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12 DE DEZEMBRO DE 2003

62ª SESSÃO SOLENE PARA OUTORGA DO "PRÊMIO SANTO DIAS DE DIREITOS HUMANOS"

 

Presidência: RENATO SIMÕES

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 12/12/2003 - Sessão 62ª S. SOLENE Publ. DOE:

Presidente: RENATO SIMÕES

 

OUTORGA DO "PRÊMIO SANTO DIAS DE DIREITOS HUMANOS"

001 - RENATO SIMÕES

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de outorgar o VII "Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos". Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional, pelo Grupo Teatro Popular "União e Olho Vivo". Fala sobre o prêmio ora concedido, informando que se destina a quem se destaca na defesa dos direitos humanos.

 

002 - ANA MARTINS

Em nome do PCdoB, lembra a história de Santo Dias, a quem conheceu e que foi assassinado em 1979. Fala das conquistas sociais e políticas desde então.

 

003 - Presidente RENATO SIMÕES

Destaca as decisões tomadas pela Conferência de Viena acerca dos direitos humanos das mulheres. Passa à entrega dos diplomas aos homenageados. Anuncia a execução de número musical.

 

004 - ANTONIO MENTOR

Pelo PT, presta homenagem a Waldemar Tebaldi, agraciado com o "Prêmio Santo Dias".

 

005 - Presidente RENATO SIMÕES

Passa à entrega do "Prêmio Santo Dias" a Waldemar Tebaldi. Anuncia a execução de número musical. Destaca o trabalho do Teatro Popular "União e Olho Vivo".

 

006 - HUMBERTO MAGNANI

Em nome da classe teatral, lê mensagem de Antônio Cândido em homenagem a Idibal Piveta.

 

007 - LUIZ EDUARDO GREENHALG

Deputado Federal, faz homenagem a Idibal Piveta e ao Teatro "União e Olho Vivo".

 

008 - Presidente RENATO SIMÕES

Passa à entrega do "Prêmio Santo Dias" a Idibal Piveta.

 

009 - IDIBAL PIVETA

Agradece o prêmio recebido. Pede a aprovação nesta Casa do Fundo Estadual da Cultura. Convida a todos para cantar o hino ao Teatro Popular "União e Olho Vivo".

 

010 - Presidente RENATO SIMÕES

Passa a ler mensagem do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre este evento. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Srs. Deputados, senhoras e senhores, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de outorgar o VII Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

Esta Presidência cumprimenta as autoridades que compõem a Mesa: Exmo. Sr. Dr. Waldemar Tebaldi e senhora, Prefeito licenciado de Americana; Dr. Idibal Piveta (César Vieira), Diretor do Teatro “União e Olho Vivo”; Sr. Deputado Estadual Antonio Mentor, Líder da Bancada do Partido dos Trabalhadores.

Cumprimento as autoridades e personalidades que compõem a Mesa pelo Movimento dos Direitos Humanos: Sr. Adriano Diogo, Secretário do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo; Sr. Humberto Magnani, ator; Sra. Maria José da Cunha, Vereadora e Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Campinas, Sra. Flávia Pereira, Vereadora da Câmara Municipal de São Paulo e Presidente da Comissão da Mulher, na Câmara Municipal de São Paulo; Sra. Izabel Peres, da Ação dos Cristãos pela Abolição da Tortura Acat-Brasil; Sra. Janaína Lima, representando o Grupo Identidade; Sra. Edda Bergmann; Sra. Renata Lopes Costa, Presidente da Associação Olha o Menino; Sra. Conceição Paganele, Presidente da Associação das Mães e Pais dos Adolescentes em Situação de Risco.

Convido a todos para, em pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro executado pelo Teatro Popular “União e Olho Vivo”.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Esta sessão solene se realiza anualmente na Assembléia Legislativa desde 1996.

Por ocasião do Dia Mundial dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, nesta semana em que no mundo inteiro se realizam as atividades lembrando a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pelas nações Unidas, a Assembléia Legislativa constituiu uma sessão solene para homenagear, através de um prêmio instituído por votação desta Casa, personalidades e entidades que se destacaram no Estado de São Paulo pela defesa dos Direitos Humanos.

Todos os anos, desde a primeira versão do prêmio entregue ao cardeal emérito de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, esta Casa se reúne para celebrar o Dia dos Direitos Humanos na vida e na militância de pessoas e entidades que desenvolvem lutas pelos direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais, ambientais do povo brasileiro, neste Estado de São Paulo.

A seleção é feita pelas próprias entidades de Direitos Humanos e pelos senhores parlamentares, que podem indicar no mês de outubro as pessoas que serão analisadas pela Comissão dos Direitos Humanos. Tem sido praxe desta Casa a Comissão dos Direitos Humanos homenagear qualquer das pessoas indicadas. Entendemos que não existe competição entre aqueles que estão na mesma trincheira da luta pelos Direitos Humanos.

Por isso, todas as pessoas,  homens, mulheres, entidades representadas pelos que foram indicados,  a cada ano – são apresentadas e homenageadas nesta sSessão sSolene. Convidamos, além do Teatro “União e Olho Vivo” e do Dr. Waldemar Tebaldi, que receberão o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, todas as pessoas e entidades que foram mencionadas.

Gostaria de apresentar essas pessoas, algumas das quais justificaram sua ausência em razão de outros compromissos, alguns até em viagens ao Exterior: Amar, Associação de Mães e Amigos da Criança e do Adolescente em Risco;  (Palmas.); a Presidente dessaa Associação, Sra. Conceição Paganeleli (Palmas.); Associação Olha o Meninoo” (Palmas.); Professora Edda Bergmannn (Palmas.); Dr. Fermino Fecchio (Palmas.); Identidade, Grupo de Ação pela Cidadania Homossexual;  (Palmas.); Sra. Izsabel Peres (Palmas.); Dr. João José Sadi (Palmas.); Dra. Valdênia Aparecida Paulino (Palmas.).

Antes de dar início à entrega solene do reconhecimento da Assembléia Legislativa a essas pessoas e entidades, que no dia-a-dia vêm trabalhando conosco na promoção dos Ddireitos Hhumanos, vamos conceder a palavra aos Srs. Deputados e às Sras. Deputadas que queiram manifestar-se em nome de suas bancadas. Convido a nobre Deputada Ana Martins para que faça a saudação a esta sSessão sSolene, em nome da Lliderança do Partido Comunista do Brasil. (Palmas.)

 

A sra. Ana Martins - PCdoB - SEM REVISÃO DA ORADORA - Sr. Presidente desta Sessão Solene, DeDeputado Renato Simões, que é historicamente um Deputado que luta incansavelmente pelos Ddireitos Hhumanos; demais Srs. Deputados; q. Quero também cumprimentar todas as entidades presentes e todos os participantes, companheiros e companheiras desta árdua luta pelos Ddireitos Hhumanos. Em nome da Bancada do PCdoB, gostaria de também cumprimentar os vVereadores que aqui estão. Lembro-me do Vereador Davi, de Americana; da Vereadora, companheira de Campinas, enfim.  e tantos outros.

