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27 DE ABRIL DE 2015

002ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOS MÁRTIRES ARMÊNIOS NO CENTENÁRIO DAS VÍTIMAS DO GENOCÍDIO ARMÊNIO

 

Presidente: CELSO GIGLIO

 
RESUMO

 

1 - NATAL CALABRO NETO

Mestre de Cerimônias, anuncia a composição da Mesa.

 

2 - CELSO GIGLIO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que o presidente Fernando Capez convocara a presente sessão solene, a requerimento do deputado Celso Giglio, na direção dos trabalhos, para "Homenagear os Mártires Armênios Vítimas do Genocídio que Completa Este Ano Seu Centenário". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino da Armênia" e o "Hino Nacional Brasileiro". Considera que a morte de um milhão e quinhentos mil armênios foi um dos maiores massacres do Império Turco Otomano. Recorda que a população armênia, antes católica, foi obrigada a se converter ao Islamismo. Lembra a diáspora dos armênios, em fuga pelo deserto, que se espalharam pelo mundo. Informa que a República Armênia tem três milhões de habitantes, com cem mil descendentes no Brasil. Lembra que o Brasil não reconheceu o genocídio, ao contrário de lei paulista, do deputado Pedro Tobias. Dá conhecimento de moção, de sua autoria, pleiteando da Presidência da República o mesmo. Recorda citações do Papa Francisco sobre o genocídio. Solicita, por parte do governo da Turquia, o reconhecimento do genocídio. Argumenta que as mortes não foram decorrentes da I Guerra Mundial. Pleiteia, também, a reconstituição do território armênio. Cumprimenta a comunidade armênia do bairro de Presidente Altino, em Osasco.

 

3 - JOSÉ SERRA

Senador, saúda a todos. Elogia a iniciativa desta solenidade. Cumprimenta o deputado Pedro Tobias, pelo projeto do Dia de Reconhecimento do Genocídio Armênio. Cita artigo, de sua autoria, sobre os armênios, veiculado na imprensa, quando governador do Estado de São Paulo. Dá conhecimento de ações da Comissão de Relações Exteriores do Senado, presidida por Aloysio Nunes Ferreira, visando o reconhecimento do genocídio armênio pela Presidência da República. Enaltece seu respeito à comunidade armênia. Comunica a iminência da votação de projeto, de sua iniciativa, sobre o voto distrital.

 

4 - PRESIDENTE CELSO GIGLIO

Dá conhecimento de mensagens alusivas à efeméride, encaminhadas por várias autoridades.

 

5 - ACHOT GALOYAN

Embaixador da República Armênia no Brasil, recorda convenções da ONU sobre os crimes internacionais de genocídio e a punição aos executantes. Lembra o massacre de um milhão e meio de armênios, durante a I Guerra Mundial. Informa que muitos foram forçados a adotar o Islamismo como religião. Acrescenta que deportados morreram de inanição, doenças ou epidemias. Repudia a negação e as distorções do fato, pelo governo da Turquia, etapa inconclusa. Comunica o reconhecimento de 23 países sobre o genocídio. Destaca quatro pilares do reconhecimento: a lembrança, a gratidão, a prevenção e o renascimento. Cita reivindicações à comunidade internacional. Ressalta o Holocausto dos Judeus. Enfatiza o legado aos herdeiros, a necessidade do resgate da História e da justiça. Argumenta que os fatos não são decorrentes da I Guerra Mundial. Justifica que a negação do genocídio abre precedente à Civilização Humana. Pleiteia o reconhecimento e condenação da Turquia. Enfatiza a atuação dos Legislativos internacionais, ao citar decisão do Parlamento Europeu. Reproduz citações do Papa Francisco pelo reconhecimento do primeiro genocídio do século XX. Agradece a criação da lei paulista do Dia do Reconhecimento do Genocídio Armênio.

