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29 DE NOVEMBRO DE 2013

074ª SESSÃO SOLENE PARA PRESTAR SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO

 

Presidente: ADRIANO DIOGO

 

RESUMO

 

1 - ADRIANO DIOGO

Assume a Presidência e abre a sessão. Informa que a Presidência Efetiva convocara a presente sessão solene, a requerimento deste Parlamentar, com a finalidade de "Prestar solidariedade ao povo palestino". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino da Palestina" e o "Hino Nacional Brasileiro". Discorre sobre os motivos que o levaram a propor esta sessão. Destaca a importância do tema e sua relação com a luta pelos direitos humanos. Considera que a resolução do problema palestino é a chave para a paz no Oriente Médio. Menciona pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, na ONU, em defesa da criação do Estado Palestino.

 

2 - MOHAMAD EL KADRI

Integrante da Frente em Defesa do Povo Palestino, agradece ao deputado Adriano Diogo por atender ao pedido para que esta solenidade fosse realizada. Argumenta que a luta do povo palestino representa a luta de todos os povos por liberdade. Afirma que existem dificuldades para divulgar a causa. Lamenta as condições precárias nos territórios palestinos.

 

3 - MARCELO BUZETTO

Representante do MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, ressalta a importância de solenidades como esta para a reafirmação do apoio à causa palestina. Lembra que os acordos de paz de Oslo já têm 20 anos. Critica o Estado de Israel. Expressa sua esperança de, no futuro, participar de uma solenidade em comemoração à libertação da Palestina.

 

4 - SORAYA MISLEH

Integrante do Movimento Palestina para Todos, faz histórico da criação do Estado de Israel e da primeira geração de refugiados da Palestina, da qual seu pai faz parte. Garante que a história dos refugiados não será esquecida.

 

5 - ABDEL RAUF MISLEH

Refugiado de 1948, relata que presenciou o deslocamento do povo palestino de suas aldeias na época da criação do Estado de Israel. Critica os líderes árabes, que, a seu ver, "venderam" a Palestina. Afirma que havia convivência pacífica entre diversos grupos étnicos e religiosos na região, antes de 1948.

 

6 - PRESIDENTE ADRIANO DIOGO

Anuncia a apresentação de vídeo institucional sobre a Palestina.

 

7 - SORAYA MISLEH

Integrante do Movimento Palestina para Todos, critica o Plano Prawer, em tramitação no Parlamento israelense, que pode levar à expulsão de beduínos palestinos do Negev. Informa que estão marcadas manifestações, em toda a Palestina, contra a aprovação da proposta. Considera ineficazes os acordos de paz de Oslo. Exige que o Brasil rompa acordos militares que mantém com Israel. Afirma que o discurso de solidariedade deve ser acompanhado de iniciativas concretas. Diz que o retorno de todos os refugiados à Palestina é essencial.

 

8 - PRESIDENTE ADRIANO DIOGO

Anuncia a apresentação de vídeo musical.

 

9 - MOHAMED MOURAD

Agradece a todos pelo apoio à causa palestina. Menciona campanha, da Organização Mundial da Saúde, para levantamento de recursos para melhor atendimento médico nos territórios palestinos.

 

10 - KHALED TAKY EL DIN

Xeique do Conselho dos Sábios e Teólogos do Brasil, faz histórico da criação do Estado de Israel, apoiado pelos Estados Unidos. Diz que os palestinos foram expulsos de suas terras. Critica o movimento sionista, que, a seu ver, é contrário ao próprio judaísmo. Ressalta que a maioria das religiões condena a violência. Manifesta sua esperança de que o povo palestino seja bem-sucedido em sua luta.

 

11 - ERNESTO PICHLER

Representante do PCB, discorre sobre a Frente em Defesa da Palestina, da qual faz parte. Declara que há, entre os integrantes, diversas posições em relação a qual deve ser a solução para o problema da região. Opina que a multiplicidade de opiniões enriquece a luta.

 

12 - ORADORA

Lê o poema "A Rosa de Gaza", de Georges Bourdoukan. Expressa seu apoio à luta do povo palestino.

 

13 - PRESIDENTE ADRIANO DIOGO

Anuncia a exibição de vídeos: do Grupo DAM, da Palestina; e de campos de refugiados em Yarmuk, Síria.

 

14 - LOLA

Integrante da Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre, tece críticas ao Plano Prawer, em tramitação no Parlamento israelense. Afirma que a história dos palestinos não será esquecida. Diz que a sociedade tem o dever de esclarecer as raízes dos conflitos no Oriente Médio. Critica o convênio, feito por instituições brasileiras, com universidades israelenses. Discorre sobre a Primavera Árabe e as manifestações que ocorreram no Brasil, em junho. Declara que todos os jovens do mundo querem ser livres.

 

15 - MOHAMAD AL BUKAI

Xeique e diretor de Assuntos Islâmicos da União Nacional Islâmica, afirma que esta solenidade é uma mensagem de apoio ao povo palestino. Defende que se mantenha a esperança para a Palestina e para os países árabes, apesar dos problemas e turbulências. Destaca a ocorrência de manifestações populares em todo o mundo. Manifesta seu apoio à luta de todos os povos que desejam liberdade.

 

16 - IBRAHIM ALI EL KURDI

Xeique, agradece a todos os presentes pelo apoio à causa palestina. Diz que a luta dos palestinos deve continuar até que se alcance a vitória.

 

17 - FÁBIO BOSCO

Representante do PSTU, fala sobre as manifestações que deverão ocorrer contra a aprovação do Plano Prawer, em tramitação no Parlamento israelense. Informa que há refugiados palestinos em diversas partes do mundo. Critica acordos firmados entre o governo brasileiro e o Estado de Israel, assim como os convênios com universidades israelenses.

 

18 - CAMILA

Integrante do Movimento Mulheres em Luta, afirma que uma das bandeiras do movimento é a defesa do povo palestino. Defende o fim do Estado de Israel. Enaltece a força das mulheres palestinas no enfrentamento da violência.

 

19 - JADALLAH SAFA

Integrante do Comitê Democrático de Palestinos Refugiados, expressa apoio aos refugiados palestinos na Síria. Discorre sobre a importância da unidade palestina.

 

20 - MARCELO BUZETTO

Representante do MST, lê manifesto à presidente Dilma Rousseff e ao Ministério das Relações Exteriores, criticando os acordos comerciais do Brasil com Israel.

