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24 DE NOVEMBRO DE 2014

049ª SESSÃO SOLENE EM “HOMENAGEM IN MEMORIAN O EX-MINISTRO E EX-DEPUTADO FEDERAL LUIZ GUSHIKEN”

 

Presidente: ADRIANO DIOGO

 

RESUMO

 

1 - ADRIANO DIOGO

Assume a Presidência e abre a sessão. Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene, a requerimento do deputado Adriano Diogo, com a finalidade de "Homenagear In Memorian o Ex-Ministro e Ex-Deputado Federal Luiz Gushiken". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Anuncia a apresentação de vídeo com entrevista concedida por Luiz Gushiken ao cineasta Flávio Azm Rassekh.

 

2 - GUILHERME GUSHIKEN

Faz agradecimentos gerais. Saúda a presença da comunidade de Okinawa, em Plenário. Lembra a fé Bahá'í do Brasil, pela proximidade e apoio a Luiz Gushiken, principalmente nos momentos mais difíceis de sua vida.

 

3 - WASHINGTON ARAÚJO

Saúda os presentes. Faz agradecimentos gerais. Versa sobre virtudes de Luiz Gushiken e sua atuação em favor da democracia e da justiça no País. Afirma que o homenageado conduziu-se, politicamente, no sentido de reduzir as desigualdades sociais. Enaltece a personalidade sonhadora do ex-ministro. Relembra fatos que vivenciara com Luiz Gushiken.

 

4 - LUIZ AZEVEDO

Ex-Deputado estadual, saúda os presentes. Transmite cumprimentos do ministro Ricardo Berzoini à família de Luiz Gushiken. Menciona condutas do ex-deputado federal, em estímulo ao diálogo com categorias patronais que inviabilizavam greves de trabalhadores. Afirma que o homenageado sonhava com a unidade mundial, que tivesse na paz seu pilar de sustentação. Relembra movimento contra o monopólio dos meios de comunicação. Acrescenta que Luiz Gushiken adotou medidas para constituir os fundos de pensão como fonte de investimento de longo prazo. Aduz que o homenageado pugnava por profunda renovação no PT.

 

5 - AUGUSTO CAMPOS

Afirma que não imaginava que o movimento sindical de outrora geraria líderes como Luiz Gushiken, em razão do cenário ditatorial da década de 1970. Comemora o nascimento da CUT. Tece comentários acerca da relação conflituosa entre os movimentos sindicais e a ditadura. Faz narrativa histórica sobre a ideologia de esquerda implementada pelo PT.

 

6 - LUCAS BUZATO

Ex-Deputado estadual, saúda os presentes. Faz reflexão histórica sobre o Sindicato dos Bancários. Lembra marcha de planfletagem. Afirma ter acompanhado Luiz Gushiken em primeira conversa com Lula, em São Bernardo do Campo. Rememora a criação do Sindicato dos Metalúrgicos e do Sindicato dos Metroviários.

 

7 - RENATO SIMÕES

Deputado federal, ressalta a importância de Luiz Gushiken na constituição da CUT. Diz sentir profunda gratidão. Aduz que o homenageado simbolizava a confiança depositada no PT. Enaltece a generosidade de Luiz Gushiken.

 

8 - ADEMAR MORINAGA

Saúda os presentes. Afirma ser conterrâneo e amigo de infância de Luiz Gushiken. Narra histórias vividas na cidade de Osvaldo Cruz.

 

9 - SÍLVIO ARAGUSUKU

Afirma ter conhecido Luiz Gushiken quando a autoridade era presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Ressalta que o homenageado defendia debates em torno de um assunto, até o alcance do que denominava "consenso progressivo".

 

10 - FLÁVIO AZM RASSEKH

Cineasta, defende o legado deixado por Luiz Gushiken. Qualifica o ex-ministro como um homem visionário. Menciona a criação de uma federação de países, desejo do homenageado.

 

11 - ANTONIO MENTOR

Deputado estadual, saúda os presentes, parabeniza o deputado Adriano Diogo pela iniciativa em propor esta solenidade. Rememora a fundação do PT e a capacidade de Luiz Gushiken em formular propostas para o desenvolvimento do partido. Reporta-se à constituição de novo modelo de governo, implementado pelo PT.

 

12 - ROGÉRIO SOTTILI

Secretário Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, saúda os presentes. Parabeniza o deputado Adriano Diogo por reconhecer a luta de militantes que visam o bem comum. Tece considerações acerca da fundação do PT e da CUT. Dá importância a conquistas e à construção de um governo democrático, a partir de 2002. Afirma sentir profunda admiração pelo homenageado, sobremaneira pela sua capacidade de ouvir. Discorre sobre momentos vivenciados com Luiz Gushiken.

 

13 - ELIZABETH GUSHIKEN

Tece agradecimentos gerais pela homenagem prestada ao seu ex-marido.

 

14 - PRESIDENTE ADRIANO DIOGO

Faz comentários sobre a solenidade e a relevância da cultura japonesa. Lembra Hiroshima, Nagasaki e o massacre de Okinawa. Exibe imagens sobre a destruição da referida ilha. Acrescenta que Luiz Gushiken valorizou profundamente a cultura japonesa. Sintetiza a cerimônia na frase "Luiz Gushiken, quanta falta você faz".Tece agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Adriano Diogo.

 

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O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Com a presença de vários deputados e dos familiares de Luiz Gushiken e de seus amigos, estamos iniciando esta sessão solene em homenagem a um personagem da humanidade, a um ser humano da humanidade, que contribuiu para a vida do nosso país.

Espero que nessa singela homenagem possamos traduzir e agradecer um pouco do que esse grande ser humano fez pela nossa terra e pelo povo brasileiro.

Vamos fazer uma cerimônia curta e singela.

Inicialmente vamos apresentar um vídeo de 12 minutos, uma retrospectiva da vida de Luiz Gushiken; em seguida, em nome de seus amigos, faremos o convite para que, da tribuna, façam depoimento.

Seu filho vai fazer uma apresentação com aquele entusiasmo. Reparem bem, são poucos os filhos que têm o entusiasmo que o filho desse ser humano tem. Isso é uma coisa muito importante.

Depois seus amigos deputados, que vieram de longe, outros vieram de Brasília, fizeram questão de comparecerem. O deputado Rui Falcão, presidente nacional do PT, está envidando esforços para aqui comparecer para, em nome do PT, fazer este agradecimento.

Então, peço para que todos, em pé, ouçamos o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

- É reproduzido o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Bom, em seguida nós vamos apresentar esse vídeo editado pelo Mário Jun Okuhara sobre a vida e o gosto musical, as aspirações e as imagens de Luiz Gushiken.

 

* * *

 

- É feita a exibição de vídeo. (Palmas.)

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Convido o Guilherme para fazer o uso da palavra.

 

O SR. GUILHERME GUSHIKEN - Boa noite a todos. Eu queria primeiro agradecer enormemente ao deputado Adriano Diogo, que criou e incentivou esta homenagem de hoje e dizer, Adriano, que para a gente é um orgulho, uma honra muito grande poder receber esta homenagem.

Não é qualquer pessoa que consegue ser e pode ser homenageado aqui na Assembleia Legislativa e para nós da família Gushiken ter o nome do Gushiken, ter o vídeo dele, ter a história dele passada e transmitida aqui é uma alegria, é uma honra e é o que nos motiva, o que nos dá força para seguir e continuar a vida, e o que nos mantém sabendo do exemplo que a gente teve e aonde a gente quer chegar.

Queria agradecer também, a presença da Comunidade Okinawana, que veio aqui através dos seus representantes e o Dr. Shinji que veio aqui e, em nome dele, eu agradeço a todos os demais presentes.

Para o Gushiken, para o meu pai, era muito importante manter a cultura, manter a tradição japonesa okinawana. E eu me lembro, Sr. Shinji, alguns anos atrás, quando o senhor foi à nossa casa, lá em Indaiatuba, a pedido do Gushiken, e ele chamou toda a família, todos os sobrinhos, todos os familiares, principalmente os mais jovens, convocou-os e disse que eles tinham que saber como era a cultura japonesa, como era a cultura okinawana, que isso não podia ser perdido com o tempo.

Então, em nome do Sr. Shinji, eu agradeço a todos os demais membros da Comunidade Okinawana que vieram prestigiar nessa noite. Agradeço também à Comunidade Bahá’í que o Gushiken nutria um carinho e um amor e uma reverência muito grande por todos os membros da Comunidade Bahá’í.

Ele disse no vídeo, eu acho que não preciso tecer mais palavras sobre isso, mas eu sei que a comunidade sempre esteve muito presente, sempre acompanhou e sempre esteve muito próximo dele, principalmente nos momentos difíceis, e é por isso que eu agradeço muito também todos vocês que estão aqui hoje e aqueles também, que não puderam vir, e a minha família fica muito grata a todo acolhimento e ao calor e ao carinho que vocês sempre nos deram.

