26 DE NOVEMBRO DE 2001

43ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO “DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO”

 

Presidência: SALVADOR KHURIYEH

 

Secretário: NIVALDO SANTANA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 26/11/2001 - Sessão 43ª S. SOLENE Publ. DOE:

Presidente: WALTER FELDMAN/SALVADOR KHURIYEH

 

COMEMORAÇÃO DO "DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO"

001 - Presidente WALTER FELDMAN

Abre a sessão. Anuncia que a sessão foi por ele convocada, atendendo à solicitação dos Deputados Salvador Khuriyeh, Jamil Murad e Pedro Tobias, com a finalidade de comemorar o "Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino". Convida todos a ouvirem as execuções dos hinos nacionais do Brasil e da Palestina.

 

002 - SALVADOR KHURIYEH

Assume a Presidência.

 

003 - JAMIL MURAD

Cumprimenta o Presidente Salvador Khuriyeh e demais autoridades. Demonstra a importância política da realização da presente solenidade. Analisa a estratégia estadunidense na Ásia Central. Defende a execução imediata da Resolução da ONU, feita em 1947, de se instalar o Estado Palestino, com a capital em Jerusalém.

 

004 - Presidente SALVADOR KHURIYEH

Anuncia a apresentação de um vídeo.

 

005 - MOHAMED HABIB

Na qualidade de Coordenador de Assuntos Internacionais e Institucionais, cumprimenta o Presidente Salvador Khuriyeh e as demais autoridades. Destaca a bravura da gente palestina que combate com armamento inferior aos dos seus opressores.

 

006 - MÁRCIA CAMPOS

Presidente da Confederação das Mulheres do Brasil e diretora da Federação Internacional de Mulheres - Fedim -, saúda a Mesa na pessoa do Presidente Salvador Khuriyeh e diz para todos, especialmente para Terezinha Zerbini, que é uma alegria estar na solenidade. Irmana-se a 156 países onde também está sendo comemorado o "Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino". Acusa os EUA como o pior estado terrorista do Planeta.

 

007 - ANTÔNIO NETO

Na condição de Presidente da Central Geral dos Trabalhadores, cumprimenta o Presidente Salvador Khuriyeh, o embaixador Musa Odeh e os demais membros da Mesa. Anuncia a solidariedade da CGT ao Povo Palestino. Registra a denúncia do "apartheid" palestino, feita pela Organização Internacional do Trabalho - OIT.

 

008 - ABDU MAVLOUM

os srs. Deputados e demais autoridades. Relembra que, desde 1948, foi criado o Estado de Israel e o da Palestina, não.

 

009 - MYRYAM ATHIE

Como Vereadora à Câmara Municipal de São Paulo, saúda o Presidente Salvador Khuriyeh, os requerentes desta Sessão Solene, Deputados Jamil Murad e Pedro Tobias e as demais autoridades. Manifesta sua solidariedade ao Povo Palestino.

 

010 - RESKALA TUMA

Agradece aos três Deputados que solicitaram a Sessão Solene. Comenta várias ações bélicas de Israel em território palestinense.

 

011 - ALDO RABELO

Deputado Federal, cumprimenta a Mesa, o embaixador Musa Odeh e demais autoridades. Considera que é a primeira sessão em homenagem ao Povo Palestino, após o 11 de setembro.

 

012 - MUSA AMER ODEH

Como embaixador da Palestina, saúda o Presidente Salvador Khuriyeh, os srs. Deputados e demais autoridades. Agradece a solenidade e o apoio do povo brasileiro ao Povo Palestino. Pede justiça, paz e amor para seu povo.

 

013 - MOHAMAD SALEM

Agradece ao Presidente Salvador Khuriyeh a solenidade, cita as principais datas de sua biografia e o homenageia.

 

014 - Presidente SALVADOR KHURIYEH

Agradece a homenagem e a oferece também aos Deputados Jamil Murad e Pedro Tobias. Fala que é sua obrigação defender a causa palestina e que isso significa defender o direito e a justiça pela vida digna de todo cidadão do mundo. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado Nivaldo Santana para, como 2º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

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O SR. PRESIDENTE - WALTER FELDMAN - PSDB - Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada por este Presidente, atendendo solicitação dos nobres Deputados Salvador Khuriyeh, Jamil Murad e Pedro Tobias, com a finalidade de comemorar o “Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino”.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos os Hinos nacionais da Palestina e do Brasil, que serão executados pela Banda da Polícia Militar.

 

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-         É executado o Hino Nacional Brasileiro.

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O Cerimonial da Casa assume total responsabilidade pela falha na execução do Hino da Palestina, eximindo a Polícia Militar de toda responsabilidade.

                                  

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O SR. PRESIDENTE - WALTER FELDMAN - PSDB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar e passa a Presidência ao nobre Deputado Salvador Khuriyeh.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Salvador Khuriyeh.

 

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O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Esta Presidência passa a palavra ao nobre Deputado Jamil Murad.

 

O SR. JAMIL MURAD - PCdoB - Sr. Presidente, Srs. Deputados, autoridades aqui presentes, meus amigos, o Dia Internacional de Solidariedade aqui é realizado por força da lei do Deputado Benedito Cintra, de 1984.

É de enorme importância política a realização desta sessão solene da Assembléia Legislativa exatamente no período em que vemos os Estados Unidos fazerem uma guerra cruel, usando armas novas - de grande poder de destruição - contra um povo pobre e que já estava destruído por conflitos anteriores.

É importante registrar que se não há paz no Oriente Médio, se nossos irmãos palestinos não têm, ainda, o seu sagrado direito ao Estado Palestino, tal se deve principalmente à garantia que os Estados Unidos dão para Israel cometer qualquer crime. Também é responsabilidade da ONU, que não tomou nenhuma providência como seria de sua obrigação e a razão de ser de sua existência.

O jornal “Le Monde” publicou o relatório da Anistia Internacional, acusando Israel de usar "tratamento cruel, desumano e degradante" contra os palestinos.

A Anistia Internacional também acusa Israel de destruir mais de 500 casas de palestinos nos territórios ocupados, só no espaço de um ano. Infligem também punições coletivas, bloqueando cidades, aldeias e regiões inteiras.