Gostaria de salientar um aspecto muito importante da história do Santo Dias. Conheci-o, pessoalmente. Ele era um metalúrgico, lutador, que tinha capacidade de desenvolver a luta da classe operária, participando do seu sindicato. Ele também participava, cotidiana e permanentemente, da luta pela sua comunidade quando morava na Zona Sul da cidade. , uma região tão grande. Grande parte das fábricas da Mooca e de parte da Zona Leste transferiram-se para a Zona Sul.

Santo Dias, que tinha uma grande participação na vida e na luta dos operários, acabou morrendo com um tiro da Polícia Militar na frente da fFábrica Silvania, quando desenvolvíamos uma luta importante contra a carestia. Os bairros, através das esposas dos trabalhadores, organizavam-se na luta contra a carestia, pela melhoria das condições de vida, pela reforma agrária e por mais creches em todo o Brasil.

Comemorar estse pprêmio significa também lembrarmos que os Ddireitos Hhumanos são direitos das mulheres, ou os direitos da mulheres são Ddireitos Hhumanos. LLutamos também pela igualdade entre brancos e negros. Queremos superar as discriminações. Q; queremos superar a violência, que está instalada na sociedade. Parte dessa violência vem das injustiças sociais, do agravamento do desemprego, da falta de distribuição de riqueza e de terras que, cada vez mais, vem tornando uma parte da população excluída dos seus direitos, que são Ddireitos Hhumanos.

  Quero salientar que tTemos avançado. Não é verdade quando dizem que e não tenhamos avançamos, do porque superamos a dDitadura. Em 1936, tivemos a Ditadura do Estado Novo. Entre 1964 e 1982, tivemos a dDitadura do rRegime mMilitar. A partir de 1982, com lutas e mortes de muitos companheiros, entramos num processo de democratização do nosso país.

Hoje, discutindo e comemorando as vitórias que conquistamos, g, gostaria de anunciar que a Secretária Emília Fernandess, da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres, que tem status de Ministra, convoca para 2004 o Ano da Mulher e convoca para os dias 17, 18 e 19 de junho, a grande Conferência Nacional das Mulheres.

O Ao atual gGoverno foi  atual que foi eleito com a grande aspiração de mudança e ; que levou a população -, dos mais jovens aos mais idosos -, a querer mudar a política no Brasil para um novo projeto. Q, queremos o êxito deste governo , para que tenhamos mais justiça, mais igualdade e mais fraternidade. Que os trabalhadores da zona rural, os trabalhadores das cidades, as mulheres, os negros, os jovens, tenham perspectiva de uma vida melhor, de um Brasil mais democrático.

Por isso, parabéns, Deputado Renato Simões! Parabéns à Comissão de Direitos Humanos! Parabéns a todas as entidades que estão aqui, que lutam pelos Ddireitos Hhumanos! Lutar pelos Ddireitos Hhumanos é lutar para que o ser humano - homem e mulher, negro e branco, criança, adolescente ou jovem - tenha um futuro digno, possa ter plena cidadania, fazendo com que,  cada vez mais, esta sociedade atenda as necessidades da grande maioria da população.

Quarenta e nove milhões de pessoas ainda passam fome; quinze milhões estão no mercado informal de trabalho; doze milhões esperam um pedaço de terra para plantar. Muito ainda tTemos ainda muito por que lutar; muito temos muito a conquistar. Unamo-nos todos e acreditemos que vale a à pena lutar, porque quem luta alcança vitória. Se é verdade que unidos somos fortes, organizados somos imbatíveis! . Um grande abraço do PCdoB e de todos os companheiros que gostariam de estar aqui! (Palmas.)

 

O Sr. Presidente - Renato Simões - PT - Esta Presidência agradece a à nobre Deputada Ana Martins e comunica que o Sr. Deputado Antonio Mentor fará uso da palavra durante a entrega do Pprêmio Santo Dias ao Dr. Waldemar Tebaldi.

Esta Presidência também agradece a presença do Dr. Belizário dos Santos Júnior, advogado, ex-Secretário de Justiça do Estado de São Paulo (Palmas.); do Sr. Vereador Davi Ramos, 1º Secretário da Câmara Municipal de Americana (Palmas). Se V.Exa. deseja compor conosco a Mesa, por favor, apresente-se ao Cerimonial.

Também queremos saudar a atriz Rosi Campos (Palmas) e as Sras. Maria Aparecida Rocha, Nilza Benato, Marli Guimarães de Oliveira do Amaral, representando as Secretarias de Promoção Social, Educação e o Conselho Municipal do Meio Ambiente do município de Americana (Palmas).

Quando se fala em direitos humanos, principalmente num momento em que a violência se abateu de uma forma bastante dramática neste País, há na opinião pública um movimento conservador no sentido de isolar a luta pelos direitos humanos a pequenos grupos que não têm compromisso com as maiorias e com o conjunto da sociedade. Hoje, ao longo de toda a tarde, com ampla participação, realizamos um seminário organizado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, pela Comissão dos Direitos da Mulher da Câmara Municipal de São Paulo, pela Organização Fala Preta, pela União de Mulheres de São Paulo, pelo Instituto Brasileiro de Advocacia Pública - Ibap e pelo Movimento do Ministério Público Democrático sobre os 10 anos da Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena, em 1993. Relembramos vários aspectos e o eixo principal desse seminário foi a elaboração da Conferência de Viena sobre os direitos das mulheres como direitos humanos universais, inalienáveis e indivisíveis com os demais direitos humanos.

Essa característica da Conferência de Viena nos faz perceber que não podemos hierarquizar direitos e nem selecioná-los. Direitos humanos são indivisíveis e eles podem até ser catalogados em direitos civis, direitos políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais. Não importa, eles são indivisíveis. É por isso que, neste momento, vamos trazer aqui para receber os diplomas de reconhecimento da Assembléia Legislativa pelo seu trabalho representantes de várias organizações que compõem esse grande mosaico, indivisível, dos direitos humanos em São Paulo. São pessoas que se destacaram nas mais variadas áreas de atividade.

Evidentemente, por uma questão de tempo, não poderemos dar a palavra a todos que serão chamados agora. Mas, com esta visualização e com esta homenagem que queremos calorosamente conceder a essas entidades e a essas pessoas, registrar essa diversidade e, ao mesmo tempo, essa indivisibilidade, dos direitos humanos no nosso estado e no nosso País.

Por isso, convido a todos para que permaneçam conosco aqui na frente. Também já convido o Teatro Popular “União e Olho Vivo” para a sua próxima apresentação.

