http://www.al.sp.gov.br/web/images/LogoDTT.gif

 

12 DE SETEMBRO DE 2014

 

039ª SESSÃO SOLENE EM  HOMENAGEM ÀS “INSTITUIÇÕES QUE REALIZAM O PARTO HUMANIZADO”

 

Presidente: SARAH MUNHOZ

 

RESUMO

 

1 - SARAH MUNHOZ

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que o Presidente Samuel Moreira convocara esta sessão solene, a requerimento da deputada Sarah Munhoz, na direção dos trabalhos, para "Homenagear as instituições que realizam o parto humanizado". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Agradece aos presentes. Fala sobre a importância da humanização do parto e as instituições que o realizam. Defende o respeito ao corpo da mulher e ao seu direito de escolha na hora do parto. Anuncia a apresentação de vídeo do parto da Alice, filha de Katia Barga.

 

2 - BRÁULIO ZORZELLA

Médico obstetra humanizado, cumprimenta os presentes. Explica que, no parto humanizado, a mulher é protagonista do nascimento de seu filho. Defende o direito de escolha da mulher quanto ao parto. Discorre sobre a importância da participação política para incentivar as melhorias na obstetria. Critica o alto índice de cesáreas no Brasil. Pede atuação da Agência Nacional de Saúde e a Rede Cegonha.

 

3 - JORGE KUHN

Médico obstetra, saúda os presentes. Informa que trabalhou juntamente com a deputada Sarah Munhoz no Hospital Santa Cruz nos anos 1980. Lamenta que sua atuação enquanto obstetra seja criticada devido a seu trabalho pela conscientização a respeito do parto normal. Defende a conscientização da mulher durante o pré-natal.

 

4 - PRESIDENTE SARAH MUNHOZ

Anuncia a apresentação de vídeo com o depoimento da obstetriz Ana Cris, que não pôde comparecer e autorizou junto com Eduardo Chauvet, a exibição de parte do filme "O Renascimento do Parto".

 

5 - JOSÉ ROBERTO FERRARO

Superintendente do Hospital São Paulo, explica o parto como processo natural e fisiológico. Cita as melhorias realizadas no Hospital São Paulo tendo em vista o respeito à mulher no momento do parto.

 

6 - ROSEMEIRE SARTORI DE ALBUQUERQUE

Enfermeira obstetra, membro da Comissão de Educação, Serviços e Legislação na Associação Brasileira de Enfermeiros Obstetras de São Paulo (Abenfo-SP), defende que os profissionais da obstetrícia possam reaprender a prática da assistência obstétrica, que hoje é excessivamente intervencionista. Explica que a informação da mulher e dos profissionais da Saúde é essencial para a mudança do cenário obstétrico atual.

 

7 - ADALBERTO KIOCHI AGUEMI

Representando o secretário Municipal de Saúde, Sr. José de Fillippi Junior, explicita a necessidade de mudança de paradigmas na área da obstetrícia no País. Destaca a priorização da construção de centros de partos normais no município de São Paulo. Trata da Rede Cegonha.

 

8 - ISABEL CRISTINA ESPOSITO SORPRESO

Representando o secretário de Estado da Saúde, Dr. David Uip, destaca a importância da realização do pré-natal. Defende o alinhamento e apoio mútuo entre as políticas estaduais e municipais na assistência obstétrica à mulher. Coloca a questão do parto humanizado como dever civil do Estado.

 

9 - JANINE SCHIRMER

Enfermeira obstetra, professora titular da Escola Paulistana de Enfermagem e pró-reitora de Administração da Unifesp, cumprimenta os presentes. Lembra seu nascimento, em cidade no Rio Grande do Sul, por parto domiciliar. Defende uma forma de assistir ao parto que possibilite o protagonismo das mulheres. Discorre sobre o uso da tecnologia de maneira a salvar vidas, sem intervencionismos desnecessários. Pede a instauração de políticas públicas que busquem reduzir a morbidade de parturientes. Defende que a Saúde não pode ser vista com fins lucrativos. Trata do tema da violência obstétrica.

 

10 - LUCIANA PODIESE

Mestre de Cerimônias, realiza a entrega de diplomas em homenagem a diversas instituições que realizam o parto humanizado.

 

11 - PRESIDENTE SARAH MUNHOZ

Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão ao Sra. Sarah Munhoz.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata da sessão anterior. Podem todos tomar assento, por favor.

Convidamos para compor a Mesa principal a Dra. Janine Schirmer, pró-reitora de Administração da Unifesp. (Palmas.); a Dra. Isabel Cristina Esposito Sorpreso, representando o secretário de estado da Saúde, Dr. David Uip. (Palmas.); o Dr. Adalberto Kiochi Aguemi, representando o secretário municipal de Saúde, Sr. José de Filippi Júnior. (Palmas.)

          Na extensão da Mesa principal, nomeamos as seguintes autoridades: Dr. Braulio Zorzella. (Palmas.); Dr. Jorge Kuhn. (Palmas.); Dra. Rosemeire Sartori de Albuquerque. (Palmas.); e o Dr. José Roberto Ferraro. (Palmas.)

          Senhoras e senhores deputados, minhas senhoras e meus senhores, todos os convidados aqui representando as suas entidades, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa, deputado Samuel Moreira, atendendo à solicitação desta deputada, com a finalidade de homenagear as instituições que realizam ou incentivam o parto humanizado.

          Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos e cantarmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela maravilhosa Camerata da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do tenente Israel Oliveira.

