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29 DE SETEMBRO DE 2003

41ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOS IMIGRANTES ÁRABES

 

Presidência: ROMEU TUMA

 

Secretário: SAID MOURAD

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 29/09/2003 - Sessão 41ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: ROMEU TUMA

 

HOMENAGEM AOS IMIGRANTES ÁRABES

001 - ROMEU TUMA

Assume a Presidência e abre a sessão. Registra as autoridades e comunica que o Presidente Sidney Beraldo convocara a presente sessão, atendendo solicitação do Deputado Romeu Tuma, com a finalidade de homenagear os Imigrantes Árabes. Convida todos para ouvir o Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - SAID MOURAD

Saúda os presentes em árabe. Fala da semelhança entre o povo árabe e o brasileiro e a discriminação feita pela mídia sensacionalista contra os árabes.

 

003 - Presidente ROMEU TUMA

Cita a mensagem recebida do Governador Geraldo Alckmin.

 

004 - PEDRO TOBIAS

Discorre sobre sua chegada ao Brasil e as dificuldades encontradas por todos os imigrantes. Defende a causa Palestina.

 

005 - VITOR SAPIENZA

Comenta a sua convivência com a colônia árabe de São Paulo e sua influência nos costumes da cidade.

 

006 - ARNALDO JARDIM

Tece considerações sobre a imigração árabe e a integração deste grupo com  a sociedade local.

 

007 - RICARDO IZAR

Deputado Federal. Diz sobre o grande número de descendentes de árabes no Congresso Nacional e em outros segmentos importantes do país.

 

008 - ARNALDO FARIA DE SÁ

Deputado Federal. Critica a atuação dos Estados Unidos no Iraque e defende a paz para a região palestina.

 

009 - REZKALLA TUMA

Presidente do Conselho e ex-presidente da Fearabe-América e membro do Conscre - Conselho Estadual Parlamentar de Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras. Relata a história dos árabes através dos séculos e sua influência na Europa e América. Pede o restabelecimento da paz na região da palestina. Declama poema do imigrante árabe.

 

010 - MONSENHOR ARQUIMANDRITA DIMITRIUS ATTARIAN

Representando sua Eminência Reverendíssima Arcebispo da Catedral Ortodoxa de São Paulo, Dom Damasquinos Mansour. Fala como imigrante árabe e destaca a importância dos árabes na arte, culinária e na formação do Brasil moderno.

 

011 - ROMEU TUMA

Senador. Comenta a história dos árabes, que aqui chegaram como imigrantes e a sua origem mascate.

 

012 - Presidente ROMEU TUMA

Discorre sobre os primórdios da civilização árabe, suas conquistas e a integração com o povo brasileiro. Recorda os 12 milhões de descendentes árabes-brasileiros e homenageia seus antepassados. Faz agradecimentos gerais e encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado Said Mourad para, como 2º Secretário "ad hoc", proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO - SAID MOURAD - PFL - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Esta Presidência agradece o nobre Deputado Said Mourad pela leitura da Ata.

A Presidência passa agora a nomear e a agradecer a presença das seguintes autoridades: Senador da República Dr. Romeu Tuma; Sr. Embaixador da Argélia, Lahcène Moussaoui; nobre Deputado Federal Ricardo Izar, presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Líbano e vice-presidente da Liga Parlamentar Árabe-Brasileira; nobre Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá; Monsenhor Arquimandrita Dimitrius Attarian, representando Sua Eminência Reverendíssima Arcebispo da Catedral Ortodoxa de São Paulo, Dom Damasquinos Mansour, ausente devido à sua viagem para a Síria; Sr. Rihab Abou Zein, cônsul do Líbano, representando o Cônsul-Geral, Sr. Joseph Sayah; Sheik Fahd Alamedine, da seita Drusa no Brasil; meu querido tio Nicolau Tuma, ex-Deputado federal e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo; Wady João Curi, representando o Conselho Administrativo Ortodoxo da Cidade de São Paulo e Arquidiocese Católica Apostólica Ortodoxa Antioquina de São Paulo; Sr. Eduardo Felício Dias, presidente da Federação de Entidades Árabes-Brasileiras do Estado de São Paulo - FEARAB - SP; meu tio Rezkalla Tuma, presidente do Conselho e ex-presidente da FEARAB - América e membro do Conselho Estadual Parlamentar de Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras - CONSCRE; Michel Abdo Alaby, da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; Dr. Rubens Anauate, presidente do Club Homs; Dr. João Farah, presidente do Conselho Deliberativo do Club Homs; Dr. Felício Paulo Saade, representando o ex-prefeito da Cidade de São Paulo, Sr. William Salem; Sr. Antonio Badih Chehin, presidente da Sociedade Maronita de Beneficência; nobre Deputado Pedro Tobias; Deputado estadual Said Mourad; Deputado estadual, nosso amigo e companheiro de partido, Vitor Sapienza; Deputado estadual Arnaldo Jardim; Sr. Ceid Hassan Ibrahim; Sr. Hassan Ali Gharib, presidente da Associação Beneficente Islâmica do Brasil; autoridades citadas, Srs. e Sras. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear os imigrantes árabes.

Convido a todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pelo tecladista do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro pelo tecladista 2º Sargento Músico PM Loyola, do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Esta Presidência agradece ao tecladista do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, 2º Sargento Músico PM Loyola.

Esta Presidência concede a palavra ao nobre Deputado Said Mourad.

 

O SR. SAID MOURAD - PFL - (Faz uma saudação em língua árabe).

Em primeiro lugar, quero saudar o Presidente desta sessão solene, meu nobre colega, meu querido amigo, meu par, Deputado Romeu Tuma, pela brilhante iniciativa de nos reunir aqui nesta noite.

Tenho orgulho de ser árabe, descendente de pai e mãe libaneses, pela riqueza imensurável que essa cultura tem, tenho orgulho de ser brasileiro, de ter servido ao Exército brasileiro e acima de tudo tenho orgulho de ser um ser humano, de estar aqui entre vocês, de ter fé em Deus, o Todo Poderoso. Das contribuições que os árabes trouxeram ao Brasil, todos estamos cansados de saber. Quem planta uma maçã, colhe uma maçã, quem planta uma laranja, colhe uma laranja. E todos nós agora colhemos os frutos que os imigrantes plantaram nessa terra abençoada.

O povo árabe é muito semelhante ao povo brasileiro pela sua graciosidade, pela sua harmonia, pela sua alegria, pela sua hospitalidade e também pelas lutas que temos em comum. Lutamos pelo desenvolvimento dos nossos países diante desses grandes opressores, lutamos pela justiça e por melhores condições de vida.

Somos discriminados pela mídia sensacionalista. Os brasileiros lá fora são vistos como nus que andam pelas ruas, onde atravessam macacos, leões. Parece que vivemos numa selva. Essa mídia sensacionalista é culpada por isso e é culpada também pela imagem errônea que se faz dos países árabes. Para isso precisamos divulgar mais a cultura árabe.

O nosso Presidente, o Ex.mo. Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, com a visão que tem, será o primeiro governante do Brasil a visitar os países árabes, porque ele enxerga a importância que tem essa visita.

Quero aqui com vocês, em nome da bancada árabe que temos aqui na Assembléia Legislativa, somos onze descendentes de árabes com muito orgulho, levar ao Sr. Governador Geraldo Alckmin, a importância da visita dele aos países árabes. Ele precisa de óculos para enxergar porque é deficiente visual, mas ele tem aqui um telescópio que poucos têm. Ele enxerga lá na frente. Ele enxerga onde poucos enxergamos. E tenho certeza de que ele vai abraçar essa causa, como também tenho certeza de que conseguiremos ir com ele aos países árabes.