 

21 - PRESIDENTE ADRIANO DIOGO

Anuncia a apresentação da "Suíte dos Pescadores", de Dorival Caymmi. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

 

                                                 * * *                          

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Adriano Diogo.

 

                                                 * * *

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 Srs. Deputados, Sras. Deputadas, senhoras e senhores, damos início aos nossos trabalhos, Sessão Solene em Solidariedade ao Povo Palestino.

Esta sessão solene foi convocada pelo presidente efetivo desta Casa, deputado Samuel Moreira, atendendo solicitação deste deputado, em solidariedade ao povo palestino.

Neste momento, convido todos os presentes, para em pé, ouvirmos o Hino da Palestina e o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

- São executados os hinos da Palestina e do Brasil.

 

* * *

 

O SR. Presidente - ADRIANO DIOGO - PT - Convido para compor a Mesa o Sr. Mohamed El Kadri, o Sr. Marcelo Buzetto, da Direção Nacional do MST, e a Sra. Soraya Misleh.

Gostaria de comunicar a todos os presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web e será transmitida pela TV Alesp no domingo, dia 1º de dezembro, às 22 horas, pelos seguintes canais: canal 13 da Net, canal 66 da TVA, canal 185 da TV Digital e canal 61.2 da TV Digital aberta. Enviaremos a todos os interessados um CD com a íntegra desta cerimônia.

Senhoras e senhores, é com muita alegria que sou o proponente desta sessão. Mohamed El Kadri, Marcelo Buzetto e Soraya Misleh me procuraram e propuseram esta sessão em homenagem ao povo palestino. Junto ao pessoal do SOS Racismo. Cícero, Costa, Hugo e outros companheiros organizamos esta sessão.

  Esta sessão é importantíssima. O fato de a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo fazer nesta data uma sessão especial em homenagem ao povo palestino tem um significado muito importante. Esta Casa não dispõe de uma Secretaria de Relações Internacionais. Não são comuns as homenagens aos povos, mas o povo palestino, ainda que numa cerimônia singela, ainda que muito simples como esta, tem um significado da raiz central dos direitos humanos da humanidade.

  A libertação do povo palestino, a consolidação da pátria palestina, de todas as correntes que militam no movimento palestino, esse é o significado dos Direitos Humanos do século XXI. Apesar de todas as barbáries, de todas as tragédias, a consolidação dos limites do Estado Palestino, da paz do seu povo e o regresso do povo palestino dos campos de refugiados, é uma bandeira da humanidade.

Enquanto a Palestina não for considerada, seu povo reconhecido com todos os direitos, não haverá paz no mundo. A resolução do problema palestino é a chave da resolução e da paz no Oriente Médio.

Não vou fazer grandes discursos no meu pronunciamento. A coisa mais importante é que a presidente Dilma e o governo brasileiro – e o presidente Lula sempre teve uma postura muito boa -, mas a presidente Dilma, no seu primeiro pronunciamento nas Nações Unidas, falou do povo palestino, da criação do Estado Palestino, e teve uma repercussão importante para nós, brasileiros. Essa questão das relações internacionais, acredito que nesses últimos dez anos, as questões do posicionamento do governo brasileiro têm sido muito boas em relação ao povo palestino.

Isso não é nenhuma qualidade, porque toda a humanidade, das diferentes visões, luta para que haja paz e que haja a consolidação do território palestino.

Vou passar a palavra a esse grande batalhador, esse grande meu amigo, Mohamad El Kadri, para fazer a abertura. Três pessoas, para mim muito significativas, vão fazer a abertura desta sessão: Mohamad El Kadri, por tudo o que ele significa, Marcelo Buzetto, porque ele representa aqui toda essa nossa diáspora terrível de perseguição ao povo palestino, que são os trabalhadores rurais, representando o Movimento Nacional dos Sem Terra e a Soraya. Faço questão que essas três pessoas, principalmente uma mulher palestina, façam a abertura.

Peço ao Mohamad El  Kadri que faça a sua fala de abertura.

 

O SR. MOHAMAD EL KADRI - Boa noite a todos. Salaam alaikum. Agradeço ao deputado Adriano Diogo por presidir esta sessão, e por ter atendido ao nosso pedido para que seja feito este ato de solidariedade ao povo palestino.

Para nós a luta do povo palestino é uma luta nossa e de todo ser humano, porque na verdade ela representa todas as lutas do conjunto de lutas de todos os seres humanos, em qualquer lugar que for. Esse é o símbolo da luta do povo palestino. É lógico, deputado, que não é fácil fazermos um ato de solidariedade ao povo palestino. Aliás, não é fácil defender a causa palestina, porque nossos inimigos não nos permitem ter oportunidade de fazer a divulgação, como ela deveria ser feita.

Por isso, essa colocação do deputado, essa oportunidade, é muito importante.

Nós, da Frente em Defesa do Povo Palestino, estamos aqui, mais uma vez, para mostrar que a nossa luta diária e a do povo palestino são a mesma luta.

A luta do povo brasileiro também se identifica com a do povo palestino. A luta do Movimento dos Trabalhadores sem Terra também se identifica com a luta do povo palestino. A luta das Mães de Maio também se identifica com a luta do povo palestino.

A luta do povo palestino tem esta representatividade: ela representa as lutas de todos os povos no mundo inteiro. Por isso, gostaria de agradecer ao deputado por esta oportunidade e dizer para vocês que, vendo o cartaz da nossa companheira, o que está acontecendo na Palestina realmente é uma barbárie.

Gaza possui o maior campo de concentração a céu aberto do mundo. Agora, Gaza está sem luz, sem energia elétrica, sem gasolina ou qualquer tipo de combustível. Dias atrás, até a neta do presidente de Gaza, Sr. Ismail Haniya, faleceu por falta de medicamento suficiente para acudi-la.

Um milhão e 600 mil pessoas estão isoladas do mundo. Este ato serve para dizermos não ao cerco de Gaza e não ao fechamento da fronteira de Rafah. Este ato serve fazer este protesto e para pedir ajuda do governo brasileiro, ou seja, que ele pressione as autoridades do Egito para abrir as fronteiras de Rafah; que pressione Israel para acabar com o embargo a Gaza. É por isso nosso propósito.

Não apenas Gaza. Deve criar, de vez, o Estado Palestino. Como diz um grande líder do Hamas, expressão estrangeira! Isto é, do rio ao mar. Essa é a Palestina livre! Essa é a nossa Palestina! Essa é a Palestina que todos conhecemos pela história! Nesse dia, eu postei no meu “facebook” que Jesus foi o primeiro revolucionário palestino, tendo em vista que ele nasceu na Palestina.