 

6 - PEDRO TOBIAS

Deputado Estadual, cumprimenta o deputado Celso Giglio e as autoridades armênias. Fala de sua trajetória no Líbano, quando conheceu armênios que, por mais de 30 anos, viviam sem documentos, tendo como segundo nome generalizado "Armênio". Enfatiza não só a importância do reconhecimento, como a punição da Turquia pelo genocídio. Lamenta os massacres atuais de cristãos no Oriente Médio por grupos extremistas. Comunica a dificuldade para a deliberação do projeto de lei, de sua autoria, que cria o Dia do Reconhecimento do Genocídio Armênio. Agradece ao presidente Fernando Capez pela aprovação do projeto. Enfatiza que é preciso evitar o surgimento de novos genocídios. Sugere que seu projeto semelhante ao seu seja aprovado no Congresso Nacional para o reconhecimento pelo governo federal. Ressalta a diferença de se morar no Brasil e não haver conflitos pela condição de estrangeiro. Traz declarações do governador Geraldo Alckmin à comunidade armênia.

 

7 - PRESIDENTE CELSO GIGLIO

Endossa a causa citada pelo deputado Pedro Tobias. Reitera moção, de sua autoria, na mesma direção. Anuncia a apresentação do Coral Vahakn Minassonian do Sama. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Celso Giglio.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de homenagear os Mártires Armênios Vítimas do Genocídio que completa este ano seu centenário.

Convido para compor a Mesa o Exmo. Sr. Deputado Celso Giglio, presidente desta sessão; o embaixador da República Armênia, Dr. Achot Galoyan, a cônsul honorária da República da Armênia em São Paulo, Sra. Hilda Diruy Burmaian.

Os senhores podem se sentar. Neste momento, tem a palavra o deputado Celso Giglio.

 

 

O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Gostaríamos de anunciar as autoridades presentes que nos deixam extremamente honrados: Dr. Achot Galoyan, embaixador da República da Armênia no Brasil, Sra. Hilda Diruy Burmaian, cônsul honorária da República da Armênia em São Paulo, deputado estadual, meu colega, Pedro Tobias, Sr. Celso Jatene, secretário municipal de Esportes, autor da Lei 15.4741/2011, que oficializou no calendário municipal o Genocídio Armênio; Sr. Robinson Sakiyama Barreirinhas, secretário municipal dos Negócios Jurídicos, que representa neste ato o prefeito Fernando Haddad; professor Dr. Antranik Manissadjian, presidente da Diretoria Executiva de São Paulo da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Dr. Dikran Kiulhtzian, vice-presidente da Diretoria Executiva de São Paulo, representando o Sr. André Kissajikian, presidente do Conselho da Igreja Apostólica Armênia; Dr. Simão Kerimian, assessor político-parlamentar da Diretoria Executiva de São Paulo, da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Yeznig Guzelian e Boghos Baronian, Arciprestes; Dr. Takvor Arapian, presidente da Sociedade Beneficente e Cultural Marachá; Sr. Paulo Moisés Alti Barmakian, presidente da Diretoria Executiva de Osasco; Sr. Vartan Moumdjian, representando o pastor Dr. Roy Abrahamian, presidente do Conselho da Igreja Central Evangélica de São Paulo; Sra. Marlene Distchekenian, presidente da Associação Beneficente de Damas Brasil-Armênia; Sr. Onig Tamdjian, presidente da Associação Cultural Armênia de São Paulo - Acasp; Sr. Hélio Balukian, presidente da União Geral Armênia de Beneficência (Ugab); Sr. João Carlos Boyadjian, presidente do Fundo Nacional Armênio; Sr. Nigol Nigohossian, presidente do Sama-Clube Armênio; Sr. Cônsul-geral do Líbano em São Paulo, Kabalan Frangieh.

Sintam-se todos nomeados, como se estivessem com assento à Mesa.

Senhoras deputadas, senhores deputados, minhas senhoras e senhores, esta sessão foi convocada pelo presidente efetivo desta Casa, atendendo solicitação deste deputado, com a finalidade de homenagear os Mártires Armênios Vítimas do Genocídio que completa este ano seu centenário.