O Governo Sharon usa caças F-16, fornecidos pelos Estados Unidos, usa helicópteros, assassina suspeitos pelo fato de serem líderes do movimento pela instauração do Estado Palestino Independente.

É um verdadeiro genocídio de um povo desarmado, encurralado, agredido, oprimido, mas que se nega a abandonar seu sagrado direito de existir como povo, com dignidade, tendo sua Pátria, a Palestina, e garantidos os seus direitos nacionais e sociais.

A dor do povo Palestino é a nossa dor, é a dor de todos os povos que lutam por justiça e autodeterminação.

Os Estados Unidos são a maior potência militar do mundo e usam sua força não para a justiça, para a liberdade, para o progresso e pelos direitos nacionais dos povos. Pelo contrário, usam sua força como instrumento de submissão de povos para garantir seus interesses geopolíticos e seus lucros.

Os Estados Unidos têm, com a guerra contra o Afeganistão, a pretensão estratégica de ocupar a Ásia Central. Agora planejam, na calada da noite, nova agressão a outros povos, principalmente árabes e muçulmanos.

De maneira odiosa, colocam no alvo, como inimigos, os árabes e aqueles que professam a religião islâmica.

Eles escondem que o atentado de Oklahoma foi feito por um norte americano.

Aliás, o Estado americano é a maior fonte terrorista no mundo. É só lembrar de Hiroshima, e tantas outras ações criminosas, praticadas em todas as partes do mundo.

Agora foi criado um tribunal militar secreto americano, contra estrangeiros (leia-se: principalmente árabes), o qual não lhes garante o direito de defesa e tem poderes para condenar as pessoas (entenda-se: árabes e muçulmanos) à pena de morte.

Devido a esta nova onda fascista que nasce nos Estados Unidos e atinge os povos do mundo inteiro, é que precisamos defender o povo palestino, o Estado Palestino, com capital em Jerusalém.

Os Estados Unidos querem confundir a opinião pública, rotulando como terroristas as organizações políticas e os povos que lutam por seus direitos, na defesa de sua Nação.

Não concordamos com esta opinião. Somos contra o terrorismo, mas somos a favor da luta heróica do povo palestino e de outros povos, na defesa de seus direitos legítimos e de sua autodeterminação.

A própria ONU prevê o legítimo direito da luta armada, quando se trata da luta de um povo pelos seus direitos nacionais, para expulsar o invasor, o ocupante de seu território.

Exigimos que os Estados Unidos interfiram para frear os crimes que o Estado e o governo de Israel cometem contra os palestinos. Os Estados Unidos têm obrigação de apoiar a instalação do Estado Palestino Independente, com capital em Jerusalém e com a garantia dos direitos do povo palestino. Esta foi a resolução da ONU, em 1947. Por que esta decisão da ONU foi boicotada até hoje?

Os Estados Unidos e a Inglaterra querem a guerra, mas os povos querem a paz com justiça.

Queremos que a ONU garanta a observância de suas resoluções a favor do Estado Palestino Independente e com os legítimos direitos do povo palestino.

Contra a Guerra, pela Paz e Justiça para os povos!

Viva o estado Palestino Independente.

Viva o Povo Palestino.

Glória eterna aos mártires palestinos.

SHUCRAM.

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Esta Presidência passa a palavra ao Sr. Mohamed Habib, Coordenador de Assuntos Internacionais e Institucionais.

 

O SR. MOHAMED HABIB - Sr. Presidente, demais autoridades. Gostaria apenas de mencionar o fato de que o que vem ocorrendo com o povo palestino, nestes últimos tempos, é que o povo nunca teve armas e munições que equivalham às dos opressores, mas sempre contou com uma arma que eles nunca tiveram: a boa vontade, a garra, a decisão, a luta para defender seus direitos, os direitos pelo lar, pela sua dignidade, pela defesa da sua dignidade, para ter a sua própria casa, seu próprio lar, uma luta pelos seus direitos humanos mínimos, o espaço e o direito de ter a sua soberania respeitada.

Hoje assistimos o que aconteceu no mundo nestas últimas semanas, nesses últimos dois ou três meses e volta à tona a questão palestina: o conflito israelense-palestino. Estamos aqui hoje para dizer que todos os seres humanos que nasceram têm os mesmos direitos de viver e de viver em paz, inclusive o povo palestino.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Dando seqüência aos trabalhos, gostaria de convocar a Sra. Márcia Campos, Presidente da Confederação das Mulheres do Brasil e Diretora da Federação Internacional de Mulheres - Fedim.

 

A SRA. MÁRCIA CAMPOS - Boa noite. Gostaria de saudar a Mesa, na pessoa do Presidente Salvador Khuriyeh, nosso embaixador, e dizer para todos, especialmente para nossa querida Terezinha Zerbini, nossa vice-presidente, que está aqui entre nós, que é uma alegria muito grande estar aqui esta noite.

Hoje, em todos os países filiados à nossa entidade internacional de minérios, em 156 países está sendo comemorado o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

Para as mulheres de todo o mundo, em especial para as brasileiras, não existe violência maior contra a humanidade, em especial contra as mulheres, do que os bombardeios, os bloqueios e as ocupações. O que acontece hoje com o povo palestino, com as mulheres e crianças palestinas, tem emulado as mulheres de todo o mundo a denunciar, a apontar, a dizer que o que lá acontece é fruto de uma política genocida constituída pelo pior estado terrorista do Planeta, que é os Estados Unidos, e que nós, mulheres, não nos impressionamos com o que é dito na mídia brasileira. (Palmas.)

Temos acompanhado as agressões ao Afeganistão. Isso que lá acontece não é por conta do que eles dizem que foi feito por este ou por aquele. É uma luta de quem quer tomar o petróleo daquela região e já havia estabelecido, antes do dia 11 de setembro, que aquele país seria atacado. Agora, neste momento, quando precisa fazer política com o mundo árabe para tentar impedir que Síria, Líbano e todos os outros apontem o que tem sido a mazela daquelas nações, no enfrentamento com os Estados Unidos, na defesa de seu petróleo, na defesa do seu território, começam a oferecer o Estado Palestino e a dizer que Israel não pode permanecer com a política de ocupação que vem praticando, como foi dito aqui por muitos oradores.