Então, é isso! Mais uma vez, digo que continuamos nossa luta. Aliás, no próximo ano, em 2014, a ONU já decretou o Ano da Solidariedade com o Povo Palestino. No ano que vem, essa solidariedade só pode culminar e beneficiar os palestinos com uma Palestina livre. É para isso que iremos trabalhar: por uma Palestina livre.

Muito obrigado a todos. Expressão estrangeira.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO  - PT - Tem a palavra o Sr. Marcelo Buzetto.

 

O SR. MARCELO BUZETTO - Boa noite a todos. Boa noite ao companheiro Adriano Diogo e a todos os companheiros e companheiras de organizações que vêm, há muitos anos, dedicando parte importante de suas vidas de militante à causa palestina e à solidariedade palestina no Brasil.

Para nós, todo e qualquer espaço como este é importante para reafirmarmos nosso compromisso na defesa desta causa justa, que é de toda a humanidade, como já dito pelo deputado Adriano Diogo.

Ficamos muito preocupados com o que está acontecendo na Palestina, principalmente após vinte anos dos chamados Acordos de Oslo. Passados 20 anos, vemos que Israel continua prendendo, torturando e assassinando o povo palestino. Israel continua ocupando terras palestinas e mantendo o cerco a Gaza, por terra, mar e ar.

Nós, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, temos enviado vários militantes para a Palestina. Tive a oportunidade, pelo MST, de estar na Palestina e na Cisjordânia por três vezes.

Agora, estamos organizando uma ida para Gaza. Se 2014 será o ano da Palestina, penso que nós, do Brasil, temos de fazer um esforço para construir uma brigada de solidariedade com o povo de Gaza.

  Precisamos intensificar o movimento de solidariedade ao povo palestino, mas acho que, mais do que nunca, chegou a hora de darmos uma atenção especial para o povo de Gaza, que vive em condições muito mais precárias e com muito mais dificuldades do que a população palestina que vive na Cisjordânia ocupada.

  Também ficamos muito preocupados porque, 20 anos depois dos Acordos de Oslo, Israel continua mantendo nos cárceres mais de cinco mil presos políticos palestinos. Muitos desses presos palestinos vivem em cárceres israelenses em condições bastante precárias; vários já morreram nas prisões porque desenvolveram doenças, porque foram torturados. Hoje, existem mais de 220 crianças palestinas presas. Neste ano de 2013, assistimos a uma quantidade grande de prisões feitas pelo exército israelense de crianças palestinas de dez, doze, treze anos, que foram presas unicamente por defender a sua pátria, a sua terra.

  Para nós, a causa palestina é a causa de todos os povos que, no mundo árabe, lutam pela sua independência, pela sua soberania, pela sua autodeterminação.  O nosso sonho é ver uma Palestina livre. Temos certeza de que, um dia, estaremos reunidos nesta mesma Casa, deputado Adriano Diogo, para comemorar e para celebrar a libertação da Palestina. O nosso sonho é que o povo palestino consiga construir a sua unidade nacional para derrotar o inimigo principal, que é a ocupação israelense.

  Como muitos do povo palestino, acreditamos que só a unidade nacional palestina contra a ocupação israelense pode derrotar esse inimigo da humanidade, que se chama Estado Sionista de Israel. Viva a luta do povo palestino! (Palmas.)

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Viva o MST! Soraya Misleh vai fazer um depoimento pessoal e introduzir o pai dela, que é da primeira geração de refugiados de 48. Ela vai falar na primeira pessoa, sem prejuízo de outras falas que irá fazer durante o ato, falas mais políticas. Agora, ela vai falar da vida dela, da família dela, do pai dela.

 

  A SRA. SORAYA MISLEH - Boa noite a todos e a todas. É uma grande alegria receber os amigos, as amigas e, principalmente, a família que está presente.

  Muitas vezes, fiz a minha fala em atos pela Palestina e a dediquei ao meu pai e aos milhares de refugiados palestinos. Hoje, tenho a alegria, o orgulho e a emoção de dedicar não só a minha fala, como também ver que esta sessão está sendo dedicada ao meu pai e aos milhares de refugiados palestinos.

  Em 29 de novembro de 1947, numa sessão presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, a Assembleia Geral das Nações Unidas recomendou a partilha da Palestina num estado judeu e num árabe, sem consulta aos habitantes locais. Como resultado dessa decisão, 800 mil palestinos foram expulsos das suas casas e cerca de 500 aldeias foram destruídas. Uma dessas aldeias é a aldeia do meu pai. Uma das aldeias destruídas, e o meu pai é um dos milhares que foram expulsos das suas terras naquele ano.

  Quero dizer ao meu pai, aqui presente, que o arquiteto dessa limpeza étnica que foi feita contra o povo palestino estava errado. O primeiro-ministro de Israel em 1948, Ben- Gurion, estava errado. Ele dizia: “Os velhos morrerão; os jovens esquecerão.” Pai, nunca vamos esquecer. Vamos continuar a contar a história dos nossos pais e dos nossos familiares até que a Palestina seja livre! (Palmas.)

  Só que hoje, pai, quem vai contar essa história é o senhor, para todo mundo ouvir. É com muito orgulho que chamo meu pai, Abdel Rauf Misleh, para contar um pouquinho dessa história. É preciso um reconhecimento histórico da injustiça que tem sido feita até hoje contra o povo palestino. Obrigada. (Palmas.)

 

  O SR. ABDEL RAUF MISLEH - Boa noite. Eu sou um refugiado palestino desde 1948. Eu vi, pessoalmente, a barbaridade que os judeus fizeram para deslocar o povo palestino das aldeias. Usaram uma filosofia americana, de um filósofo judeu, que se chama Milton Friedman. Numa universidade, em Chicago, ele lançou uma filosofia: para você dominar um país, tem que usar choque com pavor. O Israel judeu foi planejado nos Estados Unidos e na Inglaterra; a criação do Estado dos judeus foi feita com essa filosofia.