Eu queria também, aos amigos, aos familiares, a todos aqueles que puderam vir aqui hoje para a gente, é um momento de muita alegria. Faz um ano e alguns meses que meu pai faleceu, mas eu não acho que a gente tem que ficar chorando ou se lamuriando. Eu acho que o momento, eu acho que a história do Gushiken é uma história bonita e é uma história que tem que ser comemorada, é uma história que tem que ser homenageada constantemente porque, pelo menos para mim é um orgulho, é um exemplo e é nisso o que eu me espelho em todos os passos da minha vida.

Onde eu quero chegar eu olho para ele e sei que ele está presente, sei que ele deixou um exemplo muito grande para mim e para os meus irmãos.

Então, eu agradeço mais uma vez a presença de vocês e fico muito contente com esta homenagem.

Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Um amigo do Gushiken, Washington Araújo, da Comunidade Bahá’í, na tribuna.

 

O SR. WASHINGTON ARAÚJO - Boa noite a todos. Especial agradecimento ao deputado Adriano Diogo, propositor dessa solenidade. Uma gratidão de coração e de alma à nobre e querida família Gushiken, aqui bem representada por sua esposa Beth, sua companheira de todos os dias, todos os anos e todas as horas.

Pelo seu primogênito Guilherme. Deixando também um grande abraço ao Artur, que está no exterior estudando; e à sua caçula a linda Helena.

Agradeço também a alegria de poder ver rostos queridos da Comunidade de Okinawa e de ter travado amizade com cada um de vocês, em sua Associação, nos últimos meses aqui em São Paulo.

Falar sobre o Luiz Gushiken é uma tarefa muito fácil e ao mesmo tempo muito difícil. É muito fácil porque Gushiken era sempre muito franco, muito alegre. Sempre tinha um senso de humor inabalável, era uma pessoa que elevava a gente pela franqueza, pelo bom humor e pelo senso de justiça. E é muito difícil porque nós não compreendemos a grandeza de uma alma nobre quando estamos muito próximos dela.

O Gushiken trazia em suas veias o sangue dos nobres samurais dos séculos XVI, XVII e XVIII. Ele lutou em sua vida todos os combates, onde uma ou outra vez se quis apagar a chama flamejante da justiça. Ele foi um samurai da justiça.

Ainda muito jovem se insurgiu contra o peleguismo no Movimento Sindical Brasileiro, um movimento asfixiado pelo regime militar, que naquele momento havia castrado toda a inteligência e toda a intelectualidade brasileira.

Ele se insurgiu contra a forma como os trabalhadores eram tratados, porque o Gushiken era incapaz de ver uma injustiça sendo cometida e não levantar o braço firme, um punho forte e uma voz vibrante, eloquente em favor da justiça.

O Gushiken lutou com unhas e dentes por um novo país, mas não um país qualquer, um país com fronteiras, um país com classes bem delineadas. Um país onde fica em um lado os pobres e miseráveis, mendigos eternos da esperança e um país onde ficam os ricos opulentos e abastados, senhores que são dos destinos da riqueza nacional.

Gushiken levantou a sua voz contra isso, que ele chamava de a maior calamidade que infelicitava o corpo da Nação brasileira, a desigualdade social, a distinção entre os que nasceram para vingarem e serem felizes e completos, serem bem sucedidos e aqueles que se não foram abortados no nascimento seriam abortados ao longo da vida.

Mas há um Gushiken que poucos perceberam, como um sopro de ar puro em um ambiente há muito fechado, que simbolizou uma lufada de ar puro. É o Gushiken pensador.

Gushiken esteve muitos e muitos séculos à nossa frente, era como uma pessoa que ansiava para criar as condições de estabelecermos uma sociedade pautada na liberdade, na justiça e no amor.

Gushiken entendia, desde muito jovem, que só existe três causas que faz o homem lutar. É a causa do amor, da liberdade e da justiça. E ele lutou com unhas e dentes, durante todo o tempo de sua vida a favor de uma dessas três causas e, em alguns momentos, lutou pelas três causas ao mesmo tempo.

Lembro-me como se fosse hoje. Eu conheci Gushiken em 1989, portanto há pouco mais de 10 anos, não é? Aquele período foi um período muito marcante de grandes revoluções no pensamento do trabalhismo brasileiro. Eu trabalhava no Banco do Nordeste, também bancário a origem dele, no Rio de Janeiro e ele aqui em São Paulo.

Eu já tinha ouvido falar de um chinês que estava tocando fogo no Movimento Sindical; nunca pude imaginar que em algum momento eu iria não apenas conhecê-lo, como privar de sua amizade e admirá-lo.

Depois que ele foi designado ministro, confesso que a primeira vez que ele me convidou em seu gabinete o que mais me chamou a atenção era que tinha um livro muito precioso logo atrás de sua cadeira toda imponente, como deve ser a cadeira dos ministros de Estado. E ele tinha colocado à vista dos seus olhos, olhando para a esquerda. Esse era o sacratíssimo livro, o “Kitáb-i-Aqdas”.

Ele olhou para mim, sorriu e disse: “Tom, agora não apenas o meu gabinete está protegido, como toda essa Esplanada dos Ministérios, porque cada bloco é protegido com a presença do “Kitáb-i-Aqdas””. E aquilo me desarmou, me deixou bastante pensativo em ver que muitas vezes as vaidades humanas que nós julgamos ser as mais importantes, na realidade elas são como folhas balançando ao vento. As vaidades humanas são como quimeras, são como chamas que, a um sopro maior de sinceridade, de alma, são apagadas.

Passado algum tempo ele me liga: “Tom, eu gostaria que você fizesse uma compilação sobre humildade”. Eu fiquei pensando, ministro de Estado combina com qualquer coisa menos com humildade, porque eles se acham, afinal de contas, representantes do governo eleito.

E eu lhe perguntei “Você quer sobre humildade, Gushiken? Me fale mais do foco que você quer dessa pesquisa”. E ele disse: “É que a Beth tem dito que ultimamente eu não estou muito humilde, que eu devo ser mais paciente, mais humilde com as pessoas e eu queria que você pesquisasse nas escrituras Bahá’ís, as palavras de Bahá'u'lláh que falem sobre a virtude da humildade”.

Na mesma hora, como atingido por um raio, eu me lembrei de uma frase muito bonita, muito profunda e assertiva. Esta frase foi dita por um poeta, por um sábio, por um filósofo, por um ser humano que reuniu todas as perfeições humanas, chamado `Abdu'l-Bahá. Perguntaram a ele certa vez e eu contei essa história ao Gushiken ao telefone. “Mestre, porque as águas dos rios correm para o mar?” E `Abdu'l-Bahá sorrindo e naquele sorriso tinha os mistérios da Pérsia e da Arábia respondeu “Porque o mar se coloca abaixo de todos os rios e assim as águas todas vão para ele”.

Eu contei isso para o Gushiken que ficou numa felicidade, eu só ouvia ele dizendo “`Abdu'l-Bahá é fogo! É fogo, mesmo!” E ele ficou encantado com isso. Depois privamos de vários momentos em que nos encontramos e ele falava sobre a necessidade de trabalharmos para ter uma nova ordem mundial baseada no princípio da unidade do gênero humano que é a mensagem, o pilar, aquele que dá a estrutura principal aos ensinamentos da fé Bahá’í que ele mencionou tão bem nessa bela entrevista, nessa histórica entrevista concedida, creio eu, ao cineasta Azm Rassekh, aqui presente.

Ele imaginava que o mundo poderia se transformar se todos pudessem deixar de lado as suas divisões, os seus sectarismos, as suas ideologias e as coisas que os dividem. Ele tinha absoluta confiança de que não iria demorar muito e a humanidade iria reconhecer não apenas a humanidade vivendo no Brasil, mas em todas as partes do mundo de que nós estávamos vivendo as dores de parto de uma nova era, onde okinawanos e japoneses, congoleses e franceses, bolivianos e brasileiros, alemães e chineses, todos pudessem compreender a verdade entesourada numa frase que para ele era muito querida e muito cara.

Era uma frase que certa vez um prisioneiro, que durante 23 anos olhou da cela de sua prisão o sol contrastando com o fundo de um céu puríssimo e brilhante e disse: “A Terra é um só país e os seres humanos os seus cidadãos”.

A vida toda do Gushiken foi de batalha e de luta. E não admira, Beth, que em pouco mais de 14 meses de seu falecimento, do abandono das vestes físicas deste mundo fadado ao pó, ele já seja acumulado com tantas e tão preciosas homenagens.

Hoje, ele é nome de uma avenida de muitos quilômetros, aqui em São Paulo; ele é nome de um concurso literário nacional; ele é nome de uma escola que abriga mais de 5000 alunos em Santo André; ele é nome de prêmio; ele é nome de comenda; já se fala até em ser nome de aeroporto e pensava eu, como eu gostaria de um dia estar na frente de uma pessoa que seria nome de aeroporto.

O Gushiken é muitos, é múltiplo, é muito querido e é uma dessas almas que passa pela vida da gente e deixam sua marca. Na verdade ele sim, foi o último samurai.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT – Obrigado, Washington Araújo, que é o biógrafo.

Queria passar a palavra agora para uma pessoa que em todas as fotos, em todas as imagens do começo da vida, da luta sempre esteve com o Gushiken, o inseparável Luizinho Azevedo. (Palmas.)

