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19 DE JUNHO DE 2013

089ª SESSÃO ORDINÁRIA

 

Presidentes: JOOJI HATO, ULYSSES TASSINARI, ANDRÉ DO PRADO e SAMUEL MOREIRA

 

Secretário: WELSON GASPARINI

 

RESUMO

PEQUENO EXPEDIENTE

001 - JOOJI HATO

Assume a Presidência e abre a sessão. Cumprimenta a população de Ribeirão Preto pelo aniversário do município, comemorado nesta data.

 

002 - RAMALHO DA CONSTRUÇÃO

Tece comentários acerca de visita, ontem, ao município de Taboão da Serra. Elogia cooperativa da cidade, que emprega, diretamente, 750 trabalhadores. Discorre sobre os protestos, no Brasil, com ênfase ao movimento na Capital paulista. Critica a atitude de alguns manifestantes, de cobrirem o rosto, com o intuito de vandalizar. Repudia ação de grupo que ateou fogo em carro de emissora de televisão, bem como ao que promoveu a destruição da fachada da Prefeitura.

 

003 - WELSON GASPARINI

Reflete sobre o movimento popular que ocorre no País. Manifesta apoio aos protestos, mas critica a minoria de jovens que pratica o vandalismo. Defende a atuação da polícia no combate aos excessos de desordeiros. Cita manchete sobre o envio de 264 militares do Exército Brasileiro para missão no Líbano. Critica decisão do governo de enviar 2 mil soldados para ajuda humanitária ao Haiti. Opina que as tropas deveriam trabalhar em favor dos brasileiros.

 

004 - ORLANDO BOLÇONE

Registra solidariedade pelo momento histórico pelo qual passa o Brasil. Discorre sobre a regularização fundiária urbana, considerada um dos maiores desafios das cidades para solucionar problemas de loteamentos clandestinos e irregulares. Fala sobre o Programa Estadual Cidade Legal, cujo objetivo é implementar, agilizar e desburocratizar as ações e os processos de regularizações fundiárias de núcleos habitacionais. Informa que 441 municípios paulistas já aderiram ao programa e que cerca de 10 milhões de pessoas já teriam sido beneficiadas.

 

005 - CARLOS GIANNAZI

Faz reflexão sobre os protestos populares, os quais considera uma celebração da cidadania. Fala da importância dos atos, organizados pelas redes sociais. Lembra movimentos do passado. Destaca o ato ocorrido no Largo da Batata, em São Paulo, e o grande número de participantes. Avalia como intransigente a postura do governador Geraldo Alckmin e a do prefeito Fernando Haddad, que não têm atendido às reivindicações da população. Repudia o vandalismo e a violência de alguns grupos.

 

006 - MARCOS MARTINS

Tece comentários sobre as recentes manifestações no País. Destaca os objetivos do protesto. Alerta para a falta de liderança constituída. Fala sobre a cobertura da mídia, com ênfase aos prejuízos sofridos por emissoras e às agressões contra jornalistas. Ressalta os problemas no transporte público.

 

007 - ULYSSES TASSINARI

Assume a Presidência.

 

008 - JOOJI HATO

Lembra sua participação no movimento "Diretas Já". Elenca possíveis motivos que levam os jovens a protestarem. Lamenta os contrastes sociais no Brasil. Cita dificuldades de acesso à saúde pública, enfrentadas pela população carente. Cita o incêndio ocorrido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que vitimou mais de 200 jovens. Defende as reformas tributária e política. Apoia os movimentos populares, mas repudia a prática do vandalismo.

 

009 - OLÍMPIO GOMES

Comenta sua participação em mobilização, ontem, iniciada na Praça da Sé. Defende a intervenção policial em situações que denotem o fim da ordem, a destruição do patrimônio público e privado, a agressão a pessoas e o vandalismo premeditado. Manifesta apoio à mobilização cívica. Afirma que criminosos estão infiltrados no movimento apenas com o intuito de cometer crimes. Apela aos manifestantes que denunciem os que praticam tais atos.

 

010 - Presidente ULYSSES TASSINARI

Convoca, para hoje, reuniões conjuntas das seguintes Comissões: de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 15 horas e 35 minutos; e as de Constituição, Justiça e Redação, Administração Pública e Relações do Trabalho e de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 15 horas e 40 minutos.

 

GRANDE EXPEDIENTE

011 - ADRIANO DIOGO

Pede para que pessoas encapuzadas sejam banidas dos movimentos que poderão ocorrer em São Paulo. Considera esses indivíduos como agentes de provocação infiltrados. Questiona a razão de não ter havido repressão ao ato de vandalismo no prédio da Prefeitura. Comenta que o ato teve a intenção de prejudicar o movimento. Lê nota, da Comissão da Verdade Estadual. Lamenta o pedido de demissão de membro da comissão. Menciona que, a seu ver, os atos criminosos da manifestação têm origem na ditadura militar e o intuito de criar clima de desespero na população.

 

012 - PEDRO TOBIAS

Tece consdierações quanto à importância da discussão das causas das manifestações ocorridas no País. Mostra-se insatisfeito com a Saúde, a Educação, a Segurança e o transporte público no Brasil. Considera que os altos impostos servem para sustentar a máquina pública. Recorda que, quando jovem, também participava de manifestações. Comenta que atos de vandalismo chamam mais atenção. Menciona que não se pode julgar o movimento pelas ações de minoria extremista. Clama aos governantes para que se reúnam, a fim de encontrar soluções para a questão do transporte em São Paulo. Questiona os gastos com a Copa do Mundo de Futebol, quando outras áreas sociais necessitam de investimentos. Afirma elevado o tempo de espera para tratamento de saúde no SUS. Comenta que os valores dos impostos causam revolta da população (aparteado pelo deputado Adriano Diogo).

 

 

013 - ANDRÉ DO PRADO

Assume a Presidência.

 

014 - ALENCAR SANTANA BRAGA

Faz reflexão sobre o momento em que vive o País e os objetivos das manifestações. Apela para que esta Casa proponha soluções que possam atender às reivindicações da sociedade. Discorre sobre a importância da manifestação popular. Considera que as ações de repressão do Governo foram uma tentativa de desqualificação do movimento. Comenta ação do governo federal que reduziu tributos incidentes sobre a tarifa do transporte público. Critica o governador Geraldo Alckmin por ser contrário ao programa de redução de energia elétrica, proposto pela presidente Dilma Rousseff. Defende a extensão das linhas de trens e metrô, e a implantação do bilhete único a outras cidades da Região Metropolitana de São Paulo. Convida os presidentes do Metrô, da CPTM e da Comissão de Transportes para discutir a questão das tarifas, nesta Casa. Combate os atos de vandalismo ocorridos nas manifestações.

 

015 - JOSÉ BITTENCOURT

Considera que falta fundamento legal ao pedido da perda de mandato do vice-governador do estado de São Paulo. Reforça que não há incompatibilidade na acumulação de cargos. Cita artigos das constituições federal e estadual que embasam sua tese. Afirma que o vice-governador apenas substitui o governador em sua vacância. Elogia a competência de Guilherme Afif em prol das micro e pequenas empresas. Considera ser esse um nicho empresarial importante na geração de empregos. Responde a aparteante sobre a questão da acumulação de cargos do vice-governador (aparteado pelo deputado Carlos Giannazi).

 

016 - CARLOS GIANNAZI

Para reclamação, critica os argumentos jurídicos do deputado José Bittencourt. Cita que a população discorda com a acumulação de cargos da autoridade.

 

017 - GERSON BITTENCOURT

Faz reflexão sobre as mobilizações dos últimos dias. Ressalta a necessidade de avaliação e construção de soluções para atender às reivindicações da população. Combate atos extremistas de vandalismo. Considera que essas atitudes foram isoladas e não representam o movimento. Menciona que as mobilizações são oportunas, pois as tarifas do transporte público são altas e os serviços são de baixa qualidade. Discorre sobre os investimentos do governo federal em prol da mobilidade urbana. Apela para que o governo estadual reduza o ICMS do combustível, a fim de diminuir o custo do transporte público.

 

018 - Presidente ANDRÉ DO PRADO

Registra a presença dos vereadores Vanderlei e José Ailton, da Câmara Municipal de Pedregulho, com o deputado Gilson de Souza.

 

019 - ALCIDES AMAZONAS

Pelo art. 82, discorre sobre as manifestações populares em curso. Cita sua participação no ato, ocorrido na Praça da Sé, em 18/06. Combate os que se aproveitaram do evento, para atos de vandalismo. Elogia a atitude pacífica da maioria. Comenta textos jornalísticos sobre o assunto. Combate declarações de que a redução da tarifa poderia gerar a demissão dos cobradores de ônibus. Cita nota do prefeito Fernando Haddad sobre o tema.

 

020 - Presidente SAMUEL MOREIRA

Assume a Presidência.

 

021 - TELMA DE SOUZA

Pelo art. 82, comenta as mobilizações em todo o País. Lembra atos do dia 13/06. Considera truculenta ação da Polícia Militar, ao contrário da mobilização de 17/06. Argumenta difuso o movimento, que atingiu repercussão internacional. Cita manifestações contra a mídia. Comenta indicação do PT sobre a redução da tarifa de transporte público. Considera que o apelo da população é por reforma política-eleitoral. Combate o vandalismo em frente à Prefeitura de São Paulo. Fala da natureza distinta das várias mobilizações.

 

022 - CARLOS GIANNAZI

Pelo art. 82, manifesta-se perplexo com a postura dos deputados desta Casa, no dia de hoje, ante à mobilização geral da sociedade, que afirma histórica. Argumenta que o movimento, para além da redução das tarifas de ônibus, tem outras reivindicações e um novo paradigma político. Considera que o número de participantes era maior do que o divulgado pela mídia. Afirma que os deputados não entenderam o clamor popular. Recorda discussão na Comissão de Justiça sobre o acúmulo de cargos pelo vice-governador Afif Domingos. Afirma que não teve o direito de falar. Questiona o deputado Campos Machado sobre a PEC nº1, que trata do Ministério Público, similar à PEC federal de nº 37. Combate projeto que privatiza próprios públicos. Lembra que manifestações poderão se deslocar para esta Casa.

 

023 - CAMPOS MACHADO

Pelo art. 82, combate o pronunciamento do deputado Carlos Giannazi. Lembra entrevistas do parlamentar, em 19/06. Cita correspondência eletrônica de promotor, divulgada na mídia, favorável a projeto deste orador, que trata do Ministério Público. Fala da representação sindical. Discorre sobre cidade com epidemia de dengue, cujo prefeito teve que fazer licitação rápida para resolver o problema. Afirma que há abusos por parte do MP.

 

024 - BETH SAHÃO

Pelo art. 82, repercute as manifestações populares em curso. Afirma que as reivindicações são difusas. Cita os propósitos do Movimento Passe Livre. Questiona determinadas ações da Polícia Militar sobre o episódio. Comenta requerimento, aprovado na Comissão de Direitos Humanos, para esclarecimentos a esta Casa, por parte de comandante militar. Tece considerações sobre audiência pública, da Comissão de Segurança Pública, prevista para a próxima semana. Discorre sobre propostas para a redução da tarifa de transporte público. Cita ações do governo federal nessa direção, como a diminuição de impostos. Fala de sua indignação, como psicóloga, pela aprovação, na Comissão de Direitos Humanos federal de projeto que trata da "cura gay".

 

025 - ADRIANO DIOGO

Para comunicação, faz projetar convite, para ato sobre "Merlino Presente", na USP, dia 25/06. Cita evento da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, nesta Casa, sobre o papel do jornalista na cobertura de manifestações; e no dia 25/02, promovido pelo deputado Ramalho da Construção, o I Simpósio Internacional de Segurança Cidadã.

 

026 - WELSON GASPARINI

Pelo art. 82, argumenta que as mobilizações nacionais devem ter consequência. Acrescenta que a classe política deve dar resposta satisfatória aos reclamos da população. Questiona argumentos de pessoas que não queriam a participação de partidos e políticos nos eventos. Lamenta o desinteresse da população em relação à política e por não fiscalizar a ação de seus eleitos. Lembra a abstenção no processo eleitoral, bem como o esquecimento dos eleitores sobre os seus candidatos. Propõe reforma política-eleitoral, bem como tributária. Repudia o custo das eleições. Combate o custo dos remédios.

 

027 - Presidente SAMUEL MOREIRA

Passa a responder Questão de Ordem, suscitada pelo deputado Alex Manente, sobre o acúmulo de cargos pelo vice-governador Guilherme Afif Domingos. Recorda proposta do deputado Carlos Giannazi nesta direção. Cita atribuições deste Legislativo sobre a questão. Acrescenta que aguarda definição de Comissões desta Casa sobre a matéria.

 

ORDEM DO DIA

028 - Presidente SAMUEL MOREIRA

Convoca sessão extraordinária, a realizar-se hoje, com início dez minutos após o término desta sessão. Coloca em votação e declara sem debate aprovados requerimentos de urgência: da deputada Rita Passos, ao PL 217/13; do deputado Beto Trícoli, ao PL 333/12; do deputado Alex Manente, ao PL 190/13; do deputado Estevam Galvão, ao PL 308/12; do deputado Itamar Borges, ao PL 355/12; do deputado Carlos Bezerra Jr., ao PL 64/13; do deputado Luiz Cláudio Marcolino, ao PL 328/13; e do deputado Luiz Cláudio Marcolino, ao PL 232/13.

 

029 - ESTEVAM GALVÃO

Solicita a suspensão dos trabalhos até as 18 horas e 15 minutos, por acordo de lideranças.

 

030 - Presidente SAMUEL MOREIRA

Anota o pedido. Convoca para hoje, reuniões conjuntas das seguintes Comissões: de Constituição, Justiça e Redação, de Saúde e de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 17 horas e 35 minutos; de Ciência e Tecnologia e de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 17 horas e 40 minutos; de Constituição, Justiça e Redação, de Educação e Cultura, às 17 horas e 45 minutos; de Constituição, Justiça e Redação, de Saúde e de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 17 horas e 50 minutos; de Constituição, Justiça e Redação, de Segurança Pública e Assuntos Penitenciários e de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 17 horas e 55 minutos; de Constituição, Justiça e Redação, de Saúde e de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 18 horas; de Constituição, Justiça e Redação, de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e de Finanças, Orçamento e Planejamento, às 18 horas e 05 minutos. Suspende a sessão às 17h32min; reabrindo-a às 18h18min. Coloca em votação requerimento, do Deputado Luiz Cláudio Marcolino, de alteração da ordem do dia.

 

031 - CAMPOS MACHADO

Encaminha a votação do requerimento de alteração da ordem do dia, em nome do PTB.

 

032 - CARLOS GIANNAZI

Para reclamação, combate os argumentos do deputado Campos Machado sobre as mobilizações, ocorridas em 18/06. Afirma que a população fez com que os governos estadual e municipal recuassem da decisão sobre o aumento das tarifas de transporte público. Acrescenta que as reivindicações da população são mais amplas.

 

033 - CAMPOS MACHADO

Para reclamação, questiona os argumentos do deputado Carlos Giannazi. Lembra atos de vandalismo, praticados durante as mobilizações de 18/06. Afirma ser favorável às ações pacíficas.

 

034 - OLÍMPIO GOMES

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome do PDT.

 

035 - BARROS MUNHOZ

Para comunicação, discorda da afirmativa do deputado Olímpio Gomes de que houve ordem do governador Geraldo Alckmin e do secretário da Segurança Pública Fernando Grella para que a polícia não interviesse nas manifestações quando necessário. Diz ser Geraldo Alckmin um político experiente. Afirma que ele jamais daria uma ordem desta, assim como o secretário Fernando Grella. Destaca o papel deste último no andamento das manifestações. Pede que as manifestações sejam sempre pacíficas e em favor da democracia.

 

036 - CARLOS GIANNAZI

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome do PSOL.

 

037 - Presidente SAMUEL MOREIRA

Convoca os Srs. Deputados para a sessão ordinária de 20/06, à hora regimental, com Ordem do Dia. Lembra a realização da sessão extraordinária, com início às 19 horas e 10 minutos de hoje. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Jooji Hato.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOOJI HATO - PMDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Convido o Sr. Deputado Welson Gasparini para, como 1º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da matéria do Expediente.

 

O SR. 1º SECRETÁRIO - WELSON GASPARINI - PSDB - Procede à leitura da matéria do Expediente, publicada separadamente da sessão.

 

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- Passa-se ao

 

PEQUENO EXPEDIENTE

 

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O SR. PRESIDENTE - JOOJI HATO - PMDB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, esta Presidência parabeniza a cidade de Ribeirão Preto no dia de seu aniversário e deseja, em nome de todos os deputados, que os cidadãos ribeirão-pretanos tenham muita saúde e muito desenvolvimento, e que sempre conte conosco, com a Assembleia Legislativa e este Deputado.

Srs. Deputados, Sras. Deputadas, tem a palavra o primeiro orador inscrito, nobre Deputado Rui Falcão. (Pausa) Tem a palavra o nobre deputado Luiz Cláudio Marcolino. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Mauro Bragato. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Edinho Silva. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Ramalho da Construção, pelo tempo regimental.

 

O SR. RAMALHO DA CONSTRUÇÃO - PSDB - Sr. Presidente em exercício, nobre deputado Jooji Hato, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, telespectadores da TV Assembleia, funcionários desta Casa, venho à tribuna para dizer que ontem pela manhã estive na cidade de Taboão da Serra em um canteiro de obras de uma cooperativa que já construiu 6.000 unidades em Taboão da Serra e tem mais 2.000 unidades em construção. São oito mil unidades. Junto a esse mesmo empreendimento, há um centro comercial com 487 salas e 148 lojas. Ainda junto a esse empreendimento tem um colégio importantíssimo que será instalado lá. Estive conversando com 750 trabalhadores; aquela cooperativa emprega 750 pessoas de forma direta, e 2.200 pessoas de forma indireta.

E vemos por aí o pessoal fazendo passeata por uma série de motivos e com toda a razão. Dentre os motivos dessa mobilização, temos falta de moradia; o Brasil tem um déficit habitacional de cerca de 7 milhões de moradias; cerca de 18 milhões e setecentas mil pessoas não têm casa para morar, e vemos o Governo titubeando aqui e ali nos projetos em geral.

Daí essa explosão de mobilização por todo Brasil, diga-se de passagem, que é justa e legítima. Mas tem uma coisa que nos preocupa, a mim particularmente, que é o vandalismo cometido pelas pessoas que se infiltram no movimento para roubar, assaltar, quebrar, saquear. Vemos que se trata de um grupo pequeno; vê-se pelas imagens mostradas pela televisão que é um grupo muito pequeno. Então, é preciso estudar-se como fazer para tirar aquele grupo pequeno desse movimento. É verdade que a Polícia já identificou vários desses elementos - estava ouvindo há pouco na Rádio CBN - sendo que um pouco mais de sessenta pessoas já foram presas.

Aliás, não sei quem é o autor da lei que diz que motorista de moto tem que retirar o capacete quando parar num posto para abastecer a motocicleta. Mas é importante, nobre deputado - não sei se essa lei é de sua autoria; até pedi para pesquisarem isso para mim desde ontem - fazermos uma emenda para que todos os movimentos sociais, sendo legítimos e de direito, mas se tiver marginais com a cara encoberta - porque se o indivíduo cobre o rosto é porque é marginal, é um criminoso, é um vândalo - que ele seja imediatamente retirado. Precisamos até ver aonde é que é essa instância para que ele respondesse por isso; quer dizer, não dá para se admitir isso.

Eu que sou do movimento sindical, eu que enfrentei todo o regime militar, que vi muitos políticos serem cassados e caçados - cassado o direito político e caçado depois pelo regime - permitir que meia dúzia de vândalos, de criminosos irresponsáveis se infiltrem no movimento. E deu para perceber que quem ateou fogo na prefeitura de São Paulo que é um prédio público, quem depredou uma base da Polícia Militar, coisa pública!

Quem incendiou carro de uma emissora de TV que estava trabalhando, informando as pessoas, foi um número muito pequeno de vândalos que deveria ter um tratamento totalmente diferente, no rigor da lei é claro.

Precisávamos que os serviços de inteligência, todos eles, a Polícia Civil, a Polícia Militar e a Polícia Federal identifiquem imediatamente esses vândalos, baderneiros. Acredito que os próprios líderes do movimento deveriam, democraticamente, pedir para que essas pessoas se retirassem.

