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07 DE DEZEMBRO DE 2011

050ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidentes: BARROS MUNHOZ e JOOJI HATO

Secretários: MAURO BRAGATO, JOOJI HATO, HÉLIO NISHIMOTO e MILTON LEITE FILHO

 

RESUMO

ORDEM DO DIA

001 - Presidente BARROS MUNHOZ

Abre a sessão. Põe em discussão o PL 840/11.

 

002 - ADRIANO DIOGO

Discute o PL 840/11.

 

003 - SAMUEL MOREIRA

Discute o PL 840/11.

 

004 - SIMÃO PEDRO

Discute o PL 840/11 (aparteado pelo Deputado Marcos Zerbini).

 

005 - JOOJI HATO

Assume a Presidência.

 

006 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência.

 

007 - CAUÊ MACRIS

Discute o PL 840/11 (aparteado pelos Deputados Orlando Morando, Campos Machado e Simão Pedro).

 

008 - CARLOS GIANNAZI

Discute o PL 840/11.

 

009 - JOÃO PAULO RILLO

Discute o PL 840/11.

 

010 - JOÃO PAULO RILLO

Requer verificação de presença.

 

011 - Presidente BARROS MUNHOZ

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada, que interrompe ao constatar quórum regimental.

 

012 - EDINHO SILVA

Discute o PL 840/11 (aparteado pelo Deputado Welson Gasparini).

 

013 - CAMPOS MACHADO

Discute o PL 840/11.

 

014 - ENIO TATTO

Solicita verificação de presença.

 

015 - Presidente BARROS MUNHOZ

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada, que interrompe ao constatar quorum regimental.

 

016 - SAMUEL MOREIRA

Para comunicação, manifesta-se sobre o andamento dos trabalhos.

 

017 - ENIO TATTO

Para comunicação, faz sugestão quanto à ordem do dia para a próxima sessão extraordinária.

 

018 - JOÃO ANTONIO

Discute o PL 840/11.

 

019 - Presidente BARROS MUNHOZ

Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Proposição em Regime de Urgência: Discussão e votação - Projeto de lei nº 840, de 2011, de autoria do Sr. Governador. Institui o regime de previdência complementar no âmbito do Estado de São Paulo, fixa o limite máximo para a concessão de aposentadorias e pensões de que trata o artigo 40 da Constituição Federal, e autoriza a criação de entidade fechada de previdência complementar, na forma de fundação. Com 57 emendas. (Artigo 26 da Constituição do Estado).

Em discussão. Tem a palavra, para falar contra, o nobre Deputado Adriano Diogo.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT – SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, em nome da minha bancada vou fazer um pedido e um requerimento: que se vote em caráter de urgência, imediato, o item 40 para que, na outra extraordinária, possamos votar imediatamente um projeto do Governo.

Senhoras e senhores, estamos diante de uma situação muito pouco vista nesta Casa. Por exemplo, um deputado entra com o projeto de lei que só pode entrar na pauta se houver concordância do Governo. Qualquer projeto de lei, para ser pautado, tem de haver concordância do Palácio dos Bandeirantes. Quem é o porta-voz do Governo nesta Casa? O Deputado Samuel Moreira. É legítimo que um deputado apresente um projeto de lei dentro de suas convicções, com toda a polêmica que ele contém. O que não é normal, legítimo e não é admissível é o Governo colocar este projeto de lei como centro de toda a discussão. Para que todos entendam, nenhum projeto de lei do Governo poderá ser votado se não for votado o Projeto de lei Complementar de autoria do Deputado Campos Machado, nº 65, de 2011.

Vejam bem a situação em que nós encontramos. O que diz o projeto de lei do Deputado Campos Machado? Ele praticamente extingue a Defensoria, volta à situação anterior para a Secretaria de Justiça, para a antiga PAJ, e dá início a um novo tipo de relação com a OAB e outros convênios. Em função do projeto do Deputado Campos Machado, o Governo não vota nenhum projeto. E nenhum projeto de deputado pode ser votado. Então o problema não está no Deputado Campos Machado, que tem o direito de apresentar, mas no Governo que concordou que o projeto mais importante desses últimos dias seja o do Deputado Campos Machado. Enquanto o seu projeto não for votado, não se vota nenhum outro até a votação do Orçamento.

Essa é a situação kafkiana em que encontramos, e então vamos fazer a discussão do Deputado Campos Machado. Eu, por exemplo, embora com toda ironia que tenha sido tratado, tenho um projeto de resolução, para não resvalar no projeto de lei, que é criar no âmbito da Assembleia Legislativa a Comissão da Verdade. Ela seria um órgão de apoio na Assembleia à Comissão da Verdade Nacional. Sei que este projeto tem muitos antagonismos. Não quero desenvolver a minha paranóia no nível máximo e fazer uma associação com esse bode, que foi colocado na sala, que é o projeto que extingue a Defensoria para que não se aprove a Comissão da Verdade.

Vou relativizar, mas vamos discutir o projeto do Deputado Campos Machado que, nas suas brilhantes intervenções, suscitou uma nota de esclarecimento produzida pela Assessoria de Imprensa da Defensoria Pública. Tentarei fazer o resumo, diante da exiguidade do tempo que tenho.

“Nota de esclarecimento de 10/11 - Convênio de assistência judiciária com OAB-SP

 

Em razão do teor de nota intitulada "OAB-SP pede intervenção no convênio de assistência judiciária e nomeação de interventor" (10/11), a Defensoria Pública de SP fornece os seguintes esclarecimentos:

1.    A Defensoria Pública de SP lamenta a divulgação de informações infundadas e incorretas pela direção da OAB-SP.

2.    O pedido de intervenção no convênio de assistência judiciária é desprovido de qualquer amparo legal. Causa estranheza que um pleito claramente sem fundamento seja levado à apreciação do Poder Judiciário.

3.    Trata-se de evidente tentativa de pressão em reação ao legítimo e necessário processo promovido pela Defensoria Pública de análise da regularidade de todas as certidões que geram pagamentos aos advogados inscritos no convênio.

Gestão dos recursos públicos

4.    Durante esse processo, verificou-se que uma parte das certidões apresentava inconsistências e irregularidades, porque preenchidas sem todas as informações necessárias. Houve casos de pedidos de pagamentos por situações não previstas no convênio. Havia também registro de casos de certidões apresentadas em duplicidade.

5.    Em todos os casos, as certidões inaptas a gerar pagamentos são encaminhadas à OAB-SP, para que o órgão promova sua regularização, se for o caso. É importante ressaltar que o convênio prevê expressamente a devolução das certidões nessas circunstâncias, conforme sua cláusula sexta.

6.    Esse procedimento tem zelado pela boa gestão do dinheiro público, que remunera os advogados inscritos no convênio. Para exemplificar o volume de valores envolvidos, até julho passado, a Defensoria pagou em 2011 um total de R$ 159,1 milhões, uma média de R$ 22,7 milhões ao mês.

7.    Os números divulgados pela OAB-SP também são incorretos. Em agosto, por exemplo, de um total de 61.730 certidões apresentadas, restaram apenas 4.323 com pagamentos pendentes, o que corresponde a apenas 7% do total. Todas as demais foram quitadas. Segundo dados preliminares, essa proporção repetiu-se nos meses de setembro e outubro.

8.    A Defensoria Pública vem cumprindo rigorosamente os termos da liminar proferida pela 13ª Vara Cível da Justiça Federal em SP. Os esclarecimentos oportunos serão feitos ao Juízo competente.

Todos os enunciados foram editados em conjunto pela Defensoria e OAB/SP

9.    Ao contrário do que alega a OAB-SP, todos os enunciados mencionados foram elaborados e aprovados em reuniões conjuntas com representantes daquela instituição, por meio de sua Comissão da Assistência Judiciária, e da Defensoria. Não existem enunciados unilaterais e nunca houve qualquer pedido formal da revogação desses enunciados. As respectivas atas de reuniões estão disponíveis na página da Defensoria na internet neste link.

O exemplo de Ourinhos

10. Por fim, são igualmente infundadas as alegações de que a OAB-SP possui direito a um monopólio na elaboração de convênio com a Defensoria. A autonomia administrativa garantida pela Constituição à Defensoria Pública confere-lhe a prerrogativa de celebrar convênios com outras entidades, com o objetivo de otimizar a gestão dos recursos públicos e buscar o fornecimento de um serviço público mais eficiente, sempre observando os princípios que regem a administração pública - como moralidade, legalidade, economicidade, entre outros.

11. O exemplo citado pela nota da OAB-SP referente à cidade de Ourinhos é oportuno e emblemático. O convênio firmado pela Defensoria com uma Faculdade local ocorria sem o gasto de nenhum recurso público. Além disso, a estrutura propiciada pela faculdade possibilitava um serviço de qualidade à população. O convênio foi encerrado em razão exclusivamente de pressão da OAB-SP.

12. A alegação de exclusividade da OAB-SP para participação em convênios com a Defensoria Pública foi atacada no Supremo Tribunal Federal pela ação direta de inconstitucionalidade n° 4.163 - proposta em 2008, pelo então Procurador Geral da República, Antônio Fernando Souza, que ainda aguarda julgamento.

13. A Defensoria Pública lamenta essa postura de intransigência e de ataques infundados da direção da Secional Paulista da OAB e reconhece a importância dos serviços prestados pelos advogados conveniados. A gestão dos recursos públicos implica criteriosa análise das certidões apresentadas. Todas aquelas que preenchem os requisitos do convênio vêm sendo rigorosamente pagas mês a mês, totalizando, por ano, um gasto de cerca de RS 270 milhões.

Assessoria de Imprensa da Defensoria Pública de SP

Data: 10/11/2011”

Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, quem criou a Defensoria Pública, em 2005, foi o atual Governador Geraldo Alckmin.

Meu amigo, Deputado Pedro Tobias, Presidente estadual do PSDB, Deputado Orlando Morando, Líder do PSDB, este projeto do Deputado Campos Machado significa o fim da Defensoria e o Governador terá que sancioná-lo. Se o Deputado Samuel Moreira faz a defesa veementemente deste projeto do Deputado Campos Machado, esse projeto tem a concordância do Palácio.

Sr. Governador, não acredito que o senhor tem a ciência de tal violência e de tal absurdo. Extinguir a Defensoria Pública do Estado de São Paulo é um ato que terá repercussão nacional. A começar pelo Estado de São Paulo, não haverá um lugar deste País onde tanto as pessoas que necessitam da Defensoria e reconhecem o seu valor, como em todos os meios da inteligência deste País, esse ato será de intervenção.

Não acredito, Sr. Governador, que pertence a um partido democrático, que, de forma “manu militari” venha intervir. É verdade que V. Exa. está criando alianças para tentar a eleição da prefeitura de São Paulo e o presidente da OAB de São Paulo é o pré-candidato do PTB a prefeitura de São Paulo. Não acredito que V. Exa., Sr. Governador, vai se curvar diante desses atos secundários e, por que não dizer, mesquinhos.

Sr. Governador, estamos diante de um problema institucional da maior gravidade. Extinguir a Defensoria é extinguir a democracia, o direito de defesa daqueles que não têm quem os defenda.

Nenhum advogado vinculado à OAB será impedido de advogar. Não existe nenhum vezo. Quem tomou a iniciativa de romper o convênio foi a Ordem dos Advogados do Brasil e não a Defensoria, como vem sendo apregoado.

Então, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, nós estamos diante de um impasse: ou votamos o projeto do Deputado Campos Machado ou nenhum projeto do governo ou dos deputados aqui será votado.

