039ª SESSÃO
SOLENE EM HOMENAGEM ÀS “INSTITUIÇÕES QUE REALIZAM O
PARTO HUMANIZADO”
Presidente: SARAH
MUNHOZ
RESUMO
1 - SARAH MUNHOZ
Assume a Presidência e abre a sessão.
Nomeia as autoridades presentes. Informa que o Presidente Samuel Moreira
convocara esta sessão solene, a requerimento da deputada Sarah Munhoz, na
direção dos trabalhos, para "Homenagear as instituições que realizam o parto
humanizado". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional
Brasileiro". Agradece aos presentes. Fala sobre a importância da
humanização do parto e as instituições que o realizam. Defende o respeito ao
corpo da mulher e ao seu direito de escolha na hora do parto. Anuncia a
apresentação de vídeo do parto da Alice, filha de Katia
Barga.
2 - BRÁULIO ZORZELLA
Médico obstetra humanizado, cumprimenta os presentes. Explica que, no parto
humanizado, a mulher é protagonista do nascimento de seu filho. Defende o
direito de escolha da mulher quanto ao parto. Discorre sobre a importância da
participação política para incentivar as melhorias na obstetria.
Critica o alto índice de cesáreas no Brasil. Pede atuação da Agência Nacional
de Saúde e a Rede Cegonha.
3 - JORGE KUHN
Médico obstetra,
saúda os presentes. Informa que trabalhou juntamente com a deputada
Sarah Munhoz no Hospital Santa Cruz nos anos 1980. Lamenta que sua atuação
enquanto obstetra seja criticada devido a seu trabalho pela conscientização a
respeito do parto normal. Defende a conscientização da mulher durante o
pré-natal.
4 - PRESIDENTE SARAH MUNHOZ
Anuncia a apresentação de vídeo com o
depoimento da obstetriz Ana Cris, que não pôde
comparecer e autorizou junto com Eduardo Chauvet, a
exibição de parte do filme "O Renascimento do Parto".
5 - JOSÉ ROBERTO FERRARO
Superintendente do Hospital São
Paulo, explica o parto como processo natural e fisiológico. Cita
as melhorias realizadas no Hospital São Paulo tendo em vista o respeito à
mulher no momento do parto.
6 - ROSEMEIRE SARTORI DE ALBUQUERQUE
Enfermeira obstetra, membro da
Comissão de Educação, Serviços e Legislação na Associação Brasileira de
Enfermeiros Obstetras de São Paulo (Abenfo-SP),
defende que os profissionais da obstetrícia possam reaprender a prática da
assistência obstétrica, que hoje é excessivamente intervencionista. Explica que
a informação da mulher e dos profissionais da Saúde é essencial para a mudança
do cenário obstétrico atual.
7 - ADALBERTO KIOCHI AGUEMI
Representando o secretário Municipal
de Saúde, Sr. José de Fillippi Junior, explicita a
necessidade de mudança de paradigmas na área da obstetrícia no País. Destaca a
priorização da construção de centros de partos normais no município de São
Paulo. Trata da Rede Cegonha.
8 - ISABEL
CRISTINA
ESPOSITO SORPRESO
Representando o secretário de Estado
da Saúde, Dr. David Uip, destaca a importância da
realização do pré-natal. Defende o alinhamento e apoio mútuo entre as políticas
estaduais e municipais na assistência obstétrica à mulher. Coloca a questão do
parto humanizado como dever civil do Estado.
9 - JANINE SCHIRMER
Enfermeira obstetra, professora
titular da Escola Paulistana de Enfermagem e pró-reitora de Administração da Unifesp, cumprimenta os presentes. Lembra seu nascimento,
em cidade no Rio Grande do Sul, por parto domiciliar. Defende uma forma de
assistir ao parto que possibilite o protagonismo das
mulheres. Discorre sobre o uso da tecnologia de maneira a salvar vidas, sem
intervencionismos desnecessários. Pede a instauração de políticas públicas que
busquem reduzir a morbidade de parturientes. Defende que a Saúde não pode ser
vista com fins lucrativos. Trata do tema da violência obstétrica.
10 - LUCIANA PODIESE
Mestre de Cerimônias, realiza a entrega de diplomas em homenagem a diversas
instituições que realizam o parto humanizado.
11 - PRESIDENTE SARAH MUNHOZ
Faz agradecimentos gerais. Encerra a
sessão.
* * *
- Assume a Presidência e abre a sessão ao Sra. Sarah Munhoz.
* * *
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a
aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a
leitura da Ata da sessão anterior. Podem
todos tomar assento, por favor.
Convidamos para compor a Mesa principal a Dra. Janine Schirmer, pró-reitora de Administração da Unifesp. (Palmas.); a Dra. Isabel Cristina Esposito Sorpreso, representando o secretário de estado da Saúde, Dr. David Uip. (Palmas.); o Dr. Adalberto Kiochi Aguemi, representando o secretário municipal de Saúde, Sr. José de Filippi Júnior. (Palmas.)
Na extensão da Mesa principal, nomeamos as seguintes autoridades: Dr. Braulio Zorzella. (Palmas.); Dr. Jorge Kuhn. (Palmas.); Dra. Rosemeire Sartori de Albuquerque. (Palmas.); e o Dr. José Roberto Ferraro. (Palmas.)
Senhoras e senhores deputados, minhas senhoras e meus senhores, todos os
convidados aqui representando as suas entidades, esta sessão solene foi
convocada pelo presidente desta Casa, deputado Samuel Moreira, atendendo à
solicitação desta deputada, com a finalidade de homenagear as instituições que
realizam ou incentivam o parto humanizado.
Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos e cantarmos o Hino
Nacional Brasileiro, executado pela maravilhosa Camerata
da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do tenente Israel
Oliveira.
* * *
- É feita a execução do Hino Nacional Brasileiro.
* * *
A SRA.
PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB
Esta Presidência agradece à Camerata da Polícia Militar do Estado de São Paulo e se
sente extremamente honrada pelas músicas executadas, porque tocam profundamente
o nosso coração. Quando uma canção toca nosso coração, foi o primeiro momento
da humanização.
Então, os senhores são pertencentes
a esta sessão, porque, com todo o carinho, com toda a dedicação e com toda a
ciência, que vocês trazem da música, trouxeram um
momento de paz, tranquilidade, amizade, respeito e
humanização para toda esta plateia e todos os
brasileiros que nos assistem neste momento.
Solicito a todos uma salva de
palmas calorosa aos nossos amigos. (Palmas.)
Solicitaram justificativa de ausência: Sra. Lu
Alckmin, primeira-dama do estado de São Paulo, vice-almirante Liseo Zampronio, comandante do
oitavo distrito naval; Dr. Márcio Fernando Elias Rosa, procurador-geral da
Justiça; desembargadora Maria Doralice Novaes, presidente do Tribunal de
Trabalho da 2a Região, Dr. Paulo Adib Casseb,
presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo, Mônika Bergamaschi, secretária de
estado de Agricultura e Abastecimento, Sr. Herman Voorwald, secretário de estado da Educação; Sr. Eufrozino Pereira da Silva, secretário estadual de Emprego
e Relações do Trabalho; tenente-coronel da Polícia Militar José Roberto Rodrigues
de Oliveira, secretário-chefe desta Casa Militar; e deputado Ulysses Tassinari,
do Partido Verde de São Paulo.
Comunicamos aos presentes que
esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo, portanto todos façam belos sorrisos, pela TV WEB, e será
transmitida pela TV Assembleia no sábado, dia 13 de
setembro de 2014, às 21h20min, pela NET, canal 7, pela TV
Aberta, canal 61.2, TV Vivo Digital, canal 185 e analógico, canal 66.
Neste momento, gostaria de
esclarecer duas situações. Primeiro, por uma obrigação do ofício, não posso
abandonar a Mesa da Presidência, porque esta Presidência tem que estar ocupada
durante todo o tempo. Então, não é uma deselegância; faz parte do protocolo.
Em segundo, eu quero agradecer a
todos que estão aqui, porque, hoje, estamos buscando o resgate do que é
essência humana. E, neste exato momento, eu só tive a sensibilidade maior de
convidar as pessoas que vêm trabalhando e lutando, durante muito tempo, para
que isso aconteça. Estamos tentando desmanchar o que não é tão lógico, o que
não é tão óbvio. Nós queremos, simplesmente, que a natureza volte com sua
essência, com sua força, com toda a tranquilidade e
dignidade de respeito ao corpo da mulher, à sua opção por ter o seu filho. Não
estamos aqui para dizer o que é melhor, o que é pior. Estamos aqui para dizer
que nós, mulheres, temos direito aos nossos corpos. E o direito aos nossos
corpos inclui como proceder e como executar a maternidade.
Hoje é um momento especial,
aonde os grandes artistas são vocês. A vocês todos, eu peço uma grande salva de
palmas. (Palmas.)
Assistiremos agora ao vídeo do
parto da Alice, irmã da Sarinha, ambas
filhas da Katia Barga. Por
favor, Katia. Alice é o bebê que está ali; a Sarinha não veio porque está na escola. A Katia fez a gentileza de ceder o vídeo de seu parto
natural, o parto da Alice. Ambas são filhas da Katia,
que teve e adotou a opção do parto humanizado.
* * *
- É feita a exibição do vídeo.
* * *
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Parabéns, Katia,
bem-vinda, Alice.
Neste momento, fará uso da
palavra o Dr. Braulio Zorzella,
médico-obstetra em parto humanizado.
O SR. BRAULIO ZORZELLA – Bom
dia a todos. Quero agradecer a senhora pelo convite. É um prazer estar aqui.
Alguém me perguntou quem eu
estava representando. Acredito que estou representando a classe dos obstetras.
Não estou representando uma instituição especificamente. Faço parte, em
Sorocaba, do Instituto Bem Gerar,
que é um grupo de apoio ao parto, mas eu vim falar em nome de obstetras em
geral e, principalmente, em nome das mulheres.
Um ponto-chave importante nessa
luta, nessa caminhada ao parto humanizado, é a questão da inversão desse
paradigma, que é colocar a mulher como centro de tudo e protagonista do seu
corpo; ela ter a decisão de tudo que quer. Isso envolve as evidências
científicas, envolvem a experiência do médico, mas, acima de tudo, é aquilo que
a mulher quer.
Não que ela vá, simplesmente,
decidir tudo, e o médico não vá ter a participação dele. Muitos colegas dizem
isto: “A mulher vai decidir, e eu vou só acatar o que ela decidir?” Não. É uma
decisão em conjunto. Ela expõe o que ela quer, e é papel do obstetra, papel do
médico, mostrar se esse caminho é realmente interessante ou se há um caminho
diferente. Chegando no final com a decisão dela em
relação ao seu corpo, inclusive em relação à espera pelo parto normal. Ou
mesmo, em alguns raros casos, quando a mulher é muito informada e escolhe a
cesárea como primeira opção, ela tem o direito dessa escolha. Isso é muito raro
acontecer quando a mulher é realmente informada, mas que a mulher tenha a
decisão sobre seu próprio corpo.