Comandei vários movimentos em São Paulo. Lembro-me de que no ano de 1994, em São Paulo, o setor da construção civil ficou 11 dias de greve, fizemos caminhadas por toda a cidade, passeatas da Avenida Luiz Carlos Berrini até a Avenida Paulista com mais de 50 mil trabalhadores nas ruas; nossos trabalhadores não quebraram um vidro, não danificaram um carro. Em algumas ocasiões fazemos movimentos com 30, 40, 50 mil pessoas, como no ano passado em que trouxemos ao pátio da Assembleia Legislativa mais de 150 mil trabalhadores que vieram caminhando de vários pontos da cidade, passaram pelo Pacaembu e chegaram à Assembleia Legislativa. Nenhum incidente aconteceu, não havia nenhum vândalo porque trabalhadores não quebram nada, quem está danificando a cidade, em sua maioria, são sujeitos de classe média alta que recebem a tal da mesada no valor que muitos trabalhadores, principalmente os da construção civil, demoram um ano para ganhar.

Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - JOOJI HATO - PMDB - Srs. Deputados e Sras. Deputadas, tem a palavra o nobre deputado Sebastião Santos. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Francisco Campos Tito. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Gerson Bittencourt. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Welson Gasparini.

 

O SR. WELSON GASPARINI - PSDB -  Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, funcionários desta Casa e telespectadores da TV Alesp:

Não posso deixar de falar sobre essas manifestações ora  tomando conta  não apenas da cidade e do estado de São Paulo mas de todo o Brasil. É o Brasil inteiro se movimentando. Fico contente porque,  por várias vezes, usei a  tribuna desta Casa para falar sobre absurdos acontecidos neste País, principalmente no relacionado  à corrupção. E, nesses  pronunciamentos,  eu dizia que me parecia o povo estar  sedado, dormindo, pois não havia reação nenhuma. Isso durou muito tempo mas, agora, surgiu a reação.  Logicamente surgem alguns inconvenientes por falta de lideranças capazes de definir claramente os rumos dessas passeatas atualmente realizadas.

Fico feliz por ver que essas manifestações acontecem em muitas cidades do nosso País. Não preciso nem dizer:  não concordo, abominando-os totalmente,  com os atos de vandalismo. Ontem, procurei observar nas reportagens feitas pelas emissoras, Sr. Presidente, e vi apenas algumas dezenas de pessoas praticando  vandalismo;  milhares de pessoas se conduzem dentro da ordem,  fazendo seus protestos, levando seus cartazes e dizendo tudo aquilo que já deveria ter sido  falado há  muito tempo...

Acho importante essa reação; quanto  à questão do vandalismo, para resolver isso temos a polícia;  quanto aos que estão se manifestando de maneira ordeira, com calma e definindo apenas as suas posições, esses não precisam de  polícia porque  já têm um policial dentro de  cada um deles. Portanto, eles sabem o que é honesto, justo e  deve ser feito em uma manifestação. Mas aqueles desprovidos de força moral, de caráter, aproveitam-se dessas circunstâncias, como aconteceu na noite de ontem, inclusive para roubar lojas e praticar outros crimes. São esses os que estão praticando ações criminosas na maioria das manifestações. 

Então, não é porque alguns desordeiros, alguns vândalos,  maculam essas  manifestações, que vamos criticá-las porque elas são realmente  necessárias e urgentes,

Gostaria de manifestar desta tribuna alguns motivos justificando toda essa revolta por parte do povo que quer um Brasil novo. Veja, senhor presidente,  o que diz a notícia de um jornal:  “O Brasil avalia envio de militares do Exército para missão no Líbano.” Eu acho que poucas pessoas sabem  disso, mas 264 brasileiros já estão lá no Líbano, participando de uma missão de paz naquele país, 261 dos quais compondo  a Força Tarefa Marítima ajudando a  botar ordem naquele país quando nós precisamos é de botar ordem aqui no Brasil.

Agora se fala  em mandar alguns milhares de soldados para o Líbano, enquanto há mais de três anos temos  2 mil militares brasileiros ajudando a botar ordem no Haiti.

Poxa! E a ordem no Brasil?  Mesmo o símbolo da nossa Bandeira sendo  “Ordem e Progresso”, a desordem é generalizada. Em minha cidade, Ribeirão Preto, uma das  mais progressistas do Brasil, em apenas três meses ocorreram mais de quatro mil roubos e assaltos; o trânsito, nela,  está matando duas pessoas por semana.. Essas estatísticas acontecem  em todo o Brasil, porque há muitas coisas erradas...

Então, vamos botar ordem no Brasil antes de pensar  sermos  um país rico e em condições de ajudar a botar  ordem no Líbano ou no Haiti. Esses dois mil soldados há três anos  no Haiti, poderiam estar ajudando na Segurança Pública do nosso País.

Foi realizada uma pesquisa, indagando das pessoas o que elas acham dos políticos. As resposta podem ser resumidas em  três sentimentos preponderantes:  revolta, ódio e raiva. E poderia ser outra coisa? Infelizmente, diante de todos os acontecimentos, dos absurdos ocorridos em nosso pais e  do que vemos na classe política – salvo variadas exceções -  a maioria  faz justiça ao julgamento terrível ora recebido. 

Outra pesquisa mostra que  60% dos eleitores, logo depois das eleições,  não lembravam em quem  tinham votado. Como pode uma coisa dessas?Alguém que não sabe nem em quem votou para prefeito, vereador, deputado, governador, presidente da República  tem direito de reclamar? O número de votos em branco, nulos e por gozação são milhões neste País onde grande parte dos eleitores vota  de qualquer jeito. Fui deputado federal; são 513 deputados em Brasília e, infelizmente,  a grande maioria deixa a desejar, daí a necessidade de uma  reação.

Que essas passeatas, são os meus votos,  possam se transformar em ações objetivas visando colocar ordem para termos progresso no Brasil....

 

O SR. PRESIDENTE - JOOJI HATO - PMDB - Tem a palavra o nobre deputado Enio Tatto. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado André do Prado. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Reinaldo Alguz. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Orlando Bolçone.

 

O SR. ORLANDO BOLÇONE - PSB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, nobre deputado Jooji Hato, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, telespectadores da TV Assembleia, em primeiro lugar quero me solidarizar com as diversas manifestações ocorridas. Temos um novo momento histórico de reivindicações, que até agora parece não ter sido bem compreendido. De todos os matizes desta Assembleia, há uma única preocupação, de que o País avance e que também sejam respeitados os direitos constitucionais.

O assunto que me traz à tribuna é a questão da regularização fundiária urbana, um tema que talvez não venha recebendo o destaque que merece, um dos maiores desafios das cidades. Temos os chamados loteamentos clandestinos e irregulares. Há uma obra chamada “Economia Subterrânea”, de autoria de um pesquisador da América Latina, um peruano chamado Hernando de Soto, que registra a importância das regularizações urbanas para que as pessoas, as mais humildes especialmente, possam ter o seu patrimônio reconhecido. Em todas as cidades do estado de São Paulo, hoje, existem, dado o próprio histórico, loteamentos a serem regularizados, loteamentos que precisam desse espaço, desse avanço. Hoje, no Estado, são 441 municípios que se cadastraram no programa Cidade Legal. Se pegarmos a questão dos loteamentos irregulares, eles socorreram tanto em Mogi, do deputado Gondim, quanto em Itapeva, do deputado Ulysses Tassinari, quanto em Ribeirão Preto, do nosso querido deputado Welson Gasparini, quanto na capital. Um total de 10 milhões de pessoas está em processo de regularização de suas propriedades, graças ao programa Cidade Legal, que junta esforços de prefeituras de 441 municípios do estado de São Paulo e do governo estadual. Tal programa beneficiou 10 milhões de pessoas, 441 municípios e 886 núcleos, que estão regularizados. A conseqüência disso são pessoas que terão acesso ao saneamento básico, famílias que poderão oferecer uma área como garantia de eventual empréstimo. Trata-se de um programa de inclusão social que, às vezes, passa despercebido pela sociedade.

Hoje, tive uma reunião na Assembleia com o Dr. Gabriel Veiga, coordenador do Cidade Legal, que já tem experiência de trabalho no Itesp e na questão da regularização fundiária, tanto urbana quanto rural. O que me surpreendeu, na reunião, foi o custo da regularização de um lote: cerca de 800 reais. É talvez um dos programas de menor custo econômico e de mais alto impacto social no estado de São Paulo, servindo de exemplo para o Brasil. Gostaria de cumprimentar, portanto, o Secretário da Habitação, Silvio Torres, o Dr. Gabriel Veiga e também os municípios.

No caso de São José do Rio Preto, por exemplo, regularizamos 28 loteamentos, beneficiando um número grande de famílias, que ultrapassa mil. É uma política para a qual esta Assembleia teve papel fundamental, ao reduzir, através de uma lei, os custos de registro em cartório.

Agora vivemos um momento de desafios sociais enormes, de diversas facetas, e o desafio habitacional é uma delas Os grandes desafios surgem quando os três entes federativos - os governos federal, estadual e municipal - se unem, e quando as instituições, no caso esta Assembleia, participam. Neste momento, tenho certeza de que, também nesses desafios, a Assembleia vai contribuir decisivamente. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - JOOJI HATO - PMDB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, tem a palavra o nobre deputado Roberto Morais. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Alex Manente. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Vitor Sapienza. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Hamilton Pereira. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Alencar Santana Braga. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado João Paulo Rillo. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado José Zico Prado. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Itamar Borges. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Carlos Neder. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Alexandre da Farmácia. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado José Bittencourt. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Milton Vieira. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Pedro Tobias. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Ed Thomas. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Dilador Borges. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Adilson Rossi. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Antonio Mentor. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, público aqui presente, telespectadores da TV Alesp. As grandes manifestações que estamos vendo no Brasil e, principalmente, aqui em São Paulo - sem dúvidas o epicentro desses acontecimentos - representam um grande fenômeno, um momento histórico na luta política do Brasil. Temos assistido a uma verdadeira festa da democracia, uma ascensão dos movimentos populares e sociais, uma celebração da cidadania ativa e crítica, um renascimento das grandes mobilizações do Brasil. Tivemos, talvez, a última, historicamente falando, em 1992, com o movimento Fora Collor. De lá para cá tivemos uma certa anestesia das grandes mobilizações no País.

Esse movimento é importante porque cumpre um papel histórico fundamental. É o primeiro grande movimento de massas do Brasil, organizado através das redes sociais, e também é um movimento que tem uma organização horizontal, sem líderes. Não existe um líder, todos são líderes ao mesmo tempo.

É um movimento extremamente diferenciado, que tem o seu início com a reivindicação da redução nas altas tarifas dos transportes públicos, não só de ônibus, mas também do metrô e dos trens da CPTM. O movimento consegue ainda aglutinar outros grupos, com outras bandeiras importantes, sobretudo canalizando uma grande insatisfação da população com a política institucional. Não é à toa que essas manifestações se colocam claramente contra os partidos políticos.

Em São Paulo, com todas essas mobilizações, com todo esse clamor popular, com o apelo das massas, com o apoio da opinião pública, o movimento cresce cada vez mais, com milhares e milhares de pessoas marchando nas ruas de São Paulo.

Tenho acompanhado as manifestações, apoiando essa festa da democracia. Por exemplo, na penúltima manifestação, que começou no Largo da Batata, temos a certeza de que havia ali mais de 200 mil pessoas, e não 65 mil, como informou a "Folha de S.Paulo" e, na de ontem, mais de 100 mil pessoas marcharam pela cidade de São Paulo.

Mesmo com todo esse clamor, que vem chacoalhando o Brasil, chacoalhando as instituições, dando recado aos partidos políticos, ao Parlamento, ao Judiciário e ao Executivo, mesmo assim, tanto o governador Geraldo Alckmin como o prefeito Haddad estão tendo uma postura de intransigência: não estão atendendo ao clamor da população pela redução das tarifas. É um absurdo total. Essa é a verdadeira intransigência. Alckmin e Haddad estão tendo uma postura contra o movimento social, não estão atendendo às reivindicações. Estão apenas sinalizando do ponto de vista do diálogo, mas não atendem.

A única forma de diminuir essa tensão social seria, no mínimo, a redução das tarifas do transporte público de São Paulo: metrô, trens e ônibus. Essa seria uma boa sinalização. Caso contrário, teremos somente o crescimento desses movimentos. É importante que eles cresçam cada vez mais, que as pessoas ocupem as ruas, não só aqui em São Paulo, mas nos 645 municípios, pressionando os prefeitos e as Câmaras Municipais.

É fundamental que esse movimento se alastre por todo o Brasil, não o movimento de vandalismo - somos contra o vandalismo e a violência -, mas esse movimento de participação, de ocupação das ruas. O poder público só vai realmente funcionar a favor da população se ele for pressionado, sobretudo com a participação da população e de toda essa movimentação.

Caso contrário, teremos que conviver com absurdos, com a aprovação da PEC 37 e da PEC nº 1, da Assembleia Legislativa, que são as PECs da impunidade, que tentam impedir que os Ministérios Públicos possam investigar os casos de corrupção, de improbidade administrativa; continuaremos com a falta de investimento em Educação pública, em Saúde pública, em Segurança, em Cultura.

É inconcebível, Sr. Presidente, num momento como esse, em que estamos vivendo uma verdadeira mudança de paradigma de mobilização social - no qual a população está indo às ruas para dar um basta a este modelo político e econômico que vivemos - a Comissão de Direitos Humanos tenha, na data de ontem, aprovado um projeto de lei nefasto e danoso, o qual propõe, basicamente, a cura para os homossexuais. É o projeto conhecido como a “Cura Gay”. É um verdadeiro absurdo. Ao mesmo tempo, a Assembleia Legislativa, que deveria ouvir o clamor da população e das ruas, está tentando pautar agora a aprovação do Projeto de lei nº 650, que privatiza espaços e terrenos públicos, inclusive o ginásio do Ibirapuera. A Assembleia legislativa tem de defender os interesses e necessidades da população e não os interesses do poder econômico. Em relação a esse PL, o PSOL já está em obstrução.

Exigimos a redução das tarifas do transporte público: metrôs, trens e ônibus. Fazemos um apelo para que a Prefeitura de São Paulo e o governo estadual cedam e ouçam esse clamor, reduzindo as tarifas. Espero que o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad não sejam intransigentes e atendam às reivindicações da população, porque as manifestações só tendem a aumentar. Participaremos amanhã de mais uma manifestação, que ocorrerá às 17 horas na Av. Paulista, dando todo o apoio e prestando toda a nossa solidariedade a essa verdadeira festa da democracia. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - JOOJI HATO - PMDB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, tem a palavra a nobre deputada Telma de Souza. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Marcos Martins.

 

O SR. MARCOS MARTINS - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, funcionários desta Casa, telespectador da TV Assembleia, estamos acompanhando com bastante atenção todas essas manifestações pelo País, em especial as ocorridas no estado de São Paulo. Observamos um questionamento, um recado ao “status quo”. E não apenas às passagens de ônibus, trens e metrôs, que são caras evidentemente. Mas do que isso, amplia-se agora de forma horizontal, sem que haja uma liderança constituída. São diversos grupos e lideranças gerando situações imprevisíveis.

Não podemos esquecer que não se trata apenas da passagem dos transportes coletivos. Há diversas bandeiras que devemos incluir nesse importante movimento realizado graças à democracia. A população - hoje em uma situação melhor após a “era Lula” - vive uma situação de quase pleno emprego (apenas 5% da população desempregada) e por isso, tem condições de pensar, almejar e reivindicar outras coisas.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Ulysses Tassinari.

 

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Este é um momento importante que a sociedade brasileira está vivendo. Não podemos fechar os olhos para o fato de que a mídia também tem convocado e tentado tomar uma posição relacionada a isso. É evidente que, com o incêndio da viatura da Rede Record, algum questionamento deve ser feito. Dezesseis jornalistas tiveram episódios de agressões, inclusive com tiros de borracha. Desta forma, a mídia repensou o quadro que estamos vivendo. Mas é importante a participação. Precisamos pensar na reforma política também, introduzir esse tema para que as eleições transcorram de outra forma e as manifestações ecoadas pelas ruas do País sejam repercutidas nas eleições que virão.

Sabemos que há uma necessidade da democratização dos meios de comunicação, da melhoria no transporte público de maneira geral. Diversas vezes, falamos que na CPTM há quatro, cinco, seis pessoas por metro quadrado sendo transportadas. Quantas vezes vemos os trens parados, atrasados, com velocidade reduzida. É difícil a semana em que isso não acontece. À medida que o transporte ferroviário do estado de São Paulo é precário, isso também repercute no transporte rodoviário das cidades.

É, portanto, um problema profundo que precisa ser revisto de maneira geral. Esperamos que isso seja levado a sério. Possamos garantir as manifestações públicas, de maneira tranquila. Que não haja quebradeira, nem pau-mandado para ir à frente e arrebentar o patrimônio público, em especial.

Esperamos que as manifestações transcorram de maneira tranquila. Foi um erro o que o Comando da Polícia Militar fez ao impedir o acesso à Av. Paulista. Eles acabaram ganhando a Paulista, que é uma via pública. É importante acompanhar as manifestações e permitir que elas sejam realizadas com respeito e dentro da maior democracia, conquistada nos últimos anos, depois do golpe militar de 1964.

Muito obrigado.

 

O Sr. Presidente - Ulysses Tassinari - PV - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, tem a palavra a nobre deputada Analice Fernandes. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Edson Ferrarini. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Jooji Hato.

 

O SR. Jooji Hato - PMDB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Alesp, logo que comecei minha vida pública, estive na Praça da Sé, nas “Diretas Já!” Meu sonho era que o País mudasse, que não continuasse sob a ditadura que ceifou muitas vidas, uma página negra na história do Brasil.

Lutávamos pela democracia e sonhávamos com ela. Hoje, vivemos a democracia, tanto é que essas manifestações retratam o que os jovens desejam, um futuro melhor. A maioria dos cidadãos mora em casas em más condições, feitas de madeira, com goteiras. Sai para o trabalho e ganha um salário aviltante, que às vezes não consegue suprir as necessidades básicas de uma família. Entra em ônibus superlotados; paga tarifas altas.

Esses cidadãos brasileiros vivem diuturnamente nessas condições. Ele não é reconhecido no trabalho. Não é como em outros países em que há a participação.

No Japão, um funcionário come tão bem quanto o próprio patrão. Não há uma diferença. O Japão é capitalista e a alimentação do patrão é semelhante a do funcionário. No Brasil não é assim, um come filé-mignon e caviar, e outros comem farinha. Às vezes, quando venta, muitos brasileiros não comem nem farinha. Eles passam fome, tem que comer mingau de fubá ou de farinha. É assim o contraste de nosso País.

Esse indivíduo não é bem agradecido e o salário é pequenino. Quando ele precisa de atendimento médico-hospitalar, vai aos hospitais; não pode pagar as consultas; fica na fila; espera seis, sete, oito, dez meses ou mais por uma cirurgia; marca uma consulta para daqui a três meses; marca um exame para daqui a 60, 90 dias; e assim por diante.

O nosso povo está sofrendo muito. Sofre pela violência tão radical, sem precedentes na história. Não podemos andar nas ruas, não sabemos se podemos ir a hospitais, escolas ou ao trabalho. Ou se voltamos vivos para casa. Se vamos a restaurantes, há arrastões. Assim o povo brasileiro está vivendo e convivendo.

Os nossos jovens saem para se divertir em uma balada - como no Rio Grande do Sul, na Boate Kiss - e são queimados vivos, porque as portas foram fechadas. Não há fiscalização, ordem pública, nem organização.

Os nossos jovens saem pelas ruas e não sabem se voltam vivos. Às vezes, um jovem mata o outro. Isso sempre acontece e aconteceu no Belém, na zona leste. O estudante foi assaltado e o assaltante - que era adolescente -, mesmo com o celular na mão, atirou na vítima.

A nossa população paga muitos impostos e é preciso fazer, urgentemente, uma reforma tributária. É preciso também fazer as reformas eleitoral e judiciária. É por isso que existem protestos e manifestações. O Brasil não será igual depois das manifestações. Ele vai mudar como quando eu estava na Praça da Sé, junto com Ulisses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves e vários outros líderes. Eu estava lá pelas Diretas Já e houve a mudança, agora mudará também.

O povo não aguenta mais. Queremos saúde, transporte, emprego e remuneração descentes. As polícias também são vítimas. Houve policiais com braços quebrados e ferimentos. Estudantes também foram feridos. Existem também vândalos nessas manifestações. Não concordamos com os vândalos que assaltaram seis agências bancárias. Foram 69 pessoas detidas. Os vândalos, criminosos e assaltantes têm que ser detidos. Os que querem se manifestar de forma pacífica têm o nosso apoio.

Eles estão vivendo aquilo que vivi há alguns anos, quando participei das Diretas Já. Esse País tem que mudar, não dá para aceitar aquilo que falei há pouco.

Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ULYSSES TASSINARI - PV - Tem a palavra o nobre deputado Olímpio Gomes.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, funcionários, cidadãos que nos acompanham pela TV Assembleia, ontem acompanhei mais uma vez a mobilização da sociedade. Inicialmente, na Praça da Sé; posteriormente, em frente à Prefeitura, e até a mobilização na Av. Paulista. Mas me detive por muito mais tempo nas instalações da Prefeitura de São Paulo e as ruas ao redor. Acompanharei - como tantas vezes já fui -, como representante deste Parlamento e da Comissão de Segurança Pública - deputado Pedro Tobias, que é nosso colega da Comissão - a estrutura da Segurança Pública, que é disponibilizada de forma a garantir o direito constitucional da liberdade de expressão e de reunião. E, se necessário for, intervir quando houver quebra da ordem, vandalismo premeditado, destruição do patrimônio público e privado e agressão às pessoas.

Devo dizer a vocês que é muito bonita a mobilização cívica. Àqueles que fazem os seus ouvidos moucos, de todos os planos de poder, o movimento está tomando a justa medida por dizer nas campanhas eleitorais que reduzirá o preço das passagens. E depois ver o aumento invés da redução.

A população se aborreceu não com a questão dos 20 centavos - isso é simbólico. Encontrei na manifestação senhores da nossa geração participando com seus filhos ou netos; jovens com a cara pintada - que bonito. Porém, é possível identificar 20 a 50 vândalos e criminosos que não se interessam em manter a harmonia no ambiente. Eles não fazem parte de nenhuma mobilização social, são criminosos infiltrados que estão ali para agredir. Foi destruída uma fachada da Prefeitura Municipal; foi destruído um carro da Record. Eu estava lá ao lado, com os profissionais da imprensa.

Como me dói ver as pessoas serem agredidas por vândalos. Os jovens gritavam “sem violência!”, e os indivíduos continuando a praticar essa violência desordenada. Vi portas de lojas sendo arrebentadas, vândalos entrando na loja e saindo com araras de roupas.

Isso não tem nada a ver com a mobilização por Passe Livre, por nada. Um dos bandidos, líder, já foi identificado. Já me coloquei à disposição para no inquérito, ou num eventual processo na Justiça, servir de testemunha dos atos daquele bandido e de mais alguns deles.

Nós não podemos generalizar, e a postura do aparato policial foi de se colocar no terreno para, inicialmente, garantir a liberdade de reunião e manifestação, mas, no segundo momento, é preciso agir para garantir a integridade dos manifestantes e do patrimônio.

Não podemos partidarizar. A prefeitura de São Paulo não é do PT ou do Haddad, é de todos os munícipes de São Paulo que pagam seus impostos e não podem ter o patrimônio arrebentado. A polícia também não é do governador ou de um partido político, é da população.

Amanhã teremos mais uma mobilização na Av. Paulista, como está havendo em vários locais do País e da cidade. Volto a pedir encarecidamente ao cidadão de bem que participe e, inclusive, ajude a identificar o vândalo e o criminoso, que é uma pequena minoria, mas que pode contaminar o movimento que é mais do que legítimo.

Solicitamos a todos aqueles que fotografaram, testemunharam ou que venham a testemunhar atos de barbarismo, selvageria, agressão, destruição de patrimônio, apropriação de bens públicos e privados que denunciem para que eles sejam processados e condenados. Não será favor a governo nenhum, à corrente política nenhuma, é para fazer valer a justiça. Só temos liberdade de expressão, liberdade para exigir nossos direitos, enquanto nos pautamos na lei. Os que saem da legalidade devem ser contidos, processados e condenados pela Justiça.

 

O SR. PRESIDENTE - ULYSSES TASSINARI - PV - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, esta Presidência, nos termos do Art. 18, inciso III, alínea “d” do Regimento Interno, convoca reunião extraordinária da Comissão de Finanças e Orçamento para hoje, às 15 horas e 35 minutos, com a finalidade de apreciar a seguinte matéria em regime de urgência: PLC 11/2013, de autoria do Sr. Governador, que dispõe sobre a reclassificação de vencimentos e salários.

Nos mesmos termos, esta Presidência convoca reunião da Comissão de Constituição e Justiça, Administração Pública, Segurança Pública e Finanças e Orçamentos, a realizar-se hoje, às 15 horas e 40 minutos, com a finalidade de apreciar o PLC 16/2013, de autoria do Sr. Governador, que cria cargos na Secretaria de Segurança Pública.

Srs. Deputados, esgotado o tempo destinado ao Pequeno Expediente, vamos passar ao Grande Expediente.

 

* * *

 

- Passa-se ao

 

GRANDE EXPEDIENTE

 

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O SR. PRESIDENTE - ULYSSES TASSINARI - PV - Tem a palavra o nobre deputado Adriano Diogo.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, estamos assistindo aos companheiros da juventude andando pelas ruas e mostrando sua insatisfação e, por outro lado, vemos a imprensa e algumas pessoas criminalizando o movimento. É sempre assim. Porém, companheiros, com a força que o movimento possui, é possível pedir que as pessoas que apareçam mascaradas, encapuzadas - que são os que aparecem nas imagens realizando as depredações -, não participem do movimento. Quem participa tem ficha e cara limpa. Se aquelas pessoas que andam como ninjas tirarem as suas máscaras, vamos identificar agentes da provocação. Esse é o termo. O movimento não está contaminado. Todos sabem discriminar o que é um movimento puro, sincero, espontâneo e sem comando, do que é provocação. Quem quebrou a prefeitura ontem foi gente organizada da provocação. Foi infiltração com alto nível de adestramento e profissionalismo.

Precisa-se distinguir o que é o movimento e o que são esses agentes da provocação infiltrados. Agora, uma pergunta. Se todas as televisões do Brasil estavam focalizando aquele tipo de destruição, por que não houve nenhum gesto para reprimir ou prevenir que o Edifício Matarazzo, que estava completamente desprotegido, fosse atacado?

Eu estava nas imediações e vi o nível de absurdo e de profissionalismo da provocação. Esses agentes são infiltrados para causar destruição e prejudicar o movimento. Como disse a presidente Dilma, as ruas têm a sua mensagem. E não é uma mensagem de horror, embora tenha quem priorize o horror.

Mudando de assunto, passo a ler nota da Comissão Estadual da Verdade:

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” fica apreensiva com o desligamento de Claudio Fonteles da Comissão Nacional da Verdade (CNV), pois entende que o momento é de trabalho e de união. Cláudio Fonteles realizou um trabalho de fundamental importância para a elucidação dos crimes da ditadura militar, que não pode ser paralisado por divergências internas à Comissão Nacional da Verdade. O trabalho realizado por Fonteles, baseado na exposição pública das descobertas feitas, é fundamental para que a população possa participar dos trabalhos da Comissão da Verdade. A Comissão da Verdade Rubens Paiva não acredita que a população deva ser privada da informação e que seja apenas informada do que foi levantado quando da apuração do relatório final. Se confirmado que o motivo de sua saída deu-se por divergências internas, será a demonstração que a democracia foi derrotada. Conclamamos os membros da Comissão Nacional da Verdade a ter serenidade, espírito público e visão histórica de sua importância para o futuro de nossas instituições democráticas. Pedimos que Cláudio Fonteles reveja sua decisão de renunciar ao seu mandato na Comissão Nacional da Verdade e que os demais membros da Comissão aceitem as divergências e pensem no país de forma mais ampla e generosa.”

Comissão da Verdade do estado de São Paulo, Rubens Paiva.

Pode parecer uma notícia difícil de entender. Por que um membro da Comissão Nacional da Verdade, o procurador Cláudio Fonteles, pediu demissão em caráter irrevogável?

Segundo Cláudio Fonteles, a Comissão Nacional da Verdade deveria realizar audiências públicas abertas à população e abrir todo processo de investigação. No entanto, a última audiência que ele conseguiu realizar foi a que contou com o depoimento do general Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Pois bem, como era de se esperar, o general afrontou e ofendeu todo o povo brasileiro, inclusive a presidente Dilma. A partir daí, a situação do Cláudio Fontelles ficou insustentável. Infelizmente, em um coletivo de sete pessoas, o Cláudio Fontelles não aguentou a pressão e o nível de divergência e de desautorização pública, tendo pedido demissão.

Estamos preocupadíssimos em São Paulo. As pessoas que querem fazer a apuração dos crimes cometidos durante a ditadura militar estão preocupadíssimas. Se esses crimes não forem esclarecidos, ninguém vai entender por que ainda aparecem pessoas com máscaras de ninja fazendo depredações e provocações nas manifestações.

Essa provocação infiltrada no movimento é originária do período da ditadura. Se os crimes da ditadura não forem apurados, esse núcleo duro golpista, que não aceita a democracia e a participação social, vai tentar criar um clima de golpe e de desespero. Em diversos momentos o movimento caminhava pacífico e organizado pelas ruas, mas o que aparecia na televisão eram apenas imagens da destruição.

Por esse motivo, o procurador Cláudio Fontelles não deve sair da Comissão Nacional da Verdade. É uma perda irreparável para a democracia e para a apuração dos crimes da ditadura.

Essa é nossa posição. Viva a democracia! Viva a luta do povo brasileiro, que foi tão dura de conquistar! Não devemos criminalizar as iniciativas da juventude e dos movimentos organizados que, desesperançados com a forma de organização da política, estão procurando uma forma de participação legítima e sincera.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - ULYSSES TASSINARI - PV - Srs. Deputados e Sras. Deputadas, por permuta de tempo com a nobre deputada Maria Lúcia Amary, tem a palavra o nobre deputado Pedro Tobias.

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, senhoras e senhores amigos e colaboradores desta Casa, telespectadores, acho que não podemos deixar de falar desse movimento de esperança, como eu o chamo, que está acontecendo no Brasil.

Muita gente critica as consequências, mas ninguém está discutindo as causas. Não se trata apenas dos 20 centavos de aumento no ônibus. Trata-se de insatisfação com todas as áreas. Devemos aproveitar esse episódio como uma oportunidade para discutirmos, em conjunto com o governador e o prefeito, o transporte público.

O transporte público atual é uma vergonha para todos. O número de passageiros na cidade de São Paulo aumentou muito, e o número de ônibus caiu. O movimento é legítimo. O povo cansou. A Saúde está falida e a Educação também está falida, assim como os transportes. A população paga impostos caros para sustentar a máquina pública em todas as esferas: federal, estadual e municipal.

A juventude é que deve dar o exemplo. Eu já estava perdendo as esperanças. Em 1968, quando cursava o terceiro ano de medicina na França, participei de um movimento. Começamos da mesma maneira, não sabíamos o que iria ocorrer e não conhecíamos bem os motivos. Mesmo assim, muito mudou naquela época.

Quando participei desse movimento, também colocaram fogo em ônibus, quebraram janelas e lojas. Se não obstruir a Paulista, se não manifestar em frente a Prefeitura, quebrar janelinha, não se chama a atenção. O povo é bastante roubado.  Se for a um campo de futebol para se manifestar, xinguem todo mundo.

A Polícia Civil, tem o papel de identificar algum malandro, ou como queiram chamar àqueles que abusam, pois todas as manifestações têm exageros por parte de uma minoria. Hoje a imprensa quer relacionar esse movimento sonhador do povo brasileiro, como eu o chamo, com coisa de bandido, baderneiro. Não é isso. A minoria da minoria tem esse espírito bagunçado.

Acho que a juventude, em qualquer época e em todo o mundo, é que se mobiliza. Se o jovem não reivindica, não briga e não protesta, não é jovem. Porque nós, velhos de cabelos brancos, não temos mais esse sonho da juventude. Deputado Carlos Giannazi, sempre brincava com V. Exa. quando dizia sobre a década de sessenta. Sonhávamos muito, mas eu já estava perdendo esse sonho. Com esse momento que estamos vivendo, estou reavivando-o. Esta é uma oportunidade de ouro para que o governador Geraldo Alckmin, o prefeito e a presidente da República tentem encontrar uma saída para o transporte público urbano, que hoje é caótico.

Não é por 20 centavos. Não acredito que um País que irá gastar 26 bilhões com a Copa do Mundo tenha pacientes na fila de tratamento de radio ou quimioterapia, porque o teto mensal dos gastos hospitalares já foi atingido. Essas pessoas precisam esperar até o mês seguinte para começar o tratamento. E reclamamos que alguém queimou a porta da prefeitura ou quebrou ônibus e carro?

Se eu tivesse alguém da minha família nessa situação, sendo empurrado para todo lado sem conseguir tratamento de saúde, não sei como reagiria, talvez provocaria alguma desgraça em um momento desses. Acho que não podemos julgar a situação dos outros. Imagina que o seu filho, pessoa mais querida da sua vida, só consiga marcar tratamento no serviço público daqui a seis meses e possa morrer até lá em decorrência de uma doença grave.

Deputado Adriano Diogo, dias atrás operei uma moça de 22 anos que estava com câncer de mama. Imagina, estamos no século 21 e ela tinha cegueira total devido à diabete, porque não teve oportunidade de ser tratada. Dois meses após a operação o quadro de diabete complicou. Ela ficou em um pronto-socorro e, por não conseguir vaga na UTI, morreu. Vinte e dois anos de idade! E temos dinheiro, 26 bilhões de reais, para gastar na Copa do Mundo. Há 30 milhões de pessoas na pobreza que estão em condições melhores, comendo, pois recebem Bolsa-Família.

Por essas coisas, querido amigo Adriano Diogo, eu entendo a população. Eles, às vezes,  passam dos limites, mas se há bandidagem, como colocado por V. Exa., a Polícia Civil deveria ter tomado providências para pegar bandido.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Deputado Pedro Tobias, agradeço as suas sempre carinhosas palavras.

Só gostaria de deixar claro que não houve apenas aumento no preço das passagens de ônibus. O aumento envolveu ônibus, metrô, trem de subúrbio e até transporte metropolitano intermunicipal.

No cálculo da tarifa, o peso do ICMS é muito grande, pois ele incide no combustível. Então, não se pode drenar tudo para a responsabilidade do prefeito Haddad, que está há seis meses na Prefeitura. Para despartidarizar a questão: a tarifa é uma responsabilidade conjunta dos órgãos estaduais e municipais. Logo, Fernando Haddad não pode ser responsabilizado por todo o atraso que existe no transporte coletivo.

Obrigado.

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Deputado Adriano Diogo, não politizei nem partidarizei. Acho que todos são culpados. Todos os partidos políticos são responsáveis pelo transporte coletivo. Por termos chegado aonde chegamos, depois desses anos todos, havendo dinheiro para gastar com a Copa do Mundo, acho que o povo tem razão em se manifestar.

Tem todo meu apoio essa juventude. Voltaram a esperança e o sonho da população brasileira, como acontecia 40 anos atrás, em nossa época. Creio que V. Exa. e eu estamos na mesma faixa de idade. Hoje, estamos mais equilibrados, mas precisa haver gente igual a essa juventude.

Acho que não há greve ou manifestação, sem quebra-quebra ou sem fechar a rua. Do contrário, vira uma reunião de padres e freiras, rezando para Deus.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. André do Prado.

 

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Aonde chegamos? Perguntem à população. Alguém está satisfeito com a Saúde, com a Educação pública ou com o transporte público? Com certeza, não. O povo brasileiro paga impostos muito altos e tem serviços que não são nem de “sexto mundo”.

Essa revolta da juventude, que está acontecendo há três semanas, é porque todos os partidos políticos perderam a credibilidade. Precisam escutar o povo humilde nas ruas.

Fui presidente de um partido. Como eu queria abrir as eleições para a militância, houve uma reação enorme para me tirar de lá. Estou feliz porque essa gente está acordando. Se os partidos políticos não acordarem, daqui a pouco aparecerá algum doido igual ao Collor, que pode ganhar a eleição para a Presidência, deixando o povo a ver navios.

Lamento e não vejo por que a Assembleia fechou ontem às 16 horas, dando folga a todos os funcionários. A Assembleia precisava assumir o seu papel. Ela não pode lavar as mãos. Agora todo mundo lava as mãos, ninguém assume o problema. O problema é nosso, sim. É problema da Assembleia, do governador, do prefeito, da presidente da República, de todo mundo.

Falarei novamente sobre esse assunto. Agradeço a tolerância. Meus parabéns para a juventude. Vamos juntos.

Obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ANDRÉ DO PRADO - PR - Tem a palavra o nobre deputado André Soares. (Pausa.) Tem a palavra o nobre deputado Alencar Santana Braga, por permuta com o nobre deputado Carlos Neder.

 

O SR. ALENCAR SANTANA BRAGA - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Boa tarde, Sr. Presidente, meu colega, deputado André do Prado. Quero cumprimentar os demais colegas deputados, todos que aqui estão presentes e os cidadãos que nos acompanham pela TV Assembleia.

Quero fazer uma reflexão sobre este momento do País, esses atos, a importância da manifestação popular, seus objetivos, sua luta, e dialogar com os colegas deputados que falaram há pouco. O deputado Adriano Diogo bem falou do histórico das manifestações, fazendo referência ao período em que diversos estudantes, trabalhadores, intelectuais e demais pessoas da sociedade lutavam pela democracia, fazendo um diálogo com este momento.

E é importante que tenhamos clareza. Todos nós sabemos que a Assembleia Legislativa, que é uma Casa do Povo e representa o Poder Legislativo do estado de São Paulo, deve estar antenada. Deve ter uma ideia clara do momento por que passamos neste Estado, agora e nestes últimos anos, e procurar saídas, alternativas e proposições que possam atender a sociedade e a juventude do estado.

Todos nós valorizamos a manifestação do nosso povo e conhecemos sua importância. Podemos concordar com suas reivindicações ou discordar delas, mas devemos respeitar a manifestação popular. Manifestação esta que começou pela redução da tarifa dos ônibus municipais, mas, como bem lembrou o deputado Adriano Diogo, também pela redução da tarifa do metrô, dos ônibus intermunicipais, a cargo do estado de São Paulo, e também dos trens da CPTM.

Infelizmente, essas manifestações foram duramente reprimidas. Isso são fatos, e os cidadãos sabem disso. Foram duramente reprimidas pelo governador do Estado, por meio de seu comando. Ele foi à imprensa, na tentativa de desqualificar o movimento, e disse que se tratava de vândalos, de baderneiros. Posteriormente, percebeu que não era isso e que essas declarações não haviam sido bem aceitas. Percebeu também que abusara do uso do seu poder policial, ao agredir os manifestantes. A polícia estava tão orientada a agredir que até jornalistas e transeuntes, que não eram manifestantes, foram agredidos.

Na última segunda-feira, houve um grande ato, em São Paulo e em outros lugares - atingiu até outros países -, em solidariedade a estas pessoas e em defesa da democracia e da manifestação popular. Hoje, podemos observar que esses atos estão ganhando força. Mas temos que saber, realmente, o que queremos.

Precisamos compreender a história recente do Brasil. Só assim poderemos ter bandeiras legítimas, que possam dialogar com esse momento e que não sejam utilizadas ou usurpadas por alguns setores, especialmente pela imprensa, que, mais uma vez, tenta influenciar a vontade do nosso povo. Mas a juventude está atenta e, com certeza, não será influenciada. Esses setores não se manifestam com clareza, mas tentam, por meio de subterfúgios, passar a impressão de que algo é uma simples informação quando, na verdade, trata-se de uma vontade.

O que está em jogo é a nossa democracia e temos que defendê-la com unhas e dentes, assim como o valor da participação popular.

Em relação à questão específica da tarifa, devemos lembrar que a presidenta Dilma reduziu alguns tributos federais que incidiam sobre o transporte público coletivo, urbano. Isso fez com que muitas prefeituras, pela primeira vez na história do Brasil, reduzissem o preço da tarifa pública. Fez também com que a Capital não aumentasse o índice da inflação, assim como o Estado. Isso aconteceu por meio de uma ação do governo federal, que soube compreender que o transporte deve ser mais barato, que o custo de vida do nosso povo deve ser reduzido e que transporte é direito, como bem defende o Movimento Passe Livre.

As pessoas devem ter o direito à locomoção. Imaginem que uma pessoa precisa ir a um hospital, mas que, naquela ocasião, não tem dinheiro suficiente para pagar o transporte público. Ela deixará de ir? Não, o certo seria garantirmos este direito. Mas, infelizmente, nossa atual conjuntura não permite que tenhamos esse direito integralmente garantido.

Mas temos que fazer o debate, porque no estado de São Paulo incide ICMS também sobre o custo da tarifa do transporte coletivo. Em alguns estados já não há tal incidência.

O que o governo Geraldo Alckmin está fazendo? A presidenta Dilma reduziu, no início deste ano, a tarifa da energia elétrica. O governador, além de não fazer nenhum ato a favor, ainda fez um ato contrário - fez com que as empresas do estado de São Paulo não aderissem ao programa federal. Mesmo assim o governo federal bancou. No transporte público ele pode muito bem fazer um gesto, ao colaborar com a tarifa. Ele pode colaborar para a garantia deste direito do trabalhador, do cidadão que nos acompanha pela TV Assembleia. Podem-se exonerar os tributos, pode-se exonerar o ICMS que incide sobre o óleo Diesel e que impacta no custo do transporte no estado de São Paulo.