Então, que esse jogo fique claro. O líder do governo na quarta-feira, da semana passada, colocou duas notas no jornal “Folha de S.Paulo” atribuindo à minha pessoa a responsabilidade da implantação da inspeção veicular. Quando entrei em contato com ele, disse que, embora tivesse o seu nome no jornal, não era da sua responsabilidade, que era de uma pessoa hierarquicamente superior a ele no partido que havia propiciado essas notas.

Gostaria de saber até que ponto o Deputado Samuel Moreira fala em nome do governo. Se o Deputado Samuel Moreira tem o aval do Palácio do Governo, então o projeto de lei do Deputado Campos Machado passa a ser o principal projeto de lei do governador nesses últimos 15 dias.

Todos sabem que nem a mudança de nome de escola e avenida pode ser aprovada nesta Casa, sem passar pela liderança do governo e com a anuência do Palácio do Governo. Se esse projeto do Deputado Campos Machado é pautado com tal prestígio é porque todo o Palácio do Governo discutiu e aprovou, tanto é que é o projeto que ancora as votações que antecedem o Orçamento. Portanto, se não estamos votando CDHU, Sabesp, o dos administrativos da defensoria ou quaisquer outros projetos de interesse do Governo ou dos senhores deputados é porque estamos reféns da aprovação deste projeto.

Parabéns ao Deputado Campos Machado pela sua capacidade de articulação, de inteligência, mas eu acho que ele é que deveria ser o líder do Governo, ele é o porta-voz do Governo, ele é que dá a linha política, ele é que determina qual a pauta de discussão, com todo respeito a V. Exa., Sr. Presidente, que sabe como o respeito afetiva e pessoalmente, mas estamos diante de um absurdo. O Governo tem de se pronunciar, Sr. Presidente. Estamos interditados, estamos sem poder nenhum.

A coisa mais importante no meu mandato e na minha vida era ver aprovada a Comissão da Verdade que muitos, inclusive o Deputado Samuel Moreira, são frontalmente contra. Espero que ele não fale em nome do Governo mais uma vez. (Manifestação das galerias.)

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra o nobre Deputado Edson Ferrarini para falar a favor. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Samuel Moreira, para falar a favor.

 

O SR. SAMUEL MOREIRA - PSDB – SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, funcionários da Casa, funcionários da defensoria que nos assiste, telespectador da TV Alesp, estamos discutindo o projeto que trata da previdência. A previdência virou um problema mundial e é preciso que seja tratado com muita responsabilidade. Vou dar alguns números porque o projeto da previdência perdeu um pouco de importância durante o dia de hoje nesta Casa e quero me ater ao dia que estamos vivendo e à pauta que foi colocada para os deputados.

Para se ter uma ideia, o déficit no Estado de São Paulo é de nove bilhões de reais por ano com a previdência. As contribuições não são suficientes e cada vez mais distantes daquilo que é o beneficio para os aposentados e pensionistas. Um acréscimo anual ao déficit de praticamente 10 por cento. A cada ano acresce-se ao déficit da previdência em São Paulo um bilhão. Estamos em nove bilhões. No País o déficit é de 95 bilhões. Só com os funcionários públicos federais 53 bilhões e esse déficit cresce 10% a cada ano.

Estou aqui com uma entrevista do ministro da previdência nas páginas amarelas da Veja lutando - ele e a Presidenta Dilma - para que se faça o que se está fazendo aqui em Brasília a fim de se equacionar este problema sem prejuízos a ninguém. Quero registrar isso para dar alguns dados desse problema tão sério que é o problema da previdência que estamos enfrentando aqui em São Paulo. E o Governador enviou um projeto para cá e estamos debatendo. Mas eu queria falar do dia de hoje. Hoje vivemos um dia intenso nesta Casa. Acompanhamos o Colégio de Líderes. É importante que as pessoas entendam como funciona esta Casa, que é uma Casa plural.

Participam do Colégio de Líderes 16 líderes partidários, mais o líder do Governo, mais o líder da Minoria, mais o Presidente da Casa e passam a debater uma pauta que pode ser de consenso no seu mérito, que pode haver unanimidade no mérito e que possa parecer que ainda com essa unanimidade no mérito, possa ser votado rapidamente. Não. Nem sempre é assim. Por mais óbvio que seja o projeto, por mais importante e por mais unanimidade que tenha nem sempre é assim porque esta Casa é uma plural, de representantes de minorias, de representantes de corporações, que vêm aqui defender os votos de confiança que tiveram dos seus representados, têm legitimidade para isso. Quando o Deputado Campos Machado vem aqui defender interesses legítimos, tem de ser respeitado, tem de ser ouvido. Hoje no Colégio de Líderes ele deu uma grande demonstração porque hoje o Campos Machado cedeu para que votássemos o projeto de aumento dos funcionários da defensoria, fez um gesto de grandeza sem condicionar nada, sabendo que ele tem um projeto aqui que mexe com a estrutura financeira da defensoria. Ele protocolizou um projeto por conta de divergências que existem entre a OAB e a defensoria do Estado de São Paulo. Está fazendo a parte dele.

Não tem nada contra os defensores, mas tem a obrigação de defender aquilo que lhe foi conferido pelos votos de confiança e temos de compreender. Eu como Líder do Governo, que tenho de ter a visão geral para arbitrar e construir a unidade, fico vendo as dificuldades que ocorrem, fazendo esforço para que projetos do Governador como o PL 40 - foi o Governador que enviou para esta Casa - seja apreciado rapidamente. Gostaria que se votasse de imediato, mas houve um problema de obstrução, que foi superado. Quando o Deputado Campos Machado faz um segundo gesto de grandeza na reunião de hoje, do Colégio de Líderes, ao propor uma reunião entre a defensora geral e o presidente da OAB - que sentássemos à mesa semana que vem junto com o presidente da OAB e a defensora geral para trabalhar essa questão tão polêmica que é o Projeto 65 e assim terminar esse impasse - temos de respeitar.

É um gesto de grandeza, gesto de grandeza que não vi do PT em momento algum no Colégio de Líderes porque quando propomos votar o projeto da Sabesp o PT não concordou, por mais que o mérito seja óbvio. É um projeto que permite ao Governo do Estado fazer ligações gratuitamente para aqueles cuja rede de esgoto já passa em frente de sua casa e não têm condições de pagar. Oitocentas mil pessoas serão beneficiadas. Um projeto construído inclusive com a colaboração do PT, que fez as emendas e com as quais concordamos. Portanto, um projeto que está pronto do ponto de vista do mérito e da sua unanimidade. Não. Nem sempre o mérito faz com que haja possibilidade de se votar porque há motivos para se obstruir, porque outros interesses estão sendo colocados - e que também são legítimos - para se obstruir.

Quando apresentamos o projeto do Pontal, há obstrução, por mais que o mérito tenha unanimidade. Não é fácil quebrar essas obstruções. É realmente bastante complexo por isso venho aqui fazer um apelo porque quem pauta é o Colégio de Líderes, não é só o Governo. Esta Casa não é só o Governo. É muito simples encontrar esse entendimento e colocar para votar rapidamente. Precisamos ter um pouco mais de desprendimento. Nós não podemos ser intolerantes com projetos tão óbvios como o aumento dos salários dos defensores, o projeto da Sabesp, o projeto do Pontal e o projeto da CDHU. Ninguém está condicionando. Mas temo que a intransigência dificulte a votação desses projetos.

Quero fazer mais um apelo, passando dos limites da colaboração que o Deputado Campos Machado deu, que mais uma vez ele pudesse nos ajudar a criar esse entendimento, para sairmos daqui hoje com um saldo positivo, com os projetos votados. Quero fazer esse apelo ao Deputado Enio Tatto, para construir essa unidade, votar esses projetos que têm unanimidade. Precisamos dar esse encaminhamento ao projeto da Previdência, ainda que sem unanimidade.

Não é verdade o que o Deputado Adriano Diogo falou aqui. Nós do governo ainda não apreciamos o PL 65, não tiramos posição sobre ele, ele ainda não entrou na nossa pauta para reflexão e discussão. Ainda trabalhamos muito para que no PL 65 encontremos o caminho do entendimento. Não é boa essa queda de braço. É possível esse entendimento. Sabemos o papel da Defensoria Pública, sabemos o papel histórico que a OAB cumpre. O deputado propôs um esforço a mais, uma reunião na próxima terça-feira. Mas queremos sair daqui hoje com apoio dos deputados Campos Machado, Enio Tatto e demais lideres.

Esta Casa não pode ser pautada nem só pelo governo nem por qualquer outra bancada, muito menos pelo PT. Não pode ser pautada por ninguém. Tem que ser pautada pelo conjunto dessas forças. Precisamos acabar com essa intransigência no dia de hoje.

Quero fazer esse apelo para que possamos sair daqui com um acordo, fazer um entendimento para que o deputado Campos Machado mude de opinião - era um obstáculo, mas já se desprendeu, já deixou que o projeto seja votado; para que possamos construir essa unidade. Nesta casa, por conta do nosso calendário, os projetos que não têm unanimidade estão sendo pautados para discussão; os projetos que têm divergência, como o da Previdência, estão sendo debatidos aqui e pautados para discussão; projetos que têm unanimidade, por que não votar? O que é preciso fazer para que se vote? É assim que funciona esta Casa. Ela é plural, é a democracia, a democracia tem que ser respeitada, por mais trabalho que dê. É um prazer para nós exercermos a democracia.

Vamos continuar perseverando, vamos debater. Peço aos nossos aliados a compreensão para que fiquemos em plenário. Vamos continuar debatendo a Previdência. Isso não impede que possa ocorrer um acordo, um entendimento para aprovar o PL 40 e os outros projetos cujo mérito tem unanimidade.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Simão Pedro, pelo tempo regimental.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Jooji Hato.

 

* * *

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, público que nos acompanha nas galerias, telespectadores da TV Alesp, me inscrevi para discutir o PL 840, de 2011, projeto esse de extrema complexidade, de criação de um regime de previdência complementar. Alguns deputados que já se manifestaram, como o Deputado Luiz Claudio Marcolino, têm estudado esse assunto. É um projeto que recebeu mais de 50 emendas, 31 da nossa bancada, e não pode ser aprovado sem uma análise técnica mais profunda porque vai mexer com a vida dos funcionários públicos com uma perspectiva de vida futura. Não temos condições de votar um projeto como esse. Mas vamos, no devido momento, nos pronunciar. Se não for possível um tempo maior, que as emendas apresentadas sejam acatadas para aperfeiçoar essa matéria.

Sr. Presidente, não posso também deixar de me manifestar sobre a necessidade de votarmos ainda hoje - há tempo para isso - o PL 40, que cria um programa de apoio aos funcionários da Defensoria Pública, que estão aqui na expectativa de que sejam contemplados com um reajuste. Queremos fazer um apelo para que esse projeto seja votado ainda hoje. Possibilidade de acordo existe, já que foram feitas várias intervenções nesse sentido. Então, não é um projeto da bancada do PT, é do governo, mas temos toda concordância de que ele seja votado imediatamente. Para que deixar para amanhã? Amanhã é quinta-feira e provavelmente menos deputados estarão na Casa.

Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, quero dialogar com o Deputado Campos Machado que aqui se manifestou por diversas vezes, deputado que respeito e com quem tenho aprendido muito nesta Casa. Não posso concordar com V.Exa., com uma afirmação que V.Exa. fez aqui no primeiro pronunciamento quando se referia ao Deputado Carlos Giannazi, que é professor, ao nosso querido Deputado João Antonio, membro da Comissão de Constituição, que tem uma história de luta, ele e a sua família, uma história de construção de movimentos sociais, do movimento operário, dizer que por eles não serem advogados, talvez porque o João Antonio tem uma formação também de metalúrgico, não possam entender da Constituição.