 

O SR. LUIZ AZEVEDO - Deputado Adriano Diogo, parabéns pela iniciativa. Guilherme; Beth; acho que vejo a Elisa ali se não me engano; Regina, Soares; Augusto Campos, deputado Lucas Buzato; deputado Zico Prado que saiu, deputado Renato Simões aqui presente.

Em primeiro lugar eu queria trazer um abraço do ministro Ricardo Berzoini, que não pôde estar presente aqui hoje porque nós estamos em um enfrentamento de uma questão muito importante para o país que está sendo votada neste momento na Comissão Mista de Orçamento. Então, ele mandou um abraço a todos vocês, mas ele não podia estar presente.

Eu vou tentar fazer a minha homenagem, a minha fala a respeito não só da relação com Gushiken, como da sua importância estabelecendo um paralelo entre as questões nas quais ele se destacou, ao longo da sua trajetória, e a imensa falta que ele faz hoje em nosso país.

Vocês perceberam pelo vídeo que Gushiken sempre gostava muito de estudar tese, analisar antítese e insistia em disso fazer uma síntese. Vocês ouviram no vídeo que ele sempre se preocupou muito, ele falou: “O que pode sintetizar a mensagem que eu poderia deixar para o meu filho?” E se eu fosse sintetizar uma mensagem a respeito do Gushiken eu a traduziria em poucas palavras: “Que enorme falta você está fazendo, companheiro”. (Palmas.)

Gushiken, ainda no início dos anos 1980, depois de uma greve na qual nós não tivemos sucesso em paralisar a categoria em 1979, se debruçou na análise, no estudo da categoria procurando localizar onde é que estava o problema que precisaria ser resolvido para que nós pudéssemos unificar os bancários a nível nacional e viabilizar que aquela resistência à greve fosse superada.

E a síntese desse estudo foi de que nós precisávamos dialogar e obter, conquistar o apoio do que nós chamávamos do setor comissionado, em última instância as chefias, que nutriam e trabalhavam intensamente para inviabilizar a greve.

E foi a partir desse trabalho assíduo de conquista, de envolvimento que ele desenvolveu no sindicato, tanto para o trabalho interno como no diálogo para a categoria algo que ele, sinteticamente, chamou de consenso.

Ele começou a dizer que a força do consenso é imensamente maior do que qualquer votação majoritária em assembleia, e que nós tínhamos que buscar construir, em torno do projeto que nós desenvolvíamos na categoria bancária, um consenso muito mais amplo do que aquele das pessoas que nos apoiavam.

Que falta faz o Gushiken hoje, quando nós estamos precisando construir um consenso maior do que o eleitorado que votou na Dilma Rousseff nas últimas eleições, para nós fazermos com que o nosso projeto tenha uma adesão maior, num processo de enfrentamento e ao mesmo tempo de construção de uma hegemonia em torno do projeto de transformação, que ocorre hoje no nosso país.

Ainda em 1983 Gushiken começou a falar do impacto inevitável da globalização sobre a economia, sobre o sindicalismo e da importância que nós tínhamos de estudar profundamente o impacto da globalização em todas as esferas e que nós tínhamos que começar a propugnar para uma nova ONU, um novo pacto internacional que fosse mais democrático, mais profundo, que considerasse a necessidade de o desenvolvimento não ser apenas econômico, mas ser também social.

Ele falava isso em 1983, quando a palavra globalização ainda não era usada na “Folha de S. Paulo” ou na imprensa. E o interessante é que ele foi buscar, inclusive nessa questão da globalização, em Bahá'u'lláh, a sua tese de que ele achava que era fundamental a unidade mundial, não só a dos trabalhadores, mas também das nações em torno de um projeto de desenvolvimento que tivesse na paz o elemento central e que falta faz o Gushiken no trabalho dessa questão estratégica e fundamental do país hoje em dia.

Eu lembro que nos últimos dias quando ele estava internado no hospital, eu estive com ele durante umas seis horas e ele me disse: “Eu acho que o grande papel que o Lula pode desempenhar neste mundo hoje é liderar uma força política que possa aglutinar os excluídos de todo o mundo em torno de um projeto de transformação”.

E recentemente eu vi a Dilma reunida com uns países e construindo pela primeira vez um fórum financeiro em apoio às iniciativas de desenvolvimento em todo o planeta.

Gushiken insistia, por inúmeras vezes, sobre a necessidade de que os dirigentes sindicais, que as lideranças estivessem capacitadas não apenas para fazer um discurso numa assembleia, mas para de fato conseguir juntar, aglutinar ao seu redor inúmeras forças capazes de tornar o projeto viável.

E que papel que ele desempenhou na campanha do Lula, não só em 1989, como na de 2002, quando ele conseguiu construir e levou inclusive à redação final da “Carta aos Brasileiros”, que jogou por terra uma série de iniciativas de articulações, que tinham por objetivo inviabilizar a vitória eleitoral do Lula em 2002 e inviabilizar o projeto que desenvolvemos ao longo deste período que inseriu não só no mercado de consumo, mas numa vivência digna mais de 40 milhões de pessoas e que inverteu a pirâmide social completamente na história de nosso país.

Não posso deixar de lembrar a falta que faz Gushiken na área que ele atuou, que foi a área das comunicações quando ele viu que não era possível um país ser democrático tendo cinco, seis famílias comandando todas as grandes redes de comunicação do país.

E ele começou a fazer um movimento no sentido de fortalecer através da publicidade e da comunicação do governo, os jornais do interior, as pequenas rádios, os meios de comunicação alternativos, porque nós não poderíamos ter uma democracia, nós não poderíamos ser um país democrático com cinco famílias, de uma forma monopólica, dominando os meios de comunicação no nosso Brasil. (Palmas.)

Que falta faz o Gushiken nesse momento, quando nós vemos que estes mesmos meios de comunicação passaram a atuar recentemente praticamente articulando e pregando um golpe contra a nossa própria democracia, contra a própria eleição de Dilma Rousseff nas últimas eleições.

Eu não posso deixar de lembrar a importância que teve este companheiro nos momentos mais centrais da disputa política, quando foi nomeado para o Núcleo de Assuntos Estratégicos e a primeira coisa que ele começou a aglutinar foi construir um projeto para 2022, porque ele começava a ver que para aglutinar as forças políticas, econômicas, sociais, não bastava um projeto de curto prazo num país que ainda lutava para deixar de ser uma economia submetida ao grande capital internacional.

Era necessário um projeto de longo prazo, que aglutinasse amplas forças, porque no curto prazo certamente prevaleceria as lutas de grupos e de interesses, os interesses mesquinhos, imediatistas, seja dos setores econômicos, inclusive do próprio movimento sindical, se ele não conseguisse vislumbrar um projeto de longo prazo.

E como produto disso nasce o “Brasil Três Tempos”, que deveria ser lido por todos, que apontava já os desafios da questão climática e ambiental, que já começamos a sofrer pesadamente aqui em São Paulo e em todo o mundo.

Da necessidade de repensar a ONU, da necessidade de nós termos uma política que tivesse um olhar generoso em relação aos países da América Latina e da África, onde nós temos como grande protagonista o Lula. Uma personalidade que consegue olhar os seres humanos de forma distinta, uma personalidade que consegue ter uma relação política, ser dura em suas teses, ser firme na defesa das suas ideias, mas incrivelmente generosa na compreensão e no diálogo com os seus adversários.

Que consegue compreender o outro, porque não apenas ouve, mas fundamentalmente escuta, sente os interesses, as paixões, as motivações, não só dos seus adversários, mas das personalidades e forças sociais com as quais ele tinha que dialogar para construir esse projeto de hegemonia essencial para um país profundamente democrático.

Então, é com muito orgulho que eu venho falar de Gushiken, falar dos desafios e da falta imensa que ele faz para o nosso país, porque antes de mais nada e antes de qualquer coisa, ele sempre tinha o olhar no futuro, ele era capaz de no meio da escuridão ver uma luz para que, em torno disso, ele pudesse criar uma auréola, criar um movimento, articular forças que pudessem se mover e transformar as ideias em algo exequível, em projetos e em realidade.

Vou lembrar de mais uma coisa, porque vi agora o meu companheiro dos Fundos de Pensão. Gushiken ainda antes, muito antes de virar deputado começa a ver nos Fundos de Pensão uma fonte de recurso para investimento de longo prazo e para o desenvolvimento do país. E ao se tornar ministro, fazer parte do governo, foi o grande articulador dos Fundos de Pensão para colocar recursos, investimentos na produção para tirar os investimentos da Bolsa de Valores e da especulação, e apostar fundamentalmente na produção, no crescimento e na produção de empregos e renda.

E que falta faz hoje, meu companheiro, uma pessoa com a capacidade de articulação para novamente voltar a articular todos estes fundos em torno de um projeto.

E por fim, quando estive com ele a última vez, ele me falou sobre o PT, ele falou: “Nosso partido precisa passar por uma profunda renovação. Ele precisa passar por um processo de discussão interna, recuperar a sua capacidade de formulação, porque sem o PT é impossível fazer as transformações que o governo da Dilma precisa fazer e precisa dar continuidade”.