Como estamos aqui também falando
de política, eu acho que a política é um caminho extremamente interessante para
isso que nós propomos. A política no Brasil vem enfrentando várias questões,
inclusive de descrédito em muitas áreas, mas penso que a política é o caminho
real para você conseguir mudanças.
Sempre estive envolvido com
política nos bastidores e já fui convidado a ser candidato a deputado estadual.
Não aceitei porque acho que meu tempo agora é trabalhar como obstetra. Não
teria tempo agora para trabalhar com política. Por isso, vim aqui. Para
incentivar, porque é muito importante a participação política. É extremamente
importante que a política movimente o cenário da humanização do parto.
Existem dois pontos específicos.
Um deles é a Rede Cegonha, um incentivo federal. Esse ponto tem que ser cada
vez mais alavancado, cada vez mais incentivado e espalhado nas redes. Eu acho
que esse é um ponto-chave.
Outro ponto-chave, falando do
setor suplementar, que é a Agência Nacional da Saúde Suplementar, que ela deve
cumprir seu papel e passar a cobrar das instituições do setor suplementar, que
essas instituições comecem a ter índices favoráveis, índices bons, em relação
ao número de partos normais e cesárea.
Quando se fala em índice de parto
normal e cesárea, por trás disso vem todo um complexo, uma complexa gama de
informações, de itens de qualidade em relação àquele serviço. Alguns locais
falam: “Nossa, aquele hospital é ótimo, porém tem 80% de cesáreas”. Uma coisa
não bate com a outra.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – É um “ótimo” relativo.
O SR. BRAULIO ZORZELLA – O
hospital não tem como ser ótimo com 80% de cesáreas. Então, na verdade, pode
ser ótimo na hotelaria, mas, nos resultados finais, nos resultados clínicos,
não é ótimo. Assim, no saldo final, ele não é ótimo.
O setor suplementar é um dos
grandes culpados no Brasil pelo aumento do índice de cesáreas, e a Agência
Nacional de Saúde é a ferramenta que deve ser movimentada para que esse cenário
comece a mudar.
Então, acho que a Agência
Nacional de Saúde e a Rede Cegonha são os dois pontos-chave para a política
conseguir alavancar e dar à mulher o seu papel de escolha em relação ao seu
corpo.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Muito obrigada. Tem a palavra o Dr. Jorge Kuhn,
médico obstetra, com quem eu trabalhei, nada mais,
nada menos, do que 35 anos atrás.
O SR. JORGE KUHN – Você
acabou denunciando sua idade. Isso é muito ruim.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – O que eu posso fazer? Ultimamente, a gente
pergunta quantos anos tem a pessoa e, de imediato, também pergunta quantas
plásticas ela fez? A idade, hoje em dia, é relativa. (Risos.)
O SR. JORGE KUHN – Bom dia
a todas e a todos. É um prazer muito grande estar aqui. Eu não poderia deixar
de aceitar o convite da deputada Sarah Munhoz. Como ela disse, tive o
privilégio de trabalhar no Hospital Santa Cruz, em 1980, 1981, mais ou menos, e
ela ainda se lembra de mim. Isso é muito interessante.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Do senhor e da sua esposa, Dra. Mema. Atrás de um
homem famoso, sempre tem uma mulher poderosa. Por favor, Dra. Mema, levante-se para que todos a conheçam. Essa é a mulher
que mudou a vida dele. (Risos.)
O SR. JORGE KUHN – Para
quem não sabe, a Mema me atura há 32 anos. Isso,
realmente, é um privilégio.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Eu o conheço há 35 anos, então, eu conheço
toda a história.
O SR. JORGE KUHN – Eu
recebi o convite por meio da Casa Moara, onde eu
trabalho, tenho meu consultório com mais duas colegas obstetras, no caso, minha
esposa e a Andrea Campos e também uma colega obstetriz,
Márcia Koiffman. Meio que de última hora, estava falando
com o Ferraro no caminho para cá, o colega que iria
representar o departamento de Obstetrícia da Unifesp,
que não pôde comparecer e pediu para eu representar também. É um orgulho muito
grande e um prazer muito grande.
Bráulio, me
dizia no começo, que está vindo... Quando perguntei quem ele estava
representando, disse que representava os obstetras renegados. Desculpa se eu te
coloquei numa fria. Já estou com 60 anos e não tenho mais medo, não é Janine,
já estou tão renegado mesmo. Para mim, não tem problema maior.
Mas quem me conhece essa... Eu
não gostaria de dizer luta, deputada Sarah, porque luta significa embate; um
sai perdedor, e o outro, sai ganhador. Não é uma guerra, uma guerrilha, mas é
um trabalho muito difícil, realmente.
Quando a gente frequenta serviços que têm em torno de 80, 90% de operações
cesarianas e você, como médico obstetra, tem em torno de 10, 15%, você se sente
realmente muito renegado.
Hoje, o termo violência
obstétrica está muito em voga, e eu também diria que existe a violência contra
os obstetras que fazem um contraponto a esse modelo hegemônico que temos em
relação às cesarianas.
Eu me sinto envergonhado, como
professor universitário, em dizer que, no Hospital São Paulo, nós temos 70% de
cesáreas. Que professor é esse? O que estou ensinando para meus alunos que não
consigo reverter essa situação? Eu acho que campanhas são muito importantes,
estes eventos também são importantes, mas o mais importante de tudo é a
conscientização das mulheres.
Em nome da Kátia Barga, que conheço muito da Casa Moara
– ela é doula e instrutora de yoga
-, quero dizer que, realmente, está havendo uma mudança muito lenta, muito
devagar, mas está havendo uma mudança em relação à questão do protagonismo do parto. Não discuto sobre a mulher que quer
cesárea. Eu não faço cesáreas, por isso, não recebo esse tipo de paciente. Eu
não faço cesáreas a pedido. Eu faço cesáreas quando
necessário.