A Constituição é um instrumento construído pelo povo brasileiro, tanto a Constituição do Estado quanto a Constituição Federal, para garantir direitos, para estruturar nossa sociedade para que ela seja democrática, para que ela respeite as liberdades, para que ela se constitua no arcabouço de direitos e torne a nossa sociedade mais civilizada.

Esse é um instrumento que o cidadão, a dona Maria, o estudante, o Sr. Zé, uma pessoa da Melhor Idade, eles podem ler a Constituição e podem ver ali uma ferramenta de garantia dos seus direitos. Eu, por exemplo, não sou advogado e a toda hora recorro à Constituição, junto com a minha assessoria, quando necessário, para pensar um Projeto de lei, para pensar uma intervenção num projeto do Governo, para procurar o Ministério Público quando necessário, e quando percebo que a lei não está sendo cumprida.

A Constituição do Estado é clara na sua Seção III, no Artigo 120, que trata da Defensoria Pública. A Defensoria Pública tem que ser um órgão independente, autônomo em relação a qualquer outra esfera do Governo, livre da influência política. A Defensoria Pública foi pensada pelos constitucionalistas, para garantir o acesso à Justiça à população que não tem dinheiro, porque o pagamento ao advogado é caro. E para termos acesso à Justiça temos que ter um advogado, e a Defensoria Pública é esse espaço, que foi pensado pela nossa sociedade, pelos constitucionalistas.

A Defensoria Pública é uma conquista, é um instrumento fundamental do exercício da cidadania e da democracia no acesso à Justiça em nosso País.

Eu sempre me pergunto por que o Estado de São Paulo foi o penúltimo a implementar a Defensoria. Houve muita resistência. Foi preciso um movimento da sociedade civil, constituído por quase 300 entidades, das mais diferentes áreas e importância, que criou o movimento para pressionar o Governo do Estado a enviar o projeto para esta Assembleia criar a Defensoria Pública há alguns anos.

A Defensoria Pública, já me manifestei aqui em outras ocasiões, em pouco tempo ganhou a simpatia e aprovação do nosso povo, principalmente do povo mais pobre. Aqueles que me conhecem sabem da nossa atuação nos movimentos de moradia, na luta pela moradia digna, para que cerca de um milhão de famílias, que ainda não têm a sua moradia no nosso Estado, possam conquistar sua moradia.

E quantos paulistas precisaram ocupar uma área, um prédio vazio, exigindo do Estado uma resposta. Quem está lá para defender o povo, quando sai uma ação de despejo injusta? A Defensoria Pública. Na hora de garantir os direitos da criança e adolescentes, é a Defensoria Pública.

Está certo que hoje só temos 500 defensores no Estado. Precisamos de no mínimo um mil. O número ideal seria de dois mil defensores, complementando com convênios, com outras ações para garantir o acesso à Justiça. Portanto, a Defensoria Pública é uma conquista e não podemos permitir retrocesso nesse pequeno avanço que conquistamos nos últimos anos, que foi uma conquista da sociedade civil paulista.

O projeto do Deputado Campos Machado significa um retrocesso nesse pequeno avanço que nós conquistamos nos últimos anos. Não podemos admitir a aprovação desse projeto, que responde a interesses de uma entidade, de um setor minoritário. Se fosse unanimidade no Estado, 645 municípios, mas não é, é uma pequena parcela de Câmaras. Sabemos como se constrói uma moção numa Câmara. Não vou brigar com outro Deputado que me pediu uma assinatura.

Quero deixar claro aqui que não podemos retroceder. Por isso, todo o nosso apoio à luta dos defensores. Todo o nosso apoio à postura do Deputado líder da Bancada do PT, Enio Tatto, que tem colocado firmemente, veementemente, que esse projeto do Deputado Campos Machado não pode passar aqui porque ele significa um retrocesso na nossa sociedade, naquilo que nós conquistamos.

É legítimo o Deputado Campos Machado colocar esse projeto? É legítimo. Mas a Assembleia Legislativa, a sociedade paulista não pode se curvar a um interesse de um Deputado. Ele precisa discutir esse projeto. Eu, por exemplo, sou membro da Comissão de Finanças e Orçamento. O projeto passou pela Comissão de Finanças e Orçamento. O Deputado Mauro Bragato me designou relator. Perdi. Perdi, não, ganhei, porque analisei o projeto, discuti o seu conteúdo, o seu mérito; a gente só ganha. Fiz um parecer e qual não é a minha surpresa, ontem, na reunião da comissão: o projeto foi retirado porque o Presidente da Assembleia, Barros Munhoz, resolveu designar um relator especial, para que não pudesse passar pelo crivo do debate nas comissões.

Então, assim não é possível. Aliás, nós devíamos discutir aqui esse instrumento do relator especial. Fizemos uma reforma do Regimento da Assembleia Legislativa, uma reforma que ficou pela metade. Vossas Excelências lembram, havia um acordo, e é pena que o Deputado Rui Falcão não esteja aqui, que foi o nosso representante da Bancada do PT nos debates da reforma do Regimento, esse debate do relator especial.

Não é possível chegar aqui no fim do ano, faltando 10 dias, e a cada momento chega um projeto do Governo, e ele vira prioridade. É assim que funciona a Casa. Nós não temos autonomia. Só hoje chegaram quatro projetos da Secretaria da Educação. E o Secretário nos ligou, dizendo: Simão Pedro, ajude-nos a aprovar o projeto.

E temos o projeto do Pontal, que é prioridade, e não sei qual é a prioridade, porque esse projeto já foi aprovado na primeira legislatura em que eu estava aqui, 2003/2007, e o Governo não implementou. E agora quer enfiar goela abaixo, sem discussão nas comissões, com relator especial, sem que a sociedade conheça o conteúdo desse projeto. Não é mais possível.

Vi a lista na mão do Deputado Enio Tatto. São quase 10 projetos de interesse do Governo do Estado, e quer votar agora, tudo de última hora. Os projetos dos deputados estão aí, aguardando sua vez. Precisamos resgatar a autonomia, a importância e independência do Legislativo e votar também projetos de autoria dos deputados.

Não podemos aceitar a tese do Governo, que coloca todos os projetos de iniciativa do Legislativo no lixo, dizendo que são projetos fracos, inconstitucionais, ou que o Governo vai ter trabalho, porque vai ter que vetar. Não podemos aceitar isso.

Está na hora, de fato, e aí concordo com o Deputado Samuel Moreira, temos que exercer a nossa autonomia, a nossa independência. Esta Casa tem que mostrar que ela tem também os seus interesses legítimos, porque ela representa o cidadão que nos escolheu como seus representantes para intervir, dialogar com o Governo e defender os seus interesses.

Cedo um aparte ao nobre Deputado Marcos Zerbini.

 

O SR. MARCOS ZERBINI - PSDB - Obrigado pelo aparte, nobre Deputado.

Não quero aqui fazer o papel de advogado do Deputado Campos Machado, porque ele não precisa disso. Mas é importante que se deixe claro que esse é um instrumento usado para muitos projetos não só do Executivo, mas para deputados na Casa. Da forma que V. Exa. coloca, parece que foi um acaso só com o projeto do Deputado Campos Machado. Então, é importante que fique claro que é um mecanismo que se usa na Casa, para projetos de muitos Deputados e do Executivo. Até concordo com V. Exa.: é um instrumento que precisa ser discutido, precisa ser eliminado da prática da Casa.

Mas é bom fazer essa ressalva, para que não fique parecendo que foi algo pontual, para beneficiar o Deputado Campos Machado e esse projeto. Infelizmente essa é uma prática comum na Casa, que eu acho que tem que ser discutida, modificada. É importante que se diga isso, para que não fique parecendo algo casuísta. Obrigado.

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - Deputado Zerbini, V. Exa. de convir que não podemos ter dois pesos e duas medidas. Por que é exigido no Colégio de Líderes, ou por parte do Líder do Governo, três propostas de projetos para que o Governo possa dizer “Esse eu topo, esse eu não topo”? E muitas vezes ele não topa nenhum. Aí o deputado precisa ficar procurando um projeto que o Governo aceite, ou que não fira o interessa de alguns legítimos, às vezes de algum dos deputados para que possa ser votado aqui. Por que do Deputado Campos Machado tem de ser este? Por que ele não apresenta três para fazermos debate e dizer “Este a gente aprova”? Por que do Deputado Campos Machado tem de ser assim e por que os nossos projetos precisam ser passados em todas as comissões, levando meses e meses? Por que o dele entrou com relator especial, em regime de urgência? Qual a diferença? Temos deputados com mais ou menos importância? É essa a questão que quero colocar, Deputado Zerbini. E não é problema só do PT. Certamente, atinge todas as bancadas.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

Era isso então que queria dizer em relação a este tema. Toda força à Defensoria, não vamos retroceder. (Manifestação nas galerias.) Deputado Enio Tatto, todo apoio da nossa bancada ao trabalho que V. Exa. vem exercendo com muita firmeza. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra, para falar a favor, o nobre Deputado Cauê Macris.

 

O SR. CAUÊ MACRIS - PSDB – SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, quando cheguei a esta Casa, há nove meses, eu que sou um deputado iniciante e estreante nesta Casa Legislativa, confesso que fiquei um pouco apreensivo.

Vim de uma Câmara Municipal onde os debates constantes de votação de projetos, no calor da discussão dos vereadores, acabam discutindo cada um dos projetos, sem acordos e obrigatoriamente, votando todos eles. Tive dois mandatos, tendo no meu segundo mandato presidido a Câmara Municipal de Americana.

Quando cheguei à Assembleia Legislativa, comecei a perceber que a situação e a discussão das ações legislativas, de projetos de deputados e do governo eram totalmente diferentes do que via na Câmara Municipal. Nesta Casa não temos apenas 10, 12, 15 vereadores, mas 94 Deputados que representam todas as regiões do Estado de São Paulo. São deputados que representam diversos segmentos do nosso Estado, da nossa sociedade, sejam os que representam os advogados, os funcionários públicos, a igreja e a sociedade em geral.

Comecei a perceber da necessidade das discussões dos projetos nas comissões, da importância que tinha dos líderes partidários, de cada um dos partidos, onde as suas colocações eram necessárias. E comecei a perceber uma coisa totalmente diferente. A democracia exigia muito tato, discussão e articulação política para fazer com que os projetos realmente passassem por esta Casa. E hoje, pela primeira vez, em nove meses de mandato, posso dizer que estou tranquilamente contemplado com a possibilidade de estar assomando esta tribuna, quase às 23 horas, com a Casa lotada e deputados participando e discutindo um projeto e uma pauta Legislativa importante do Estado.

É claro que opiniões são normalmente divergentes, mas tenho certeza que no fim nós todos defendemos o que é melhor para a nossa sociedade, para a população do Estado de São Paulo. Talvez o caminho seja diferente, como cada um acredite diferentemente do outro.

Cedo um aparte ao nobre Deputado Orlando Morando.

 

O SR. ORLANDO MORANDO - PSDB - Eu não estava preparado, nem querendo me posicionar. São muitos debates. Primeiro, precisamos registrar em nome da nossa bancada, PSDB, a bancada do Governador Geraldo Alckmin que tem colaborado com os projetos importantes, como as demais bancadas, de que, de nossa parte, já poderíamos ter aprovado inúmeros projetos nesta noite. Mas tem o entendimento, o Parlamento tem o seu tempo que muitas vezes a sociedade não entende. E por várias vezes olhei para esse público que se encontra aqui, o que para nós é um privilégio. Quantas vezes aprovamos projetos de extremo interesse, de setores e de categorias? Estamos aqui não para sermos valorizados porque o nosso maior valor foi a nossa vitória, a nossa eleição, o voto de confiança que nos foi dado, mas porque a classe política é sempre subjugada.