A bancada do PT defende isso, a bancada quer fazer este diálogo propositivo. Não se trata de uma guerra partidária. Trata-se de uma luta em defesa do interesse do cidadão do nosso Estado. Temos que relembrar que nossa bancada defende o bilhete único metropolitano. Sabemos a importância da integração entre os sistemas em uma região metropolitana grande como a de São Paulo, onde não há divisas. O que o estado de São Paulo tem feito sobre isso?

Defendemos há tempos a existência de mais investimentos na expansão das linhas da CPTM e do Metrô, que não pode ficar adstrito tão somente à Capital. Tem que se romper os muros da Capital e ir para cidades da grande São Paulo, como Osasco, região do ABC, Guarulhos e outras cidades. Não há fronteiras. Tanto não há fronteira que agora o Movimento mais uma vez prova isso. Ele tem pipocado, tem havido manifestações nas diferentes cidades da grande São Paulo, do interior e Brasil afora.

Governador Geraldo Alckmin, Vossa Excelência pode fazer muito mais. Fazer muito mais para garantir o investimento em um transporte de qualidade. Pode fazer muito mais na redução do preço da tarifa, pois até agora não fez nenhum ato.

Quero relembrar, nobre deputado Pedro Tobias, V. Exa. que foi presidente estadual do PSDB até pouco tempo, que aprovamos ontem um requerimento, de autoria do deputado Gerson Bittencourt, especialista na questão do transporte, sobre a convocação, na Comissão de Transportes e Comunicações, do presidente da EMTU. Tínhamos pedido esta audiência desde antes do primeiro ato. Queremos que ele venha a esta Casa debater o custo da tarifa dos ônibus intermunicipais. Já apresentamos requerimento também para a vinda dos presidentes do Metrô e da CPTM.

O prefeito Fernando Haddad, mesmo colocando as conjunturas econômicas e orçamentárias da prefeitura de São Paulo, recebeu o Movimento com diálogo. Nós queremos que o Governo do Estado não só ouça esta Casa, mas também ouça o Movimento. Não se deve atravessar a Secretaria de Segurança. Não se trata de um caso de polícia, trata-se de uma reivindicação popular. Pedimos a convocação e esperamos que eles venham até aqui.

Seria importante fazer este debate na semana que vem. Aproveito para rogar e reivindicar, em diálogo com o líder do Governo, com o presidente desta Casa e com o presidente da Comissão de Transportes, para que possamos fazer este debate na semana que vem. Todos sabemos que depois da semana que vem estaremos em recesso, se for votada a LDO. Nós podemos fazer este debate e esta reflexão na semana que vem, na Comissão de Transportes e Comunicações, para discutir o transporte metropolitano no estado de São Paulo. Podemos discutir o custo e o que se pode fazer para melhorar.

Esperamos o presidente da EMTU e a colaboração dos deputados do governo, para que façamos esta audiência na semana que vem.

Para concluir, Sr. Presidente, nós defendemos todas as manifestações populares como legítimas, como justas, por mais que alguém possa delas discordar. Nós também não concordamos com atos de vandalismo e agressões que estão sendo praticados. Sabemos que é uma minoria, que precisa ser identificada. Afinal de contas, essa minoria foi lá para quê? Para se manifestar, para conturbar o ato com o objetivo de criminalizar o movimento ou para tentar passar outra mensagem para a sociedade, para as instituições políticas? Todos nós sabemos que as instituições do País, por mais que possam errar, são fruto da luta popular, da luta pela democracia, da luta por mais liberdade no Brasil, liberdade, aliás, conquistada pela luta e sangue de muitos militantes políticos da época. Muitos ainda estão conosco, inclusive nesta Assembleia Legislativa, e em outros Parlamentos. O povo quer mais direitos, quer justiça e é bom que assim seja. O Brasil avançou neste último período, mas temos de avançar mais e tenho certeza de que os governos populares do prefeito Haddad e da presidenta Dilma vão colaborar nesse sentido. Esperamos que o governador Geraldo Alckmin faça o mesmo.

 

O SR. PRESIDENTE - ANDRÉ DO PRADO - PR - Tem a palavra o nobre deputado José Bittencourt.

 

O SR. JOSÉ BITTENCOURT - PSD - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectador da TV Alesp, imprensa, funcionários desta Casa, inicialmente passamos a ler, para que conste dos Anais da Casa, o voto em separado do ilustre deputado Carlos Cezar, membro efetivo da Comissão de Constituição e Justiça, sobre o processo RGL 3351/13 que trata do pedido inapropriado do PSOL nesta Casa para a perda do mandato do ilustre vice-governador Afif Domingos.

“Voto em separado

Ao paracer do relator dep. Cauê Macris, relativo ao processo RGL 3351, de 2013.

(Comissão de Constituição, Justiça e Redação)

São Paulo, SP, 19 de junho de 2013

Parecer. Consulta sobre a possibilidade jurídica de vice-governador exercer cargo de ministro. Pedido de formação de Comissão Processante. Requerimento fundamentado na Lei Federal nº 1.079/50. Inaplicabilidade. Acumulação de mandato de vice-governador do Estado com cargo “ad nutum” de Ministro de Estado. Ausência de crime de responsabilidade. Inaplicabilidade da Lei Federal n. 1.079/50. Interpretação restritiva do art. 28, § 1°, da Constituição Federal. Ausência de subsunção ao art. 38 c/c art. 42 da Constituição do Estado de São Paulo. Regras de aplicação a Governador não se aplicam automaticamente a vice-governador. Art. 38, parágrafo único da Constituição Estadual. Norma de eficácia limitada, cuja aplicabilidade depende de legislação ordinária ulterior. Inaptidão para definir crime de responsabilidade.

I. Breve Introdução

O nobre deputado estadual Carlos Giannazi, com fundamento nos arts. 75 e seguintes da Lei Federal 1.079, de 10 de abril de 1950 c/c com o art. 38, § único, e 42, caput, da Constituição do Estado de São Paulo, formulou denúncia, por suposta incursão em crime de responsabilidade, em face do Senhor vice-governador do estado de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, pelo fato de ter assumido o comando da Secretaria Especial da Pequena e Micro Empresa, vinculada à administração federal direta, na condição de Ministro-Chefe.

Em seu requerimento - que instaurou o Processo de n° 3.351/13 - destinado a verificar a possibilidade de formação de uma Comissão Processante a ser formada por número de deputados estaduais proporcional à representação dos partidos com assento nesta Casa Legislativa, o nobre deputado cingiu-se a fazer considerações sobre a suposta inconveniência da cumulação a partir de argumentos de cunho político, deixando de oferecer a questão os contornos jurídicos que ela requer.

O requerimento do deputado Carlos Giannazi teve por fundamento o Parecer de n° 117-0/2013, exarado pela D. Procuradoria Jurídica da Assembleia Legislativa que, em juízo preliminar, entendeu estarem presentes os pressupostos formais para a tramitação do protocolado.

A manifestação da D. Procuradoria tangenciou o mérito para afirmar que há, no caso, indícios de vulneração do disposto no art. 28, § 1°, da Constituição Federal e no art. 42, caput, da Constituição Estadual e que, caso se reconheça a incompatibilidade funcional do diploma de vice-governador com o exercício de cargo na administração federal, que se instaure o procedimento, por meio de Resolução, e que se processe na forma da Lei n. 1.079/50, com contraditório, ampla defesa e demais requisitos do devido processo legal.

A tramitação do protocolado foi encaminhada à Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, onde recebeu parecer preliminar do relator, deputado Cauê Macris, pela admissibilidade da representação formulada, com a finalidade de proceder ao processo de cassação do mandato do Senhor vice-governador.

2. Inaplicabilidade do art. 28, § 1º, da Constituição Federal ao vice-governador

A Constituição Federal, em seu art. 28, de forma simétrica à previsão relativa aos demais chefes dos Poderes Executivos, impôs ao Governador de Estado impedimentos que decorrem da natureza de suas atribuições. De forma genérica, esses impedimentos estão capitulados no dispositivo do § 1º, do art. 28, da Constituição Federal, verbis:

Art. 28. (...)

§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no art. 38,1, IV e V.

Em sua clássica obra Comentário Contextual à Constituição, o doutrinador José Afonso da Silva, à guisa de comentar o dispositivo, destaca a palavra “posse” para atribuir-lhe a expressão “sem exercício” - garantindo ao ocupante do cargo de Governador as ressalvas referentes à possibilidade de ele ser titular de alguns direitos que lhe são preservados, desde que ele não acumule aquele mandato com outra função pública:

(...) Mas aqui queremos nos referir ao disposto no § 1° do artigo em comentário, segundo o qual “perderá o mandato o governador que assumir outro cargo ou função na Administração Pública direta ou indireta, ressalvada a posse [sem exercício] em virtude de concurso público e observando o art. 38. I, IV e V.

A referência que José Afonso da Silva faz ao dispositivo - com a ênfase da premissa do exercício efetivo - corrobora uma tese que por outras vias já vem reforçando a interpretação constitucional segundo a qual as normas aplicáveis aos titulares dos mandatos executivos não se aplicam, necessariamente, aos seus respectivos vices. Até porque, “vice-presidente”, “vice-governador” e “vice-prefeito” não são titulares de cargo algum.

A vice-titularidade é uma situação de expectativa, de tal forma que o diploma de vice-governador — designação que, a rigor, constitui o objeto do presente parecer - não induz obrigatoriamente ao exercício efetivo do mandato e, que, em razão disso, não enseja as consequências jurídicas que lhe dão especialidade. Assim, tal diploma consubstancia apenas e tão somente uma designação que, no limite, configura expectativa de direito, razão pela qual a norma invocada do art. 28, § 1º, é inaplicável ao vice-governador.

Esta interpretação de natureza jurídico-constitucional - por certo mais impermeável aos diversos juízos políticos que se intercalam nesta Casa de Leis - não se coaduna com a premissa, data vênia, equivocada, sustentada no Parecer da Procuradoria Jurídica da Assembleia Legislativa, de nº 117-0/2013, de que as regras aplicáveis ao Governador - em especial a do art. 28, § 1º da Constituição Federal e a do art. 42, da Constituição Estadual - o seriam também ao vice-governador, automática e necessariamente.

O referido parecer, a pretexto de fazer uma interpretação extensiva da norma do art. 42 da Constituição Estadual - que, por simetria federativa, reproduz o § lº, do art. 28, da Constituição Federal - desconsidera, de forma artificial, todas as distinções decorrentes do fato do titular do diploma ser ou não investido no exercício efetivo do mandato, seja por eleição, seja por sucessão.

Artigo 42 - Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no artigo 38,1, IV e V, da Constituição Federal.

Neste sentido, é fundamental para que se afaste a suposta incursão em crime de responsabilidade por parte do Senhor Vice-Governador pelo fato de ostentar o diploma de Vice-Governador e ao mesmo tempo ocupar cargo político na administração federal.

Repita-se, pois, que a mera designação de Vice-Governador não torna o seu titular destinatário de todas as normas jurídicas aplicáveis ao Governador. Aliás, como bem demonstrou o Parecer ASMG/CGU/AGU/04/2013, da lavra do Consultor-Geral da União, Antônio Sampaio de Moraes Godoy, a situação é inversa, pois a maioria das normas aplicáveis ao Governador não o são para o Vice-Governador. E não poderia ser diferente em razão do peso do critério que os diferencia radicalmente: a investidura efetiva, pois, é possível que ao longo de quatro anos de designação hipotética, o Vice-Governador, eventualmente alijado do núcleo decisório superior do Governo, tenha sobrevida física e política totalmente dissociada daquele com quem dividiu chapa majoritária no processo eleitoral.

O v. parecer do Consultor-Geral da União (CGU) trouxe interessante pesquisa que, no plano jurisprudencial, indica a divergência conceitual das figuras do Governador e do Vice-Governador. Assim, reproduzimos, a título de mera ilustração, nota de observação feita naquele parecer, verbis:

“(...) É o que também sugere pesquisa no sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal, realizada em 16 de maio de 2013. Ao que consta, buscando-se julgados com o tema “Governador” tem-se 3.052 acórdãos, 2.913 decisões monocráticas, 585 decisões da Presidência, 35 questões de ordem, 4 indicações de repercussão geral e 1.036 menções em informativos de jurisprudência. A busca para decisões como o argumento “Governador e Vice-Governador” dá-nos 63 acórdãos, 32 decisões monocráticas, 6 decisões da Presidência e (apenas) 52 menções em informativos de jurisprudência. Por fim, o argumento “Vice-Presidente” indica-nos o mesmo número encontrado no argumento "Governador e Vice-Governador (...)””

O Consultor-Geral da República, em seu parecer, ressalva que, embora não tenha analisado o teor das decisões, denota a existência de “evidentes razões” para se sustentar a visível cindibilidade que permeia a ambivalência jurídica de ambos os diplomas (Governador e Vice), sobretudo, quando se ressalta as diferenças fundamentais entre quem exerce o mandato (que não é mais mero diploma, para efeito de classificação) e quem apenas detém a expectativa de direito ao mandato (diploma “stricto sensu”).

Por essa razão, a circunstância de o Vice-Governador, pelo simples fato de ostentar o diploma, eventualmente, vir a assumir qualquer cargo de natureza política, demissível “ad nutum” na Administração Estadual ou Federal, não o sujeita à vedação dos dispositivos mencionados.

O que se busca demonstrar nesse parecer - inclusive com a colação de relevantes precedentes de natureza jurídica e política - é que os conceitos de Governador e de Vice-Governador, longe de ser idênticos para fins de aplicação do direito, não são sequer parecidos.

Assim, o dispositivo que restringe a cumulação de cargos e funções na administração pública diz respeito apenas e tão somente ao Chefe do Executivo. Essa tese, já consagrada pelo E. Supremo Tribunal Federal, foi precedente em relevante interpretação conforme do § 5º, do art. 14, da Constituição Federal. Foi, aliás, como bem ressalta o referido parecer da CGU, essa interpretação - fundada justamente na distinção havida entre o diploma do Vice-Governador e o exercício efetivo da governança - que lastreou em passado recente o pedido (deferido) de registro da candidatura do atual Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, quando disputou esse mesmo cargo nas eleições de 2002, tendo sido eleito vice-governador sucessivamente nas duas eleições anteriores.

Para bem visualizar a situação, reproduzimos o art. 14, § 5°, da Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucional n° 16/97, que introduziu o instituto da reeleição:

Art. 14 (...)

§ 5º. O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.

Na subsunção dos fatos relativos ao Governador Alckmin nas eleições de 2002 à norma constitucional, há de se recordar que este havia sido eleito vice-governador na chapa “puro sangue” encabeçada pelo ex-governador Mário Covas nas eleições de 1994 para o mandato 1995-1998 e reeleito nas eleições seguintes, de 1998, para o mandato 1999-2002. No primeiro governo do tucano Mário Covas, Geraldo Alckmin o substituiu por vários períodos. No segundo, o sucedeu por 22 meses, quando o titular veio a falecer em março de 2001.

À letra fria da Constituição, isto é, uma interpretação meramente gramatical do Texto Constitucional, Geraldo Alckmin não poderia ter sido candidato em 2002, pois os períodos de substituição (no primeiro governo Mário Covas) e de sucessão (no segundo) estariam abrangidos, de forma indistinta, para efeito de vedar-lhe um novo pleito.

De forma acertada, não foi esse o entendimento que prevaleceu na jurisprudência do E. STF e cuja consolidação se estende até os nossos dias, quando instado a manifestar-se por insurgência dos adversários políticos. Era preciso distinguir para todos os efeitos jurídicos, o período em que Geraldo Alckmin atuou apenas como Vice-Governador, substituindo eventualmente o Governador Mário Covas no lº governo; e o período em que atuou, efetivamente, como Governador titulado, no segundo governo, ao qual ascendeu pela via da sucessão.

A ementa do Recurso Extraordinário, relatado pelo Ministro Carlos Velloso, que resultou do contencioso eleitoral a respeito da matéria esclarece de forma cristalina o entendimento que se consolidou no STF, a respeito da matéria:

Ementa: constitucional. Eleitoral. Vice-governador eleito duas vezes consecutivas. Exercício do cargo de governador por sucessão do titular. Reeleição. Possibilidade. CF, art. 14 § 5º.

Vice-Governador eleito duas vezes para o cargo. No segundo mandato de vice, sucedeu o titular. Certo que, no seu primeiro mandato de vice, teria substituído o governador. Possibilidade de reeleger-se ao cargo de governador, porque o exercício da titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão. Somente quando sucedeu o titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato como titular do cargo. Inteligência do disposto no § 5°, do art. 14, da Constituição Federal.

RE conhecidos e providos.

No lúcido voto do eminente Ministro Carlos Velloso, o intérprete da norma deixou clara a distinção entre os conceitos de substituição e sucessão, o que, por sua vez, remete à nítida diferenciação jurídica entre a investidura de Governador e a designação de Vice-Governador diplomado; que não se confundem.

3. Possibilidade de cumulação do diploma de Vice-Governador com o exercício de cargo de Ministro de Estado

Com fundamento da distinção havida entre Vice-Governador (expectativa de direito) e Governador (exercício efetivo), há que se ressaltar que a incompatibilidade denunciada no Parecer 117-0/2013 da Procuradoria Jurídica deste Legislativo Estadual não pode prevalecer. Isto porque o título de Vice-Governador, conquanto não haja a substituição, de fato, é mero diploma.

Assim, o Vice-Governador somente pode ser abrangido pela vedação do art. 28, § lº, quando efetivamente vier a suceder o Governador, com ânimo não mais temporário. De fato, como bem salientou o Parecer da CGU, a distinção entre sucessão e substituição é nuclear para a compreensão do problema.

A interpretação sistemática induzirá o intérprete no sentido de que não existe qualquer vedação constitucional, exceto aquelas efetivamente indicadas no art. 87 da Carta Magna. Reconhece-se, entretanto, que governadores (e não vice-governadores) perdem seus respectivos mandatos quando assumem outro cargo ou função na administração pública. Mas perdem os Governadores, não pelo título ou pelo diploma, mas pelo exercício efetivo, pela posse, ou pela investidura do mandato em caráter não temporário.

O referido parecer da Procuradoria também remete ao fato de o vice-governador de São Paulo ter assumido a Pasta da Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa o teria feito incorrer na vulneração do art. 38, da Constituição do Estado de São Paulo, segundo o qual:

Artigo 38 - Substituirá o Governador, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Governador.

Parágrafo único - O Vice-Governador, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Governador, sempre que por ele convocado para missões especiais.

O parecer alega que o vice-governador, para o pleno desempenho de suas funções institucionais, deverá permanecer à disposição do governador. Porém, tal norma se inscreveria, na classificação de José Afonso da Silva, como de eficácia contida ou prospectiva.

Em outras palavras, embora se possa cogitar que a norma de eficácia contida tenha aplicabilidade imediata, como sustenta a doutrina do ilustre Mestre do Largo São Francisco, o fato, é que, em geral, normas desta categoria não têm aplicabilidade integral, exigindo que houvesse lei complementar estadual (infraconstitucional) específica que disciplinasse tal disponibilidade, ainda que esta pudesse se compatibilizar dentro da ordem constitucional vigente, o que não nos parece, em princípio, plausível.

O cargo de Ministro de Estado, por sua vez, que é o desempenhado pelo Sr. Vice-Governador é de mero auxiliar do Presidente da República no exercício do Poder Executivo e na direção superior da administração federal (arts. 76, 84, II, e 87, da Constituição Federal).

Os Ministros de Estado, como se sabe, são escolhidos pelo Presidente da República, que os nomeia, podendo ser exonerados “ad nutum”, a qualquer tempo, não tendo qualquer estabilidade (art. 84, I). Os requisitos para assumir o cargo de Ministro de Estado, cargo de provimento em comissão, são, de acordo com o art. 87, caput: a) ser brasileiro, nato ou naturalizado (exceto cargo de Ministro da Defesa, que, de acordo com a Emenda Constitucional de nº 23, de 2 de setembro de 1999, deverá ser preenchido por brasileiro nato), ter mais de 21 (vinte e um anos) e estar no pleno exercício dos direitos políticos.

Do ponto de vista da Governadoria, o impedimento, por óbvio, atinge somente o Governador, mas não pelo título (diploma), e sim pelo exercício efetivo do comando da Administração, o que, por simetria, ocorre com os demais representantes do Poder Executivo nas três esferas de governo.

Tanto não existe impedimento, que são inúmeros os exemplos, País afora, de situações em que o vice-governador assume Secretarias de Estado ou de vice-prefeitos municipais que assumem Secretarias Municipais, quando as respectivas coalizões políticas subjacentes vislumbram tal possibilidade.

O contrário também é verdadeiro para o Governador que está impedido não apenas de assumir outro cargo na sua própria administração (o que é óbvio), mas em qualquer outro cargo na administração pública federal, estadual ou municipal, direta ou indireta.