Convido a todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino da Armênia e o Hino Nacional Brasileiro, executados pela Banda do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do 1º sargento PM Jefferson Bernardo.

 

* * *

 

- É feita a execução do Hino da Armênia e do Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Gostaria de agradecer ao nosso presidente Fernando Capez e autoridades aqui presentes.

Comunicamos que esta Sessão Solene está sendo transmitida ao vivo pela TV WEB e será transmitida pela TV Assembleia dia 02 de maio de 2015, às 21 horas, pela NET, canal 7, pela TV Aberta, canal 61.2, TV Vivo Digital, canal 185 e analógico, canal 66.

Quero anunciar a presença do nosso senador José Serra.

Cem anos se passaram! Gerações conheceram relatos, notícias, debates, informações sobre a ação do então Império Turco-Otomano - hoje, a Turquia -, que passou para a história como um dos maiores massacres já registrados entre povos: o genocídio armênio.

Um dos primeiros povos a se converter ao cristianismo, os armênios foram vítimas da intolerância religiosa e viram, em 24 de abril de 1915, o início de um grande crime contra a humanidade, que lhes retirou as propriedades, os bens, a liberdade, a família, e principalmente a vida de muitos irmãos.

A história conta que o Império Otomano abrigava naquele ano cerca de dois milhões de armênios. Mais de um milhão e meio foram mortos em alguns anos. Seguiu-se a enorme diáspora armênia que levou sobreviventes em fuga pelo deserto e se espalhou pelo mundo como verdadeiros retirantes da fila da morte para, em busca da sobrevivência, reconstruir e recomeçar a vida em outros países. A esperança desses sobreviventes foi sempre acompanhada pela dor, pelo sacrifício, tendo sempre presente o desejo de manter a Armênia viva onde quer que estivesse.

Hoje, na República da Armênia, uma população de três milhões de armênios vive em território reduzido. Estima-se que mais de cinco milhões vivem em outros países, inclusive cerca de cem mil no nosso país.

Disse o saudoso Franco Montoro, então senador da República, referindo-se aos armênios em discurso no Senado Federal: “Hoje, quase ao fim do século, nas tampas mortuárias da Armênia se poderia escrever: ‘Ficaram com suas vidas, seus bens, com suas telas, mas não destruíram sua memória’”. Não há outra definição para tal massacre, senão genocídio. Embora muitas nações não reconheçam - o Brasil inclusive -, algumas cidades e estados já o fizeram, como o estado de São Paulo em lei de no 15.813, de 2015, sancionada pelo governador Geraldo Alckmin e aprovada por esta Assembleia Legislativa, que instituiu o Dia do Reconhecimento e Lembrança às Vítimas do Genocídio do Povo Armênio. A autoria do projeto de lei foi do meu colega Pedro Tobias.

Aproveito ainda para informar que, nesta data, protocolei nesta Casa moção para que seja enviada à Sra. Presidente da República pedindo providências para que o Brasil também reconheça oficialmente o genocídio armênio.

Em missa em memória aos armênios de 12 de abril, S. Santidade o Papa Francisco também chamou a atenção para a questão do reconhecimento de erros históricos e para a necessidade de se trabalhar para que fatos semelhantes nunca mais aconteçam. Disse o Papa: “Ocultar ou negar o mal é como permitir que uma ferida siga sangrando sem enfaixá-la.”

Nós nos reunimos nesta sessão solene para homenagear todos os armênios, os mártires que pereceram no genocídio e também aqueles que sobreviveram e conseguiram recomeçar suas vidas. Também nos solidarizamos e nos irmanamos na justa aspiração desse povo, que é o reconhecimento tanto pela Turquia como pela comunidade mundial de que aquele lamentável episódio iniciado em abril de 1915, longe de ser ato de guerra, foi, sim, um genocídio.