Todos nós ouvimos isso mesmo não merecendo e sabendo que não condiz com a nossa história. Abnegados colaboradores da população do Estado de São Paulo, que tenho orgulho, tive a alegria de estar nesta Casa quando foi criada a Defensoria Pública. Estamos hoje aqui empenhados em poder fazer a correção de uma injustiça e de um erro que cometemos. Tenho a coragem de dizer do erro que cometemos: fizemos a correção salarial dos defensores e não fizemos dos funcionários.

Sei que muitos ali olham para nós e pensam “Deram aumento para quem ganha mais para, depois, corrigir dos que ganham menos.” E vocês estão corretos. O que estamos tratando esta noite, daqui a pouco chegando à meia noite, não é uma coisinha, mas do Parlamento. A bancada de oposição tem o seu papel, estamos caminhando para a conclusão do Legislativo. Mas não podemos aqui ficar procurando os culpados e querer crucificar o Deputado Campos Machado porque não seria legítimo, não seria justo. E mais: estaríamos cometendo uma injustiça.

O que se propôs no Colégio de Líderes nesta tarde - estava lá presente - era o bom senso. O Governo tem interesse em aprovar projetos de extrema transparência, de total sensibilidade social. Quem é contra permitir que a Sabesp faça ligação de esgoto gratuitamente às famílias de baixa renda? Ninguém. Estamos criando um novo modelo para a CDHU para que, quando a cidadão quitar a sua casa, possa comercializar o seu imóvel. Alguém é contra? Mas eu não vou ser mesquinho e querer acusar o PT. Isso é legítimo do Parlamento.

O Deputado Cândido Vaccarezza, quando líder do PT nesta Casa, disse uma frase sábia: “O Parlamento tem o seu tempo.” É verdade. Se não votarmos a Defensoria hoje podemos votar amanhã. Vocês estão esperando há meses, sei da angústia que é isso, mas vamos votar. Não iremos terminar o ano Legislativo sem fazer essa correção que estamos devendo a vocês. Espero agora a compreensão de vocês, mesmo que muitos aqui possam torcer nariz, mas o Parlamento tem o seu processo de maturação, a oposição faz o papel dela, a base aliada tem o seu papel. E nós temos de saber interpretar esse papel. Poderíamos fazer apelos, e fizemos isso, mas temos de respeitar.

O que quero aqui trazer com muita tranquilidade? Primeiro, esta Assembleia Legislativa - conheço outras - não está em débito com a sociedade. Conseguimos, ao longo deste ano, o aumento dos professores, de todos os funcionários da Educação, Segurança Pública. Vamos conseguir também dos pesquisadores e finalizar o ano fazendo a maior reposição salarial que esta Assembleia Legislativa conseguiu nesses últimos 12 anos.

Não trago aqui palavras de conforto para os senhores. A oposição muitas vezes queria retroagir por 30 dias, mas o Governo não cedia. Buscamos um bom termo, buscamos o acordo.

Deputado Cauê Macris, eu finalizo o meu pronunciamento dizendo que, finalmente, estamos caminhando para o fim de ano. Amanhã temos ainda uma sessão deliberativa e, também, na terça, quarta e quinta-feira, da próxima semana, todos nós aqui, mesmo muitas vezes sendo cobrados injustamente pela imprensa.

A vida parlamentar não se passa só aqui dentro destas quatro paredes. Todos nós temos atividades, temos lugares que gostaríamos de prestigiar, temos interesses em aprovar os projetos que estão na pauta, como do orçamento, da Sabesp, da CDHU, das contas do governador.

Agora, peço a todos a compreensão e o bom senso. Se fosse possível votar o projeto da Defensoria Pública hoje, todos nós sairíamos acariciados. Mais do que isso, deixaríamos todos vocês, que estão aqui a esta hora, lutando por um direito justo, com sentimento de que retornariam para suas casas com uma conquista.

Posso afirmar a cada um de vocês que se essa conquista não finalizar nesta noite será antes de encerrar o processo legislativo deste ano porque queremos concluir até o dia 15. Então, vamos buscar o bom senso, vamos minimizar as críticas ácidas, duras e que no momento de emoção exageram o que sentimos pelos colegas, o que desejamos de outros parlamentares.

Não vou fazer um apelo, mas se for possível votar hoje com bom entendimento seria ótimo. Mas, se não for possível, tenham a certeza que vocês terão assegurado esse benefício que começou com a sensibilidade do Governador Geraldo Alckmin e será finalizado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Muito obrigado, Deputado Cauê Macris.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Nobre Deputado Cauê Macris, fico até receoso porque o Deputado Orlando Morando fez um discurso inflamado, que eu assino embaixo.

Quero lamentar a posição do Deputado Simão Pedro, que eu sempre respeitei, que foi de uma leviandade a toda prova. S. Exa. insinuou que o Presidente Barros Munhoz tinha favorecido este parlamentar. Estou apenas discutindo o direito de ter um projeto votado e o Deputado Simão Pedro, um homem de história, vem aqui e comete uma leviandade de afirmar o que afirmou.

Desculpe, Deputado Simão Pedro. V. Exa., que eu sempre respeitei, que tenho um carinho muito grande pela sua família, pelo seu filho Pedrinho, hoje, incorreu num equívoco muito grande. Insinuou leviandades que não foram praticadas, falou claramente de que houve praticamente uma tramóia. V. Exa. não está atento a prazos, passou o prazo da Comissão de Finanças. Eu não aceito insinuações em relação a V. Excelência somente pela leviandade que foi colocada.

Desculpe, Deputado Simão Pedro, aceito tudo, menos agressões à minha honradez. Estou aqui permanecendo livre. Todos os aliados querem que eu faça acordo. Não faço.

V. Exa. é homem de bem, homem de história, praticar leviandade nesta noite? Vou respeitar V. Exa. pelo seu passado. Por favor, não quero cometer injustiça contra V. Excelência. Respeito para ser respeitado, Deputado Simão Pedro.

É a última vez que vou aceitar V. Exa. insinuar leviandades a meu respeito, inclusive insinuando que o Presidente cometeu o mesmo tipo de leviandade.

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, para, com todo respeito, fazer um debate com o Deputado Campos Machado porque ele me acusa de eu ser leviano.

Afirmei que o projeto que queríamos debater, que, inclusive, preparei fazendo um relatório, ele foi retirado da Comissão para que pudesse ser tramitado aqui em regime de urgência com relator especial Foi só isso, Deputado Campos Machado. Acho que isso é um privilégio. Se V. Exa. me acusa de ser leviano por conta de que fiz essa constatação, V. Exa. me desculpe. Obrigado.

 

O SR. CAUÊ MACRIS - PSDB - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, retomo o meu 1 minuto e 30 segundo, do meu tempo de 15 minutos que eu tinha direito. Porém, vou me inscrever novamente porque comecei fazendo uma avaliação em relação ao Parlamento, mas o objetivo principal da minha fala não era essa. O objetivo da minha fala principal era falar sobre o nosso regime estadual de Previdência, defender o projeto do Governador Geraldo Alckmin até porque fui um dos deputados desta Casa que debruçou sobre esse projeto e conheço a fundo o projeto do regime de Previdência.

Sr. Presidente, faço questão de me inscrever novamente para poder discorrer os 15 minutos, para defender o porquê estou nesta tribuna hoje e o porquê defendo esse regime de Previdência estadual, que está sendo colocado aqui e que foi apresentado pelo Governador Alckmin, no dia de hoje.

Eu conversava com o meu colega de bancada, Deputado Welson Gasparini, sobre a questão de usarmos esse tempo que temos direito de discussão e votação para poder falar um pouco sobre o projeto.

O Deputado Luiz Claudio Marcolino, brilhantemente estudou o projeto, conhece o projeto. Tivemos a oportunidade de discutir esse projeto por quase duas horas. Há ponto de vista, discordância diferente, mas ponto de vista daqueles que sabem realmente e que se preocupam com o nosso funcionalismo.

Sr. Presidente, tenho mais 3 segundos, mas vou me inscrever novamente para que eu possa voltar à tribuna e colocar minhas ponderações a respeito do texto legal que o Governador Geraldo Alckmin enviou para esta Casa. Obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL – SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, colegas servidores da Defensoria Pública, defensores públicos, telespectadores da TV Assembleia, venho a esta tribuna para discutir contrariamente à aprovação do PL 840/11, que versa na prática sobre a privatização da Previdência dos servidores públicos. É disso que se trata esse projeto.

Nós, do PSOL, mantemos a coerência. Somos contra esse Projeto de Lei 840, na sua essência, e somos também contra o projeta que tramita no Congresso Nacional, do Governo Federal, que tem o mesmo teor. Aliás, esse projeto que tramita aqui na Assembleia Legislativa, do Governador Geraldo Alckmin, é cópia do projeto da Presidente Dilma que tramita no Congresso Nacional.

Sabemos qual a história das reformas previdenciárias do Brasil. Todas elas impuseram extremas perdas para os trabalhadores seja para iniciativa privada, seja para os servidores públicos. Sabemos disso. Foi assim com a Emenda 20, do Fernando Cardoso, em 1998, foi assim com a Emenda 41, do Ex-Presidente Lula, em 2003. Todos perderam: os trabalhadores da iniciativa privada, os servidores públicos. Foi assim com a reforma da Previdência estadual, em 2007, aprovada aqui na Assembleia Legislativa, que se transformou na Lei 1.010, de 2007.

Os servidores perderam imensamente com essa reforma da Previdência. Enfim, todas elas têm a mesma toada: impor perdas para os trabalhadores. Sabemos que essas duas reformas que estão sendo preparadas: uma aqui, na Assembleia Legislativa, e a outra no Congresso Nacional, vêm no mesmo diapasão.

Por isso vamos votar contrariamente, vamos obstruir sistematicamente votações referentes aos dois projetos. A nossa bancada, tanto no Senado, como na Câmara dos Deputados, está mobilizada também nesse sentido porque sabemos que a previdência no Brasil não é deficitária como alegou o Deputado Samuel Moreira, Líder do Governo, inclusive o Estado tem uma dívida com os servidores públicos que eu gostaria de resgatar. Refiro-me à dívida com o Ipesp, com a SPPrev de quase cem bilhões de reais: 60 bilhões a Secretaria da Fazenda já reconheceu, mas temos cálculos dando conta de que essa dívida com os servidores do Estado de São Paulo passa de cem bilhões de reais, dinheiro sequestrado pelo Governo Estadual durante vários anos, dinheiro que foi retirado do Ipesp para construção de delegacias de polícia, para construção de prédios burocráticos para o Governo Estadual. O Estado deve bilhões para os servidores públicos do Estado de São Paulo. Temos ainda um mito que tem de ser desmontado.

Além dessa questão da previdência deficitária, o mito da integralidade dos vencimentos dos servidores públicos porque a grande questão colocada é que o servidor público tem direito a aposentadoria integral. Isso não é verdade até porque os servidores públicos, principalmente aqui em São Paulo, são vítimas de uma política de arrocho e de compressão salarial, uma política salarial calcada em bonificações e gratificações. O servidor público do Estado de São Paulo quando se aposenta perde quase metade do seu salário. Esta a situação dos aposentados, dos pensionistas do Estado de São Paulo. Por conta disso é que somos contra.

