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01 DE DEZEMBRO DE 2003

59ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO "DIA NACIONAL DO SAMBA"

 

Presidência: NIVALDO SANTANA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 01/12/2003 - Sessão 59ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: NIVALDO SANTANA

 

HOMENAGEM AO "DIA NACIONAL DO SAMBA"

001 - NIVALDO SANTANA

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Informa que esta sessão foi convocada pelo Presidente efetivo da Casa, Deputado Sidney Beraldo, a pedido do Deputado ora na Presidência, com a finalidade de comemorar o Dia Nacional do Samba. Convida a todos para, de pé, ouvir o Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - ANA MARTINS

Afirma que o samba traz uma grande contribuição para o desenvolvimento cultural e educacional do nosso povo, trazendo à tona todas as questões que se discutem na luta pela igualdade.

 

003 - ROBSON DE OLIVEIRA

Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba, declara que o carnaval paulista carece de parceria e de apoio governamental.  Entende que esta Casa pode levar esse anseio ao Governador Geraldo Alckmin.

 

004 - SOLON TADEU PEREIRA

Presidente da Vai-Vai e do Conselho Deliberativo da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, compara o apoio financeiro recebido pelas escolas de samba do Rio e de São Paulo.

 

005 - Presidente NIVALDO SANTANA

Anuncia que no dia 02/12 haverá um evento, a partir das 19h, no Memorial da América Latina, para também homenagear o Dia Nacional do Samba.

 

006 - EDILÉIA SANTOS

Presidente da União das Escolas de Samba Paulistanas, aponta que o carnaval tem que ser comemorado de uma forma e o samba de outra, porque as escolas de samba fazem um trabalho estritamente cultural ao longo do ano, e isto não é visto.

 

007 - CARLOS SEBASTIÃO RIBEIRO

Presidente da Liga das Escolas de Samba de Campinas, ressalta que o apoio público às escolas de samba é ainda mais difícil no interior do Estado.

 

008 - NELSON CRECIBENI

Presidente da Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de São Paulo, apresenta as versões históricas para a comemoração do Dia do Samba em São Paulo, Rio de Janeiro e na Bahia. Registra sua surpresa com o descaso que tem visto das autoridades municipais para com o samba.

 

009 - PHILOMENA MILITÃO

Presidente da Flor da Zona Sul e da Embaixada do Samba Paulistano, pede o reconhecimento dos embaixadores do samba em São Paulo.

 

010 - MOISÉS DA ROCHA

Radialista, incentiva a todos para que façam desse dia um dia de reflexão, para reforçar a própria convicção na cultura popular e no samba.

 

011 - FERNANDO JOSÉ SZEGERE

Historiador e pesquisador, destaca o papel de Antônio Candeia Filho, baluarte da música popular brasileira, que simboliza a resistência ao modelo econômico e social que marginaliza a cultura popular e se apropria das suas formas genuínas de expressão.

 

012 - WANDER GERALDO

Presidente da Confederação Nacional das Associações de Moradores, sustenta que a entidade tem intrínseca ligação com o mundo do samba, porque também luta pelo direito à saúde, à moradia, e por dias melhores para o povo.

 

013 - MOISÉS DA ROCHA

Presta homenagens ao Sr. Osvaldinho da Cuíca, Embaixador do Samba.

 

014 - OSVALDINHO DA CUÍCA

Apela para que se levantem e mantenham corretos os registros históricos do samba paulista.

 

015 - Presidente NIVALDO SANTANA

Anuncia a execução de número musical. Ressalta que a realização desta sessão demonstra que a Assembléia está ligada ao samba, um dos temas fundamentais da nossa cultura. Considera legítima a cobrança de maior apoio do Poder Público. Afirma que dará vazão, nesta Casa, às reivindicações daqueles que lutam para fazer com que o samba no Estado de São Paulo continue brilhando e crescendo. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Gostaríamos de registrar e agradecer a presença de diversas personalidades do mundo do samba, que passo a nomear: Nelson Crecibeni, Presidente da Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de São Paulo; Ediléia dos Santos, Presidente da União das Escolas de Samba Paulistanas; Fernando José Szegere, pesquisador e historiador; Robson de Oliveira, Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba; Wander Geraldo, Presidente da Conam - Confederação Nacional das Associações de Moradores; Laurinha, Embaixatriz do Samba; Vital Nolasco, Secretário dos Movimentos Populares do Comitê Central do PCdoB; Heloisa Helena Lemos Martins, Secretária-Executiva da União das Escolas de Samba Paulistanas; Silvio Paulo Assumpção, Diretor da Escola de Samba Imperatriz da Paulicéia; Solon Tadeu Pereira, Presidente da Vai-Vai e do Conselho Deliberativo da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo; Isaura Panfili, Presidente da Adesp, Associação dos Destaques das Escolas de Samba Paulistas; Alcides Amazonas, líder da Bancada de Vereadores do PCdoB na Câmara de São Paulo; Gilberto Rodrigues, Vereador à Câmara Municipal de Campinas; Carlos Sebastião Ribeiro, Presidente da Liga das Escolas de Samba de Campinas; Shirley Saboya Crecibeni, Presidente do Bloco Carnavalesco “Só Falta Você”; Eugênio Carvalho, representando a Diretoria da Associação dos Destaques das Escolas de Samba Paulistas; Cosme Alves Nascimento, representante da Entidade “Negro Sim”; Orlando Dal Secco, Presidente da Associação das Bandas, Blocos e Cordões Carnavalescos do Município de São Paulo; Cleuzi Hermínia Rodrigues Penteado, Imperatriz do Samba de São Paulo; Candinho Neto, Presidente da Abasp, Associação das Bandas Carnavalescas de São Paulo e da Banda do Candinho; Júnior Garcia, Diretor de Harmonia do Império Negro; José Benedito Alves, Presidente do Bloco Unidos do Pé Grande; Jorginho Saracura, Diretor da Vai-Vai; Philomena Militão, Presidente da Flor da Zona Sul e da Embaixada do Samba Paulistano; Marcos Rogério, do Portal Casting Black; Thereza Santos, pesquisadora de cultura popular, jurada do Prêmio Nota 10, do "Diário de S. Paulo"; Maria Helena da Silva Brito, Cidadã Samba 2004; Waldir José de Britto, Cidadão Samba 2004; Dona Zefa, Embaixatriz do Samba; Osvaldinho da Cuíca, Embaixador do Samba; Valentin Joaquim Vandrelina, Grêmio Recreativo Escola de Samba Camisa Verde e Branco; Mouzart Falleiros, Grêmio Esportivo e Cultural Escola de Samba Unidos do Peruche, coordenador; Marco Roni, Escola Grêmio Os Bambas, coordenador; Jurandir Nogueira, representante do Conselho de Participação de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo; Paulão, Embaixador do Samba e Cidadão Samba 2002; Luiz, Presidente do Bloco Carnavalesco Folha Verde. Ao longo dos nossos trabalhos, nomearemos as demais presenças.