Inicialmente, convido a D. Conceição Paganelli, mulher que nos últimos anos tem-se tornado uma referência da luta dos direitos humanos em São Paulo pelo seu compromisso de denúncia de uma das instituições mais infratoras e ilegais que permanece desafiando a sociedade de São Paulo, que é a Febem. Como mãe de um adolescente, que permaneceu durante muito tempo interno na Febem, ela acompanhou a crise terminal dessa instituição e poderia apenas ter lamentado a sorte do seu filho. Mas organizou-se com outras mães e com outras pessoas solidárias e constituíram a Amar - Associação de Mães e Amigos das Crianças e Adolescentes em Situação de Risco. Assim, convido D. Conceição Paganelli para esta homenagem. (Palmas).

Também convido a presidente da Associação Olha o Menino, Sra. Renata Lopes Costa. Esta associação, da mesma forma que a Amar, é uma das entidades que vem se destacando na atuação em defesa dos direitos dos adolescentes em conflito com a lei, em defesa do devido processo legal e, portanto, tem esbarrado com a Febem. Ela participa hoje da coordenação do movimento contra a redução da idade penal. Na pessoa da Renata e da Associação Olha o Menino, queremos saudar todos os lutadores e as lutadoras que defendem neste momento o Estatuto da Criança e do Adolescente contra os ataques dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. (Palmas).

Queremos convidar agora Janaína Lima, que representa o Grupo Identidade de Ação pela Cidadania Homossexual. O Grupo Identidade completa cinco anos de atividade na defesa dos direitos humanos de lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais e mantém uma ativa postura não só no município de Campinas, onde tem a sua sede, mas em todas as lutas dos segmentos excluídos e oprimidos social e economicamente. É um grupo que tem participado nesta Casa desde a sua origem na elaboração do Programa Estadual de Direitos Humanos, na luta pelos direitos humanos da comunidade homossexual e do respeito que queremos dar a todos aqueles e aquelas que são vítimas de perseguição pela sua orientação sexual. Seja bem vinda, Janaína.(Palmas).

Queremos convidar também a Sra. Edda Bergmann, vice-presidente internacional da B’nai B’rith. A Professora Edda Bergmann, pelo seu trabalho contra o preconceito e intolerância, ingressou na B’nai B’rith, uma organização internacional de direitos humanos da comunidade judaica, onde desenvolveu atividades que a tornaram igualmente respeitada pela participação no diálogo inter-religioso, na luta pela elaboração de leis antidiscriminatórias, no combate às organizações neonazistas que continuam desafiando a consciência democrática do país e na própria elaboração do capítulo dos direitos civis da Constituição Brasileira. Assim, ficamos muito agradecidos e honrados com a presença da Professora Edda Bergmann.

Por fim, de todas as entidades aqui presentes, a Acat foi talvez uma que eu tenha participado ativamente da sua criação, porque foi fruto de um trabalho desempenhado por um dos premiados deste prêmio, Padre Francisco Reardon, que juntamente com outros militantes da luta contra a tortura, constituiu a Acat, Ação dos Cristãos pela Abolição da Tortura, aqui no Brasil. Ela é uma entidade que se espalhou por muitos países do mundo, lutando contra a tortura, é integrada ao Movimento Nacional de Direitos Humanos e é coordenada por esta gigante do movimento de direitos humanos no Estado de São Paulo, apesar de seu tamanho pequenininho, a nossa companheira Isabel Peres (Palmas.)

Quero pedir, mais do que as palavras deste Deputado ou de quaisquer outros que poderiam falar, que o Teatro “União e Olho Vivo” possa homenageá-los com a sua música, com a sua poesia, enquanto entregamos a todos os diplomas da Assembléia Legislativa.

 

O SR. LUCAS CÉSAR - O Teatro “União e Olho Vivo” dedica esta música, tirada do nosso atual espetáculo “João Cândido Brasil - A revolta da Chibata”, a todos os companheiros que nessas três décadas passaram pelos nossos elencos. O ideal e merecido seria citá-los um a um: José Maria Giroldo, Gonçalo Melo, Laura Teti, Gilberto Karan, Manoel Dutra, Márcia Moraes, Jucelina Silva, Sônia Giacomine, Wilson Rocha, Wilson Xavier, Marcos Caruso, Luis Alberto Piscina, Audrey Pereira, Márcio Godoy e muitos outros. E os colaboradores: Belizário Santos Júnior, Airton Soares, Paulo Gerardo, Murilo Dias César, Elza Lobo, Edionei de Almeida Gomes, Lia Mirtes, Luiza Barreto Leite, Joaquim Cerqueira César, Silvana Garcia, Leda Alves, Luiz Eduardo Greenhalgh, Silney Siqueira, Antonio Bonfim, Aimar Labaki, Celso Frateschi, Gianfrancesco Guarnieri, Antonio Cândido, Clóvis Moura e Adriano Diogo.

Já disse Brecht que “é infeliz o povo que precisa de heróis.” Nós, do Teatro “União e Olho Vivo”, dizemos que é feliz uma comunidade como a nossa, que tem tantos e tantos amigos. A eles todos, com carinho, a música “Bandeira encarnada”. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Agradeço ao teatro “União e Olho Vivo”. Gostaria de registrar também a presença do nosso companheiro de bancada, nobre Deputado Estadual Sebastião Almeida. Muito obrigado, Deputado.

Quero também registrar e agradecer a presença nesta Sessão Solene, do Vereador Alessandro Gumier, vice-Presidente da Câmara Municipal de Americana. Convidamos S. Exas. para comporem a Mesa conosco, se assim o desejarem. (Palmas.)

Quero também registrar aqui, com muita alegria, a instituição e as pessoas premiadas no ano passado com o prêmio Santo Dias: o Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos, e seu coordenador, Rafael Martinelli. (Palmas.)

Também gostaria de registrar a presença dos senhores Hebe Carline e Marco Antonio Alves Jorge Kim, Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano e Secretário da Educação do município de Americana. (Palmas.)

Quero registrar também a presença desse grande amigo, advogado, integrante do grupo "Tortura nunca mais", Dr. José Tinoco. (Palmas.)

Muito obrigado a todos pela presença. Creio que as delegações que vieram de vários pontos da região metropolitana de São Paulo, de Campinas e de Americana, já se encontram todos finalmente presentes, apesar dos problemas com o trânsito. Quero saudar a todos que aqui comparecem.

Agora iniciaremos a entrega do Prêmio Santo Dias que, como disse, a cada ano procura dar visibilidade a pessoas, não para sua própria satisfação, para o seu próprio orgulho, mas porque é muito importante que nos reunamos, não só para fazermos aquilo que mais fazemos: trabalhar, organizar, denunciar, reivindicar, promover e educar na área dos direitos humanos, mas para que possamos também apresentar a todos nós e à sociedade paulista um pouco desse trabalho. Por isso, todos os anos temos trabalhado diferentes dimensões da luta pelos direitos humanos.

Tivemos a facilidade, neste ano, de encontrar - e esta foi a sabedoria da Comissão dos Direitos Humanos - a união da cultura e da resistência na vida dessas duas pessoas que receberão este prêmio em seguida. Durante a ditadura militar, tivemos um processo que ainda está por ser contado à sociedade brasileira, de consolidação de um regime de arbítrio, que violou sistematicamente os direitos humanos do povo brasileiro e perseguiu implacavelmente os inimigos daquele regime.