Este projeto é uma verdadeira farsa, ele aponta no sentido de privatizar a previdência dos servidores públicos abrindo caminho para que os servidores da ativa sejam também prejudicados. Nós tememos por isso, principalmente num momento de crise econômica, num momento em que a crise americana e a crise europeia se aproximam do Brasil O Brasil não cresceu no último trimestre. Tivemos acesso agora aos dados do IBGE. O Brasil também caminha para um processo de recessão e em crise econômica sabemos que a primeira área penalizada é a previdência. É o que está acontecendo hoje em Portugal, Itália, Grécia, Finlândia, Islândia, na Inglaterra há uma proposta de mudança do sistema previdenciário e não será diferente aqui no Brasil. Quando a crise bater mais pesado em 2012/2013, com certeza teremos mais reformas na previdência, que vão penalizar mais ainda os trabalhadores da iniciativa privada e os servidores públicos. Diante disso nos colocamos contra a aprovação do Projeto 840. Nós não vamos querer penalizar mais uma vez os servidores do Estado de São Paulo.

Tivemos experiências tenebrosas na Assembleia Legislativa. A Assembleia já cometeu vários atentados contra os trabalhadores votando projetos do Executivo. A reforma de 2007 responsável pela Lei 1010/97; cito mais duas outras leis aprovadas pela base do Governo em 2008 e depois em 2009: a lei que colocou a carteira previdenciária dos advogados do Ipesp em processo de extinção, que foi um verdadeiro golpe contra 40 mil advogados que pagaram e pagam ainda o seu sistema previdenciário, um sistema que foi construída pela próprio Governo Estadual, uma carteira centenária que foi golpeada pela Assembleia Legislativa, um projeto do ex-Governador José Serra. A carteira está em processo de extinção. Nós fomos ao STF porque na nossa opinião a lei é inconstitucional, ela viola o estado democrático de direito, viola o direito adquirido. Fomos ao STF e ingressamos com uma Adin em nome do PSOL e está pronta para ser julgada, inclusive o relator é o Ministro Marco Aurélio de Mello, que já fez relatório e encaminhou para a Presidência do Supremo. Esperamos que ela seja julgada imediatamente para salvar para recompor os direitos e a dignidade dos 40 mil advogados que ficaram na mão, que foram abandonados pelo Estado que pagaram e continuam pagando a sua previdência.

No entanto não vi o Deputado Campos Machado defender esses advogados. Ele está dizendo que defende os advogados, que defende a OAB, mas quando o projeto foi para votação o Deputado Campos Machado, que diz ter a reserva de mercado da defesa dos advogados, votou contra os advogados do Ipesp. Parece-me que esses 40 mil advogados não são defendidos pelo Deputado Campos Machado e agora ele apresenta um projeto para destruir a defensoria pública do Estado de São Paulo, que no Estado de São Paulo foi implantada tardiamente. O Estado de São Paulo foi o último Estado da Federação a implantar a sua defensoria pública. Então o PSDB, que está no comando do aparelho do Estado há 17 anos, protelou o máximo possível. É o Governo que o Deputado Campos Machado defende, o governo tucano, o governo do PSDB que retardou o máximo possível a implantação da defensoria pública no Estado de São Paulo, prejudicando os 42 milhões de habitantes do Estado. Agora estranhamente o deputado vem falar em nome dos pobres, dos excluídos. Isso não condiz com a prática do Deputado Campos Machado.

Mas eu gostaria de voltar ao tema da previdência. Os advogados do Ipesp foram prejudicados por uma votação realizada aqui na Assembleia Legislativa. Posteriormente tivemos um outro ataque a um outro setor de trabalhadores: os cartorários extrajudiciais que tiveram a sua carteira previdenciária colocada em processo de extinção graças a um projeto do ex-Governador José Serra, projeto também aprovado pela base do Governo. Então mais de 10 mil trabalhadores estão com sua carteira em processo de extinção no Estado de São Paulo. Todas as experiências de reformas, de alterações da legislação referentes à previdência, principalmente aqui no Estado de São Paulo, prejudicaram os trabalhadores e esta não será diferente. Em relação aos cartorários ingressamos com uma Adin no STF e apresentamos aqui um projeto de lei para revogar essa perversa lei aprovada com os advogados também.

O Governo Estadual com estas duas leis aprovadas, uma contra os advogados e outra contra os cartorários extrajudiciais, criou a figura do desaposentado no Estado de São Paulo, pessoas que já estão aposentadas podem perder a aposentadoria por conta da aprovação destes dois projetos. Se nós vencermos a votação no STF vamos ter algo inédito no Brasil e talvez no mundo: a figura do desaposentado porque as duas carteiras podem quebrar por conta destas duas leis que colocaram as carteiras em processo de extinção. Nós não vamos entrar nesse jogo de aprovar um projeto instituindo a previdência complementar.

A previdência complementar hoje no Brasil é a privatização da previdência dos servidores públicos. É um engodo, é uma farsa. A Assembleia Legislativa não pode aprová-lo sob pena de estar prejudicando não só os futuros servidores que ingressarão no serviço público estadual. A aprovação desse projeto representa uma porta aberta para que os servidores públicos da ativa sejam prejudicados. Essa é a nossa grande preocupação. Por isso fazemos um apelo aqui para que todos votem contrariamente ao PL 840. Repito, a Previdência do Estado de São Paulo não é deficitária e não será porque o estado tem uma dívida monstruosa com os servidores públicos, com o Ipesp e com a a SPPrev. A própria Secretaria da Fazenda já reconheceu isso em várias audiências públicas, uma dívida de no mínimo 60 bilhões. Temos cálculos dando conta de que é muito mais, gira em torno de mais de 100 bilhões de reais. Queremos esse dinheiro de volta para a SPPrev e para a carteira previdenciária dos advogados e dos cartorários.

Não podemos entrar nessa cantilena, nessa ladainha de previdência complementar. Sabemos que ela vai beneficiar os banqueiros, o sistema financeiro. Não foi á toa que DRU - Desvinculação das receitas da União, está sendo aprovada no Brasil, que vai capturar 20% do orçamento da Previdência no Brasil. Enquanto tivermos esse modelo de política economia que tanto tem beneficiado os rentistas e os especuladores da dívida pública, o preço dessa especulação é a retirada de dinheiro da Previdência, da Saúde. Só da educação conseguimos escapar porque já tínhamos aprovado o projeto no Congresso Nacional que livrou a educação desse sequestro da DRU. Mas as outras áreas que têm verbas carimbadas todas continuarão sendo prejudicadas pela continuidade da DRU.

Sempre nos colocamos contra porque a DRU tem prejudicado a sociedade brasileira porque ela sequestra 20 % do orçamento da Saúde, da Previdência Social e de tantas outras áreas para pagar os juros e as amortizações da dívida pública, beneficiando apenas os rentistas e os especuladores. Então, é isso que está em jogo hoje: a aprovação do PL 840, significa o fortalecimento desse modelo de política econômica que vai prejudicar ainda mais os trabalhadores do Brasil e, sobretudo, os servidores do Estado de São Paulo. Por isso, nosso total repúdio a esse projeto e nosso voto contrário ao PL 840.

Para finalizar, Sr. Presidente, fazemos um último apelo ao Deputado Campos Machado para que ele abra mão, faça mais um gesto e permita que possamos votar o PLC 40 dos servidores da Defensoria Pública. Basta um gesto do Deputado Campos Machado. Obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar a favor, tem a palavra o nobre Deputado Alencar Santana.

 

O SR. ALENCAR SANTANA - PT - Sr. Presidente, cedo meu tempo ao nobre Deputado João Paulo Rillo.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Por cessão de tempo, tem a palavra o nobre Deputado João Paulo Rillo, pelo tempo regimental.

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, hoje é um dia atípico na Casa. Foi a primeira vez que vi o que deveria ser tratado no Colégio de Líderes vir a público e ser discutido abertamente nos microfones de aparte numa tentativa de acordo público. O que não acho ruim; acho muito bom. Infelizmente, não foi possível e cá estamos discutindo o projeto da Previdência. Na verdade, discutindo principalmente alguns gargalos e a deficiência da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo em resolver problemas crônicos, como o caso do projeto dos servidores da Defensoria Pública e projetos que acabam se tornando moeda de troca.

Tenho certeza que não tem nenhum deputado que tenha alguma resistência em relação ao projeto. Discordo, mas é do jogo político o projeto virar moeda de troca. Os deputados sabem da importância do projeto, sabe que alguns deputados já se comprometeram a aprovar o projeto e utilizam a discussão de outros interesses como moeda de troca. Presenciei também alguns deputados desqualificando o argumento de companheiros, alegando que não têm conhecimento suficiente para fazer tal debate. O que é absolutamente impróprio para uma casa de leis, principalmente uma casa política; impróprio para o debate político uma vez que todos aqui têm legitimidade para discutir o que quiser e da maneira que quiser.

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PT - Sr. Presidente, requeiro uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V.Exa. é regimental. Convido os nobres deputados Mauro Bragato e Jooji Hato para auxiliarem a Presidência na verificação de presença ora requerida.

 

* * *

 

- É iniciada a chamada.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - A Presidência constata quorum regimental para prosseguimento dos trabalhos, pelo que dá por interrompida a verificação de presença. Agradece a colaboração dos deputados Mauro Bragato e Jooji Hato e devolve a palavra ao nobre Deputado João Paulo Rillo.

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PT - Sr. Presidente, como estava dizendo, presenciei nesse plenário mais uma vez a tentativa de desqualificar a defesa de companheiros, principalmente em relação ao projeto da Defensoria Pública.

Vale lembrar que o Partido dos Trabalhadores fez nesse país, além da inclusão social, a inclusão política, há mais de 30 anos, fazendo de trabalhadores, intelectuais e artistas pessoas importantes no cenário político; fazendo de operários, de empregadas domésticas, de trabalhadores rurais, vereadores, prefeitos, deputados federais, absolutamente capacitados para o debate político.

Toda vez que tem um projeto temático temos o prazer de ouvir a bancada do PT defendendo como foi o caso do projeto da Previdência discutido pelo nobre companheiro bancário Luiz Claudio Marcolino, que tem absolutamente total domínio do que fala, muito mais do que qualquer advogado previdenciário. Tenho certeza absoluta. É um trabalhador que veio aqui, deu uma verdadeira aula e desmontou o projeto do Governo do Estado que, como bem disse o companheiro Gianazzi, tem por único e grande objetivo privatizar a Previdência no Estado de São Paulo, deixando trabalhadores numa situação muito difícil.

Aliás, é a continuidade da política do PSDB, que incorporou, como ninguém, o neoliberalismo e o Estado mínimo, que fracassou no mundo inteiro. Não fosse a chegada do Presidente Lula à Presidência da República, o País iria à bancarrota. O País quebrou três vezes, governado pelo grande intelectual Fernando Henrique Cardoso, e agora o PSDB no Estado de São Paulo, não satisfeito com tudo o que já fez, com toda privatização, pretende entregar também a garantia do trabalhador, o sossego do trabalhador, daquele que contribuiu, que fez o seu papel, privatizando e desmontando a Previdência.

O companheiro Luiz Claudio mostrou, por A mais B, que não existe um fundo que garanta a complementação enquanto o trabalhador estiver vivo. Mostrou, por A mais B, que depois de 25 ou 30 anos de contribuição, a mulher será prejudicada, e muito prejudicada nesse projeto. No entanto, é de se espantar a frieza e a falta de sensibilidade da base governista, que parece que não está preocupada com isso e pretende votar o projeto da mesma maneira.

Não nos resta outra alternativa senão debater até o último segundo, de obstruir e utilizar todos os instrumentos para tentar sensibilizar a bancada governista a rediscutir esse projeto e, quem sabe, um acordo que contemple o interesse de vocês que aí estão, que é o mesmo interesse nosso. O projeto de interesse de vocês é projeto de interesse da Justiça do Estado de São Paulo.

