.

A geração dos nossos pais, trouxe consigo as suas convicções e esperanças - conceitos e preconceitos - cultivou-as e as manteve intatas. A outra geração, a dos nossos filhos, por sua vez, teve a visão, os sentimentos, formados nas circunstâncias sociais e culturais nas quais nascera e crescera.

A geração intermediária, a minha, porém, foi triturada no entrechoque cultural e político dos dois mundos: o mundo que ficou  para trás, mas que através de nossos pais permanecia fortemente representada o mundo real que era a nova pátria.

Lá estava o Cardeal Mindszenthy, ícone da resistência das Igrejas à supressão da liberdade religiosa e política; aqui Dom Helder Câmara, símbolo da preocupação da Igreja com a justiça social e da liberdade política. De lá: as lembranças e notícias da ditadura da esquerda; aqui: a visão de países latino-americanos que iam se perfilando entre as ditaduras da direita. Só para citar dois exemplos.

Com tais contradições, acabamos assumindo posições, posturas freqüentemente antagônicas, à medida que íamos adquirindo a consciência de nossa cidadania, e nos decidíamos participar da vida política da nova pátria.

No presente as coisas já estão mais assentadas. De um lado nós ansiamos por transmitir ao país algo das preocupações e desconfianças que herdamos da cultura política européia, que nos ensinou não haver limite, nem inibição moral alguma, quando se trata de um país mais poderoso se apossar dos recursos vitais alheios.

Por outro lado, desejamos mostrar ao mundo que o Brasil, longe de figurar no cenário da política internacional apenas como aprendiz, tem é muito que ensinar à velha Europa das guerras, dos ódios raciais e às outras regiões conflagradas do globo, o Brasil tem a ensinar a aceitação ‑ aos nossos olhos - serena e cordial, da diversidade racial, étnica, política, religiosa.

E aí se encontra a síntese dos conflitos  da nossa geração.

A geração intermediária de  imigrantes conquistou sua brasilidade num processo de aculturação longo, complexo, por vezes difícil ‑ por isso, essa conquista é tremendamente firme ‑ e se com a síntese de duas culturas construímos nossa riqueza cultural individual, nossa integração com nossa fidelidade ao Brasil são indeléveis.

Desse modo, festejamos com alegria os 1000 anos de existência da Hungria e os 500 do Brasil!

Obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Assistiremos agora a uma apresentação musical, pela Sra. Katalin Szvorak, intérprete de canções folclóricas húngaras, de Budapeste.

 

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É feita a apresentação do número musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Tem a palavra a Sra. Irene Bodnár, representante da juventude húngara nascida no Brasil.

 

A SRA. IRENE BODNÁR - Autoridades presentes, senhoras e senhores, boa noite. Este ano é duplamente festivo para todos nós, pois estamos comemorando o quingentésimo aniversário do nosso jovem Brasil e o milênio da criação do Estado Húngaro. Nós, jovens húngaros nascidos no Brasil, sentimo-nos duplamente sortudos. Primeiramente, por ter nascido no país que recebeu nossos pais de braços abertos, tão diferentemente de outros países do mundo, cujas população são frias e preconceituosas diante do fugitivo de guerra, do perseguido político, do imigrante. Nós, aqui, nascemos livres, nunca fomos perseguidos por termos sobrenomes, muitas vezes, impronunciáveis ao brasileiro. Aqui crescemos, recebemos nossa instrução e somos cidadãos que passam pelos mesmos transtornos diários que qualquer um, mas explodimos de orgulho por pertencer a esta terra tupiniquim, quando ouvimos o Hino Nacional Brasileiro numa olimpíada ou Copa do Mundo. Mas somos sortudos também, por herdarmos uma cultura milenar riquíssima de nossos pais. Ser húngaros está no nosso sangue, nos nossos traços. Muitos pensam que ainda preservamos os costumes e a língua húngara por vontade ou até imposição de nossos pais, mas isto não é verdade.

Um escritor húngaro disse que só poderemos ser seres humanos completos se não negarmos nossa identidade, nossas raízes, nosso legado. Nossos pais somente nos deram os instrumentos necessários para que desenvolvêssemos e ampliássemos nossa herança cultural.

Cada um de nós que continuamos o trabalho de manter, divulgar e ensinar os costumes, as crenças e o folclore húngaro, fizemos nossa escolha consciente e sabemos que depende só de nós que as próximas gerações ainda tenham a opção desta escolha.