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Anunciamos também a presença do Sr. Ahmad Shaar, Cônsul-Geral da Síria; Sr. Mohamed Said Mourad, ex-Vereador do município de São Paulo; Dr. Eduardo Daher, Presidente da Confraria da Gastronomia Árabe e Sr. Luiz Chardel, da Academia de Artes Árabe-Brasileiras.

Recebemos também inúmeras mensagens de diversas autoridades, assim como também de Deputados desta Casa, e para resumir todas, citaremos apenas a do Ex.mo. Sr. Governador Geraldo Alckmin, que cumprimenta a Assembléia Legislativa, pela homenagem prestada nesta data nesta sessão solene aos imigrantes árabes, ressaltando a importância dos nossos povos.

Nesse momento, esta Presidência concede a palavra ao nobre Deputado Pedro Tobias que, diga-se, veio especialmente de Bauru para esta solenidade.(Palmas.)

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Boa noite para todos, Sr. Presidente Romeu Tuma, senador pai, Deputados Federais, Deputados Estaduais, Embaixadores presentes, eu não podia perder esta oportunidade de homenagear a colônia árabe, porque este Deputado é um verdadeiro imigrante.

Cheguei aqui ao Brasil em 1980, fui vereador por dois mandatos e estou no segundo mandato de Deputado, do que muito me orgulho. Até hoje tenho dificuldade com a língua portuguesa.

Nós chegamos e nos instalamos tanto no comércio quanto na industria, na medicina, enfim, em qualquer área; não ficamos só no papo e sim trabalhamos muito. Muitas vezes penso em minha família, meus irmãos. Eles chegaram na década de 50; meu primeiro irmão chegou com 16 anos e 10 dólares no bolso, mas venceu na vida.

Sempre demos um bom exemplo para o povo brasileiro: quem quer vencer precisa trabalhar. Infelizmente muitos no Brasil filosofam muito e trabalham pouco. Por isso é que temos essa desgraça que vemos em nosso Brasil.

Mas não posso deixar de falar alguma coisa sobre esses problemas maiores que estão acontecendo em nossa região: a ocupação de Iraque e da Palestina.

Fico feliz hoje ao ver o Embaixador da Argélia, porque estudei na França, fiquei quinze anos lá, conheço a história desse povo heróico, na guerra da independência, em que morreram milhões de pessoas contra a ocupação francesa. Esse povo deveria ser um exemplo para todo o povo árabe, para o povo iraquiano, para o povo palestino, para os sírios e libaneses. O povo argelino não tem uma grande colônia aqui no Brasil. Mas conheço sua história, porque morei na França, sei que seu território foi ocupado pelos franceses e a luta heróica deles, o sacrifício para a independência.

Espero que o nosso oriente médio pegue o exemplo desse povo que lutou e não fez mais do que obrigação. Hoje, os povos iraquiano, sírio e palestino lutam - com homens bons - para expulsar ocupação americana e a imprensa chama de terrorista. Essa imprensa dominada pelo imperialismo e pela política a favor de Israel, chama a um bravo herói, que luta com as armas que tem para expulsar os invasores imperialistas de suas terras, de terrorista. Se a isso a imprensa chama de terrorista, a resistência francesa foi terrorista, a resistência russa contra o nazismo foi terrorista, a resistência argelina foi da mesma forma terrorista. E isso o mundo ocidental, não entende não sei por que. E nós que somos verdadeiros imigrantes, sentimos muito mais obrigação do que alguém nascido aqui no Brasil. Portanto, nosso papel aqui no Brasil é muito importante. Infelizmente a colônia árabe tem de melhor todas as áreas. Mas infelizmente é cada um por si. Digo isso porque aqui somos onze Deputados e não temos uma política coordenada. E isso não é somente nossa culpa, povo dessa região.

Peço desculpas ao Embaixador, mas acho que isso é culpa também do nosso povo dessa região. Desculpe, embaixador, mas acho que também é nossa culpa, do corpo diplomático, que deveria reagir um pouco mais e coordenar essa parte política. Porque muitas vezes, muitas pessoas de países árabes têm vontade, têm garra mas não tem alguém que coordene. Isso deveria ser feito por um embaixador nosso, um cônsul nosso. Lamento que um país como Israel faça esse papel muito mais que todos os países árabes juntos na parte política, na parte que está acontecendo na nossa região.

Discurso de político não pode ser nem muito longo, nem muito curto. É como sogra, que não pode morar nem muito longe porque vem com mala, nem muito perto porque aí vem todo dia tomar café na casa do genro. Por isso vou terminar, mas quero dizer que tenho muito orgulho do meu povo, porque somos um povo milenar, temos cultura, temos História. Às vezes algumas pessoas chegam e dizem que tenho que aprender a falar português melhor. Digo que não, que essa é a minha raça, o meu povo, é o meu jeito de falar, desse jeito vou continuar falando. Não tenho vergonha de nada. Chegamos onde chegamos por conta desta cultura que apreendi de nossa avó, bisavó, de nossa História.

Muito obrigado. Mas precisamos fazer muitas coisas para nosso povo nessa região massacrada, morrendo, matando; joga míssil contra quem joga de pedra de um lado, chamam nós de terroristas. Apoio esse povo. Todos, cada um de nós deveria lutar, falar para o vizinho, falar para outro, ajudar, se não nós somos terroristas e morrendo. Isso é muito triste. Mas vou parabenizar porque fiquei muito empolgado com a revolução do povo da Argélia. Transmita meus cumprimentos a seu Governo. Já visitei a Argélia várias vezes. Tenho muitos amigos lá. Esse povo é um exemplo para todos nós por sua luta. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Esta Presidência anuncia a presença do Dr. Alfredo Cotait Neto, Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Líbano, do Sr. Emil Azkoul, Presidente da Associação Cultural Sírio Brasileira, do Vereador do município de São Paulo, Rogério Farah, do Dr. Abdo Najar, vice-presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo e do nosso querido Dr. Ricardo Saad, ex-presidente do Clube Homs.

Tem a palavra o nobre Deputado Vitor Sapienza, Deputado que consideramos italo-árabe. (Palmas.)

 

O SR. VITOR SAPIENZA - PPS - Senhor Presidente, nobre Deputado Romeu Tuma, Sr. Senador, Sr. Deputado Federal, Deputados Estaduais, caro Vereador, público que nos honra com a presença, estou praticamente à vontade como imigrante italiano, radicado no bairro do Bom Retiro, convivendo com a colônia árabe, com a colônia judaica, com o pessoal da 25 de Março, uma vez que tive oportunidade de ser delegado tributário, fiscal de rendas.

Tenho que prestar uma homenagem àqueles que ajudaram São Paulo a ser o que é. Lembro bem, estudante do Liceu Coração de Jesus, já na época em que convivia com a colônia árabe, na época Luftala, sogro, parente do nosso ex-Governador Paulo Maluf. Nasci no Bom Retiro, na Rua Solon, ao lado da Tecelagem Luftala. Eles sabem bem o que representou Luftala no Bom Retiro. A primeira oportunidade a ser dada à mulher operária, com reconhecimento dos seus direitos, do seu trabalho foi através das tecelagens dos árabes, dos libaneses do nosso Estado de São Paulo.