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de comemorar o “Dia Nacional do Samba”. Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do 1o Tenente Elias Batista do Nascimento.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na pessoa do 1o Tenente Elias Batista do Nascimento.

Tomamos a iniciativa de convocar esta Sessão Solene para homenagear o “Dia Nacional do Samba”, comemorado no dia 2 de dezembro. Tradicionalmente, esta data tem um peso maior de solenidades e festividades principalmente em dois Estados, Rio de Janeiro e Bahia, mas pensamos em incorporar também o Estado de São Paulo nesta data.

O samba tem tido um grande desenvolvimento na Capital e em todo Estado e, por isso, julgamos importante que a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, como representante dos interesses, dos anseios, da luta e da cultura do nosso povo, também consignasse nos seus anais, e formalizasse, através desta Sessão Solene, a realização do ato de hoje, cuja presença de todos agradecemos.

Vamos iniciar nossos trabalhos. Estamos com um problema. A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo tem uma reunião hoje, neste horário, e alguns representantes que estão nesta Mesa precisariam estar presentes, dentro de alguns minutos. Então, colocaríamos esses homens em primeiro lugar para falar. Porém, conforme reza o Regimento Interno, que tem precedência, pediria que esperássemos mais uns minutos pela Deputada Ana Martins, em nome da Bancada do PCdoB, para fazer uma saudação nesta Sessão. Tem a palavra a nobre Deputada Ana Martins. (Palmas.)

 

A SRA. Ana Martins - PCdoB - SEM REVISÃO DA ORADORA Sr. Deputado Nivaldo Santana, líder da Bancada do PCdoB, neste momento presidindo esta Sessão Solene, que homenageia o Dia Nacional do Samba, g. Gostaria de cumprimentar todos os que estão aqui, representando diferentes segmentos na Mesa; todas as lideranças do samba; cada companheiro que se faz presente nesta Sessão. Vejo que o Jairo está ali. Ele é dirigente estadual do PCdoB, mas é um grande sambista. Estão presentes lideranças importantes que gostaria, sem nominá-las individualmente, que se sentissem contempladas nas palavras singelas que farei.

Falar do samba é falar da alegria da música que foi incorporada à cultura brasileira, trazida pelos nossos grandes influentes: os descendentes afro--brasileiros. Falar do samba é elevar a cultura africana que foi incorporada à identidade nacional. Falar do samba é relembrar a riqueza que a cultura africana trouxe à vida do povo brasileiro, à vida de todos nós, negros e brancos. Falar do samba é dizer da alegria que o Carnaval traz à vida do povo brasileiro.

É difícil que um estrangeiro tenha a habilidade que tem um sambista brasileiro. Quando os turistas querem imitar os sambistas brasileiros, eles o fazem com muita dificuldade e, muitas vezes, sequer conseguem fazer essa imitação.

No Carnaval, fora do Carnaval, no fundo de quintal, nos grupos de samba mais preparados, mais elitizados, que ocupam o espaço da mídia, o samba tem trazido nas suas letras muito da riqueza da cultura africana, incorporada à nossa cultura. O samba traz uma grande contribuição para o desenvolvimento cultural e educacional do nosso povo. Se as escolas trabalhassem mais essa questão, já teríamos vencido a desigualdade entre negros e brancos. Se as rádios e televisões trabalhassem mais essa questão, já poderíamos ter integrado melhor todos de descendência africana, todos que fazem parte dessa raça.

Por mais que queiramos, ao analisarmos uma classe universitária, de faculdade de Direito, de Sociologia ou de Serviço Social, observamos que ali falta mais da metade negra que deveria ter se incorporado à vida cotidiana da cidade.

Mas o samba tem trazido à tona todas essas questões históricas importantes. O samba tem trazido à tona todas as questões que se discutem na luta pela igualdade, na luta para construir uma sociedade futura na qual exista a solidariedade; na qual seja vencida a discriminação; na qual possamos ter um povo com melhores condições de vida, com lazer e cultura; na qual não exista somente a luta pela sobrevivência e para conseguir o trabalho, mas também a luta para garantir o desenvolvimento cultural, educacional, pleno de cidadão.

Para encerrar, gostaria de dizer que estamos vivendo um momento muito importante ao comemorarmos o Dia Nacional do Samba. Temos um Presidente que foi eleito com a grande aspiração de mudança que o povo brasileiro tem, a grande vontade de ter uma sociedade mais justa e igualitária. Precisamos fazer do samba também um instrumento que incorpore as lutas do movimento popular, do movimento sindical, do movimento dos Sem-Terra, do movimento dos Sem-TCetoasa, do movimento da juventude, do movimento ecológico, dos movimentos de todos dos tipos. O samba traz a alegria, traz o enriquecimento da nossa cultura e também a vontade de ter uma vida feliz.

Aos 49 milhões de pessoas que passam fome, aos 15 milhões que estão no mercado informal de trabalho, aos mais de 12 milhões que esperam um pedaço de terra para plantar e querem a reforma agrária, o samba pode contribuir para que essas lutas sejam feitas com alegria. Além de ter organização e de fortalecer a unidade do povo para conquistar dias melhores, que essas lutas sejam feitas com alegria, com o espírito e a cultura da paz, da construção dessa sociedade tão sonhada e tão desejada, na qual haja prioridade da solidariedade e igualdade, com garantia de distribuição de renda, de emprego para todos, com um povo feliz, que sabe sambar, amar o futebol, amar a luta pelo acesso ao conhecimento.

Temos certeza que o samba pode ser um instrumento privilegiado na luta do povo brasileiro. Homenagearemos muitos daqueles que quiseram fazer o samba vir a ser importante na nossa cultura. Encerro dizendo: viva o Dia Nacional do Samba. Viva a luta pela igualdade entre negros e brancos e viva a luta pela igualdade entre mulheres e homens e negros e brancos! Muito obrigada. Um grande abraço a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Ouviremos agora o Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba, o nosso companheiro Robson de Oliveira, a quem agradecemos a presença. (Palmas.)

 

O SR. ROBSON DE OLIVEIRA - Em primeiro lugar, o meu boa-noite a todos os presentes. Neste momento, quero cumprimentar o Deputado Ítalo Cardoso, a Deputada Ana Maria Martins Cardoso, o grande companheiro Vital Nolasco, Secretário do PCdoB, e, em especial, o Deputado Nivaldo Santana, nosso irmão, parceiro, homem de luta junto ao nosso segmento. Quero pedir uma salva de palmas pela iniciativa do grande Deputado Nivaldo Santana. (Palmas.)