O que eles faziam? Numa aldeia pertinho de Jerusalém, eles mataram 220 pessoas - a totalidade da aldeia. Eles invadiram e começaram a fazer propaganda, inclusive com microfone, dizendo que, naquela aldeia, todas as mulheres e homens foram sacrificados, foram mortos. E começaram a espalhar na Palestina essa filosofia, de choque e pavor. Na Palestina, não existe a palavra muçulmano ou cristão; todos são palestinos. Todos falam: “eu sou palestino”. Só isso. É um país cuja população sempre foi sacrificada em benefício dos líderes corruptos árabes; dos reis; das famílias; do rei da Jordânia, Abdullah; da família da Arábia Saudita; do rei Faruk, no Egito. Eles venderam a Palestina como se vende um animal. Inclusive, tem um poeta que fala assim: “os reis do mundo árabe venderam a Palestina como você vende uma manada de animal.”

Todas essas coisas transformaram a Palestina; há grupos espalhados no mundo inteiro. Cheguei ao Brasil e tive a honra de conhecer o povo brasileiro. Os povos europeu, americano e russo eram contra os palestinos, com finalidade financeira. Usaram os massacres que os judeus sofreram na história da humanidade. No tempo do Império Romano, os judeus foram sacrificados duas vezes; eles foram eliminados da Palestina. Entendeu? Depois, foram os cristãos que mataram os judeus na Inquisição na Espanha. Entendeu? Os palestinos não fizeram nada; os recebiam como amigos, com carinho, com todo conforto. Foi isso que aconteceu. Os palestinos pagaram os pecados dos outros. A Alemanha matou dois milhões de palestinos; transformaram dois milhões em oito milhões. A história não registra a versão dos vencidos. A história registra a versão dos vencedores. Foi isso que aconteceu.

Faz 57 anos que estou no Brasil e não tive chance de ir conhecer os meus parentes. Eu tenho mais de 70, 80 sobrinhos e parentes. A minha mulher foi naquele lugar, mas eles não a deixaram entrar. Estava tudo cercado. Ela viu a coisa mais absurda que existe. Vamos tentar salvar o que podemos. Enquanto os árabes estão nessa base de grandeza falsa, vamos continuar como estamos, porque os judeus, todos os dias, estão avançando um pouco mais.

Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Estou aqui com o meu amigo, meu irmão Mohamad Mourad. Vamos passar um pequeno vídeo institucional da Palestina.

 

* * *

 

- É feita a exibição de vídeo.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO - PT - Tem a palavra a Sra. Soraya Misleh.

 

A SRA. SORAYA MISLEH - Olá. Muito lindo esse trabalho.

 

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO - PT - Quem fez esse trabalho? Está aqui a pessoa?

 

A SRA. SORAYA MISLEH - É a Lola, que está ali.

 

O SR. PRESIDENTE ADRIANO DIOGO - PT - Parabéns, Lola. Obrigado.

 

A SRA. SORAYA MISLEH - No momento em que se reabrem negociações entre a Organização para a Libertação da Palestina e Israel, é importante dizer que um projeto de lei tramita no parlamento israelense, ameaçando de expulsão 50 mil beduínos palestinos, além da ameaça de destruição de cerca de 35 de suas aldeias.

Esse projeto de lei é o Plano Prawer, que foi apresentado no vídeo. Se esse projeto de lei for aprovado serão expulsos 50 mil beduínos palestinos que vivem hoje em Naqab - que é Negev -, território situado na parte que a ONU destinaria como estado de Israel, portanto, Palestina de 1948. Esses 50 mil beduínos palestinos se somaram a essa triste estatística, que não para de crescer, dos que são expulsos de suas casas mediante limpeza étnica até hoje.

Estão marcadas para amanhã manifestações contra o Plano Prawer por toda a Palestina. Somamos-nos a essa luta, para dizer que não queremos e não iremos aceitar. Além disso, iremos denunciar essas novas expulsões que acontecem todos os dias na Palestina.

O mundo não pode mais se calar, como fez em 1948. O mundo também é responsável pelo que aconteceu em 1948. É tempo de falar em justiça, porque a paz, até hoje, no caso dos palestinos, só serviu como retórica.

Os acordos de Oslo completaram 20 anos em 13 de setembro de 2013 e não trouxeram a paz aos palestinos. Como foi mostrado no vídeo, são mais de sete mil palestinos mortos. São mais de 12 mil casas demolidas na Palestina. São 250 mil novos assentamentos israelenses ilegais. Para Israel, a vida ficou mais fácil, porque Israel converteu a autoridade nacional palestina em gerente da ocupação e voltou totalmente sua economia para a guerra. Da tecnologia militar que desenvolve, exporta 70 por cento.

O Brasil foi cúmplice desde o início da limpeza étnica que foi feita contra o povo palestino, com um brasileiro presidindo a sessão que recomendou a partilha, na assembleia geral da ONU, em um estado judeu e um árabe, sem a consulta aos habitantes locais nativos. Esse foi o empurrão que faltava para a limpeza étnica do povo palestino.

O Brasil continua a ser cúmplice até hoje, e se converteu na vergonhosa posição de segundo maior importador de armas de Israel. O governo brasileiro tem comprado tecnologias militares que são testadas e usadas no verdadeiro laboratório humano em que se converteu o povo palestino.

É hora de parar de falar sobre paz e dizer: nós não vamos aceitar um novo Oslo. Queremos justiça. Nossos direitos não são negociáveis. O direito de retorno nunca foi posto à mesa. O direito de retorno dos milhares de refugiados palestinos a suas terras e propriedades não está em negociação. Temos o direito à autodeterminação, o direito aos recursos naturais, o direito à terra.

Justiça plena só se faz contemplando todos os palestinos: os cinco milhões que vivem em campos de refugiados; os três milhões e novecentos mil que vivem nos territórios ocupados militarmente por Israel em 1967, Cisjordânia e Gaza; o um milhão e meio que vive no território palestino de 1948, onde hoje é Israel, e os milhares que vivem na diáspora.

A justiça ao povo palestino só se faz contemplando todos os palestinos e palestinas. Isso só se dará em uma Palestina livre, laica, democrática, em todo o seu território histórico, com direitos iguais para todos que queiram viver em paz com os palestinos. Precisamos falar em justiça e precisamos ver o que podemos fazer a partir do Brasil. Exigimos que o governo brasileiro rompa imediatamente os acordos militares com o estado de Israel. Exigimos que o governo paulista faça o mesmo, assim como o governo do Rio de Janeiro.

Chamamos todos e todas que estão aqui presentes para se somarem à campanha de boicote ao apartheid israelense, nos moldes do boicote que derrubou o apartheid na África do Sul nos anos 90. Esse é um dos caminhos para a Palestina livre. A solidariedade que os palestinos precisam deve ser em ações, não em palavras. Viva a luta do povo palestino! Viva as revoluções no mundo árabe! Resistência até a vitória!