Quero relativizar e reforçar o compromisso que o Deputado Campos Machado fez. É verdade que o Deputado defende um projeto que nós, da Bancada do PT, não defendemos. Mas é verdade também que depois de muita discussão houve um avanço no Colégio de Líderes, e aqui não estou cobrando, porque tenho certeza de que ele vai honrar com a palavra. Estou apenas reafirmando o compromisso que ele fez no Colégio de Líderes e fez desta tribuna, de que amanhã não deixará de entrar na pauta. Se ele voltar à tribuna espero que ele reforce esse compromisso. O compromisso é que nós votaremos. Se não houver acordo hoje para votar, que eu acho que é difícil, mas amanhã vai entrar na pauta e nós votaremos o projeto de aumento salarial para os servidores da Defensoria Pública.

E porque nós, do PT, compreendemos a Defensoria Pública como algo estratégico para promover justiça no Estado de São Paulo, respeito a posição do Deputado Campos Machado. Considero corporativa, mas considero legítima.

E aqui não podem dizer que o PT não defende os advogados. Muito pelo contrário, o que defendemos é a Justiça plena no Estado de São Paulo. Ora, o que defendemos é a aplicação da Constituição. A Constituição é muito clara. A defesa daqueles que não têm condição para contratar um advogado tem que ser feita, organizada, planejada e gerenciada pela Defensoria Pública, e não pela OAB.

Essa é a nossa posição. Aqui não estou desvalorizando o advogado, muito pelo contrário. Entendo que o estudante, que estuda por cinco anos e depois se transforma em advogado, penso que ele está apto a fazer o enfrentamento do mercado. Ele está apto para fazer a sua sobrevivência no mercado. O que não pode é fazer de algo sagrado, que é a defesa do cidadão indefeso, instrumento de sobrevivência para o advogado que não se defende no mercado. Considero absolutamente equivocado, fragiliza a defesa do cidadão que não tem condição de contratar um advogado e, mais, estimula a acomodação daqueles que têm que se defender no mercado.

Faço uma pergunta a vocês. Ainda existem lugares onde há falta de Defensoria, e fazem o convênio. Quero saber: se faltar juiz, se faltar promotor, o Estado vai fazer convênio com a OAB, para nomear advogados como juízes e promotores? Obviamente que não. Então, se nós preservamos a instituição Ministério Público, preservamos o Poder Judiciário, por que não preservar e dar o mesmo valor à Defensoria Pública no Estado de São Paulo? (Manifestação nas galerias)

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, temos que respeitar o Regimento Interno.

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PT - Embora ele não tenha pedido, concedo o aparte ao Deputado Campos Machado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Eu falei pela ordem, uma questão de ordem. Sr. Presidente, temos que respeitar o Regimento Interno.

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PT - Sr. Presidente, o Deputado Campos não pode falar no meu tempo, mas se ele utilizar ...

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Eu falei pela ordem, por uma questão de anuência do orador.

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PT - Se o Deputado Campos Machado utilizar ...

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Eu pediria aos deputados que mantivessem a tranquilidade, e pediria mais uma vez aos que acompanham a sessão que, por favor, respeitem o Regimento.

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PT - Deputado Campos, se quiser um aparte, o aparte está concedido. (Pausa.)

Consegui, de maneira muito simples, como penso que tem que ser a discussão política, porque embora eu seja bacharel em Direito, eu não advogo, não tenho qualificação jurídica nenhuma. No entanto, tenho legitimidade, como todo companheiro aqui, para discutir politicamente todos os assuntos, porque somos legitimados a discutir qualquer assunto aqui, sem retaliação.

O último homem que foi acusado de ser despreparado e analfabeto virou a grande liderança mundial, que atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva, como o maior Presidente da história deste País.

Quero aqui fazer a defesa de todos os companheiros que vieram discutir, que defendem a Defensoria Pública e, mais, nós compreendemos o estado de direito e compreendemos que não se faz justiça sem respeito ao Poder Executivo, ao Poder Legislativo e ao Poder Judiciário.

Compreendemos que não há de haver ingerência na Defensoria Pública, como há ingerência do Poder Executivo nesta Casa, infelizmente. Porque aqui, senhores defensores, o que querem fazer com os senhores, infelizmente, é o que fazem conosco todos os dias. É interferência direta naquele que deveria ser um Poder independente.

E por todo respeito que tenho à OAB, compreendo a importância da OAB e, aliás, acho que o pensamento da seção de São Paulo não é o pensamento hegemônico dos advogados, tenho certeza absoluta disso.

Faço um apelo aos Srs. Deputados: primeiro, acho que é um consenso, e quero fazer justiça, cumprimentar o Deputado Campos, por ter se comprometido em votar o projeto dos servidores amanhã. E quero pedir aos Srs. Deputados, e até ao Deputado Campos, que propôs uma saída importante, colocar de novo a OAB e defensores, para nós conversarmos. Ninguém tem medo do debate, mas independente disso, peço aos Srs. Deputados que analisem o que pode acontecer.

Temos milhares de pessoas no Estado de São Paulo que têm a vida muitas vezes salva por uma boa defesa. E a boa defesa tem que ser feita por aquele que tem vocação, por aquele que estudou, se preparou, dedicou a sua vida para passar num concurso público, para fazer defesa das pessoas simples. São as pessoas que não estão preocupadas com o acúmulo de riqueza, que não estão preocupadas com honorários. Estão preocupados com a qualificação pessoal e com a defesa do próximo. A defesa dos mais humildes no Estado de São Paulo tem que ser feita pelos defensores públicos, e não por advogados registrados na OAB. Sem Defensoria Pública não há justiça plena no Estado de São Paulo. Essa é a compreensão minha e da Bancada do PT.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra, para falar contra, o nobre Deputado Carlos Grana. (Pausa.) Tem a palavra, para falar contra, o nobre Deputado Edinho Silva.

 

O SR. EDINHO SILVA - PT – Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, servidores desta Casa, servidores da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, telespectadores da TV Assembleia. Certamente estamos hoje nesta Casa fazendo um dos debates mais importantes que presenciei durante todo este ano legislativo. Porque é um debate de fundo que define e faz com que possamos elaborar qual modelo de sociedade queremos construir. E é esse o enfoque fundamental que quero trabalhar no meu tempo regimental.

É evidente que o que está em pauta é o Projeto de lei 840, que trata do Regime Previdenciário dos Servidores do Estado de São Paulo. Nós julgamos este projeto de extrema importância, tanto é que a nossa bancada elaborou 31 emendas para corrigir este Projeto de lei. Entendemos que um Projeto de lei dessa importância deveria inclusive tramitar nesta Casa por mais tempo. Não podemos mexer no regime previdenciário, uma lei que vai mudar a vida de cada servidora e cada servidor do Estado de São Paulo. É um projeto que altera o futuro de todos aqueles que optaram pela carreira de servidor no Estado de São Paulo. Um Projeto de lei como este não deveria tramitar por um espaço de tempo tão curto, como o de nº 840, sem que nós pudéssemos envolver inclusive o conjunto dos servidores para conhecimento e domínio deste projeto.

O Projeto de lei do Governo Federal, que mexe no regime previdenciário, tramita no Congresso Nacional desde 2007. Portanto, ele tem sido debatido e reformulado para que o conjunto do Congresso Nacional tenha toda a segurança e não tenha nenhuma dúvida sobre o impacto quando ele for, efetivamente, aprovado e sancionado pelo Executivo. Portanto, seria importante que nós tivéssemos um tempo maior para debater o Projeto de Lei 840, que todas as bancadas tivessem suas dúvidas sanadas.

Mas feitas as ressalvas, quero usar o meu tempo regimental para tratar do debate de fundo que está sendo travado hoje nesta Casa. E não quero entrar em nenhum juízo de valor. Quero fazer o debate do projeto político que só se faz quando se tem respeito pelo interlocutor, quando ele é travado no campo das ideias, sem desqualificação e sem tentar diminuir o interlocutor ou o debatedor.

Sr. Presidente, sem nenhuma hipocrisia, é evidente que a Bancada do Partido dos Trabalhadores é a maior Bancada nesta Casa porque assim quis o povo de São Paulo. Portanto, tem sim força política para criar agenda, para propor debates. Não é porque nós queremos, mas porque o povo de São Paulo quis que fôssemos a maior Bancada. Temos, portanto, legitimidade. Somos minoria na correlação de forças, mas somos legítimos para criar uma agenda e uma pauta nesta Casa.

Estamos aqui obstruindo sim, Sr. Presidente. Porque a obstrução é um instrumento legítimo e garantido pelo Regimento Interno. Um instrumento que as minorias têm para fazer valer a sua voz, poder ter força política para propor o debate. Não tem nada de errado em obstruir, em pedir verificação de presença e usarmos o Regimento Interno a nosso favor. O Regimento Interno foi criado e aprovado pelo plenário desta Casa.

Dito isso, quero aqui dizer que quando nós propomos o debate da Defensoria, e isso nada tem de demagógico, Sr. Presidente, queremos fazer o debate de qual modelo de sociedade queremos construir, de qual modelo de Estado queremos construir. A valorização da Defensoria Pública, da forma como nós estamos defendendo, não é o monopólio do Partido dos Trabalhadores. Muitos parlamentares, inclusive da Bancada da situação, pensam como nós: valorizar a Defensoria Pública é garantir que a democracia, o estado pleno de direitos seja garantido, que o Estado Democrático não seja agredido.

E onde que isso tem de contradição com a OAB? Qual a contradição que está criada em nós defendermos que o Estado faça a defesa daqueles que não têm condições de pagá-la? Que o Estado Democrático de Direito seja garantido àqueles que não têm condições de remunerar um operador do Direito para fazer a sua defesa? É constitucional, Sr. Presidente, e um dos maiores avanços da democracia brasileira é que um Estado faça a mediação para que a sociedade não seja desigual e possa garantir direitos iguais aos desiguais. Essa é uma concepção de Estado.

Concedo um aparte ao nobre Deputado Welson Gasparini.

 

O SR. WELSON GASPARINI - PSDB - Deputado Edinho Silva, tenho uma admiração muito grande pela sua atuação nesta Casa, pelo seu caráter. Gostaria de fazer uma observação. Sou novato nesta Casa, mas sinto que, por exemplo, se tivéssemos uma objetividade maior na discussão dos projetos, a população teria uma imagem melhor sobre nosso comportamento aqui na Casa e os rendimentos seriam melhores.

Veja V.Exa., muitos que estão nos assistindo nesse momento e acompanham nosso trabalho pela televisão às vezes não sabem o que é o processo de obstrução e o que está acontecendo, porque muitos ocupam a tribuna, falam do projeto em discussão e de outros projetos porque precisa enquadrar seis horas de discussão para acabar o que se chama de obstrução. Se pudéssemos bem objetivamente discutir o assunto em pauta, eu conversei com vários deputados da oposição, e há quase uma concordância sobre mais três ou quatro projetos de importância, que são muito valiosos na discussão e votação, e um deles atenderá todos os funcionários que estão aqui nos acompanhando, que é o projeto da Defensoria Pública, que está tramitando.

Então eu quero fazer um apelo também, ainda que não entenda bem o sistema nesta Casa, para fazermos um acordo objetivo e discutir o projeto da Previdência que está na Ordem do Dia com prioridade. Já têm as emendas, e se não estou enganado, já chegamos a quase cinco horas de discussão.

Quem sabe possamos fazer a votação com compromisso do bloco situacionista em apoiar a pretensão que tem as pessoas que estão aqui esperando, ao contrário, será amanhã. Já pensou eles irem dormir sem ter um resultado hoje, aqui na Casa?

Desculpe a sugestão, mas deixo para Vossa Excelência.

 

O SR. EDINHO SILVA - PT - A Bancada do PT e nosso líder Enio Tatto, estão dispostos a fazer qualquer tipo de negociação que possa garantir como prioridade a votação que trata da carreira da Defensoria Pública.