Dr. Waldemar Tebaldi e Idibal Piveta foram vítimas daquele regime. Ambos lutavam pela democracia, um como médico, outro como advogado e agitador cultural. Ambos foram presos pelo regime. Ambos foram torturados por esse regime na cadeia. E ambos continuaram depois de serem libertados e de terem mantido suas vidas intactas quando tantos outros companheiros pereceram no mesmo compromisso de luta por uma sociedade igualitária, por uma sociedade fraterna, por uma sociedade justa. Por isso o tema da cultura e da resistência, são pessoas que resistiram e que construíram uma cultura de direitos humanos através dos seus testemunhos e das suas vidas.

Inicialmente, gostaríamos de convidar o Sr. Deputado Estadual Antonio Mentor, líder do PT nesta Casa para que possa fazer a homenagem e o registro da vida pessoal e pública desse nosso premiado, nosso companheiro, Prefeito licenciado de Americana, Dr. Waldemar Tebaldi. (Palmas.)

 

O SR. ANTONIO MENTOR - PT - Sr. Presidente, Srs. Deputados, quero saudar especialmente meu companheiro de bancada, nobre Deputado Sebastião Almeida, a nobre Deputada Ana Martins, todos os Vereadores presentes, todos os secretários municipais presentes, é uma grande alegria recebê-los nesta noite.

Quero fazer uma saudação muito especial àqueles que se deslocaram da nossa cidade, Americana, amigos do Prefeito Waldemar Tebaldi, um dos homenageados desta noite para o Prêmio Santo Dias dos Direitos Humanos, para participar deste momento que para nós tem um significado muito grande. Quero parabenizar o Teatro “União e Olho Vivo”, por sua história, por sua determinação, pelo trabalho que vem executando por tantos anos de maneira incessante, sempre na mesma direção e sempre do mesmo lado.

Quero cumprimentar e agradecer muitíssimo a presença da família do Prefeito Waldemar Tebaldi nesta Casa. Quero saudar a D. Luíza da Mota Tebaldi, esposa do Prefeito Waldemar Tebaldi, seus filhos Mazinho, Heloísa, Waldir e Silmara, seus netos Paula, Diana, Flávia e Marcelo.

Quero mencionar umas poucas palavras relativas ao meu amigo Waldemar Tebaldi, referência para muitos. Tem sido durante toda a sua vida um marco histórico em toda a região de Americana para muitos que escolheram um lado na vida, o lado da defesa dos direitos humanos e a escolha de valores humanitários para que sejam perseguidos, mantidos e demonstrados para toda a sociedade.

O médico Tebaldi, desde logo, demonstrando seu caráter fraterno, atendia indiscriminadamente a população de Americana, desde quando chegou àquela cidade. Todos dizem que se formavam filas imensas para serem atendidos pelo médico Tebaldi. Em nenhum momento distinguiu aqueles que tinham condições de pagar daqueles que nunca tiveram condições de retribuir financeiramente pelos seus serviços. Também nunca diferenciou do ponto de vista da dedicação, da atenção, do carinho e do profissionalismo aqueles que o pagaram daqueles que não podiam fazê-lo. Um médico no cárcere. Preso político, durante um ano, atendeu seus companheiros de prisão, de modo a exercer também sua profissão mesmo dentro do cárcere, vivendo o amargo momento imposto pela ditadura militar a tantos e tantos brasileiros.

Quero pedir licença para ler apenas um trecho de um de seus livros “Entre a Cela e o Céu”. Trata-se do depoimento prestado ao médico Tebaldi, preso político no cárcere do Dops por uma jovem de 22 anos de idade, depois de ter sofrido várias e várias sessões de tortura relatou ao médico Tebaldi o que havia lhe acontecido: “Fui colocada no pau-de-arara. Nua. Recebendo pancadas com um pau nas plantas dos pés. E me deram choques no períneo. Assim, fiquei dependurada, não me lembro bem, mais ou menos duas horas. Muitas vezes perdi os sentidos e quando voltava daqueles desmaios eu me sentia sufocada por uma solução de salmoura que entornavam na minha boca e que me entupiam o nariz. Já estava exausta, nem sentia mais nada, tanta era a dor que sentia nos punhos e nas pernas pela compressão daquelas cordas que me pareciam quebrar-me os ossos. Depois, tiraram-me do pau-de-arara, colocaram-me numa cadeira e me disseram: ‘Agora o negócio seria na base do churrasquinho.’ Churrasquinho era a introdução de um ferro quente na vagina. Eu me apavorei, mas felizmente só ficou na ameaça. Depois, fui mais algumas vezes para o interrogatório, porém, com ameaças de mais torturas. Essas lesões, que doem muito, foram feitas com a brasa de cigarro. Sabe doutor, já estou naquela fase em que o céu é o limite. Não agüento mais, não sei o que será da minha vida. Doutor, por que o senhor não arruma um negócio para eu tomar e acabar logo com isso? Faça um favor, doutor, eles vão me matar, e o que eu não agüento mais é esse sofrimento, e não sei até quando isso vai.” Esse foi o depoimento dado ao médico Tebaldi, no cárcere, por uma jovem presa aos 22 anos de idade.

Mas Tebaldi saiu da prisão, voltou a Americana, voltou à atividade política sempre do mesmo lado. Foi eleito Prefeito dessa cidade por quatro vezes, quatro eleições extraordinárias, enfrentando as forças mais conservadoras da cidade de Americana. E durante esses quatro mandatos, levou a cidade de Americana a uma situação comparativamente invejável em relação a outras localidades. Construiu moradias, de modo que Americana é hoje uma cidade que conta com alguns poucos locais de sub-moradias, poucos mesmo: para uma cidade de quase 200 mil habitantes, deve haver hoje algo menos que 200 barracos espalhados pela cidade. Construiu uma infra-estrutura na área de saúde, com um hospital, 22 postos médicos, número que supera as indicações mais otimistas da Organização Mundial de Saúde. Em Americana, as crianças têm vagas nas escolas. (Palmas.)

Essa é sem dúvida uma obra que diz respeito aos direitos humanos dos homens e das mulheres hoje, amanhã e sempre. Mas eu queria falar de um aspecto pouco conhecido do Prefeito Tebaldi, do médico Tebaldi. Eu queria falar do escritor Tebaldi, do homem que, apesar de ter vivido todos esses momentos de grave dificuldade, enfrentando poderosos com esse destemor, apesar de ter passado por maus bocados em toda sua vida, ainda teve a capacidade de escrever três livros. Num desses livros, o relato dessa jovem, do seu sofrimento no cárcere. Mas em outro desses três livros, há uma homenagem do Tebaldi escritor, poeta, do Tebaldi romântico, do Tebaldi apaixonado, do Tebaldi defensor dos valores humanitários.