Tive também oportunidade, já no Liceu Coração de Jesus, de conviver com o Prof. Chidiac. Parece até que o Rezkalla Tuma, irmão do nosso senador, também conviveu com o pessoal do Bom Retiro, com o pessoal do Liceu Coração de Jesus e teve oportunidade também de comer minhas esfihas, meus tabules, visitar a família Sarruf lá do Bom Retiro. Meu avô tinha fábrica de macarrão e o Baiz Sarruf era louco por macarrão. Minha família trocava quibe e esfiha por macarronada. Convivi com todo esse pessoal e vi e senti o peso dessa colônia; Sr. Jafet, Sr. Adib Jatene e outros com os quais a nossa dívida é incomensurável, mesmo porque aquilo que foi dito pelo nosso Deputado Murad, que o pessoal ainda tem uma impressão que existem cobras, tangas, que o pessoal no Brasil não tem aquela civilização, graças a Deus conseguimos superar isso através do esforço de diversas colônias. Sem dúvida alguma a colônia árabe teve um peso muito grande, em que pese a maioria do pessoal da colônia árabe torcer pelo Corinthians. Por isso vejo hoje aqui muita gente chateada, vejo nosso ex-diretor do Departamento Profissional do Corinthians juntamente com nosso senador meio acabrunhado em face do que aconteceu em Santa Catarina. Mas infelizmente Santa Catarina não foi colonizada pelos árabes e não tiveram a complacência que deveriam ter com o Corinthians Paulista.

Finalizando - quis quebrar um pouquinho o gelo, mesmo porque tenho uma afinidade muito grande com a colônia - quero parabenizar o meu grande amigo Romeu Tuma, filho de outro grande amigo, Senador Romeu Tuma, amigo que conviveu comigo ao longo desses anos em prol de um São Paulo grande e de um Brasil melhor. Parabéns, Tuma. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - A Presidência agradece as palavras do nobre Deputado Vitor Sapienza.

Tem a palavra o nobre Deputado Arnaldo Jardim, líder da bancada do PPS nesta Casa. (Palmas.)

 

O SR. ARNALDO JARDIM - PPS - Senhor Presidente em exercício, meu caro amigo, patrício querido, Romeu Tuma Jr. A citação do Deputado Romeu Tuma impõe a mim uma primeira questão e quero dela me desincumbir muito rapidamente, que é falar em nome da bancada do meu partido o PPS, que tenho a honra de liderar aqui na Assembléia e que tenho a honra de ver a nossa bancada integrada pelo Deputado Romeu Tuma.. Vejo aqui as suas meninas, a sua família. Quero agradecer muito à sua família, por permitir-nos conviver com o Deputado Romeu Tuma, que chegou este ano aqui na Assembléia de São Paulo e tem prestado o que de melhor tem a nossa raça. A dedicação ao trabalho, a lealdade no trato de cada uma das questões polêmicas e a disposição de fazer que cada uma das questões com que se envolve não seja uma mera formalidade, mas uma extensão dos seus sentimentos e do seu coração.

Parabéns, Tuminha. Nós nos orgulhamos de tê-lo aqui na Assembléia de São Paulo. Orgulho-me de tê-lo como patrício e todos os que estão aqui, lideranças, senhoras e senhores, lideranças de entidades tenho certeza de que comigo partilham dessa satisfação de termos um representante desse quilate na nossa bancada e na nossa Assembléia.

Quero saudar de forma muito afetuosa o nosso senador da República, Romeu Tuma. No começo de sua trajetória política, na primeira vez em que foi candidato ao Senado, para representar o Estado de São Paulo, tive a honra de andarmos juntos pelas feiras da cidade de São Paulo, cumprimentando os eleitores. Aprendi sempre com o senador Romeu Tuma. Sem nenhum tipo de favor, sem nenhum tipo de laivo que seja emocional e muito menos demagógico, naquilo que estamos dizendo neste instante, o senador é um dos mais atuantes da República, um senador que encarna a defesa do nosso Estado de São Paulo no Congresso Nacional e é um símbolo. Ter um Governador Alckmin, ter um senador Tuma é bem a expressão daquilo que podemos ser e daquilo que temos de responsabilidade do ponto de vista do exercício de funções públicas no Estado de São Paulo e no nosso País.

Quero cumprimentar os Deputados federais, o nosso querido Ricardo Izar, que tem uma dedicação sempre permanente à causa árabe. Cumprimento meu amigo Arnaldo Faria de Sá, que um amigo da comunidade árabe desde há muito tempo também. Saúdo também o nosso corpo consular, o nosso cônsul da Síria, a quem, muito recentemente, numa iniciativa do nosso colega Said Mourad, fizemos uma visita e fomos recebidos muito amavelmente. Saudamos na figura do embaixador da Argélia.

A missão que vocês cumprem aqui, de representar os povos e países árabes, encontra solidariedade em nossa comunidade, encontra aqui uma disposição de todos nós. O Deputado Pedro Tobias falou sobre isso e quero sublinhar essa questão. Precisamos renovar e elevar a nossa auto-estima. Sinto muitas vezes que nós ficamos numa situação de defensiva, numa situação em que a vontade que tiveram todos os imigrantes de rapidamente se compor com o povo brasileiro, e nós somos campeões nisso. Enquanto outros imigrantes vêm para cá e buscam se fechar, limitar o seu relacionamento com a população, os povos árabes, ao contrário, sempre souberam fazer dessa interação, dessa integração uma marca da sua presença aqui.

Foi assim que os meus avós vieram da Síria, da região de Homs. Cada um de nós terá uma história a contar. Os meus foram para o interior do estado, para a região de Ribeirão Preto. Lá fincaram raízes, tornando-se referência da comunidade. Começaram um processo de integração muito rápido que todos nós vivenciamos. Se temos orgulho por um lado, temos, tenho certeza, a necessidade de, de tempos em tempos, resgatar essa história, rememorar, para podermos construir um futuro que tenha essa marca da generosidade, da solidariedade, mas com a coerência do compromisso com as nossas origens.

Você, Tuminha, teve a inteligência e a sensibilidade de marcar uma cerimônia como esta. Por tudo isso, de minha parte vou me somar muito a você, do ponto de vista do conjunto de Deputados de descendência árabe que temos aqui na Assembléia, do ponto de vista do nosso partido, para que seja uma marca permanente aqui na Assembléia, um momento em que, a cada ano, possa significar, de forma mais explícita, fazermos soar as lembranças que temos e os compromissos que temos com a população.

Que compromissos são esses? São compromissos com relação ao desenvolvimento, foi dito aqui. Quero ressaltar isso também. São os compromissos com relação à autodeterminação dos países árabes, com relação à solidariedade daqueles que se encontram sob ocupação internacional, com a qual não concordamos, em absoluto.

Nosso povo é um povo vanguardeiro. Temos orgulho de sermos o berço da civilização, onde a escrita pela primeira vez foi assinalada, onde os fundamentos da Medicina foram delineados. Nós, que temos um compromisso, uma história com a civilização, queremos reiterar essa nossa vontade da autodeterminação, da paz construída não sobre a opressão e sobre a força, mas a partir de acordos que sejam substanciosos, duradouros, respeitosos a cada um dos nossos povos. É nisso que acreditamos. É em torno disso que temos trabalhado. E é isso que você, meu caro Tuma, nos dá a oportunidade de reiterar nesta noite. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Este Deputado agradece ao nobre Deputado Arnaldo Jardim. Também tenho a honra de ser liderado por Vossa Excelência.

Consignamos também a presença do Sr. Moustaf Mourad, Presidente do Conselho Superior para Assuntos Islâmicos no Brasil.

Tem a palavra o nobre Deputado Federal Ricardo Izar.