 

* * *

 

- É feita a execução do Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB Esta Presidência agradece à Camerata da Polícia Militar do Estado de São Paulo e se sente extremamente honrada pelas músicas executadas, porque tocam profundamente o nosso coração. Quando uma canção toca nosso coração, foi o primeiro momento da humanização.

Então, os senhores são pertencentes a esta sessão, porque, com todo o carinho, com toda a dedicação e com toda a ciência, que vocês trazem da música, trouxeram um momento de paz, tranquilidade, amizade, respeito e humanização para toda esta plateia e todos os brasileiros que nos assistem neste momento.

Solicito a todos uma salva de palmas calorosa aos nossos amigos. (Palmas.)

           Solicitaram justificativa de ausência: Sra. Lu Alckmin, primeira-dama do estado de São Paulo, vice-almirante Liseo Zampronio, comandante do oitavo distrito naval; Dr. Márcio Fernando Elias Rosa, procurador-geral da Justiça; desembargadora Maria Doralice Novaes, presidente do Tribunal de Trabalho da 2a Região, Dr. Paulo Adib Casseb, presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo, Mônika Bergamaschi, secretária de estado de Agricultura e Abastecimento, Sr. Herman Voorwald, secretário de estado da Educação; Sr. Eufrozino Pereira da Silva, secretário estadual de Emprego e Relações do Trabalho; tenente-coronel da Polícia Militar José Roberto Rodrigues de Oliveira, secretário-chefe desta Casa Militar; e  deputado Ulysses Tassinari, do Partido Verde de São Paulo.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo, portanto todos façam belos sorrisos, pela TV WEB, e será transmitida pela TV Assembleia no sábado, dia 13 de setembro de 2014, às 21h20min, pela NET, canal 7, pela TV Aberta, canal 61.2, TV Vivo Digital, canal 185 e analógico, canal 66.

Neste momento, gostaria de esclarecer duas situações. Primeiro, por uma obrigação do ofício, não posso abandonar a Mesa da Presidência, porque esta Presidência tem que estar ocupada durante todo o tempo. Então, não é uma deselegância; faz parte do protocolo.

Em segundo, eu quero agradecer a todos que estão aqui, porque, hoje, estamos buscando o resgate do que é essência humana. E, neste exato momento, eu só tive a sensibilidade maior de convidar as pessoas que vêm trabalhando e lutando, durante muito tempo, para que isso aconteça. Estamos tentando desmanchar o que não é tão lógico, o que não é tão óbvio. Nós queremos, simplesmente, que a natureza volte com sua essência, com sua força, com toda a tranquilidade e dignidade de respeito ao corpo da mulher, à sua opção por ter o seu filho. Não estamos aqui para dizer o que é melhor, o que é pior. Estamos aqui para dizer que nós, mulheres, temos direito aos nossos corpos. E o direito aos nossos corpos inclui como proceder e como executar a maternidade.

Hoje é um momento especial, aonde os grandes artistas são vocês. A vocês todos, eu peço uma grande salva de palmas. (Palmas.)

Assistiremos agora ao vídeo do parto da Alice, irmã da Sarinha, ambas filhas da Katia Barga. Por favor, Katia. Alice é o bebê que está ali; a Sarinha não veio porque está na escola. A Katia fez a gentileza de ceder o vídeo de seu parto natural, o parto da Alice. Ambas são filhas da Katia, que teve e adotou a opção do parto humanizado.

 

* * *

 

- É feita a exibição do vídeo.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Parabéns, Katia, bem-vinda, Alice.

Neste momento, fará uso da palavra o Dr. Braulio Zorzella, médico-obstetra em parto humanizado.

 

O SR. BRAULIO ZORZELLA – Bom dia a todos. Quero agradecer a senhora pelo convite. É um prazer estar aqui.

Alguém me perguntou quem eu estava representando. Acredito que estou representando a classe dos obstetras. Não estou representando uma instituição especificamente. Faço parte, em Sorocaba, do Instituto Bem Gerar, que é um grupo de apoio ao parto, mas eu vim falar em nome de obstetras em geral e, principalmente, em nome das mulheres.

Um ponto-chave importante nessa luta, nessa caminhada ao parto humanizado, é a questão da inversão desse paradigma, que é colocar a mulher como centro de tudo e protagonista do seu corpo; ela ter a decisão de tudo que quer. Isso envolve as evidências científicas, envolvem a experiência do médico, mas, acima de tudo, é aquilo que a mulher quer.

Não que ela vá, simplesmente, decidir tudo, e o médico não vá ter a participação dele. Muitos colegas dizem isto: “A mulher vai decidir, e eu vou só acatar o que ela decidir?” Não. É uma decisão em conjunto. Ela expõe o que ela quer, e é papel do obstetra, papel do médico, mostrar se esse caminho é realmente interessante ou se há um caminho diferente. Chegando no final com a decisão dela em relação ao seu corpo, inclusive em relação à espera pelo parto normal. Ou mesmo, em alguns raros casos, quando a mulher é muito informada e escolhe a cesárea como primeira opção, ela tem o direito dessa escolha. Isso é muito raro acontecer quando a mulher é realmente informada, mas que a mulher tenha a decisão sobre seu próprio corpo.

Como estamos aqui também falando de política, eu acho que a política é um caminho extremamente interessante para isso que nós propomos. A política no Brasil vem enfrentando várias questões, inclusive de descrédito em muitas áreas, mas penso que a política é o caminho real para você conseguir mudanças.