Vou encerrar, Sr. Presidente, lendo esta poesia escrita por Waldemar Tebaldi, poeta:

“Acordei e vi lá fora,

entre as flores do jardim,

bela e meiga como a aurora,

uma flor sorrir para mim.

E meiga como um beija-flor

sorriu para mim.

E meiga como um beija-flor,

que fala em doce cicio,

disse-lhe do meu amor

que ela outra vez sorriu.

Na quieta paz de um recanto,

coberto com o meu carinho,

tecido com o seu encanto,

floriu de amor nosso ninho.

Não há chuva nem açoite,

nem vendaval mais daninho,

seja dia ou seja noite,

que mate nosso cantinho.

Feito de amor e de oração,

de paz de Deus ele é feito.

Eu e Luísa,

um coração batendo na cruz do peito.

Acordo e vejo lá fora,

todo dia é sempre assim:

bela e meiga como a aurora,

Luísa em flor, a rir para mim.”

Este é o poeta Waldemar Tebaldi. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Muito obrigado, companheiro Antônio Mentor. Gostaria de convidar V. Exa. para que, junto comigo, neste momento, entreguemos ao Dr. Waldemar Tebaldi este pergaminho, que passo a ler neste momento:

“A Mesa Diretora e a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, com fundamento na Resolução nº 779, de 18 de dezembro de 1996, conferem o 7º Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao Sr. Waldemar Tebaldi, pela sua atuação cotidiana em defesa dos direitos humanos e do restabelecimento da democracia, ao longo de décadas de luta pela cidadania. São Paulo, 12 de dezembro de 2003.

Emidio de Souza, 1º Secretário. Sidney Beraldo, Presidente. José Caldini Crespo, 2º Secretário. Renato Simões, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.” (Palmas.)

 

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- É feita a entrega do prêmio. (Palmas.)

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Convido o grupo Teatro Popular “União e Olho Vivo” para que faça também sua homenagem não só ao Dr. Tebaldi, mas a todos aqueles e aquelas que com ele lutaram e lutam, com a apresentação musical “O Silêncio”.

 

O SR. Cícero de almeida - Este poema popular, nascido no bairro do Bixiga, expressa a dor do sambista pela perda do companheiro da avenida, do carnaval, do bar e da vida. Nós o dedicamos a todos aqueles que, no Brasil, morreram pela causa do homem irmão, do homem, e não patrão do homem. Dos grotões do bairro mais popular de São Paulo para os amigos que ficaram para sempre, para sempre, em memória. De Geraldo Filme, “O silêncio.” (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - A Presidência anuncia a presença do Sr. Deputado Federal Luiz Eduardo Greenhalgh, Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Muito obrigado, Deputado, pela sua presença. (Palmas.)

O Teatro “União e Olho Vivo”, foi escolhido numa categoria dos Direitos Humanos que muitas vezes nós não entendemos como um direito humano. Ao longo de todos esses anos, o Prêmio Santo Dias nunca foi concedido a nenhuma pessoa ou entidade que tenham se destacado fundamentalmente pela defesa dos direitos culturais do nosso povo.

Por isso, dentro de mais algum tempinho, vamos lembrar 40 anos de atividades ininterruptas desse grupo que nasceu durante a ditadura militar, que se apresentou em milhares de igrejas, salões comunitários, sindicatos e associações. E uma das memórias que tenho desse período é justamente a apresentação desse grupo nas lutas da oposição sindical metalúrgica, no começo dos anos 80, com as suas peças Bumba Meu Boi e Queixada.

Era um deslumbre, naquele momento, para nós jovens despertando para a realidade da opressão do nosso povo, vindo de movimentos de Igreja Católica, pastoral da juventude, encontrar com esse grupo que, na lembrança dessa luta operária dos queixadas, incentivavam a organização do movimento operário, num dos períodos ainda de grande fechamento político, quando a maioria do sindicato estava ainda sob intervenção direta do regime ou na mão de pelegos que chegaram ao poder pela força do regime.

Então, para lembrar a trajetória desse grupo, da sua importância no cenário cultural de São Paulo e do Brasil, pela referência internacional que o Teatro “União e Olho Vivo” se transformou também para o teatro popular, amador, aquele teatro que é feito com os trabalhadores que durante o dia trabalham no seu comércio, no seu banco, na sua fábrica, e à noite e nos fins de semana dedicam-se à elevação dos direitos culturais do povo pobre e oprimido de São Paulo e do Brasil, convido o ator Humberto Magnani. (Palmas.)

 

O SR. HUMBERTO MAGNANI - Sr. Presidente, autoridades presentes, colegas de teatro, artistas aqui presentes, nossos companheiros do interior de São Paulo, na verdade, estou aqui numa missão difícil, porque aqui estaria esse grande brasileiro chamado Antônio Cândido, grande parceiro, que não pôde vir por motivos alheios à vontade dele. Então, passo a ler a mensagem que ele mandou: “Há muito tempo acompanho a trajetória de César Vieira e também a de Idibal Piveta, intimamente entrelaçadas, porque ambas são as duas partes da mesma luta contra a injustiça, a discriminação e a desigualdade, ora nos tribunais e no limiar das prisões, ora na página escrita e na ação dramática.

Um completa o outro, pois ambos são os mesmos, e essa peça é mais uma prova dessa unidade indissolúvel da inteligência e da atuação. É mais uma prova da disposição humana, mas nem sempre cultivada de operar a fusão de arte e política. No caso, política genérica. Mas, mais afirmação de humanismo do que opção partidária, embora acabe ajudando cada um a fazer a sua.

César Vieira foi buscar desta vez um assunto de alto relevo e pouca presença na consciência dos brasileiros, a famosa Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido, que ele apelida muito bem, porque ninguém mais que esse lutador negro mostrou aos brasileiros que todos os sacrifícios se justificam no combate pela dignidade básica do homem, o direito inalienável de ser respeitado.

A escolha de César Vieira equivale ao convite para olhar a nossa História, sem excluir os marginalizados pelas ideologias oficiais. Como sabemos, todas as providências foram tomadas para apagar da memória nacional a ação dos revoltosos de 1910, na Marinha de Guerra, para vilipendiar os seus participantes e tentar promover um esquecimento coletivo. E foi o que quase se conseguiu. Das franjas desse quase, emergiu alguns homens lúcidos como Edmar Morel ou como o poeta surrealista francês Benjamin Péret, casado com brasileira que esteve algum tempo no Brasil, por volta de 1930, que aqui militou na esquerda, foi presa e viu apreendida e provavelmente destruída pela policia a biografia que escrevera sobre João Cândido, intitulada ‘O Almirante Negro’.

A eles se junta agora César Vieira, que recria a façanha de 1910 na Chave da Arte, jogando com a imaginação e a fantasia que permitem realçar os traços da verdade. É o que faz essa peça por meio da música, da cor, do gesto organizado, da sátira e da indignação, dispostos em quadros sucessíveis, segundo o requerimento, ritmo de vai e vem do tempo, de maneira a modular uma espécie de grande parada histórica anticonvencional.