Porque o PT precisa ser uma base, como a Beth era a base na família, o PT tinha que ser a base no governo, tinha que ser a estrutura fundamental. Não apenas para votar no Congresso, mas para fazer a articulação na sociedade, para construir um processo profundo de diálogo com os movimentos sociais e com todas as forças vivas da nação, em torno desse projeto que no poder adquire uma característica distinta e diferente, e que falta, meus companheiros, fez esta renovação nas últimas eleições.

Todos viram quando a gente percebeu que havia uma ampla aglutinação com ódio imenso, um ódio imenso contra todos aqueles que estavam lutando para transformar esse país e Gushiken teria dito de uma forma muito tranquila e muito paciente :“Não é possível construir nada, meus companheiros, com ódio”. E nós jamais vamos conseguir responder a esse ódio também com ódio.

A nossa resposta tem que ser escutar o que estão tentando nos dizer parcelas imensas da sociedade que se envolveram para que a gente possa capturar esse sentimento, aglutinar em torno do nosso projeto e convencê-los de que nós estamos vivendo um momento ímpar, enquanto país, e temos possibilidades imensas de transformação, se em torno deste projeto a gente conseguir representar a todos.

Então, meu amigo, eu agradeço esta oportunidade. Estive nessa Casa durante muito tempo, eu tenho uma satisfação imensa de ter aqui o Renato; ter aqui Augusto Campos; ter aqui Lucas Buzato.

Sinto a falta de uma quantidade imensa de companheiros, que conosco construiu essa trajetória e tenho certeza, certeza absoluta que com muita generosidade e amor no coração, com dedicação e principalmente estudando e desenvolvendo a tese, compreendendo a antítese e produzindo a síntese nós conseguiremos vencer os imensos desafios que temos pela frente.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Aqui ao meu lado está a irmã do Gushiken, aqui ao meu outro lado está a outra filha do Gushiken, lá está a vereadora Juliana Cardoso e lá está aquela senhora ao lado do secretário Rogério Sottili, ao lado do Silvio. Como é o nome da senhora?

 

A SRA. MARISTELA - Maristela.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Maristela, desculpe. Essa aqui é a esposa do Gushiken, a Beth, não é? Então, depois dessa belíssima fala do Luizinho vamos continuar ouvindo os amigos, os contemporâneos dele. O Augusto, o Lucas, o Renato Simões, vamos lá. Augusto, você que fala tão bem.

Depois eu queria ver esse cineasta maravilhoso que fez este vídeo se ele podia dar uma palavrinha.

Augusto, você que é querido de todos nós, nosso querido guru, nosso querido amigo. Fala onde você quiser, quer lá embaixo, onde você quer?

 

O SR. AUGUSTO CAMPOS - Não, lá embaixo eu não aguento.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT – Então, fala daí mesmo.

 

O SR. AUGUSTO CAMPOS - Eu tenho que voltar.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Grande Augusto, Augusto Campos.

 

O SR. AUGUSTO CAMPOS - Eu não imaginava, e eu queria falar bem quando a gente era bastante jovem, eu não imaginava que aquele movimento de oposição sindical que a gente tivesse feito pudesse gerar em tão pouco tempo uma quantidade enorme de líderes da classe trabalhadora.

Eu não podia imaginar, porque nós estávamos debaixo de uma ditadura, toda luta armada tinha sido derrotada e o espaço que sobrava para a gente atuar era o espaço de uma vitória do MDB em 1974.

E quando a gente consegue formar uma chapa no sindicato e a gente não atuava fora do sindicato, a gente atuava dentro, o pelego que tinha que nos colocar para fora, mas a gente batalhava para permanecer lá.

Foi essa diretoria eleita que eu acho que a gente demorou no máximo quatro anos, a gente foi mais rápido que um cometa, é que nós formamos, ali eu tenho certeza que nasceu a CUT. Porque a gente tinha colocado o seguinte, ou a gente acaba com os pelegos ou os pelegos acabam com a gente.

E nós saímos fazendo eleições no país inteiro, trabalhando com as oposições. Muitas delas nós ganhamos, algumas fomos derrotados, e este surgimento de novas lideranças do movimento sindical, porque o Movimento Sindical tinha sofrido toda a intervenção da ditadura, e os interventores fecharam os sindicatos e não permitiram que os trabalhadores pudessem atuar.

E quando a gente entra na cena a coisa mais importante além da gente brigar contra a “pelegada”, a gente criar um núcleo do movimento sindical, a gente tinha certeza de uma coisa, ou nós criávamos um outro partido político diferente dos atuais, ou todo o projeto que nós estávamos montando iria água abaixo.

Então, aí começa a articulação da criação do Partido dos Trabalhadores.

Não sem antes ter conversado com a direção do MDB para ver se havia a possibilidade de ter uma atuação conjunta e o que eles concordaram em que a gente pudesse ser seria o setor sindical do MDB.

E aí a gente junta todo o pessoal que vinha de comunidade de base ao pessoal que tinha praticado a luta armada, ao pessoal decepcionado com o comportamento dos partidos de esquerda, principalmente o Partidão, em 1964. Esse caldo vem e aí vem o surgimento do Partido dos Trabalhadores.

E veio com uma energia de liberdade totalmente diferente dos partidos de esquerda que existiam até então. Se vocês notarem, muitos dos partidos de esquerda para não perderem a hegemonia interna praticamente não têm bancada de vereadores e o PT começa justamente do avesso. Ele começa com os vereadores.

E aí o nosso sindicato, nas pessoas do Lucas e do Gushiken abre um espaço para que a gente possa cada vez mais crescer e a gente foi cassado logo depois de ter feito uma greve no Bradesco, coisa que nunca tinha sido feita até então. A convocação de uma greve geral e a fundação da CUT.

Então, esse foi o tempo, quatro anos, cinco anos, que nós surgimos no movimento sindical e nos caparam, e que a gente soube reagir contra a intervenção e retomar o sindicato.

E eu queria muito hoje, além de uma homenagem ao Gushiken, eu acho que a presença do Lucas Buzato aqui é muito importante e eu queria encerrar por aqui a minha falação e que a gente ouvisse o Lucas porque foi um companheiro que participou junto com a gente.

Muito obrigado. Beth, um abraço. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Concedo a palavra a Lucas Buzato.

 

O SR. LUCAS BUZATO - Deputado Adriano Diogo, parabéns pela homenagem ao nosso companheiro, essa bela solenidade. Companheira Beth, os filhos do Gushiken, Guilherme e Helena.

Bom, eu vou ser breve. De verdade, a vida da gente é como aquela música do Chico, não é? O destino leva você por caminhos que você não pensa, não projeta, não é? E eu acabei fazendo parte da diretoria do sindicato. Um sindicato que tinha em sua base eleitoral 120 mil bancários. Eram, hoje tem menos por causa da informatização, porque também abriram algumas subsedes como a de Jundiaí, de Osasco.

Nós tínhamos 120 mil bancários e a ditadura militar, que controlava o sindicato, só permitia que tivéssemos 24 diretores. Vinte e quatro diretores para fiscalizar o abuso do patrão, para organizar a categoria de 120 mil trabalhadores. E nós jovens, não é? Ficamos na oposição muitos anos, fizemos uma disputa muito difícil e ganhamos o sindicato em 1979.

Lá eu conheci o Gushiken. Como o companheiro disse, e ele conheceu um chinês que queria botar fogo no mundo. O Luizinho era o maior incendiário. Vocês viram como o Luizinho até hoje ele é, entendeu? Imaginem o Luizinho com 23 anos de idade? Era o Luizinho, era o Gushiken, era o Augusto. O Augusto com essa calma dele, não é? Meio paizão comandando a meninada.

O que eu fico pensando hoje é como nós éramos corajosos. A gente ia preso, a gente era fichado no Dops. O Dops acompanhava todas as nossas assembleias, era o Departamento de Ordem Social e Policial do Estado. A Polícia Federal nos acompanhava. Nós estávamos no começo do fim da ditadura militar, mas ainda se prendia pessoas e nós tínhamos uma vontade de mudar, e acho que conseguimos mudar.

Conheci o Gushiken nesse momento político, nessa diretoria do sindicato. Lembro das inúmeras panfletagens que fizemos juntos. Eu, Luizinho, Augusto, o Gilmar Carneiro, o Gushiken. Lembro daquela bolsa de couro grandona, que o Gushiken gostava de andar com ela, não é? Cheia de panfleto da organização política dele. E lembro que a primeira vez que o Gushiken foi falar com este cidadão, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, não é? Nós fomos juntos, por quê?

Porque nós estávamos montando uma chapa de oposição, íamos disputar a eleição e fomos conversar com o Lula, lá em São Bernardo do Campo. Para os mais jovens, é bom que saibam o seguinte: nós fomos até São Bernardo de ônibus, ninguém tinha carro, não. Não tinha celular, fomos de ônibus.

Pegamos um ônibus lá no Parque Dom Pedro, fomos a São Bernardo, pegamos outro ônibus, chegamos lá, o Lula dá uma canseira, uma hora e meia para nos receber. Deu vários conselhos para nós, falou que ia nos ajudar e até a semana passada a ajuda não chegou, mas nós ganhamos a eleição.