Sabemos da luta do povo palestino que tivemos oportunidade de assistir dentro da Palestina. A Fedim já realizou inúmeras idas para que pudéssemos sentir de perto o que vivem aquelas mulheres. Diziam-nos que não organizam seus filhos para ir jogar pedra, mas que não controlam a rebeldia de quem acredita na sua nação como uma possibilidade. Não querem viver desse jeito e, por isso, brigam, lutam da forma que têm, com a idade que ainda têm.

Essa forma de lutar, de ter dignidade, de não se curvar, de acreditar no seu povo nos dá muito orgulho, um orgulho enorme, porque aqui no Brasil temos passado um sufoco muito grande debaixo de uma política que infelicita o povo brasileiro, leva milhões e milhões de brasileiros a uma situação de miséria muito grande e vemos o nosso presidente muito animado com tudo que está acontecendo, muito animado em parabenizar os Estados Unidos pelo que está fazendo.

Portanto, decidimos. Mas não foi uma decisão fácil, foi difícil, porque o mundo é complexo, as forças que atuam numa entidade feminina no mundo todo são complexas, mas, assim mesmo, aprovamos na direção da nossa entidade que, no ano de 2002, nós, mulheres, faremos o Congresso Internacional de Mulheres da Fedim, no Líbano, em solidariedade ao povo palestino, ao povo afegão, ao mundo árabe, contra a agressão americana que tem se perpetuado.

Foi dita aqui a situação de Hiroshima e Nagasaki, gostaria de lembrar do Vietnã, do Iraque, de Shatira, no Líbano. Muitos povos tenho que contar dessas agressões terroristas. Nós estaremos lá. A companheira Myryam Athie será uma das companheiras que irá à frente dessa delegação de 80 mulheres brasileiras, para demonstrar, com a voz forte das mulheres brasileiras, que não concordamos, que repudiamos, que vamos lutar contra e o povo palestino, as mulheres e crianças palestinas, contam com as mulheres brasileiras na solidariedade, mas principalmente no apoio e na presença contra o que está acontecendo.

Viva o povo palestino! Viva o povo brasileiro! Sairemos vitoriosos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Esta Presidência agradece as palavras da Márcia Campos, Presidente da Confederação das Mulheres do Brasil.

Convido a discursar o Sr. Antônio Neto, Presidente da Central Geral do Trabalhadores e Vice-Presidente da Federação Sindical Mundial.

 

O SR. ANTÔNIO NETO - Boa-noite, meu caro Presidente Salvador Khuriyeh, caro Embaixador Musa Odeh, demais membros da Mesa, parlamentares, amigos presentes nesta data de solidariedade à Palestina, alguns devem estar pensando o que uma Central de Trabalhadores possa estar, neste momento, conversando, mas já sabemos, depois de assistir a esse vídeo, que é impossível não ser solidário ao povo palestino. (Palmas.)

Nós, da Central Geral dos Trabalhadores, nós da Federação Sindical Mundial, participamos do Secretariado Internacional de Solidariedade à Palestina. Neste ano, a Organização Internacional de Trabalho - OIT - fez uma sessão especial denunciando o apartheid palestino. É chegado o momento de acabar com esses genocídios, com atrocidades, e dar ao povo palestino o que é seu de direito: um estado livre, independente, soberano, cuja capital seja Jerusalém. (Palmas.)

Esse Secretariado reuniu-se em setembro, em Damasco, para tomar algumas deliberações de como os trabalhadores de todo o mundo podem se solidarizar cada vez mais com o povo palestino. É bom lembrar que é fácil ver isto, em especial aqui no Brasil. Quem são os terroristas para a mídia burguesa, vendida, safada, canalha deste país é o pobre povo palestino, que enfrenta o fuzil F-16 e tanques com pedras. Esses são os terroristas. Não aqueles soldados israelenses com fuzil de mira de precisão, tanques de guerra, mísseis que destroem e matam. Ali apareceram algumas coisas sem voz e sem legenda, muitas crianças sem olho, ou com olho machucado, é porque há uma maldade profunda por parte dos atiradores israelenses de acertar efetivamente nos olhos das crianças. Esta barbárie precisa acabar.

Então, os trabalhadores têm se juntado ao longo do mundo em plenárias, em todos os cantos, para denunciar a verdadeira barbárie genocida que ocorre hoje no Estado da Palestina. Os trabalhadores sofrem, perderam seus empregos, não têm seus salários, suas casas foram arrasadas, a economia palestina está um desastre. Temos de fazer alguma coisa, porque não podemos permitir que este estado de coisas continue. Fazendo atos como este em diversos países, talvez possamos mostrar ao mundo, às pessoas que parecem que estão entorpecidas pela mídia do que realmente ocorre na Palestina.

Parabéns a todos nós que estamos hoje aqui reverenciando aqueles que são os heróis da Intifada Palestina, os heróis do Estado Palestino. Boa-noite! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Agradeço as palavras do meu amigo Antônio Neto.

Convido agora, para fazer uso da palavra, o Exmo. Sr. Vereador Abdu Mavloum, do Município de Guarulhos.

 

O SR. ABDU MAVLOUM - Sr. Presidente, Srs. Deputados, demais autoridades, estimados cidadãos, mais de meio século se passou desde que em assembléia da Organização das Nações Unidas, presidida em 1948 pelo nosso Chanceler Osvaldo Aranha, foi criado o Estado de Israel. Cumpriu-se a decisão quanto à Israel, mas os palestinos até hoje lutam por sua pátria. O conflito vai-se configurando em uma grande tragédia, na medida em que Israel não cumpre as resoluções da ONU na retirada de sua tropa da Palestina.

Israel tem o mais forte esquema militar da região, para o que conta com o respaldo mais explícito dos Estados Unidos, entre outros. E, com esse poderio bélico, enfrenta soldados quase que desarmados e jovens que, na falta de outros artefatos, enfrenta com pedras. Pedras, as mesmas pedras com que Davi derrubou Golias. Mas metáfora que agora subverte antigo conceito de Karl Marx de que a História, quando se repete, somente o faz com farsa, e a repetição dessa história em nossos dias se faz com pura tragédia.