 

O SR. RICARDO IZAR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, meu caro senador Romeu Tuma, autoridades eclesiásticas, Sr. Embaixador da Argélia, Sra. Cônsul do Líbano, Sr. Cônsul da Síria, senhoras e senhores, eu dizia há pouco que eu não poderia de forma alguma deixar de fazer uso da palavra neste instante. Em primeiro lugar para cumprimentar o Deputado Romeu Tuma Jr. pela feliz iniciativa. Realmente, sinto-me feliz e emocionado hoje, porque quando fui Deputado estadual, há 16 anos, fizemos uma lei que foi aprovada por esta Casa criando o Dia da Solidariedade para com o Povo Libanês, naquela época em guerra. E graças a Deus a coisa melhorou. E muitos outros problemas do mundo árabe estão surgindo agora. O problema da Palestina, o problema do Iraque, enfim, de todo o mundo árabe.

E hoje estou aqui para trazer a minha solidariedade a você e à nossa comunidade. Devemos trabalhar sempre unidos defendendo essa causa. A nossa participação no Brasil é muito grande, intensa e permanente. Estou vendo na platéia o ex-Deputado Nicolau Tuma, que foi um orgulho para nós quando Deputado federal, quando Conselheiro do Tribunal de Contas. E olhando para ele vejo como está a participação da nossa comunidade no Brasil. Olhando para todo o território nacional de cerca de seis mil municípios não existe um município neste país que não tenha um descendente de sírio ou de libanês. É impressionante o milagre dos árabes no Brasil. Não existe outra comunidade que tenha alcançado esse índice. E o mais importante é a sua participação em todos os setores de atividade. A partir desta Assembléia Legislativa, temos 11 membros. No Congresso Nacional, 44 Deputados e sete senadores. Onde há trabalho, onde há empenho, em todo o território nacional, estão os descendentes de árabe trabalhando, pois os nossos pais e os nossos avós nos ensinaram uma coisa maravilhosa: incutiram em nossas veias um grande amor pelo Brasil e de nunca esquecermos da nossa origem, dos nossos costumes e dos nossos hábitos. Cabe a nós, esta geração atual, continuarmos este trabalho. Isto é muito importante. Devemos levar os nossos filhos e os nossos netos ao Líbano, à Síria e a todo mundo árabe para conhecerem a nossa origem.

Que coisa linda quando vejo - nesta semana - uma homenagem a Adib Jatene. Foi homenageado como maior cardiologista vivo no mundo. Este homem nasceu em Xapuri, Acre. Há 80 anos atrás, o pai dele veio de Líbano e foi para Xapuri. É difícil chegarmos, mesmo nos dias de hoje, a Xapuri. Imagine isso há 80 anos.

A nossa comunidade, principalmente síria e libanesa, foi a primeira a chegar no Brasil, e sempre participou. Como disseram alguns oradores, vieram para ficar; não vieram provisoriamente, pegar o dinheiro e levar embora. Esta é a verdade.

Agora que a Guerra do Líbano acabou, cabe a nós, descendentes de árabes, fazermos um trabalho a favor da Palestina. Aquela guerra que lá se encontra é uma guerra injusta, amoral e desonesta. Mas, a grande imprensa dá cobertura sempre do outro lado. Cabe a nós participarmos da mesma forma que participamos da Guerra do Líbano. Nunca me esqueço de quando um grupo de parlamentares, e o senador Romeu Tuma junto, estivemos na ONU preocupados com a paz do Líbano. A secretária-geral para assuntos do Oriente Médio nos perguntou: “Por que os Deputados, senadores do Brasil e os senadores estão interessados na paz do Líbano?” Respondemos: “No Brasil, entre sírios e libaneses, e de outros países árabes, temos quase 10 milhões de descendentes. É maior do que a população do Líbano e maior do que a população de muitos países árabes.” Ela estranhou. Estávamos interessados e graças a Deus as coisas melhoram no Líbano. O nosso papel é trabalharmos pela paz da Palestina, mas pela paz justa e duradoura.

Quero encerrar as minhas palavras agradecendo ao nosso Presidente em exercício, Romeu Tuma, e pela feliz iniciativa de se homenagear a comunidade e os imigrantes árabes do Brasil. Agradeço pela presença de todos. O importante, meus amigos, é que esta nossa união, que o nosso trabalho, que o nosso amor, que a nossa amizade aumente cada vez mais para que possamos trabalhar pelo Brasil, por São Paulo e pela nossa comunidade. Um grande abraço a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Concedemos a palavra agora ao nobre Deputado Federal, Arnaldo Faria de Sá.

 

O SR. ARNALDO FARIA DE SÁ - Boa noite, Sr. Presidente, nobre Deputado Romeu Tuma, nobre senador Romeu Tuma, nobre Deputado Ricardo Izar, nobres Deputados Vitor Sapienza, Arnaldo Jardim, Pedro Tobias e Said Mourad, senhores embaixadores, membros do corpo diplomático, membros religiosos, até tinha dito ao nobre Deputado Ricardo que apenas falasse o meu nome. Porém, este cumprimento significa um momento importante. Todos que já falaram, com exceção do nobre Deputado Vitor Sapienza, têm uma ligação com a colônia. Tenho também uma origem diferente, pois sou descendente de português. E, a comunidade portuguesa também tem uma ligação muito grande com a comunidade árabe. Eu, particularmente, acabei tendo um relacionamento grande com a comunidade porque fui contador durante muito tempo. Como contador, na zona Sul de São Paulo, trabalhei com quase todos aqueles que iniciaram a sua vida como mascate. Mesmo após terem as suas lojas e as suas propriedades, como lembraram os parlamentares que me antecederam, continuam mascateando a paz.

É isso que é importante em todos os povos árabes que aqui se encontram. Seja na medicina, na advocacia, na engenharia, no comércio e em todo tipo de trabalho encontramos libaneses, sírios, egípcios, jordanianos - todos os povos árabes. Este momento é extremamente importante. É necessário que todos nos unamos, não só os senhores da comunidade árabe, mas todos que vivemos em paz no Brasil para repudiarmos o que está acontecendo no Iraque. Não podemos admitir que um país irmão, Iraque, seja agredido da forma como está sendo pelo imperialismo americano.

Vemos, todos os dias, notícias de Iraque. De repente, aqueles que estão no Iraque é que são os atacados. Eles, comandados pelo sionismo internacional, que estão agredindo nossos irmãos iraquianos, precisam de uma justa resposta. Tenho certeza de que aqui, neste momento, teremos esta oportunidade, além de tudo aquilo que já foi falado em relação à questão palestina, que precisa do nosso apoio.

Tenho certeza de que neste momento reavivamos a memória para continuarmos fazendo uma coisa que é extremamente importante: mascateando pela paz em nome de todos os povos árabes. Boa noite e parabéns. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Esta Presidência concede a palavra ao Dr. Rezkalla Tuma, presidente do Conselho e ex-presidente da Fearab - América e membro do Conscre - Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades e Culturas Estrangeiras, que representará todas as instituições, organizações e clubes presentes nesta solenidade.

 

O SR. REZKALLA TUMA - Exmo. Sr. Presidente, Deputado Romeu Tuma, em nome de quem saúdo todos os parlamentares presentes, Deputados federais e estaduais, e o meu querido irmão, senador Romeu Tuma, as autoridades eclesiásticas, consulares e os presidentes das entidades co-irmãs, que vieram trazer a honra de sua presença nesta solenidade. Havia preparado um discurso por escrito, mas parodiando Ricardo, Arnaldo, Arnaldo Jardim ou Vítor, todos amigos, também tentarei falar como eles, mais com o coração do que com o raciocínio. Todos falam “comunidade árabe”; pouca gente sabe da origem da palavra árabe. A palavra árabe vem do “al-gereb”, que quer dizer ocidente. Os povos ocidentais, no ocidente do mundo asiático, caminho da Europa, chamavam este povo de “al-gereb” que, paulatinamente, foi se tornando árabes.