E depois nós começamos a ter um entrosamento muito grande com o Sindicato dos Metalúrgicos. Ajudamos a criar o Sindicato dos Metroviários, não é, Augusto? Ali na Rua Florêncio de Abreu, não é? E quando houve a intervenção no sindicato, eu estava conversando com o Guilherme, a intervenção no sindicato foi o seguinte, um belo dia eu e o Augusto saímos para trabalhar, o Luizinho estava reunido com o Gushiken no ... Não, o Luizinho também foi preso, não é, Luizinho?

O Gushiken estava em uma reunião no 17º andar, chegou a Polícia Federal, não é? E falou: “Vocês estão presos”. “Mas estamos presos porque?” “Não, vocês estão presos, é ordem de Brasília, tal” e fomos lá para a Rua Piauí, passamos cinco dias memoráveis, não é?

Foi uma experiência muito rica, porque nós ficamos em oito ou nove diretores presos e ficamos organizando como é que nós íamos fazer quando nós saíssemos de lá e saímos de lá sob intervenção, e seguramos o sindicato 22 meses sob intervenção, sobre o comando do Augusto, do Gushiken, do Luizinho, não é?

E retomamos o sindicato, com o sindicato na presidência o Luiz Gushiken. E a “Folha Bancária” saindo todos os dias.

De vez em quando, eu passo lá no centro e pego a “Folha Bancária”, está no número cinco mil e não sei quanto, mas nós inauguramos a “Folha Bancária” com a ideia daquele carequinha, meu amigo ali, Luizinho, você que inventou a “Folha Bancária”. Ah, foi o Augusto? Então, foi o Augusto e você. E a “Folha Bancária” existe até hoje que é aquele panfleto diário que informa a categoria e nós seguramos sob intervenção 22 meses.

Para terminar, eu me lembro que na eleição de 1979, não é, Augusto? Eu percebi que o japonês estava namorando esta loira aqui. Percebi. Um dia, fui caminhar, falei: “Ô, japonês, tal, não sei o que pápápá”, é estava ali dando, não é? Aí teve a eleição, teve a eleição e a Beth foi mesária em um banco na Rua Boa Vista.

Porque nós tínhamos medo que se roubassem nas urnas, então você tinha que ter o mesário ou fiscal que tomava conta das urnas e não podia sair de perto da urna. Eu fui levar um marmitex para a Beth para ela almoçar do lado da urna.

Eu lembro que a Beth abriu o marmitex e viu aquele negócio assim e falou assim: “Mas, ! Não tinha coisa melhor para trazer?” Eu falei: “Foi o japonês que mandou” (Risos).

Então, é isso. Beth, o Gushiken ficará sempre, eternamente na nossa lembrança; parabéns pela mãe, pela esposa que você foi, pelos filhos que vocês são e jamais nós vamos esquecer desse companheiro.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Ela ia lhe dar um abraço, Lucas.

Bom, essa aqui é a irmã do Gushiken, estão as duas irmãs aqui, a Regina e a Elisa. Essa é a Helena, a filha. São quatro filhos, estão dois aqui. Dois, não é? Tem três? Fala para o outro subir. Ah! O Artur não está aqui? São três e o Artur está fazendo um curso, uma prova, é isso? Está bom, muito bom, já deu para respirar.

O Zico teve que ir embora, então quem vai falar agora é o Renato Simões.

 

O SR. RENATO SIMÕES - Boa noite a todos, a todas. Eu, de manhã, não imaginava que estaria aqui, não é? Fiquei sabendo da homenagem agora no final da tarde, lá na sede do PT. O Rui estava trabalhando bastante para ver se conseguia chegar aqui e eu vim nessa história com muito menos relação com o Gushiken do que os que conviveram fortemente com ele na categoria, na construção do PT.

De fato na nossa mocidade a CUT permitia que a gente, todos nós fomos protagonistas na construção da CUT, não é? Encontramos várias vezes nas oposições sindicais o Gushiken. Na greve de 1983, que ele menciona, nós nos encontramos em Campinas e Paulínia.

Mas eu queria destacar aqui que nós temos todos um pleito de imensa gratidão pela generosidade que o Gushiken representou para gerações de militantes do PT. E eu queria destacar um exemplo de poucos anos atrás, quando me destacaram numa última tentativa de tentar, como secretário de governo em Campinas, enfrentar o processo de cassação do nosso prefeito Demétrio.

Nas conversas com os vereadores, nós encontramos uma imensa descrença e uma liderança política importante da nossa região, que tinha ascendência sobre um conjunto de vereadores falou: “O problema é a falta de credibilidade do PT”. Eu falei: “Mas, o que eu estou falando aqui é sério. Diga aí então, alguém que você acha que teria credibilidade para ser o fiador desse nosso compromisso, desse nosso entendimento”.

E ele pensou, pensou, pensou e falou o seguinte “Eu acho que no PT só tem uma figura que eu confiaria, que se dissesse para mim que vai cumprir um acordo comigo, cumpriria, e é o Gushiken”.

Eu falei “Mas, meu Deus do céu, como é que nós vamos mobilizar o Gushiken?”. Eu liguei para o meu assessor de assuntos do Gushiken, o Zé Aristeia e falei: “Zé, como é que nós vamos fazer?” Porque justamente ele falou que a doença tinha altos e baixos. Eu falei: “Mas está na alta, está na baixa? Dá para saber?” Ele falou “Eu acho que não está na alta, não”. “O que eu faço?”. “Vamos conversar com o Gushiken”.

E fomos lá em Indaiatuba e o Gushiken ouviu, ouviu, ouviu e falou o seguinte: “Bom, eu não sei em que eu posso ajudar”. Isso foi em 2011, já estava afastado do governo, estava numa situação em que ele não tinha grande militância cotidiana na vida do PT, mas se o cara quer conversar comigo, vamos conversar.

E pensando bem, o Gushiken não tinha nada que se meter naquela história, porque era uma situação tão delicada, todos nós tínhamos um prognóstico tão negativo e o Gushiken imediatamente, com toda a sua situação de saúde adversa, marcou, foi, fez duas reuniões, nos deu retorno, fomos e voltamos e eu acho que essa generosidade do Gushiken é algo fundamental na política, porque nós nos desumanizamos fortemente no embate político.

O embate político não só contra os nossos adversários, muitas vezes entre nós mesmos, portadores dos mesmos projetos, nós rebaixamos as nossas relações pessoais a um patamar muito, muito pouco adequado para os nossos grandes objetivos e aspirações.

E por isso, novamente quando o Rui Falcão me falou: “Olha, o Gushiken está internado e a situação está difícil. Eu estive lá ontem, porque você não vai visitar o Gushiken?” Eu falei: “Mas eu não tenho essa relação toda com o Gushiken assim, não é?” Ele: “Vai que ele vai gostar” E nós fomos, não é? E eu no caminho fui pensando: “Mas o que dizer para o Gushiken?” Porque ele também já não estava falando muito.

Eu falei: “Eu não tenho nada para dizer, vamos rir juntos, não é”? Ficamos um bom tempo lá no hospital só contando causos e gargalhando. E, ao sair, eu me senti bastante recompensado de ter podido retribuir com um gesto simples a imensa generosidade que ele soube ter em um momento tão delicado da vida do PT.

Ele sabe o que é ser acusado injustamente. Ele foi acusado injustamente e ele sabe perfeitamente como a solidariedade nesses momentos é difícil e ele foi profundamente solidário, profundamente generoso sem ter a obrigação funcional ou direta dessa incidência.

Por isso eu acho que tudo aquilo que nós pudermos fazer para resgatar o seu pensamento, para resgatar a sua ação, para resgatar a sua identidade, nesse momento tão delicado que o PT e a nação vivem, deve ser feito.

Por isso eu cumprimento fortemente o Adriano por essa homenagem e na medida do possível vamos repercutir o máximo que podemos, porque como disse o Lucas “é de exemplos assim que nós precisamos para continuar esse nosso trabalho”. E nós não podemos esquecer e não podemos deixar de lado a divulgação daquilo que não nos faz esquecer um personagem como Gushiken.

Obrigado, um abraço, parabéns.

Um abraço a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Acabou de chegar o deputado Antonio Mentor.

Eu queria pedir para o Ademar Morinaga dar uma palavrinha. Ademar, pode falar um pouquinho? Ademar, não sei nem se estava preparado, eu nem o consultei.

 

O SR. ADEMAR MORINAGA - Não, tudo bem.

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - É importante você dar uma palavra.

 

O SR. ADEMAR MORINAGA - Obrigado pela oportunidade. Deputado Adriano Diogo, parabéns inicialmente pela sua atitude, pela homenagem que faz ao nosso amigo Gushiken.

Realmente eu não estava preparado, mas acho que tudo o que tinha que ser dito do Gushiken foi dito aqui. Mas eu queria pedir licença à Beth para contar uma historinha do Gushiken.

Na verdade a minha relação com o Gushiken não é política, não é? A minha relação com o Gushiken veio da mesma cidade, o Gushiken é de Osvaldo Cruz e eu também nasci em Osvaldo Cruz.