Quero registrar meus agradecimentos, como de praxe nos nossos encontros e cerimoniais, às associações congêneres que compõem o carnaval de São Paulo, no sentido de organizar essa grande festa popular, à Adesp - Associação dos Destaques do Estado de São Paulo, Presidente Isaura, à Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas - Fesec, comandada pelo Nelson Crecibeni, à Abasp - Associação das Bandas do Estado de São Paulo, também à ABBC, e, sem dúvida nenhuma, à minha grande companheira Ediléia dos Santos, Presidente da União das Escolas de Sambas Paulistanas.

Dia Nacional do Samba. Estamos a poucas horas da meia-noite, quando estaremos comemorando o Dia Nacional do Samba. O nobre Deputado fez um registro de que dois estados deste país comemoram, com ênfase, esta data: Rio de Janeiro e Salvador. Isso nos entristece muito, mas também é chegada a hora de lembrarmos que esses dois estados contam com um forte apoio do governo federal, estadual e municipal; daí, o êxito.

Logicamente o nosso Presidente da República, carregado pelo povo até Brasília, teve no seu Ministério da Cultura o grande músico, cantor, intérprete e poeta Gilberto Gil, que, nos seus 10 primeiros dias de governo, visitou duas escolas do Rio de Janeiro: Império Serrano e Estação Primeira de Mangueira, e assinou lá algumas parcerias. O que me chama a atenção é que o nosso Estado sempre é preterido, nunca é lembrado.

Então, nesta data, Deputado Nivaldo Santana, quero dizer aqui a V.Exa. que, com todo o compromisso que temos, o nosso carnaval padece de parceria, de apoio e de entendimento governamental. Não estamos aqui de pires na mão; estamos comemorando um dia como hoje. Estamos felizes por estarmos vivos, fazendo cada vez mais o samba.

Mas é chegada a hora de nos ajudar, Deputado, visto que esta Casa pode levar o nosso anseio ao Governador Geraldo Alckmin, no momento em que seus seiscentos e poucos municípios comemoram os 450 anos. Ainda há uma grande lacuna nesta Casa, Deputado, que acho que V.Exa., mais do que ninguém, junto com os seus pares, poderá nos defender, pois é necessário que o Governo do Estado entenda que o carnaval deste Estado precisa de um grande apoio. Ninguém mais do que V.Exa., Deputado, poderá levantar essa bandeira, contando com o nosso apoio.

O Dia Nacional do Samba é o nosso dia, dia do nosso povo e da nossa etnia. Mais do que tudo isso, para nós, é um dia de reflexão.

Meus amigos, senhoras e senhores presentes nesta Casa, saibam que o nosso esforço no caminho de aprender a fazer um grande evento nada mais é do que representar o samba de São Paulo e fazer por ele tudo o que pudermos.

O Dia Nacional do Samba é o nosso dia, e que a nossa gente cada vez mais se dignifique em defendê-lo. Quero aqui registrar a presença de Márcio Pereira, do PCdoB, que nos defende politicamente e que muito nos tem feito com o intercâmbio.

Faltam 63 dias para o desfile do Grupo Especial, em que, por volta de 21 horas e 30 minutos, a Unidos de Peruche deverá ingressar no sambódromo para fazer o desfile dos 450 anos, encerrando, no sábado, com a Nenê de Vila Matilde.

Na qualidade de Diretor-Presidente da Liga, representando a Escola de Samba, cumprimento, na pessoa de Solon Tadeu Pereira, o Presidente do Conselho, todas as escolas de samba de São Paulo.

Quero dizer que o samba só acontece porque há uma grande unificação, por mais que as divergências acabem por prevalecer. Então, Deputado, quero agradecer e louvar a sua iniciativa.

Estou indo para a minha assembléia, que decide as regras para o Carnaval de 2004, que não pára de crescer, e onde vou abrir a sessão também falando dessa lembrança. Somos lembrados nesta Casa, neste momento. Não me chegou outra informação de que isto esteja acontecendo em outro lugar. Os eventos que acontecerão amanhã são poucos. São humildes e micro-eventos, então, é mais um dia de reflexão e de luta.

Encerro a minha fala registrando algumas frases de professores, de pessoas importantes que nos defendem há muito tempo. São muitos, mas lembro de algumas como a de Geraldo Filme: “Com espaço e liberdade, meu povo faz a festa”. Frase de madrinha Eunice: “O samba agoniza, mas não morre”. E frase de um grande baluarte, Moisés da Rocha, um grande lutador pelo samba de São Paulo e do samba em geral, que fiquei emocionado ao vê-lo nesta Casa: “O samba pede passagem, meu “brother”.

Obrigado a todos. Viva o samba! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Agradecemos as palavras do Robson de Oliveira, Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba.

Vamos ouvir agora o Presidente do Conselho da Liga e Presidente da Vai-Vai, Solon Tadeu Pereira, que também vai ter que se retirar em seguida, junto com o Robson, para uma reunião da liga.

 

O SR. SOLON TADEU PEREIRA - Boa-noite a todos. É um prazer imenso estarmos presentes nesta iniciativa do nosso ilustre Deputado Nivaldo Santana. Boa-noite especial a todos os sambistas e seus representantes - prefiro não citar nomes porque vamos chegando a uma idade e tem aquele lapso.

Falar em samba é muito fácil, precisamos agora de ação. Precisamos de ação porque fazer samba em São Paulo é uma coisa difícil, haja vista que estamos a 60 dias do carnaval e recebemos migalha. Se fôssemos fazer o carnaval com o dinheiro que recebemos até agora, não daria.

Cada escola de samba do Rio de Janeiro recebe de verba um milhão e 800 mil reais. Ao passo que em São Paulo, as escolas do Grupo Especial, que são 16, recebem 280 mil reais. Isso ainda chorado, dinheiro implorado. Não temos parceria. Pedimos aos políticos, aos Vereadores, aos nobres Deputados, principalmente aqui desta Casa, para sensibilizarem o nosso Governador a olhar para o nosso lado. Graças ao trabalho das escolas de samba, algumas pessoas vão ter, não vou nem falar do peru e do panetone, o arroz com feijão em suas mesas, no final do ano. Todas as escolas de samba oferecem emprego, oferecem uma ocupação, para que todos tenham o seu ordenado com dignidade.