Somos os únicos responsáveis pelo futuro dos húngaros no Brasil. Só temos as ferramentas recebidas de nossos pais e dos que vieram antes de nós e uns aos outros.

Somos cada vez em menor número e por isso estamos nos apoiando e nos unindo cada vez mais, superando até antigas diferenças.

Com menos pessoas, o trabalho recai nos que ficaram e está cada vez mais difícil conciliar a vida pessoal e as responsabilidades assumidas na colônia. Mas se herdamos mil anos de cultura húngara, herdamos, também, a força deste povo que nos momentos mais críticos de sua história, nas maiores dificuldades, sempre soube se manter em pé.   Não pedimos nada a ninguém, nem esperamos reconhecimento, mas exigimos respeito não só pelo que somos e fazemos, mas principalmente pelo que representamos.

O nosso lema é o de Imre Madách, um dos gigantes da literatura húngara: “Homem, luta e confia”.

Temos ainda o privilégio de ter o exemplo do povo brasileiro com maior alegria e esperança num futuro melhor.

Reafirmando o profundo orgulho de sermos húngaro-brasileiros, queremos demonstrar nossa gratidão e a de nossos pais a este País em que todos os povos de todas as raças têm condições e direitos assegurados pela Constituição de viverem em paz e harmonia.

Que Deus nos abençoe! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Assistiremos a uma nova apresentação pela Sra. Katalin Szvorak.

 

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É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Tem a palavra o Sr. Ferenc Pál, chefe da Cátedra de Português da Universidade Elte, em Budapeste.

 

O SR. FERENC PÁL - Sr. Presidente Jorge Caruso, estimados Srs. representantes do corpo diplomático, estimados senhores e senhoras, minha tarefa esta noite é falar sobre os contatos culturais entre o Brasil e a Hungria. Aliás, palavras um pouco desgrenhadas, porque acho que não podemos falar sem emoção sobre esses contatos existentes entre o povo brasileiro e o povo húngaro. Não se trata aqui, enquanto história, sobre uma simples relação cultural entre os dois países, porque há certos momentos que ultrapassam esses simples contato cultural; acho que esses dois povos se aproximam numa semelhança de mentalidade vinda da tradição.    Esta idéia, pela qual começo esta minha pequena palestra de hoje, vem de uma leitura que fiz de “Macunaíma”, em que, há anos, descobri um motivo muito interessante que existe no fundo da nossa tradição como povo. Esse momento foi no final do segundo capítulo, quando “Macunaíma” - que, bem sabemos, é quase a epopéia nacional do Brasil nascido no Modernismo - diz, vangloriando-se aos seus irmãos, que matou uma serva que era nossa mãe. Este é o motivo que se encontra também no fundo da nossa tradição, porque, sendo húngaro, um povo nômade, tinha  herdado do matriarcado, quando uma serva levou uma parte da tribo às novas terras, e, quando chegaram, os seus filhos mataram essa serva. Como bem podemos ler na nossa epopéia nacional, escrita por um poeta do século passado. Contudo, quero dizer que, no fundo, podemos ser irmãos e muito semelhantes. Além disso, há outros momentos importantes que nos aproximam. O povo húngaro chegou à Bacia dos Krapates e desenvolvia-se, naquele lugar, como um posto com muitos povos, muitas raças e muitas culturas, o mesmo que o povo brasileiro, que se foi formando durante muitos anos, sendo composto, nesta terra, de muitos povos, que trouxeram consigo sua cultura e seu pensamento.