Quando nós debatemos aqui, Sr. Presidente, o papel da Defensoria e colocou-se de forma contraditória com a OAB, o que quero pedir , é uma reflexão. O debate sobre o papel do Estado e a relação com as corporações é um debate que remete ao Século XIX, não estamos falando de algo moderno.

O que peço é reflexão, Sr. Presidente, efetivamente: Qual o modelo de sociedade que queremos construir? Qual o papel do Estado que efetivamente nós vamos desenhar para esse Século XXI?

É evidente que a OAB é uma instituição respeitadíssima e nada tem a ver, Sr. Presidente, a relação da Defensoria com o papel da OAB, que é uma entidade que representa uma classe, que representa os profissionais do Direito.

Eu fico pensando por que nós temos que dar como certo, como natural, que o Estado mantenha relações com as corporações e não que o Estado cumpra seu papel? Sendo assim, a OAB passa a cumprir a relação direta no benefício à população na área do Direito e a APM fará o mesmo na Medicina? E o Crea? Fará o mesmo em relação às obras e ao papel dos engenheiros?

Portanto, o Estado abre mão do seu papel para que as corporações substituam o Estado? Não, Sr. Presidente. Nós queremos o fortalecimento do Estado, queremos que a Defensoria cumpra o seu papel constitucional e que as corporações cumpram o papel de representar os seus profissionais, e de fazer valer o direito de seus profissionais. São funções distintas e atribuições distintas à sociedade.

Por isso, Sr. Presidente, é evidente que a Defensoria tenha estrutura e condições para defender aqueles mais fragilizados da sociedade. É evidente que enquanto isso não existir, ela pode, sim, fazer contratações, ela pode, sim, fazer convênios, desde que estejam nas mãos do Estado, Sr. Presidente. Tem que ser uma atribuição do Estado, não pode ser uma atribuição das corporações. Esse é o modelo de Estado que vamos desenhar para o Século XXI? É isso que nós queremos para o Século XXI, Sr. Presidente, que as corporações sejam mais fortes que o Estado e não arranhe sua relação com a sociedade?

Queremos, sim, Sr. Presidente, que as pessoas mais humildes tenham o direito à defesa, tenham o direito ao contraditório. Mas entendemos, Sr. Presidente, que esse papel é da Defensoria Pública deste país porque assim atribui a Constituição Federal.

Queremos, Sr. Presidente, a Saúde de qualidade nesse país, mas que o Estado brasileiro se organize para prestar serviço na área da Saúde e não precise abrir mão do seu papel transferindo para a Associação Paulista de Medicina. Queremos obras públicas em todos os rincões deste País, mas que o Estado brasileiro cumpra o seu papel e não queremos que o Crea substitua o Estado brasileiro.

Esse é o debate de fato, Sr. Presidente. Vamos voltar ao Século XIX, quando as corporações se impunham diante do Estado, ou efetivamente vamos consolidar uma democracia plena em que cada cidadão tenha o direito a exercer sua cidadania, porque assim garantiu o Estado brasileiro? Muito obrigado, Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sras. Deputadas.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra, para falar a favor, a nobre Deputada Regina Gonçalves.

 

A SRA. REGINA GONÇALVES - PV - PARA COMUNICAÇÃO - Sr. Presidente, eu cedo o meu tempo para o Deputado Campos Machado.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental. Tem a palavra, para falar a favor, o nobre Deputado Campos Machado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, nobre Deputado Barros Munhoz, com alegria eu vejo as pessoas abandonarem as galerias. Que belo respeito a esta Casa! Que belo respeito à democracia que o Deputado Edinho Silva cantou aqui em prosa e versos. Este é o respeito.

Vejam bem, Srs. Deputados, não fiquem de costas, vejam a saída da galeria. Esta é a democracia do Deputado Edinho Silva! Esta é a democracia do Deputado Enio Tatto, do Deputado João Antonio, que às vezes esquecem que aqui não é a Câmara Municipal. Esta é a democracia que eles cantam, declamam, fazem poesias. Olhem lá!

Daqui a pouco eles voltam como as andorinhas, que vão e voltam!

Daqui a pouquinho, todas as andorinhas estarão de volta aqui. E o respeito a esta Casa, Deputado Zerbini? E o respeito... Agora vão fugindo todos pelos cantos!

É assim que se faz. Olhem como eles saem de mansinho. As andorinhas já foram embora. Agora os Deputados deixam aqui, pelos cantos.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra o nobre Deputado Enio Tatto.

 

O SR. ENIO TATTO - PT - Sr. Presidente, solicito regimentalmente uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental. Convido os nobres deputados Hélio Nishimoto e Milton Leite filho para auxiliarem a Presidência na verificação de presença ora requerida.

 

* * *

 

- É iniciada a chamada.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência constata número regimental em plenário, agradece a colaboração dos secretários e devolve a palavra ao Deputado Campos Machado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, saúdo a volta ao plenário dos ilustres deputados da Bancada dos Trabalhadores, que me deixa feliz, alegre e honrado.

Mas eu dizia que o Deputado Edinho Silva defende a democracia. Não sei qual o conceito de democracia que ele tem, uma democracia em que a bancada interage com a galeria. Quem sabe deu voz de comando para que os funcionários da defensoria saiam do plenário quando vou falar. Esta a democracia do Presidente do PT meu amigo Edinho Silva. E não se esqueçam que eu não limpei o vidro aqui, porque acredito que todos os deputados desta Casa têm o sentido de pureza na alma e no coração. Não no vidro. Não limpei não, mas deixando a limpeza de lado eu gostaria de indagar ao Deputado Edinho Silva qual o conceito de democracia que tem. Quem é o porta-voz da bancada que foi até a galeria e pediu para os ilustres convidados para saírem do plenário enquanto o Líder do PTB falar.

Eu poderia pedir a presença de milhares de advogados, só que não tenho tendência à demagogia barata. Poderia lotar a galeria, mas não o faço porque imagina a Bancada do PT que vai pressionar. A única pressão que considero é a panela de pressão. Aqui não tem pressão não. Eles se acham donos da verdade, da ética, da moral. Só eles têm princípios, não permitem que eu defenda os advogados do Estado, não permitem que eu entenda que milhares e milhares de pessoas vão ser penalizadas pelos princípios morais, éticos e históricos da Bancada do PT. O que é um princípio? Será que é este que eles ensinaram às pessoas da galeria?

Mas os anos, dizia um poeta inglês, sabem mais coisas do que os dias e os dias me ensinaram que nunca se perde o vício. Há 20 anos estou aqui e há 20 anos o comportamento é o mesmo. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço. Se falam em ética, vão buscar Kant. Outros se arvoram em professores eméritos do Direito.

Eu, pobre advogado criminalista, formado na São Francisco, lá onde se formou Olavo Bilac, Rui Barbosa, Jânio Quadros, naquela faculdadezinha pequena, não gosto de me portar como advogado aqui. Aqui se prega clara e nitidamente aquele saber jurídico. Daqui a pouquinho vamos ver a Constituição Federal e Estadual serem debulhadas, discutidas.

Eu quero fazer uma indagação: quantos processos existem no Estado anualmente? Um milhão. Quantos defensores públicos é preciso para atender um milhão de processos anualmente? Dez mil defensores públicos e só temos 400 e vejam a preocupação do Deputado Edinho Silva: como é que vamos deixar de atender o carente? Que carente, Deputado Edinho Silva? Nós vamos encarcerar metade dos carentes, metade dos humildes e em nome do quê? De princípios, princípios filosóficos: a luta continua.

Deputado Gasparini, entendi V. Exa.: é que debaixo dessa nuvem existem detalhes que poucas pessoas sabem, a não ser Roberto Carlos. Eu verifico que os defensores do indefensável querem apenas marcar posição.

Um diz que o Governo é que quer votar o meu projeto.

Alheio a tudo, acha que sabe tudo, acha que é a única pessoa inteligente nesta Assembleia, ele conseguiu decifrar o enigma: o Deputado Samuel Moreira recebeu orientação para votar o projeto do Deputado Campos Machado.

Mas que história é essa. De onde tirou essa conclusão? Sabe V. Exa. que estou enfrentando o Governo na defesa deste projeto? Sabe V. Exa. que faz duas horas que estou ouvindo o Deputado Samuel Moreira falar comigo sobre um acordo? Sabe V. Exa. que nós não temos o apoio do Governo? É que V. Exa. acha que só tem de votar os projetos da Bancada do PT. Será que não tenho o direito de defender 50 mil advogados que vivem em função da assistência judiciária? Ou só vocês é que têm direito de defender 500 defensores públicos? Justifique, na cabeça de quem pode entrar uma coisa dessas. Quinhentos defensores públicos vão cuidar de um milhão de processos e essa história do convênio com faculdade está mal explicada. Eu acabei de anunciar anteriormente que vou ingressar com pedido no Ministério Público para apurar os celebrados convênios entre a defensoria e as faculdades. Mas aí não tem nenhuma questão financeira. É evidente que não. E a lei? O que se faz com a lei, Deputado Enio Tatto? Rasga-se? Veja a conclusão do seu liderado: que eu estou defendendo um projeto que o Governo está amparando.

Quisera eu ter 1% da força que o deputado disse que tenho. Só que o PT não quer discutir o meu projeto. Quer discutir os dele. Tem projetos importantíssimos que foram votados aqui da Bancada do PT. Mas quando se trata do Líder do PTB, ou do Presidente PTB, ou do Secretário-Geral do PTB, há um impasse.

Por isso quero deixar bem claro aqui que eu tenho o direito de ver o meu projeto pautado. Não posso exigir que seja aprovado, mas sim pautado!

Os “espadachins” da Defensoria Pública que venham aqui. Falem em democracia, digam que o Governo quer aprovar o meu projeto, falem o que quiserem, mas deixem que ele seja pautado, em nome da democracia. Ninguém é obrigado a votar o nosso projeto.

O Deputado Enio Tatto quer que eu coloque o projeto de seu interesse. Amparado por seus colegas de Bancada, ele entende que o projeto que quero pautar deve estar em conformidade com suas vontades. Ele, juntamente com o Deputado Edinho Silva e outros Parlamentares dizem que devo escolher o projeto que eles precisam pautar. Vejam a pretensão, o descabimento, a lógica e o irracional! Mas, acham que estão certos.

Dizem que o projeto do Deputado Campos Machado deve passar pelo crivo da honrosa bancada petista. Isso era só que me faltava! Acham que eu vou sucumbir a essa exigência estúpida e agressiva? Acham que eu vou concordar? O que essa Bancada tem diferente das demais?

Ah! Tem razão o Deputado Luiz Claudio Marcolino, quando diz que tem 24 Deputados? Mas aqui é uma Assembleia e o “Presidente” é o Deputado Enio Tatto! O senhor tem razão, Deputado Luiz Claudio Marcolino. Acho que vou primeiro ao gabinete de V. Exa. perguntar se eu posso frequentar o plenário e se, no futuro, tenho a possibilidade de apresentar um projeto. Se V. Exa., recém-chegado do Sindicato dos Bancários, entender que sim, em seguida, irei procurar o Líder da Bancada, Deputado Enio Tatto, depois procurarei Presidente do PT, Deputado Edinho Silva, e depois o Deputado João Antonio.

Entendem que aqui é a Câmara Municipal! Acham que eu nasci para ser lacaio e subjugado! Acham que irei atender à pretensão de Vossas Excelências? Desse mal vocês não morrem!

Tenha certeza, Deputado João Antonio, que essa não é a melhor maneira de se lidar com este Parlamentar.