Não podemos falar de carnaval sem lembrar o nome de Morais Sarmento. Fazemos um apelo ao nobre Deputado Nivaldo Santana para que prestemos uma homenagem ao Morais Sarmento, que foi o grande baluarte do samba. Se hoje existem as escolas de samba, os desfiles, a primeira verba quem conseguiu foi o Morais Sarmento. Ele nunca é lembrado, porque no samba acontece muita injustiça. Aqueles que fazem o samba, vão embora e ninguém mais comenta. Então, vamos prestar uma homenagem ao nosso inesquecível Morais Sarmento.

Reforçando o apelo, pedimos aos Deputados, em especial ao nobre Deputado Nivaldo Santana, que intercedam por todas as escolas de samba de São Paulo. Vamos Agradecer muito. Ajudem-nos que faremos a nossa parte. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. NIVALDO SANTANA - PCdoB - Agradecemos a participação do Solon Tadeu, Presidente do Conselho e Presidente da Vai-Vai.

Gostaríamos de registrar a presença do Edmundo Fontes, Vice-Presidente da Facesp - Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo; Rogério Siqueira, representando o nobre Deputado Aldo Rebelo, líder do governo na Câmara Federal; Wilson Sucena, nosso compositor; e o Moisés da Rocha, que já foi citado. Convidei-o por telefone, em cima da hora, e ele está nos honrando com a sua presença. Muito obrigado.

Amanhã, dia 2 de dezembro, Dia do Samba, a partir das 18 horas, no Memorial da América Latina, vai haver um evento para homenagear o Dia Nacional do Samba.

Vamos ouvir a Presidente da União das Escolas de Samba Paulistanas, a nossa amiga Ediléia dos Santos.

 

A SRA. EDILÉIA DOS SANTOS - Boa-noite, nobre Deputado Nivaldo Santana, demais autoridades presentes, senhoras e senhores, e, em especial, aos sambistas.

Pela primeira vez, no dia 02 de dezembro, a União das Escolas de Samba não fará uma comemoração ao Dia do Samba. Amanhã, vamos deixar o dia para reflexão dos sambistas. Nesses anos todos, nós comemoramos quase sozinhas, por isso é chamado o mundo do samba, porque é um mundo isolado. Caminhamos praticamente sós.

As pessoas só lembram o Dia do Samba no dia 02 de dezembro, porque é bonito. Ou, então, no carnaval, mas as escolas de samba e os sambistas não são lembrados, porque carnaval tem que ser comemorado de uma forma e o samba de outra. As escolas de samba não se apresentam só com mulatas bonitas e peladas no carnaval. Elas fazem um trabalho estritamente cultural ao longo do ano, e isto não é visto. O reduto de uma escola se samba é estritamente cultural.

Quero aproveitar e deixar o meu registro, apesar de endossar as palavras do Robson de Oliveira e do Tadeu, Presidente da Vai-Vai, de que a Uesp nunca foi, nesses últimos oito ou doze anos, recebida pelo Secretário de Cultura municipal, nem estadual, talvez nem pelo Ministério da Cultura. Não conseguimos nunca aprovar um projeto. Isso para ver em que situação se encontra a cultura, porque não somos folclore. Somos uma resistência cultural, uma resistência da comunidade negra.

Era este o protesto que tinha a fazer. Agradeço pela boa vontade de o senhor estar comemorando o Dia do Samba. Para nós, vai ser um momento de reflexão. Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Peço ao Moisés da Rocha fazer parte da Mesa. É uma honra ter aqui um radialista que faz divulgação do samba em São Paulo. O nobre Deputado Sebastião Arcanjo, Tiãozinho, está com uma atividade e não pôde vir, mas acertou para vir uma delegação de Campinas, para participar do nosso evento. Temos a presença de representantes da assessoria do nobre Deputado Renato Simões.

Vamos ouvir agora o Presidente da Liga das Escolas de Samba de Campinas, Carlos Sebastião Ribeiro.

 

O SR. CARLOS SEBASTIÃO RIBEIRO - Boa-noite. É com muita satisfação que nos encontramos aqui hoje, nesta festa. Faço minha as palavras da Léia, Presidente da União das Escolas de Samba Paulistanas, também do Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, e do Presidente da minha querida Vai-Vai, o Tadeu, porque o sambista, de uma forma geral, só é lembrado no dia de hoje, dia 2 de dezembro, e ele tem uma vida o ano todo com a sua comunidade, fazendo cultura gratuitamente, sem apoio, sem auxílio do poder público.

Deputado, faço um apelo, em nome do samba do interior do Estado de São Paulo. Se o samba sofre, o sambista sofre aqui na Capital, estava dizendo para o meu Presidente da Federação das Escolas de Samba, ontem, que tivemos um seminário, sábado, em Campinas. Eu dizia ao Nelsinho, que aqui, em São Paulo, o sambista sofre, e, no interior, sofre um pouquinho mais. Para nós, é mais difícil. O acesso às estruturas políticas torna-se mais difícil, na medida em que você vai avançando para o interior.

Faço um apelo ao nobre Deputado Nivaldo Santana, ao nosso companheiro Deputado Tiãozinho, que é um batalhador, um guerreiro da cultura popular, da região de Campinas, para que intercedam junto ao Sr. Governador do Estado, para dar melhores condições às escolas de samba no Estado de São Paulo.

Vivemos à mercê de resultados políticos. Se dermos sorte de apoiarmos um candidato eleito, poderemos avançar um pouquinho durante os quatro anos. Se dermos o azar de o nosso candidato perder as eleições, as escolas de samba passam quatro anos roendo ferro. No interior é mais difícil ainda, porque, esses quatro anos que erramos em não apoiar o candidato que foi eleito são quatro anos de vingança que sofremos.

Tem tudo para demais entidades culturais, mas para as escolas de samba tudo é difícil. Então, fica aqui o apelo ao Deputado para que interceda, com o Presidente da Federação das Escolas de Samba - que muito tem nos auxiliado - junto ao Governador para que ele olhe mais para as escolas de samba do interior.

Agradeço ao Nelsinho, em nome dos sambistas de Campinas e região. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Registramos também a presença do Sr. Luis Armando da Silva, Presidente da Escola de Samba Miscigenação, de Campinas; Sr. Edson Jóia, radialista e compositor de Campinas; Sr. Charles Carlos Augusto, de Campinas, diretor da Escola de Samba Claridade; Sra. Rosa Luz, porta-bandeira da Escola de Samba Claridade de Campinas; Sra. Claudelina Aparecida Morais, Presidente da Escola de Samba Estrela d’Dalva, de Campinas; Sr. Antonio Cândido, Presidente da Escola de Samba Vaiquenké, de Campinas; Sra. Vera Mussun, diretora da Escola de Samba Tradição, de Campinas; Sra. Maria Aparecida Souza, diretora do departamento social da Barroca da Zona Sul e assessora do nosso colega da Assembléia, Deputado Simão Pedro, do PT; do Sr. Josemar Inês Barbosa, dos Dragões de São Miguel.