Lá se vai mais de um ano desde quando se deu o passeio provocador de Ariel Sharon ao local mais sagrado em Jerusalém para os árabes. E o fez pura e exclusivamente como parte de uma estratégia eleitoral, buscando ser eleito para o parlamento e depois conquistar o comando político do país. Diante da revolta palestina a essa provocação, Israel respondeu com prepotência de sempre, uma prepotência que lhe é permitida pelo poderio militar que exibe a cada instante que a seu bel-prazer considerar necessário. Esse fato, aliás, mostra que a questão no Oriente Médio tem complexidades ainda maiores do que o conflito palestino/israelense.

A região é, portanto, berço das três religiões monoteístas e altamente estratégica desde a antigüidade, tendo sido ocupada sucessivamente pelos gregos, romanos, sucedidos pelo Império Otomano com a tentativa dos cruzados de recuperá-la - e, após a 1.ª Guerra Mundial, pelos impérios britânico e francês.

Parece-nos difícil que a ONU não consiga sequer impor a decisão adotada por sua assembléia geral, há mais de meio século, e não o faz porque, antes de tudo, as grandes potências têm o direito do veto em seu Conselho de Segurança, o que permite aos Estados Unidos impedir que se estabeleça ali essa verdade histórica.

Diante da História, há de se reconhecer que não há solução baseada na via militar para os problemas do Oriente Médio. Portanto, a diplomacia da força deve ceder espaço para a força da democracia. E a necessidade da via pacífica negociada se justifica, se tivermos em mente as imagens da Terra Santa - santa para os árabes, cristãos e judeus. No meio das orações pelos dois mil anos do nascimento de Cristo, ouvia-se o matraquear noturno das metralhadoras israelenses que ali, ao lado, dizimavam jovens palestinos.

Se o ser humano pensar no ser humano, a quem foi entregue o mundo para compartilhar e não para reinar, teremos um mundo melhor. Paz para os homens de boa vontade.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - A Presidência agradece as palavras do Vereador Abdu Mavloum e convida para fazer uso da palavra a Exma. Sra. Vereadora Myryam Athie, da Câmara Municipal de São Paulo.

 

A SRA. MYRYAM ATHIE - Exmo. Sr. Deputado Salvador Khuriyeh, Presidente desta Sessão Solene, queridos amigos Deputado Jamil Murad, Deputado Pedro Tobias, requerentes desta Sessão Solene, Deputado Federal Aldo Rebelo, Vereador Abdu Mavloum, Sr. Embaixador da Palestina, autoridades presentes, achei que hoje não faria uso da palavra, mas ao cumprimentá-los, não poderia deixar de manifestar a nossa solidariedade ao povo palestino.

Emocionei-me ao ver aqui pessoas de várias origens, várias religiões e principalmente dois brasileiros do meu partido, PMDB, Márcia Campos e Neto que talvez nada tenham a ver com as nossas raízes, mas que se manifestaram de maneira brilhante e de maneira a justificar o seu empolgamento nesta causa palestina.

Disse-nos o Deputado Jamil Murad que desde 1984 esta Casa, através de uma lei, manifesta-se todos os anos, em Sessão Solene, solidariamente à causa palestina. Há 17 anos, nesta Casa, que esse povo clama pela sua soberania. Há 17 anos que esse povo quer o direito ao seu estado. Há 17 anos que esse povo quer fincar a sua bandeira sem ter medo. Há 17 anos defendemos a causa do povo palestino. E o que se viu de lá para cá? Ódio, intolerância. O mesmo ódio e a mesma intolerância que nós, descendentes de libaneses, vimos grassar pelo Líbano. Vimos, durante muitos anos, o ódio, a guerra, a incompreensão, o massacre do seu povo e, assim mesmo, o Líbano, um país pequeno, não deixou de dar guarida aos seus irmãos palestinos e hoje convivemos todos irmãmente.

Quero dizer a vocês que é muito difícil combater o terrorismo sem levarmos a esses atos. Mas não será com a guerra, Deputado Jamil Murad, e não será com atos terroristas que conquistaremos o nosso espaço. É muito difícil, sim, ver as mães perdendo seus filhos, crianças que não tiveram sequer o direito de viver, por ter direito de sua terra. Mas estaremos unidos orando para Deus que é único, independentemente da forma como Ele é cultuado. Lutaremos para que a Palestina tenha direito ao seu estado e o povo do Oriente Médio assim o quer.

Faço um apelo para que nos mantenhamos unidos, porque unidos seremos uma potência; isolados, nada valeremos. Para que possamos combater toda essa injustiça, mas com muita oração, a exemplo do cedro do nosso Líbano, muitos tentaram derrubá-lo, tentam balançá-lo também, mas ele se mantém firme na busca dos ideais do povo libanês. Assim será a busca dos ideais do povo palestino com o qual todos nós nos congraçamos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - A Presidência agradece a palavra da Exma. Sra. Vereadora da Câmara Municipal de São Paulo, companheira e amiga Myryam Athie, e convida o Sr. Reskala Tuma, para fazer uso da palavra. (Palmas.)

 

O SR. RESKALA TUMA - Peço vênia ao Sr. Presidente para me dirigir aqui de cima para facilitar os trabalhos.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos três deputados que pediram esta Sessão Solene. É o próprio Presidente da Casa, companheiro Deputado Walter Feldman, que recentemente realizou aqui encontros dos quais participei, que foi à inauguração deste ‘Painel da paz’. Há três dias, esta Casa também editava uma lei criando o Conselho de Raízes e de Comunidades Estrangeiras em São Paulo, temos hoje representadas 18 etnias.

Ouvimos as palavras candentes de todos os oradores, ouvimos uma mescla de políticos, Márcia Campos representando as mulheres brasileiras, Myryam Athie, representando o corpo de política, mulher de natureza libanesa/árabe. Temos, presidindo a sessão, um filho de palestinos. Ouvimos as palavras candentes do Deputado Tobias e lembro-me do ano passado, quando ele se referia à associação ou entidade dos Médicos Sem-Fronteiras.