Igualmente, manifestamos nosso apoio ao povo armênio na reivindicação muito antiga, consagrada em cláusula do Tratado Internacional de Sevres, em 10 de agosto de 1920, pelo qual seriam restituídos os territórios genuinamente armênios, decisão que, até os dias atuais, não foi cumprida.

Não se trata de reescrever a história, mas sim contá-la de forma verdadeira. O reconhecimento de erros passados, como o genocídio armênio, é um passo para que nações assumam compromissos com o presente de convivência pacífica e com o futuro de respeito à dignidade humana.

Este deputado, muito honrado em presidir esta importante sessão solene, deseja ainda externar o privilégio do convívio de muitos anos com parte da comunidade armênia do estado de São Paulo, que reside na minha querida cidade de Osasco. São mais de 450 famílias, hoje com mais de 2.500 pessoas, que se concentraram inicialmente no bairro de Presidente Altino e, com novas gerações, se espalharam por toda a cidade e região.

É com grande alegria, pois, que cumprimento meus amigos armênios de Osasco e todos os armênios do estado de São Paulo que vivem no nosso querido Brasil. Muito obrigado.

Com a palavra - ele tem um compromisso a seguir, mas nos deu a alegria de estar presente nesta noite -, nosso senador José Serra, a quem tenho a honra de passar o microfone.

 

O SR. JOSÉ SERRA - Quero dar meu boa noite a todos e a todas, cumprimentar os presentes através do nosso deputado Celso Giglio, que tomou esta iniciativa e preside esta reunião, o embaixador da Armênia no Brasil, Dr. Achot Galoyan. Na sua pessoa, quero saudar a todos e a todas, inclusive o nosso querido Pedro Tobias, que tomou a iniciativa do projeto de lei a respeito da posição do estado de São Paulo sobre este tema.

Muitos lembram que há seis anos, quando governador de São Paulo, escrevi um artigo na “Folha de S.Paulo” na página 3, no dia 24 de abril, exatamente abordando esta questão. Agora, no Senado, temos a presidência da Comissão de Relações Exteriores, através do meu colega senador Aloysio Nunes, de maneira que estamos à disposição para forçar o governo brasileiro a tomar uma posição a este respeito.

Vim aqui para reafirmar isso. Não tenho outro compromisso. O problema é o avião para Brasília que sai daqui a pouco de Congonhas. Fiquei preso no trânsito, não consegui chegar antes e, se não tomar cuidado, não chego em Brasília e meu projeto do voto distrital pode ser prejudicado amanhã. De maneira que vou ter que ir correndo agora para estar lá amanhã cedo.

Muito obrigado de coração. Saiba toda a comunidade armênia que estou ao seu lado.

 

 SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Quero anunciar a presença do Sr. vice-reitor da Universidade de São Paulo, Sr.Vahan Agopyan e do presidente do Conselho Nacional Armênio, Sr. Kervok Zadick.

Enviaram cumprimentos o secretário de estado de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro; Dr. Márcio Fernando Elias Rosa, procurador-geral de Justiça; Dr. João Carlos de Souza Meirelles, secretário de estado de Energia; desembargadora Silvia Regina Pondé Galvão Devonald, presidente do Tribunal Regional do Trabalho; Sr. Arnaldo Jardim, secretário de estado da Agricultura e Abastecimento; Sr. David Uip, secretário de estado da Saúde; Sr. Herman Voorwald, secretário de estado de Educação; deputado Aldo Demarchi; Sr. Lourival Gomes, secretário de estado da Administração Penitenciária; deputada Leci Brandão; Sr. José Luiz Ribeiro, secretário do Emprego e Relações do Trabalho; Sr. João Caramez, subsecretário de Assuntos Parlamentares; deputado coronel Telhada; Dr. Luiz Antônio Medeiros, superintendente regional do Trabalho e Emprego no estado de São Paulo; Dom Vartan Boghossian, bispo dos armênios católicos na América Latina. Gostaria de anunciar também o Sr. Subsecretário da Casa Civil, Sr. Rubens Cury.