Tem uma história que eu sempre conto e acho legal contar de novo aqui. Talvez a Beth saiba, mas tem pessoas que não sabem ainda. Acho que eu tinha de 8 para 9 anos na cidade de Osvaldo Cruz, e em frente à minha casa tinha um enorme pé de manga, um mangueiral ali na frente.

O engraçado é que eu morava lá e toda tarde vinha ali um japonesinho chato, baixinho, e a gente ficava brincando na árvore, não é? De subir na árvore. Na verdade o Gushiken tinha uma turma e eu também tinha a minha turma, não é?

Um belo dia, a gente começou uma amizade até que mais ou menos e o que eu me lembro é que de repente nós em cima da árvore e eu não me lembro, se eu estava atrás dele ou ele atrás de mim. O Gushiken me cai lá de cima, tinha o quê? Uns seis, sete metros de altura e quebra os braços, e realmente quebra lá, só via aquele braço pendurado.

Aí nós ficamos apavorados, não é? Uns 7, 8 anos, sei lá a minha idade. Conclusão, eu sem reação, os meus amiguinhos também, imagino que tinha sete, 9 anos. Eu só sei que passou um caminhão naquela época, um caminhão pequeno, e ele foi de bicicleta lá. E eu não sei como ele conseguia subir naquela carroceria, não é? Porque eu me lembro um velhinho empurrando e eu chorava, não é? Eu não sabia o que fazer.

E tudo isso, passou-se o tempo todo e eu fiquei ali imaginando isso, depois ele foi embora para Presidente Prudente e eu vim para São Paulo.

Bom, o bom da história é o seguinte, passado, isso foi em 1985, primeira eleição do Gushiken, foi 1986 e eu então era diretor de um jornal japonês chamado “Diário Nippak” e eu já era politizado tal, não é? Só que eu era da direita e o Gushiken era da esquerda. Na verdade, ele já nasceu esquerda e eu nasci direita, não é? A gente tinha aquele confronto lá.

Muito bem. Eu fiz um debate com todos os candidatos da colônia nipo-brasileira, não é? Os candidatos Paulo Kobayashi, Gushiken e por aí vai. Aí, eu pensei “Puxa vida, será que é o Gushiken lá de Osvaldo Cruz, que eu empurrei lá, joguei ele da árvore?”

Eu ficava pensando, e eu ficava pensando. Aí eu falava, meu pai estava vivo ainda, meu pai: “Não, o Gushiken realmente é de Osvaldo Cruz”. “Puxa vida, será que é ele?”

Eu pensei que devia ser porque o Gushiken na frente do Sindicato dos Bancários bravo, japonês bravo eu nunca vi, não é? O cara já nasceu esquerda mesmo, de verdade.

O que acontece? Eu fui no Hotel Nikkey, fizemos o debate, inclusive o Eduardo Jorge, que era do “Jornal da Tarde” foi o mediador. Aí eu vou esperar o Gushiken sair para eu conversar, não é? Gushiken, não é? Contar essa história para ele. Aí está bom, deu o intervalo, deu o intervalo e ele foi para o banheiro e eu fui atrás dele.

Aí o Gushiken no banheiro, eu falei “Gushiken, meu nome é Ademar Morinaga, você é de Osvaldo Cruz?”. “Sou de Osvaldo Cruz”. “Você não caiu de cima da árvore e quebrou os dois braços?” O cara ficou parado. O que ele fez? Ele pegou, não falou nada para mim, saiu correndo para ligar para a Beth.

Foi, mas porque que ele queria falar com a Beth? Porque a Beth reclamava que ele não pegava peso com os dois braços e o Gushiken justificava: “Não, eu caí da árvore quando era pequeno e eu não posso carregar peso”.

Aí ele me largou lá no meio do caminho e foi procurar a Beth, não sei o que ele falou, não é? Quer dizer, ele arranjou uma testemunha para justificar o que ele falava para a Beth, entendeu? Então, é essa a história que eu tenho, só para contar mais uma historinha, o lado do Gushiken.

Depois eu encontrei com ele, ajudei, todas as eleições dele, eu ajudei ele. Agora, uma coisa eu estava até falando com o Guilherme que esteve no meu escritório e falou assim: “Puxa, Ademar, o meu pai se preocupava com a eleição dos outros”.

Eu lembro até do Luizinho que ele fazia um monte de dobrados, a primeira eleição dele, aí um belo dia na primeira campanha, eu fazia o estrutural do Gushiken, não é?

Aí eu arranjei um monte daqueles vales,tickets, tickets de gasolina e refeição para dar para os meninos que estavam trabalhando. A Fernanda estava nessa campanha e o Marçal também. Aí um belo dia eu: “Gushiken, o que eu faço?”. “Não, você dá para o Marçal”, tinha um envelope com 50 tickets e tinha outro envelope com mais, 100, não é?

Aí, está bom, “O que está mais cheio eu dou para o Marçal, que é para a tua campanha, não é?” E o que está metade, ele queria dar para o Genoíno. “Não, Ademar, você vai fazer o seguinte, o que tem menos fica com Marçal para a minha campanha, a o que tem mais você dá para o Marçal, avisa ele para dar para o Genoíno”.

Eu falei: “Ué, mas você não...”, quer dizer, o tipo do cara, não é? Gushiken se preocupava com os outros. Ele é candidato federal e o Genoíno também candidato federal, eu não entendia nada.

Aí, não sei se o Paulo, o Paulinho, o Paulo Bezerra ou o Marçal: “Ademar, você não está enganado, não?”. “Vai perguntar para o Gushiken, o Gushiken mandou fazer isso, entrega o que tem mais para o Genoíno”.

Quer dizer, isso é só o Gushiken, igual o Luizinho falou aqui, faz falta o Gushiken.

Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Faz falta mesmo. Vamos lá, cada fala tem que dar uma respirada.

Vamos lá? Sindicalistas, os jovens, não é? Embora de cabelo branco. Silvio, dá uma palavrinha.

 

O SR. SILVIO ARAGUSUKU - Boa noite a todos e todas. Eu acho que foi muito importante essa homenagem que o companheiro Adriano Diogo faz aqui para o Gushiken, como ele falou, geração posterior a do Lucas, Luizinho, Augusto, do Gushiken.

Eu conheci o Gushiken também, como eu sou, fui funcionário do Banespa, não é? O Gushiken era um banespiano, também como o Augusto, como o Lucas só que eu já conheci ele como presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, porque eu cheguei aqui em São Paulo em 1983, estava em intervenção, em 1985 o Gushiken assume como presidente.

Eu sou da geração posterior, junto com a Sônia, com o Juscelino, com o Jeremias que está aqui também que eram funcionários do Banespa também.

E eu conheci o Gushiken de assembleia, das atividades dos bancários, mas quando o Gushiken saiu candidato em 1985 ele era pré-candidato a deputado federal, ele fez uma reunião lá em Pinheiros, era a região que eu atuava, na casa do Marçal. O Marçal morava pertinho da subsede do Sindicato dos Bancários. Lá em Pinheiros, chamou uma reunião e lá que eu tive um contato com o Gushiken.

A gente começou a conversar depois que acabou a reunião. Ele falou: “Você é do Banespa também, não é? , vamos jantar? Tem um chinês aqui perto, aqui na Rua Cunha Gago, vamos jantar porque a gente discute a campanha minha e do Lucas”, a dobradinha que era os dois candidatos do Banespa. E começamos a conversar no jantar e conversa vai e conversa vem, Gushiken de Okinawa, a minha família também de Okinawa. Eu falei, “Gushiken, a minha tia que é irmã da minha mãe é casada com Gushiken”.

Ele falou: “Somos parentes? De Okinawa a gente era parente, agora que tem mais um Gushiken na família nós somos parentes”. E a gente ficou conversando a noite inteira. O Gushiken gostava de falar sobre a colônia okinawa, sobre o Japão, diferente de mim que eu sou mais ocidental do que qualquer outra coisa, não é?

Eu não tenho essa tradição japonesa, a gente tem a tradição de gostar de samba, gostar de futebol. E ele ficou conversando comigo, achei muito interessante. E a gente se encontrou várias vezes.

Essa coisa que o Luizinho falou do consenso, eu lembro, quando a gente atuava, apesar de todo mundo ter o mesmo projeto, a gente estava em correntes diferentes dentro do PT. E o Gushiken sempre falava uma coisa, o consenso progressivo. Ele falava “Não! Não vai votar! Não temos que votar, a gente tem que ficar discutindo, discutindo até chegar em um consenso progressivo”.

E era um pouco disso também que o Renato falou, não é? Da figura do Gushiken. Era uma figura que ele tinha essa disposição de conversar. Eu acho que foi muito importante e como falou o Luizinho o Gushiken está fazendo muita falta.

Hoje, o que está acontecendo com o Partido dos Trabalhadores, com o PT, o Gushiken vai fazer muita falta.

Era isso o que eu queria falar, obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Nós temos três oradores para concluir. Queria ver se o Flavio podia falar um pouco sobre esse documentário, depois o Mentor e o Rogério Sottili, secretário.

Flavio, fala seu nome completo.