Sempre estive envolvido com política nos bastidores e já fui convidado a ser candidato a deputado estadual. Não aceitei porque acho que meu tempo agora é trabalhar como obstetra. Não teria tempo agora para trabalhar com política. Por isso, vim aqui. Para incentivar, porque é muito importante a participação política. É extremamente importante que a política movimente o cenário da humanização do parto.

Existem dois pontos específicos. Um deles é a Rede Cegonha, um incentivo federal. Esse ponto tem que ser cada vez mais alavancado, cada vez mais incentivado e espalhado nas redes. Eu acho que esse é um ponto-chave.

Outro ponto-chave, falando do setor suplementar, que é a Agência Nacional da Saúde Suplementar, que ela deve cumprir seu papel e passar a cobrar das instituições do setor suplementar, que essas instituições comecem a ter índices favoráveis, índices bons, em relação ao número de partos normais e cesárea.

Quando se fala em índice de parto normal e cesárea, por trás disso vem todo um complexo, uma complexa gama de informações, de itens de qualidade em relação àquele serviço. Alguns locais falam: “Nossa, aquele hospital é ótimo, porém tem 80% de cesáreas”. Uma coisa não bate com a outra.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – É um “ótimo” relativo.

 

O SR. BRAULIO ZORZELLA – O hospital não tem como ser ótimo com 80% de cesáreas. Então, na verdade, pode ser ótimo na hotelaria, mas, nos resultados finais, nos resultados clínicos, não é ótimo. Assim, no saldo final, ele não é ótimo.

O setor suplementar é um dos grandes culpados no Brasil pelo aumento do índice de cesáreas, e a Agência Nacional de Saúde é a ferramenta que deve ser movimentada para que esse cenário comece a mudar.

Então, acho que a Agência Nacional de Saúde e a Rede Cegonha são os dois pontos-chave para a política conseguir alavancar e dar à mulher o seu papel de escolha em relação ao seu corpo.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Muito obrigada. Tem a palavra o Dr. Jorge Kuhn, médico obstetra, com quem eu trabalhei, nada mais, nada menos, do que 35 anos atrás.

 

O SR. JORGE KUHN – Você acabou denunciando sua idade. Isso é muito ruim.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – O que eu posso fazer? Ultimamente, a gente pergunta quantos anos tem a pessoa e, de imediato, também pergunta quantas plásticas ela fez? A idade, hoje em dia, é relativa. (Risos.)

 

O SR. JORGE KUHN – Bom dia a todas e a todos. É um prazer muito grande estar aqui. Eu não poderia deixar de aceitar o convite da deputada Sarah Munhoz. Como ela disse, tive o privilégio de trabalhar no Hospital Santa Cruz, em 1980, 1981, mais ou menos, e ela ainda se lembra de mim. Isso é muito interessante.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Do senhor e da sua esposa, Dra. Mema.  Atrás de um homem famoso, sempre tem uma mulher poderosa. Por favor, Dra. Mema, levante-se para que todos a conheçam. Essa é a mulher que mudou a vida dele. (Risos.)

 

O SR. JORGE KUHN – Para quem não sabe, a Mema me atura há 32 anos. Isso, realmente, é um privilégio.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Eu o conheço há 35 anos, então, eu conheço toda a história.

 

O SR. JORGE KUHN – Eu recebi o convite por meio da Casa Moara, onde eu trabalho, tenho meu consultório com mais duas colegas obstetras, no caso, minha esposa e a Andrea Campos e também uma colega obstetriz, Márcia Koiffman. Meio que de última hora, estava falando com o Ferraro no caminho para cá, o colega que iria representar o departamento de Obstetrícia da Unifesp, que não pôde comparecer e pediu para eu representar também. É um orgulho muito grande e um prazer muito grande.

Bráulio, me dizia no começo, que está vindo... Quando perguntei quem ele estava representando, disse que representava os obstetras renegados. Desculpa se eu te coloquei numa fria. Já estou com 60 anos e não tenho mais medo, não é Janine, já estou tão renegado mesmo. Para mim, não tem problema maior.

Mas quem me conhece essa... Eu não gostaria de dizer luta, deputada Sarah, porque luta significa embate; um sai perdedor, e o outro, sai ganhador. Não é uma guerra, uma guerrilha, mas é um trabalho muito difícil, realmente.

Quando a gente frequenta serviços que têm em torno de 80, 90% de operações cesarianas e você, como médico obstetra, tem em torno de 10, 15%, você se sente realmente muito renegado.

Hoje, o termo violência obstétrica está muito em voga, e eu também diria que existe a violência contra os obstetras que fazem um contraponto a esse modelo hegemônico que temos em relação às cesarianas.

Eu me sinto envergonhado, como professor universitário, em dizer que, no Hospital São Paulo, nós temos 70% de cesáreas. Que professor é esse? O que estou ensinando para meus alunos que não consigo reverter essa situação? Eu acho que campanhas são muito importantes, estes eventos também são importantes, mas o mais importante de tudo é a conscientização das mulheres.

Em nome da Kátia Barga, que conheço muito da Casa Moara – ela é doula e instrutora de yoga -, quero dizer que, realmente, está havendo uma mudança muito lenta, muito devagar, mas está havendo uma mudança em relação à questão do protagonismo do parto. Não discuto sobre a mulher que quer cesárea. Eu não faço cesáreas, por isso, não recebo esse tipo de paciente. Eu não faço cesáreas a pedido. Eu faço cesáreas quando necessário.