Com a palavra o embaixador da República Armênia, Dr. Achot Galoyan.

 

O SR. ACHOT GALOYAN - (Discurso pronunciado em língua estrangeira.)

 

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- Tradução simultânea realizada pelo Sr. Yervant Tamdjian.

 

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SR. YERVANT TAMDJIAN - “Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Fernando Capez; Exmo. Sr. Celso Giglio, presidente desta Sessão Solene; Exmo. Sr. Deputado Estadual Pedro Tobias, autor da Lei 15.813 de 2015, que cria no estado de São Paulo o Dia do Reconhecimento do Genocídio Armênio. Como é conhecido, no dia 9 de dezembro de 1948, a Organização das Nações Unidas adotou a Convenção ‘Sobre Prevenção e punição dos crimes do Genocídio’, que concebe o genocídio como crime internacional. Destarte, os países que aderiram assumiram o compromisso de prevenir, bem como punir os que executaram o genocídio.

Já é uma prova inegável que os massacres em massa que foram efetuados contra a população armênia no Império Otomano durante os anos da Primeira Guerra Mundial é um genocídio. Esses massacres foram cometidos por parte do governo dos jovens turcos em diversas regiões do Império Otomano. Esses massacres haviam sido projetados por aquele governo, por cuja realização foram utilizadas as oportunidades advindas na Primeira Guerra Mundial.

Observemos que, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, mais de dois milhões de armênios viviam no Império Otomano. É fato histórico que, entre os anos de 1915 a 1923, por volta de 1,5 milhão deles foram mortos, enquanto o resto foi forçado a se converter ao maometismo ou conseguiu encontrar um refúgio em vários países.

Com a prisão e subsequente extinção de centena de intelectuais e líderes comunitários armênios, que começou em 24 de abril de 1915, principalmente na capital do Império Otomano, Constantinopla, deu-se início à primeira etapa de extermínio da população armênia. Mais tarde, os armênios sobreviventes espalhados pelo mundo começaram a rememorar o dia 24 de abril como Dia de recordação das vítimas do Genocídio Armênio.

A segunda etapa do Genocídio Armênio se deu através da convocação de aproximadamente 60 mil homens ao serviço militar do exército turco. Mas esses, em pouco tempo, seriam desarmados e mortos barbaramente pelos seus colegas soldados turcos.

A terceira etapa do genocídio se destacou pela matança e brutal deportação das mulheres, crianças e velhos aos desertos de Der-Zor, na Síria. Durante essas deportações, centenas de milhares e pessoas foram assassinadas pelas milícias turcas, por gangues e grupos de bandidos curdos e tcherquezes. Milhares de outras pessoas que foram deportadas morreram de inanição, sede, muitas doenças e epidemias. Milhares de mulheres e crianças foram submetidas a diversas espécies de violências indescritíveis. E dezenas de milhares de armênios foram obrigados a renegar a sua religião e aderir ao islamismo.

Finalmente, pôs-se em prática a etapa derradeira do Genocídio Armênio, qual seja, a absoluta negação pelo governo turco das deportações em massa e a extinção coletiva perpetrada contra a nação armênia, na sua própria pátria milenar. Esta etapa ainda não foi concluída. Não obstante o fato de o Genocídio Armênio ter sido reconhecido por 23 países destacados e cinco grandes organizações internacionais, o Genocídio Armênio ainda continua sendo como um crime de lesa-humanidade, a Turquia continua ainda na sua luta imoral em não reconhecer o genocídio, utilizando como meios a distorção histórica, através de diversos meios propagandísticos infundados, lobismos e outros meios.