Essa plêiade de homens, de oradores, o grande companheiro que chamo de afilhado, Aldo Rebelo, são todos velhos companheiros. Todos eles já visitaram países árabes, visitaram o Iraque, a Líbia, a Síria, o Líbano e com todos eles nos congraçamos.

Esta Casa de leis, desde os primórdios de 1952 ou 1954, se não me falha a memória, ainda no Palácio das Indústrias, já hipotecava solidariedade ao povo palestino e aos direitos dos árabes. Quer dizer, essa luta de tantos anos jamais afastou da nossa vontade, nós por um dever de sangue, eles por um dever de justiça e solidariedade a quem sofre.

Há pouco, conversava com o Deputado Aldo Rebelo, que é muito difícil discernir a alma humana quando ela tem por si a incongruência da bondade e da maldade inserida dentro do seu contexto mental. A filosofia do homem é difícil. Ouvimos dizer aqui que é na religião que nasce o respeito ao criador de todo o mundo, o Deus único. Quem primeiro falou num Deus único foi um faraó egípcio que ensinou a Moisés a alteza real do governo egípcio, que hoje também é um povo árabe. Abraão era um cidadão que hoje consideraríamos árabe, porque é da região de Ur, onde é o Iraque. Nada existe de novo no mundo que não foi criado por esse povo. Ninguém tem culpa, ninguém pediu, ninguém sabe como nascer de um ventre de mulher. Ninguém escolhe o ventre que nos vai dar à luz ao mundo. Os ventres são todos iguais. As mães todas são iguais e abençoadas, as mães nos enviam mensagens de amor, de carinho, de bem-querência, de sacrifício, por isso o trabalho da mulher é sempre um trabalho de carinho e de amor.

Nesta Casa, neste mês de novembro, propugnou-se quase que inteiro à palavra da paz. Como realizar a paz se o homem não tem consciência do sofrimento que causa ao seu semelhante? É o povo palestino, é a Iugoslávia dividida, foi no Vietnã, foi na Coréia, é na Macedônia, é na Eritréia. Onde está a consciência do ser humano? A falta de consciência do ser humano vem de fundamentalistas.

Os senhores se esquecem e chamam hoje de terroristas aqueles que lutam pela emancipação do seu território nacional. Será que George Washington não foi um terrorista para os ingleses? É lógico que o exército inglês assim o considerava. Bolivar não era um terrorista para os espanhóis? Bernadoig para os espanhóis, na libertação do Chile? San Martin? O nosso Tiradentes, esquartejado na praça pública? Hoje, idolatramos esses nomes. Pergunto aos americanos: “Por que vocês consideram George Washington o grande nome, o grande herói dos Estados Unidos?” “Porque ele nos ajudou a lutar contra os casacos vermelhos, que eram os ingleses.” Vocês se lembram bem que, no fim do século passado, os nosso avós, os nossos pais diziam: “Aonde vocês querem ir?” Eles diziam: “América. Vamos para a América.” E todos nós, quando queríamos fazer alguma coisa, dizíamos: “Vamos fazer a América.”

Hoje a América é a grande cena da criminalidade humana, porque substituíram a fé no homem, a fé no Deus que eles tanto idolatraram pelos interesses do dinheiro. Ouvindo as palavras de todos, dá-nos vontade de chorar, porque perdemos o amor à humanidade. Assistimos impassíveis aos filmes do Afeganistão, assistimos, como se estivéssemos vendo uma novela de amor, o sofrimento das crianças palestinas.

Dizia, nesta mesma Casa, há poucos dias, que vi, na imagem da televisão, uma mulher e três filhos olhando a casa sendo destruída, segurando os filhos sem entender o que havia ocorrido, e, no dia seguinte, simplesmente, informam que uma casa, que já tinha mais de 40 anos, tinha sido construída contra a legislação ditada pelo prefeito de Jerusalém. Isto é humanidade?

Os primeiros movimentos terroristas urbanos foram praticados no território da Palestina. Os senhores esquecem-se da destruição do Hotel São Jorge, em Jerusalém, enfim, os movimentos terroristas, nasceram desse mesmo povo que hoje querem culpar. Confundem árabes com muçulmanos, com Afeganistão, com os paquistaneses. Ouvi a CNN dizer: “Os árabes do Paquistão, os árabes do Afeganistão hoje encobrem Bin Laden”. Eu pergunto a vocês: “Alguém conhecia o Bin Laden? Vocês se lembram de ter ouvido falar do Bin Laden, antes que os americanos lhe dessem armas, dinheiro e ensinassem a manejar as munições para libertar o Afeganistão dos russos?” Nenhum de nós conhecia. Hoje, o grande criminoso: Bin Laden. Não se prova nada. Hoje, diz-se no FBI que é possível que a direita americana esteja envolvida nesses atos. Como confundir religião com nacionalidade?

Ser árabe é um estado de espírito, repito sempre. Ser árabe é ter orgulho daqueles que fizeram o berço da civilização. (Palmas.) Ser árabe é ter a satisfação de dizer que foi de suas terras que veio a adoração do Deus único. Pouco importa o nome, Alá, Deus, Jeová. Todos os ensinamentos podem ter vindo de Buda, do Extremo Oriente, mas nada nasce de bom no Ocidente, é incrível. No Ocidente veio o progresso humano, ensinaram-nos a ter roupa para não ter que matar os bichos, ensinaram-nos a comer enlatados para não termos que caçar animais. Isso também é uma participação, mas esqueceram do valor do coração, do valor espiritual, do valor que a criatura humana tem uma com a outra. Por isso digo a vocês que é importante que lutemos por uma palavra: paz. O perdão é a maior qualidade que o ser humano pode ter. Poderemos perdoar todas as vicissitudes do sofrimento, mas não podemos perdoar sem que sejam punidos aqueles que praticaram crimes infamantes, como é o caso do General Sharon. Pedimos a condenação dele no Tribunal de Bruxelas e aqui mesmo, nesta Casa, pedimos que 40 mil palestinos assinassem uma petição reivindicando os direitos sobre suas casas, suas propriedades, suas plantações usurpadas. Isso está na Corte de Haia. Por que isso? Para que o mundo jamais deixe transcorrer os direitos usurpados pelo problema de prazo. Cento e cinqüenta anos é o caso das Malvinas. A ocupação contínua de um território que passa a ser propriedade absoluta, é usucapião.