Tenho toda convicção que a mulher é dona do seu corpo. Ela pode optar por uma operação cesariana, desde que suficientemente esclarecida, o que ela não é suficientemente esclarecida no pré-natal. Mas acredito que está havendo, realmente, uma mudança de paradigma. Talvez eu não viva essa mudança. Quem sabe meu neto Gabriel, que, hoje, tem um ano e pouquinho, veja essa mudança de paradigma. Que possamos ter índices menos vergonhosos. Eu diria mais um pouco: menos criminosos de cesárea no nosso País.

Obrigado.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Assistiremos agora ao vídeo com o depoimento da enfermeira Ana Cris, que não pôde comparecer, mas autorizou, junto com Eduardo Chauvet, a exibição de parte do filme “O Renascimento do Parto”.

 

* * *

 

- É feita a exibição do vídeo.

 

            * * *

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Eu gostaria de agradecer ao pessoal do Som.

Ouviremos, agora, o professor doutor José Roberto Ferraro, superintendente do Hospital São Paulo.

 

O SR. JOSÉ ROBERTO FERRARO – Bom dia a todos e a todas. Gostaria de agradecer à deputada Sarah Munhoz por este convite, por esta sessão e cumprimentar os demais componentes da Mesa. Para nós, é um orgulho participar de um ato como este.

No Hospital São Paulo, o hospital universitário da Unifesp, a questão da humanização do parto, e não só do parto, mas de todo ciclo gestacional até o puerpério, enfim, ele está aceito, implantado e crescendo.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Parabéns.

 

O SR. JOSÉ ROBERTO FERRARO – Isso se demonstra nos nossos protocolos que entendemos que o processo do parto é um processo natural, fisiológico, que envolve emoções, crenças, etc. Tudo isso deve ser respeitado, mas deve ter um apoio técnico importante também.

O Hospital São Paulo é um hospital universitário. Há muitas gestantes com gestação de alto risco, com má formação. Isso talvez explique, viu Jorge, um índice um pouco maior, que não é esse que você falou, já melhorou, de cesáreas. Nós atuamos bastante junto às disciplinas, tanto da escola médica, como da escola de enfermagem, para que a indicação de cesárea seja absolutamente técnica e precisa, e não essas que estamos vendo aqui.

É um hospital onde formamos recursos humanos de diversas profissões na área da saúde. O apoio é integral ao parto humanizado. Fizemos investimentos recentes no setor de neonatologia com apoio desta Casa, do Estado e, também, com uma doação da família Safra. Fizemos um investimento no centro obstétrico e, também, estamos fazendo na unidade de obstetrícia, enfim, com a ideia e o propósito do parto humanizado e acompanhado pelos profissionais de saúde, porque temos a responsabilidade com a segurança do paciente, da parturiente e do bebê.

Então, gostaria de agradecer, em nome do Hospital São Paulo, da disciplina de obstetrícia, tanto a médica como a de enfermagem, e de todos os outros profissionais.

Muito obrigado pelo convite, e sucesso. Obrigado.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Obrigada, professor. Tem a palavra a Dra. Rosemeire Sartori de Albuquerque, enfermeira obstetra, membro da Comissão de Educação, Serviços e Legislação na Associação Brasileira de Enfermeiros Obstetras de São Paulo – Abenfo-SP.

 

A SRA. ROSEMEIRE SARTORI DE ALBUQUERQUE – Bom dia a todos os presentes. Quero agradecer a oportunidade de estar aqui representando a Abenfo, a nova diretoria, que toma posse em novembro, eu como presidente e a professora Cristina Gabrielloni, aqui presente, como vice-presidente.

Pela manhã, fui comunicada que o professor Dr. Corintio Mariani Neto não poderia estar presente, por um problema de voo, ele não conseguiria estar aqui. Assim, também represento o Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros.

É muito bom estar aqui. Primeiro, logo que cheguei, encontrei ex-alunos e docentes – inclusive, a professora Janine e a professora Márcia Barbieri, com quem pude aprender a ser enfermeira obstetra.

Tenho certeza da minha excelente formação, mas eu tive que fazer um resgate à assistência obstétrica. E hoje, eu só posso estar em um curso de obstetrícia formando obstetrizes e ajudando na formação de enfermeiras obstetras, porque eu me permiti reaprender assistência obstétrica. Não que eu não tenha sido uma boa enfermeira obstetra, mas são momentos diferentes.

Então, hoje, o repensar a episio, repensar a ocitocina, repensar a assistência tão intervencionista que nós fazíamos; nós só nos convencemos quando fazemos e vemos que dá certo. Vejo que têm algumas coisas muito sérias acontecendo que preocupam. E proponho a Abenfo estar muito à frente desse movimento, que é a formação destes profissionais novos. Se não houver docentes confiantes nesse novo paradigma da assistência obstétrica, nada vai acontecer. Se não tivermos gestores com competência para levantar a bandeira e, de fato, fazer acontecer nos serviços, nada vai acontecer.

Por outro lado, esclarecer verdadeiramente as mulheres. Quando falo “verdadeiramente”, é explicar à mulher o processo de parturição, e não só convencê-la do parto normal ou cesariana. Ela tem de ser verdadeiramente orientada, porque, assim, quando houver uma complicação e que tenha... Ainda bem que tem a cesariana, porque, quando necessária, salva vidas, tanto da mulher, como do bebê. Mas ela tem que saber, tem que ser orientada.