Podemos orgulhar-nos muito, porque podemos dizer que estávamos aqui nos primeiros momentos do nascimento do Brasil. Segundo tenho notícias, de diferentes fontes, uns vinte anos depois do descobrimento do Brasil, um tal mestre da Artilharia, Janos Varga, da expedição de Magalhães, esteve nas terras futuramente brasileiras, e passou quase duas semanas aqui, na zona do Rio de Janeiro. Havia, também, uma presença húngara, porque, no sul do Brasil, a Lagoa dos Patos tinha o nome, como aparece, mesmo hoje, nos mapas ingleses, de ‘Lagoa Húngara’. Esta é uma parte em que os húngaros participaram do descobrimento do Brasil. Mas havia um outro momento, no século XVI, quando um nosso poeta húngaro, aliás um homem de guerra, Miklós, que escreveu um grande poema sobre os húngaros, num de seus libelos contra os turcos, pronunciava-se assim: ‘Vamos pedir umas terras aos espanhóis, porque sabemos que, no Brasil, há grandes e vastas terras despovoadas. Vamos trasladar-nos do perigo’. Essas palavras já traçam uma linha do futuro, quando o Brasil aparece para nós, húngaros, como uma terra prometida, uma terra que, depois, os húngaros vinham povoar, junto com os outros povos, encontrando aqui uma casa. E podiam não encontrar uma casa, porque esta terra sempre foi conhecida pelos húngaros, de maneira que, já nos séculos XVII e XVIII, passaram por aqui jesuítas húngaros, que participavam no descobrimento e descrição desta terra.

Outro momento que quero sublinhar é um momento curioso, quando, podemos dizer assim, um pouco levianamente, o povo brasileiro retribuiu aquela devoção que tinham os húngaros por essa terra, o Brasil. Isso aconteceu nos anos 60, no século XIX, quando, segundo tenho notícias, um livro, de uma francesa, Mme. Clémence Robert, divulgou-se amplamente entre os representantes da classe dominante brasileira. Esse livro foi escrito sobre Lájos Közsu, herói da guerra da liberdade húngara, de 1848 e 49. Foram aqueles momentos que lançaram os alicerces entre os dois povos. O que veio depois foi já a construção, a casa que significa as relações entre os dois povos - o brasileiro e o húngaro. Os húngaros no século XIX, descobrindo o Brasil não apenas através dos imigrantes, mas através também de um imenso número de livros, dos quais quero mencionar um livro, de Ontar Stromgel, em dois tomos, publicados em 1867 e 1870, no qual descreveu sua viagem ao Brasil, ida e volta, como ele mesmo falava. Depois, o Brasil, tão bem descrito, nesta época, por diferentes livros e por diferentes artigos, tornou-se um lugar familiar para os húngaros, por alguns pormenores estranhos. O primeiro foi que nós, depois da Primeira Guerra Mundial, perdemos 60% do nosso território nacional e, como aqueles territórios que ficavam fora das fronteiras húngaras, povoados por húngaros, tínhamos um contato especial, de maneira que sentíamos aqueles territórios como nossos. Eles, contudo, não o eram. 

A mesma coisa passou-se com o Brasil, se me permitem tal comparação, porque tínhamos o mesmo tipo de contato afetuoso com o Brasil, nos anos 20 e 30, que tínhamos com os territórios da Transilvânia e os outros, desanexados da Hungria, porque todos os livros e relatos falam-nos sobre um Brasil que é amigo, um Brasil que não é nada exótico, um Brasil que dá lugar aos húngaros. Bem sabemos que, nessa época, no território brasileiro, podiam nascer aldeias húngaras, que guardavam as lembranças das terras e mentalidade húngara, que os imigrantes trouxeram ao Brasil. Por outro lado, o Brasil permitia, amigavelmente, essa presença húngara em seu território.

Falando agora algumas palavras sobre nossos contatos culturais, posso dizer que, entre os países latino-americanos, foi o Brasil que chegamos a conhecer primeiramente, porque, já em 1911, foi publicado um conto de Machado de Assis, em folhetins de uma revista de Budapeste. Depois disto, em cada lustro, encontramos uma publicação brasileira. Nos anos 20 uma senhora, que pertencia à migração húngara, traduziu ‘O Guarani’, de José de Alencar. Nos anos 30 apareceram contos de Monteiro Lobato, em húngaro, e, no final desta década, em 1939, foi Paulo Ronay quem publicou seu livro de poesia brasileira, ‘Mensagem do Brasil’. E com esse livro, de Paulo Ronay, o Brasil chegou a ocupar um lugar nos horizontes literários-culturais, pois acho que foi esta a primeira publicação literária que deu valor à literatura brasileira na Hungria e na Europa, porque, dadas as condições especiais históricas daquele tempo, Paulo Ronay e outros divulgadores do livro, disseram que, no Brasil, existe uma literatura e uma poesia que podem continuar os valores da poesia européia no novo continente. Com isto incluíam a literatura brasileira na mentalidade húngara, ao mesmo tempo em que um outro escritor daquela época fala, com as mesmas palavras, sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis, que leu em francês. Dizia, no entanto, que Dom Casmurro era uma obra de valor europeu, que continha o mesmo valor que os melhores romances franceses e ingleses. A esta altura, então, o Brasil passou a ter um lugar privilegiado na Hungria.