Esta expressão, então, foi muito tumultuada nos tempos em que levamos a Espanha, criando a Andaluzia, os primórdios do berço da civilização do mundo. O árabe foi confundido com o islamismo. Quando se queria dizer do islâmico, dizia-se que era árabe. Por isso, tornou-se popular a expressão árabe. Esta expressão, hoje, reúne todos aqueles que vivem nos países que falam a mesma língua, e que na sua maioria, professam a religião islâmica.

Quem somos nós? Não somos estranhos ao Brasil. Aqui existem os livros que mandamos preparar, que chamamos encontro de duas culturas. Não acreditamos na palavra “descobrimento da América”. A América já existia e tinha as suas culturas locais como a população que aqui habitava. Temos povos antigos, originários do Velho Egito, como os Maias. Muitos dos senhores talvez não saibam, que quando propusemos o encontro de duas culturas recebemos do governo espanhol uma área em Sevilha, para demonstrarmos o que pregamos, demonstrávamos que na língua maia existiam 726 vocábulos de origem assíria. A tal ponto que o som em árabe é “shams” e em maia é “shamassa”, e o tempo principal deles é “onchúria”.

É necessário que se estude um pouco melhor a presença dos fenícios nessas terras, que ascende há três mil anos. Existe os registros das presenças deles na Amazônia e no Nordeste do Brasil. A Ilha do Marajó é uma das principais fontes deste conhecimento, cuja urna marajorara outra não é senão o tipo de cerâmica que se praticava pelos fenícios.

A primeira língua escrita é de Ugariti. Ugariti foi o reino em que se começou a escrita como comunicação. Os fenícios melhoraram o sistema da escrita, depois o mundo todo o adotou. O que quer dizer alfabeto senão “álefbê”. Se os gregos levaram como alfa e beta, a origem não é grega. Se falarmos do algarismo, quem o criou, e nós o utilizamos, é Alcoarism; um árabe, situado no período em que levamos a cultura ao sul da Espanha e Portugal. Se temos as filosofias de Avicenna e Averois - o que quer dizer Ibn Sina? Os prolegômenos da Medicina. Ibn Sina foi o grande filósofo que fez os prolegômenos da filosofia social, a organização do homem em grupo, em urbis.

A nossa imigração não é nova; não existiram estudos profundos sobre a nossa imigração moderna. A imigração moura veio com os primeiros navegantes. Ad-Haman era o primeiro piloto de Colombo, e a sua tripulação de marinheiros era constituída de mouros do norte da África, que hoje denominamos a todos os povos árabes.

Ser árabe é um estado de espírito, porque o árabe sempre procurou servir à humanidade. O árabe trouxe os ensinamentos mais profundos do homem que hoje chamamos de civilizado.

Quando fomos à Europa, foi no período idade negra da Europa. Somos o sol, o iluminismo, que levou a cultura, transformando o sul da Espanha, a região de Andaluzia, no centro da cultura européia, onde vinham estudar todos os príncipes dos territórios dos países orientais, da Rússia, da Polônia e da Ucrânia, países que iam se formando, da Alemanha, lá era o centro, em Toledo, em Sevilha.

Por que estamos hoje recuperando, pela FEAP a história da Andaluzia? Porque não podemos admitir que por fé religiosa se diga que um muçulmano é um terrorista. Como não podemos admitir, na época dos cruzados, que alguns mercenários cruzados deram o título de terroristas ou criminosos a todos os cristãos. Como não podemos admitir que todos os judeus que têm fé nas suas origens, na sua crença, sejam denominados de violentos usurpadores do poder, e sacrificando vidas humanas.

Os ensinamentos que recebemos, na era abâmica que estamos passando, sejam das lições de Moisés, de Jesus ou de Mohammad - que Deus os tenha - nada nos ensinaram a praticar os atos que estão sendo praticados pelos povos de hoje.

O homem, depois de Copérnico, abandonou a ideologia da filosofia do homem e dos valores humanos e avançou no domínio da tecnologia, criando no século XVII o valor de bancos de juros, e todo um domínio que chamamos hoje de imperialismo econômico.

 Não sei quando começou a imigração do Brasil, mas esta foi em 1845 ou 65 - o primeiro registro oficial dos irmãos Zacarias, no Porto do Rio de Janeiro, embarcados em Beirute.

Minha família, minha avó fugida dos turcos otomanos também embarcou em Beirute e foi desembarcar no Porto de Rio Grande, indo para Pelotas, porque Deus a protegeu e ela encontrou um patrício turco, chamado Bechara Abjud, que morava em Pelotas e veio buscá-los.

O que é ser imigrante? Ser imigrante é ter a coragem, a tenacidade de enfrentar uma língua desconhecida, uma terra que não se sabe onde fica, porque todos queriam vir para a América; América da esperança, América de um mundo livre, não a América de hoje que é o exemplo violento de uma usurpação pelo materialismo contra todos os povos pacíficos do domínio territorial da força, e não da inteligência e dos valores morais que devem nortear o homem.

Pedimos aos céus que a paz se estabeleça na Palestina. Que israelenses e palestinos possam conviver em paz e fraternalmente, como viveram em todos os séculos. Estudem a histórias dos Sefaradins e os senhores vão encontrar a similitude e o trabalho integral que existiram entre eles. Eles foram separados depois do Século XVI para XVII.

Não podemos admitir que todo aquele que crê em Deus e tem fé no ser humano possa violentado. Chamar de terrorista aqueles que lutam pela emancipação de suas pátrias é chamar George Washington, Bolívar e Tiradentes, é chamar de terroristas todos esses grandes heróis de suas pátrias. Na época os colonizadores o chamavam de terroristas, mas hoje são os heróis nacionais. Todo aquele que dá sua vida pela emancipação do seu país, na defesa de suas famílias, de seus filhos e dos seus concidadãos são os heróis do futuro.

Meus irmãos, não quero cansá-los, mas quero dizer-lhes uma coisa: não existe um filho de árabe, porque a nossa imigração - aqui foi dito e é verdade - integrou-se no espírito de brasilidade, aprendemos a respeitar e amar a bandeira brasileira. Cada rincão deste País, como dizia o Ricardo, tem um representante da comunidade árabe. Essa comunidade integrou-se ao espírito de brasilidade, criou seus filhos, formou-os, e hoje são partes integrantes da riqueza cultural, científica e até política deste País.

Queria pedir vênia ao Sr. Presidente, e levado por dois poetas Antonio Lascani e Narden, fiz um poema ao imigrante árabe - baseado inclusive no exemplo destes -

“Vieram jovens para jovens terras,

dos velhos montes para o novo chão.

Olhos brilhando, brilho de esperança

 e um velho cedro em cada coração.

 

Vieram com a esperança do convite

que dom Pedro II lhes fez

tal cupido, atingindo forte sua emoção

uma epopéia a imigração.

 

Foram suas palavras - de D. Pedro:

“Contemplando o Damasco dos milênios,

à sombra das tamareiras de tantas poesias

e às margens do Barada que corta Damasco

sinto o berço da civilização

E, quem as criou também ajudará a criar o Brasil”.

 

Vieram jovens das terras antigas,

Onde a neve eterna o sol desafia

E trabalharam desde cada aurora

Até o cansaço de cada fim de dia.

 

Sírios e libaneses, árabes e suas tradições

De todos os cantos vieram

Na certeza de que esta seria sua nova terra

Brasil, beleza que encanta das palmeiras

Do sabiá, onde a natureza canta os esplendores de Alá!

de que essa seria a sua nova terra.

 

Plantaram frutos na terra bendita,

deram seus filhos como gratidão,

são brasileiros, com brilho nos olhos

e um velho cedro em cada coração.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Esta Presidência registra a presença do Dr. Fran Papaiordano, vice-Presidente do Sport Club Corinthians Paulista; do Sr. Ahmad Ali Saifi, do Centro de Divulgação do Islã para a América Latina; do Sr. Antônio César Simão, da Associação Paulista de Municípios.