Neste ano completou-se o centenário do Genocídio Armênio, razão pela qual foram organizados distintos eventos evocativos em muitos países. Essas iniciativas foram fundamentadas em quatro pilares específicos, quais são: lembrança, gratidão, prevenção e renascimento. Simultaneamente, elas são mensagens que a República da Armênia e as coletividades armênias estabelecidas em muitos países como consequência do Genocídio Armênio levam à comunidade internacional. Estes quatro pontos, esses quatro pilares trazem mensagens significativas e concretas também para rememorar todos os genocídios realizados na história da civilização humana.

Para nós armênios, a lembrança é uma obrigação moral e, ao mesmo tempo, um direito individual e coletivo inseparáveis. É obrigação moral e de direito lembrarmos os nossos um milhão e meio de mártires, lembrar das privações desumanas que centenas de milhares de pessoas sofreram, bem como as perdas dos valores materiais, culturais e espirituais que o nosso povo herdou e acumulou através de milênios. É, portanto, essa união do direito e do dever, o motivo essencial para realizarmos os eventos evocativos sob o lema ‘Lembro e reivindico’.

Não se pode discordar de quem sobreviveu ao Holocausto Judeu, o prêmio Nobel Eli Wizel, que frisou: “Esquecer os mortos é o mesmo que matá-los pela segunda vez.” Ao mesmo tempo, a memória deveria ser o melhor meio aos próprios herdeiros dos que praticaram o genocídio para encararem a sua própria história e a melhor oportunidade para reerguer a justiça.

A realização do genocídio não é só uma consequência do desenrolar dos fatos internos de um determinado estado ou sociedade, mas também induz à debilidade do conjunto internacional. Não foi só uma vez que ficou comprovado que a impunidade abre precedentes para outros genocídios. Tanto o Genocídio Armênio como o Holocausto foram realizados, respectivamente, durante o percurso da Primeira e da Segunda Guerra Mundiais. A comunidade internacional não conseguiu prevenir tanto aqueles como outros genocídios. Hoje, por meio da lembrança, torna-se possível refletir sobre a enorme perda que a civilização mundial sofreu em consequência dos genocídios.

Além do sucessivo empenho realizado no processo de reconhecimento, condenação e consequências do Genocídio, ocupa um espaço primordial na pauta da política externa da República da Armênia a prevenção de genocídios. Nesse aspecto, tal diretriz é inter-relacionada, visto que o reconhecimento e a condenação dos genocídios no futuro contra a humanidade assumem papéis inestimáveis no processo de prevenção de crimes de lesa-humanidade.

Um dos motivos pela repetição dos genocídios e dos crimes perpetrados contra a humanidade é que não foi evidenciada suficientemente a consistência da sociedade internacional na sua união e determinação quanto ao processo de reconhecimento e condenação dos genocídios, o ambiente que gera esse crime e a exclusão da negação.

Os Parlamentos e os parlamentares têm tido papel importantíssimo como estruturas pilares dos valores democráticos nessa direção.

No dia 23 de abril de 2015, a Assembleia Geral do Conselho Parlamentar do Parlamento Europeu adotou a declaração alusiva à ‘Recordação do Centenário do Genocídio Armênio’, cujo autor é o deputado da França na Assembleia Geral do Conselho Parlamentar do Parlamento Europeu e o respectivo vice-presidente René Ruken.

A declaração diz, fundamentalmente: “O genocídio é um crime terrível contra a sociedade. A prevenção de crimes semelhantes pode interromper a escalada dos conflitos, a prevenção de crimes semelhantes pode interromper os conflitos, os desastres e as tragédias humanas. A falta de condenação plena do Genocídio Armênio no devido tempo propiciou sensivelmente à indução, à condução de outros crimes perpetrados contra a humanidade posteriormente, tais como o Holocausto e demais genocídios.

O Papa Francisco, no dia 12 de abril último, em cerimônia religiosa da Santa Missa realizada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, declarou efusivamente a grande tragédia ‘Medz Yeghern’ dos armênios como o ‘primeiro genocídio do século 20’.