Por outro lado, éramos um povo receptivo, que queria procurar aqueles valores com que poderia edificar-se. Mandava, no entanto, para fora da Hungria, aquelas pessoas que poderiam servir à causa da cultura húngara. Um dos seus enviados, que não é um enviado propriamente voluntário, mas que fez muito bem à cultura e à literatura húngara, foi Paulo Ronay, que desenvolveu uma grande atividade no Brasil, divulgando, de um lado, a nossa literatura, e a nossa preparação cultural do outro. Sempre ouço falar sobre ele com a maior estima e respeito. Foi ele que fez conhecer aqui a nossa mentalidade, o nosso pensamento, a nossa realidade através da literatura, através dos meninos da Rua Paulo, que chegou a ser mesmo uma leitura obrigatória nas escolas, mas também através da tradução, com o apoio de Jair Campos, da tragédia do homem, essa obra insigne, eterna e também através da sua antologia do conto húngaro, que despertou o mesmo interesse de Guimarães Rosa, que talvez tenha aprendido algumas palavras húngaras, porque ele elogiou essa língua, que é nossa e neste momento Haroldo de Campos é que tem interesse pela nossa língua.

A presença do Brasil continua na Hungria, através da publicação de livros e através das informações regulares que nós temos sobre o Brasil, naturalmente, através desse fenômeno genuíno da telenovela, com que o Brasil podia surpreender o mundo de tal maneira como a poesia concreta, que são genuinamente brasileiras. Do outro lado, enviamos as pessoas que ajudam a formar uma cultura. Podíamos sempre exportar pessoas científicas, como eram os científicos que trabalhavam na Física Nuclear na América do Norte, antes e durante a 2ª Guerra Mundial e aqui também temos aquelas mentes doutas, que podem servir à causa húngara, servindo à causa brasileira.

Só quero mencionar aquelas duas figuras, que continuam a tradição de Paulo Orona e o tradutor crítico literário e poeta, que traduz a poesia húngara para o português do Brasil e traduziu uma meia dúzia de livros, divulgando assim a nossa cultura. Com esses exemplos queria dizer que se trata de um fenômeno vivo e não queria só fazer uma lista dos nossos contatos, senão também queria falar sobre esses alicerces que nos unem para mostrar que apesar de haver algum tempo, lacunas ou tempos vazios, os nossos dois povos tendo a mentalidade semelhante podem no futuro também ter os contatos e podem os dois povos sair - eu acho que é muito importante sair para o palco da cultura universal, como aqueles atos que tanto o povo húngaro como brasileiro vão fazer no futuro.

Muito obrigado. (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Neste momento ouviremos uma nova apresentação musical, realizada pela Sra. Kátalin Szvorak, acompanhada pelo pianista Guörgy Oravecz.

 

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É feita a apresentação musical pela Sra. Katalin Szvorak

 

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O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Tem a palavra o Sr. Bruno Feder, Vereador à Câmara Municipal de São Paulo.

 

O SR. BRUNO FEDER - Quero antes de tudo parabenizar o Deputado Vanderlei Macris, presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo pela convocação desta sessão e sobretudo pela felicidade da escolha do Deputado Jorge Caruso, convidando-o para presidir a esta sessão.

Com certeza, a comunidade húngara já tem mais um adepto aqui da nossa Assembléia para os próximos eventos, não é mesmo, Sr. Deputado? Mas de uma certa forma, senhoras e senhores, sem fugir do cerimonial, quero cumprimentar o Sr. Embaixador da Hungria, o Sr. Cônsul-Geral, os representantes dos consulados, e dizer que é fascinante poder novamente estar vivenciando um momento como este. Temos uma série de expressões: um dia especial, um momento especial, uma data especial.