 

O SR. FLAVIO AZM RASSEKH – É Flavio Azm Rassekh. Eu sou filho de iranianos, por isso eu tenho esse nome diferente. Hoje eu gostaria de ser de Okinawa, mas eu sou filho de iranianos.

Uma das coisas interessantes foi ouvir que cada um dos amigos, que estão sentados aqui, lembrou de uma das características fundamentais do caráter do grande Luiz Gushiken.

A gente tem que contar a história dele para todo mundo, a gente tem que dizer para o Brasil inteiro e o mundo o que esse jovem filho de okinawenses, que se mudaram para o Brasil, fez. Se essa história é bem contada ele vai ser reconhecido como um herói no Japão, como ele é reconhecido como herói no Brasil.

Para mim o Gushiken não era só um político, um grande amigo, um grande pai, um grande marido, para mim Gushiken é um visionário. Luiz Gushiken viu antes, eu acho que de todos os outros políticos no Brasil a importância do conceito de unidade mundial, da criação de uma federação de países no mundo. Gushiken defendia isso na década de 1990.

Dois dias antes do falecimento dele, no encontro onde estavam o José Dirceu, o Mercadante e mais um monte de outras pessoas no hospital, o Mercadante vira e diz: “Gushiken, você foi o melhor de todos nós”.

Eu posso dizer, na minha experiência da generosidade dele, do número de vezes que eu fui conversar com ele antes de começar a fazer a gravação desse vídeo. Das vezes que ele dizia: “Azm”, ele me chamava pelo meu nome iraniano, “ por que eu vou gravar isso? Para quê? Eu não tenho a menor intenção de ficar me promovendo, eu já fiz a minha parte, o meu trabalho.” O Guilherme sempre me lembra disso: “Meu pai não gostava de autopromoção, o que ele fazia tinha um objetivo”.

Se hoje os representantes de Okinawa que estão aqui, puderem levar um pouco dessa mensagem desse vídeo para todos os japoneses do Brasil e dizerem: “Sim, tínhamos um político honesto, dedicado, generoso, que sempre procurou o consenso, que deve servir de exemplo para cada jovem japonês que cresce no Brasil”.

Eu acho que este documentário vai fazer o seu papel. Se outros jovens que acreditam numa luta, não uma luta de dissenso, mas uma luta de consenso, puderem assistir um pouco da história de Gushiken e dizer: “Eu vou sim lutar por justiça social”, o documentário vai ter feito o seu papel.

O que vocês estão vendo é uma pequena edição que foi feita com a ajuda do Mário Jun, que fez um trabalho maravilhoso. No futuro a gente vai entrevistar cada uma das pessoas que estão aqui para contar um pouquinho mais desta história, que não é só a história de um homem, de um partido, mas é parte da história desse país.

Eu acho que isso aqui é uma bênção muito especial, porque eu pude escutar um pouco dessas histórias e a gente está podendo trocar um pouco de ideias e homenagear esta alma, que de algum lugar está vendo todos vocês aqui e eu acho que deve estar trocando uma relação de amor muito grande.

Eu agradeço muito a oportunidade de falar. Eu agradeço à família por ter me recebido tantas vezes. Eu agradeço a Deus pela oportunidade de passar noites às vezes conversando com o Gushi, enquanto ele botava umas músicas japonesas, que eu não gostava, mas eu fingia que gostava porque eu ficava sem jeito de pedir para ele trocar, e eu agradeço muito de novo.

Eu espero poder ter este filme pronto para mostrar para vocês em breve.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - O deputado Antonio Mentor veio de Americana para esta cerimônia especialmente. Eu queria pedir para o deputado Antonio Mentor fazer uma saudação.

 

O SR. ANTONIO MENTOR - PT - Boa noite a todos e todas. Queria iniciar parabenizando o Adriano Diogo, meu companheiro de bancada por esta iniciativa. E eu digo sempre que existem fatos, iniciativas que alguns colegas tomam e que a gente inveja. Eu gostaria de ter feito isso. Você fez e eu tenho que aplaudir você, lhe agradecer por ter tido esse gesto importante de reconhecimento à essa figura humana extraordinária que foi e é Luiz Gushiken.

Eu tive inúmeros momentos de contato mais próximo com o Gushiken e em todos esses momentos a gente percebia a sua grandeza. E agora por último, eu tive também a felicidade de conhecer um sobrinho do Gushiken, o Júlio Gushiken, que está aqui conosco também, que era quem me dava informações quase que cotidianamente a respeito do Gushi, e ele me dizia das coisas que ele tinha informação e eu acompanhei isso com muita atenção e torcendo muito para que o Luiz pudesse permanecer entre nós por muito mais tempo do que ele ficou.

Mas, eu tenho também a certeza de que ele está aqui entre nós, presente com sua energia, ele está observando todos os seus amigos, todos aqueles que consideram a sua passagem entre nós como uma das coisas mais importantes que o Brasil obteve nesse espaço mais recente.

Eu queria me reportar a duas questões que eu penso que são fundamentais para a história desse país. A primeira delas é a fundação do Partido dos Trabalhadores e a capacidade que o Gushiken teve de formulação e elaboração da proposta do Partido dos Trabalhadores. Com a sua visão plural, sua visão democrática, com os seus valores ele influenciou diretamente a construção do Partido dos Trabalhadores que, goste ou não goste, foi o responsável por mudanças muito significativas na história política e social do nosso país.

E o segundo momento, Adriano, que eu queria também mencionar diz respeito à oportunidade que nós do PT tivemos de implantar um novo modelo de governo. Um modelo que fosse capaz de em primeiríssimo lugar resgatar a autoestima do povo brasileiro que vinha sendo cada vez mais rebaixada.

E novamente Gushiken teve um papel decisivo, determinante, enquanto ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo do presidente Lula. Foi ele que de alguma maneira estabeleceu esse contato com o povo brasileiro, dizendo que nós tínhamos o nosso valor, que cada brasileiro, cada brasileira tinha um significado importante para a nossa terra.

Foi através das ações democráticas que ele adotou à frente da Secretaria de Comunicação do governo do presidente Lula, que pequenas emissoras, pequenos jornais, pequenos veículos de comunicação tiveram oportunidade também de se transformarem em vetores da nossa proposta e com isso recuperar a autoestima do povo brasileiro.

Queria finalizar cumprimentando a Beth e os filhos, e dizer que vocês têm todos os motivos do mundo para sentirem orgulho do pai de vocês, do seu marido. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Legal, Mentor. Muito bom.

O Rogério Sottili é secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, e conviveu com o Gushi e com o José Dirceu lá em Brasília, tantos anos, na formação do primeiro governo Lula.

 

O SR. ROGÉRIO SOTTILI - Obrigado. Boa noite a todos.

Beth, Helena, Guilherme, Adriano Diogo, parabéns por esta iniciativa. Você também vai fazer muita falta nesta Assembleia. Deputado que tem a sensibilidade de construir agendas que reconhecem a luta de militantes e dirigentes políticos que fizeram a diferença no nosso país, merece o nosso cumprimento, Adriano.

Eu também fiquei meio desarmado, porque não estava preparado e falar do Gushiken é fácil para alguns, para outros é difícil, porque poderíamos falar muita coisa do Gushiken, e eu não fui uma pessoa tão próxima do Gushiken, na sua luta política como outros companheiros aqui foram. Mas, ninguém pode negar da importância que o Gushiken teve para o nosso país e para a luta dos Direitos Humanos e para a luta da redemocratização do nosso país.

O Gushiken deixou o seu traço nos momentos mais importantes da nossa história depois da ditadura militar. O Gushiken esteve presente na retomada do Sindicato dos Bancários, esteve presente na fundação do PT, na fundação da CUT, o Gushiken esteve presente na conquista e na construção de um governo democrático a partir de 2002. E esteve presente na construção dessa vitória.

E o Gushiken esteve presente no governo do presidente Lula, não só na condução de uma nova visão do que deveria ser a política de comunicação no nosso país, mas ele, porque era muito ouvido pelo presidente Lula, esteve presente na condução do governo que promoveu a maior mudança que o nosso país já sentiu.

Então, falar do Gushiken é difícil, porque tem que falar de muita coisa, de alguém que teve uma presença firme e certeira. Certeira para que a gente pudesse ter um país mais decente daquele que nós encontramos. E ainda hoje, quando a gente vê a importância que o Gushiken, nesse processo histórico, nos momentos mais importantes da nossa história, a gente percebe essa importância, quando a gente ainda assiste resquícios da ditadura militar, resquícios de movimentos isolados, mas autoritários, pedindo a volta daquilo que a gente quer que nunca mais aconteça, que nunca mais apareça.

Eu também lembrei de um momento muito importante para mim, de uma passagem. Eu conheci o Gushiken na Constituinte em 1987, quando eu fui trabalhar na Constituinte, assessorar a bancada do PT nos temas da reforma agrária.

E lá, naquele momento, eu começava já a admirar o Gushiken pelo estilo guerreiro, mas basicamente por um comportamento que para mim era muito forte já, que era o comportamento de ouvir. Às vezes, eu ia almoçar com o Gushiken, eu era um menino de 20 e poucos anos e o Gushiken já era uma liderança expressiva, já era um cara que tinha uma história a ser contada e ser admirada e era deputado constituinte.