4. Ausência de incompatibilidade material

O parecer da D. Procuradoria Jurídica nº 117-0/2013 manifesta a preocupação do Legislativo Paulista de existência de um suposto conflito de interesses concentrado na pessoa do Vice-Governador ao assumir a Pasta federal.

À guisa de exemplo, o parecer menciona a possibilidade imaginária de a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa, do Governo Federal, chefiada pelo atual vice-governador do estado de São Paulo, formular determinadas diretrizes políticas visando o apoio e o fortalecimento da microempresa. O conflito de interesses, neste caso, ocorreria, se, para atingir as metas formuladas, fosse necessária, por exemplo, a flexibilização de normas ou resoluções de competência da Junta Comercial do Estado de São Paulo, autarquia vinculada à Secretaria Estadual do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, que, em tese, também estaria sob o comando o Vice-Governador.

Em seu parecer, a D. Procuradoria propõe a seguinte questão hipotética:

“O Ministro-Chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa vai entrar em conflito com o Vice-Governador do Estado de São Paulo, à cuja estrutura de administração está subordinada a Junta Comercial, sendo que os dois estão sendo unidos e identificados numa mesma pessoa humana?”

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a Junta Comercial do Estado, ainda que vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, não tem qualquer relação de subordinação com o vice-governador do Estado.

A rigor, a referida entidade autárquica não se subordina nem mesmo ao Governador, constituindo-se autarquia de regime especial nos termos da Lei Complementar Estadual nº 1.187/12, tendo, natureza cartorial.

Por esse prisma, poderia haver conflito de interesses se o Vice-Governador, em vez de ter assumido pasta federal, tivesse, em razão de injunções políticas diversas, assumido, por exemplo, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e, nesta qualidade, decidisse formular políticas publicas específicas de fomento à inovação que supostamente fosse de encontro à normatividade de competência da Junta. Essa situação, em tese, também poderia configurar conflito de interesse entre a figura do Vice-Governador e a do Secretário Estadual “numa mesma pessoa humana”, expressão enfatizada no parecer da Procuradoria Legislativa.

No entanto, essa situação fática é corriqueira, repetindo-se nos Estados e Municípios. Exemplos de Vice-Governador ocupando Secretaria de Estado já houve vários, mas pode-se lembrar aqui um caso recente, no âmbito da própria Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, durante a gestão do ex-governador José Serra (2007-2010).

Naquela ocasião, a Secretaria foi comandada pelo então vice-governador Alberto Goldman na maior parte daquele governo. Alberto Goldman somente deixou a Secretaria para suceder José Serra quando este se desincompatibilizou do governo paulista para disputar a Presidência da República em 2010.

Em segundo lugar, o contrário também é verdadeiro, pois, em tese, o exercício do cargo de Ministro poderia ser um canal de integração de interesses estaduais e federais - que, em matéria de interesse público - são indissociáveis em razão do princípio federativo.

Se não há qualquer divergência no plano jurídico, quanto à possibilidade de que vice-prefeito assuma Secretaria Municipal, de que vice-governador assuma Secretaria Estadual e de que vice-presidente assuma Ministério - tudo com base no art. 28, § 1°, da Constituição Federal, que trata dos impedimentos dos titulares em relação a quaisquer cargos na Administração Pública, sem especificar as esferas de governo - porque haveria a restrição quanto ao critério “esfera de governo”?

Desta forma, e pela mesma razão, não se vislumbra crime de responsabilidade quando o vice-governador, em consequência de aliança política típica do presidencialismo de coalizão que predomina no cenário político-partidário brasileiro - com reflexo no cenário político institucional - assume pasta vinculada ao governo federal. A mesma Constituição que impede o Governador (e não impede o vice-governador) de assumir outro cargo na administração pública, não especifica se essa administração será federal, estadual ou municipal, direta ou indireta.

6. Da incindibilidade do interesse público no pacto federativo

De acordo com a doutrina esposada pelo Ministro Gilmar Mendes, à vista das características essenciais do Estado Federal é possível estabelecer um conceito amplo desse ente federativo.

Para Mendes, “(...) é correto afirmar que o Estado Federal expressa um modo de ser do Estado (daí se dizer que é uma forma de Estado), em que se divisa uma organização descentralizada, tanto administrativa quanto politicamente, erigida sobre uma repartição entre o governo central e os locais, consagrada na Constituição Federal, em que os Estados federados participam das deliberações da União, sem dispor do direito de secessão.

O autor destaca que o federalismo tende a ser uma resposta à necessidade de se ouvirem as bases de um território diferenciado, quando da tomada de decisões que afetam o País como um todo. Ainda de acordo com o autor, a fórmula opera para reduzir poderes excessivamente centrípetos. É, pois, um componente de segurança democrática.

Nesse sentido, a autonomia dos entes formadores da Federação funciona como um meio de equilíbrio social, mas não para cindir o interesse público. O interesse público, dentro do pacto federativo, não tem esfera preferencial e atenderá sempre o interesse nacional.

Dessa forma, o argumento de que haveria conflito de interesses pelo fato de um vice-governador possuir diploma referente ao Estado e exercer múnus público - ainda que compatível - em esfera diversa, não prospera. Não há base jurídica que, ao mesmo tempo, permita ao vice-governador ocupar Secretaria de Estado e o proíba de exercer o cargo de Ministro de Estado.

No plano jurídico-constitucional, a consequência para o caso que aqui se examina, é idêntica. Tanto faz se o vice-govemador assume cargo político na Administração Estadual ou na Administração Federal, pois ele não é o Chefe do Poder Executivo, este sim, abrangido pela vedação do § 1°, do art. 28, da Constituição Federal, e do art. 42 da Constituição Estadual.

CE - Artigo 42 - Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no artigo 38, I, IV e V, da Constituição Federal.

5. Da impropriedade do rito proposto no voto do relator, o Exmo. Deputado Cauê Macris

Em análise do voto do nobre Deputado Relator, Cauê Macris, no âmbito desta Comissão de Constituição, Justiça e Redação, cabem algumas considerações de caráter formal à descrição do rito formulada pelo ilustre parlamentar.

No caso do Estado de São Paulo, a competência para processar e julgar o governador e o vice-governador do Estado por crime de responsabilidade é do Tribunal Especial (art. 49, § 1°, da Constituição Estadual), constituído por 7 Deputados Estaduais, 7 Desembargadores e pelo Presidente do Tribunal de Justiça (TJ), que o presidirá (15 membros), após a eventual admissão da acusação contra o Vice-Governador, por 2/3 dos membros da Assembleia Legislativa.

No entanto, convém observar que, conforme aponta Alexandre de Moraes, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 1.628/SC, entendeu que a definição de crime de responsabilidade e sua regulamentação caberia exclusivamente à União, em face dos art. 85, e art. 22, inc. I, da Constituição Federal, suspendendo os artigos das Constituições Estaduais que dispusessem em contrário. Nesse sentido, o fundamento utilizado no Parecer 117-0/2013, da Procuradoria Jurídica, e acolhido no voto do nobre relator, merece reparo.

Neste cenário, a definição de crime de responsabilidade não poderia mais se reportar à Constituição Estadual e seria dada pelo art. 78, § 3°, da Lei 1.079/50 e nada mais, sendo dispensáveis as referências feitas à Lei Estadual.

Ante todo o exposto, com todo respeito ao entendimento contrário, apresento voto em separado no sentido de arquive-se o processo nº 3351/13 em face do vice-governdor de São Paulo, Guilherme Afif Domingos por estar absolutamente afastada qualquer hipótese de crime de responsabilidade, em razão da plena legalidade e constitucionalidade do acúmulo do diploma de vice-governador com cargo político provido em comissão, como o de Ministro de Estado na Administração Federal

Sala das Comissões, em

Deputado Carlos Cezar”

Trata-se de um voto elucidativo, que traz clareza reforçando a nossa tese, a tese da maioria da CCJ de que na espécie não há incompatibilidade funcional. Pode haver tão-somente incompatibilidade salarial, aí, sim, quer dizer, não pode haver cumulatividade de salário. Também na espécie pode até existir, se esse fosse o caso - e não o é - a incompatibilidade de ocupação de cargos eletivos. O vice-governador foi eleito para um cargo, o de vice-governador, que no impedimento do titular, daquele que exerce o poder no Executivo, assume. Como diz a Constituição Estadual, o Poder Executivo é exercido pelo governador do Estado, não fala pelo vice. É evidente que ele foi eleito para esse cargo e que não poderia cumular um outro cargo eletivo. Mas o vice-governador Afif Domingos foi cumprir uma missão no governo federal, no governo da presidenta Dilma. Como este cargo na administração pública federal é um cargo funcional e não eletivo, em comissão, não existe nesse caso incompatibilidade, porque não se trata de dois cargos resultantes de eleição popular.

Sobre o processo que envolve nosso vice-governador, hoje ministro, gostaria de dizer que a presidenta Dilma acertou em trazê-lo para essa nova secretaria - que tem status de ministério, em razão de sua história de vida, sua história política e sua história empresarial. O vice-governador Afif Domingos sempre foi defensor da pequena e microempresa e do investimento no Brasil para a geração de emprego e de renda.

Sabe-se que 70% da empregabilidade em nosso país decorre da ação dessas pequenas e microempresas. Portanto, nada mais justo do que haver um ministério cuidando especialmente da política do Estado brasileiro em relação a esse nicho empresarial, que é fundamental para a geração de emprego e a colocação profissional de muitas pessoas que ingressam no mercado de trabalho.

Hoje, na Comissão de Constituição de Justiça e Redação, foi pautado esse processo. Estamos pugnando por seu arquivamento, dada a falta de fundamentação legal, de base jurídica e de base elementar para dar prosseguimento a esse processo de busca da perda do mandato. Trata-se de um julgamento político, e nós não nos curvaremos diante dessa premissa. Não pode haver julgamento político nesta Casa. A questão transborda esses limites.

Não há lei própria que faça atribuição à ação do vice-governador do Estado, nem na Constituição Federal, nem na Constituição do Estado, nem em lei complementar. Há omissão nesse sentido. O art. 28 da Constituição Federal, que é base para a representação inadequada e antijurídica do PSOL, diz que perderá o mandato o governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta. O art. 42 da Constituição do Estado segue a mesma linha, dizendo que quem exerce o poder no executivo é o governador. Ambos os artigos tratam da figura do governador. O vice-governador somente assume no impedimento do governador, substitui a figura jurídica do governador e o sucede na vacância. Portanto, o cargo de vice-governador é um cargo de expectativa.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Agradeço ao nobre deputado José Bittencourt, sempre democrático, pelo aparte. Gostaria de dizer que respeito sua posição, mas discordo plenamente dela. Acho que V. Exa. está totalmente equivocado. Primeiramente porque temos um parecer do Ministério Público Estadual, assinado pelo procurador-geral de Justiça, Dr. Márcio Rosa, que foi encaminhado

para a Presidência da Assembleia Legislativa com toda a fundamentação jurídica, pedindo que a Assembleia Legislativa tome as providências para que seja decretada a perda do mandato do vice-governador Afif Domingos, que acumula cargo de vice-governador com cargo de ministro. Esse parecer é muito claro.

Ao mesmo tempo, nós temos outro parecer da procuradoria aqui da Assembleia Legislativa, e outro ainda da Comissão de Ética do Estado de São Paulo. E nós consultamos vários juristas e procuradores em relação a esse caso. E a tese colocada por nós, pelo Ministério Público, pela nossa representação, pela própria Procuradoria da Assembleia Legislativa, é a tese da simetria que V. Exa. conhece muito bem: o vice-governador acompanha o governador. Portanto, nós discordamos dessa tese que V. Exa. está colocando aqui hoje. Então, a Assembleia Legislativa tem obrigação de decretar a perda de mandato do vice-governador, do Afif Domingos, que está acumulando cargo ilegalmente.

Então, é uma aberração política a permanência dele nos dois cargos concomitantemente.

 

 O SR. JOSÉ BITTENCOURT - PSD - Nobre deputado Carlos Giannazi, a formação de V. Exa. é de professor, aliás um brilhante professor, foi diretor de escola, mas reservo-me no direito de dizer que V. Exa. não tem conhecimento jurídico. Vossa Excelência se equivoca quando diz que o procurador-geral de Justiça faz um arrazoado, mas é no campo da opinião. O Ministério Público é opinativo, é uma instituição opinativa e não uma instituição decisória, de judicar, de julgar. Ele opina. Vossa Excelência se equivoca quando diz que o vice-governador acompanha o governador. De forma alguma, somente quando convocado para missões especiais. Vossa Excelência não lê a Constituição do Estado e por isso faz essas manifestações tresloucadas e de tal modo que nós estaremos aqui sustentando, em todos os lugares, a impropriedade da representação subscrita por Vossa Excelência. Não cabe. O vice-governador pode perfeitamente acumular essa missão. Ele tem um cargo de expectativa no Estado e pode acumular essa missão, para cumprir essa missão que o Brasil precisa; E não existe cindibilidade em relação à questão do interesse público. Se existe no pacto federativo uma autonomia dos entes que o compõe na federação, não podemos cindir o interesse popular, o interesse público que está acima de nós, que está acima dos homens, que está acima das instituições, o interesse público.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - PARA RECLAMAÇÃO - Sr. Presidente, rapidamente quero dizer ao nobre deputado José Bittencourt que, primeiro, eu realmente não sou jurista, não sou advogado. Sou professor, diretor de escola pública e logicamente deputado estadual, portanto não tenho formação jurídica. Mas acontece que estamos baseando-nos em pareceres exarados pelo Ministério Público. Parece-me que o deputado José Bittencourt quer ter mais conhecimento do que o Ministério Público, do que a Procuradoria da Assembleia Legislativa, do que os juristas integrantes da Comissão de Ética. Todos colocam claramente que há ilegalidade.

Logicamente, como o deputado José Bittencourt é do PSD, que é o mesmo partido do Afif Domingos, ele está aqui como um soldado que tem que fazer um esforço enorme, um malabarismo lógico, forçando a barra para defender a permanência concomitante do vice-governador nos dois cargos: ministro da presidenta Dilma Rousseff, e vice-governador do governador Geraldo Alckmin.

Então, isso é uma aberração jurídica, é uma anomalia legal essa permanência concomitante em dois cargos.

Inclusive, acho que o deputado José Bittencourt presta um verdadeiro desserviço à pauta que estamos vivenciando hoje, com a população nas ruas, o clamor nas ruas querendo a mudança dos costumes políticos, criticando os parlamentos, criticando os partidos políticos e o deputado José Bittencourt dando munição para isso, porque a opinião pública, a população, não aceita esse acúmulo de cargos. Inclusive as pesquisas apontam que não se trata apenas de questões jurídicas, mas envolvem também questões éticas e questões morais graves. Mas o deputado Bittencourt, ao defender a permanência do Afif Domingos em dois cargos, está contribuindo para que a ira da população se volte cada vez mais contra o Parlamento, contra os políticos. Um posicionamento que vai na contramão do clamor da população que vem ocupando as ruas e os espaços públicos, querendo a mudança dos costumes.

Então, peço ao deputado José Bittencourt que repense a sua posição porque pode ser que em alguns dias a manifestação venha ocupar a Assembleia Legislativa, com tanta contradição que existe aqui.

 

O SR. JOSÉ BITTENCOURT - PSD - PARA RECLAMAÇÃO - Sr. Presidente, quero refutar totalmente as manifestações e impropérios que são aqui verbalizados pelo deputado Carlos Giannazi, quando ele diz que nós estamos prestando um desserviço. De forma alguma.

Esta Casa, é uma casa de debates, é uma casa de argumentação. Se na atual conjuntura a política nacional está deixando os políticos em situação ruim, em relação à aceitação popular, quero dizer que todos nós somos seres políticos. Assim sendo, as manifestações que estão nas ruas são legítimas, são decorrentes do Estado Democrático de Direito. Nós concordamos com todas elas. O que não concordamos é com a baderna, com o vandalismo, que é crime, e nem com a depredação do patrimônio público. Mas nós concordamos com a manifestação popular.

Eu quero entender que esta ação, do deputado Carlos Giannazi, é no sentido de querer aparecer. Não resta outra ideia, a não ser a de que ele está querendo pegar uma onda em cima desse quadro. Mas em cima do vice-governador, V. Exa. não vai pegar nenhuma onda.

Nós estamos aqui para defender o que é justo, o que é de direito, aquilo que é real.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - ANDRÉ DO PRADO - PR - Esta Presidência recebe o documento de V. Exa., nobre deputado José Bittencourt, e o encaminhará para publicação nos termos do Art. 18, inciso V, do Regimento Interno.

Tem a palavra o nobre deputado Gerson Bittencourt.

 

O SR. GERSON BITTENCOURT - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, público aqui presente, telespectadores da TV Alesp, eu quero abordar aqui um dos temas que têm sido discutidos nesta Casa, por todo o Brasil, na sociedade e nos meios de comunicação: diz respeito às grandes mobilizações que o estado de São Paulo, a nossa Capital, e o todo o País têm presenciado nos últimos dez dias.

Essas mobilizações, Sr. Presidente, trazem para nós, parlamentares, o dever fazer uma avaliação do que está acontecendo e, sobretudo mais do que uma avaliação, nós precisamos participar efetivamente do processo de discussão para construção de alternativas que possam atender definitivamente o clamor expressado nas mobilizações em todo o País.

Em primeiro lugar, Sr. Presidente, quero compartilhar aqui, e já tive a oportunidade de expressar a minha opinião neste Parlamento e nos meios de comunicação, que eu considero legítimos os movimentos em todo o País. E por quê? Porque vivemos numa sociedade democrática que pressupõe que todos aqueles que querem expressar sua opinião, fazer suas reivindicações, protestar, têm o direito a esse espaço e a essas condições, independentemente se estão ou não organizados nos movimentos sociais, nos partidos políticos, e assim por diante. Portanto, qualquer mobilização social num estado democrático de direito deve ser respeitada, e mais do que ser respeitada, ser ouvida e analisada por todos os setores da sociedade.

Além disso, Sr. Presidente, e já foi dito por outros oradores, não compactuamos com qualquer tipo de vandalismo, depredação do patrimônio público ou privado. Isso tem que ser repelido, combatido e obviamente, dentro do que estabelece a legislação, punido, se assim for decidido pela Justiça. Vimos ontem em algumas mobilizações aqui na capital, também em outros estados do País, mas sobretudo aqui, atos extremados de vandalismo, cometidos por uma minoria que não está preocupada com as reivindicações, com o desenvolvimento do nosso País. Vendo as imagens dos meios de comunicação, percebemos que não são só essas pequenas minorias que participam dos protestos, que muitas vezes radicalizam a situação. Presenciamos ontem ações do crime organizado, de saques, aproveitando a posição da Polícia Militar e, a partir disso, executando verdadeiros saques em todo o centro da nossa cidade. Isso precisa ser combatido, sob pena de essas ações, isoladas e que não fazem parte de um movimento democrático, serem as atitudes preponderantes que a imprensa e a sociedade vai analisar. Queremos analisar nas grandes mobilizações aquilo que as ruas estão colocando para toda a sociedade.

Quero dizer, Sr. Presidente, que as mobilizações também são oportunas, em primeiro lugar porque a tarifa é alta e o serviço deixa a desejar, do ponto de vista da qualidade, não na Capital, mas no Brasil como um todo. É oportuna, porque temos pela primeira vez grandes investimentos do governo federal na mobilidade urbana, em infraestrutura, e também pela primeira vez uma ação de um governo federal em políticas de desoneração do custo do transporte coletivo.

A presidenta Dilma, no ano passado, definiu o novo critério do pagamento do INSS para o transporte público para as empresas e cooperativas operadoras. Agora, recentemente, também zerou o PIS e Cofins de todo o sistema de arrecadação do sistema de transporte público. São duas medidas importantes, fundamentais que impactam diretamente o conceito da mobilidade urbana e do transporte público. Também podemos considerar oportuna porque todos os deputados e a sociedade sabem que o tema da mobilidade urbana foi um dos temas mais discutidos nas eleições de 2012, não na Capital só, mas em todas as médias e grandes cidades, como uma preocupação fundamental para o desenvolvimento, para a sustentabilidade e, sobretudo, para garantir o direito de ir e vir.

A presidenta Dilma já trabalhou para a desoneração da tarifa em 7,5% ao investir fortemente em infraestrutura, mas ainda não tivemos o resultado porque as obras estão em andamento. Agora chegou o momento de o governo do Estado dar sua contribuição. O governo do Estado cobra entre 8 e 10% do ICMS de combustível, peças, veículos, pneus, câmaras e tantos outros itens. Não seria ineditismo, deputado Alcides Amazonas, o Governo do Estado de São Paulo zerar o ICMS do diesel, dos veículos, dos pneus e das câmaras. Seria mais um estado a esforçar-se efetivamente para diminuir o custo do transporte público. O governo federal já faz sua parte, e creio que pode fazer ainda mais. Há uma margem para discutir a desoneração da Cide sobre o diesel, que pode representar 0,7% no valor da tarifa. É possível também isentar PIS e Cofins em peças, veículos e no próprio combustível, de modo a diminuirmos algo em torno de 1,5% ou 2 por cento.