Efetivamente, a Hungria dispensa qualquer comentário, pela sua magnífica, sua emocionante história, sobretudo com a comemoração dos mil anos da Fundação do Estado Húngaro. Todos que aqui falaram deixaram aqui um pedaço, talvez  uma parte de ensinamento. Sempre aprendemos. Eu me recordo de que em todas as sessões  que tivemos a oportunidade de comemorar na Câmara Municipal de São Paulo esta data, sempre se precedeu com uma série de expectativas por parte da organização do Consulado, das pessoas envolvidas, por nossa parte, da nossa assessoria, da nossa equipe, sempre foi um momento muito esperado todos os anos. Permito-me aqui plagiar a representantes dos jovens aqui da Hungria, quando disse que era sortuda. Eu particularmente sinto-me sortudo por ser protagonista de em 1991 ter instituído o Dia da Hungria no município de São Paulo, e particularmente isto me engrandece por estar hoje na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo comemorando esta data e compartilhando este momento muito alegre, muito feliz.

Temos que seguir em frente. Participamos recentemente de uma eleição, perdemos a eleição, mas em nenhum momento vou perder a admiração, a dedicação que sinto, o carinho que tenho pelo povo húngaro.

Espero que no próximo ano possamos estar aqui novamente comemorando esta oportunidade. Obrigado a todos. Boa noite. (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Tem a palavra o Exmo. Sr. Tamás Rózsa, Embaixador da Hungria.

 

O SR. TAMÁS RÓZSA - Senhor Presidente, autoridades presentes, prezadas Senhoras e Senhores, antes de mais nada, gostaria de agradecer ao Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Exmo. Senhor Deputado Vanderlei Macris, por convocar o Legislativo para esta Sessão Solene e o Sr. Deputado Jorge Caruso por presidir esta sessão, para que brasileiros e húngaros possam comemorar juntos os quinhentos anos do Descobrimento do Brasil e os mil anos da formação do Estado húngaro.

Agradeço especialmente ao Senhor Presidente, por ter escolhido a data de hoje, pois no dia 23 de outubro os húngaros do mundo inteiro recordam a revolução húngara e a luta pela independência de 1956, que foi o ato heróico nacional - de força e vontade própria - mais importante do povo húngaro neste século vinte, do qual restam ainda algumas semanas. Este é o motivo pelo qual o 23 de outubro tornou‑se um símbolo, muito antes das mudanças democráticas na Hungria.

No dia 23 de outubro de 1989 foi proclamada a República da Hungria, pois 1989 na verdade significou o cumprimento da continuação dos anseios e objetivos da revolução de 1936, assim como a realização de nossos sonhos de criar um estado de cidadãos livres em um país livre. E foi na espírito deste esforço que o Parlamento Húngaro decidiu, em 1991, declarar oficialmente o dia 23 de outubro como feriado nacional.

A luta pela independência e a revolução húngara de 1956 foi acompanhada com grande simpatia no mundo todo, e também aqui no Brasil. Sabemos que foi São Paulo o lugar onde naqueles dias históricos tanto húngaros como não húngaros demonstraram, de maneira mais intensa, a sua solidariedade para com a luta patriótica dos húngaros. E o Brasil, e dentro dele São Paulo, foi a cidade que acolheu um grande número de refugiados húngaros após a derrota da revolução, e que - como tantas vezes e para tantos húngaros neste século - acabou se tornando a segunda pátria dos emigrantes húngaros.

Não há palavras suficientes para agradecer o gesto que a Câmara Municipal de São Paulo fez ao honrar a Hungria, e a colônia húngara de São Paulo, declarando o dia 23 de outubro como "Dia da Hungria". Com este gesto, por um lado codificou o seu respeito pela revolução e luta pela independência húngara, e por outro lado expressou o seu compromisso incondicional para com a democracia. Eu gostaria de expressar aqui, os agradecimentos em nome de todos os húngaros, ao vereador Bruno Feder por esta iniciativa, que recebeu do Presidente da República da Hungria a Cruz de Ordem de Mérito da República da Hungria, por suas continuas e perseverantes atividades em prol do desenvolvimento das relações entre os dois países.

Este ano, nós, húngaros, comemoramos o milésimo aniversário da fundação de nosso Estado. As tribos nômades húngaras, chefiadas pelo príncipe Árpád, chegaram e se fixaram na bacia dos Cárpatos, no ano de 896. Os descendentes de Árpád, o príncipe Géza e especialmente seu sucessor, nosso primeiro rei Estêvão, reconheceram que a hungaridade somente poderia sobreviver se fizesse esforços para um entendimento pacífico com seus vizinhos, procurando contato com o cristianismo, e se deixasse de lado o modo de vida nômade, passando para a agricultura.