Tenho toda convicção que a mulher
é dona do seu corpo. Ela pode optar por uma operação cesariana, desde que
suficientemente esclarecida, o que ela não é suficientemente esclarecida no
pré-natal. Mas acredito que está havendo, realmente, uma mudança de paradigma.
Talvez eu não viva essa mudança. Quem sabe meu neto Gabriel, que, hoje, tem um
ano e pouquinho, veja essa mudança de paradigma. Que possamos ter índices menos
vergonhosos. Eu diria mais um pouco: menos criminosos de cesárea no nosso País.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Assistiremos agora ao vídeo com o depoimento
da enfermeira Ana Cris, que não pôde comparecer, mas autorizou, junto com
Eduardo Chauvet, a exibição de parte do filme “O
Renascimento do Parto”.
* * *
- É feita a exibição do vídeo.
* * *
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Eu gostaria de agradecer ao pessoal do Som.
Ouviremos, agora, o professor doutor
José Roberto Ferraro, superintendente do Hospital São
Paulo.
O SR. JOSÉ ROBERTO FERRARO – Bom dia a todos e a todas. Gostaria de agradecer à deputada Sarah Munhoz
por este convite, por esta sessão e cumprimentar os demais componentes da Mesa.
Para nós, é um orgulho participar de um ato como este.
No Hospital São Paulo, o hospital
universitário da Unifesp, a questão da humanização do
parto, e não só do parto, mas de todo ciclo gestacional até o puerpério, enfim, ele está aceito, implantado e crescendo.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Parabéns.
O SR. JOSÉ ROBERTO FERRARO – Isso se demonstra nos nossos protocolos que entendemos que o processo do
parto é um processo natural, fisiológico, que envolve emoções, crenças, etc.
Tudo isso deve ser respeitado, mas deve ter um apoio técnico importante também.
O Hospital São Paulo é um
hospital universitário. Há muitas gestantes com gestação de alto risco, com má
formação. Isso talvez explique, viu Jorge, um índice um pouco maior, que não é
esse que você falou, já melhorou, de cesáreas. Nós atuamos bastante junto às
disciplinas, tanto da escola médica, como da escola de enfermagem, para que a
indicação de cesárea seja absolutamente técnica e precisa, e não essas que
estamos vendo aqui.
É um hospital onde formamos
recursos humanos de diversas profissões na área da saúde. O apoio é integral ao
parto humanizado. Fizemos investimentos recentes no setor de neonatologia com apoio desta Casa, do Estado e, também, com
uma doação da família Safra. Fizemos um investimento no centro obstétrico e, também,
estamos fazendo na unidade de obstetrícia, enfim, com a ideia
e o propósito do parto humanizado e acompanhado pelos profissionais de saúde,
porque temos a responsabilidade com a segurança do paciente, da parturiente e
do bebê.
Então, gostaria de agradecer, em
nome do Hospital São Paulo, da disciplina de obstetrícia, tanto a médica como a
de enfermagem, e de todos os outros profissionais.
Muito obrigado pelo convite, e
sucesso. Obrigado.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Obrigada, professor. Tem a palavra a Dra.
Rosemeire Sartori de Albuquerque, enfermeira
obstetra, membro da Comissão de Educação, Serviços e Legislação na Associação
Brasileira de Enfermeiros Obstetras de São Paulo – Abenfo-SP.
A SRA. ROSEMEIRE SARTORI DE ALBUQUERQUE – Bom dia a todos os presentes. Quero agradecer a oportunidade de estar
aqui representando a Abenfo, a nova diretoria, que
toma posse em novembro, eu como presidente e a professora Cristina Gabrielloni, aqui presente, como vice-presidente.
Pela manhã, fui comunicada que o
professor Dr. Corintio Mariani Neto não poderia estar
presente, por um problema de voo, ele não conseguiria
estar aqui. Assim, também represento o Hospital Maternidade Leonor Mendes de
Barros.
É muito bom estar aqui. Primeiro,
logo que cheguei, encontrei ex-alunos e docentes – inclusive, a professora
Janine e a professora Márcia Barbieri, com quem pude aprender a ser enfermeira
obstetra.
Tenho certeza da minha excelente
formação, mas eu tive que fazer um resgate à assistência obstétrica. E hoje, eu
só posso estar em um curso de obstetrícia formando obstetrizes
e ajudando na formação de enfermeiras obstetras, porque eu me permiti
reaprender assistência obstétrica. Não que eu não tenha sido uma boa enfermeira
obstetra, mas são momentos diferentes.
Então, hoje, o repensar a episio, repensar a ocitocina,
repensar a assistência tão intervencionista que nós fazíamos; nós só nos
convencemos quando fazemos e vemos que dá certo. Vejo que têm algumas coisas
muito sérias acontecendo que preocupam. E proponho a Abenfo
estar muito à frente desse movimento, que é a formação destes profissionais
novos. Se não houver docentes confiantes nesse novo paradigma da assistência
obstétrica, nada vai acontecer. Se não tivermos gestores com competência para
levantar a bandeira e, de fato, fazer acontecer nos serviços, nada vai
acontecer.
Por outro lado, esclarecer
verdadeiramente as mulheres. Quando falo “verdadeiramente”, é explicar à mulher
o processo de parturição, e não só convencê-la do parto normal ou cesariana.
Ela tem de ser verdadeiramente orientada, porque, assim, quando houver uma
complicação e que tenha... Ainda bem que tem a cesariana, porque, quando
necessária, salva vidas, tanto da mulher, como do bebê. Mas ela tem que saber,
tem que ser orientada.