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Obrigado, Soraya. Temos mais uma música, que é tocada no mundo todo como se fosse o hino da Palestina. Não é o hino, mas é uma música belíssima que fala da Palestina. Temos aqui a legenda em português.

Antes, porém, gostaria de dizer que amanhã, em Santo André, no auditório da Faeco - Fundação Santo André, na Av. Príncipe de Gales, 821, será realizado o 1º Encontro de Solidariedade ao Povo Palestino do ABC. É um encontro que durará o dia todo e que contará com uma programação belíssima. A Soraya Misleh estará lá. Será organizado pelo MST, juntamente com outras entidades.

Vamos ouvir a música, que não é o hino da Palestina, mas que os palestinos refugiados tocam no mundo inteiro.

 

* * *

 

- É reproduzida a música.

 

* * *

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Tem a palavra o Sr. Mohamed Mourad.

 

  O SR. MOHAMED MOURAD - Salaam Aleikum, a paz esteja com todos. É um dia triste, mas também é um dia muito feliz para todos nós. Quero saudar o povo palestino, quero saudar todos aqueles que, no mundo todo, lutam por uma Palestina livre. Quero saudar o povo brasileiro, que sempre tem se empenhado pela paz e pelo Estado da Palestina.

Sr. Presidente, gostaria também de expor uma poesia escrita por Georges Bourdoukan. Não a tenho na memória, mas gostaria que fizesse parte desta sessão. Chama-se “A Rosa de Gaza”.

Estamos sempre com muitos detalhes, com muitas coisas que o mundo moderno nos traz, mas queremos de volta a Palestina para os palestinos, uma terra livre em que todos possam viver em paz.

Acabei de me lembrar. Há uma campanha da Organização Mundial da Saúde da ONU para conseguir doações, para conseguir ultrassom para uma melhor assistência ao povo palestino. Recebi esses dias uma conta que, ao que parece, é uma conta no Citibank. É uma conta séria. É um trabalho sério. Se tivermos a oportunidade, vamos ajudar a encaminhar para que os palestinos possam ter uma assistência melhor dentro de todo esse contexto. Não podemos perder o foco. É muito importante para nós e em qualquer lugar do mundo o direito à justiça e à pátria Palestina.

Viva a Palestina! Viva toda a resistência e a solidariedade ao povo palestino.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Gostaria de pedir ao pessoal da retaguarda técnica para localizar o poema de Georges Bourdoukan, “A Rosa de Gaza”. Vamos procurar para projetarmos e para o Mohamed Mourad poder ler o poema.

Convido o Xeique Khaled Taky El Din, do Conselho dos Sábios e Teólogos do Brasil, a fazer uso da palavra.

 

O SR. KHALED TAKY EL DIN - Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso. Em primeiro lugar quero agradecer o deputado Adriano Diogo. Nossos agradecimentos a esta Casa, a Casa do Povo, neste Dia Internacional da Solidariedade com o Povo Palestino.

A Palestina é um país abençoado por Deus, onde nasceram e por onde passaram milhares de profetas e mensageiros de Deus, entre eles Jesus Cristo e o profeta Mohamed. Que a paz esteja com todos eles.

O movimento sionista conseguiu, através da força, através dos Estados Unidos e de outros países, tirar um povo da terra deles e colocar outros povos nesse local, na Palestina. Até agora o povo palestino está sofrendo. Estamos em 2013. Todos os dias estão morrendo crianças e adultos. Há sofrimento em cada casa do povo palestino.

O movimento sionista não tem nada a ver com judaísmo. Porque o profeta Moisés, o profeta Jesus Cristo, o profeta Muhamed, todas as religiões são contra a matança, contra matar uma alma. Nos mandamentos de Moisés: “não matarás”. Agora, na Palestina, estão matando crianças, mulheres. Estão roubando a terra dos outros.

Um dia, se Deus quiser, tudo isso vai terminar. O nosso Deus não aceita injustiça. Deus é justo e através do povo palestino, se Deus quiser, esses direitos vão voltar. Um dia, se Deus quiser, a Palestina voltará para o povo palestino.

A ocupação sionista, um dia, vai terminar através da luta, através da confiança em Deus, e não através da conversa de paz ou através da ONU. O ser humano tem que lutar para conseguir os direitos dele.

O nosso Deus mandou esses mandamentos no Alcorão Sagrado, no Antigo Testamento, no Novo Testamento. Cada um de nós tem que lutar para conseguir a liberdade. Viva o povo palestino! Liberdade para o povo palestino!

Se Deus quiser, um dia, os direitos vão voltar para esse povo.

Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Obrigado.

Eu quero convidar, para garantir essa pluralidade que estamos fazendo neste ato, o companheiro Ernesto Pischler, do PCB.

 

O SR. ERNESTO PICHLER - Boa noite a todos. Eu agradeço o deputado Adriano Diogo por essa oportunidade.

Eu pertenço à Frente em Defesa da Palestina. Essa frente é bastante ampla e reúne diversos partidos, como o PCB - que eu represento -, o PSTU, o PSOL, o PT, o PCO... Ela tem uma representatividade muito grande.

Com isso, ela tem diversas posições com relação ao que deve ser a Palestina livre. Existem aqueles que defendem um Estado, temos os que defendem dois Estados, quatro... Uma multiplicidade de opiniões que enriquecem a nossa luta e a nossa força de defesa do povo palestino e de constituição de uma Palestina livre.

Essa Frente está aberta para quem tiver interesse em participar, bastando conversar com a Soraya, que é quem a dirige. Estamos à disposição.

Obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Nós conseguimos selecionar o poema que o Mohamed Mourad pediu. Nós vamos projetar na tela e uma de vocês duas poderia ler o poema, por favor.

 

A SRA. - “A Rosa de Gaza

 

Você sobreviveu ao genocídio

Você sobreviveu aos massacres

Você sobreviveu à humilhação.

 

Mas não conseguiram fazê-la odiar!

 

Destruíram sua casa

Destruíram sua escola

Destruíram sua infância

 

Mas não conseguiram fazê-la odiar!

 

Bela menina de Gaza

Tens muito a ensinar

 

Teu gesto redime a humanidade

 

Pois até os brutos podem se comover

 

Bela menina de Gaza

Bela rosa de Gaza

Teu gesto é a glória de seu povo

 

Bela menina-rosa de Gaza” (Palmas.)