Portanto, o governo federal ainda tem uma margem de cerca de 2,5% para contribuir no processo de desoneração. Mas agora chegou a vez do Governo de São Paulo, do governador Geraldo Alckmin. Não se trata de abafar os movimentos populares que reivindicam qualidade e barateamento no custo do transporte, mas de dar sua contribuição, para que se faça do transporte coletivo um instrumento que garanta o direito constitucional de ir e vir.

Não tenho dúvida de que esta Casa vai realizar o processo de discussão. Quero também dizer, Sr. Presidente, que ontem discutimos essa questão na Comissão de Transportes e Comunicações. Deputado Alcides Amazonas, ficou sob minha responsabilidade apresentar um conjunto de sugestões na terça-feira, na próxima reunião da Comissão. Assim, discutiremos qual é a contribuição que a comissão e esta Casa podem dar, mas, sobretudo, a que o Governo do Estado pode dar, para diminuir o custo do sistema de transportes.

O deputado Alencar Santana Braga fez uma intervenção dizendo duas coisas fundamentais acerca da convocação que fizemos ao presidente da EMTU para explicar os aumentos. Explicar por que no corredor ABD o índice de reajuste foi muito acima do praticado nas regiões metropolitanas, enquanto na região metropolitana de Campinas não foi estabelecido qualquer tipo de aumento. O diesel é o mesmo, o custo da mão de obra e dos veículos, muito similar. Não estamos reivindicando reajuste da tarifa na região metropolitana de Campinas, mas sim que as demais regiões, e principalmente o corredor ABD, tenham o mesmo critério para realizar o processo de desoneração.

Está lançado o desafio a toda esta Casa e ao governador, que pode ter uma atitude fundamental no sentido de trabalharmos efetivamente pela redução da tarifa em cerca de 10%, talvez até 12% ou 13 por cento. Desse modo, buscaremos trazer a tarifa para patamares mais baixos - não o dos R$3,00 que eram praticados até o último reajuste, mas com certeza para patamares ainda inferiores. É isso que a população reclama, é a isso que precisamos dar resposta. O sistema de transporte não pode ser tratado de forma diferencial. O transporte individual tem benefícios; o coletivo, muitos encargos e carga tributária.

Portanto, creio que esta Casa deve ter, em primeiro lugar, como disse o deputado Alcides Amazonas ontem, a coragem, a responsabilidade, a ousadia e, sobretudo, a sensibilidade para considerarmos aquilo que a população no estado de São Paulo e no Brasil tem dito à classe política e à sociedade brasileira: não é possível continuarmos pagando elevadas tarifas de transporte público. O transporte não pode continuar em péssima qualidade, como ocorre em todo o país. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - ANDRÉ DO PRADO - PR - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, está esgotado o tempo destinado ao Grande Expediente.

A Presidência tem a grata satisfação de anunciar a presença dos vereadores de Pedregulho, Wanderley Moreira de Carvalho e José Ailton Cândido da Silva, acompanhados do nobre Deputado Gilson de Souza. A S. Exas. as homenagens do Poder Legislativo. (Palmas.)

 

O SR. ALCIDES AMAZONAS - PCdoB - PELO ART. 82 - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, telespectadores da TV Assembleia, quero continuar o assunto abordado ontem, sobre o custo dos transportes e sobre as manifestações que estão ocorrendo em São Paulo.

Participei ontem da manifestação realizada na Praça da Sé. Fiz questão de acompanhar, para poder entender melhor toda essa movimentação. Condeno sempre todo tipo de quebradeira e baderna. Na manifestação do Largo da Batata, estiveram presentes cerca de 65 mil pessoas, e não vi uma única lixeira quebrada, um único orelhão quebrado.

Ontem, na Praça da Sé, havia mais de 50 mil pessoas, que saíram em passeata. Restou um pequeno grupo, e aí começou a quebradeira. Posso assegurar, porque estive lá, que não são os trabalhadores e não são os estudantes que fizeram aquela quebradeira.

Fica aqui todo o nosso apoio às manifestações, que são legítimas. Não podemos permitir que a Justiça ou a Polícia condenem trabalhadores que legitimamente estão se manifestando na defesa dos seus direitos, de redução de tarifas.

Ontem eu dizia que diversas questões tinham sido levantadas para debate, com a possibilidade de redução da tarifa de ônibus em São Paulo. Foi discutida a questão da Cide, a desoneração de um conjunto de itens que compõem o setor de Transportes, entre eles o pneu, o diesel e a própria folha de pagamentos dos trabalhadores. Todos esses estudos são viáveis.

A presidenta Dilma tem tomado uma série de iniciativas importantes, para desonerar um conjunto de segmentos econômicos. Ela teve a coragem de regulamentar, recentemente, a profissão das domésticas e a profissão dos motoristas de ônibus. Tenho a certeza de que a presidenta, juntamente com o prefeito Haddad, encontrará uma solução.

Ontem a "Folha de S.Paulo" online, no final do dia, e o jornal “Agora” publicaram que o prefeito Haddad poderia reduzir a tarifa através da demissão de todos os cobradores, que representam cerca de 12% da folha. Essa notícia foi desmentida hoje pelo prefeito. Não faz 45 dias que o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, esteve no Sindicato dos Condutores de São Paulo e, para mais de 300 trabalhadores, garantiu que nenhum trabalhador seria demitido, e que respeitaria a Lei 13.207, que garante o emprego dos cobradores, e que é de minha autoria.

O prefeito Haddad, para acabar com esses rumores, plantados na imprensa com o objetivo de tumultuar todo esse processo, de que os cobradores - num total de 20 mil - seriam demitidos, informou que tudo isso é mentira.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Samuel Moreira.

 

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O prefeito emitiu agora uma nota, com os seguintes dizeres: “Nota - Cobradores de ônibus. Com relação às notícias recentes sobre o tema, a prefeitura de São Paulo informa que não existe plano ou intenção de extinguir a função do cobrador de ônibus, cuja atividade é assegurada pela Lei municipal nº 13.207/2001. Fernando Haddad.” Referida lei é de minha autoria e o prefeito acaba de assegurar que nenhum cobrador será demitido, respeitando a lei. Meus parabéns ao prefeito Fernando Haddad e sua equipe, que desmentiram as informações divulgadas ontem pela “Folha” e hoje pelo jornal “Agora”. Muito obrigado.

 

O SR. LUIZ CLÁUDIO MARCOLINO - PT - Sr. Presidente, indico a nobre deputada Telma de Souza para falar pelo Art. 82 em nome da bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, tem a palavra a nobre deputada Telma de Souza, pela liderança do Partido dos Trabalhadores.

 

A SRA. TELMA DE SOUZA - PT - PELO ART. 82 - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, gostaria de juntar a minha voz à de outros deputados, especialmente os do PT, que estiveram nesta tribuna dando sua visão a respeito dos movimentos que tomaram conta do Brasil nos últimos dias. Após a quinta-feira da semana passada - e já vamos completar uma semana em que tivermos aquela ação truculenta da polícia de São Paulo sobre os manifestantes - houve corretamente uma reação bastante modificada, não apenas da imprensa, mas também do próprio procedimento da força policial.

Em um primeiro momento, restou mais do que difusa a situação e, principalmente, a reivindicação que se colocava nas ruas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e outros estados brasileiros e até no exterior. Nos dias subsequentes, vimos com clareza algumas manifestações inequívocas contra a mídia, especialmente em frente à Rede Globo, na ponte Estaiada e em vários setores da imprensa, os quais, assim como a polícia, partiram do “oito ou oitenta” para poder reformular sua posição.

Acredito que existe, hoje, um pouco mais de clareza sobre esse movimento, que é de reivindicação genérica por outro tipo de ação política para o País. Começa com a tarifa. É realmente preciso que haja uma diminuição nesse sentido, motivo pelo qual fazemos um apelo. A bancada do Partido dos Trabalhadores, através de seu líder, o nobre deputado Luiz Cláudio Marcolino, está entrando com uma indicação para que as tarifas taxadas pelo estado de São Paulo, como as da CPTM, EMTU e Metrô, possam ser rebaixadas, fazendo-se aquilo que a presidenta Dilma já fez e alguns companheiros de bancada já declinaram: reduções, principalmente em impostos. Pensa-se, inclusive, em rever o imposto sobre o combustível, a Cide, para que isso aconteça.

Tenho um encaminhamento, fruto de minha ação e, principalmente, reivindicação pessoal. As reivindicações desse movimento poderiam ser abarcadas em uma expressão genérica: a reforma política deste país. A reforma na questão eleitoral, com o fundo público de campanha, evitaria que empresários de toda sorte, incluindo os do transportes, pudessem intervir na ação democrática da eleição, fazendo com que os governos tornem-se presos de uma situação, através da própria tarifa.

Coloco essa questão porque possuo uma história particular em relação a movimentos ligados ao transporte. Quando fui prefeita de Santos - e eu já tinha lutado pela anistia e valorização dos professores - lutei pela readmissão de 5.372 trabalhadores da antiga Codesp. Estou bastante acostumada a ver uma série de situações em que a voz do povo não pode ser calada.

É inequívoco o meu apoio ao movimento, desde que o vandalismo não se faça presente. Ontem, vimos com clareza também quais foram os elementos que ficaram à frente da Prefeitura de São Paulo para depredá-la. Vimos os manifestantes, a maioria franzina, e aqueles corpulentos - cem, duzentos rapazes, mais homens do que mulheres - fazendo uma movimentação que é preciso verificar de onde parte. É diferente o movimento que se coloca na Grande São Paulo, como aquele que vem do M’Boi Mirim, que sabemos que tem outra conotação.

Enfim, quero falar ao conjunto da população que nos acompanha. Entendo que há, sim, um caminho para podermos dar respostas iniciais além da questão da tarifa, porque o movimento extrapola essa questão. Que venha com a reforma eleitoral, que venha com as políticas públicas. Ontem, a presidenta Dilma tão bem expôs que o Brasil precisa ser mais e melhor na Saúde, na Educação, e principalmente no cotidiano das pessoas, onde está o transporte incluído.

É claro que a bancada do PT voltará a esses assuntos; é claro que o nosso líder, deputado Luiz Cláudio Marcolino, vai falar sobre a indicação para a diminuição das tarifas no que compete a uma ação do estado. Tenho a certeza de que esta Casa vai voltar a uma discussão de força, que não é exclusivamente acerca da tarifa: é uma discussão política que abrange muitas nuances.

Existe a esperança de modificações sempre positivas na sociedade, que nós todos que estamos aqui, espero, haveremos de construir.

Muito obrigada.

 

O SR. Carlos Giannazi - PSOL - PELO ART. 82 - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público presente, telespectador da TV Alesp, estou perplexo e chocado com o comportamento da Assembleia Legislativa, principalmente na data de hoje.

Estamos vivendo um momento histórico no Brasil de mobilização social, dos movimentos sociais indo às ruas, as pessoas se manifestando livremente, ocupando as ruas. Estamos vivendo uma verdadeira festa da democracia. A população acordando e reivindicando os seus direitos em várias regiões do Brasil, principalmente no estado de São Paulo, e mais na cidade de São Paulo.

Isso tem chacoalhado o Brasil, o Parlamento brasileiro, o Poder Judiciário, os Executivos, enfim, e também coloca em xeque as nossas certezas e o nosso comportamento político-partidário. Esse movimento, além da redução das tarifas do transporte público, traz uma questão importante: a mudança do comportamento político, das práticas e da cultura política. É um movimento importante porque tem um caráter educativo, fundamental para que possamos, de fato, entrar no século XXI com um novo paradigma político.

Pensei: “A Assembleia Legislativa vai ouvir a voz, o clamor da população”. Não é qualquer coisa. Falaram aqui em 65 mil, 50 mil manifestantes. Isso não corresponde à verdade. Esses são os números do “Datafolha”, com os quais não concordamos. Sabemos a quantidade de pessoas que se mobilizam, porque participamos de várias movimentações e atos no estado de São Paulo.

Na última quinta-feira, houve mais de duzentas mil pessoas marchando nas ruas da cidade de São Paulo. Ontem, mais de cem mil. É um fenômeno importante e histórico que estamos vivendo no Brasil e, sobretudo, no estado de São Paulo.

No entanto, a Assembleia Legislativa não entendeu. Ela está surda e cega. O movimento só cresce, porque o Parlamento não está conectado. Ele está divorciado da realidade, não ouve a voz das ruas e o clamor popular.

Quando discutiam o processo de cassação do vice-governador Guilherme Afif Domingos, na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, ocorreu um processo brutal de obstrução. Eu não consegui falar, a minha palavra foi cassada. Aliás, a sessão foi interrompida justamente no momento em que eu estava com a palavra.

O deputado José Bittencourt, de uma forma feroz e canina, defendeu a permanência - cumprindo seu papel, pois ele é deputado pelo PSD, mesmo partido do vice-governador - do Guilherme Afif Domingos. Ele defendeu uma ilegalidade, apesar dos pareceres do Ministério Público Estadual, da Procuradoria da Assembleia Legislativa e da Comissão de Ética do Estado de São Paulo.

O deputado José Bittencourt insiste em dizer que há legalidade no acúmulo dos cargos de vice-governador e de ministro. Isso é um absurdo. Além de ser uma anomalia jurídica, é uma aberração ética, moral e uma incoerência política. Toda a opinião pública é contra esse acúmulo de cargos, mas a Assembleia Legislativa, na contramão do que deseja a população, mantém esse comportamento extremamente duvidoso.

O deputado Campos Machado insiste em aprovar a PEC nº 01. Ela é considerada irmã da PEC nº 37, a PEC da impunidade. O deputado Campos Machado organizou uma audiência na semana passada em meio a toda essa crise: a população marchando nas ruas. O deputado teve a coragem de organizar uma audiência pública em defesa da PEC da impunidade. Isso é um verdadeiro absurdo, um contrassenso em relação ao que está acontecendo.

O governo Geraldo Alckmin quer aprovar o PL nº 650, que privatiza vários terrenos públicos: o Ginásio do Ibirapuera; o prédio do Iamspe; o prédio da Cetesb, em Pinheiros. Não estou entendendo, a Assembleia está surda e cega, divorciada da realidade.

Estamos correndo um sério risco. As manifestações em São Paulo já ocorreram na frente da Prefeitura e do Palácio dos Bandeirantes. Só falta a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal. A manifestação pode se direcionar ao Parlamento, por conta desse divórcio entre os interesses da população e a prática da Assembleia Legislativa.

Muito obrigado.

 

O SR. MARCOS MARTINS - PT - Sr. Presidente, eu gostaria de indicar, em nome da vice-liderança da Minoria, a deputada Beth Sahão para falar em nome da liderança, pelo Art. 82.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Está registrada a solicitação de Vossa Excelência.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - PELO ART. 82 - Sr. Presidente, meu amigo nobre deputado Samuel Moreira; líder do Governo, meu amigo Barros Munhoz, acabamos de ouvir o deputado Carlos Giannazi. Vocês sabem o que o deputado Giannazi fazia ontem à noite, nessa manifestação popular? Dava entrevistas. Falava da PEC 37, no Congresso Nacional; falava da PEC 01, da Assembleia Legislativa. O que tem a ver a PEC 01 e a PEC 37 com o aumento do preço de passagem? O que o deputado Giannazi procurava? Holofotes. Queria mostrar a sua imagem de jurista consagrado a todo estado de São Paulo.

Daqui a pouco vou falar sobre o movimento, mas antes quero falar de apenas duas manifestações do deputado Carlos Giannazi. Vou ler o e-mail que foi publicado no jornal “O Estado de S.Paulo”, uma carta do leitor:

“Como membro ativo do Ministério Público paulista há mais de 40 anos, sou forçado a concordar com o editorial O cerco ao Ministério Público (18/6, A3), que conclui que o ‘cerco’ atual contra a instituição deve-se, em parte, à falta de ‘prudência, sensatez e responsabilidade’ de vários de seus integrantes no exercício das atribuições e prerrogativas conferidas pela Constituição. Sabemos que a afoiteza de neófitos e a sedução das luzes da ribalta sobre neófitos e veteranos produziram distorções notáveis e nocivas. Mas, se há defeitos, devem ser corrigidos. Não podem se transformar em razão para inutilizar a atuação de uma das instituições que mais têm contribuído para aperfeiçoar as instituições democráticas.” Assinado, promotor público, Paulo Realil Nunes.

O que faço agora, deputado Carlos Giannazi? Um promotor público concordando com a nossa PEC. Não é Campos Machado, presidente do PTB, mas promotor público que escreve. Será que ele, membro da instituição há muitos anos, reconhece os equívocos? E Vossa Excelência? Não? Vossa Excelência ainda não entendeu o espírito da Emenda Constitucional. Na sexta-feira, havia quase 400 pessoas, diz Vossa Excelência. Nem todos eram prefeitos, digo eu. E os ex-sindicalistas não representam a sociedade? O deputado Ramalho que, além de deputado estadual, é presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo não representa a comunidade?

Nenhum sindicato está livre de perseguições hoje, nenhum sindicato trabalha sem que haja o cerco do Ministério Público. E V. Exa. é fora da rota, fora do contexto, alheio ao que acontece. Neste estado V. Exa. se coloca contra uma PEC desta Casa.

Vossa Excelência leu hoje o que saiu no Painel? A sugestão apresentada ao procurador-geral de Justiça, para que ele mandasse a esta Casa um projeto de lei que regulamentasse o trabalho dos promotores públicos, foi repelida. E nós não podíamos aceitar que uma instituição pudesse interferir nesta Casa, nobre deputado Carlos Giannazi.

Estava pensando cá comigo “Só vou falar daqui a pouco” para dizer da posição nossa em relação ao movimento popular. Mas V. Exa. parece Buda, cego, surdo e mudo, e não escuta as vozes da rua. Não são essas que V. Exa. escuta, mas as vozes das pequenas cidades, uma cidade com epidemia de dengue, com 35 pessoas infectadas. O prefeito não tinha como tratar das pessoas e teve que fazer uma rápida licitação para atender aos doentes, senão poderiam ocorrer 100, 150 mortes. O que o Ministério Público deve fazer? Processar o prefeito, deputado Giannazi? Vossa Excelência precisa me dizer o que farei agora, depois de ter ouvido um promotor público, com 30 anos de experiência, dizer que a nossa PEC está correta. Será que S. Exa. está errada?

Na sexta-feira, vi o prefeito a que me referi chorando por seus patrimônios dilapidados, mas o seu maior patrimônio não será mais recuperado: a honra. O mobiliário ele irá recuperar, mas a honra nunca mais. E Vossa Excelência, deputado Carlos Giannazi, ainda é contra a nossa PEC, que não é minha, é da Casa.

Nunca se esqueça, deputado Giannazi, de que o Ministério Público é, assim como a FMU e a USP, uma instituição. Nós somos o poder, e o nosso poder não pode ficar ao sabor dos ventos, nobre deputado. Mas ainda verei V. Exa. defendendo mais esta Casa do que uma instituição, ou terei que considerá-lo um promotor público desses que foram nomeados aqui. Se V. Exa. ama o Ministério Público, zele por ele, mas não faça mais objeções a esta PEC, que não é a PEC da impunidade, é a PEC da dignidade.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Ainda pelo Art. 82, tem a palavra a nobre deputada Beth Sahão, por indicação do deputado Marcos Martins.

 

A SRA. BETH SAHÃO - PT - PELO ART. 82 - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, funcionários, é evidente que a maioria dos deputados e deputadas que ocuparam esta Tribuna nos últimos dias vieram trazer as suas considerações e observações a respeito do movimento que temos acompanhado pelas ruas.

Inicialmente o movimento foi espontâneo, horizontal, sem a verticalização que geralmente caracteriza a maioria dos movimentos de rua. Formado por jovens que demonstram a sua insatisfação com determinadas questões, o movimento é bem-vindo, embora não deixe de conter também um aspecto difuso em relação às suas solicitações e reivindicações. Falta um pouco de foco para esse movimento. Apesar de haver, entre eles, pessoas que fazem parte do movimento Passe Livre, sabemos que também há pessoas que estão participando em função dos seus descontentamentos ou para poder fazer parte de alguma coisa. Certamente, temos que saudar esse tipo de iniciativa e repudiar a postura que foi e continua sendo adotada em alguns momentos pela polícia militar, devido à sua inabilidade e truculência no trato com os jovens.