Ao fazer isso, o autor de João Cândido Brasil ilumina um dos dramas mais heróicos e sombrios da nossa História Contemporânea, contribuindo para reescrevê-la sem as deformações impostas pelos grupos dominantes. Assim foi que lentamente, com dificuldade, Palmares deixou de ser nos livros didáticos um feito de Domingos Jorge Velho, para se tornar o que foi a epopéia de Zumbi e sua gente.

Do mesmo modo, a Revolta baiana dos Alfaiates, explosão do povo oprimido, custou a sair do esquecimento a que fora relegado e passou a existir como capítulo importante das nossas lutas sociais. Quer dizer que a verdade dos oprimidos pode acabar se sobrepondo à ideologia mutiladora dos opressores. Para isso, contribui essa peça de necessária radicalidade, que mostra mais uma vez a força humanizadora do Teatro Popular “União e Olho Vivo”.

Após o que está escrito aqui, pelo Antônio Cândido, tem muito pouco a acrescentar, a não ser que nesses 38 anos de vida do Teatro Popular “União e Olho Vivo” - que pelo menos 30 anos eu o acompanho -, ele nos serviu muitas vezes. Em certos momentos, ele já estava meio desanimado, mas nunca desistindo só em saber que o grupo “União e Olho Vivo”, naquele fim de semana, pelo menos estava nas ruas e nos bairros pregando o que pregava, usando a nossa arte. Isso já servia para que a força continuasse na nossa batalha.

Quero agradecer à Assembléia Legislativa, em nome do teatro brasileiro, o qual represento agora esse reconhecimento ao trabalho do Teatro “União e Olho Vivo”, porque acho que é a primeira vez que uma manifestação artística, no caso o teatro, é lembrado com um prêmio tão importante como esse dos Direitos Humanos. Muito obrigado.

 

O SR. RENATO SIMÕES - PT - A Comissão de Direitos Humanos teve dificuldade de escolher como premiar o Teatro Popular “União e Olho Vivo”, porque tivemos muitas indicações para ele, muitas indicações para Idibal Piveta e algumas indicações para César Vieira. Precisávamos escolher e percebemos que, nesse caso, não fica bem claro quem é que cumpre qual papel, porque se o Idibal Piveta construiu o César Vieira, o César Vieira deu sentido ao Idibal Piveta, e, se ambos construíram o Teatro “União e Olho Vivo”, portanto, é o teatro que cria e recria a vida dos dois.

Então, acabamos optando por homenagear o Teatro “União e Olho Vivo”, o grupo, o Idibal e o César. E, essas dimensões gostaríamos que fossem ressaltadas na palavra do Deputado Federal Luiz Eduardo Greenhalgh, que convidamos agora a se manifestar.

 

O SR. LUIZ EDUARDO GREENHALGH - Deputado Renato Simões, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, Idibal Piveta, meu colega, meu irmão, companheiros do grupo de Teatro “União e Olho Vivo”, corria o ano de 1970 - e foi em 1970 que eu conheci Idibal Piveta -, eu era representante dos alunos da Universidade de São Paulo, no Conselho Universitário. Vivíamos a ditadura militar e o Idibal Piveta procurou o representante da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no Conselho Universitário, para verificar a possibilidade de a Universidade de São Paulo propiciar a continuidade, em termos oficiais, do Teatro “União e Olho Vivo”. Depois disso, em 1973, o Idibal Piveta foi preso. Era advogado aqui, em São Paulo, de presos políticos junto com Airton Soares, no famoso escritório da travessa Brigadeiro, nº 21.

Eu lembro como se fosse hoje, tinha chegado de uma festa à tarde da noite, domingo de manhã, e o jornal “O Estado de S.Paulo” conseguiu publicar, naquela época da censura, uma pequena notícia: “O advogado Idibal Piveta foi preso ontem, levado às dependências do DOI-Codi de São Paulo.” Nesse mesmo dia, conversei com Airton Soares, pedi para prestar solidariedade, saindo para o escritório do meu pai e indo ao escritório do Idibal Piveta, ficando lá 67 dias preso no DOI-Codi. Ainda hoje eu lembro, com muita nitidez, a alegria que foi irmos todos a rua do Hipódromo, com o alvará de soltura do Idibal. Viemos no mesmo carro e a partir daí nascia, além da amizade, o companheirismo.

Se o Deputado Renato Simões tem dificuldade em separar o que é criatura e criador nas figuras de César Vieira e do Idibal, do Teatro “União e Olho Vivo”, também tenho essa dificuldade porque considero-me, hoje, advogado do Idibal Piveta. Fiz parte do Teatro “União e Olho Vivo”. Assistia regularmente aos ensaios do Teatro “União e Olho Vivo”, no terreno do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Atlética, onde é o Detran e onde havia um circo. Ia repetidas vezes assistir à peça Evangelho Segundo Zebedeu. Depois, quando o grupo optou por fazer a peça Rei Momo, também ia assistir ao seu ensaio.

O grupo ia para o Festival de Nancy, para o Festival na Polônia, representando o teatro brasileiro, e um dos atores ficou doente às vésperas da viagem. E o Idibal Piveta pediu-me, porque de tanto eu assistir à peça tinha decorado, praticamente, o texto, que, se fosse possível, para eu substituir o companheiro que estava adoentado, e fui. Acho que fui o ator mais rápido em formação do Teatro “União e Olho Vivo”. Só fiz apresentação no exterior. Eu digo que sou um ator de carreira internacional, porque, quando voltei ao Brasil, pedi a ele que me liberasse da missão.

Acho que o Idibal Piveta é um militante, é um sonhador. É uma pessoa que acredita no sonho, que torna as coisas possíveis, que tem uma persistência invejável de ficar todos os fins de semana apresentando o Teatro “União e Olho Vivo” como forma pedagógica de conscientização política do nosso país. Foi assim no Evangelho Segundo Zebedeu, Rei Momo, Bumba-Meu-Boi e Queixada, que está sendo assim agora e assim será.

Por isso, acho extremamente meritório que o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, que é conferido aos lutadores pelos direitos humanos do nosso país pela Assembléia Legislativa, este ano seja conferido ao Teatro “União e Olho Vivo”. Sou o que sou hoje, quer como advogado, quer como militante político. O que sou devo aos ensinamentos, à companhia e à parceria do Idibal.

Quero registrar também, por fim, que o Teatro “União e Olho Vivo” o Governo Luiza Erundina concedeu o terreno para que vocês pudessem ter uma sede estável e permanente. Acho que é um reconhecimento, naquela época, ao Idibal, do município de São Paulo e do povo de São Paulo, ao trabalho seu no Teatro “União e Olho Vivo”. Não há possibilidade de separar a criatura e o criador, como dialeticamente diz que ambos se vitaminam: César Vieira, Idibal Piveta no Teatro “União e Olho Vivo”. Todos eles são uma só pessoa. Todos eles são instrumentos de luta para a liberdade do povo brasileiro.