E eu me preocupo com o movimento da desinformação, também, e nós temos de falar sobre isso. Então, é muito sério, as maternidades estão fechando, o serviço público, superlotado, os residentes médicos formados por modelos ainda convencionais, outros profissionais nesse cenário, quase brigando, implorando para não fazer uma episio, para não fazer uma ocitocina. Somos quase obrigados no contexto do dia a dia. Tudo isso tem de ser discutido para melhorar a assistência obstétrica.

E eu podia resumir tudo isso, eu vejo que nunca a obstetrícia esteve tão em voga no sentido de que, nós termos que ter competência técnica para atender essas mulheres com dignidade e respeito. Mas nós temos de ter a tranquilidade. A tranquilidade para colocar a mulher no hospital, interná-la no momento certo, e não precocemente, porque favorece às intervenções. Ter a tranquilidade de que podemos posicioná-la em outras situações que seja confortável para ela. A tranquilidade de que, quando eu tiver que ligar uma ocitocina, se necessário, mas ligar com tranquilidade, com respeito, com propedêutica, com protocolo. A tranquilidade de que eu protejo esse períneo, avalio esse períneo, mas permito o nascimento desse bebê da forma mais natural possível, e a tranquilidade de deixar esse bebê com quem é de direito, que é a sua mãe. Até isso a gente é capaz de fazer, separar o bebê da mãe nesse momento tão importante.

Então, a palavra-chave, para mim, é tranquilidade.

Obrigada, viu, Sarah?

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Estão presentes  duas enfermeiras que me ensinaram a importância, e que deram, há 30 anos, a possibilidade de saber o quão importante é esta sessão de hoje.

E eu gostaria que levantassem, para que nós a saudássemos, a professora Márcia Barbieri e a professora Cristina Gabrielloni. (Palmas.).  

Obrigada, vocês são demais. (Risos.).

Tem a palavra o Dr. Adalberto Kiochi Aguemi, representando o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Sr. José de Filippi Júnior.

 

O SR. ADALBERTO KIOCHI AGUEMI – Bom dia a todos e todas, à deputada Sarah Munhoz. Cumprimento a todos os presentes na Mesa e demais colegas.

Venho representar o secretário municipal de Saúde de São Paulo, José de Filippi Júnior, e relatar, assim, a gratidão e o reconhecimento deste evento. Realmente, historicamente, o movimento em prol da humanização do nascimento tem ocorrido, de forma articulada e organizada, em todas as esferas, e dá um salto de qualidade muito grande em termos de organização do serviço.

Particularmente, no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, o facilitador pela estratégia nacional, que é a Rede Cegonha, observamos que isso dá um substrato institucional forte para que os vários serviços, na esfera estadual como na municipal, possam se fortalecer e avançar ainda mais com relação a essa estratégia de mudança de paradigmas.

Então, entendemos que o modelo antigo, que conceituo como industrializado e medicalizado, tem interesses. Por conta disso, há necessidade de uma organização muito grande por parte de todos os movimentos, de todos os setores, academias, movimentos organizados de mulheres, Parlamento, para que possamos inverter esse tipo de lógica.

Na Secretaria Municipal de Saúde, temos priorizado, fortemente, a construção de centros de partos normais. Nesse sentido, entendemos que, como a mulher deve ser a protagonista do nascimento, nada melhor do que inserir a enfermeira obstetriz, ou a obstetriz, nesse acompanhamento e deixar para que o médico obstetra – eu sou médico obstetra – fique nos casos de alto risco, os partos complicados.

Na nossa concepção – que segue as diretrizes da Rede Cegonha -, entendemos que é uma estratégia bem interessante no sentido de resgatar o nascimento e colocar a mulher como protagonista desse processo, assim como sua família.

Muito obrigado.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Fará uso da palavra agora, a Dra. Isabel Cristina Esposito Sorpreso, representando o Secretário de Estado de Saúde, Dr. David Uip.

 

A SRA. ISABEL CRISTINA ESPOSITO SORPRESO – Bom dia a todos e a todas. Eu parabenizo a deputada Sarah Munhoz pela iniciativa.

Vou colocar alguns aspectos, não só como Estado, mas como médica ginecologista obstetra e docente da Faculdade de Medicina, na disciplina de ginecologia. Alguns aspectos ditos aqui, que eu acho fundamentais para que todas essas mudanças realmente sejam concretizadas.

Inicialmente, a Kátia colocou uma coisa importante, que é a preparação que ela teve durante os nove meses. Tenho que lembrar a importância do pré-natal e a importância do vínculo da gestante, a maternidade aonde ela vai ter o parto.

A segunda coisa foi colocada pelo colega sobre a importância da vinculação das diferentes redes em uma rede só. Sem dúvida nenhuma, o Estado apoiou a Rede Cegonha com a implantação de mais de 85% das Regionais de Saúde. É fundamental um alinhamento entre as redes e as linhas de cuidados já existentes em cada território. Obviamente, aqui no estado de São Paulo, já tínhamos a Linha de Cuidados da Gestante e Puérpera, mas apoiamos a Rede Cegonha por ser um plano nacional. É fundamental termos esse alinhamento, essa integração.

Uma outra coisa que julgo importante é a coparticipação, seja do usuário ou dos profissionais de Saúde. Tudo isso é fundamental, e não acredito em nada disso, senão por meio da integração dos níveis de Saúde primário, secundário e terciário. Sem dúvida nenhuma também da importância do trabalho multiprofissional, que tem de ser incentivado, apoiado e unânime.