Ontem apresentei um requerimento na Comissão de Direitos Humanos e foi aprovado um convite para que o comandante da Polícia Militar do Estado compareça na Comissão e preste os esclarecimentos necessários. Ele precisa dizer por que, em movimentos como esses, muitas vezes pacíficos, a tolerância da polícia é tão pequena e são usados instrumentos tão desleais na relação com os manifestantes. É claro que sabemos que a polícia tem que zelar pelo patrimônio público, tem que proteger as pessoas, mas há formas muito mais adequadas de se fazer isso do que através do uso da violência. Portanto, ontem, aprovamos isso.

Semana que vem haverá um seminário sobre Segurança Pública, promovido pelo deputado Ramalho da Construção, do qual deve participar o comandante da Polícia Militar. Esperamos que o comandante também participe da Comissão de Direitos Humanos para trazer suas orientações e impressões sobre o que aconteceu. Até porque, dias atrás, ele declarou que assumia toda a responsabilidade sobre as práticas adotadas pela Polícia Militar, isentando o secretário estadual de Segurança Pública e o próprio governador de qualquer responsabilidade sobre esses atos. Não concordo muito com isso, mas foram as palavras literais do comandante da Polícia Militar.

Com relação a essas questões, sobretudo quanto à redução da tarifa, nunca é demais ressaltar que o governo federal vem promovendo um conjunto de medidas com o intuito de desonerar alguns impostos, exatamente para poder facilitar a vida da população brasileira. Não fosse a recente desoneração do PIS e do Cofins, a passagem poderia até ter sofrido um reajuste ainda maior do que o realizado.

Assim, gostaria de lembrar o governador de que ele também tem alguns instrumentos com os quais pode atuar nesse sentido. O principal deles é a redução do ICMS sobre o diesel. É uma prerrogativa que o Governo do Estado poderia utilizar para que as empresas possam trabalhar melhor com suas planilhas. Quem ganharia com isso seriam os usuários do transporte coletivo da cidade de São Paulo. Acho que essa seria uma boa contribuição do governo Alckmin para melhorarmos essa relação e, quem sabe, atender a uma parte das reivindicações desses jovens.

Gostaria, ainda, de demonstrar minha indignação, nem tanto como deputada estadual, mas como psicóloga a um fato. Ontem, a Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional aprovou o projeto da “cura gay”, provocando indignação na grande maioria das pessoas de bom senso desse País.

A Organização Mundial da Saúde deixou de considerar a homossexualidade como doença desde 1990. No entanto, para nossa surpresa, a Comissão de Direitos Humanos do Congresso aprovou, ontem, o projeto da “cura gay”. Lamento muito que isso aconteça e espero que o projeto não prossiga nas comissões subsequentes.

É um absurdo considerar doentes aqueles que fazem escolhas por sua livre e espontânea vontade. Precisamos demonstrar nossa indignação perante tais questões. Mostrar que, em um mundo moderno, no qual lutamos contra qualquer tipo de intolerância e repressão, não é possível a existência desse tipo de decisão conservadora e arcaica.

Hoje, existe uma luta na sociedade brasileira contra a homofobia e, decisões como essa, aumentam ainda mais o nível de violência que determinadas pessoas sofrem em nossa sociedade.

Assim, fazemos um apelo para que as próximas comissões a apreciar esse projeto tratem-no de forma mais digna e com o respeito que essas pessoas merecem.

Muito obrigada.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - PARA COMUNICAÇÃO - Gostaria de realizar três convites.

O primeiro é para a cerimônia que acontecerá hoje, às 18 horas, no Centro de Estudos de História da USP, na qual será rebatizado o Centro Acadêmico de História da USP com o nome do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino. Trata-se de uma iniciativa de nossa Comissão da Verdade em conjunto com a USP.

O segundo convite é para uma audiência especial da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Ela acontecerá no dia 25 de junho, terça-feira, das 14 às 18 horas, no auditório Teotônio Vilela, aqui na Assembleia. Serão tratados assuntos relevantes e a questão da função do jornalista na cobertura de manifestações.

O terceiro convite é para um simpósio promovido pelo deputado Ramalho da Construção, em conjunto com a Assembleia Legislativa e o Instituto Chamberlain. O “Simpósio Internacional de Segurança Cidadã” ocorrerá dia 25, terça-feira, durante o dia todo. Estará presente o secretário da Segurança Pública e o coronel Meira, comandante-geral da Polícia Militar.

O secretário Fernando Grella comparecerá à abertura, às nove horas da manhã. Às 16 horas, o comandante-geral da Polícia Militar participará da mesa: “25ª hora, quem ganha?”.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. WELSON GASPARINI - PSDB - PELO ART. 82 - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, quero fazer uma conclamação.

Esses grandes movimentos, que estão acontecendo em todo o Brasil, precisam ter uma sequência. É lógico que a população não poderá sair às ruas todos os dias para fazer seus protestos e reivindicações. Quem pode dar uma solução para esses movimentos, ainda que não seja vista com simpatia, é a classe política. No processo democrático, as leis, as reformas e os problemas de justiça e injustiça somente podem ser analisados e resolvidos através dessa classe.

Em uma das manifestações algumas pessoas diziam: “não queremos políticos aqui”. Quem eles querem então? A quem eles vão apresentar as reivindicações, as propostas e, principalmente, os protestos? No processo democrático, isso ocorre através da classe política.

Concordo que, infelizmente, a classe política atual está deixando muito a desejar. Mas por culpa de quem também? Por culpa da maioria do povo que não se interessa pelo assunto. Hoje temos um número grande de políticos que estão atraiçoando todos aqueles programas, aquelas plataformas das campanhas eleitorais. Onde está o povo que não fiscaliza isso e não toma providências para exigir honestidade e eficiência de seus representantes?

Meu Deus do céu, esta é a Assembleia Legislativa do estado mais importante deste País. Tem uma pessoa nas galerias. E não é só hoje. Outro dia havia uma pessoa também, o guarda.

Será possível que ninguém se interessa pelo que está acontecendo nesta Casa? Podemos fazer o que quisermos e ninguém irá questionar nossa conduta? E a imprensa? Será que a mídia está presente aqui em sua maioria acompanhando todos os acontecimentos da Assembleia Legislativa para fazer críticas construtivas, ver quem trabalha e quem não trabalha? É preciso acompanhar quais assuntos discutidos aqui merecem atenção não apenas dos deputados, mas da mídia e do povo em geral.

Disse em um pronunciamento hoje, no Pequeno Expediente, que infelizmente temos a grande maioria do povo completamente adormecida. Agora o povo está saindo às ruas, mas onde estavam na época das eleições? Mais de 30% dos eleitores não votaram, não se interessaram. Segundo pesquisa, 70% não souberam responder em quem votaram, já tinham esquecido.

Como pode? São muitos os problemas deste País. No sistema democrático, eles só podem ser resolvidos através dos políticos. Se estes, em sua maioria, não são bons, vamos mudar! Como é difícil encontrar candidatos em época de eleições!

O sistema político precisa ser reformado num processo eleitoral, porque hoje quem tem muito dinheiro e sai candidato será eleito. Por exemplo, vocês acham que é justo poder ter votos em todos os municípios do estado de São Paulo? São mais de 500 cidades. O candidato que tem dinheiro arruma cabo eleitoral em alguma dessas centenas de municípios e pronto, está eleito. Basta ter dinheiro para isso. Precisamos de reforma política.

Essa é uma das coisas que estão sendo solicitadas nas passeatas que estão acontecendo. Além dessa reforma, precisamos da reforma tributária. Chega de impostos! O povo não está bem esclarecido, mas o que se paga de impostos hoje é incrível! Tenho denunciado. Tenho denunciado, desta tribuna, que 36% do custo dos remédios são impostos. Quem reclama disso? Muitos nem sabem disso. É preciso haver a conscientização. Cabe aos líderes políticos honestos, decentes e idealistas providenciar a conscientização do povo.

Faço uma conclamação, principalmente aos jovens: ingressem na política. Não basta desfilar pelas ruas e dizer, nos cartazes: “queremos reformas” ou “combate à corrupção”. Tudo bem, mas quem vai fazer isso? Amanhã, cada um dos que estão desfilando vai para casa.

Se os parlamentos não funcionarem, reformando as leis, teremos um Judiciário que não funciona. A roubalheira do mensalão ocorreu há quase dez anos e ainda não houve o julgamento. Eu ainda poderia citar muitas coisas que precisam ser reformadas.

Que o povo exija de seus representantes uma conduta bem grave e rápida, para poder corrigir os erros desta Nação.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - “Resposta à Questão de Ordem formulada pelo nobre deputado Alex Manente na 84ª Sessão Ordinária, realizada no dia 12 de junho de 2013

Na 84ª Sessão Ordinária, realizada no dia 12 de junho corrente, o nobre deputado Alex Manente, Líder do Partido Popular Socialista - PPS, suscitou Questão de Ordem com fundamento no artigo 260 do Regimento Interno, pugnando pela impossibilidade e inconveniência da acumulação do mandato eletivo do Senhor Vice-Governador do Estado com a de Secretário da Micro e Pequena Empresa, com status de Ministro, junto ao Executivo Federal.

O ilustre Líder do PPS, com arrimo na posição de renomados juristas, sustenta que não há qualquer espaço para essa cumulação, que exorbita das expressas autorizações constitucionais.

Passo a responder, lembrando que existe uma representação tratando do mesmo assunto, feita pelo nobre deputado Carlos Giannazi, constante do Processo RGL 3351, de 2013, a qual, por despacho desta Presidência, foi encaminhada à Comissão de Constituição, Justiça e Redação, para análise de seu cabimento e posterior deliberação sobre o seu mérito. Se a comissão entender ser caso de perda do mandato, deverá propor um projeto de resolução, que será submetido à deliberação do Plenário desta Casa.

Certamente este Poder Legislativo é detentor da competência para conhecer e decidir sobre a matéria, conforme expressa outorga do artigo 20, inciso XVII da Constituição do Estado. Porém, trata-se de uma competência concedida ao Plenário, a cada um e a todos os membros deste Parlamento. Esta Presidência, singularmente, não dispõe de poderes para resolver em definitivo a questão. É matéria sujeita à deliberação do Plenário. No extenso rol de atribuições cometidas ao Presidente da Assembleia, principalmente pelo artigo 18 do Regimento Interno, não há nenhuma menção, nenhuma concessão de poder, ou de legitimidade, para decidir de modo terminativo sobre matéria dessa natureza.

Diante disso, ainda que relevantes as razões de ordem ética e jurídica trazidas pelo ilustre autor da Questão, esta Presidência deve aguardar a manifestação da Comissão de Constituição, Justiça e Redação. Cabe lembrar que o representado, o Senhor Vice-Governador do Estado não apresentou ainda a sua defesa. Tratando-se de perda de mandato, é indispensável que se ofereça oportunidade para a formação do contraditório e da ampla defesa.

Princípio basilar do Estado Democrático de Direito, o inciso LV (55) do artigo 5º da Constituição Federal assegura aos acusados em geral o direito ao contraditório e à ampla defesa.

Portanto, há que se aguardar a regular tramitação da matéria. Esta Presidência informa ao ilustre autor que determinará a juntada de cópia da sua Questão de Ordem ao procedimento constante do Processo RGL 3351/2013, para conhecimento dos membros da Comissão de Constituição, Justiça e Redação.”

 

O SR. PRESIDENTE -SAMUEL MOREIRA - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, vamos passar à Ordem do Dia.

 

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- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

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O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, nos termos do Art. 100, inciso I, da XIV Consolidação do Regimento Interno, convoco V. Exas. para uma Sessão Extraordinária, a realizar-se hoje, dez minutos após o término da presente sessão, com a finalidade de ser apreciada a seguinte Ordem do Dia:

Item 1 - Projeto de lei Complementar nº 9, de 2013, que altera a organização e a divisão judiciária do Estado.

Item 2 - Projeto de lei Complementar nº 11, de 2013, que dispõe sobre a reclassificação de vencimentos e salários dos integrantes do quadro do Magistério e do quadro de apoio escolar da Secretaria da Educação.

Item 3 - Projeto de lei Complementar nº 16, de 2013, que cria cargos na Secretaria da Segurança Pública.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, há sobre a mesa os seguintes requerimentos:

- requerimento da nobre deputada Rita Passos, líder do PSD, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 217/2013, de autoria do nobre deputado Leandro KLB, que dispõe sobre efetivo mínino feminino nas delegacias de polícia do estado de São Paulo.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

- requerimento do nobre deputado Beto Trícoli, vice-líder do PV, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 333/2012, de autoria do nobre deputado Reinaldo Alguz, que proíbe o lançamento de efluentes que contenham corantes em rios, lagos, represas e demais corpos de água doce do estado de São Paulo, e determina classificação dos corantes como contaminantes ambientais.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

- requerimento do nobre deputado Alex Manente, líder do PPS, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 190/2013, de sua própria autoria.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

- requerimento do nobre deputado Estevam Galvão, líder do DEM, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 308/2012, de sua própria autoria, que institui sistema único de informação em Saúde.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

- requerimento do nobre deputado Itamar Borges, líder do PMDB, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 355/2012, de sua própria autoria, que dispõe sobre programas específicos de inovação tecnológica para microempresas e empresas de pequeno porte do estado de São Paulo.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

- requerimento do nobre deputado Carlos Bezerra, líder do PSDB, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 64/2013, de autoria da nobre deputada Célia Leão, que torna obrigatória a divulgação dos gabaritos dos exames de ingresso em cursos de residência médica em até 48 horas, contadas de seu término.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

- requerimento do nobre deputado Luiz Cláudio Marcolino, líder do PT, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 328/2013, de autoria do nobre deputado Francisco Campos Tito, que dispõe sobre implantação do selo amigo do idoso, destinado às entidades que atendem idosos na modalidade casa de repouso.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

- requerimento do nobre deputado Luiz Cláudio Marcolino, líder do PT, com o número regimental de assinaturas, solicitando tramitação em regime de urgência para o Projeto de lei n° 232/2013, de autoria do nobre deputado Adriano Diogo, que autoriza a CDHU a tomar as providências necessárias à proteção de mutuários em situação de vulnerabilidade social, conforme especifica.

Em discussão. Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

 

O SR. ESTEVAM GALVÃO - DEM - Sr. Presidente, havendo acordo entre as lideranças partidárias com assento nesta Casa, solicito a suspensão dos trabalhos até as 18 horas e 15 minutos, para realização de congresso de comissões.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, nos termos do Art. 18, combinado com o Art. 68, da XIV Consolidação do Regimento Interno, convoco V. Exas. para a reunião conjunta das Comissões de Constituição e Justiça, Saúde e Finanças e Orçamento, a realizar-se hoje, às 17 horas e 35 minutos, com a finalidade de apreciar o Projeto de lei nº 308, de 2012, de autoria do deputado Estevam Galvão.

Convoco V. Exas., nos mesmos termos, para a reunião conjunta das Comissões de Ciência e Tecnologia e Finanças e Orçamento, a realizar-se hoje, às 17 horas e 40 minutos, com a finalidade de apreciar o Projeto de lei nº 355, de 2012, de autoria do deputado Itamar Borges.

Convoco V. Exas., nos mesmos termos, para a reunião conjunta das Comissões de Constituição e Justiça e Educação e Cultura, a realizar-se hoje, às 17 horas e 45 minutos, com a finalidade de apreciar o Projeto de lei nº 64, de 2013, de autoria da deputada Célia Leão.

Convoco V. Exas., nos mesmos termos, para a reunião conjunta das Comissões de Constituição e Justiça, Saúde e Finanças e Orçamento, a realizar-se hoje, às 17 horas e 50 minutos, com a finalidade de apreciar o Projeto de lei nº 328, de 2013, de autoria do deputado Francisco Campos Tito.

Convoco V. Exas., nos mesmos termos, para a reunião conjunta das Comissões de Constituição e Justiça, Segurança Pública e Assuntos Penitenciários e Finanças e Orçamento, a realizar-se hoje, às 17 horas e 55 minutos, com a finalidade de apreciar o Projeto de lei nº 217, de 2013, de autoria do deputado Leandro KLB.

Convoco V. Exas., nos mesmos termos, para a reunião conjunta das Comissões de Constituição e Justiça, Saúde e Finanças e Orçamento, a realizar-se hoje, às 18 horas, com a finalidade de apreciar o Projeto de lei nº 190, de 2013, de autoria do deputado Alex Manente.

Convoco V. Exas., nos mesmos termos, para a reunião conjunta das Comissões de Constituição e Justiça, Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e Finanças e Orçamento, a realizar-se hoje, às 18 horas e 05 minutos, com a finalidade de apreciar o Projeto de lei nº 232, de 2013, de autoria do deputado Adriano Diogo.

Os congressos serão realizados no salão nobre da Presidência.

Está suspensa a sessão.

 

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- Suspensa às 17 horas e 32 minutos, a sessão é reaberta às 18 horas e 18 minutos, sob a Presidência do Sr. Samuel Moreira.

 

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O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Há sobre a mesa requerimento assinado pelo deputado Luiz Cláudio Marcolino, que requer uma inversão da disposição da presente Ordem do Dia, para que o item 324, que consiste no Projeto de lei nº 241/2006, passe a figurar como item 1, renumerando-se os demais.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, deputado Barros Munhoz, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, aliás, mais uma vez eu me equivoco a saudar o Sr. Presidente, porque ambos têm o mesmo coração, a mesma alma, o meu sentimento e os meus ideais e olham as mesmas estrelas. Acabei de chamar o Sr. Presidente de Barros Munhoz, eu chamo o deputado Samuel Moreira que juntamente com o deputado Barros Munhoz fazem parte da constelação de estrelas desta Casa. Nobre Presidente deputado Samuel Moreira, líder deputado Barros Munhoz, deputado Luiz Cláudio Marcolino, em nome do PTB estadual, como Presidente do Estado, um dos maiores partidos do estado de São Paulo, como líder da Bancada do PTB, ocupo hoje esta sagrada tribuna para deixar clara a nossa posição quanto a essas manifestações populares que ocorrem e vem ocorrendo nesse Estado, principalmente na Capital. Somos favoráveis, totalmente favoráveis a manifestações pacíficas.

Aqui na galeria, quando as manifestações são pacíficas, ordeiras, embora contrárias à nossa posição, nós as respeitamos. Quando as manifestações são hostis, grosseiras, nós as repudiamos, e não temos aquela convicção de que é preciso silenciar, quando se deveria protestar.

Esse movimento “Passe Livre”, MPL - infelizmente nós não sabemos quem são os líderes - tem sido aplaudido por certa parte da população e por nós também. O que acontece e que nós não podemos aceitar, são as violências, as agressões, os vândalos, os baderneiros, os oportunistas.

Tem políticos que se utilizam desses movimentos para defender bandeiras que nada tem a ver com o movimento. Será que é compatível com a civilidade o que aconteceu ontem na porta da prefeitura de São Paulo? Será que aquilo é correto, merece aplausos? Aquilo é um ato de selvageria, de vandalismo! Quem é que vai pagar os danos causados ao prédio da prefeitura? Quem é que vai ser responsável pelas dezenas de lojas e bares que foram saqueados ontem à noite? Quem é que vai aplaudir o movimento que pára a via Anchieta hoje pela manhã? Os trabalhadores não puderam chegar aos seus trabalhos. Quem é que pode aplaudir uma ação como ocorreu hoje no Taboão da Serra, lá na Zona Sul de São Paulo, em M-Boi Mirim? Quem é que pode aplaudir aquilo? Qual é a finalidade, qual é o objetivo de impedir que as pessoas pudessem ter livre trânsito, direito de ir e vir, de trabalhar? Quem pode impedir? Em nome de quê? “Estou cansado da situação”. Será que essa é a maneira mais apropriada de mostrar a sua revolta, o seu repúdio? Será que derrubando placas, queimando viaturas, queimando ônibus, alguém pensa que está concorrendo para a democracia? Será que foi justo? Será que merece aplausos, felicitações a viatura da TV Record ser queimada ontem à noite? Os protestos pacíficos são válidos; os de origem duvidosa não.

Ontem à noite, deputado Samuel Moreira, na televisão, eu vi a presença de membros do PTB Diversidade numa posição pacífica, tranquila. Andando pela Paulista, eles têm a sua bandeira, a bandeira da diversidade, respeitando as opções sexuais das pessoas. Estavam lá o presidente e mais 20 diretores do PTB Diversidade; pessoas do PTB afrodescendentes estavam lá. Recomendei que nenhum dos nossos 14 departamentos usasse essa caminhada para mostrar bandeiras do PTB, não. São manifestações apartidárias. Acho até uma ofensa ao PSOL dizerem que seus líderes tenham contratado gangues de marginais para fazer tumulto, não acredito nisso. Mas manifestações pacíficas é uma coisa e manifestações com vandalismo é outra.