Concedemos a palavra ao Sr. Monsenhor Arquimandrita Dimitrius Attarian, da nossa querida Igreja Ortodoxa.

 

O SR. MONSENHOR ARQUIMANDRITA DIMITRIUS ATTARIAN - Sr. Presidente da Mesa, Deputado Romeu Tuma, Sr. Senador, Sr. Embaixador, demais diplomatas, religiosos, a incumbência que tenho agora é muito difícil, porque falar depois do Rezkalla é como não ter mais o que falar. A sabedoria que ele traz, o entendimento das coisas que tem já diz tudo. Mas de todo modo vou fazê-lo em poucas palavras.

Eu sou a terceira geração de imigrantes. Não no Brasil. No Brasil, eu sou a segunda. Mas, meus avós eram oriundos de Urfa, armênios na parte turca. Com a perseguição turca migraram para o Líbano, primeira geração de imigrantes e o Líbano os recebeu de braços abertos. Lá fizeram família e um dos filhos, meu pai, fez a segunda geração. Em 50 veio para o Brasil e como seus pais, constituiu uma família, da qual faço parte.

Em três continentes eu morei, não porque sou nômade, mas porque os estudos eclesiásticos me levaram a isso. Mas, só num deles eu encontrei o verdadeiro sentido da palavra imigração. Esse continente - não digo país - chama-se Brasil e a sua imigração é sinônimo de convivência, de paz, prosperidade. Vivência, isso é o Brasil e sua imigração.

Não encontrei em nenhum outro país do mundo esse maravilhoso entrosamento com os povos nativos como no Brasil. E acredito que vocês pensem da mesma maneira.

Se fecharmos os olhos e por um minuto pensarmos como seria o Brasil sem a imigração, permaneceríamos de olhos fechados, porque nenhum de nós estaria aqui. Somos frutos dessa imigração. Vivemos com ela. Convivemos com ela e devemos amá-la porque só estamos aqui por causa dela.

Louvo, de maneira muito especial, a atitude do nosso irmão, Deputado Romeu Tuma, que aprendeu muito com seu pai, seguramente, como todos na família. Este amor só se manifesta quando realmente amamos. Se vivemos o amor, mostramos a todos - que é o que estamos fazendo aqui - o que sentimos por esta imigração e às nossas origens.

O que seria da arte? O Reskalla falou sobre tudo o que se refere à arte, astronomia. O que seria da economia sem a imigração árabe no Brasil? O que seria da culinária? Estaríamos sem quibes, esfihas, haleus, que estão no paladar de todos, sejam brasileiros, japoneses, italianos, como o nobre Deputado que nos brindou com a sua palavra. Portanto, orgulho-me de estar aqui e dou graças a esta imigração.

Parabenizo não só ao Deputado, mas a todos que estão aqui, a todos os dez milhões, como disse o Deputado Ricardo, de árabes e descendentes. É muita gente! Agradeço a Deus pelo nobre Deputado manifestar o amor que traz no coração de maneira tão especial ao nosso dia. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Consigamos a presença do Sr. Rafi Sevghenian da Igreja Evangélica Armênia de São Paulo; Sr. Paulo Khalil Sâmara da Igreja Evangélica Árabe de São Paulo.

Concedemos a palavra ao Exmo. Senador da República, Romeu Tuma, meu querido pai.

 

O SR. ROMEU TUMA - Sr. Lahcène Moussaoui, Embaixador da Argélia; Deputado Federal Ricardo Izar, companheiro, amigo de lutas em favor da comunidade árabe e em defesa dos interesses do Brasil, é uma alegria estar aqui ao seu lado; Deputado Arnaldo Jardim; Deputado Arnaldo Faria de Sá, dois Arnaldos que são do coração, como imigrante português escreveu o início da história do Brasil; Monsenhor Dimitrius, representando o nosso querido Dom Damasquinos; Ahmad Shaar, Cônsul Geral da Síria; Rihab Abou Zein, Cônsul do Líbano; Deputado Pedro Tobias, que diz que é do baixo clero, mas acho que ele é do alto cardinalato e finge que é do baixo clero; Deputado Said Mourad, agradeço o carinho para conosco; Deputado Vitor Sapienza, companheiro de luta, caminhadas, com quem trabalhei várias vezes a serviço da sociedade paulista e brasileira. Quando Delegado da Receita Federal e Diretor de Polícia em São Paulo tivemos oportunidade de desenvolver vários trabalhos juntos. O Deputado Arnaldo Jardim, com muito carinho, fez referência às nossas primeiras caminhadas como político por esta cidade de São Paulo em busca de votos para nos elegermos parlamentares a serviço de São Paulo e do Brasil. Alfredo Cotait, meu querido companheiro de partido e meu suplente no Senado Federal.

Eu havia escrito um texto que li várias vezes no carro com a Zilda, mas vou ler apenas o início, já que todos falaram com o coração.

Meu caro e querido primo Nicolau Tuma, meu filho Presidente desta cerimônia, fico com arrepios de emoção ao ver duas gerações que trabalharam por este Estado e por este País, um frente ao outro nesta Casa abençoada que é o altar do Legislativo paulista.

“Ah! se todo mundo fosse como é o Brasil. Esse cadinho de raças e credos, esse caleidoscópio de feições, cores, vida, liberdade e solidariedade entrelaçadas. Certamente a humanidade alcançaria a concórdia e a paz.” Não vou ler mais porque o nosso coração hoje só pode estar voltado para a paz, para a busca da tranqüilidade e do sonho daqueles que vieram ao mundo.

Ninguém preconiza a guerra. No Brasil, vivemos em paz e temos a felicidade de ter o entrelaçamento de raças, cores, línguas que se unem, que se amam e, muitas vezes, se casam, formam família, sem se preocupar com suas origens. Não foi de graça. Os imigrantes, Ricardo, Nicolau, ensinaram-nos que a paz é o melhor caminho para tudo.

Não foi o exemplo da guerra, o sangue derramado, que trouxe os imigrantes da sua história, consolidando uma vida de paz no Brasil, que esperamos reinar no Oriente. Que em breve, possamos orar a Deus para agradecer o fim da guerra no Oriente.

Nicolau, Romeu Júnior, somos originários das areias do deserto, das areias onde surgiu a civilização, onde se formou a sociedade, onde nasceu a ciência, a matemática, a tecnologia, como Rezkalla, conhecedor da história, pôde reproduzir neste plenário em seu discurso. Essa civilização se espalhou por todo o universo, como bem disse o Ricardo.

Ricardo, como Diretor da Polícia Federal sempre digo, que um dia estarei frente a Deus e, provavelmente, Ele poderá me dizer por que me colocou nessa função. Através dela, percorri o Brasil inteiro em todos os seus cantos, regiões, fossem inóspitas ou progressistas, vendo a miséria, a riqueza e sempre encontrei um árabe.

Você falou no Acre. Estive no Acre na fronteira com a Bolívia. Lá chegando em um avião pequeno no aeroporto, um monomotor com que percorremos toda a Amazônia, um dentista veio falar comigo. Ele era descendente de árabe e o seu nome era Tuma. Eu me senti muito feliz. Não têm fronteiras para o árabe.

Quando estudamos, Deputado Arnaldo Faria de Sá, aprendemos que devemos aos imigrantes portugueses a formação deste país. Os bandeirantes cortaram a possibilidade de dividir o Brasil ao meio pelo Tratado de Tordesilhas e, dessa forma, formou-se esse coração geográfico que é a nossa Pátria. Os bandeirantes levaram a todos os cantos a sua presença e, atrás deles, vieram os árabes, os mascates, que levaram a civilização, a vida, a economia e todos os princípios de dignidade a todo este país. (Palmas.)