E eu me preocupo com o movimento
da desinformação, também, e nós temos de falar sobre isso. Então, é muito sério, as maternidades estão fechando, o serviço
público, superlotado, os residentes médicos formados por modelos ainda
convencionais, outros profissionais nesse cenário, quase brigando, implorando
para não fazer uma episio, para não fazer uma ocitocina. Somos quase obrigados no contexto do dia a dia.
Tudo isso tem de ser discutido para melhorar a assistência obstétrica.
E eu podia resumir tudo isso, eu
vejo que nunca a obstetrícia esteve tão em voga no sentido de que, nós termos
que ter competência técnica para atender essas mulheres com dignidade e
respeito. Mas nós temos de ter a tranquilidade. A tranquilidade para colocar a mulher no hospital, interná-la no momento certo, e não precocemente, porque
favorece às intervenções. Ter a tranquilidade de que
podemos posicioná-la em outras situações que seja confortável para ela. A tranquilidade de que, quando eu tiver que ligar uma ocitocina, se necessário, mas ligar com tranquilidade,
com respeito, com propedêutica, com protocolo. A tranquilidade
de que eu protejo esse períneo, avalio esse períneo, mas permito o nascimento
desse bebê da forma mais natural possível, e a tranquilidade
de deixar esse bebê com quem é de direito, que é a sua mãe. Até isso a gente é
capaz de fazer, separar o bebê da mãe nesse momento tão importante.
Então, a palavra-chave, para mim,
é tranquilidade.
Obrigada, viu, Sarah?
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Estão presentes duas enfermeiras que me ensinaram a
importância, e que deram, há 30 anos, a possibilidade de saber o quão
importante é esta sessão de hoje.
E eu gostaria que levantassem, para
que nós a saudássemos, a professora Márcia Barbieri e a professora Cristina Gabrielloni. (Palmas.).
Obrigada, vocês são demais.
(Risos.).
Tem a palavra o Dr. Adalberto Kiochi Aguemi, representando
o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Sr. José de Filippi Júnior.
O SR. ADALBERTO KIOCHI AGUEMI – Bom dia a todos e todas, à deputada Sarah Munhoz. Cumprimento a todos os
presentes na Mesa e demais colegas.
Venho representar o secretário municipal de Saúde de São Paulo, José de Filippi Júnior, e relatar, assim, a gratidão e o reconhecimento deste evento. Realmente, historicamente, o movimento em prol da humanização do nascimento tem ocorrido, de forma articulada e organizada, em todas as esferas, e dá um salto de qualidade muito grande em termos de organização do serviço.
Particularmente, no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, o facilitador pela estratégia nacional, que é a Rede Cegonha, observamos que isso dá um substrato institucional forte para que os vários serviços, na esfera estadual como na municipal, possam se fortalecer e avançar ainda mais com relação a essa estratégia de mudança de paradigmas.
Então, entendemos que o modelo antigo, que conceituo como industrializado e medicalizado, tem interesses. Por conta disso, há necessidade de uma organização muito grande por parte de todos os movimentos, de todos os setores, academias, movimentos organizados de mulheres, Parlamento, para que possamos inverter esse tipo de lógica.
Na Secretaria Municipal de Saúde, temos priorizado, fortemente, a construção de centros de partos normais. Nesse sentido, entendemos que, como a mulher deve ser a protagonista do nascimento, nada melhor do que inserir a enfermeira obstetriz, ou a obstetriz, nesse acompanhamento e deixar para que o médico obstetra – eu sou médico obstetra – fique nos casos de alto risco, os partos complicados.
Na nossa concepção – que segue as diretrizes da Rede Cegonha -, entendemos que é uma estratégia bem interessante no sentido de resgatar o nascimento e colocar a mulher como protagonista desse processo, assim como sua família.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Fará uso da palavra agora, a Dra. Isabel
Cristina Esposito Sorpreso,
representando o Secretário de Estado de Saúde, Dr. David Uip.
A SRA. ISABEL CRISTINA ESPOSITO SORPRESO – Bom dia a todos e a todas. Eu parabenizo a deputada Sarah Munhoz pela
iniciativa.
Vou colocar alguns aspectos, não
só como Estado, mas como médica ginecologista obstetra e docente da Faculdade
de Medicina, na disciplina de ginecologia. Alguns aspectos ditos aqui, que eu
acho fundamentais para que todas essas mudanças realmente sejam concretizadas.
Inicialmente, a Kátia colocou uma
coisa importante, que é a preparação que ela teve durante os nove meses. Tenho
que lembrar a importância do pré-natal e a importância do vínculo da gestante,
a maternidade aonde ela vai ter o parto.
A segunda coisa foi colocada pelo
colega sobre a importância da vinculação das diferentes redes em uma rede só.
Sem dúvida nenhuma, o Estado apoiou a Rede Cegonha com a implantação de mais de
85% das Regionais de Saúde. É fundamental um alinhamento entre as redes e as
linhas de cuidados já existentes em cada território. Obviamente, aqui no estado
de São Paulo, já tínhamos a Linha de Cuidados da Gestante e Puérpera,
mas apoiamos a Rede Cegonha por ser um plano nacional. É fundamental termos
esse alinhamento, essa integração.
Uma outra coisa que julgo importante é a coparticipação, seja do usuário ou dos profissionais de Saúde.
Tudo isso é fundamental, e não acredito em nada disso, senão por meio da
integração dos níveis de Saúde primário, secundário e terciário. Sem dúvida
nenhuma também da importância do trabalho multiprofissional, que tem de ser
incentivado, apoiado e unânime.