Agora que acabei de falar, para vocês verem como é que lembramos ainda, quero prestar uma homenagem a ele. Com a peça Rei Momo, era feita a abertura do Baile de Gala do Teatro Municipal por mim e por uma moça chamada Laura. A fala inicial, era a seguinte: “Muito boa noite! Senhoras e senhores, abre-se, neste instante, o Grande Baile de Gala do Teatro Municipal!” (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Vamos abrir o baile. Estamos em dúvida se o Deputado Luiz Eduardo se retirou do grupo ou foi demitido depois desse tipo de apresentação. Mas, enfim, como isso não vem ao caso e a memória histórica ainda vai escrever essa página, vamos convidá-lo para juntos entregarmos, ao Idibal Piveta, o seguinte pergaminho: “A Mesa Diretora e a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, com fundamento na Resolução nº 779, de 18 de dezembro de 1.996, conferem o 7º Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao Teatro Popular “União e Olho Vivo” pela sua atuação cotidiana em defesa dos direitos humanos e culturais, e dos restabelecimentos da democracia ao longo das décadas de luta pela cidadania.

São Paulo, 12 de dezembro de 2003. Deputado Sidney Beraldo, Presidente; Deputado Emidio de Souza, 1º Secretário; Deputado José Caldini Crespo, 2º Secretário; Deputado Renato Simões, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.” (Palmas.)

 

* * *

 

-              É feita a entrega do Prêmio Santo Dias.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Passarei a palavra agora ao Idibal Piveta, depois ao César Vieira, para que se manifestem. Mas, como a advocacia e o teatro sempre foram entre outras dimensões a tribuna da qual se falou para este país sobre liberdade, democracia, participação popular, justiça, resgate da memória histórica e socialismo, tantas coisas que esse grupo possui no seu passado e no seu presente, o único lugar que poderíamos dar ao Idibal, para que falasse em nome do Teatro “União e Olho Vivo”, é justamente a tribuna da Assembléia Legislativa de São Paulo.

 

O SR. IDIBAL PIVETA - Querido amigo, Deputado Renato Simões, companheiro Antonio Mentor, Deputado Estadual, Secretário do Verde e do Meio Ambiente, Adriano Diogo, amigo e companheiro Luiz Eduardo, Belizário dos Santos Júnior, Jair e todos os companheiros que aqui estão, gostaria de falar de improviso, como normalmente faço, mas como isto aqui é registrado e vai ser publicado no Diário Oficial, a gente raramente tem oportunidade de estar do lado das coisas oficiais, vou falar o que escrevi.

Antes, gostaria de pedir licença ao Belizário e ao Luiz Eduardo, para relembrar vários fatos que ocorreram na época em que os dois trabalhavam no grupo “União e Olho Vivo”. Eles eram tão galãs, tão atraentes para as meninas, que a gente tinha que mudar a cena, para que as garotas não ficassem olhando apenas para os dois, em vez de prestar atenção no espetáculo. Com relação ao Adriano Diogo, meu companheiro de cela por três meses no DOI-Codi, também quero contar uma piada de que ele não gosta muito, mas que tem visos de verdade. Ficamos presos juntos, na mesma cela, nesses três meses.

Faço um apelo a todos os Deputados desta Casa. Existe um projeto que fala do Fundo Estadual da Cultura, apresentado suprapartidariamente. Pedimos a atenção da Casa, que é a transferência do projeto do Fomento ao Teatro na Capital de São Paulo para o Fomento ao Teatro no Estado de São Paulo. O prazo para a apresentação desse projeto, ao que consta, encerra-se na segunda-feira. Queremos pedir a todos os representantes do povo paulistano e paulista que vejam com maior carinho o projeto relativo ao Fundo Estadual de Cultura.

“Querido amigo Deputado Renato Simões

 

Com uma frase de nossa mestra Luiza Barreto Leite quero começar minhas palavras nesta noite:

"O União e Olho Vivo vai sulcar sempre os mares da fantasia, desfraldando a bandeira da utopia!"

Há exatamente um ano, neste mesmo local, participávamos do 6º Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, saudando os companheiros batalhadores do Fórum dos ex-presos políticos de São Paulo, presidido por Rafael Martinelli.

Hoje, somos nós os agraciados pela mesma honraria que, dignifica no seu nome, o corajoso companheiro Santo Dias, que ofereceu sua vida pela causa da liberdade e da justiça social.

O Teatro Popular União e Olho Vivo vai completar 38 anos de resistência.

Não sei se é o grupo Teatral mais antigo do Brasil, mas é - sem dúvida - o que há mais tempo persegue o ideal de que a ética deve caminhar sempre junto com a estética na busca de uma arte popular, independente e participante.

Compartilhamos este prêmio com toda a categoria artística - que nos anos de chumbo da ditadura - se sacrificou, como a Diretora Heleny Guariba, no anseio de uma sociedade, melhor e mais equânime!

Foi no bar do Zé, no Largo de São Francisco, em meados da efervescente década de 60, que os então muito jovens: Paulo Gerab, Miguel Aith, José Carlos Roston, Sérgio Pimentel, Nerinei Moreira me acompanharam no lançamento das primeiras idéias de criação de um Teatro Popular na Faculdade de Direito da USP.

Assim nasceu, em homenagem ao C.A. XI de Agosto o "Teatro do Onze", que logo depois recebeu o nome de "União e Olho Vivo" que mantém até hoje.

A exemplo dos "maquis" e "partisans", símbolos da resistência contra a barbárie, os companheiros da TUOV caminharam, incansáveis, anos a fio, pelas ruas barrentas dos bairros populares da grande São Paulo.

Foram incontáveis as favelas, vilas misérias, barriadas e comunidades populares percorridas pelas nossas troupes ...

Içamos nossos cenários mambembes nos quatro cantos da Metrópole: em Osasco, Guarulhos, Itaim, Hermelino Matarazzo, Vila Ré, Vila Dalila, Diadema, Jaraguá...

E nas Vilas Prudente e em outras não tão prudentes...

E nas Vilas Felicidade e em outras não tão felizes assim....

Foram mais de 3.000 espetáculos para um público aproximado de 3.500.000 pessoas!

E entre esses milhares de assistentes tivemos:

- Perez Esquivel - Prêmio Nobel da Paz

- Luis Inácio Lula da Silva

          - Mario Benedetti

          - Florestan Femandes

          - Haydeé Santamaria

          - Nicolás Guilen

          - Luis Carlos Prestes

          - João Paulo II

          - Ernesto Cardenal

          - Antônio Candido

          - Clóvis Moura

          - F.H.C

          - Zé Dirceu

          - Fidel Castro

          E muito mais...

Mas, acima de tudo, o que nos enche de orgulho e satisfação é a presença continua, em nossas apresentações, dos Juãos e Zés, das Juanas e Marias com quem - como disse Paulo Freire - aprendemos  a trabalhar com o "ARADO" e mostramos como se escreve a palavra "arado". Foi e continua sendo uma caminhada difícil.