O rei Estevão, que assumiu o cristianismo com a finalidade de manter a independência do país, pediu e recebeu do Papa Silvestre II a coroa, no ano mil. Assim ele se tornou independente tanto do império germano‑romano, como do império bizantino. A coroa recebida do Papa significou também a admissão simbólica em nível mais elevado do cristianismo. Nós, húngaros, contamos a partir dessa data a fundação do nosso Estado. Nosso rei Estêvão - canonizado pela igreja católica algumas décadas após a sua morte - com sua decisão acabou unindo a Hungria, inequívoca e definitivamente à Europa, optando também assim, por direcionar seu país para o ocidente, e por seguir aqueles valores professados pelos países desenvolvidos da época no continente.

Santo Estêvão realizou seu objetivo: sob a orientação de um forte poder central - transformou um país composto por diversas procedências e nacionalidades em um Estado de cultura ocidental, independente e cristão. Quero mencionar duas citações que caracterizam o pensamento de chefe de Estado do rei Estêvão:

Primeira: “Lembre‑se sempre, de que todos os homens nascem iguais, e que nada enobrece, somente a humildade, e que nada derruba, somente a arrogância e o ódio".

A outra: “Visitantes e estrangeiros movem lucros tão grandes que com razão podem ser considerados como dignidades reais" (...) “como os visitantes provêem de diferentes regiões e províncias, trazem consigo diferentes idiomas e costumes, diferentes exemplos e armas, e tudo isso enfeita o país, elevando o brilho da corte, intimidando os estrangeiros de se vangloriar. Porque o país de idioma e costume único é fraco e perecível". Pensando bem: essas palavras têm quase mil anos. Quase mil anos e mesmo assim, parecem uma mensagens para hoje e amanhã.

Hoje, depois de mil anos, podemos seguramente afirmar, que nosso rei Santo Estêvão - ouvindo e entendendo a voz dos tempos históricos - fez a opção correta: com sua obra, teve início uma nova vida na bacia dos Cárpatos e desde aquela época, uma grande série de gerações viveu sua vida naquele mesmo lugar. Com sua visão aguçada e vontade férrea, Santo Estêvão realizou a tarefa que o destino lhe reservou: criar de uma vez por todas o país dos húngaros. E nós, húngaros de hoje, ganhamos do destino a chance de viver e festejar o milésimo aniversário da fundação do Estado húngaro, o Milênio húngaro.

Prezadas Senhoras e Senhores!

O Estado húngaro de mil anos é para a comunidade húngara uma criação grandiosa e duradoura, uma criação conjunta, que se originou do trabalho, do sofrimento, das derrotas, das vitórias, das esperanças e da vontade de todas as gerações, e de todos os húngaros que viveram nestes mil anos. É uma criação conjunta, pertencente a todos nós que vivemos dentro e fora da Hungria. Quando reverenciamos a memória do rei que fundou o nosso Estado, lembramos com respeito, gratidão e reconhecimento de todos aqueles que cumpriram seu dever honestamente por 36 gerações.

Não foi fácil para a hungaridade sobreviver a todas as contrariedades que nos couberam nos últimos mil anos. Nós nos defendemos e - algumas vezes - até defendemos a Europa dos impérios conquistadores, ou devastadores que tentavam a assimilação. Primeiro os tártaros e depois os turcos devastaram o nosso país. Mais tarde o império Habsburgo dominou nossos séculos. O século vinte foi um desafio, especialmente para nós, húngaros. Foi um século amargo, agressivo, que quase destruiu a obra de Santo Estêvão. O país passou por nove mudanças de sistema, sobreviveu a nove formas de governo, quatro revisões de fronteiras, três revoluções, duas guerras mundiais e suportou que exércitos estrangeiros entrassem três vezes em seu território. Adquirimos nossos conhecimentos e nossa esperança no futuro às custas de sérias lições e perdas irreparáveis. A nação húngara perdeu, só nos últimos sessenta anos, mais de um milhão de pessoas: os que morreram na curva do rio Don, nossos compatriotas judeus deportados, os alemães expulsos, os que foram condenados a trabalhos forçados na União Soviética, os mártires de 1956 e os duzentos mil húngaros fortes e capazes, que foram obrigados a fugir do país. Fomos açoitados por uma série de golpes dolorosos, mas agüentamos.