Quero fazer um comentário em relação ao que a colega colocou sobre a competência de gestão. Não basta ser apenas competência de gestão. Quando temos uma questão tão importante como esta, eu diria que é preciso mais. Como gestão, temos de ter apoio de sociedades, de federações, de entidades políticas. Eu diria que, quando uma ideia é unânime, tem de ser um dever civil de todos.

Muito obrigada, mais uma vez. Parabéns a todos os profissionais que estão há tantos anos nesta luta, como a professora Rossana Pulcineli, docente da Faculdade de Medicina da USP, aqui presente, e tantos outros que estão nesta luta há muito mais tempo. Sem dúvida, todos têm o apoio da Secretaria do Estado e da área técnica da Saúde da Mulher.

Muito obrigada.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Com a palavra, a Dra. Janine Schirmer, enfermeira obstetra, professora titular da Escola Paulista de Enfermagem, pró-reitora de administração da Unifesp, pessoa pela qual tenho extremo respeito. Além disso, tenho um grande carinho, porque é uma pessoa verdadeira que sempre levantou essa bandeira. Parabéns, Dra. Janine.

 

A SRA. JANINE SCHIRMER – Obrigada deputada Sarah Munhoz, querida amiga, colega. Parabéns por esta iniciativa.

Estava pensando... O Jorge disse que está casado com a Mema há algum tempo. De alguma forma, eu e o Jorge nos encontramos 30 anos atrás em uma escola de formação de enfermeiras obstetras e médicos obstetras – Escola Paulista de Medicina, Escola Paulista de Enfermagem, hoje Universidade Federal de São Paulo, onde tenho a grande honra de ser professora. Fui também orientadora e professora da Rosimeire, aqui presente. Compartilhei o trabalho e a formação com a Márcia, a Cristina e muitas amigas que estão aqui, muitas alunas.

Eu estava pensando nos colegas que estão aqui na gestão. Tenho a honra de estar neste lugar de elaboração de política, por todo um percurso que ainda vou falar. Estava lembrando, Sarah, que eu sou de uma cidade muito pequena do Rio Grande do Sul, com 15 mil habitantes, Sobradinho. Minha mãe teve uma primeira cesárea no hospital da cidade, nos idos de 1955. Em 1957, eu nasci em casa de parto normal, por um médico da cidade, um médico de cidade do interior. Todo mundo que tem a minha idade deve saber o que é nascer no interior e o que significava, há 57 anos, a relação entre um médico, ou uma estrutura de Saúde de uma cidade, com a sociedade, com as famílias. Era uma outra lógica, uma outra cultura.

Nesses meus 30 anos de obstetrícia, pude assistir hoje a várias exposições interessantes, falas maravilhosas. Você tem razão, Isabel, ninguém aqui partilha de uma ideia diferente. Somos todos absolutamente unânimes sobre a necessidade de resgatar o humano em nós, em uma forma de assistir que possibilite o protagonismo das mulheres; que os gestores tenham, junto com os profissionais de Saúde e as universidades, um compromisso ético e político de uma outra forma de ensinar as pessoas, de cuidar das pessoas.

Entendo que isso é uma situação multifatorial. É muito difícil pensar como resgatamos a forma de cuidar dos outros de forma digna. Rose, você tem toda razão, a tecnologia é fantástica, precisa existir, ela salva vidas, tem de ser bem indicada. Mas temos de ter profissionais com capacidade de raciocínio clínico para tomar as melhores decisões em um cenário de prática com toda infraestrutura em um meio ambiente, como diz o Ferraro, com uma hotelaria e estrutura dignas de receber a população.

Que possamos, sim, até dar à luz em casa em condição de absoluta segurança, como vivenciei no Japão há sete anos, quando estive lá. No Ministério da Saúde, fizemos um convênio com a Jica, Agência Japonesa de Colaboração, e levamos 60 enfermeiras-obstetras para conhecer a lógica do nascimento no Japão, as casas de parto. Esse nome tem uma emblemática mística, que também precisa ser desfeita. Ela não é tão simples assim. Ela não pode incorrer em risco para as mulheres. É uma outra lógica. Não é qualquer pessoa que pode atender a um parto em casa.

Eu nasci em casa em 1957 pelas mãos de um médico, mas não posso incorrer em riscos. Não é também por trazer as mulheres para uma maternidade que as coloco em uma situação de segurança, caso contrário, não teríamos a mortalidade materna que temos neste país: 99% das mulheres parem nas maternidades pelas mãos das enfermeiras, das enfermeiras obstetras, dos médicos, dos médicos obstetras ou por alguém que tenha responsabilidade técnica de responder por aquela assistência.

Olhando para iniciativas de governo que começaram na década de 30 com o objetivo de dar um outro olhar para a atenção ao nascimento no Brasil, temos tido mais de 12 políticas públicas que tentam pensar em um jeito diferente de resgatar a atenção ao parto, reduzir a morbidade, a mortalidade, fazer com que tenhamos crianças saudáveis, cidadãos dignos dos seus direitos. Entretanto, não temos sido felizes.

São inúmeros os governos que propõem medidas, e essas medidas não chegam aonde devem chegar. Posso dizer que, de certa forma, tive participação em um movimento, em 1998, no Ministério da Saúde, quando começamos a discutir a palavra que hoje está tão batida: “humanização do parto”. Foi muito emblemático quando colocamos em um manual: “Humanização do Nascimento e do Parto”.