Um fato histórico, visto que foi a primeira vez que um Papa de Roma celebrou uma Santa Missa recordando o genocídio. Até então, foram registradas orações em intenção das almas das vítimas de diversos genocídios, mas não a celebração de uma Missa propriamente solene.

Convém lembrar que, sob as colunas da Basílica de São Pedro, ecoaram não só cantos religiosos do rito armênio, mas também foram ouvidos, pela primeira vez, os tons suaves e emocionantes do ‘dudug’ (espécie de flauta armênia). Participaram da Santa Missa o presidente da República da Armênia, Serj Sargsyan, o Patriarca Supremo e Catholicós de Todos os Armênios, Sua Santidade Karekin II, o Catholicós Aram I, da Grande Casa de Cilicia, e o Patriarca-Catholicós da Igreja Católica Armênia, Nersés-Bedros 19.

Não é por acaso que a Rádio do Vaticano e o site oficial trouxeram a seguinte manchete: “O 12 de abril de 2015 é um dia histórico. O coração da Basílica de São Pedro tem pulsação do batimento armênio.

Dignos deputados desta nobre Casa, permitam-me, ao finalizar a minha palavra, manifestar sinceramente, em nome da República da Armênia, a nossa profunda gratidão pela criação, no Estado de São Paulo, do Dia do Reconhecimento do Genocídio Armênio, a ser celebrado doravante anualmente, no dia 24 de abril, através da Lei 15.813 de 2015, de autoria do Deputado Estadual Pedro Tobias.

Muito obrigado.”

 

O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Gostaria de chamar meu colega, deputado Pedro Tobias.

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Boa noite a todos. Presidente Celso, obrigado por esta memória, por este convite para todos hoje. Na pessoa do embaixador, Dr. Achot, cumprimento todos os presentes.

Eu nasci no Líbano, e, para a aldeia onde nasci, há cem anos, vieram mais de dez famílias armênias. Escutei muitos relatos que falaram aqui, de pessoas idosas, na época. Imaginem o sofrimento de ficar no Líbano mais de trinta anos sem documento, porque não tinham nome, não tinham documento, não tinham nada. Depois, todos dessas dez famílias ficaram com nome de Armênio: Pedro Armênio, José Armênio.

Morei no Oriente Médio e sei o que acontece lá. Mesmo os libaneses, na Primeira Guerra Mundial, também sofreram nas mãos dos turcos. Não é só reconhecer o genocídio, mas ele precisa ser punido. Hoje, por esse grupo, nessa guerra civil no Líbano, Síria e Iraque, muitos cristãos estão sendo massacrados como aconteceu, mas em nível menor. Eles estão fazendo a mesma coisa. Esse grupo é apoiado pelo governo turco. Isso significa que faltou punição no genocídio e agora está se repetindo. Pode ser em escala menor hoje, mas muita gente está morrendo porque é cristão, não porque está guerreando contra ou a favor. É só pelo fator religioso.

Eu acho que só reconhecer o genocídio é pouco. Alguém ou o país precisa pagar pelo que fez de errado - não é só reconhecer - para não deixar acontecer de novo. E está acontecendo nessa região do Oriente Médio o mesmo massacre pelo fato de ser armênio, ser cristão, ser católico, ser o que seja.

Isso é uma coisa histórica. Esse projeto, eu agradeço aos senhores. O presidente Fernando Capez, depois que assumiu o compromisso, colocou o projeto em votação, arrumou relator especial. Ficamos um ano, porque o cônsul da Turquia e o embaixador da Turquia fizeram muita pressão nesta Casa para este projeto não ser aprovado. Por isso, quero dividir esse trabalho com Fernando Capez, mas a batalha não acabou, porque, cada vez que alguém comete algum erro, tem que pagar para evitar outro genocídio. Precisa saber que, se provocar alguma tragédia, algum genocídio, vai pagar no futuro. Sem punição, não adianta falar em lei. Qualquer lei que façamos, sem punição, não tem valor algum. Proibir fumar. Sem punição, não tem valor algum. É preciso punição.