Aquele momento que eu pedi ao Presidente que, com anuência do orador eu pudesse me pronunciar para questão de ordem, V. Exa. se apavorou. Espere um pouco, Deputado João Antonio. Para que esse escândalo todo? Eu só pedi: “Pela Ordem, Presidente, com anuência do Deputado...” e V. Exa. ficou de pé! Isso é a Câmara Municipal! Quando olhei para um lado estava vindo o meu amigo Antonio Carlos Rodrigues, do outro lado estava vindo Celso Jatene e o Adilson Amadeu.

Aqui não é a Câmara Municipal, é muito diferente, Deputado João Antonio. O senhor está em uma Casa onde há pessoas que não se curvam. Por isso comece a prestar atenção a partir de hoje: Aqui não há essa hipótese! Aqui não há pessoas que se curvam, quando o fazem é para pegar algo que está no chão.

Por isso, Deputada Regina Gonçalves, quero agradecer a sua gentileza por imaginar a ditadura petista que eles querem implantar aqui.

O Deputado Adriano Diogo diz que o Deputado Samuel Moreira é o porta-voz do Governo. Não sei onde ele viu isso! Ele é o sábio desta Casa, o inventor da pólvora, o sabe-tudo! Ele coloca na cabeça que o meu projeto é o do interesse do Governo, então terei que arcar com essa responsabilidade porque o Deputado Adriano Diogo pensa que é assim.

O Deputado Edinho Silva, agora também chega aqui dizendo que tem um outro conceito de democracia. E o Deputado Luiz Claudio Marcolino, líder sindicalista, tem razão. Pense bem, Deputado Barros Munhoz, sobre o que disse o Deputado Luiz Claudio Marcolino: “Somos 24 Deputados.”

Hoje, vou sair tremendo da tribuna, estou com medo, Deputado Luiz Claudio Marcolino! Deputado Roque Barbiere, a Bancada do PT tem 24 Deputados, e por causa disso vou sair daqui com medo, tremendo de medo porque essa bancada possui esse número de Deputados.

Sr. Presidente, o Deputado Enio Tatto é o Presidente natural da Casa, todos os Deputados da Casa ultrapassam 2 minutos, mas quando eu ultrapasso 30 segundos o Presidente levanta a mão e diz: “Olha o relógio!”

Atendendo à V. Exa., Presidente Deputado Enio Tatto, eu deixarei a tribuna em obediência a V. Exa. e em respeito ao conselho do Deputado Luiz Claudio Marcolino que alertou sobre o número de 24 deputados de vossa bancada.

O senhor está causando medo, Deputado Luiz Claudio Marcolino, tanto que vou parar de falar agora por causa do medo que tenho de V. Exa. e de sua bancada.

 

O SR. SAMUEL MOREIRA - PSDB - PARA COMUNICAÇÃO - Já que estivemos aqui até agora, solicito aos nossos companheiros, especialmente da base aliada, que continuemos firmes na discussão do projeto da Previdência na sessão extraordinária que já foi convocada.

 

O SR. ENIO TATTO – PT - PARA COMUNICAÇÃO - Quero apenas fazer mais um apelo ao Deputado Campos Machado. Se ao término dessa primeira sessão extraordinária não for convocada para a sessão seguinte, ou mesmo que se houver continuidade a discussão do projeto da Previdência, peço a votação do Projeto nº 40, da Defensoria Pública. Isso porque se terminar esta sessão, essa votação ficará inviabilizada.

Por isso peço a solidariedade aos trabalhadores que ficaram na Casa até este momento. Pois há muitas opiniões, sugestões e pedidos de todos os partidos e de todos os Líderes de que, antes de se encerrar esta sessão, seja convocada para a sessão seguinte, além do projeto da Previdência, também o PL nº 40, a fim de atender ao pedido dos trabalhadores da Defensoria Pública. Caso contrário, iremos entrar em uma segunda sessão extraordinária, em discussão durante 2 horas e 30 minutos, mas ficará inviabilizada a votação e a aprovação desse projeto que os funcionários estão aguardando até este momento.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para discutir contra, tem a palavra o nobre Deputado João Antonio.

 

O SR. JOÃO ANTONIO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr Presidente, nobres Srs. Deputados e Sras. Deputadas, venho a esta tribuna, em primeiro lugar para registrar que minha formação política na batalha pela democracia, que teve início nos meus 14 anos de idade.

Lutei contra a ditadura, por liberdades democráticas. Já fui detido algumas vezes pela polícia política. Cheguei à Câmara Municipal de São Paulo com muita honra e aprendi muito com os meus colegas que lá estiveram comigo. Foi uma honra participar daquele grande Legislativo e contribuí imensamente com a democracia em nosso Estado e no nosso país. Não me sinto nem um pouco diminuído por ter estado lá e ter cumprido minha missão de Vereador.

Talvez, graças a minha atuação naquele Legislativo, eu pude chegar aqui com 110.684 votos. Esse é o reconhecimento do meu trabalho, pela minha vereança na cidade de São Paulo. E cheguei a este Parlamento tranquilo, sereno, porque esta é uma Casa da democracia. Aqui não existe dono. Todos que chegam aqui chegam pelo voto popular. E nós elegemos uma Mesa Diretora, um Presidente, para defender a nossa Casa. Essa é a regra do Parlamento, um Parlamento onde os 94 Deputados têm a competência de representar o povo paulista sem nenhum tipo de privilégio. E aqui não existe Deputado melhor que outro. E aqui não existe, e não deve existir, Deputado que manda mais do que outro, porque senão não é uma Casa democrática.

O Deputado Campos Machado, que é um criminalista, sabe muito bem que o ordenamento jurídico brasileiro estabeleceu algumas formas de controle de constitucionalidade: o preventivo e o repressivo. O repressivo, feito pelo Judiciário ou através de Adin e outros meios no controle concentrado, ou no controle difuso. Mas V. Exa. sabe que uma das prerrogativas do Legislativo é fazer o controle preventivo de constitucionalidade, que é feito pela Comissão de Constituição e Justiça, mas é feito também pelo Pleno da Casa, e termina com o veto jurídico do Governador.

O que está em disputa, e aqui volto a essa discussão, o que diz o projeto do Deputado Campos Machado? Diz que o objetivo é alterar, retirar do âmbito da Defensoria Pública a administração do fundo de assistência judiciária e a competência para a realização de convênio com a OAB. Ela já existe, só que hoje a competência está com a Defensoria Pública.

Ora, Srs. Deputados, quando arrancamos da Defensoria Pública o direito a esse fundo, que autonomia vai ter a Defensoria Pública do Estado de São Paulo? O Art. 5º da nossa Constituição Federal reza que o Estado tem que garantir assistência jurídica para os necessitados. E o Art. 134 da nossa Constituição diz que para esse fim serão criadas, no âmbito dos Estados, as Defensorias Públicas.

Qual a diferença? Quando o Estado organiza um concurso público para juiz, esse concurso público atende algumas regras e exigências, para que possamos selecionar os melhores para fazer parte do Judiciário. Quando o Estado organiza um concurso público para promotores, também há um conjunto de regras específicas para escolher os melhores para aquela função. E quando a nossa Constituição Federal estabeleceu que para fazer a defesa dos mais necessitados é preciso haver uma Defensoria Pública especializada, o Estado também organiza um concurso público com requisitos específicos para que os operadores do Direito que ali ingressarem possam defender com a maior competência possível as pessoas necessitadas do nosso Estado.

Defender necessitados sempre foi um problema na luta pela igualdade na nossa sociedade. Quem defende os pobres neste País? Os advogados mais qualificados? Os pobres não têm dinheiro para pagar. Os nossos constituintes sabiamente estabeleceram que para esse fim o Estado fixaria uma série de requisitos para que na Defensoria possam participar operadores de Direito de qualidade, que possam defender à altura os pobres e os necessitados.

Não é lugar de emprego para advogados. Advogados têm que se tornar competentes, enfrentar o mercado de trabalho, como em qualquer outra profissão. Não pode ser encostado no Estado. Nossas Universidades têm que preparar os operadores do Direito para exercer bem a sua profissão.

Por isso, não tem cabimento esse projeto. Primeiro, tirar o fundo da Defensoria é esvaziar a Defensoria. Segundo, passar a competência para estabelecer convênio para a OAB, para a Secretaria de Justiça? O que vão fazer com a Defensoria? É preciso concurso público para que tenhamos defensores públicos em número suficiente para defender os necessitados e cumprir a Constituição.

O Deputado Campos Machado fez um projeto sabendo objetivamente que esse projeto é inconstitucional. Por que é inconstitucional? Primeiro, porque versa sobre administração pública, sobre organização da administração pública. E a Constituição brasileira e a Constituição estadual são muito claras: gerar despesas, organização da administração pública, criar ou extinguir órgãos da administração pública são de competência do Poder Executivo, é do chefe do Poder Executivo.

O Dr. Antonio Fernandes Barros e Silva de Souza, Procurador-Geral da República, entrou com uma Adin contra um artigo da Lei Complementar 988/06, que obriga a realização de convênio com a OAB. Uma Adin está tramitando no STF, dizendo que esse item do convênio com a OAB é inconstitucional.

Vou ler as razões: "A Defensoria Pública se vê compelida a atender, por determinação da Constituição Estadual, intermediada por normas ordinárias regulamentares, os propósitos financeiros impostos por entidades externas à sua estrutura, comprometendo assim a sua autonomia funcional administrativa, diminuindo seu papel essencial, a função jurisdicional do Estado. A instituição tem a sua gestão retraída para que a Ordem assuma não só sobre o monte financeiro, mas gerencial mesmo, a política de defesa dos interesses jurídicos dos mais necessitados.

São argumentos do procurador da República contra aquele artigo da nossa lei, aprovada nesta Casa, que institui o convênio com a OAB. Ora, nobres deputados, e vem aqui o Deputado Campos Machado tentar impor um projeto de lei que todos nesta Casa, operadores de Direito ou não, sabe que é inconstitucional, que não aguenta cinco minutos de argumentação no Supremo sobre a inconstitucionalidade dessa lei.

Conversando com vários deputados da situação, eles têm esse mesmo entendimento. Nós não estamos aqui para proteger este ou aquele deputado, por mais brilhante que seja ele; não estamos aqui para beneficiar este ou aquele deputado porque este pode fazer uma lei inconstitucional e tramitar nesta Casa. A regra é para todos e ordenamento jurídico brasileiro também é para todos. De maneira que estou tranquilo, tenho absoluta certeza de que a maioria dos deputados desta Casa saberá, de forma serena, o que é melhor para o povo paulista. E o melhor para o povo paulista não é fazer convênio, não é fazer da Defesa Pública um processo de empregar pessoas que precisam entrar no mercado, com todo o respeito.

A defesa dos necessitados no Estado de São Paulo deve ser feita por um órgão competente, capaz e eficiente. Os atuais defensores são eficientes, mas são poucos. Portanto, o que estava esperando da situação não é propor convênio com A ou B. É decidir rapidamente como é que vamos completar os quadros de operadores de Direito na Defensoria Pública para que possamos dar condições de exercer a sua função com eficiência, com eficácia. Porque, pelo menos, já que estamos muito longe de promover a igualdade material entre as pessoas, fortalecendo a Defensoria Pública dá um pouco de igualdade formal para que os nossos necessitados, os hipossuficientes possam ter uma defesa decente.

É isso que queremos. Faço o apelo do meu líder: vamos hoje votar o PL 40, porque vai ajudar também a Defensoria, e vai ajudar os necessitados do Estado de São Paulo, tornando a Defensoria ainda mais competente. (Manifestação nas galerias.)

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Srs. Deputados, esgotado o tempo da apresente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência lembra da Sessão Extraordinária, a realizar-se daqui a 10 minutos.

Está encerrada a presente sessão.

 

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- Levanta-se a sessão a zero hora e 14 minutos.

 

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