Conforme foi citado, passaremos a palavra para o Presidente da Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de São Paulo, Sr. Nelson Crecibeni. É uma entidade que já tivemos a oportunidade de visitar pessoalmente. (Palmas.)

 

O SR. NELSON CRECIBENI - Nobre Deputado Nivaldo Santana, muito obrigado pelo convite e por ter aberto as portas desta Casa para o samba. Apesar da antecedência, de aproximadamente 24 horas, para nós não é importante a data, a marca cronológica, pois tenho uma vivência no mundo do samba de 40 anos.

E há exatos 40 anos estava se iniciando a comemoração do Dia do Samba. Graças à iniciativa do Deputado Federal Frota Aguiar, iniciou-se, no Rio de Janeiro, depois da Carta do Samba, a comemoração do Dia do Samba. Depois disso, a cidade de Santos também passou a comemorar o Dia do Samba. Atualmente, no Estado de São Paulo, são cinco os municípios que comemoram o Dia do Samba.

Foi citado anteriormente que Bahia e Rio de Janeiro comemoram o Dia do Samba. São dois aspectos diferenciados. No Rio de Janeiro, assim como São Paulo, comemora-se o Dia do Samba em função do registro do gênero musical samba, em 1916. Lá se vão 84, 86 anos. E na Bahia, a partir dos anos 40, registraram, com a chegada do Ari Barroso, o dia 02 de dezembro. Portanto, são estas as duas versões para a comemoração do Dia do Samba.

Mas, como disseram anteriormente a Sra. Ediléia e outros que já passaram por aqui, não vivemos um dia de comemoração, mas, efetivamente, um dia de reflexão - uma reflexão verdadeira, aquela que encostamos a cabeça no travesseiro, quando sozinhos, para fazer a análise de até que ponto temos o que comemorar. Até que ponto somos, verdadeiramente, reconhecidos como mensageiros da cultura.

Carlão, de Campinas, fez um comentário a respeito do interior. Tenho viajado, desde o mês de agosto, fazendo uma peregrinação por esse interior afora no trabalho de formiguinha, visitando e organizando seminários a cada final de semana, reunindo cinco, seis cidades em cada um desses municípios por onde tenho passado: Presidente Prudente, Araçatuba, Bauru, Sorocaba, Campinas, Piracicaba, Batatais, Ribeirão Preto e outros.

Tenho ficado surpreso com o que tenho visto: o descaso das autoridades municipais para com o samba. É inacreditável. Cidades que até algum tempo atrás tinham, como comemoração do samba, nas suas agremiações carnavalescas das suas escolas de samba, das suas entidades que fazem a nossa cultura, verdadeiros tesouros que foram jogados a léu. Hoje, poucas são as cidades que ainda permanecem fazendo carnaval.

Pasmem, senhores. Cidades, por exemplo, como Ribeirão Preto, têm hoje um número muito pequeno de agremiações fazendo carnaval. O carnaval continua, porém, de forma muito acanhada, em vista do que tínhamos há cerca de 20 anos. Temos, por exemplo, no ABC, na região de Santo André, Mauá, que já não faz carnaval já há algum tempo. E as escolas de samba para onde foram? A cidade de Santos, que chegou a ter o segundo maior carnaval do Brasil, onde estão as escolas de samba que cultuavam o trabalho dos baluartes que, desde os primórdios, carregavam o samba às costas?

É de fundamental importância, como já foi solicitado anteriormente, que, partindo desta Casa, tenhamos uma necessidade de se elaborar, através do Legislativo, alguma coisa que faça com que as cidades, os municípios e os prefeitos passem a respeitar as agremiações carnavalescas como órgãos que verdadeiramente transmitem e colocam a nossa cultura acima de qualquer vaidade. É incrível que tenhamos de dizer isto, mas o samba só não vai para frente por uma razão: falta de vontade política.

Se, no Estado de São Paulo, temos 645 municípios, é incrível que só num município, que é o município de Piracicaba, esteja na legislação a obrigatoriedade da realização do carnaval. Nos outros municípios, a qualquer instante, o Prefeito pode simplesmente falar que acabou o carnaval. É lamentável que isto aconteça naquele município que realmente é a mola propulsora do País.

É incrível que tenhamos de ouvir do Prefeito de uma cidade, com o aval do Governador de um estado como o de Rio de Janeiro, que fazemos carnaval, que o nosso samba é samba de rodeio, que fazemos um carnaval de caipira. Quem falou isso foi o Sr. Luiz Paulo Conde, avalizado pelo Sr. Garotinho. É lamentável que tenhamos de ouvir isso, quando vários dos nossos sambistas e compositores já foram ao Rio de Janeiro e também já fizeram samba e mostraram para eles que o caipira também faz samba, e é muito bom.

Tenho orgulho, sim, de ser mais um caipira. Ser mais um sambista, mais um defensor da nossa bandeira. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Quero registrar e agradecer também a presença do Sr. Rafael Pinto, diretor cultural da Afubesp - Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa, sempre presente nas nossas lutas e nas nossas atividades culturais. Agradecemos a sua presença.

O ato de amanhã, no Memorial da América Latina, será a partir das 19 horas. Será uma homenagem a um dos ícones do samba paulista, Sr. Geraldo Filme. Terá o descerramento da Placa em sua homenagem, e, depois, haverá um show, com vários artistas, com a boa notícia que a entrada é franca. Amanhã é samba de graça no Memorial da América Latina a partir das 19 horas.

Gostaria também de registrar a presença do Mendes, Presidente da entidade Kagohara de Itapecerica da Serra; Mestre Canibal, professor de capoeira do Grupo Tupinambás; (Palmas.) Katia Cristina dos Santos, Presidente do Projeto Casa Luz; (Palmas.) e várias outras autoridades presentes.

Vamos ouvir agora a Philomena Militão, Presidente da Flor da Zona Sul e da Embaixada do Samba Paulistano que falará em nome das mulheres sambistas. (Palmas.)

Agradeço o esforço da Filomena em comparecer a esta sessão.

 

A SRA. PHILOMENA MILITÃO - Boa noite Nivaldo, público presente, Presidente da União das Escolas, todos os presentes, em nome da Embaixada de São Paulo. Estou aqui representando o nosso tempo de samba que hoje está sem muito êxito porque o pessoal não está reconhecendo os embaixadores de São Paulo.