Temos de lutar, cada um na sua maneira, mas não esquecendo que não temos inimigos, temos pessoas que têm doença mental. O fundamentalista, na sua essência, é um doente mental. O fundamentalista jamais pensa em fazer o mal. Hitler e Stalin foram fundamentalistas. Em certo período de seu governo, Getúlio Vargas foi um fundamentalista. Essa gente nunca pensa que está fazendo o mal. Hitler achava que ia criar uma raça ariana, a raça pura. Getúlio queria criar um Estado Novo em que se pudesse manipular o ensino, o sistema de produção, sob o governo de um homem só para não t

haver discussão democrática. E assim vamos vendo na história. São culpados? Não. São falhas do cérebro humano.

Digo a vocês que o próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso, citado aqui, foi o primeiro líder latino-americano - lembro-me muito bem de suas palavras num conclave recente em que foi entregue a ele o título de doutor honoris causa da Universidade Hebraica de Jerusalém e também esteve presente o reitor da universidade nesse banquete, no Buffet França - que disse: “Quando foi fundado o Estado de Israel, no mesmo ato foi aprovada a fundação do Estado Palestino.” Não podemos mais tolerar que isto se derrogue por mais tempo, porque todo o princípio de guerra, de falta de paz no mundo, vem da injustiça praticada contra o povo palestino.

Hoje, o povo palestino é que decide seus destinos. Se eles aceitam a paz com a partição da Palestina, devemos trabalhar, rezar e lutar para que se estabeleça a paz. Acredito que, na convivência de povos, acabam se entendendo, acabam criando uma pátria comum de dois países e um só povo. Por isso, seja qual for a nossa condição de fé, budista, muçulmana, cristã, espírita, temos que pedir ao Pai Criador que faça com que as pessoas raciocinem, considerem seu semelhante igual e lutarmos pela paz para que o povo palestino tenha seus direitos adquiridos, quando somente sofreram, até hoje, a usurpação. Rezemos todos. Muito obrigado! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Gostaria de convidar, para fazer uso da palavra, o Exmo. Sr. Deputado Federal Aldo Rebelo.

 

O SR. ALDO REBELO - Sr. Presidente em exercício, querido amigo Deputado Salvador Khuriyeh, Srs. Deputados Pedro Tobias, Jamil Murad também autores da presente sessão, estimado companheiro e amigo Embaixador Musa Odeh, companheiras, companheiros, esta é a primeira sessão que realizamos em homenagem ao povo palestino, em solidariedade à causa palestina depois do fatídico acontecimento de 11 de setembro.

Sob o impacto daqueles acontecimentos, do bombardeio sobre o Afeganistão, da ofensiva militar, diplomática e política dos Estados Unidos em todo o mundo, dos rastros de ódio que essa presença inevitavelmente vai semeando pelo mundo, porque o preço da construção ou da tentativa de consolidação da hegemonia norte-americana é a divisão, a segregação, o semear de ódios, de ressentimentos, de desconfianças, a pretexto de choques de civilizações, de religiões, de etnias, na verdade, é o império tentando consolidar a sua presença financeira, econômica, militar e diplomática em todo o mundo.

Creio que devemos nos preparar para jornadas de tempos difíceis, dificuldades de caráter econômico que são evidentes, porque o mundo vive um processo de recessão, as economias mais vulneráveis já pagam um preço elevado por esse quadro, economias como a dos chamados Tigres Asiáticos, que chegam a exportar mais de 100% do seu Produto Interno Bruto que sofreram nos últimos dias, depois de 11 de setembro, quedas de até 70% nas suas exportações.

A dificuldade econômica encarrega-se também de gerar o desespero, a desconfiança e aqueles que têm consciência dessa situação só podem substituir o desespero pela esperança, a capacidade de responder à irracionalidade da ofensiva do império com a razão da luta e a consciência de que a única alternativa e o único caminho é enfrentar, no plano das idéias e da mobilização, a tentativa de submissão do planeta ao domínio e a dominação daqueles que pensam que podem ser proprietários da humanidade.

Temos a solidariedade aos povos árabes porque em parte também somos árabes. A nossa experiência civilizatória foi construída a partir de 1500 no Brasil, juntando o legado português, que já é por si só meio europeu e meio africano, o legado africano, o legado indígena e a esse se somou também o legado árabe. Somos árabes quando falamos palavras como açúcar, chafariz, azeite, algarismo, almirante, alferes. (Palmas.) Somos, em parte, árabes no idioma, nas centenas de palavras tão atuais e o brasileiro menos informado talvez ignore a sua origem, a sua natureza árabe. Em parte, somos árabes na nossa culinária, na apreciação dos doces que os portugueses trouxeram, mas que os árabes levaram até Portugal. Somos árabes na nossa arquitetura, no estilo da construção das nossas casas. Somos, em parte, também no nosso catolicismo, quando as nossas mulheres nordestinas rezam nas suas esteiras, estão também trazendo para o catolicismo, que se pratica no Brasil, um pouco da herança árabe e muçulmana. Somos árabes também porque somos patriotas, somos brasileiros.

Como disse uma vez Yasser Arafat: “Nenhum homem, nenhuma mulher, que luta pela independência de seu país, pode ser indiferente à luta de qualquer homem, de qualquer mulher que, em qualquer parte do mundo, lute também pela autonomia e pela independência do seu próprio país.” (Palmas.) Portanto, o Brasil tem um interesse próprio na causa palestina e na causa árabe. A causa palestina e a resistência dos povos árabes são ao mesmo tempo um exemplo e um estímulo também a nossa própria resistência. A resistência contra o processo neocolonial aplica-se também no Brasil à dominação da nossa economia, finanças, cultura e, inclusive, idioma. Portanto, quando nos encontramos aqui, creio que é um encontro de combatentes. Cada um na sua frente, na sua especialidade, fazendo um tipo de trabalho determinado, desde o trabalho diplomático, intelectual até a ação militante mais direta. A luta contra a dominação do império exige exatamente essa concepção de trabalho. Amplo, mas, ao mesmo tempo, destemido e combatível. A amplitude que não deixa diluir a clareza de para onde o combate se dirige, de qual é o inimigo a ser enfrentado e a ser derrotado.