Eu ia almoçar com ele, com Vitor também e o Gushiken sempre perguntava o que eu achava de determinada situação. “Mas como é que pergunta para mim o que eu achava de determinada situação?”. E aquilo fazia eu admirar o Gushiken.

Em 2002, quando a gente estava na campanha do presidente Lula, eu trabalhava na campanha do Lula também, na coordenação da campanha com o José Dirceu, e o Gushiken um dia me convidou: “Vamos comer um sashimi aqui na..”, era um hotel que tinha perto do comitê, na Vila Mariana, e nós saímos para almoçar e aí eu comecei a pegar e botar raiz forte assim. O Gushiken: “Você põe muita raiz forte. Você não vai sentir o gosto do sashimi. Você tem que diminuir, isso é que nem na vida.” Ele disse: “Se você vier muito carregado de tempero, de ideologia, você não consegue ouvir a pessoa e sentir o que ela está dizendo”.

Aquela questão me pegou tão forte, tão fundo e hoje, quando eu fico ouvindo aqui a fala do Tom falando de quando o Gushiken falou, pediu para ele alguma coisa sobre humildade, eu lembrei disso.

E aí o Tom explica, fala de que lembrou daquela passagem bonita de que “todos os rios correm para o mar porque o mar se coloca abaixo dos rios”, e aí eu lembrei aqui quando alguém, não sei se foi você que falou, de que o Gushiken é um visionário.

Gushiken já era um visionário, ele quando pediu alguma opinião ou alguma reflexão sobre humildade, ele já exercia aquela humildade nas pessoas, que é a questão mais forte, mais emblemática de uma pessoa que é sábia.

Então, eu quero só agradecer, Beth; Helena, Guilherme, porque o Gushiken, apesar do pouco contato que eu tive com ele, eu aprendi muito.

Eu acho que o que eu estou fazendo hoje, o que eu faço hoje à frente da Secretaria de Direitos Humanos, perseguindo a justiça, perseguindo a paz, perseguindo a construção de pactos para que a gente possa viver um mundo melhor, eu devo isso também à humildade, ao Gushiken.

Então, muito obrigado e parabéns Adriano, mais uma vez por esta iniciativa. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Pensei que a Juliana ia dar uma palavrinha.

Concedo a palavra à Beth.

 

A SRA. ELIZABETH GUSHIKEN - Boa noite a todos e a todas que estão aqui. Agradeço imensamente a todas as pessoas que aqui vieram, que aqui estão. São todos meus conhecidos, meus amigos e são todos muito queridos para mim e para a minha família. E também todos eram muito queridos pelo meu querido marido Gushiken.

Então, gente, eu vou ser muito breve, eu só quero em meu nome e em nome da minha família, em nome dos meus filhos, quero agradecer principalmente ao deputado Adriano Diogo, que promoveu essa maravilhosa homenagem.

Isso, todos esses depoimentos, eles falam muito ao coração da gente. São pessoas que conheceram, que conviveram e as pessoas que estão aqui também são muito próximas a nós. Então, essa homenagem está sendo maravilhosa, eu agradeço muitíssimo, Adriano Diogo. Muitíssimo mesmo. Muito obrigada.

Preciso agradecer ao Mário Jun, o produtor do vídeo que vocês viram aqui. Ele fez esse vídeo com muito carinho, ele e o Flavio Azm. Também quero agradecer, porque o Flavio foi o diretor do vídeo e o Mário produziu o vídeo. Quero agradecer imensamente a ele também.

Ele, não sei se ele está aqui, ele está aqui? Ele não está, mas quero agradecer muito, porque ficou muito bonito, eu agradeço muito. Também quero agradecer à Fernanda Otero. A Fernanda é funcionária aqui da Assembleia Legislativa e foi ela que organizou na verdade. Ligou para todo mundo, se dispôs, fez muito contato com o Guilherme, pegou a lista das pessoas, ligou, mandou convite. Ela fez todo este trabalho. Como a Fernanda trabalhou com o Gushi, então ela continua trabalhando, não é? Então, Fernanda querida, muito obrigada. Muito obrigada. Fundamental o trabalho que você fez aqui.

E é isso, gente. Eu só tenho a agradecer tudo o que disseram aqui sobre o meu marido. Eu acho que realmente ele era uma pessoa muito especial, não é? Para a gente, para a família sempre é especial.

E para mim ele foi um companheiro por 34 anos. Não foi fácil, a verdade é essa. Não foi fácil, não era uma convivência fácil, mas ficamos juntos 34 anos, tivemos três filhos, construímos uma família e foi uma vida maravilhosa.

Então, é isso. Agradeço a todos os que estão aqui, agradeço a todos que organizaram isso.

Muito obrigada, gente. Boa noite. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Nós estamos indo para o encerramento, não é? A Fernanda Otero e eu queríamos fazer essa homenagem há muito tempo, logo depois da morte. Até fizemos uma pequena e singela homenagem, quando nós, aqui na Comissão da Verdade, o Mário Jun Okuhara veio com o documentário, que ele pesquisou durante 10 anos sobre a vida dos japoneses na Segunda Guerra Mundial.

O Mário fez um documentário sobre o confinamento dos japoneses na Segunda Guerra Mundial na Ilha Anchieta.

Eu, na minha juventude, na minha formação, quando comecei a entender um pouco da vida, eu fazia parte de um cineclube e todo sábado de manhã, nós, o grupo de jovens que tinha o cineclube, tinha três distribuidoras japonesas de filme japonês em São Paulo, e nós tínhamos o direito de assistir, em cada uma delas, aqueles clássicos fantásticos do cinema japonês no Cine Joia e outros.

Aqueles filmes em japonês, às vezes sem legenda, mas eram tão fantasticamente dirigidos. Vi que esta semana está tendo uma semana do cinema japonês, nem tive tempo, eu queria tanto ir assistir, porque agora é tudo bonito.

Então, Mário Jun e eu mergulhamos na cultura japonesa, nessa história da cultura da vergonha que foi a vergonha que o povo brasileiro, ou melhor, o governo brasileiro, principalmente o governo Dutra fez contra os japoneses, não é? Porque o Getúlio Vargas fez aquele acordo em 1942 e era uma exigência dos americanos, no acordo de 1942, que os japoneses fossem castigados, isolados e confinados.

Isso veio acontecendo gradativamente com a mudança da proposta do Getúlio e depois, que acabou a Segunda Guerra, o Dutra perseguiu da forma mais cruel, mais absurda, mais vergonhosa. E essa pesquisa foi incorporada e nós fizemos uma bonita sessão aqui na Comissão da Verdade, de pedido de desculpas ao povo japonês por estes absurdos que foram cometidos na Segunda Guerra.

E, aqui no Brasil, pouco se fala, mas pelo menos tem o registro de Hiroshima e Nagasaki, mas pouco se fala ou quase nada se fala do massacre de Okinawa por terra, pela Infantaria. Então, o Mário nos ajudou a recuperar algumas imagens que fizemos de Hiroshima e Nagasaki, e recuperamos algumas imagens da ocupação por terra dos americanos e a destruição do povo e da ilha de Okinawa.

E quando o meu amigo Ademar falava que eles faziam debates entre os deputados descendentes, que é uma coisa que o Mário Jun sempre fala: “Adriano, não adianta você se esforçar em recuperar e pensar qualquer coisa eleitoral porque a colônia só vota nos descendentes”.

Eu falo: “Mas o que estes descendentes fazem que eles não falam da luta e da dignidade do povo japonês, nem em Hiroshima, nem em Nagasaki, muito menos de Okinawa”. E o Gushi sempre fez isso. Do jeito dele, não “hard”, não tão barra pesada, mas do jeito dele ele sempre discutiu essa cultura dos japoneses, não é, Murad? Nunca abriu mão do seu povo, da sua cultura.

E aí, aqui no Brasil virou essa bobagem que os americanos inventaram dos vitoristas e dos derrotistas. E os vitoristas, o governo brasileiro na ditadura e mesmo no governo Dutra, a prova se um japonês, descendente ou japonês, era vitorista ou derrotista tinha que pisar na bandeira do Japão. E qualquer japonês ou descendente que não aceitasse essa infâmia era tido como vitorista ou como “Shindo Renmei”, como terrorista e como outras coisas.

Então, eu fiquei muito emocionado, Flavio, por este seu trabalho. Só para vocês terem uma ideia, queria encerrar a cerimônia com o Hino Japonês, mas fui informado que ainda não é nenhuma restrição, que para tocar hino só pode ter autorização do Cerimonial. Então, infelizmente nós não vamos poder encerrar essa cerimônia como eu acho que seria o gosto do Gushiken, depois de tocar o Hino Nacional Brasileiro, tocar o Hino Japonês.

Mas hoje, aqui nessa singela homenagem, falamos de um personagem da humanidade. Um personagem que fundou tantas, tantas coisas. Se a gente tivesse que fazer uma síntese dessa cerimônia, qual seria a frase? “Gushiken, quanta falta você faz, por tudo!”

Muito obrigado. (Palmas.)

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 45 minutos.

 

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