Gostaria que uma embaixada fosse reconhecida aqui em São Paulo porque tem muito valor. São todos antigos, pessoas que já lutaram pelo samba. Hoje gostaria que esta Casa também prestigiasse os embaixadores de São Paulo, porque cada um que está aqui como embaixador tem a sua passagem. Foi samba que a gente pegava na São João e sofria bastante. E hoje gostaria que todos os presentes e esta Casa, que tem o queijo e a faca na mão, nos protegessem. Muito obrigada, Nivaldo, pela sua abertura. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - O pessoal mais antigo lembra que no momento em que o samba tinha pouco espaço nos meios de comunicação tinha um programa na Rádio USP chamado Samba Pede Passagem, que era uma verdadeira trincheira de resistência. E a pessoa que ocupava a trincheira naquele momento hoje está aqui e vamos ouvi-lo, o nosso amigo Moisés. (Palmas.)

 

O SR. MOISÉS DA ROCHA - Muito boa noite, nobre Deputado Nivaldo Santana, Ediléia, da UESP, Nelson Crecibeni, Osvaldinho da Cuíca, grande baluarte, grande professor, Candinho Neto, da Associação das Bandas, o grande baluarte da resistência, nosso professor e mestre, nosso inspirador, Carlão, Carlos Costa, o general da Banda Redonda. (Palmas.)

A gente esteve então lá na trincheira do Samba Pede Passagem. Hoje a gente está aqui nesta trincheira. Também já tivemos uma grande vitória nesses quase 30 anos de Rádio Universidade de São Paulo, que é chegar até este plenário, até esta Casa do Povo e ver pessoas tão importantes como os sambistas, os dirigentes, os Deputados, nossos representantes, poucos ainda, sim, mas muito preocupados com a nossa cultura popular, com a postura diante dessa expressão maior da nossa cultura que é o nosso samba bem brasileiro.

Temos esperança - quero ser otimista, sempre otimista - de que algumas cabeças que vão embranquecendo com o tempo, outras já como a minha praticamente sem cabelo, nem branco, nem preto, com a esperança ainda que os garotinhos que vêm vindo das escolas mirins sigam o nosso exemplo cada vez mais.

Faço das palavras aqui ditas pelos oradores anteriores minhas palavras, diante das preocupações com descaso, diante da ignorância de muitas autoridades, diante do susto que levam quando passam a perceber que o samba não é coisa de brincadeira, de malandragem, de irresponsabilidade, mas que é algo muito mais profundo do que imaginavam aqueles que trocavam ainda míseros tostões por voto. É dar um pé de botina, aguardar a sua eleição para depois dar o segundo pé. E muitas vezes o pé estava trocado, não cabia, não se podia usar.

No momento em que o sambista passa a raciocinar, quando passa a se reunir, a se reforçar, a resgatar a dignidade do negro, a gente passa a assustar as pessoas, as pessoas ficam temerosas, o poder fica temeroso. O que é que esse pessoal vai fazer? Já não estão mais sob o nosso controle.

E queria aproveitar para também incentivar a todos para que façamos deste dia 2 de dezembro, como disse a Ediléia e outros oradores, dia de reflexão, sim, e que participemos das festas, de todos os atos, e que possamos aproveitar esse gancho, essa força, essa iniciativa tão visionária até do Deputado Nivaldo Santana e de outros companheiros, outros Vereadores, para reforçar a nossa fé, a nossa trincheira, o armamento da nossa cultura popular como resistência, sim, porque o samba não vai pedir mais passagem. Tem que abrir passagem, seja lá como for. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Gostaríamos de registrar a presença também do Marcelo Dantas Viveiro, Presidente da Escola de Samba Camisa 12; (Palmas.) da Viviane Regina, porta-bandeira da Imperatriz da Paulicéia; (Palmas.) de Clóvis Gustavo, mestre-sala da Imperatriz da Paulicéia. (Palmas.)

Depois do encerramento desta sessão solene vamos fazer uma pequena confraternização, há um coquetel, vamos ouvir um samba e distribuir uma publicação que procura preencher uma lacuna editorial, porque temos pouca literatura a respeito do samba, as pessoas pouco lêem. Temos um pesquisador-historiador que contribuiu com o nosso mandato produzindo um texto muito importante, contando a história do samba.

E é a ele que pedimos para fazer uso da palavra, nosso amigo Fernando José Szegere. (Palmas.) Gostaríamos de agradecer a gentileza pelo seu esforço.

 

O SR. FERNANDO JOSÉ SZEGERE - Senhor Presidente, Deputado Nivaldo Santana, nós é que agradecemos a oportunidade de falar um pouco de samba, um pouco do Mestre Candeia, Srs. Deputados, Ilmos. Srs. Sambistas, porque afinal de contas hoje a festa é nossa.

Hoje é um dia único na história do samba. Ele já havia conseguido penetrar no Municipal, como cantou Cartola; já é cantado e estudado na universidade, como preconizou Mestre Candeia. E hoje ele chega aqui à mais importante Casa da Democracia do Estado de São Paulo.

“Exmo. Sr. Presidente

Hoje é um dia singular na história do samba. Ele já havia penetrado no Municipal, como cantou Cartola. Ele já é cantado e estudado na Universidade, como preconizou mestre Candeia. E hoje ele chega à mais importante casa da democracia no Estado de São Paulo. Hoje é Dia de Graça!

Esta solenidade enlaça três datas da maior importância para nossa cultura popular. O Dia Nacional do Samba, que se comemora amanhã. O dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro. E, o dia 16 de novembro, quando se completaram 25 anos da morte de um dos maiores baluartes da história da música popular brasileira, Antônio Candeia Filho.

Essas datas se entrelaçam de maneira indissociável. Porque falar de consciência negra é falar de Candeia. Falar de Candeia é falar de samba. Portanto, falar de samba é falar de consciência negra. E falar na sua dimensão mais profunda, não só na de consciência do direito à igualdade de tratamento e oportunidades para o povo afro-descendente, mas sobretudo na de consciência do papel fundamental, basilar, da cultura do povo negro na formação do modo genuinamente brasileiro de pensar, agir, cantar, dançar, relacionar-se, ver e entender o mundo. Falar de consciência negra, então, é falar de consciência brasileira!