Querido embaixador Musa Odeh, este Estado de São Paulo, o povo de São Paulo soube compreender, há 17 anos, que a causa palestina merecia um dia especial de solidariedade. A Casa do Povo aprovou, por unanimidade, este dia e o governador de São Paulo o sancionou em nome do povo. E é em nome do povo, portanto, que permanecemos solidários ao povo palestino, ao povo árabe até a vitória final. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Quero agradecer as palavras do companheiro, amigo, Deputado Federal Aldo Rebelo, e passar a palavra ao Exmo. Sr. Musa Amer Odeh, embaixador da Palestina.

 

O SR. MUSA AMER ODEH - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Vereadores, diplomatas, líderes, trabalhadores brasileiros, líderes religiosos, irmãos da comunidade árabe e palestina e todos amigos, desculpem-me pelo meu português.

Meus agradecimentos ao Sr. Presidente, ao Deputado Salvador Khuriyeh, ao Deputado Jamil Murad, ao Deputado Pedro Tobias, a todos desta Casa, ao povo de São Paulo, ao povo brasileiro e a todos os partidos políticos do Brasil pelo nobre apoio para nossa causa. Ao governo brasileiro também, Presidente da República, pelo apoio à nossa causa em Madri, na França, na ONU, com todos os partidos políticos. Muito obrigado, Brasil, por esse apoio.

Não quero falar muito. Às 15 horas e 30 minutos, há mensagem do nosso povo aos amigos brasileiros pela paz. Nosso objetivo é paz, somente paz, paz justa, duradoura e compreensiva. Nossa mensagem é a do nosso profeta Mohamad e do Nosso Senhor, Nazareno Palestino, Jesus Cristo, da Palestina, para todo mundo. A essência da mensagem é justiça, paz e amor.

Quero justiça, paz e amor ao povo palestino. (Palmas.) O povo do Nosso Senhor, o povo palestino tem carregado a cruz de Jesus na Terra Santa, Palestina. Não queremos morrer, não queremos que os israelenses morram. Todos queremos justiça, paz e amor. Necessitamos do apoio de vocês para nossa independência, Estado Palestino independente com Jerusalém, capital, lado a lado com Estado de Israel, que as resoluções da ONU notem o sofrimento do povo palestino, que necessita de justiça. Sem justiça é difícil imaginar paz. Na ausência da justiça não há paz. Necessitamos de justiça com paz. Não posso imaginar paz com a ocupação. Não há paz com a ocupação.

A resistência do nosso povo é legítima com os direitos internacionais, lei internacional. De Gaulle, na França, resistiu à ocupação. Mandela, na África do Sul, resistiu ao “apartheid”. Nosso povo resiste à ocupação. Não há ocupação, há paz. O final da ocupação é necessário na Palestina, em Golã, na Síria, e no Sul de Líbano. (Palmas.) Nosso objetivo é paz justa, duradoura e compreensiva.

Muito obrigado pelo seu apoio ao nosso povo, à nossa causa palestina. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Estamos caminhando para o final do nosso encontro de hoje. Quero, antes do encerramento, agradecer aos representantes da comunidade de Campinas, que estão aqui com uma faixa manifestando solidariedade do povo de Campinas ao povo palestino. (Palmas.)

Mohamad Salem gostaria de fazer uso da palavra, antes que encaminhemos para o encerramento.

 

O SR. MOHAMAD SALEM - Boa-noite, senhoras e senhores, não vou prolongar no discurso, mas quero que me permitam, em nome da coletividade palestina, prestar os nossos mais sinceros agradecimentos pela força, apoio de um companheiro de origem árabe, palestina, Deputado Salvador Khuriyeh.

O Deputado Salvador Jorge D. Khuriyeh, nasceu em Taubaté, no dia 4 de maio de 1957, filho de Jorge Issa Hana Khuriyeh e Maria Aparecida Khuriyeh, casado com Teresa Aparecida Melato Khuriyeh, três filhos, Patrício, Rafael e Bruna, formado em Engenharia pela Universidade Taubaté, vice-Presidente do Diretório Setorial de Exatas, membro do Conselho Departamental de Unitau, fundador, primeiro Presidente da Sociedade Amigos do Bairro Vila Jabuticabeiras, e foi, também, por duas vezes Prefeito do Município de Taubaté.

Enfim, este é o nosso grande amigo, companheiro, que muito nos orgulha em tê-lo como deputado dedicado, esforçado no cumprimento das suas atividades políticas e também o temos como irmão e amigo solidário à nossa causa palestina. Parabéns a ele e a nós, por tê-lo junto conosco. Gostaria de entregar-lhe esta placa em sua homenagem, em nome da comunidade palestina. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SALVADOR KHURIYEH - PSB - Antes de encaminharmos para o encerramento, gostaria de dizer da minha emoção e surpresa por esta homenagem e dizer que esta homenagem, na verdade, tem de ser dirigida a todo povo brasileiro que se solidariza com o povo palestino e árabe por essa luta no dia de hoje. Sinto-me profundamente honrado por esta homenagem e quero dizer que sinto que faço apenas a minha obrigação. Defender a causa palestina, a causa árabe, é defender a justiça e o direito pela vida digna de todos os cidadãos do mundo.

Vou pedir licença para ler:

“Deputado Estadual Salvador Khuriyeh, os agradecimentos pelos relevantes trabalhos que demostram que coragem, perseverança e solidariedade pela justiça são virtudes de um homem que nunca deixa de lutar pelo maior presente que Deus nos deu: a vida.

Comunidade palestina de São Paulo.

São Paulo, 26 de novembro de 2001.”

Sinto-me agradecido, quero pedir a permissão para poder oferecer esta homenagem também aos Deputado Jamil Murad e Pedro Tobias. Muito obrigado. (Palmas.)