Dez anos atrás, com a mudança do regime, tivemos uma oportunidade histórica única para que retornássemos definitivamente àquela comunidade de países desenvolvidos e democráticos, unidos pela característica comum que é o compromisso para com os valores fundamentais: a democracia, o estado de direito, o respeito pelos direitos humanos, entre eles os das minorias, a economia edificada sobre a propriedade privada e sobre a livre iniciativa. Na minha opinião, a serenidade que nos fortaleceu nestes mil anos e os resultados alcançados nos últimos dez, nos permitem afirmar que nossos sonhos estão começando a se realizar. Desde a mudança do regime, reina a estabilidade política na Hungria; nos últimos três anos, alcançamos um desenvolvimento econômico estável, duas vezes superior à média da União Européia; nossa integração euro‑atlântica - graças à nossa política externa coerente - está perto de se realizar: desde 12 de março de 1999 fazemos parte da OTAN, e temos todas as esperanças de passar a ser membro de plenos direitos da União Européia, em um breve espaço de tempo. Graças a isso tudo e também aos nossos esforços em prol da resolução pacífica da crise eslava meridional, a comunidade internacional considera a Hungria como fator de segurança da Europa Central.

Temos todas as esperanças de uma Hungria rica e forte, construída por - e para - homens livres e orgulhosos, de acordo com suas próprias necessidades. Uma Hungria que cresce, que se multiplica, independente e livre. O país dos húngaros, que é de todos nós. O sonho em comum dos húngaros que vivem dentro e fora da Hungria.

Como disse o primeiro‑ministro da Hungria, Viktor Orbán: “Que saibam e sintam todos os cidadãos da Hungria, que somente podemos ter grandes sonhos, se os tivermos juntos. Porque ninguém é dispensável. Porque todos são necessários e porque não podemos desistir do sonho de nenhum cidadão”. E continuando: “Sonhamos junto com eles uma nação rica e forte. Eles também faziam parte do sonho de Santo Estevão.”

Portanto vocês também, compatriotas que vivem em São Paulo, com seu trabalho, e graças à capacidade de adaptação exercitada desde Santo Estevão, e à cultura que vocês trouxeram de nossa pátria, conquistaram o respeito de sua segunda pátria, o Brasil, que comemora os quinhentos anos de seu descobrimento. Gostaria de agradecer aqui a todos os cidadãos de São Paulo, por acolherem com tanto carinho os meus compatriotas.

Obrigado pela sua atenção.

 

 

O SR. PRESIDENTE - JORGE CARUSO - PMDB - Senhoras e senhores, é uma grande honra para o Poder Legislativo do Estado de São Paulo - ­e para mim, como seu Presidente - abrir as portas desta Casa para acolher os queridos irmãos da República da Hungria, que hoje comemoram uma data ímpar: seu milésimo aniversário.

Nós, brasileiros, ainda neste ano, muito festejamos nossa história, edificada ao longo de 500 anos. Pois a idade da Hungria é justamente o dobro: uma longa história repleta de glórias e conquistas, ao longo do qual uma Nação de valores e cultura muito sólidos foi construída.

Desde a fundação do reino cristão, no século X, sob o comando de Estevão I, passando pela grandeza do Império Austro-Húngaro, a Hungria chega ao século XXI como um país democrático e aberto para o desenvolvimento e para o progresso. Hoje, a jovem Hungria de 1000 anos pode considerar‑se uma nação com grandes perspectivas de um futuro também glorioso, oferecendo aos seus mais de 10 milhões de habitantes ótimos indicadores de qualidade de vida, tais como: expectativa de vida de aproximadamente 70 anos para homens e 75 para mulheres, PIB de 45,7 bilhões de dólares e taxa de analfabetismo de 1 por cento.

Por todos esses motivos, hoje registro meus sinceros parabéns à República da Hungria, por seus 1000 anos. O mundo tem muito a aprender com sua história.

 Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, agradeço às autoridades e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade, pedindo desculpas à nossa cantora e ao nosso pianista, bem como a todas as autoridades presentes, por eventuais erros de pronúncia cometidos por este Deputado, com a promessa de que se tiver oportunidade de presidir uma próxima sessão, minha pronúncia vai melhorar. Neste momento, convido a todos para um coquetel, no Salão dos Quadros, localizado no 2º andar.

Está encerrada a sessão.

 

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-                                 Encerra-se a sessão às 21 horas e 47 minutos.

 

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