Aqui na Assembleia, por exemplo, não podemos mais levantar a sessão, não. Em dia de sessão - terça, quarta e quinta-feira - temos que estar aqui. Os funcionários não têm nada a ver com nossas posições políticas, mas é também necessário que entendamos a seguinte equação: hoje se defendeu que a redução da passagem de ônibus caísse de 3,20 para 3,00 reais. Acabo de ser informado que o prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin reduziram a passagem para 3,00 reais; e amanhã qual vai ser a reivindicação? Quais vão ser as reivindicações amanhã? Será que a violência vai imperar? E a Polícia? Desculpem-me, mas temos que ter senso; não se pode criticar de maneira desmedida a ação da Polícia, deputado Major Olímpio, ou acaso alguém supõe que as espinhas sejam retribuídas com flores? Mas diz alguém que a Polícia não pode revidar. Mande invadir sua casa; abra sua casa e deixe invadi-la. Qual vai ser sua reação? Não se trata aqui de defender a violência. Trata-se de defender o patrimônio das pessoas, a liberdade das pessoas.

A minha família precisa andar na cidade. Estamos sendo sitiados, aprisionados em nossa própria cidade por gente da classe média alta, com jaquetas Armani, Ermenegildo Zegna, com toucas francesas, óculos ingleses e acompanhados sempre de alguns políticos que pregam o quanto pior melhor; e também para serem contra a PEC. Aí fico indagando a mim mesmo: o que querem esses desordeiros que infelizmente trazem uma imagem que denigre um movimento dos cidadãos?

Movimento é uma coisa, rebeldia é outra. E as pessoas que querem trabalhar e não podem? E as que querem sair de casa e não podem? Eu gostaria de sugerir ao movimento Passe Livre que utilizasse também o Parque do Carmo. Por que só a Av. Paulista? O Parque do Carmo fica na zona leste e tem 4 milhões de habitantes. Temos que demonstrar nossa insatisfação. Não é possível protestar apenas na Av. Paulista e na Rua Augusta. Será que é justo quebrar vidros, quebrar a fachada da Prefeitura Municipal, derrubar os portões do Palácio dos Bandeirantes? Isso é vandalismo ou manifestação popular?

Reitero que o PTB é favorável às manifestações, desde que não haja baderna, vandalismo, invasões e depredações. A polícia, exceção feita ao deputado Major Olímpio, não é defendida. Devemos ter muita cautela quando se atiram pedras na polícia, porque, se não fosse ela, estaríamos numa situação muito pior do que o caos atual. O que fazer contra uma turba que tenta invadir e depredar um banco? Cruzar os braços e assistir à depredação? Deixar que os caixas sejam danificados?

Portanto, Sr. Presidente, esta é a posição do PTB de São Paulo. E me atrevo a dizer, como segundo homem do partido no País, é a posição nacional do PTB. Manifestações populares, sim; vandalismo, desordens, badernas, não.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Gostaria de aditar à Ordem do Dia da Sessão Extraordinária, que ocorrerá 10 minutos após o término desta Sessão, os seguintes projetos: Projeto de lei no 217, de 2013, de autoria do deputado Leandro do KLB; Projeto de lei no 333, de 2012, de autoria do deputado Reinaldo Alguz; Projeto de lei no 308, de 2012, de autoria do deputado Estevam Galvão; Projeto de lei no 155, de 2009, de autoria do deputado Edson Ferrarini; Projeto de lei no 190, de 2013, de autoria do deputado Alex Manente; Projeto de lei no 355, de 2012, de autoria do deputado Itamar Borges; Projeto de lei no 64, de 2013, de autoria da deputada Célia Leão; Projeto de lei no 328, de 2013, de autoria do deputado Francisco Campos Tito; e o Projeto de lei no 232, de 2013, de autoria do deputado Adriano Diogo.

 

O SR. CARLOS GIANAZZI - PSOL - PARA RECLAMAÇÃO - Gostaria de comemorar a vitória do movimento organizado, das pessoas que estão saindo às ruas para mudar o paradigma político do Brasil. É um movimento que, sobretudo, luta por uma grande mudança na cultura política, nas práticas políticas, e que questiona, inclusive, o parlamento brasileiro, o Poder Judiciário e o Executivo. É um momento histórico, por conta de toda essa mobilização e pela vitória. Esse movimento conseguiu obrigar os governos estadual e municipal a recuarem.

Porém, não entendi a intervenção do deputado Campos Machado, que foi dúbia. Ele criminalizou o movimento social ao invés de celebrar essa grande conquista histórica, que se pautou pela presença da população nas ruas e pela força do movimento. É um momento histórico que tem que ser celebrado por todos nós. E vejo o deputado Campos Machado usando a tribuna não para celebrar, mas para criminalizar o movimento social. Ele gastou um bom tempo criminalizando, pegando pelo aspecto negativo de toda essa movimentação.

Gostaria de dizer ao deputado que isso é só o começo. Esse movimento não vai se contentar só com a redução das tarifas de ônibus, dos trens e do metrô. Vamos muito mais além. Queremos uma grande reforma, uma grande mudança na cultura política do País, sobretudo dos partidos políticos.

Esse movimento é contra a PEC 37, é contra a PEC nº 1, é contra a impunidade, é contra a falta de investimento em Educação, em Saúde, em Segurança Pública, e sobretudo é contra a especulação imobiliária em São Paulo e contra essa máfia que existe no transporte na cidade de São Paulo.

As marchas vão continuar, com outras bandeiras e outras reivindicações. Estranha-me o deputado Campos Machado continuar criminalizando o movimento social, ao invés de enaltecer, ao invés de celebrar essa grande vitória da população do Brasil.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Sr. Presidente, para encaminhar pela bancada do PDT.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - É regimental. Tem a palavra o nobre deputado Olímpio Gomes.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB – PARA RECLAMAÇÃO - Sr. Presidente, como é difícil lidar com o deputado Carlos Giannazi! Como é difícil! Será que ele quer que eu aplauda delirantemente a ação de quem destrói portas, invade lojas, destrói a entrada da prefeitura, derruba o portão do Palácio, danifica carros, saqueia lojas?

Estou me dirigindo a essas pessoas, deputado. Eu disse bem claro: somos favoráveis às manifestações populares pacíficas. Mas não posso admitir que pessoas oportunistas, que vândalos, que bandoleiros morais queiram desvirtuar as finalidades desse movimento. Não estou criminalizado os movimentos. Estou parabenizando os movimentos. Mas não posso aceitar os prejuízos: avenidas paralisadas, ônibus queimados, carro de TV queimado. Não podemos admitir, somos homens públicos. Só os covardes não reconhecem o que está acontecendo de equivocado na cidade.

Deputado Major Olímpio, gostaria de saber qual é a sua opinião, principalmente, não em relação ao movimento, que somos favoráveis, mas em relação aos baderneiros, aos vândalos e a bandidos que estão aproveitando esse movimento para trazer a insegurança ao povo paulistano e paulista.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, funcionários desta Casa, cidadãos que nos acompanham pela TV Assembleia, ontem, como em todos os instantes em que tivemos manifestações públicas, eu me fiz presente, acompanhando desde a preparação, para que a pacificidade do evento fosse garantida, já que há uma garantia constitucional do livre direito de manifestação.

Ontem, acompanhando inicialmente na Praça da Sé, posteriormente defronte à prefeitura municipal e nos seus entornos, e para terminar na Avenida Paulista, confesso que me senti muito mal como policial. E tenho certeza que quase a totalidade dos policiais em serviço com quem conversei antes, durante e após a manifestação, sentiram-se da mesma forma. Devo dizer que a parte bonita do movimento - tenho visto milhares de jovens da geração dos meus filhos e vários veteranos da minha e de gerações mais antigas, inclusive com os seus netos - realizava uma mobilização extremamente pacífica.

Contudo, o meu inconformismo e minha dor são com o que acabei presenciando na data de ontem. Já me coloquei à disposição para testemunhar no inquérito contra os bandidos travestidos de manifestantes - que não eram mais que 20 ou 30 - os quais queriam agredir e destruir. Ninguém me falou, eu presenciei tristemente o fato. Fui comandante da Região Central de São Paulo, naquele centro velho, e fui obrigado a ver, por mais de duas horas, lojas serem arrebentadas e saqueadas. Sabe onde reside minha dor? Houve ordem governamental para a minha Polícia Militar se esconder. Não estou partidarizando. Era o desejo do governador e do secretário da “Insegurança” manifesto à Polícia Militar, no entendimento de que o cadáver iria cair, literalmente, no colo da Prefeitura de São Paulo, do PT ou de quem quer que seja. Por duas horas, eu fiquei na expectativa, pedindo, quase doente.

Não se tratava mais de manifestação pública, era crime isolado. Uma agência do banco Itaú foi arrebentada a 300 metros de onde estava o efetivo policial. Havia mais de 600 policiais com a ordem expressa de não se deslocarem, de não saírem do local. Qual é a posição da Assembleia legislativa? Qual é a nossa posição? Nesta Casa, ninguém adora a Polícia Militar mais do que eu. Sei que muitos adoram tanto quanto. Foi uma vergonha o que o Governo impôs ontem! De a Polícia Militar tomar a atitude de não ter a polícia de investigação acompanhando o movimento e detendo o bandido Tiago, que tem o pseudônimo de “cabo Gomes”. Tomara a Deus que ele não seja mesmo cabo.

Dá vergonha como cidadão! Não fiquei sabendo pela TV ou jornal. Eu estava ali quando eles ameaçaram, tocaram fogo e começaram a atirar pedras na equipe da Rede Record. Estava com outro jornalista a menos de cinco metros do local. Que vergonha! Deixa pra lá! Nós ficamos a vida toda - e eu faço parte disso - na Polícia Militar discutindo o motivo pelo qual Guarda Municipal quer escudos, tendo em vista que não possui poder de polícia. Por que e para que querem munição química?

Mas ontem eu vi os guardas municipais serem massacrados. O patrimônio da Prefeitura não é do Haddad, mas sim da população que paga seus impostos. Se fosse engatinhando de joelhos, pagando promessas, o efetivo policial - em linha reta, da Praça da Sé até onde havia o vandalismo e a destruição de lojas - chegaria em menos de duas horas. Passaram-se duas horas. Havia 600 policiais na Praça da Sé. Antes, havia cumprimentado o comandante da Capital, coronel Ribeiro, ao mais jovem dos soldados. Não tinha nenhum no entorno - não era só na frente da Prefeitura, não. Começamos a ter deslocamento de força policial quando se teve a certeza. Hoje, inúmeros comandantes, a Tropa da Polícia Militar indignada, estão dizendo: “Olha a que ponto chegamos politicamente.”

Quando é que vamos tomar a atitude que a lei determina? Livre manifestação? Bonito, bacana. Valeu a pena? Sim, valeu a pena; já fez governantes fazerem uma revisão. Estou afirmando: entre aqueles indivíduos vândalos, bandidos, não tinha nenhum manifestante. Estavam ali pelo banditismo! Estavam ali microtraficantes da região central da cidade de São Paulo, ladrões que aproveitaram para saquear as lojas. Vi um indivíduo correndo com uma televisão, a quatrocentos metros da Secretaria de Segurança Pública!

Secretário, pelo amor de Deus, a sua origem como procurador, como “custus legis”, que é um nome bonito, como fiscal da lei! Ao lado do Tribunal de Justiça! No Tribunal de Justiça, tinha Tropa de Choque de prontidão; Tropa de Choque no quartel do Corpo de Bombeiros; Tropa de Choque na Secretaria de Segurança Pública. Mas não deu para se deslocar para proteger o patrimônio e as pessoas! Que vergonha!

No dia 16 de fevereiro, completei 35 anos de ingresso na Polícia Militar. Nunca vi uma situação dessas, em que as autoridades constituídas, o governador, o secretário, deram ordem imperiosa ao Comando da Polícia Militar: “Deixem quebrar! Roubem!” Que vergonha!

Não devemos criminalizar os movimentos. Encontrei o deputado Carlos Giannazi; em nenhum momento, ele incitou à violência. Ao contrário. Encontrei o deputado Alcides Amazonas; em nenhum momento, ele incitou à violência. Ao contrário. Mas diziam aos indivíduos, davam a garantia com o mandato parlamentar deles da livre manifestação.

Sabem qual é o meu inconformismo? É o centro da cidade, no entorno da Prefeitura, ter virado terra sem lei! “Podem roubar! Arrebentem a agência do Itaú! Quebrem os vidros! Entrem!” Eu, olhando no relógio, pensava: “Em 30 segundos a Polícia vai chegar, pelo amor de Deus! Isso não vai continuar...” Jornalistas eram agredidos por serem da Globo, da Record. Pensava: “A Polícia vai conter esses 20, 30 vândalos, que não são manifestantes, em prol de cidadania.” Hoje, tivemos uma vitória da cidadania, mas não é vitória desses bandidos.

Quero dizer como me sinto envergonhado. Vou representar criminalmente ao procurador-geral de Justiça. Gostaria que a Assembleia Legislativa se pusesse de pé e exigisse do Governo do Estado mais do que explicações: atitudes em relação ao que deixou de fazer ontem. Que coisa feia!

Ah, arrebentaram as Casas Bahia! Ah, ah, ah! Está tudo no seguro. Ah, arrebentaram a loja! Por que ele tem a loja na São Bento? Terra sem lei! Meus policiais em forma, a 300 metros dali, vendo o bandido arrebentar a loja e ter a ordem expressa: “Não saia do lugar; deixe arrebentar!” Ficou muito pior do que na quinta-feira, porque deu a certeza para o bandido de que ele pode agir livremente. Ele pode roubar, atentar contra as pessoas. Ele pode colocar fogo em um carro, porque é de uma rede de televisão. Ele pode fazer o que quiser, porque não querem que haja resvalo na imagem política.

Cuidado, pois ainda não houve corpos nas ruas. Nessa sequência, poderá haver corpos, porque os marginais têm certeza de que a polícia não reage. Por que não impor arma de fogo? Por que não dar uns “tirinhos”?

Isso é uma vergonha! Estou envergonhado com o que presenciei ontem! A nossa vergonha e indignação servem para exigir respostas do porquê da não atuação policial no dia de ontem.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - Sr. Presidente, solicito encaminhar a votação pela liderança do PSOL.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - É regimental o pedido de Vossa Excelência. Tem a palavra para encaminhar a votação o nobre deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. BARROS MUNHOZ - PSDB – PARA COMUNICAÇÃO - Eu posso até concordar com muitas das coisas que o deputado Olímpio Gomes disse, mas não posso concordar, em hipótese alguma, com a afirmativa de que houve uma ordem do governador ou do secretário para que a polícia não interviesse, não atuasse, mesmo quando devia.

É inquestionável que o governador Geraldo Alckmin não começou ontem na política e que não é governador pela primeira vez. Ele é um homem traquejado, experiente. Ele foi submetido ao julgamento mais difícil e sagrado que existe: o das urnas.

Todo mundo o conhece e sabe que ele jamais daria uma ordem desse tipo. E assim também o secretário Fernando Grella. Ele teve um papel fantástico na condução mais pacífica desse movimento. Ele fez com que a manifestação escoasse mais pelo ritmo correto, normal, respeitável, democrático do que pelo rito que prevalecia antes do vandalismo.

Se houve demora da polícia - até concordo, pois estava assistindo televisão com minha filha e tive a mesma sensação, deputado Olímpio Gomes - alguma razão ou desencontro houve. Tenho acompanhado a ação da polícia de São Paulo e sou um dos que o deputado diz que a respeita. Respeito a polícia - não mais que ele, porque todo mundo sabe que ele respeita mais do que qualquer outro deputado a nossa valorosa polícia militar de São Paulo.

Que qualquer manifestação caminhe sempre com tranquilidade, na paz, no respeito e em favor da democracia.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR- Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público presente, mais uma vez volto a esta tribuna para celebrar e comemorar essa grande mobilização que tem tomado conta do Brasil e tem chacoalhado as instituições, os partidos políticos, o mundo político, o Parlamento brasileiro, o Executivo e o Judiciário.

Estamos notando pessoas de vários seguimentos se mobilizando e entrando nessa grande marcha da cidadania e grande festa da democracia. Nós chamamos isso de cidadania crítica e ativa, em que as pessoas começam a acordar e encontrar algum canal de participação para, no mínimo, ter voz e vez.

Isso é muito importante, é um momento histórico para o Brasil. Tenho certeza de que o Brasil nunca mais será o mesmo.

Celebramos, também, já a primeira grande conquista desse movimento: a redução das tarifas do transporte público de São Paulo. O prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, acabou de fazer um pronunciamento reduzindo as tarifas. Já havia ocorrido a redução em Porto Alegre e em outras sete cidades. É um movimento que vem acumulando já algumas vitórias importantes. Mas ele não existe só para reduzir as tarifas: vai muito além do que essa bandeira.

Primeiramente, houve redução porque os governos foram forçados. Não podemos nos esquecer que no primeiro momento, tanto o prefeito Haddad como o governador Geraldo Alckmin anunciaram o aumento das passagens e foram embora para Paris. E depois fizeram críticas à movimentação social, ambos criticaram ferozmente as manifestações que estavam ocorrendo. O governador Geraldo Alckmin foi mais enfático ainda, ordenando que a Tropa de Choque reprimisse com violência as manifestações em São Paulo: a famosa quinta-feira cinzenta que nós vivemos. Após a manifestação que houve no Largo da Batata, houve uma mudança de comportamento, porque os governos perceberam que o movimento era muito grande, que a opinião pública estava do lado do movimento, e a própria imprensa teve de recuar e apoiar o movimento. A partir disso, os governos se sentiram pressionados e, só agora, tardiamente, resolveram, por uma questão de sobrevivência política, revogar o aumento das tarifas.

Chamou-me muita atenção quando assistia aos pronunciamentos do governador e do prefeito Fernando Haddad. Nas entrelinhas, eles colocaram que isso teria algum ônus para a população, que teriam de cortar alguma parte do Orçamento. O que eles pretendem fazer é cortar no Orçamento de alguma área, como Educação e Saúde. O próprio Fernando Haddad já tinha ventilado isso, de que teria de cortar, talvez da Saúde ou da Educação, para reduzir o preço da tarifa de ônibus em São Paulo.

Isso é um absurdo. O movimento não vai aceitar que o ônus do reajuste seja repassado para a população. Quem tem de arcar com o custo é o empresariado, são os donos das empresas de ônibus, a máfia de transporte que todos conhecem e que existe na cidade de São Paulo. Nós não vamos querer nenhum ônus em nenhuma área. Que corte da margem de lucro dos empresários. E o mesmo em relação ao governador Geraldo Alckmin.

Nós vamos continuar mobilizados, o movimento continua porque existem outras pautas: a luta contra a falta de mobilidade na cidade de São Paulo, um trânsito engarrafado, e as péssimas condições do transporte público, tanto de ônibus, como de metrô ou de trem. As pautas vão continuar sendo defendidas por esse movimento, que é novo no Brasil. É um movimento diferente que é organizado através das redes sociais, e que têm outra conotação. É totalmente diferente de tudo que conhecemos.

O movimento vai continuar defendendo mais investimento em Educação pública de qualidade. Teremos os preparativos para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, com o Brasil fazendo planos, com metas para a construção de estádios, de arenas, investindo bilhões de reais do dinheiro público em estádios privados. Mas o Brasil não tem um Plano Nacional de Educação que estipule metas também para a Educação. O Brasil está hoje com uma grande resistência no Congresso Nacional para aprovar os 10% do PIB na área da Educação.

O Brasil investe bilhões em estádios, mas não na Saúde pública, no SUS, Sistema Único de Saúde. Hoje, uma pessoa para conseguir uma consulta no hospital público neste País, principalmente aqui em São Paulo, demora um, dois meses. Depois, leva-se mais seis meses para fazer um exame e mais dois anos para uma cirurgia. Há pessoas morrendo na fila de espera de uma consulta médica. Que país é esse que investe bilhões na construção de estádios privados e não investe no Sistema Único de Saúde, na Educação, na Segurança Pública?

Muitos comentaram aqui que a cidade foi palco de uma verdadeira baderna. Não vi baderna, vi 100 mil pessoas se manifestando na Av. Paulista, na Faria Lima, na Brigadeiro, na Praça da Sé, com o maior espírito de cidadania. O que existem são alguns aproveitadores, caronistas, e uma pequena franja do movimento que possui um desvio, mas 99% do movimento é pela cidadania, pela democracia e pela construção de uma nova política.

De agora em diante, tenho certeza de que o Brasil não vai mais tolerar os conchavos, o clientelismo e o coronelismo políticos. Esse sistema está em queda livre no Brasil e tem que ser modificado. É isso que a população está dizendo ao ocupar as praças e as ruas de São Paulo e do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - SAMUEL MOREIRA - PSDB - Srs. Deputados, esgotado o tempo da presente sessão, esta Presidência, antes de encerrá-la, convoca V. Exas. para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, informando que a Ordem do Dia será a mesma da sessão de hoje.

Lembramos, ainda, da sessão extraordinária que se realizará, hoje, dez minutos após o término desta sessão.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 19 horas.

 

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