Candeia foi o emblema desta consciência ao mesmo tempo histórica e profundamente engajada. O dia da consciência negra é celebrado em 20 de novembro em memória da morte do herói Zumbi dos Palmares. Mas o dia 16, dia da morte de Candeia, também é dia da consciência negra, da consciência brasileira. Quase 300 anos separam os dois eventos. Zumbi foi o símbolo vivo da resistência a um modo de organização social e a um modelo econômico que estuprou as formas ancestrais de sociabilidade do povo africano, destruindo os laços familiares e de nacionalidade em que se assentam sua cultura e religiosidade. Os quilombos constituíram uma tentativa de reestruturação, em solo brasileiro, de uma identidade violentamente arrasada quando da expatriação dos negros de África. Candeia simboliza a resistência a um modelo econômico e social que não só continua marginalizando a cultura de origem popular, mas apropria-se das formas mais genuínas de sua expressão para submetê-las à lógica viciada do poder e do dinheiro. O grande sambista Candeia soube melhor que ninguém denunciar um processo de usurpação dos espaços das escolas de samba por uma elite estranha à cultura do samba, e a imposição da ditadura do luxo, do visual, do "show" televisivo, a oprimir a verdadeira arte de dançar e cantar o samba, da qual são titulares legítimos, muitos dos meus colegas aqui hoje presentes. Não por outro motivo o espaço em que se organizou essa resistência, fundado por Candeia, recebeu o nome de Grêmio Recreativo de Arte Negra...Quilombo.

“O Samba que criei tão divino ficou. Agora sei quem sou.”

Hoje o samba se afirma, estribado em apoios importantes, como o que se configura nesta sessão solene, como o que vimos recebendo do mandato do nobre Deputado Nivaldo Santana. Mas são muitos ainda os obstáculos a transpor para firma-lo como forma de espaço privilegiado de afirmação de um modo de viver, pensar e agir diferentes daquele imposto pelos padrões dominantes, hoje em escala globalizada. Lembrar Candeia-Zumbi é lembrar que o sonho está vivo e que temos a missão de sempre construí-lo.

"A chama não se apagou, nem se apagará

És luz de eterno fulgor, Candeia

O tempo que o samba viver, o sonho não vai acabar

E ninguém irá esquecer Candeia”

Muito obrigado.”

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Vamos ouvir agora o Presidente da Confederação Nacional das Associações de Moradores e também sambista da Peruche e de outras escolas, o grande sambista Wander Geraldo.

 

O SR. WANDER GERALDO - Boa-noite, Deputado Nivaldo Santana, Srs. Deputados, demais autoridades presentes, senhoras e senhores, amigos e companheiros da militância em torno do nosso samba.

No início deste ano, em uma conversa com o Deputado Nivaldo Santana, discutimos a importância de realizar uma sessão solene inédita na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, com o objetivo de homenagear este dia importante, não somente para os sambistas, mas para pensarmos na história do nosso povo e do nosso país.

Na ocasião tínhamos como um dos principais objetivos, além da sessão solene, transformar esta solenidade num espaço, num momento de reflexão, de articulação e de confraternização entre os sambistas que aqui em São Paulo exercem esse trabalho militante do dia-a-dia.

A Confederação Nacional de Associações de Moradores, que tem um veio voltado para o movimento comunitário, representando 22 mil associações de moradores em todo o país, aqui no caso, representada pela Federação Estadual, que é a Facesp, tem intrínseca ligação com esse mundo, com essa convivência, porque essa relação do sambista, no seu dia-a-dia, é também a relação de lutar pelo direito à saúde, é também a relação de lutar pelo direito à moradia, é também a relação no sentido de lutar por dias melhores para o nosso povo, porque essa é a vida do dia-a-dia que enfrentamos nas comunidades, nos bairros da nossa cidade e do nosso estado. Por isso, essa relação entre a Confederação Nacional de Associações de Moradores e os sambistas de São Paulo se faz necessária.

Queríamos saudar aqui, acima de tudo, as pessoas que muitas vezes são anônimas no samba de São Paulo. Falo dos merendeiros que empurram os belos carros alegóricos para os quais temos vistas, mas não vemos quem está atrás empurrando. É assim com todos os aderecistas, que produzem as mais belas fantasias do nosso carnaval, mas muitas vezes acabam de produzir as fantasias e não vão para a avenida, porque não conseguiram aprontar a sua própria fantasia. É assim com vários músicos, artistas, que durante o ano inteiro, ao contrário do que pensam as elites, o samba e o carnaval não acontecem somente uma semana em fevereiro, acontecem o ano inteiro, no seu convívio, no dia a dia.

Aqueles músicos e sambistas, que nas escolas de samba, nas comunidades de samba, nas rodas de samba exercitam esse trabalho militante, que é de organizar o povo em torno do samba, e também em torno do que nos une, que é uma vida muitas vezes oprimida pelos interesses da grande elite e dos interesses muitas vezes estrangeiros.

Reafirmar a importância do Dia Nacional do Samba é reafirmar acima de tudo os interesses da nossa pátria, a nossa cultura, a nossa soberania, e acima de tudo a nossa identidade rumo a um Brasil livre, soberano, democrático, com justiça social e com distribuição de renda acima de tudo.

Para que nós sambistas, mais do que ter que depender de recursos que venham de uma entidade ou de uma organização governamental, possamos, com autonomia, também construir o nosso dia-a-dia como sambistas. Isso somente será possível com condições de vida melhores do que temos hoje em dia.

Queria levantar aqui a importância que temos que ter nos municípios, nas cidades com melhores condições de vida. Temos de ter novas leis de zoneamento nos municípios que permitam que as casas de samba funcionem à noite, pois isso gera emprego, inclusão social, lazer e turismo.

É necessário discutir qual a relação entre as entidades de samba e o Poder Público. Não são propriedades de uma ou outra pessoa, mas de uma cultura, de um povo, de uma história, de uma nação. O Poder Público tem de respeitar a história do país que dirige.

Queríamos levantar a importância dos sambistas na inclusão social, o espaço de convivência, de novas relações sociais que perpetuam uma sociedade que vive coletivamente, não balizada pelo individualismo, muito disseminado nos últimos anos, principalmente com o neoliberalismo. As rodas de samba refletem isso. Os ensaios na comunidade refletem esse espírito de alegria, força e cultura do nosso povo.

Quero homenagear as mulheres que, além de enfrentar a dupla jornada, a vida como mães e mulheres, enfrentam o preconceito, mas resistem com força e com luta demonstrando a força da mulher no nosso samba, na nossa história. Quero lembrar a nossa madrinha Teresa Santos, que muito nos ajuda nesse trabalho.

Finalizo parabenizando o nobre Deputado Nivaldo Santana, que não só acatou de pronto essa iniciativa como também, junto com outros companheiros da direção do PCdoB, deu entrada ao Projeto de lei nº 1232/03, que cria na agenda oficial do Estado de São Paulo a comemoração do Dia Nacional do Samba. Todos os sambistas de São Paulo devem ter isso como uma bandeira de luta para pressionar os poucos Deputados que ainda não se sensibilizaram com a nossa causa.