O Sr. Ali El-Khatib também está pedindo para que anuncie o simpósio internacional “Os Direitos Humanos do Povo Palestino na Conjuntura Atual”, que será promovido entre os próximos 28, 29 e 30 de novembro, a realização da Prefeitura Municipal de Campinas e da Universidade de Campinas também. Quero aproveitar para convidar todos aqui presentes e agradecer à Prefeitura, à Unicamp, aproveitando a presença do Dr. Mohamed para agradecer-lhe.

Gostaria de, neste instante, antes de encerrar esta Sessão Solene, fazer uso da palavra, para que possamos encerrar os nossos trabalhos. Gostaria de manifestar as minhas palavras.

Senhoras, Senhores, autoridades presentes, o instante em que comemoramos o "Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino" é também um instante de profunda reflexão.

Até quando vai persistir a ocupação israelense dos territórios palestinos?

Até quando Israel e as potências econômicas vão manter o desrespeito às resoluções das Nações Unidas, instrumentos estes que serviram de base para a Conferência de Madri, os Acordos de Oslo, na Noruega, e outros protocolos?

A paz justa e duradoura entre os povos só será conquistada quando Israel se retirar imediatamente dos territórios palestinos.

A Palestina não pode ser riscada do mapa geopolítico.

É legítimo que nós, Palestinos, desejemos construir nosso Estado, tendo Jerusalém como Capital. Existe um Povo Palestino, existe uma Nação Palestina. Por isso mesmo, deve existir uma Terra Palestina. Esta Nação garantirá um futuro digno e seguro para as crianças e os jovens palestinos. Não é mais possível conviver com a violência, as atrocidades e a violação aos direitos humanos a que são submetidos nossos irmãos. Ainda no decorrer da semana passada, mais 12 palestinos morreram brutalmente. Destes, cinco eram crianças na faixa de 7 a 14 anos. Jovens ainda, puros, inocentes, cheios de sonhos, de projetos, de ilusões, abatidos irremediavelmente pelo clima de violência criado pelo sionismo. Como construir a paz convivendo em uma realidade marcada pelo ódio, pela perseguição e segregação praticada contra o povo palestino.

Os israelenses insistem em não reconhecer a legítima autonomia

Palestina. Controlam a sua economia de forma negativa com bloqueios e cercos, situação que origina a fome, a miséria, a humilhação. Estão criados aí ingredientes que alimentam o embate e o conflito.

Enquanto houver assentamentos não haverá a paz tão almejada no Oriente Médio.

Diante de um quadro de destruição de aldeias inteiras, de casas e famílias, que crimes cometemos nós, palestinos, para sermos vítimas da opressão sangrenta que nos é imposta?

Apenas o fato de querermos um pedaço de terra, um lar que, aliás, é nosso - para vivermos com soberania e dignidade?

Quem de nós que estamos aqui que, ao iniciarmos a construção da nossa família, não desejamos nosso chão, nossa casa, a partir do que definimos nossa verdadeira independência e emancipação.

Ter um pedaço de terra para viver, uma casa, um lar, significam antes de tudo a libertação total, a realização enquanto pessoa e cidadão. Podendo o homem comum ter este desejo - legítimo, diga-se de passagem - por que não pode o povo palestino ter este mesmo desejo: ter a sua terra, a sua casa, o seu lar, consubstanciados por instrumentos jurídicos legais? Por que não pode o povo palestino identificar-se em sua nacionalidade, como povo, vivendo como tal em um mesmo território, na Nação Palestina, na Terra Palestina? Hoje, nós, palestinos, somos muitos corações, batendo em diversos compassos, dispersos pelo mundo inteiro. Amanhã, com certeza, seremos um único coração, batendo a um só compasso, unidos pelo mesmo sentimento, dentro do mesmo território, com projetos e ideais comuns.

Nós todos que aqui estamos, longe de nossa terra, vivemos um misto de ansiedade, angústia, tristezas e alegrias. Estamos com os olhos e ouvidos voltados para os veículos de comunicação: o rádio, a TV, o jornal, a Internet.

Queremos notícias de nossa terra, estamos ávidos por elas. Uma hora são os pais, os irmãos, os filtros, os parentes, os amigos, abatidos cruelmente pela morte. Então, são as lágrimas, a dor, o sofrimento. O desejo de lá estar, dar um último adeus, abraçar o herói que se foi. Outra hora, são os sorrisos, a alegria, a felicidade, de sabê-lo vivos diante de mais um cruel ataque israelense.

Porém, parafraseando uma expressão do poeta Guimarães Rosa: o "Palestino é, antes de tudo, um forte". A Intifada é a expressão mais destacada da resistência, da coragem, do destemor do povo palestino que não se curva, não se verga, desejando ser ele mesmo o promotor do seu futuro.

No momento em que o mundo acompanha com apreensão os ataques norte-americanos ao Afeganistão e a discriminação ao Povo Muçulmano, é imperioso dizer que a solução deste conflito passa necessariamente pela solução da causa do Povo Palestino. É impossível imaginar a paz mundial enquanto perdurar a ocupação dos territórios palestinos e os conflitos decorrentes.

Por outro lado, defendemos o cessar imediato das hostilidades norte-americanas contra o povo Afegão, o Povo Muçulmano e o Povo Árabe. Através de nossas instituições sustentamos que as relações internacionais devem fundamentar-se no respeito à independência e soberania nacionais e na solução pacífica das controvérsias. Estes princípios sintetizam os anseios por liberdade, igualdade, justiça e paz de toda a humanidade.

Confiemos e construamos, com liberdade, a nossa querida Pátria, a Palestina.

Senhoras, Senhores, neste momento de união e solidariedade ao povo palestino, buscando a construção de uma sociedade justa e fraterna, quero agradecer a presença de todos e fazer minhas as palavras do nosso líder, Yasser Arafat: "A tocha queimará, iluminando o difícil caminho das gerações de palestinos até que a bandeira palestina seja içada sobre Jerusalém. A vitória está a apenas uma hora de nós."

Muito Obrigado a todos.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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-  Encerra-se a sessão às 23 horas e 40 minutos.

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