Tivemos a censura sempre no nosso encalço.

Nossa sede - no Bom Retiro - foi invadida e depredada.

Várias vezes os poderes constituídos nos ameaçaram de expulsão.

Em 1973, tivemos vários dos nossos presos nas masmorras do DOI CODI, do DOPS e do Presídio do Hipódromo.

Alguns amigos nos deixaram para sempre:

Luiza Barreto Leite, atriz e escritora.

Tatu, ator e filósofo

Os maestros: Carlos Castilho, Vitor Bortolluci e Samuca.

Thomaz e Maria Aparecida Pivetta e os "gurus" de ontem, hoje e sempre: Plínio Marcos, Miguel Aldrovando Aith e José Carlos Roston.

Para eles repetimos uma "fala" de nosso Primeiro espetáculo "O Evangelho Segundo Zebedeu":

"Sou como a soca da cana

me cortem que eu nasço sempre!"

E o T UOV fez presente:

Na luta pela anistia

Na Campanha pelas Diretas já

Na luta pela volta dos banidos

Foi o único grupo de Teatro que - burlando a vigilância - se apresentou para os presos políticos de Barro Branco.

Igualmente foi a primeira entidade artística brasileira a se exibir em Cuba, Nicarágua, Peru, Polônia e Angola para os combatentes da revolução.

E a jornada continua.

Com nosso atual espetáculo "João Cândido do Brasil - A revolta da Chibata", com mais de 50 apresentações já agendadas nas comunidades populares e a comemoração do nosso 38º aniversário nos dias 27 e 28 de fevereiro de 2004 no Teatro Municipal de São Paulo.

E a trajetória do TUOV segue:

Com a ONG - Meninos do Morumbi

Com a Escola de Samba Camisa Verde e Branco e

com o Fonteatro Olho Vivo do Jaraguá....

E encerrando, apresentamos nossos agradecimentos a todos os irmãos, muitos aqui presentes, que nos ajudaram nessa jornada e em especial, aos participantes da TUOV de hoje:

Nerinei Moreira, fundador e orientador permanente,

Ana Lúcia e Elieser, co-fundadores e presenças mercantes;

Graciela Rodriguez, atriz e figurinista, companheira e inspiradora e ao Cícero, Will, Oswaldo, Catia, Gil, Paloma, Cid, Raul, Alice e Lucas César, nascido no Tuov...

Todos eles equilibristas do sonho que, pelas suas formações autenticamente populares, dão total autenticidade ao nosso trabalho.

Amigos! Companheiros!

Sei eu e sabem vocês que hoje, aqui , nesta noite, nesta sala:

- "Choramos nossos mortos, lambemos nossas feridas e reverenciamos companheiros....

Mas, acima de tudo, levantamos nossos estandartes

- Talvez sujos e rotos e içamos nossas bandeiras de permanente e santa rebelião!"

E participantes e vigilantes

Vigilantes e participantes

Acompanhamos - com muita esperança o decolar de um Brasil novo que desejamos mais igual e mais justo.

Finalizando prestamos nossa homenagem ao companheiro Waldemar Tabaldi - 7º Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos dedicando a ele o Hino do Teatro Popular União e Olho Vivo, com musica de José Maria Giroldo:

União Olho Vivo - Pé Ligeiro

Chegou o povo primeiro

Independência ou morte

Liberdade não se tira na sorte

É com o pé - É com a mão

É com a cabeça e o coração

É na Rua - É na Praça

É no peito - É na raça

É na rua - É na Praça

É com a cara - É na marra.

 

César Vieira (Idibal Almeida Pivetta)

São Paulo, 12 de Dezembro de 2003 - Assembléia Legislativa”

 

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- Manifestação em plenário. (Palmas.)

 

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- É entoado um número musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Agradecemos toda a animação do Teatro “União e Olho Vivo” nesta noite, que, com certeza, ficará marcada nesta Assembléia Legislativa.

Para que tenhamos a dimensão deste ato, antes de encerrá-lo, gostaria de ler a seguinte mensagem que recebemos hoje de uma pessoa que não pôde comparecer: “Fiquei honrado com o convite para participar da outorga do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao Teatro Popular ‘União e Olho Vivo’ e ao Prefeito Waldemar Tebaldi. A Assembléia Legislativa de São Paulo, com esse título, cruza novamente os caminhos do teatro popular e do movimento operário.

Desde o seu nascimento, em 1966, no Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da USP, a ‘União e Olho Vivo’ participa ativamente da vida do País e do movimento social e democrático. Esta outorga faz justiça ao movimento cultural e à pessoa que foi Santo Dias, um operário cristão, nascido em Terra Roxa, interior de São Paulo.

Santo Dias teve intensa participação nos movimentos que lutavam pela cidadania, como a Pastoral Operária, o Movimento Contra a Carestia e a luta sindical, no Sindicato dos Metalúrgicos, onde foi barbaramente assassinado em 1979, transformando-se em símbolo do movimento.

A trajetória do ‘União e Olho Vivo’ é digna do recebimento deste prêmio, pois, desde sua primeira peça até os dias de hoje, seu público preferencial estava não em palácios ou casas decoradas de ouro. O ouro que buscavam estava nos olhos sofridos e apertados dos pobres das periferias, casas paroquiais e jovens praticantes do futebol de várzea. Aliás, é bom lembrar que uma reflexão importante do grupo foi a partir da apresentação da peça ‘Corinthians Meu Amor’, que redirecionou o grupo para platéias além da acadêmica.

Não estou presente, por compromissos anteriormente assumidos, mas transmito, com os mais fortes sentimentos e boa lembrança que o companheiro Santo Dias me traz, meus parabéns ao grupo teatral ‘União e Olho Vivo’, ao Prefeito Tebaldi e a todos que fizeram sua belíssima história ser respeitada por todos os amantes da cultura e da justiça no País.

Brasília, 12 de dezembro de 2003

Luiz Inácio Lula da Silva - Presidente da República”

Com certeza, se foi a primeira vez que o Presidente Lula viu teatro na vida, ele não esqueceu, o que torna essa mensagem, além de um reconhecimento oficial do governo brasileiro à trajetória desse grupo e do Prefeito Tebaldi, em um gesto afetivo de todos aqueles operários, trabalhadores e trabalhadoras, que passaram pelas platéias do “União e Olho Vivo”, colhendo os frutos do seu trabalho.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa - em particular à TV Assembléia, que transmitiu essa solenidade, na pessoa do seu diretor James Rubio e de toda sua equipe -, àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade e convida a todos para um coquetel e para a apresentação musical “Espelho Meu”, pelo Teatro Popular “União e Olho Vivo”, no Salão dos Quadros e no Salão Nobre da Presidência, no 2o andar.

Está encerrada a sessão.

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-         Encerra-se a sessão às 22 horas e 28 minutos.

 

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