Parabéns, Nivaldo, conte conosco nessa trajetória. Viva o Dia Nacional do Samba! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Gostaríamos de registrar a presença do Alexandre Vicente, Diretor da Rosas de Ouro, e do Carlão, fundador da Banda Bandalha, da Banda Redonda e da Unidos da Vila Maria. Registramos também a presença do Bloco Folha Verde, Escola de Samba Flor da Zona Sul, Bloco Vamos que Vamos, Escola de Samba Os Bambas, Bloco Só Falta Você, Escola de Samba Só Vou se Você For, Escola de Samba Brinco da Marquesa.

Quero aproveitar a oportunidade para pedir para o Moisés da Rocha fazer, em nome de todos os presentes, uma homenagem mais do que merecida ao Osvaldinho da Cuíca.

 

O SR. MOISÉS DA ROCHA - Falar quem é o Osvaldinho da Cuíca seria desnecessário. A sua pessoa já fala dessa pessoa tão ilustre, desse primeiro cidadão do samba de São Paulo, formador de tantos outros sambistas de valor, nomes comparáveis ao fantástico Geraldo Filme, ao Mestre Talismã, ao Zeca da Casa Verde. Poderíamos chamá-lo de multissambista. Esta singela homenagem traduz o sentimento de todos os dirigentes do samba, todos os amantes do samba, todos os sambistas.

 

O SR. OSVALDINHO DA CUÍCA - Muito obrigado, querido irmão, sambista e radialista Moisés da Rocha, e nosso querido Nivaldo Santana, por ter aberto as portas desta Casa para o sambista.

Quero fazer um apelo. O samba carioca, o samba baiano estão nos livros, na internet. O samba de São Paulo não está na internet. A história do samba de São Paulo não foi escrita. Está fragmentada no coração do sambista que está indo embora e em alguns pequenos estudiosos que tiveram oportunidade de registrar.

Tenho batalhado pelo samba desde os anos 70. Alguns mais velhos lembram do maior mapa musical do Brasil. Martinho da Vila também participou no recolhimento folclórico, chamado Marcos Pereira. Está lá na contracapa, Osvaldinho da Cuíca e Papete. Foi o primeiro registro musical do Brasil e eu estava presente. Comecei em 1955. De lá para cá, fiz peças, filmes, documentários sobre a história do samba paulista. O filme que ganhou quatro prêmios foi idéia minha.

Mas não vim falar de mim, quero fazer um apelo ao samba de São Paulo. O glorioso Grande Otelo foi consagrado na nossa passarela, mas é mineiro, trabalhou no Rio de Janeiro, morou em São Paulo por pouco tempo. A seguir, Adoniram Barbosa. Trabalhei com ele na Record desde os anos 60, fui do Grupo Demônios da Garoa. É merecedor de todos os méritos, mas nunca pisou na passarela.

Fiz um levantamento no ano passado no samba de Pirapora e disse que eles cometeram um crime contra a história do samba paulista. Está errada a história que vocês estão contando. Vamos levantar esse grito. Está errada a história que vocês estão contando. Por quê? Porque vocês não têm documento do primeiro fundador? Porque Santana do Parnaíba é muito antiga em São Paulo. Vem de 1700 e alguma coisa. Muito bem. Deturparam. Puseram samba de roda. Não é samba de roda. Samba de roda é baiano. Isso foi da Secretaria da Cultura. Eu fui lá e eles atenderam ao meu apelo. Tenho de ter a humildade de agradecer.

Levantamos a data de nascimento de Honorato Missé, um dos fundadores do samba de bumbo, de batuque, que não existia à época. Ele nasceu em 1906. Prestem atenção na data. Morreu em 64, em São Paulo. Portanto, não poderia ser um dos fundadores, porque Dionísio Barbosa merecedor, por exemplo, de um título no Anhembi, nasceu em 1891, morreu em 77, com quase 100 anos, na avenida, em janeiro de 77 e foi esquecido.

Então o meu apelo é o seguinte: não mudar o curso da história, mas colocá-la nos trilhos. Quando alguém tiver que fazer alguma coisa sobre o samba, eu peço a esta Casa humildemente que procure J. Muniz, Nelson Crecibeni, Osvaldinho da Cuíca, para não permitir que se cometam injustiças com o nosso samba, que é tão carente.

Muito obrigado. Vamos cantar. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Vamos, então, ouvir o Hino dos Sambistas.

 

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- É entoado número musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Nossos agradecimentos aos Embaixadores do Samba. Esta sessão solene começou um pouco atrasada por causa da realização de uma sessão extraordinária. Quero comunicar que teremos ainda, aqui do lado, no Hall Monumental, um coquetel e uma apresentação musical com a Denise, que foi laureada pela Assembléia com o prêmio Zumbi dos Palmares, da Banda D. Fernando Eduardo Batata, também do grupo Inimigos do Batente. Nós vamos distribuir uma publicação feita pelo Fernando José.

A realização de uma sessão solene como esta demonstra que a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - que trata de tantas matérias importantes para o nosso Estado e para o nosso país - está ligada a um dos temas fundamentais da nossa cultura: o samba.

Diversos oradores que aqui se pronunciaram aproveitaram a oportunidade para cobrar legitimamente do Poder Público maior incentivo, maior ajuda para a manifestação do samba, seja o samba de roda, seja nas diversas atividades, seja nas escolas de samba.

A população brasileira enfrenta dificuldades de várias ordens e em relação à população mais ligada ao samba consideramos que o Poder Público, através dos seus instrumentos de financiamento da cultura, pode abrir mais os seus olhos e abra mais os seus cofres para o samba.

Relembramos que amanhã, no Memorial da América Latina, às 19 horas, ocorrerá um evento, para o qual todos estão convidados.

Agradecemos a presença das mais importantes lideranças do samba aqui do Estado de São Paulo nesta sessão solene.

A partir das contribuições e das opiniões colocadas pelos representantes do mundo do samba - infelizmente o tempo é muito pequeno e não nos permitiu abrir a palavra para um maior número de oradores - nesta sessão solene temos duas grandes razões para lutar.

Em primeiro lugar, celebrar o Dia Nacional do Samba e, em segundo lugar, apropriar-se das intervenções aqui feitas para subsidiar a nossa intervenção parlamentar no sentido de dar vazão, aqui na Assembléia Legislativa, às reivindicações e apelos daqueles guerreiros que lutam para fazer com que o samba no Estado de São Paulo, ao contrário do que muita gente pensa, continue brilhando e crescendo.

Esgotado o objeto da presente sessão esta Presidência, antes de encerrá-la, agradece às autoridades, funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade, convidando todos para uma confraternização no Hall Monumental. Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e 06 minutos.

 

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