Quero fazer um comentário em
relação ao que a colega colocou sobre a competência de gestão. Não basta ser
apenas competência de gestão. Quando temos uma questão tão importante como
esta, eu diria que é preciso mais. Como gestão, temos de ter apoio de
sociedades, de federações, de entidades políticas. Eu diria que, quando uma ideia é unânime, tem de ser um dever civil de todos.
Muito obrigada, mais uma vez.
Parabéns a todos os profissionais que estão há tantos
anos nesta luta, como a professora Rossana Pulcineli, docente da Faculdade de Medicina da USP, aqui
presente, e tantos outros que estão nesta luta há muito mais tempo. Sem dúvida,
todos têm o apoio da Secretaria do Estado e da área técnica da Saúde da Mulher.
Muito obrigada.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Com a palavra, a Dra. Janine Schirmer, enfermeira obstetra, professora titular da Escola
Paulista de Enfermagem, pró-reitora de administração da Unifesp,
pessoa pela qual tenho extremo respeito. Além disso, tenho um grande carinho,
porque é uma pessoa verdadeira que sempre levantou essa bandeira. Parabéns,
Dra. Janine.
A SRA. JANINE SCHIRMER –
Obrigada deputada Sarah Munhoz, querida amiga, colega. Parabéns por esta
iniciativa.
Estava pensando... O Jorge disse
que está casado com a Mema há algum tempo. De alguma
forma, eu e o Jorge nos encontramos 30 anos atrás em uma escola de formação de
enfermeiras obstetras e médicos obstetras – Escola Paulista de Medicina, Escola
Paulista de Enfermagem, hoje Universidade Federal de São Paulo, onde tenho a
grande honra de ser professora. Fui também orientadora e professora da Rosimeire, aqui presente. Compartilhei o trabalho e a
formação com a Márcia, a Cristina e muitas amigas que estão aqui, muitas
alunas.
Eu estava pensando nos colegas
que estão aqui na gestão. Tenho a honra de estar neste lugar de elaboração de
política, por todo um percurso que ainda vou falar. Estava lembrando, Sarah,
que eu sou de uma cidade muito pequena do Rio Grande do Sul, com 15 mil
habitantes, Sobradinho. Minha mãe teve uma primeira cesárea no hospital da
cidade, nos idos de 1955. Em 1957, eu nasci em casa de parto normal, por um
médico da cidade, um médico de cidade do interior. Todo mundo que tem a minha
idade deve saber o que é nascer no interior e o que significava, há 57 anos, a
relação entre um médico, ou uma estrutura de Saúde de uma cidade, com a
sociedade, com as famílias. Era uma outra lógica, uma
outra cultura.
Nesses meus 30 anos de
obstetrícia, pude assistir hoje a várias exposições interessantes, falas
maravilhosas. Você tem razão, Isabel, ninguém aqui partilha de uma ideia diferente. Somos todos absolutamente unânimes sobre a
necessidade de resgatar o humano em nós, em uma forma de assistir que
possibilite o protagonismo das mulheres; que os
gestores tenham, junto com os profissionais de Saúde e as universidades, um
compromisso ético e político de uma outra forma de
ensinar as pessoas, de cuidar das pessoas.
Entendo que isso é uma situação
multifatorial. É muito difícil pensar como resgatamos a forma de cuidar dos
outros de forma digna. Rose, você tem toda razão, a tecnologia é fantástica,
precisa existir, ela salva vidas, tem de ser bem indicada. Mas temos de ter
profissionais com capacidade de raciocínio clínico para tomar as melhores
decisões em um cenário de prática com toda infraestrutura
em um meio ambiente, como diz o Ferraro, com uma
hotelaria e estrutura dignas de receber a população.
Que possamos, sim, até dar à luz
em casa em condição de absoluta segurança, como vivenciei no Japão há sete
anos, quando estive lá. No Ministério da Saúde, fizemos um convênio com a Jica, Agência Japonesa de Colaboração, e levamos 60
enfermeiras-obstetras para conhecer a lógica do nascimento no Japão, as casas
de parto. Esse nome tem uma emblemática mística, que também precisa ser
desfeita. Ela não é tão simples assim. Ela não pode incorrer em risco para as
mulheres. É uma outra lógica. Não é qualquer pessoa
que pode atender a um parto em casa.
Eu nasci em casa em 1957 pelas
mãos de um médico, mas não posso incorrer em riscos. Não é também por trazer as
mulheres para uma maternidade que as coloco em uma situação de segurança, caso
contrário, não teríamos a mortalidade materna que temos neste país: 99% das
mulheres parem nas maternidades pelas mãos das enfermeiras, das enfermeiras
obstetras, dos médicos, dos médicos obstetras ou por alguém que tenha
responsabilidade técnica de responder por aquela assistência.
Olhando para iniciativas de
governo que começaram na década de 30 com o objetivo de dar um
outro olhar para a atenção ao nascimento no Brasil, temos tido mais de
12 políticas públicas que tentam pensar em um jeito diferente de resgatar a
atenção ao parto, reduzir a morbidade, a mortalidade, fazer com que tenhamos
crianças saudáveis, cidadãos dignos dos seus direitos. Entretanto, não temos
sido felizes.
São inúmeros os governos que
propõem medidas, e essas medidas não chegam aonde devem chegar. Posso dizer
que, de certa forma, tive participação em um movimento, em 1998, no Ministério
da Saúde, quando começamos a discutir a palavra que hoje está tão batida:
“humanização do parto”. Foi muito emblemático quando colocamos em um manual:
“Humanização do Nascimento e do Parto”.
Essas duas palavras não faziam
parte dos escritos científicos das formações dos profissionais e políticas públicas.