 

Não estava nem preparada para vir aqui, mas aproveito a oportunidade para dizer que sou solidária à luta da Palestina, desde sempre. Uma das bases da luta da Marcha Mundial das Mulheres, da qual faço parte, é contra a guerra, pelo internacionalismo, pela nossa unidade. Estamos aqui, saudando a luta, unidos até a vitória. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Muito bom. Temos um vídeo, mas gostaria que fizessem uma introdução a ele.

 

O SR. MOHAMAD EL KADRI - Vamos passar um vídeo do Grupo Dam, que é um grupo palestino. O vídeo faz um questionamento: “Quem é o terrorista?” Pedi para colocarem o vídeo legendado e vai ser muito bom apresentá-lo.

 

* * *

 

- É feita a apresentação de vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Podem passar o outro vídeo, dos campos de refugiados em Yarmuk, Síria, também do Grupo DAM da Palestina. Esse é do outro vídeo, o campo de refugiados em Yarmuk, Síria.

  Quer falar alguma coisa?

 

  O SR. MOHAMAD EL KADRI - Na verdade, esses campos de refugiados em Yarmuk, na Síria, estão cercados pelas tropas do regime de Bashar. É proibida a entrada de quaisquer alimentos, ajuda humanitária, medicamentos e, além disso, são bombardeados constantemente, através da aviação dos MiGs russos e dos mísseis Scud, também de fabricação russa.

 

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  - É feita a exibição de vídeo.

 

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  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Agradeço a contribuição. (Palmas.). Tem razão, companheiro. Reconheço. Vamos prosseguir. Por tudo que unifique em torno da luta do povo palestino, e não que divida.

  Pedirei agora para a companheira Lola fazer o uso da palavra. Tem a palavra a companheira Lola, da Assembleia Nacional de Estudantes.

 

  A SRA. LOLA - Boa noite. Sou Lola, faço Letras na USP e também componho a Assembleia Nacional de Estudantes - Livre, Anel. A entidade é nova, mas desde o seu início ela está presente em todas as lutas, em todas as ruas e em todas as escolas e universidades desse país.

  Neste ano, como já foi falado aqui, iniciou-se o processo de uma nova Nakba, que vem sendo chamado de Nakba de 2013. É o maior plano de expulsão de palestinos desde 48. Há esse projeto que foi aprovado no Parlamento israelense, que prevê a expulsão de mais de 50 mil beduínos, e a destruição de 35 aldeias. A juventude palestina tem pedido adesão à resistência e à solidariedade aos grupos internacionais. Os líderes sionistas, quando disseram que os velhos morreriam e que os jovens esqueceriam, estavam completamente enganados. A cada geração as novas gerações palestinas ficam cada vez mais fortes, com mais clareza sobre quem são os seus aliados, quem são os seus inimigos e qual é a sua luta. Por mais que exista um grande lobby sionista internacionalmente, o mundo ou toda a parte do mundo também não se esquecerá dessa causa.

Por mais que a mídia também adote esse lobby sionista e mostre essa guerra em nossas casas todos os dias como se ela fosse sem sentido, como se fosse um conflito entre dois povos que sempre brigaram, é nosso dever esclarecer as pessoas em nossos locais de trabalho, universidades, escolas e grupos sociais. Essa não é uma guerra sem sentido, não é uma guerra étnica, religiosa, de dois grupos sempre se confrontaram. O que acontece é que a existência de um povo, de sua terra e de seus direitos tem sido aniquilada, completamente negada. Não podemos continuar autorizando a existência de uma limpeza étnica, de um apartheid e de uma ocupação, como tem acontecido desde 1948 no território da Palestina.

A Anel, entidade da qual faço parte, sempre entendeu, desde o seu princípio, a necessidade da solidariedade internacional, porque para nós nenhum jovem será livre se todos os jovens do mundo não forem de fato livres. Não adianta lutarmos por nossas demandas se o resto da América Latina, da África, Europa e Ásia continuar sendo oprimido. Os nossos inimigos estão aliados, atacando cada vez mais a juventude.

Entendemos que todos os ataques que são feitos à juventude são intimamente relacionados à política e à economia internacional. Cada ataque, cada sucateamento das nossas universidades, cada projeto que faz com que a Educação seja cada vez mais elitizada e os jovens pobres tenham cada vez menos acesso à cultura, ao lazer ou a qualquer outra coisa, sabemos que faz parte de uma cartilha do FMI de sucateamento, para que a dívida que os nossos colonizadores fizeram seja paga. Ou seja, obedecer a essa cartilha faz com que os nossos inimigos fiquem cada vez mais poderosos.

No Congresso de 2013 a Anel aprovou o BDS, porque nas universidades do Brasil tem sido feito muitos convênios com universidades israelenses. Venho da USP, onde já existe um convênio há cinco anos com a Universidade de Ariel, que está nos territórios ocupados da Cisjordânia. Agora, parece que eles farão um novo convênio com a Universidade Hebraica.

Essa semana houve a apresentação dos cursos de línguas da USP e uma aluna perguntou: “Não existe nenhum convênio da USP com uma universidade árabe?”. A palestrante respondeu: “Temos com Israel.” A menina insistiu: “Mas com nenhuma universidade árabe?” A palestrante continuava dizendo: “Mas temos com Israel.” Depois disseram: “Existem várias formas de você ir para lá, mas com nenhum convênio oficial.” Nas nossas universidades temos que discutir com um por um dos estudantes e procurar os convênios que existem em outras universidades para barrarmos, para nos vincularmos com as universidades árabes, com as diversidades palestinas e não com os opressores.

Esse ano fizemos uma greve na USP que reivindicava a democracia, que queria abrir as estruturas de poder da universidade e fazer com que todos tivessem vez e voz. Porém, essa discussão não será completa se não discutirmos e não derrubarmos o convênio com a Universidade de Ariel, barrarmos qualquer outro tipo de convênio com as universidades israelenses e exigirmos que existam convênios acadêmicos com universidades palestinas e de outros países árabes.

O Oriente Médio trouxe de volta à pauta do dia a questão da revolução. Os ventos da primavera árabe influenciaram e continuam influenciando jovens de todo o mundo. Um exemplo foi o que aconteceu em junho, aqui no Brasil. Vocês podem ver hasteadas nos vídeos do “youtube” várias bandeiras da Palestina e algumas da Síria. Estamos juntos nessa luta. Toda a juventude tem que se unir contra os seus opressores, que são um só e estão unidos para o benefício dos poderosos contra os oprimidos.