Essas duas palavras não faziam parte dos escritos científicos das formações dos profissionais e políticas públicas. Isso trouxe um incômodo, um repensar, uma reflexão do que vínhamos fazendo e ensinando nas universidades, nas escolas médicas, nas escolas de enfermagem.

Como a gestão tem se comportado em relação a isso? Alguém aqui falou da necessidade imperiosa da gestão de tomar medida para que se faça algo diferente do que vem sendo feito. Quando cunhamos o programa de Humanização do Parto e Nascimento e uma série de outras ações, era um grupo muito especial de pessoas, como a Tânia Lago, Suzanne Serruya, Nelson Cardoso. Éramos todos obstetras. A Tânia é uma sanitarista que todos conhecem em São Paulo; já esteve na gestão em muitos momentos.

Vínhamos exatamente daquilo que alguns de nós aqui sabemos: a peregrinação das mulheres para ter o direito de nascer nas cidades brasileiras. Parece-me que ela voltou, porque as maternidades privadas não querem mais atender ao parto, porque o parto não dá lucro. Há 15 anos, já imaginávamos que isso iria acontecer, porque a taxa de fertilidade caiu e, na cidade de São Paulo e em alguns lugares, não tem o menor sentido abrir uma maternidade para ganhar dinheiro, porque ela deixou de ser importante para o mercado.

Esta é uma discussão que tem de ser posta: onde se investe? Investe-se onde dá dinheiro. Saúde não pode dar dinheiro. Saúde tem de cuidar das pessoas. Essa é a primeira regra que tem de mudar. Eu não posso fazer obstetrícia para ficar rico. Nós fazemos, sim, uma série de situações – não é, Jorge? -, um parto diferenciado, um cuidado diferenciado, mas a saúde não pode ser vista dessa forma. E não é apenas em obstetrícia, mas em todas as áreas da formação.

Ninguém pode pensar em ficar rico fazendo saúde, simplesmente por ganhar dinheiro. Isso é uma lógica do mercado que nós, nas universidades – têm várias colegas professoras aqui presentes -, temos refletido bastante. Quando você vai fazer medicina, enfermagem, para ganhar dinheiro, não é uma boa lógica. Essa é a pior ética que se pode ter. É preciso desconstruir esse modelo.

São tantas as possibilidades de questões que posso levantar aqui, como o privilégio de ter passado na gestão do governo federal, depois, ter feito um caminho... Eu venho de uma escola importante, em que sempre fizemos a humanização. Não tinha esse nome, mas tivemos que cunhar esse nome. Esse nome foi importante.

Estivemos juntas, há poucos dias, eu e a Rosana, na Sugesp. A Sugesp teve a coragem - a Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo, ligada à Febrasgo, Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia – de discutir um tema importante: onde termina a assistência e começa a violência.

Fico incomodada em usar a palavra “violência”. Não gosto dessa palavra. Penso que ela não está posta dessa forma. Acontecem situações, sim, de violência, que precisam ser denunciadas como sociedade civil que somos, independentemente de sermos médicos, enfermeiros, arquitetos, engenheiros, administradores, freiras. Está aqui, na minha frente, nossa querida irmã Maria, da Santa Marcelina, que tem um trabalho maravilhoso.

Penso que essa é uma discussão que precisa ser repensada. Usar a palavra “violência obstétrica”... É muito duro termos chegado a esse ponto. Penso que este é o momento de repensar as instituições formadoras aqui nesta Casa. Esta Casa tem um compromisso muito importante de rever o que nós fazemos, o que o dinheiro público paga. O dinheiro público é que paga as assistências nas maternidades públicas e, de certa forma, também nas privadas.

Temos um compromisso como gestor, como política de Saúde. Imagino que, chegar ao ponto de começarmos a discutir a violência, é muito triste, é muito ruim. Não é dessa forma que também vamos construir. Penso que a Katia dá um exemplo maravilhoso. O que você apresentou para nós, Katia, também é um caminho. Mas a Casa Moara é uma coisa, a clínica Moara é uma coisa ... Porém, defendermos por si só o retorno do parto para o domicílio sem a segurança, sem a qualificação, sem o comprometimento e envolvimento da família, é muito complicado. Nem tanto ao céu, nem tanto a terra. Precisamos ter o equilíbrio de encontrar caminhos que possam ser possíveis.

O que eu vi no Japão não é factível neste nosso País, sem uma forma de se aplicar, sem um cuidado, sem o envolvimento das pessoas. Por outro lado, as maternidades não podem continuar fazendo o que fazem de forma também, às vezes, desassistida no sentido de infraestrutura, de recursos humanos. Não dá para fazer uma obstetrícia diferente sem enfermeiras, sem médicos obstetras, com pessoas mal pagas, sem infraestrutura, sem tecnologia à disposição.

Mudar a sala de parto para um PPP, que é importantíssimo, com outro cenário, envolve recursos. Ninguém gosta de colocar a mulher naquela mesa, onde aprendemos a fazer obstetrícia. Foi assim que eu aprendi. Foi assim que eu ensinei a você, não foi, Rose? Foi assim que aprendi com a professora Márcia. Essa era a tecnologia que havia. Podemos repensá-la, fazer diferente e não ser desumanos, mesmo na mesa ginecológica, que nos parece tão assustadora? Talvez. Penso que essa é uma discussão importante, mas não vai ser por mudar a mesa ginecológica em si, na assistência, que vou dar uma garantia de segurança das melhores evidências das pessoas mais qualificadas.