Isso trouxe um incômodo, um repensar, uma reflexão do que vínhamos fazendo e
ensinando nas universidades, nas escolas médicas, nas escolas de enfermagem.
Como a gestão tem se comportado
em relação a isso? Alguém aqui falou da necessidade imperiosa da gestão de
tomar medida para que se faça algo diferente do que vem sendo feito. Quando
cunhamos o programa de Humanização do Parto e Nascimento e uma série de outras
ações, era um grupo muito especial de pessoas, como a Tânia Lago, Suzanne Serruya, Nelson Cardoso. Éramos todos obstetras. A Tânia é
uma sanitarista que todos conhecem em São Paulo; já esteve na gestão em muitos
momentos.
Vínhamos exatamente daquilo que
alguns de nós aqui sabemos: a peregrinação das mulheres para ter o direito de
nascer nas cidades brasileiras. Parece-me que ela voltou, porque as
maternidades privadas não querem mais atender ao parto, porque o parto não dá
lucro. Há 15 anos, já imaginávamos que isso iria acontecer, porque a taxa de
fertilidade caiu e, na cidade de São Paulo e em alguns lugares, não tem o menor
sentido abrir uma maternidade para ganhar dinheiro, porque ela deixou de ser
importante para o mercado.
Esta é uma discussão que tem de
ser posta: onde se investe? Investe-se onde dá dinheiro. Saúde não pode dar
dinheiro. Saúde tem de cuidar das pessoas. Essa é a primeira regra que tem de
mudar. Eu não posso fazer obstetrícia para ficar rico. Nós fazemos, sim, uma
série de situações – não é, Jorge? -, um parto diferenciado, um cuidado
diferenciado, mas a saúde não pode ser vista dessa forma. E não é apenas em
obstetrícia, mas em todas as áreas da formação.
Ninguém pode pensar em ficar rico
fazendo saúde, simplesmente por ganhar dinheiro. Isso é uma lógica do mercado
que nós, nas universidades – têm várias colegas professoras aqui presentes -,
temos refletido bastante. Quando você vai fazer medicina, enfermagem, para
ganhar dinheiro, não é uma boa lógica. Essa é a pior ética que se pode ter. É
preciso desconstruir esse modelo.
São tantas as possibilidades de
questões que posso levantar aqui, como o privilégio de ter passado na gestão do
governo federal, depois, ter feito um caminho... Eu venho de uma escola
importante, em que sempre fizemos a humanização. Não tinha esse nome, mas
tivemos que cunhar esse nome. Esse nome foi importante.
Estivemos juntas, há poucos dias,
eu e a Rosana, na Sugesp. A Sugesp
teve a coragem - a Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São
Paulo, ligada à Febrasgo, Federação Brasileira de
Ginecologia e Obstetrícia – de discutir um tema importante: onde termina a
assistência e começa a violência.
Fico incomodada em usar a palavra
“violência”. Não gosto dessa palavra. Penso que ela não está posta dessa forma.
Acontecem situações, sim, de violência, que precisam ser denunciadas como
sociedade civil que somos, independentemente de sermos
médicos, enfermeiros, arquitetos, engenheiros, administradores, freiras. Está
aqui, na minha frente, nossa querida irmã Maria, da Santa Marcelina, que tem um
trabalho maravilhoso.
Penso que essa é uma discussão
que precisa ser repensada. Usar a palavra “violência obstétrica”... É muito
duro termos chegado a esse ponto. Penso que este é o momento de repensar as
instituições formadoras aqui nesta Casa. Esta Casa tem um compromisso muito
importante de rever o que nós fazemos, o que o dinheiro público paga. O
dinheiro público é que paga as assistências nas maternidades públicas e, de
certa forma, também nas privadas.
Temos um compromisso como gestor,
como política de Saúde. Imagino que, chegar ao ponto de começarmos a discutir a
violência, é muito triste, é muito ruim. Não é dessa forma que também vamos
construir. Penso que a Katia dá um exemplo
maravilhoso. O que você apresentou para nós, Katia,
também é um caminho. Mas a Casa Moara é uma coisa, a
clínica Moara é uma coisa ...
Porém, defendermos por si só o retorno do parto para o domicílio sem a segurança,
sem a qualificação, sem o comprometimento e envolvimento da família, é muito
complicado. Nem tanto ao céu, nem tanto a terra. Precisamos ter o equilíbrio de
encontrar caminhos que possam ser possíveis.
O que eu vi no Japão não é
factível neste nosso País, sem uma forma de se aplicar, sem um cuidado, sem o
envolvimento das pessoas. Por outro lado, as maternidades não podem continuar
fazendo o que fazem de forma também, às vezes, desassistida no sentido de infraestrutura, de recursos humanos. Não dá para fazer uma
obstetrícia diferente sem enfermeiras, sem médicos obstetras,
com pessoas mal pagas, sem infraestrutura, sem
tecnologia à disposição.
Mudar a sala de parto para um
PPP, que é importantíssimo, com outro cenário, envolve recursos. Ninguém gosta de
colocar a mulher naquela mesa, onde aprendemos a fazer obstetrícia. Foi assim
que eu aprendi. Foi assim que eu ensinei a você, não foi, Rose? Foi assim que
aprendi com a professora Márcia. Essa era a tecnologia que havia. Podemos
repensá-la, fazer diferente e não ser desumanos, mesmo na mesa ginecológica,
que nos parece tão assustadora? Talvez. Penso que essa é uma discussão
importante, mas não vai ser por mudar a mesa ginecológica em si, na assistência,
que vou dar uma garantia de segurança das melhores evidências das pessoas mais
qualificadas.
Tenho um percurso de ter...