É o encontro da história. Portugal subiu a Serra de Santos e formou a primeira cidade, São Vicente antes dos Estados Unidos criarem as suas regiões de civilização organizada. Quando os portugueses subiram a Serra, Tomé de Souza já trazia ao Brasil um grupo de cristãos árabes do Oriente que conheciam a língua africana e foram os tradutores dos escravos para que pudéssemos ter essa miscigenação que hoje impera em nosso país. É por isso que se respeitam as raças, as condições de todas origens em um clima de paz e busca da felicidade.

Não quero tomar muito tempo, nem tenho esse direito, mas quero aproveitar aquela colocação do Padre Dimitrius que dizia “Se fecharmos os olhos e pensarmos no que seria o Brasil sem essa parte da história da presença árabe” para pedir aos senhores que fechem os olhos por minuto e, certamente, virá no coração e na alma de cada um nós a história dos nossos antecessores, do nosso passado, dos nossos pais, que vieram na busca de um país mais tranqüilo, muitos fugindo da pressão otomana na época, por volta de 1910, 1920.

Aqui chegaram, provavelmente sem fortuna, sem dinheiro. Aqui se fixaram, constituíram suas famílias e fizeram suas vidas, formando a melhor qualidade de brasileiros que são de origem árabe. O maior desejo dos nossos pais vindos do Oriente era que cada um de nós pudéssemos estudar.

Romeu Júnior, seu avô hoje, lá em cima, está nos vendo, provavelmente com uma felicidade imensa por ter um neto que lembrou que o imigrante árabe tem uma presença marcante em território brasileiro. (Palmas.) Lembro um dia em que meu pai nos trazia da Penha para a escola, na Rua Oriente, e nos pôs na calçada, para voltar ao bonde - o antigo bonde, quem não se lembra do bonde, só aqueles da minha geração é que se lembram, os mais jovens podem conhecer a história no Museu do bonde. E ao voltar, apinhado de gente, não conseguiu um lugar no estribo. Desceu, estávamos caminhando para a escola, eu e o Renato, porque o Rezkalla estudava no colégio oriental - por isso ele fala árabe e eu não. Estávamos no Liceu Acadêmico de São Paulo, na Rua Oriente. Estávamos caminhando e meu pai me chamou: “Romeu, volte aqui, e, por favor, devolva-me o dinheiro que te dei para o lanche, porque não tenho dinheiro para pegar o bonde e não consigo andar até a 25 e preciso pegar o bonde de novo”. Essa é a história de cada um de nossos pais. Não tem ninguém aqui que não tenha sentido essa presença espiritual daqueles que escreveram a história dos árabes em território brasileiro. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PPS - Esta Presidência quer registrar a presença do nosso companheiro, nobre Deputado Federal Jamil Murad, que muito nos honra com sua presença hoje aqui. (Palmas)

Caras autoridades presentes, já nominadas por nós e pelo cerimonial, meus queridos companheiros Deputados estaduais e federais aqui presentes, minhas senhoras e meus senhores, estamos acostumados a falar sempre de improviso, mas se hoje eu tentar fatalmente serei traído. Então, vou me permitir, com a compreensão de vocês, ler aquilo que escrevemos com o nosso pensamento, o nosso sentimento, que vem de dentro da nossa alma.

Hoje é um dia muito importante para o Parlamento Paulista. Estamos aqui reunidos para celebrar uma grande confraternização, para cultuar o amor, a união, a integração, a amizade e, sobretudo, a paz. A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, ao homenagear, nesta Sessão Solene, o imigrante árabe, presta um tributo a uma civilização que teve a sua maior conquista no campo lingüístico: a língua árabe.

Berço de toda civilização ocidental, os árabes assimilaram a cultura helênica e antiga e fizeram uma harmonização do pensamento grego com os ideais islâmicos. Os árabes foram muito avançados na medicina, na astronomia e na alquimia. Os médicos árabes costumavam visitar diariamente as prisões para controlar a saúde pública.

O primeiro hospital do Islã surgiu no século IX. As clínicas ambulantes apareceram no século XI. Os hospitais tinham cada um o seu próprio dispensário, alguns eram equipados com bibliotecas médicas e davam cursos de medicina.

Al Razi, médico árabe do século X, foi, até o século XV, a fonte principal do conhecimento químico na Europa. A Enciclopédia médica de Avicena, médico e filósofo árabe, foi a bíblia para a educação médica nas escolas da Europa até o século XVII.

Os árabes fundaram a mais antiga escola de farmácia. Ainda no século IX, os farmacêuticos tinham de passar por um exame e os médicos que se submeter a provas.

A astronomia se desenvolveu para posicionar as mesquitas na direção a Meca. O pai da alquimia árabe foi Jabir Ibn Hayyan, que deu seu nome, Al Jabir, à álgebra.

Os portais das instituições educativas da Espanha muçulmana, a partir do Século VIII, ostentavam a famosa inscrição: “O mundo é sustentado por quatro coisas apenas: a sabedoria do sábio, a justiça do grande, as preces do justo e a coragem do bravo.

A sabedoria muçulmana penetrou no pensamento europeu. A Espanha maometana escreveu um dos capítulos mais brilhantes na história intelectual da Europa Medieval. Entre a metade do Século VIII e o início do Século XIII, os povos que falavam a língua árabe eram, por todo o mundo, os principais portadores da luz, da cultura e da civilização.

As obras da ciência e da filosofia antigas, que foram por eles resgatadas, desenvolvidas e transmitidas, possibilitaram o florescer do Renascimento na Europa ocidental.

O mundo árabe teve grande participação no desenvolvimento da Europa, na Idade Média, até o século XV, e também influenciou a América Latina, através das culturas portuguesa e espanhola.

O mundo árabe é formado hoje por um conjunto de países da Península Arábica, do Oriente Médio e do norte da África: Arábia Saudita, Argélia, Bahrei, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Eritréia, Iemen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Oman, Palestina, Catar, Síria, Somália, Sudão e Tunísia.

Como já fizemos um histórico da civilização árabe e sua influência no mundo ocidental, agora chegou a hora de falar dos imigrantes árabes que aqui vieram para nos transmitir a sua cultura milenar, para transformar este país generoso em sua pátria, para repartir com os brasileiros os sonhos por um mundo melhor.

No Brasil, a imigração libanesa começou na segunda metade do século XIX. Naquela época os imigrantes concentraram-se nas regiões de produção de borracha, no norte, e de café, no sudeste.

No início do século XX os relatos do sucesso econômico do Brasil, e principalmente a instabilidade política do império Otomano, que dominava o Oriente Médio, intensificou a vinda dos árabes para cá. O maior contingente de imigrantes é proveniente do Líbano e da Síria. São bem menores as correntes saídas de outros pontos do antigo império Otomano, como a Turquia, Palestina, Egito, Jordânia e Iraque.

Até 1920 mais de 58 mil imigrantes árabes haviam entrado no Brasil, sendo que o Estado de São Paulo acolheu 40% desse total, que hoje perfazem em nosso país mais de 12 milhões.

Ao desembarcarem no Rio de Janeiro ou em Santos, a opção de trabalho para as primeiras levas de imigrantes foi o comércio. Embora pobres e em geral afeitos ao trabalho agrícola, poucos foram os árabes que após o desembarque optaram pela agricultura. Na cidade de São Paulo, na década de 30, concentraram-se nos bairros da Sé e Santa Ifigênia, ou seja, entre as Ruas 25 de março, Rua da Cantareira e Avenida do Estado.