Tenho um percurso de ter... Talvez a palavra – Jorge tem razão – “luta” dê a impressão de que estamos uns contra os outros. Nós não estamos uns contra os outros. Estamos todos no mesmo lugar, querendo devolver às mulheres o direito de pensar a sua assistência, seu parto, de forma dialogada. Que possamos, como profissionais, orientá-la sobre a melhor indicação para ela naquele momento, sem que corra risco, assim como seu bebê e sua família.

Essa é a grande meta que temos de ter na cabeça: formar pessoas que possam ter a capacidade de, pelo menos, refletir e ter o compromisso ético de fazer o melhor pelos nossos doentes, pelos nossos pacientes, pelas nossas mulheres. Caso contrário, vamos continuar uma Saúde muito ruim, porque ela está implicitamente relacionada com quem eu formo. Quem eu formo tem que ter, sim, o compromisso político de exigir desta Casa, do gestor, de quem está à frente das políticas, o investimento necessário para que façamos o melhor, para que a rede funcione. Temos, sim, que ter a formação, para que possamos denunciar, para saber que estamos ali também como atores, não só para ser a enfermeira obstetra, a obstetriz, ou o médico obstetra, ou o médico. Não é assim.

Quando estou em uma maternidade, sou um ente social e tenho que fazer aquilo mudar. Se aquilo está me colocando em risco como profissional, tenho que denunciar, tenho que ir atrás do gestor responsável para encontrarmos caminhos. É fácil mudar do dia para a noite? Não é. A Isabel sabe, o Alberto sabe o quanto é difícil fazer gestão. O Ferraro e eu sabemos – estamos no mesmo lado agora fazendo gestão – o quanto é difícil. É muito difícil fazer com que as coisas cheguem ao ponto de conseguirmos fazer compras otimizadas, de dar o melhor. Tudo é muito difícil.

Temos um País muito jovem que não pode ser comparado a um Japão, a uma Europa, que têm uma política e uma cultura com 500 anos a nossa frente. Sempre brinco que o Brasil teve sua primeira biblioteca há cerca de duzentos e poucos anos. Um país que teve sua primeira biblioteca há 200 anos, não pode ter a cultura e a cidadania de um povo europeu, de um povo japonês. Nós temos uma outra história, estamos apenas construindo nossa história.

Estamos neste momento político das eleições em que podemos refletir e votar com muita consciência. São estes os momentos políticos que temos pela frente.

Agradeço demais, Sarah, pelo convite. É uma honra estar aqui com vocês, ter dividido a Mesa com os colegas e ter ouvido meus queridos amigos falarem, em uníssono, do quanto queremos que as mulheres sejam protagonistas, com segurança, com qualidade. Que isso seja uma meta de todos, não uma luta, e nos dê coragem para continuar formando pessoas de maneira diferente, lutando pelos seus direitos, e nos engajando em todas as políticas públicas que possam ser favoráveis à população brasileira.

Muito obrigada.

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Neste momento, convidamos, para receber um diploma em homenagem às instituições que realizam o parto humanizado ou incentivam ações para que o parto seja humanizado, os seus representantes.

Com a palavra, a Mestre de Cerimônias.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – A primeira instituição a ser homenageada é a Casa Angela.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Grupo de Apoio à Maternidade Ativa – Gama.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Casa Moara.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Commadre.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Casa da Borboleta.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Grupo Samaúma.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Arte de Nascer.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Despertar do Parto.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Caza da Vila.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Matrice.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Rodamor de Mães.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Parto do Princípio.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Amigas do Parto.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Maternamente.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Nascer Naturalmente.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Maternativa.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Espaço Dar à Luz.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Grupo Vínculo.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Roda Bebedubem.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Gestantevita.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Mami Butantã.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Ishtar Espaço para Gestantes.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Madreser – Orientação, Apoio e Cuidado Materno.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Roda de Mães de Ubatuba.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Marília Largura.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Casa do Parto de Sapopemba.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Geral Vila Nova Cachoeirinha.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Israelita Albert Einstein.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Estadual de Sapopemba.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital e Maternidade Santa Maria Cruz Azul.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Santa Marcelina.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Amparo Maternal.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Maternidade Interlagos.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Municipal do Campo Limpo.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Municipal M’Boi Mirim.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Nipo-Brasileiro.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Santa Catarina.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Unimed Santa Helena.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Pedreira.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital São Paulo.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Universitário da USP.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Sepaco.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Hospital Geral de Itapecerica da Serra.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Unifesp – Universidade Federal de São Paulo.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – A última instituição a ser homenageada é a Bem Gerar Maternidade e Desenvolvimento.

 

* * *

 

- É feita a entrega do diploma.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Mais duas instituições a serem homenageadas: Artemis e Parto Sem Medo.

 

* * *

 

- É feita a entrega dos diplomas.

 

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Com a palavra, a deputada Sarah Munhoz, para o encerramento da presente sessão.

 

 

A SRA. PRESIDENTE – SARAH MUNHOZ - PCdoB – Foram muitas emoções.

Esgotado o objeto da presente sessão, a Presidência agradece às autoridades, aos funcionários da Casa, aos professores, aos representantes das unidades e a todos que com as suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Esta Presidência convida os presentes para um coffee break no Salão dos Espelhos.

Esta sessão está cheia de emoção.

Está encerrada a sessão.

 

* * *

 

- Encerra-se a sessão às 12 horas e 12 minutos.

 

* * *