A luta da Palestina nunca será esquecida. A Palestina é uma só, do rio ao mar. Viva a luta da Palestina. (Palmas.)

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Tem a palavra o Xeique Mohamad Al Bukai, diretor de assuntos islâmicos da União Nacional das Entidades Islâmicas.

 

  O SR. MOHAMAD AL BUKAI - Em nome de Alá, o clemente e o misericordioso, que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre todos os profetas e mensageiros enviados por Deus.

Gostaria de saudar todos vocês com a nossa saudação islâmica: (pronuncia-se em língua estrangeira).

Queridos irmãos e irmãs, estamos aqui hoje, mais uma vez, trazendo através desta Casa, a casa do povo brasileiro, uma mensagem de paz, uma mensagem de apoio para o povo palestino.

Muitas pessoas me questionaram para saber até quando continuaremos a fazer eventos para apoiar esta causa.

Muitos anos se passaram e parece que a situação se complica cada vez mais. Mas quero mandar, a partir desta Casa para todas as pessoas que pensam assim, uma mensagem de esperança, da esperança, queridos irmãos, que temos.

A religião islâmica nos ensina que do útero das dificuldades nascem as grandes personalidades. Quando você liga a televisão para acompanhar as notícias, principalmente dos países árabes, pode-se ver uma imagem muito escura. Mas quero confirmar, ao contrário do pensamento de muitas pessoas, que enxergamos uma grande esperança porque através dessas dificuldades, desse parto que hoje está acontecendo nos países islâmicos e árabes, vão nascer, se Deus quiser, grandes personalidades que vão nos trazer a vitória. Se Deus quiser, os direitos vão voltar para os seus donos.

Quero também dizer para os injustos, para os tiranos, que podem sentir o mesmo medo, sim. Não é para ficarem felizes e tranquilos com essas coisas que estão acontecendo. Ao contrário. Essas dificuldades vão trazer para o mundo inteiro grandes personalidades que vão trazer a vitória para a humanidade e devolver os direitos aos seus donos.

Muito obrigado. Viva a luta do povo palestino e a de todos os povos que querem ser livres.

Boa noite. (Palmas.)

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Tem a palavra o Xeique Ibrahim Ali El Kurdi.

Enquanto ele se dirige ao microfone, quero dizer o seguinte: eu preciso terminar a cerimônia às 10 horas. Como vou fazer? Quem vai encerrar é o Jadallah Safa, do comitê palestino, companheiro do Mato Grosso do Sul. Mas antes, dois jovens brasileiros, Fábio e Camila, falarão.

 

  O SR. IBRAHIM ALI EL KURDI - (PRONUNCIA-SE EM LÍNGUA ESTRANGEIRA COM TRADUÇÃO SIMULTÂNEA) - Em nome de Alá, o clemente e o misericordioso. Na verdade, já tinha perdido a esperança de lutar pela causa palestina, mas a confiança em nosso Criador, o Justo, nos motiva a seguir. O que estranho, é que o mundo hoje deixa em condições de igualdade a vítima e o tirano. Isso não pode acontecer. É isso que estranho.

  O nosso agradecimento para esta Casa, para o Sr. Deputado e todos aqueles que organizaram este evento. Nós agradecemos, principalmente, o povo e o governo brasileiro por sempre apoiar essa causa e esse povo.

  Muito obrigado.

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Quero pedir para o Fábio e a Camila irem à tribuna, até para dar uma imagem bonita. Quero fazer uma saudação mais poética, mais artística, mas eu quero que o Fábio e a Camila estejam na tribuna.

 

  O SR. FÁBIO BOSCO - Boa noite a todos. Estou representando o PSTU. É uma honra muito grande estar presente nessa atividade de solidariedade ao povo palestino. Em particular, neste momento, em que palestinos estão na luta, estão resistindo em vários locais do mundo.

Quero dizer das manifestações que vão ocorrer amanhã em Haifa, em Ramallah, em Gaza, em várias cidades em todo o mundo, contra o Plano Prawer, um plano de expulsão dos beduínos palestinos da sua própria terra: a Palestina.

Quero lembrar dos nossos irmãos palestinos de Gaza, que estão vivendo sob um cerco criminoso efetuado pelo Estado de Israel.

Quero lembrar dos nossos irmãos palestinos que estão no Egito sofrendo discriminação racial por parte do novo governo egípcio, o governo dos militares, que procura dividir a população atacando os refugiados palestinos, os refugiados sírios e os refugiados iemenitas; dos palestinos que estão cercados em um campo de refugiados de Yarmuk, na Síria, pelas tropas do ditador Bashar al-Assad.

Nós, aqui no Brasil, temos uma dívida com o povo palestino. A melhor forma de saudar essa dívida é organizar um grande movimento de solidariedade na Frente em Defesa do Povo Palestino, da qual faz parte uma série de entidades e partidos.

Estamos discutindo a realização de um tribunal popular para julgar os crimes do Estado de Israel, em particular, os diversos acordos que o Estado de Israel mantém com o governo brasileiro, com o governo de São Paulo, com o governo do Rio de Janeiro - acordos esses que armam as polícias para atacar a população brasileira, acordos esses que fazem com que a Embraer se torne uma sócia da Elbit, uma empresa da indústria de armamentos israelense assassina - e os acordos acadêmicos que uma série de universidades brasileiras realizam com universidades israelenses e todas essas ações que, na prática, se somam na opressão, no apartheid contra o povo palestino.

Nós vemos que o mundo está passando por mudanças e nada melhor, para a defesa da causa palestina, que os milhões de árabes que estão indo às ruas, que estão derrubando velhas ditaduras - uma a uma - que estão lutando, seja pacificamente, seja de armas na mão, na Líbia, no Egito, na Síria, no Iêmen, em vários países.

Nós acreditamos que através dessas revoluções será possível construir o caminho para a libertação da Palestina.

 

O SR. PRESIDENTE -ADRIANO DIOGO - PT - Deixa ela ler a carta, divide o tempo.

 

A SRA. CAMILA - Boa noite. Eu faço parte do movimento Mulheres em Luta, um movimento filiado à Central Sindical e Popular, Conlutas. Através dessas duas organizações, quero fazer aqui a saudação em favor da causa palestina.