Quando os árabes aqui chegaram, já existiam mascates portugueses e italianos, tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro. Entretanto, a mascateação se tornou uma marca registrada da imigração árabe. Nessa atividade esses imigrantes introduziram inovações que hoje são vistas como traços marcantes do comércio popular. Eles redefiniram as condições de lucro, introduziram as práticas da alta rotatividade e alta quantidade de mercadorias vendidas, além das promoções e das liquidações.

Nos primeiros anos de atividade os mascates visitavam as cidades do interior, principalmente as fazendas de café, levando apenas miudezas e bijuterias. Mas com o passar do tempo e com o aumento do capital, começaram também a oferecer tecidos, lençóis, roupas prontas e outros artigos. Conforme acumulavam os ganhos, os mascates contratavam ajudantes ou compravam carroças. O passo seguinte era o de estabelecer uma casa comercial e o último passo, a industria.

Em São Paulo, na Rua 25 de março, e no Rio de Janeiro, na Praça da República e no bairro da Tijuca, o comércio árabe imprimiu um caráter popular na paisagem de algumas áreas da cidade.

Em 1901, na capital paulista, já eram mais de 500 casas comerciais na região. Seis anos depois um levantamento indicou que das 315 firmas de sírios e libaneses, 80% eram lojas de tecidos a varejo e armarinhos.

A eclosão da 1a Guerra Mundial aumentou os lucros do comércio e da indústria com a interrupção da importação dos produtos europeus. O sucesso mais ostensivo dos imigrantes árabes foi sua entrada no setor industrial, o que ocorreu principalmente nas duas primeiras décadas do Século XX, quando deslanchou o processo de substituição das importações através da industrialização. Um caso significativo desse sucesso é o da família Jafet.

Nas últimas décadas, a contribuição cultural dos árabes tem se dado também pela culinária, embora haja outros campos em que sua presença é marcante. O aumento das cadeias de fast-food nos grandes centros urbanos aproximou a população do quibe, da esfiha, do tabule, da coalhada seca, antes circunscritos aos restaurantes típicos. A popularização sobretudo do quibe e da esfiha fez com que fossem incorporados a outros locais de alimentação, como as tradicionais pastelarias chinesas e até mesmo pelos bares e padarias de portugueses e brasileiros.

Devemos aos árabes até a introdução da bóia nas caixas de descarga da água, aliás, um assunto que tem sido tema palpitante nesta Assembléia Legislativa nos últimos tempos. A família Rezkalla, responsável por esse avanço, fundou em 1898 a tradicional Casa da Bóia, até hoje existente na rua Florêncio de Abreu. Na literatura, incorporando-se ao panorama cultural do país, podemos citar, entre outros, Jamil Almansur Haddad, Mário Chami e Raduan Nassar. No cinema, ficou famosa a filmagem realizada pelo libanês Abrahão Benjamin, com o Bando do Cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião, que foi censurado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo, que proibiu sua exibição, cujos fragmentos foram resgatados somente na década de 60. O fotógrafo Benjamin virou protagonista de um filme sobre o cangaço, Baile Perfumado. Outros nomes de destaque são os cineastas Arnaldo Jabor e Walter Hugo Khouri, falecido recentemente.

No campo da ciência, das letras, da política, do direito, da engenharia, da medicina, da sociologia, enfim, em todos os segmentos da nossa sociedade temos orgulhosamente o imigrante árabe ou um descendente de renome, profissionais que personificam a notável contribuição dada ao país que os recebeu. São tantos os nomes e tão memoráveis são os seus feitos, que não os nomearei para não cometer injustiça.

Quero realçar também a importância dos nossos clubes, o Sírio, o Homs, o Monte Líbano, associações esportivas e socioculturais de grande conceito na sociedade, onde aprendemos na convivência a importância de viver em comunidade. Aqui quero fazer parênteses para rememorar a conquista histórica pelo título mundial do basquete pelo Esporte Clube Sírio, fato que é motivo de orgulho para todos nós, brasileiros.

É importante salientar que temos nesta Casa Legislativa uma bancada de Deputados de origem árabe de diversos partidos e regiões do Estado, que se reúnem periodicamente para confraternizações e, mais que isso, para discutir as questões afetas à comunidade árabe e brasileira, buscando numa atuação suprapartidária as soluções cabíveis. Poderia passar horas falando dos feitos dos representantes da cultura árabe em nosso país, nos mais variados campos do conhecimento, tal como contador de história, recitando as proezas dos personagens das mil e uma noites. Mas quero me ater num ponto que considero fundamental.

Os imigrantes árabes conseguiram vislumbrar neste país querido, que é o Brasil, o sonho dos seus antepassados. Aqui em solo brasileiro os imigrantes árabes e seus descendentes puderam trabalhar e progredir com o fruto do seu trabalho e ocupar um lugar de destaque na nossa sociedade. Esta pátria configurou-se o sonho da união, da integração, do convívio harmonioso acalentado pelos primeiros imigrantes árabes. Parabéns a todos os imigrantes árabes e a seus descendentes, brasileiros de sangue árabe como eu, que trazem na sua formação moral a importância da família, a força dos valores sociais e religiosos, a dignificação pelo trabalho, a soberania através do conhecimento e da cultura, o amor ao próximo, pelo sentimento e pela sensibilidade da alma, características que os árabes, generosamente, partilham com os brasileiros. Parabéns ao Brasil por contemplar a convergência de ideais, por não tolerar a inclusão de conflitos e de guerras, país onde a paz, a harmonia e a concórdia se constitui no nosso maior patrimônio.

Para encerrar, quero, com a compreensão de todos os senhores, fazer uma homenagem especial a algumas pessoas que tiveram e têm muita importância na minha vida e na formação do meu caráter. Aos meus queridos pais, Romeu Tuma, Zilda Dirane Tuma, aqui presentes, por terem sempre iluminado e apontado o caminho certo que eu deveria seguir na busca da verdade, da justiça e da igualdade social. Aos meus avós, Zike, América, Jorge e Vitória, os três primeiros, infelizmente, falecidos, com os quais passava as tardes da minha adolescência nas suas lojas e fábrica e que me impuseram a força do trabalho, que me exemplificaram que alguém só é digno quando se dedica efetivamente ao trabalho de uma forma honesta.

Agradeço também aos meus tios, meus primos, meus irmãos, pelo que representam na minha vida, a minha companheira Luciane, companheira de todas as lutas e especialmente as minhas queridas filhas, minhas rainhas, minhas donas, minhas almas, Renata, Regiane e Roberta, por compreenderem sempre a ausência do pai e entenderem que o interesse público está acima dos nossos interesses pessoais, mesmo tendo que nos afastar momentaneamente por isso. Amo vocês. (Palmas.)

Para encerrar, homenageio todos vocês presentes, meus amigos, aos quais teço esta homenagem recordando um fato que sempre trago vivo na minha memória. Desde minha juventude, quando tinha 16 anos, meu pai, senador Romeu Tuma, assumia pela primeira vez, em janeiro de 1977, o cargo de diretor de departamento, integrava naquele momento o conselho da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Nunca me esqueço, trago isso muito vivo, quando no seu discurso de posse, meu pai lembrava uma frase do nosso eterno poeta e pensador árabe Gibran Kalil Gibran, uma frase que meu avô sempre dizia. Nunca esqueço, pai, quando o senhor encerrou aquele discurso, proferindo esta frase: “Senhor, tirai-me a luz dos olhos, mas nunca privai-me das minhas amizades”. Muito obrigado. (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência, antes de encerrá-la, agradece a autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade e convido a todos para um coquetel que será servido no Café dos Deputados. Está encerrada a sessão.

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- Encerra-se a sessão às 22 horas.

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