Para terminar, deputado Celso, precisamos mandar a Assembleia para o Congresso. O deputado Celso e eu somos do mesmo partido e vamos pedir à nossa bancada no Congresso Nacional para tentar fazer uma lei que o Brasil reconheça. Depois que o Papa reconheceu isso, não tem mais desculpa. Precisa ser universal. Em qualquer país, em qualquer canto do mundo.

O Brasil é democrático, embaixador. Eu vim de fora e me instalei no Brasil. Nasci no Líbano, estudei na França, vim para cá e estou no quinto mandato de deputado. Tive dois mandatos de vereador e nunca escutei alguém falando que eu era estrangeiro.

Nosso país, o Brasil, é maravilhoso. Temos sorte de morarmos aqui, porque este país é diferente. Em qualquer país da Europa, existe racismo, sim. Mas não no Brasil. Deus que ajude este país!

Eu hoje me sinto brasileiro antes de qualquer origem minha. Qualquer estrangeiro que chega nesta terra é recebido de braços abertos.

O governador, que me ligou há meia hora, pediu que, em seu nome, desse um abraço. Nosso governador Geraldo Alckmin. Quinta-feira estava despachando com ele, e ele sancionou o projeto. Está mandando um grande abraço a todos e disse que dá todo o apoio à causa dos armênios, à tragédia dos armênios. Pouca gente, até mesmo filhos de armênios, sabe sobre essa tragédia que o povo passou na época. Eu convivi com gente que viveu nessa época - eu era criança - e contava história dessa tragédia.

Muito obrigado. Obrigado, Celso, a você também por esta reunião. Quem sabe a cada dia 24 de cada ano vai ter uma reunião na Assembleia para homenagear e lembrar, porque essa tragédia não pode ser esquecida. E a geração nova depois esquece. Precisa ser lembrado a cada ano o que aconteceu, mas vamos lutar pela punição. Não é só reconhecimento, porque têm mil maneiras de fazer punição. Com isso, algum grupo político, algum país, não se atreve a fazer outra coisa de novo. Infelizmente, estão fazendo em escala menor com o apoio do próprio regime turco, que está apoiando esse grupo extremista mulçumano que, no Oriente Médio, está matando tanta gente. Não atacam como há cem anos atrás, que eles ocupavam a região toda.

Nós que somos de origem libanesa, armênia, o que seja, os chamávamos de turcos, porque, na Primeira Guerra Mundial, quem chegava aqui chegava com passaporte turco. Por isso, muita gente odeia se você o chama de turco. Eu falo com carinho, não tenho nada a mais.

Embaixador, leve para o seu país o apoio do povo brasileiro, o apoio da Assembleia Legislativa de São Paulo. Aqui tem um bairro chamado Armênia com três milhões. Só em São Paulo e na Grande São Paulo, chega a 14, 15 milhões de habitantes.

Um grande abraço. Muito obrigado!

 

O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Muito bem, deputado Pedro Tobias, meu caro companheiro. Eu me comprometo a ir com o senhor, juntos, a Brasília levar nossa moção que apresentamos hoje, pedindo que o Congresso Nacional encaminhe e aprove da mesma forma como fizemos em São Paulo.

Com satisfação, anunciamos a apresentação do Coral Vahakn Minassian do Sama, com a música Erepuni, sob a regência do maestro Alexey Kurdjian.

 

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- É feita a apresentação.

 

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O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Gostaria de anunciar ainda a presença do pastor André Vargas da Igreja Irmãos Armênios.

Queremos, mais uma vez, cumprimentar todos os representantes da nossa comunidade armênia presentes nesta cerimônia, agradecer a presença do Sr. Cônsul e de todas as autoridades que representam os vários segmentos da comunidade armênia no nosso estado.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários da Assembleia, às entidades representativas da comunidade armênia e a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a presente sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 21 minutos.

 

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