A CSP-Conlutas é uma organização sindical, popular e estudantil que constrói a luta numa perspectiva internacional e que tem diversas iniciativas internacionais. Parte delas é a defesa do povo palestino, a luta pelo fim do Estado de Israel. Isso, expresso na construção da campanha do boicote em todo o apoio das mobilizações que vão acontecer amanhã, e que acontecem todos os dias, todos os anos em defesa do Povo Palestino.

   Em nome do movimento de mulheres que eu represento, quero também dizer que as mulheres palestinas, são conhecidas como mulheres muito fortes, porque essas mulheres têm e tiveram que enfrentar ao longo de todos esses anos de apartheid, de massacre e humilhação, tiveram que enfrentar a violência militar, a violência sexual, por consequência de todo o cerco, de todo o controle militar, elas têm que enfrentar os pouquíssimos acessos a serviços públicos, têm que enfrentar a realidade de chefiar muitas famílias sozinhas, porque parte dos seus companheiros caíram nessa batalha, morreram nas guerras e em todo o massacre.

  Acho que nesse dia 29, parte das nossas tarefas é homenagear essas mulheres, isso porque elas transformaram todo esse sofrimento em resistência e organização. E o nosso Movimento Mulheres em Luta se inspira na força dessas mulheres e apoio essa luta, não porque achamos que precisamos exportar para a palestina, ou para o Oriente Médio uma falsa democracia, uma falsa liberdade que as mulheres possuem no Ocidente. Mas acreditamos que, através dessa luta, através dessa união internacional das mulheres trabalhadoras podemos construir uma Palestina livre, laica, democrática para todos os palestinos, e podemos também construir um mundo sem opressão às mulheres e sem a exploração que é o que motiva todos esses anos de massacre e limpeza ética de Israel sobre o Estado Palestino. Muito obrigado

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Esta Presidência solicita ao Sr. Jadala Safa, integrante do Comitê Democrático Palestino - você que veio do Mato Grosso do Sul para participar dessa cerimônia palestina - que faça uso da palavra.

 

  O SR. JADALA SAFA - Boa noite a todos. Agradeço pelo convite para falar no encerramento dessa cerimônia. Mas quero registrar dois pontos: primeiro que a nossa comunidade palestina na Cidade de São Paulo, devia encerrar esta sessão de Solidariedade ao Povo palestino. O segundo ponto que quero registrar é que nós não devemos colocar os campos de refugiados palestinos na Síria num conflito interno. Acho que primeiro as forças que entraram chamadas de Forças de Exército Sírio Livre e outras como Al-Qaeda deviam sair do acampamento de Yarmuk na Síria para acabar com esse cerco que o governo sírio fez contra esse acampamento.

  Quero agradecer à nossa comunidade palestina em São Paulo. Obrigado a todos. (Manifestações nas galerias.)

 

  O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Pessoal, por favor, todo mundo veio aqui e falou o que quis e a palavra não foi cerceada, o orador não foi interrompido. No Brasil cada um pode expressar sua opinião. Até agora todas as correntes de opinião falaram. Ninguém vai me desmoralizar e desmoralizar a esse ato. Peço respeito. Nós estamos no Brasil.

Aqui nós estamos no Brasil. Tem a palavra o Sr. Marcelo Buzetto.

 

  O SR. MARCELO BUZETTO - Companheiros, o presidente desta sessão solene, nobre deputado Adriano Diogo solicitou que lêssemos o manifesto à presidenta Dilma Rousseff e ao Ministério das Relações Exteriores.

  “Nós, presentes nesta sessão solene em solidariedade ao povo palestino na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, queremos expressar nossa indignação com as crescentes relações comerciais e militares entre o Brasil e o estado de Israel e empresas Israelenses. O Brasil é hoje um dos cinco principais parceiros da indústria de armamentos de Israel.

  Em 2007 o governo federal assinou o Tratado de Livre Comércio com Israel (TLC Mercosul-Israel). Este tratado transformou o Brasil em porta de entrada da indústria de armamentos israelense. Ele favoreceu uma série de contratos, entre os quais se destaca o acordo entre a Embraer e a Elbit, umas das grandes empresas israelenses do setor armamentista.

No âmbito dos estados, vale destacar os acordos entre a Polícia Militar de São Paulo e do Rio de Janeiro com empresas israelenses.

Ser parceiro da indústria de armamentos ou de qualquer outro segmento econômico israelense, implica em financiar diretamente o regime de apartheid imposto ao povo palestino.

Há oito anos foi lançada a campanha por Boicote, Desinvestimento e Sanções contra o estado de Israel e as empresas israelenses (BDS). Ela se inspira na bem sucedida campanha de boicote realizada contra o estado racista da África do Sul, que foi um dos fatores para o fim do regime de apartheid.

É hora do Brasil demonstrar de fato sua solidariedade ao povo palestino através do rompimento de todas as relações comerciais e militares com o estado de Israel e as empresas israelenses. Exigimos que o governo brasileiro declare embargo militar contra Israel, rompa o tratado de livre comércio Mercosul-Israel e cesse todas as relações com aquele estado.

São Paulo, 29 de novembro de 2013.” (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Vamos seguindo para o encerramento deste ato, mas, antes, queria agradecer a todas as pessoas que contribuíram, meu amigo Marcos Cordeiro, coordenador do setorial inter-religioso do PT, o Safir Boussab, da Câmara de Comércio Brasil-Marrocos, todas as pessoas que aqui vieram, o Centro de Estudos Árabes da USP e todos os demais.

Queria que vocês projetassem o poema sugerido pelo Mohamad Mourad, “A Rosa de Gaza”, enquanto tocaremos uma música brasileira do Dorival Caymmi, “A Suíte dos Pescadores”. Peço ao xeique mais um pouquinho de paciência, estou tentando encerrar a cerimônia na hora.

Essa música popular brasileira do Dorival Caymmi tem um significado muito especial, pois, no tempo da ditadura, quando um companheiro era morto, assassinado ou estava sendo torturado, os presos políticos, tanto nas câmaras de tortura como nos presídios, cantavam essa música sobre os companheiros que um dia voltariam para sua terra.

Projetem o poema e toquem “A Suíte dos Pescadores”, de Dorival Caymmi. É um duplo significado da volta do povo palestino a sua terra.

 

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- É feita a execução da música.

 

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O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Agradeço a presença de todos, principalmente das entidades que nos ajudam a unificar a luta do povo palestino. Muito obrigado e boa noite.

A sessão está encerrada.

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e 24 minutos.

 

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