Talvez a palavra – Jorge tem razão – “luta” dê a impressão de que estamos uns
contra os outros. Nós não estamos uns contra os outros. Estamos todos no mesmo
lugar, querendo devolver às mulheres o direito de pensar a sua assistência, seu
parto, de forma dialogada. Que possamos, como profissionais, orientá-la
sobre a melhor indicação para ela naquele momento, sem que corra risco, assim
como seu bebê e sua família.
Essa é a grande meta que temos de
ter na cabeça: formar pessoas que possam ter a capacidade de, pelo menos,
refletir e ter o compromisso ético de fazer o melhor pelos nossos doentes,
pelos nossos pacientes, pelas nossas mulheres. Caso contrário, vamos continuar
uma Saúde muito ruim, porque ela está implicitamente relacionada com quem eu
formo. Quem eu formo tem que ter, sim, o compromisso político de exigir desta
Casa, do gestor, de quem está à frente das políticas, o investimento necessário
para que façamos o melhor, para que a rede funcione. Temos, sim, que ter a
formação, para que possamos denunciar, para saber que estamos ali também como
atores, não só para ser a enfermeira obstetra, a obstetriz,
ou o médico obstetra, ou o médico. Não é assim.
Quando estou em uma maternidade,
sou um ente social e tenho que fazer aquilo mudar. Se aquilo está me colocando
em risco como profissional, tenho que denunciar, tenho
que ir atrás do gestor responsável para encontrarmos caminhos. É fácil mudar do
dia para a noite? Não é. A Isabel sabe, o Alberto sabe o quanto é difícil fazer
gestão. O Ferraro e eu sabemos – estamos no mesmo
lado agora fazendo gestão – o quanto é difícil. É muito difícil fazer com que
as coisas cheguem ao ponto de conseguirmos fazer compras otimizadas,
de dar o melhor. Tudo é muito difícil.
Temos um País muito jovem que não
pode ser comparado a um Japão, a uma Europa, que têm uma política e uma cultura
com 500 anos a nossa frente. Sempre brinco que o Brasil teve sua primeira
biblioteca há cerca de duzentos e poucos anos. Um país que teve sua primeira
biblioteca há 200 anos, não pode ter a cultura e a cidadania de um povo
europeu, de um povo japonês. Nós temos uma outra
história, estamos apenas construindo nossa história.
Estamos neste momento político
das eleições em que podemos refletir e votar com muita consciência. São estes
os momentos políticos que temos pela frente.
Agradeço demais, Sarah, pelo
convite. É uma honra estar aqui com vocês, ter dividido a Mesa com os colegas e
ter ouvido meus queridos amigos falarem, em uníssono, do quanto queremos que as
mulheres sejam protagonistas, com segurança, com qualidade. Que isso seja uma
meta de todos, não uma luta, e nos dê coragem para continuar formando pessoas
de maneira diferente, lutando pelos seus direitos, e nos engajando em todas as
políticas públicas que possam ser favoráveis à população brasileira.
Muito obrigada.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Neste momento, convidamos, para receber um
diploma em homenagem às instituições que realizam o parto humanizado ou
incentivam ações para que o parto seja humanizado, os seus representantes.
Com a palavra, a Mestre de
Cerimônias.
A SRA.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – A primeira instituição a ser homenageada é a Casa Angela.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA.
MESTRE DE CERIMÔNIAS – Grupo de Apoio à Maternidade Ativa – Gama.
* * *
- É feita a entrega do diploma.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Casa Moara.
* * *
- É feita a entrega do diploma.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Commadre.
* * *
- É feita a entrega do diploma.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Casa da Borboleta.
* * *
- É feita a entrega do diploma
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Grupo Samaúma.
* * *
- É feita a entrega do diploma.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Arte de Nascer.
* * *
- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Despertar do Parto.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Caza da Vila.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Matrice.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Rodamor de Mães.
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- É feita a entrega do diploma.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Parto do Princípio.
* * *
- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Amigas do Parto.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Maternamente.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Nascer Naturalmente.
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- É feita a entrega do diploma.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Maternativa.
* * *
- É feita a entrega do diploma.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Espaço Dar à Luz.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Grupo Vínculo.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Roda Bebedubem.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Gestantevita.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Mami Butantã.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Ishtar Espaço para Gestantes.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Madreser – Orientação, Apoio e Cuidado Materno.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Roda de Mães de Ubatuba.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Marília Largura.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Casa do Parto de Sapopemba.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Geral Vila Nova Cachoeirinha.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Israelita Albert Einstein.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Estadual de Sapopemba.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital e Maternidade Santa Maria Cruz Azul.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Santa Marcelina.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Amparo Maternal.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Maternidade Interlagos.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Municipal do Campo Limpo.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Municipal M’Boi Mirim.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Nipo-Brasileiro.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Santa Catarina.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Unimed Santa Helena.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Pedreira.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital São Paulo.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Universitário da USP.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Sepaco.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Geral de Itapecerica da Serra.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Unifesp – Universidade Federal de São Paulo.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – A última instituição a ser homenageada é a Bem Gerar Maternidade e Desenvolvimento.
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- É feita a entrega do diploma.
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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Mais duas instituições a serem homenageadas: Artemis e Parto Sem Medo.
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- É feita a entrega dos diplomas.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Com a palavra, a deputada Sarah Munhoz, para o encerramento da presente sessão.
A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Foram muitas emoções.
Esgotado o objeto da presente sessão, a Presidência agradece às autoridades, aos funcionários da Casa, aos professores, aos representantes das unidades e a todos que com as suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.
Esta Presidência convida os presentes para um coffee break no Salão dos Espelhos.
Esta sessão está cheia de emoção.
Está encerrada a sessão.
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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 12 minutos.
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